O Desejo Do Mafioso - LIVRO DOI - Alice Couto
O Desejo Do Mafioso - LIVRO DOI - Alice Couto
O Desejo Do Mafioso - LIVRO DOI - Alice Couto
DO MAFIOSO
LIVRO 2
Capítulo 1
— Eu adoro a técnica do Paganini. Há quem diga que tocar uma peça de
Paganini é como ser coroado como virtuose, ainda que alguns não se
incomodem em assumir o lado pejorativo do termo.
— Que seria?
— Como se não existisse nenhum sentimento.
Antes que alguma outra pessoa pudesse fazer um questionamento,
Nicolette adentra a sala derrubando o seu celular e chamando a atenção de
todos para ela.
— Oh... — ela murmura, pegando o celular e encarando todos de forma
envergonhada. — Desculpe atrapalhar. Senhora Jones, ligação para você.
— Disse que estou em aula?
— Sim, mas é sua melhor amiga e ela disse ser urgente.
Ela se levanta e pega o telefone da mão de sua secretária, saindo da sala
em seguida.
— Felippa?
— Evie... oi. Desculpe por ter ligado para a escola, mas você não
atendia o celular.
— Porque estava em aula.
— Eu sei... amiga, meu pai está morrendo. O câncer avançou e o
médico acha que ele não passa dessa semana.
— Oh... eu sinto muito.
— Já faz alguns dias que ele vem pedindo para ver você. Minha mãe e
eu achávamos que poderia ser algum delírio, mas hoje ele estava muito bem
acordado quando pediu.
— Felps, eu não... não sei se consigo.
— Faz dez anos que você deixou Nova Iorque, Evangeline. — Felippa
fala de forma fria. Ela não esperava precisar argumentar com sua melhor
amiga, para que ela fosse visitar seu pai moribundo. — Dez anos que você
se foi e nunca mais ousou colocar os pés aqui. Tudo isso porque...
— Porque eu quis! E eu tenho uma vida aqui. Você sabe.
— Evie, por favor. — choraminga. — Sinto que meu pai só precisa
disso para poder descansar. E nós estamos tão cansadas quanto ele. Por
favor...
Evangeline fecha os olhos com força e respira fundo.
— Tudo bem. — ela responde, deixando sua amiga aliviada. — Vou ver
como consigo uma folga aqui e amanhã estou aí.
— Obrigada, Evie. Mesmo.
— Tchau, Felps. Até amanhã.
Evie desliga a ligação e encosta o telefone em seu peito, sentindo se
coração bater descompassadamente. Leva alguns minutos para que ela
consiga se recompor e volte a sala onde estavam os seus alunos.
— Sinto muito, pessoal, mas vou precisar finalizar a aula mais cedo. —
ela diz, olhando para todos aqueles adolescentes. — Até semana que vem.
Ignorando as caras de confusão de todos eles, incluindo a sua assistente
Nicolette, Evangeline abandona o prédio e caminha para longe dali. Ela
sentia sua cabeça rodar e diversas lembranças preencherem sua mente.
Depois que Alec saiu do quarto de hospital, há dez anos atrás,
Evangeline recebeu a visita de um médico, que explicou sua condição
médica. Sua mão estava condenada pelo resto da vida. Mesmo com
fisioterapia constante, ela não seria capaz de tocar violino novamente.
Naquele momento, ela não sentiu tanto aquela notícia. Alec tinha acabado
de partir da vida dela, deixando-a sem rumo.
Uma semana depois, ela pode sair do hospital e voltar para casa.
Evangeline chorava dia e noite. Pela sua mão e pela falta que Alec fazia.
Tinha dias em que ela enviava mensagens e ligava sem parar para ele, e em
outros, apenas esperava. Esperava que ele sentisse falta o suficiente dela,
para desistir daquela loucura e procurá-la. Mas ele não o fez.
Seu luto amoroso durou um mês. Ao ver que sua melhor amiga não
queria fazer nada além de dormir, Felippa entrou em contato com Samuel e
o deixou a par de tudo o que tinha acontecido. O pai de Evangeline deixou
Londres e foi até sua filha no mesmo instante. Ao vê-lo na porta de casa,
Evangeline chorou mais uma vez, pois ele era a única pessoa com quem ela
poderia conversar, sem esconder nenhum detalhe. Após ficar por dentro de
tudo o que aconteceu, Samuel não pensou duas vezes em chamá-la para
morar em Londres. Sabendo que não seria mais capaz de viver em Nova
Iorque, de estar próximo a Alec e não poder ficar com ele, Evie aceitou.
Sua nova vida começou com a fisioterapia. Mês após mês, ela sentia as
dores e o tremor em sua mão dominante, diminuírem. O convívio com
Samuel era ótimo. Ela finalmente se sentia amada. Mas aquela não era a
única mudança na vida dela.
— Eu vim buscar a Allegra.
Logo que viu a pequena garota, correr em sua direção, Evangeline se
sentiu mais calma. O cabelo curto, cacheado e ruivo, se esvoaçava ao vento,
conforme ela corria até os braços de sua mãe.
— Chegou mais cedo, mamãe.
— É, eu sei. — Evie se abaixa, para ficar na altura dela. — Nós vamos
fazer uma viagem. Adivinha para onde vamos?
Os olhos azuis e vívidos da pequena Allegra, brilharam como se ela
vendo o doce mais saboroso do mundo a sua frente.
— Nova Iorque? — Evangeline apenas balança a cabeça em afirmativa
e recebe um caloroso abraço da sua filha. — Não acredito! Finalmente vou
conhecer a tia Felippa?
— Vai, meu amor.
— E só vamos nós duas?
— Isso. — Evie se levanta e segura na mão de Allegra, caminhando
com ela até o estacionamento onde estava o seu carro. — Será uma viagem
apenas de meninas. A mamãe tem alguns assuntos para resolver por lá, que
não podem ser adiados. Nós vamos hoje mesmo. É só o tempo de
chegarmos em casa e arrumarmos algumas coisas.
Allegra estava extremamente feliz. Desde que se conhecia por gente e
foi capaz de entender as coisas, seu maior sonho era conhecer a cidade onde
sua mãe passou parte de sua vida. Ela só não conseguia entender o motivo
de Evangeline chorar todas as vezes em que pensava em sua antiga cidade.
Logo que ambas arrumaram uma pequena mala, Evie chamou um carro
de aplicativo, que levou as duas para o aeroporto. Como tinham voos de
Londres para Nova Iorque a cada hora, ela não teve dificuldades para
embarcar.
Enquanto Allegra contava as horas para aterrissar, Evangeline se
questionava se ela seria capaz de andar pela cidade, sem esbarrar com Alec.
Capítulo 2
— Mamãe! — Allegra exclama, ao entrar na antiga casa de Evangeline.
— Que casinha bonita.
Evangeline ri da escolha de palavra da sua filha.
— Casinha?
— É... o apartamento do vovô é muito maior. O nosso também.
O apartamento em que ambas viviam, era o que Evangeline havia ganho
de presente quando fez vinte e dois anos. Logo que se mudou, ela notou que
o singelo presente que seu pai havia dado, não tinha nada de singelo. Além
de ficar no centro de Londres, de frente para um dos pontos históricos mais
famosos da cidade, três famílias seriam capazes de morar ali sem nenhum
sufoco.
— É verdade. Vem.
Evangeline apresenta toda a casa para Allegra. A garota se ocupa em
tirar os panos brancos que cobria os móveis, enquanto sua mãe levava as
malas para o quarto.
Tudo permanecia do mesmo jeito que ela tinha deixado. E aquilo a
causava uma nostalgia extrema. Ao olhar para a cama, a imagem de Alec
seminu, preencheu o ambiente.
— Mamãe? — Evie balançou a cabeça e afastou tudo aquilo que
começava a formigar seu corpo. — Seu celular está tocando.
— Obrigada, meu amor.
Era uma mensagem. Uma mensagem no meio de tantas. Ela ignorou
todas elas e abriu somente a de Felippa. Ali tinha o endereço do hospital.
— Eu vou precisar sair agora. — ela diz, virando-se para Allegra. —
Aproveita que viajamos a noite toda e descansa. Quando você acordar, eu já
terei voltado e trarei algo para comermos. Tudo bem?
— Sim, mamãe.
Após beijar a testa de sua filha, Evangeline desce e caminha até achar
um táxi. O hospital não era muito distante do condomínio, então em menos
de quinze minutos ela já estava entrando no hospital.
— Evie!
Felippa continuava quase do mesmo jeito. Com exceção das duas bolas
de silicone que ela tinha nos peitos. E como não se viam pessoalmente,
desde que Evangeline havia deixado a cidade, as duas compartilharam um
abraço repleto de saudade.
— Quase não consigo fechar meus braços em volta de você. — a ruiva
diz, se afastando. — Que peitos imensos.
— Para! Você cortou o seu cabelo. E alisou! Nunca achei que você teria
coragem de se desfazer dos cachos.
— Eu não queria. — Evie comenta, encarnado um espelho e mexendo
em seu cabelo liso. — Mas a minha mão tremula e sem forças, não me
deixava tomar conta de todo aquele cabelo. Assim foi mais fácil.
Felippa circulou seu braço no de sua amiga e a puxou para o quarto de
seu pai.
— Hoje em dia não treme mais?
— Só em dias muito frios. Raramente.
— E o violino...
— Nunca mais toquei. — ela dá de ombros e abaixa a cabeça. — A
música na minha vida, só através das aulas que dou para aqueles
adolescentes delinquentes.
Começou como um hobby, para que não passasse tanto tempo dentro de
casa. Samuel tinha salvado o filho de um cliente super importante, de parar
na cadeia por atropelar um pedestre e o enviou para um centro de
restauração de jovens. Lá ele descobriu que havia algumas atividades para
que eles mantivessem a mente ocupada, e música, era uma dessas
atividades. E justamente naquele dia, a professora tinha sido demitida, por
se envolver com um dos jovens. Evangeline levou alguns dias para ser
convencida, mas bastou um dia com aqueles garotos, para que ela quisesse
ir todos os outros dias.
Após alguns anos, o hobby virou trabalho. Ela havia conseguido mudar
a vida de muitos daqueles jovens e isso era a sua maior alegria. Lecionar
música e salvar pessoas.
— Ele disse que queria falar apenas com você. — Felippa diz, quando
chega diante do quarto de seu pai. — Minha mãe está na cafeteria e eu vou
para lá também.
— Tudo bem.
Antes que Evangeline pudesse entrar no quarto, sua amiga a puxa e lhe
dá um outro abraço. Mas esse tinha outro nome. Gratidão.
— Obrigada por ter vindo.
Evie dá um sorriso sincero em resposta e entra no quarto. Ela achava
que William fosse estar dormindo, mas não. Ele estava desperto e a
aguardando.
— Você veio... — ele murmura, com bastante dificuldade.
— Como você está?
— Morrendo...
— Eu sinto muito.
— Não deveria. — William solta uma tosse pesada e antes que Evie
pudesse se aproximar, ele ergueu sua mão. — Não. Só quero que... me
escute.
— William...
— Fui eu... — ele fecha o olho lentamente. — Fui eu...
— O que?
— Quando atirei no Blake Castello, eu não tinha visto que você estava
ali.
— Espera...
— E eu tinha ordens expressas... expressas para matar você também. —
completa, com lentidão. — Mas eu não consegui... não... eu vi você
crescer... não consegui.
— Foi você? Mas... por quê?
— Eu estava com tanto ódio... você e seu namorado... quase fizeram
com que minha família soubesse de tudo. Adriane... — ele pega ar. — ela
me deixaria... ela já tinha dito. Então aquele Paul Baker apareceu, me
ofereceu muito dinheiro... muito... na hora certa.
— Meu Deus... — Evie murmura, desacreditada. — Meu Deus...
— Eu saí correndo, pois precisava terminar o trabalho. Eu precisava
matar... matar o outro Castello.
— Não me diz que...
— Eu não sabia. — ele chora. Aquilo era agoniante para Evangeline.
Ela tinha um bolo na garganta e explodiria a qualquer momento. — Eu não
sabia que você estava naquele carro... não sabia... me desculpa... por favor,
Evangeline...
Evie não aguentou ouvir mais nenhuma palavra. Ela abriu a porta do
quarto e disparou para fora daquele hospital. Assim que chegou na porta do
mesmo, aquele bolo em sua garganta acabou se transformando em um
vomito. Ela agarrou no poste que tinha ao seu lado e despejou tudo aquilo
para fora.
Assim que viu Felippa se aproximando, Evangeline limpou a boca com
as costas da mão e entrou no primeiro táxi que viu a sua frente. Ela não
tinha forças para encarar sua melhor amiga naquele momento.
Com todas as palavras ditas por William, rondando a sua mente,
Evangeline chorava. Ela chorava copiosamente, o que deixou o motorista
bastante preocupado. Ele tentou arrancar algumas palavras da mulher ruiva,
mas ela apenas balançou a cabeça em negativa. Tudo o que ela queria, era
chegar em casa, pegar Allegra e voltar para sua vida normal em Londres.
— Allegra? — ela chama, assim que chega em casa. — Allegra, filha,
precisamos ir.
Evangeline sobe e não encontra a garota em nenhum dos quartos. Após
rodar toda a casa, ela para na cozinha e nota um papel preso a geladeira. A
letra perfeitamente redonda de Allegra, redigia algo que Evangeline não
tinha ideia de que ela sabia.
“Mamãe, estou bem. Fui ver o meu pai. Você sabe quem ele é, então
sabe onde me encontrar.
Allegra : )”
Capítulo 3
Allegra era excepcional. Em todos os âmbitos. Na natação, na música,
na escrita, nos debates escolares... tudo. Ela é o tipo de criança que se
esforça para ser brilhante e não aceita menos do que isso. Uma nota nove,
nunca será boa o suficiente, pois dez é perfeito. E isso não era por pressão
de sua mãe, ou porque seu avô era um advogado incrível. Enquanto
Evangeline achava que ela devia largar um pouco os livros e brincar mais, a
garota pensava o oposto.
No dia em que precisou de algumas caixas de papelão, para fazer uma
maquete, Evie disse que no sótão havia algumas e ela poderia ir até lá
escolher. A garota estava quase acabando, quando encontrou uma pequena
caixa de sapato, repleta de lembranças. Ela abandonou todas as outras e se
sentou, olhando todas aquelas coisas. Tinha um celular antigo, uma pulseira
de ópera, uma caixinha com brincos e cordão de diamantes e muitas fotos.
Evangeline sozinha. Evangeline com Felippa. E Evangeline com um
homem, cujo os olhos azuis brilhavam tanto quanto os de Allegra, quando
estava vendo algo que tanto amava.
Sendo a garota esperta que tanto era, Allegra sabia quem estava naquela
foto. Uma vez, quando estavam assistindo televisão, uma reportagem
extraordinária começou informando, que houve uma batida policial em uma
boate de Nova Iorque e um homem havia trocado tiros com a polícia.
Allegra lembra que ao ouvir o nome Alec Castello, sua mãe ficou
extremamente nervosa. Ela andava de um lado para o outro, encarando a
televisão e só relaxou, quando noticiaram que o homem em questão estava
bem.
Depois de extensas pesquisas, Allegra sabia bastante sobre Alec.
Quando Evangeline informou que iriam para NY, ela se sentiu
genuinamente feliz, pois poderia ir atrás do que tanto desconfiava. Logo
assim que Evangeline saiu para visitar o pai de Felippa, Allegra pegou tudo
o que precisava e saiu em seguida. O taxista que parou para ela, questionou
sobre ela estar viajando sozinha. Allegra tinha uma autorização falsa, onde
dizia que ela poderia andar sozinha pela cidade. E também tinha bastante
dinheiro, o que fez aquele taxista levá-la mais rápido.
Logo que chegou à frente da mansão dos Castellos, Allegra observou
tudo. O grande portão estava aberto, pois algumas vans passavam por ali.
Assim que a última passou, ela se esgueirou pelos cantos, aproveitou que o
motorista estava distraído lavando o carro e correu para a frente da casa. A
porta estava aberta e ela não se intimidou com aquilo. Allegra entrou e
ficou encarando tudo com curiosidade.
Nenhum dos funcionários se importava com o fato de ter uma criança
estranha no meio da sala. Em dois dias, Ab, Antony Blake, completaria dez
anos de idade e muito mais crianças seriam vistas. Mas Alec, ao descer as
escadas, se importou. Desde Evangeline que ele não via alguém com o
cabelo ruivo natural. Aquilo quase o desnorteou. Mas então ele lembrou do
aniversário de seu sobrinho e relaxou quase por completo.
— AB está nos fundos. — ele diz, passando por ela. — Não gosto de
crianças passeando pela casa sozinha.
— Eu não sou nenhuma criança. E não vim ver o Antony. Vim ver você.
Alec estava quase fora da casa, quando ela completou sua frase. Ele
girou nos calcanhares e a encarou. Olhar para Allegra, foi como fazer uma
viagem ao passado. Apesar de ainda nem ser uma adolescente, ela era muito
parecida com Evangeline.
— Eu sou Allegra. — a garota diz, visto que Alec ficou mudo ao
encará-la. — Allegra Atkins. E você é Alec Castello. Meu pai.
— O que? Não é possível...
O mafioso olha em volta, procurando Audrey ou algum sinal de que
aquilo não passasse de uma brincadeira de péssimo gosto. Mas como não
encontra nada, ele torna a encarar a garota, que desembesta a falar.
— Minha mãe me contou que soube que estava grávida, no mesmo dia
em que soube que nunca mais poderia praticar música. De início foi
estranho, ela achou que não fosse capaz e muito menos merecedora... ela
diz que morar em Londres, mudou toda a sua vida. — Alec permanece
encarando a garota, encantando pela sua forma eloquente de falar. — Eu
sabia que meu pai, não era meu pai. Os olhos da mamãe são verdes, do
papai castanhos e os meus... bem...
— Espera... se você realmente é quem diz ser... Evangeline se casou?
Ele não estava falando diretamente com Allegra.
— Meus pais não têm noção de que eu sei sobre tudo. — ela continua.
— Guardei minhas dúvidas para mim mesma e apenas esperei o momento
em que viria até aqui e poderia ver você. Nós podemos fazer um exame de
DNA, mas eu não tenho a menor dúvida.
— Eu preciso me sentar... vem comigo.
Alec adentra a mansão e vai diretamente para a sala. Ele serve uísque e
o bebe em dois segundos. Aquilo sequer ardia. Não como a sua mente e o
coração.
— Evangeline não faria isso. — Alec murmura, se virando para Allegra.
— Ela não esconderia... uma filha de mim.
— Você conhece a mamãe? De verdade? Ela é muito orgulhosa. Não sei
o que aconteceu para que ela fosse embora, já que a única parte dessa
cidade que eu sei, é sobre a tia Felippa.
— Quantos anos você tem?
— Faço dez no final do ano.
Alec não precisava ser um gênio da matemática, para saber que as
contas batiam. Ele se sentou e fez um movimento para que ela fizesse o
mesmo.
— Me fala mais.
— O que quer saber?
— Tudo.
Aquele pedido deixou Allegra maravilhada. Ela contou a Alec, tudo o
que achava importante sobre a sua vida. Quando seu primeiro dente caiu;
quando bateu em um garoto na escola, pois ele a chamou de nerd; a
quantidade de prêmios que ganhou na natação; e muito mais.
Se passou uma hora e Alec sequer sentiu. Foi quando Howard entrou na
casa, ofegante e a procura de seu chefe.
— Você não vai acreditar em quem está aqui.
Antes que Alec pudesse abrir a boca, Evangeline surgiu atrás do grande
motorista e paralisou ao ver o grande amor de sua vida.
— Alec.
— Oi, Evangeline.
Capítulo 4
Refazendo o caminho que imaginou nunca mais fazer, Evangeline sentia
que seu coração iria sair pela boca a qualquer momento. Por ela não fazer
ideia de que Allegra sabia sobre Alec e por provavelmente rever ele.
Assim que chegou ao portão da mansão, ela não hesitou em entrar.
Howard estava terminando de lavar o carro, quando a viu passar pelas
grandes barras de ferro.
— É uma miragem? — ele brinca, logo que ela se aproxima. —
Evangeline?
— Oi, Howard. Quanto tempo.
— Eu só não vou te abraçar, porque...
A frase do motorista se perdeu, quando a ruiva se aproximou dele e o
abraçou. Anos se passaram, mas ela ainda enxergava ele como uma
fortaleza.
— Achei que nunca mais fosse ver você. — Howard diz, apertando seus
braços em volta dela. — Ainda mais aqui.
— É... eu também não esperava voltar aqui, mas a minha filha...
— Filha?
— Longa história. — Evie suspira, se afastando de Howard. — Ele está
aí?
Howard balançou a cabeça em afirmativa e fez um sinal para que ela o
acompanhasse. Evie respirava fundo, tentando controlar a ansiedade, que
estar naquele lugar, lhe causava.
— Você não vai acreditar em quem está aqui.
Evangeline deu apenas um passo para o lado e sentiu tudo parar. Estar
de frente para Alec, trouxe à tona uma série de emoções complexas e
contraditórias. Ao mesmo tempo que ela se sentia nervosa, Evie se
questionava o que estaria acontecendo dentro de Alec, ao revê-la depois de
tantos anos separados.
— Alec. — ela murmurou, quase que em um sussurro.
— Oi, Evangeline.
A troca de olhares era intensa e parecia que nunca teria fim. Evangeline
notou que Alec evitava deixar a barba crescer, provavelmente para não
parecer mais velho. Seu estilo não havia mudado. Ele tinha o mesmo corte
de cabelo. O mesmo brilho no infinito mar que eram seus olhos azuis.
— Você cortou o cabelo. — ele diz, sem tirar os olhos dela. — Achei
que era impossível que ficasse mais bonita.
Aquele olhar e aquela fala, estava fazendo o coração dela formigar cada
vez mais. Evie quase se esquecia de que foi ele quem terminou com ela e a
abandonou. Quase.
— Cadê a minha filha? — Evangeline questiona, tentando erguer uma
barreira entre seu coração machucado e o homem que ela tanto ama. —
Allegra?
— Você quer dizer a nossa filha?
Evie pisca algumas vezes, mas tenta se manter firme.
— Ela não é sua...
— Não me engana, Evangeline. Ela é minha filha?
— Ela é minha filha! Eu a tive. Eu a criei.
— Evangeline...
— NÃO IMPORTA! — grita, deixando que a ansiedade a consuma e
lágrimas apareçam. — VOCÊ TERMINOU COMIGO! Você... me destruiu.
Eu não devo nenhuma satisfação a você.
A pequena Allegra se esgueira para a porta, deixando Evangeline vê-la.
A ruiva vai até a filha e se abaixa para falar com ela.
— Você ficou doida? Saiu sozinha por uma cidade que você não
conhece e entrou na casa de um homem desconhecido?
— Ele não é desconhecido. É o Alec. Meu pai.
— Olhe, vamos para casa. Lá conversamos.
Ela se levanta e segura na mão da garota. Antes de deixar a sala, Evie
olha para Alec.
— Desculpe o incomodo. — diz. — Adeus, Alec.
Alec ficou parado na sala de sua casa, vendo a mulher que sempre amou
ir embora. Exatamente como ele fez com ela.
Todos os planos que ele tinha para aquele dia, foram deixados de lado.
Alec deu meia volta e se sentou na poltrona, encarando a janela que dava
para o jardim.
Ele nunca foi capaz de esquecê-la. Logo que saiu do hospital, Alec se
afundou em trabalhos e aceitou todo tipo de coisa proibida que havia.
Voltou a trabalhar com boates de prostituição; orquestrou assaltos a grandes
bancos; foi preso por suspeita de fraude duas vezes, mas como não tinham
nada provado, o soltaram. Tudo isso no mesmo ano em que Evangeline foi
embora.
Apesar de sempre sentir vontade de saber como ela estava, se estava
bem sem ele, Alec sabia que não era saudável. Ele quem tinha terminado,
pois tinha medo de que tirassem a vida dela. Então era ele quem devia
seguir sua vida e deixar que ela seguisse a dela.
— O que aconteceu aqui? — a voz de Audrey preenche a sala, mas Alec
não a olha. — Esse perfume... me lembra tanto a...
— Evangeline. É. Ela saiu daqui agora pouco.
— O que?
— Com a minha filha. — o mafioso direciona o seu olhar para a sua
irmã loira, que tinha um enorme ponto de interrogação estampado no rosto.
— Eu tenho uma filha!
— Alec... é uma piada? Está brincando comigo?
— Não! Pergunte ao Howard se quiser. A garota apareceu aqui dizendo
que era a minha filha, e Audrey, você precisava vê-la... é a cara da
Evangeline, mas tem os meus olhos.
— E a Evangeline? Ela confirmou?
— Não com as palavras certas. — ele olha para a janela novamente. —
Mas eu sei que é verdade. Aquela menina é minha filha.
— Bem... se Evangeline esteve aqui, ela sabe sobre...
— Não. Eu não falei nada. Nem caberia falar. Audrey, eu estou tão...
confuso. — Alec passa a mão pelo rosto. — Eu preciso vê-la de novo.
Preciso conversar com ela. Tem tanta coisa para ser dita e explicada... a
menina contou que Evangeline tem um marido... ela se casou! Casou e não
foi comigo.
— Claro que não foi. Você terminou com ela de uma forma estúpida e
no pior dia da vida dela.
— Não fique me lembrando disso. Você, melhor do que ninguém, sabe
os meus motivos. Meus medos. — Alec se levanta. — Eu preciso falar com
ela.
— Onde pensa que vai?
— Até a casa dela. — Audrey se apressa em entrar na frente do irmão.
— É óbvio que ela está lá. O que está fazendo? Me deixe passar.
— Eu sei que quer falar com ela. Imagino a confusão que seu coração
deve estar agora. Mas, Alec, conhece Evangeline tão bem quanto eu. Sabe
que ela não irá escutar você. Bem... — a loira sorri e mexe no cabelo. —
Não sem um incentivo.
— O que está planejando?
— Será aniversário do meu filho em dois dias e sei que Evie não irá
negar um convite meu.
— Dois dias? Você quer que eu espere dois dias para falar com ela?
Audrey revira os olhos. Seu irmão era extremamente inteligente, mas
não quando as coisas envolviam a ruiva.
— O convite é um pretexto, Alec. Eu vou é fazer com que ela volte para
essa família e casa. Lugar de onde ela nunca devia ter saído.
Capítulo 5
Allegra estava sentada no sofá, esperando que sua mãe se recuperasse
do que tinha acontecido na mansão dos Castello. Quando Evangeline se
sente confortável, ela deixa a cozinha e vai até a sua filha. Antes de se
sentar, faz apenas uma pergunta:
— Como soube?
— Começou quando aprendi sobre genética na escola. Não tem como os
seus olhos verdes, com os olhos castanhos do papai, deixarem os meus
azuis.
Evie sorri de lado. Embora esteja apavorada por Allegra ter descoberto
aquilo e ido atrás da verdade sozinha, ela se alegrava com a esperteza da
garota.
— Então eu achei uma caixa com algumas lembranças e vi a foto dele.
Do Alec. Os olhos azuis... lembrei que a senhora tinha ficado muito
emotiva ao ver aquele mesmo homem, em uma notícia na TV.
Evangeline relembra aquela sensação. Ao ouvir o nome de Alec,
relacionado a uma troca de tiros em uma boate de prostituição, ela ficou
apavorada. Era a primeira vez que ela ouvia o nome dele, depois de tantos
anos e ainda tinha a probabilidade de ele estar ferido. Naquele mesmo dia,
todas as dúvidas que ela achava ter sobre seus sentimentos por Alec, foram
sanadas. Ao ter certeza de que ele estava bem e não havia se ferido, Evie
soube que o amor que sentia por ele, jamais passou.
— Fiz umas pesquisas e esperei pelo momento em que iriamos vir aqui.
— Allegra conclui, mexendo em seu cabelo ruivo. — Está chateada
mamãe?
— Não, eu só... você não está?
— Não. — a menina dá de ombros. — Não sei o que aconteceu, mas sei
que sou nova demais para saber.
— É... — Evangeline abre os braços e Allegra se enfia por ali. — Mas
mesmo assim, quero que me desculpe. Nunca foi minha intenção mentir
para você. Só queria esperar o momento certo, mas nunca parecia ser a
hora.
— Mas ele é, não é? O meu pai.
— Sim. — ela beija a testa da filha e suspira pesadamente. — Alec é o
seu pai.
— E agora a gente...
— Agora nós vamos sair para comer. — Evangeline afasta Allegra e se
levanta. — São quase uma da tarde e eu estou faminta. Vamos?
— Para onde?
— Vou te levar no meu lugar favorito.
[...]
— Não! Definitivamente, não. Nunca mais.
— Que exagero, Allegra. É tão gostoso.
— Não, mãe! — a garota faz uma careta, quando desce do carro. —
Taco é horrível. Não importa o recheio.
Evangeline revira os olhos e se junta a filha. Ela não entendia como
aquela garota, que fora criada com ela, conseguia ser tão parecida com
Alec.
— Quem é aquela?
— Quem? — Evie pergunta, procurando a chave de casa na bolsa.
— A mulher loira na porta da nossa casa.
Evie desistiu do que estava fazendo e olhou para a porta. Audrey estava
sentada na pequena escada, mexendo em seu celular e impaciente pela
demora de Evangeline.
— Audrey?
A Castello de cabelos loiros ergueu a cabeça e abriu um sorriso imenso
ao ver Evangeline. Ela também foi incapaz de evitar o sorriso e caminhou
apressadamente, para abraçar a amiga.
— Que saudade de você! — Audrey murmura, apertando seus braços
em volta dela. — Eu devia te odiar por ter sumido por todos esses anos, mas
não consigo.
— Sei que entende o motivo do meu afastamento. Eu não queria que ele
soubesse...
Elas se afastam e Audrey olha diretamente para Allegra.
— Ela é a sua cara, mas tem o brilho do Alec.
— Eu sei. — Evie diz, olhando para a filha. — Bem, por que está aqui?
Se o Alec te mandou...
— E desde quando aquele pirralho manda em mim? — ela revira os
olhos e sorri em seguida. — Eu vim ver você! Saber de tudo. Vamos tomar
um vinho?
Audrey puxa uma parte da garrafa de vinho rose, para fora de sua bolsa.
Evangeline apenas balança a cabeça em afirmativa e abre a porta.
— Fique à vontade. — diz. — Allegra, pegue suas coisas e fique no
quarto. É assunto de gente grande.
A garota murmura algumas palavras e sobe as escadas batendo o pé. E
mesmo que ela devesse ir para o quarto, ela se senta no final do degrau e
fica atenta a conversa.
— Você e Alec tem uma filha! — Audrey diz, quando a ruiva volta com
as taças. — Isso é tão incrível.
— Teria sido incrível, se ele não tivesse me abandonado.
— Ele não sabia que você estava grávida.
— Quando ele me largou, eu também não sabia. O médico me contou
logo depois que ele saiu do quarto. Eu fiquei em pânico. Tínhamos sofrido
um acidente de carro bizarro e nada havia acontecido com o bebê.
— Porque ela tinha que nascer. — Evie assente, engolindo o vinho de
uma só vez. — E vocês tem que ficar juntos!
— Que? Sem chances, Audrey. Não.
— Por quê? Por que você está casada?
— Eu?
— Alec falou. Imagino que Allegra tenha contado a ele.
— Ah... — Evangeline suspira e olha para a escada. — É... mas eu não
sou casada. Não mais.
— Quem é ele? O que aconteceu?
— Você quer saber tudo mesmo, não é? — ela questiona, rindo. Evie
não se importava em contar aquilo a Audrey. Era bom contar à uma pessoa,
que não fosse tendenciosa a estar ao lado de seu ex. — Eu o conheci logo
que fui para Londres. Jonah era meu fisioterapeuta. Éramos amigos, sem
nenhum benefício. Ele acompanhou toda a minha gravidez e me ajudou a
retomar o funcionamento da minha mão. Quando Allegra fez dois anos, ele
me chamou para sair. Foi tão legal sair com ele, que nós fizemos de novo e
de novo, até que ele estava morando no meu apartamento.
— E por que acabou?
— Eu nunca o amei, sabe? Mas sempre o respeitei. Nunca olhei para
outro homem, ou tive intenções com outro alguém. Diferente dele. — Evie
solta uma risada melancólica. — Dois anos depois que já estávamos
morando juntos, ele me traiu. Disse que tinha sido apenas um beijo
aleatório em um bar e que nunca mais aconteceria. Allegra o amava. O
chamava de pai e por mais que eu tentasse tirar isso dela, mais ela chamava.
Até porque, era o que Jonah era para ela. Por isso eu o perdoei. E ele se
apegou nisso. Continuou me traindo, com tudo o que se mexia e eu fingia
que não via. Tudo pela felicidade da minha filha. Mas chegou em um ponto,
que não valia mais a pena estar ali. Eu não o amava, ele não me respeitava.
O coloquei para fora e disse que não queria mais vê-lo. E isso só tem duas
semanas. Ele me liga todos os dias. Me ligou o dia todo, inclusive. Não faz
ideia de que estamos aqui.
— Então você está livre para tentar com Alec de novo! — Audrey não
conseguia conter sua felicidade. — Vai voltar a ser minha cunhadinha.
— Não é assim que funciona, Audrey. Eu não vim aqui com a intenção
de rever Alec e retomar nada. Eu ainda sou apaixonada por ele, sempre
serei, mas ainda dói. Muito. Sei que daqui a pouco não poderei negar que
ele e Allegra convivam, mas é só isso. Não tem nenhuma possibilidade de
Alec e eu voltarmos.
Audrey faz uma careta e revira os olhos.
— Você sabe que eu não ligo para o que falou e que vou tentar juntar
vocês da mesma forma, não sabe?
— Audrey...
— Depois de amanhã é aniversário do AB. Ele fará dez anos. E eu
quero você e minha sobrinha lá.
— Ah... não será possível, Audrey. Nós voltamos para Londres amanhã
cedo.
Allegra arregala os olhos e se levanta apressadamente.
— Não! — ela protesta, aparecendo no meio da escada. — Não
podemos ir embora.
— Você estava ouvindo a nossa conversa?
— Mamãe, não podemos ir! Quero conhecer meu primo, minha tia e
meu pai! Não podemos ir agora.
— Allegra...
— Por favor, mamãe. — Allegra choraminga, sentindo seus olhos
arderem. Ela não tinha esperado tanto tempo por aquilo, para voltarem para
casa como se nada tivesse acontecido. — Não me tira isso. Por favor.
Evangeline olha de lado para Audrey, que mantinha um sorriso
esperançoso no rosto. Ela suspira derrotada e balança a cabeça em
afirmativa. Apesar de querer se manter afastada de Alec, ela estava com
uma coisa que pertencia a ele há dez anos. Era hora de entregar.
— Tudo bem. Nós vamos.
Capítulo 6
Saber que Evangeline estava na cidade e que eles tinham uma filha
juntos, era torturante para Alec. Principalmente porque Audrey não deixava
que ele se aproximasse delas. Não antes do aniversário de Antony.
E aquilo o deixava minimamente aterrorizado. Alec sentia falta de
Evangeline e de tê-la consigo, mas não era porque tinham passado dez anos,
que os perigos haviam sumido. Depois que Blake morreu e Alec tomou a
frente de todos os negócios, ele ficou visado pelo seu jeito de agir sem
cautela.
No dia em que a boate sofreu a batida policial, Alec conseguiu fugir
pelo telhado, mas acabou batendo sua cabeça em uma barra de ferro que
não tinha visto. Ele ficou desacordado por horas e confidenciou a Howard,
que tivera um sonho naquele momento. Alec se via em um campo aberto e
florido, sozinho, até que uma carruagem se aproximava. Evangeline descia
daquela carruagem e caminhava até ele, com um sorriso lindo estampado no
rosto. Ele disse que ela não falou nada, mas que quando se beijaram, ele
teve a sensação de um final feliz sendo selado.
O vasto jardim dos Castello estava lotado de brinquedos e crianças.
Audrey alugou um serviço, que montou um parque de diversões ali. Antony
estava tão feliz, que não conseguia parar quieto um só segundo.
— Tio, vem comigo! — ele agarra na mão de Alec, que sequer se mexe.
— Tio Alec!
— Oi, garoto?
Alec estava sentado na área reservada para os pais de todas aquelas
crianças, olhando desesperadamente para a porta por onde os convidados
chegavam.
— Vamos na montanha russa!
— Ah, agora eu não quero. Vai com algum dos seus amiguinhos.
O garoto fica entristecido quando Alec se levanta e solta a sua mão. Ele
caminha até sua irmã e questiona:
— Audrey, cadê ela?
A loira olha de lado para a mãe de uma das crianças com quem
conversava e dá um sorriso sem graça.
— Licença. — ela murmura para a mulher e puxa Alec para longe dali.
— Caramba, que ansiedade é essa? Te deixou até mal-educado.
— Eu não aguento mais! Tem certeza de que ela vem?
— Foi o que ela disse.
— Quando foi que falou com ela pela última vez?
Audrey dá de ombros.
— Não falei desde que deixei a casa dela. — aquilo deixou Alec em
pânico. — Que cara é essa?
— Audrey, ela não vem! Ela já deve ter voltado para Londres e se
bobear, está se mudando para que eu nunca a ache.
Alec começa a andar.
— Para onde vai?
— Atrás da Evangeline. — ele diz, sem parar de andar e encarando a
irmã. — Eu não vou deixar que ela vá embora e leve a minha filha para
longe, sem antes ouvir tudo o que eu tenho para...
Ele estava tão afobado para ir atrás de Evangeline, que não viu quando
ela passou pela porta e acabou trombando nela. Exatamente como ocorre
nos filmes de romance, ele a derrubou com tudo e caiu por cima dela.
[...]
— Allegra? Já está pronta? Vamos nos atrasar!
A resposta vem alguns segundos depois, do andar de cima.
— Mais cinco minutos, mamãe!
Evangeline tentava controlar sua ansiedade, ao mesmo tempo que
ignorava as ligações de seu ex, Jonah. Ele enviava uma mensagem atrás da
outra, questionando o motivo de ela não estar em casa e não estar atendendo
suas ligações.
Ela iria gritar por Allegra mais uma vez, quando a campainha foi
tocada. Enquanto apagava as trilhões de mensagens, Evie abre a porta.
— Felippa? — a mulher estava abatida de uma maneira nunca vista por
Evangeline. Ela logo entendeu o porquê. — Oh... quando?
— Um pouco depois que você deixou o hospital.
— Oh...
— O enterro é em duas horas. Eu não estava conseguindo falar com
você pelo celular, então achei melhor vir aqui. — só então Felippa nota o
vestido longo e na cor azul royal que Evie usava. — Está de saída?
— É... eu vou...
— Mamãe, estou prontaaaa.
Allegra desce as escadas feliz e saltitante, sem perceber que tinha
alguém na porta. Felippa olha para a garota e para Evangeline, que tinha os
olhos fechados.
— Mamãe? — Felippa questiona, olhando para Evangeline. — Que?
— Tia Felippa! — Allegra corre até ela e a abraça, deixando-a ainda
mais confusa. — Como é bom finalmente te conhecer!
— Eu adoraria dizer o mesmo, mas nem sabia de você.
— O que?
— Allegra, vai lá em cima buscar o presente.
— Mas ele está...
— Allegra!
Bastou um olhar firme de Evangeline, para a menina entender que era
para ela apenas sair da sala. Não importava se estavam atrasadas ou não.
— Você tem uma filha. — Felippa diz, rindo melancolicamente. —
Você tem uma filha e eu não fazia ideia.
— Você precisa me entender. Eu não podia simplesmente te contar.
Você estava com o Howard e...
— Espera... é do Alec? — Evie afirma com a cabeça. — E quando
soube?
— Quando acordei do acidente.
— Caramba. — ela solta uma risada alta. — Que espécie de melhor
amiga você é? Eu não merecia saber por quê? Por que saia com o motorista
do Alec?
— Você não só saia com ele. Felippa, você estava apaixonada e falava
pelos ventos. Eu não queria que Alec soubesse.
— Meu Deus... você só pensa em si mesma.
— O que?
— Desde que conheceu o Alec, você se tornou outra pessoa,
Evangeline. Passou a me esconder coisas. Nunca tivemos segredos e você
nunca me contou que Alec é um mafioso.
— Não era meu segredo para contar.
— Ah, claro... você é super digna. — Felippa suspira e olha para o
relógio. — Vou embora. Tenho que enterrar a única pessoa que nunca
mentiu para mim ou me pôs em perigo.
Evangeline observa Felippa sair de sua casa e ir diretamente para a casa
do outro lado da rua. Sua vontade era de ir atrás dela e despejar tudo o que
sabia sobre seu pai, mas aquela não era hora. O carma já havia agido e
William pagou por todo mal que havia feito em vida.
— Mamãe? — Allegra chama, do alto da escada. — Está tudo bem?
— Sim... eu...
— A tia Felippa está chateada? Ela não gostou de mim?
— Não, querida. — Evie faz um movimento com a mão e a garota
desce. — Impossível não gostar de você. Ela só está chateada com outras
coisas da vida. — antes que Allegra pudesse perguntar mais alguma coisa,
Evie se apressa. — Está pronta? Nós já estamos atrasadas e é horrível
chegar depois de todo mundo. Todos ficam nos olhando.
Capítulo 7
E quando Alec trombou sobre o corpo dela e fez com que os dois
caíssem, foi exatamente o que aconteceu. Metade da festa parou de
acontecer e ficou encarando os dois ex-amantes no chão.
— Caramba, Alec! — Evie resmunga, sentindo uma pontada na parte de
trás da cabeça. — Você não olha por onde anda?
— Não quando o assunto é você.
Eles estavam tão próximos, que apenas o vento seria capaz de passar
naquele misero espaço. Alec arfou, controlou a vontade absurda que sentia
de atacar os lábios de Evangeline e se levantou, esticando a mão para ela.
Evie bateu na mão estendida de Alec e se levantou sozinha, passando a mão
pelo vestido em seguida.
— Que entrada triunfal. — Audrey ironiza, se aproximando de
Evangeline. — Você está bem?
— Tirando a dor excruciante na parte de trás da minha cabeça e todas
essas pessoas estranhas me olhando, estou ótima.
— Doce como um limão. — a loira ri, abraçando Evangeline. — Estou
muito feliz por você estar aqui.
— Você e Allegra sabem ser persuasivas demais. — Evie estreita o seu
olhar para Alec, que não conseguia parar de olhá-la. — É de família pelo
visto.
— É sim! Vou apresentar o Antony a vocês. ANTONY? — o garoto,
que estava na carrocinha de cachorro-quente, olhou na direção da mãe e se
apressou em se aproximar. — Quero apresentar duas pessoas muito
especiais a você. Essa é a Evangeline. O amor do seu tio.
— Audrey!
A loira revirou os olhos com a repreensão de Evangeline, que olhou
para o menino e sorriu envergonhada.
— Oi, Antony. Você é lindo! Feliz aniversário.
— Obrigado.
— Essa é a Allegra. — Audrey continua, apontando para a menina ruiva
que estava atrás da mãe. — Ela é sua prima.
Antony olhou para cada rosto que havia ali e parou no de Alec.
— Então ela é sua filha? — Alec assente. — E por que eu só sei agora?
— Tenho certeza de que Allegra te contará tudo! Vão, vão brincar. —
Audrey empurra os dois pelas costas, que vão a muito contragosto. — Hora
de os adultos conversarem. — Evie abre a boca para tentar fugir, mas
Audrey é mais rápida. — Nossa, que falta de educação a minha. Vou pegar
uma bebida para você, Evangeline. Conversem enquanto isso.
Evangeline sabia que Audrey faria algo do tipo em algum momento, só
não imaginava que fosse tão cedo. Ela desviou o seu olhar de Alec e
procurou Allegra. A garota já havia se misturado no meio de todas aquelas
crianças e era impossível vê-la.
— Nós podemos conversar? Como dois adultos que somos.
— Sim. — ela responde, sentindo um enorme bolo na garganta. —
Também há algo que preciso te dizer.
Audrey conversava com uma de suas amigas, quando viu o irmão entrar
na casa e Evangeline segui-lo. A partir daquele momento, ela começou a
implorar a todos os Deuses que existiam, o retorno daquele casal.
— Tudo aqui permanece igual. — Evangeline diz, quando entra no
antigo escritório de Blake. Foi impossível não lembrar da zona que os dois
fizeram naquela mesa, no dia se seu aniversário de vinte e dois anos. —
Enfim...
Quando Evie se vira, Alec está diante dela. Há menos de um passo. Ele
também tinha sido bombardeado com lembranças, ao ver Evangeline
naquela sala. Uma onda de coragem e saudade o preencheu, e ele andou até
ela, ansiando por um beijo. Mas logo que ela se virou, ele paralisou.
— Eu quero tanto beijar você. — ele murmura, encarando os lábios
entreabertos de Evangeline. — Durante todos esses anos, eu sempre quis
saber como você estava. Se estava bem sem mim. Embora eu soubesse onde
você estava morando, eu não podia me contradizer. Não podia reaparecer na
sua vida e trazer à tona todo o sofrimento que te causei.
— Alec...
— Você se foi e eu batalhei para manter os negócios da família em pé.
Eu não tinha um motivo pelo qual viver. Fui me afundando dia após dia.
Achei que iria morrer em diversos momentos. E eu queria..., mas desde que
você apareceu aqui, atrás da garota que é nossa filha, tudo em mim mudou.
— Alec segura a mão que fora ferida de Evangeline e aquilo lhe causa um
choque mínimo. — Eu sempre tive um motivo para viver e você me deu
mais um. Nossa filha.
— Acho que você não faz ideia de como doeu, quando você saiu
daquele quarto de hospital. Eu dormia e acordava todos os dias chorando,
mas ainda assim com uma pequena esperança dentro de mim, de que você
voltaria. Dia após dia, eu fechava os olhos e sentia você. Sentia seu beijo,
sentia seu toque, sentia você em cada parte do meu corpo. Mesmo você há
quilômetros de distância, eu sentia você por inteiro. Eu nunca deixei de te
amar, e acho que nunca serei capaz, mas...
— Mas? Não há! Nós podemos retomar exatamente de onde paramos.
— Alec passa o braço em volta da cintura de Evangeline e aquilo a deixa
tonta. — Eu faço o que for, Evangeline. Largo o que você quiser. Desde que
a única condição, seja ficar com você para sempre.
Aquelas poucas, mas intensas palavras, deixaram Evangeline bêbada de
amor. Alec aproveitou a deixa e fez aquilo que desejou por dez anos.
Quando seus lábios se tocam, tudo ao redor parece desaparecer, e eles são
transportados para um mundo só deles. As mãos se entrelaçam, os corpos se
aproximam, e o beijo começa suave e delicado, como uma promessa de
amor. As bocas se movem juntas em um ritmo suave e lento, explorando
cada canto e recanto, procurando se conectar mais profundamente. À
medida que o beijo se intensifica, as respirações se aceleram, e o coração
bate mais forte. Os lábios se pressionam com mais força, e as línguas se
encontram em uma dança apaixonada. As mãos começam a se mover com
mais intensidade, percorrendo os corpos dos amantes, transmitindo a
ternura e o desejo que está sentindo um pelo outro. O beijo se torna mais
profundo e urgente, e eles se entregam completamente um ao outro. Quando
o beijo finalmente termina, os dois se olham nos olhos, ainda perdidos no
momento, e sabem que este é o recomeço de algo que nunca devia ter
terminado.
Capítulo 8
— Ai meu Deus... — Evie murmura, saindo dos braços de Alec. — Não
era assim que eu imaginava essa conversa.
— Engraçado... eu esperava que bagunçássemos a mesa mais uma vez.
Evangeline reprime o riso e esconde o rosto nas mãos. Alec se aproxima
e pega nas mãos dela, fazendo com que ela o olhe.
— Eu te amo. Vamos recomeçar?
— Alec, há muita coisa em aberto. Eu e Allegra temos uma vida em
Londres. Você não pode achar que apenas um beijo fará com que eu largue
tudo.
Alec segurou seu rosto com as mãos e puxou gentilmente para mais
perto dele. Seus lábios se encontraram em um beijo suave, que
gradualmente se tornou mais intenso.
Eles se entregaram à sensação, seus corpos se aproximaram enquanto se
beijavam. Evangeline podia sentir o coração batendo forte no peito dele,
enquanto suas mãos corriam pelas costas dela.
O beijo contínuo, parecendo durar uma eternidade enquanto eles se
perdiam na sensação. Quando finalmente quebraram o beijo para respirar,
seus rostos ainda estavam próximos, seus olhos se encontrando em um
olhar emocional de emoção.
— Será que dois resolve? — Alec brinca, passando seu nariz no dela. —
Se quiser eu posso dar mais alguns...
— Para! Não foi para isso que vim aqui. Você está tirando o meu foco.
Alec sorri vitorioso. Beijá-la e não ter recebido um tapa em resposta, já
havia sido a maior vitória do dia.
— Eu tenho uma coisa, que deveria estar contigo há anos. — ela diz,
abrindo sua bolsa e retirando a chave dali. — O seu pai me pediu para te
entregar isso. — Alec franze o cenho para a chave estendida a ele. — Eu
não tive muita oportunidade para fazê-lo, depois de tudo o que aconteceu.
— Espera... o meu pai? Uma chave? De onde?
— Ele disse que era do cofre que fica no quarto dele. — uma chave
girou na mente de Alec. — E que lá estava o testamento.
— Caramba... então estava com você? Acredita que nunca consegui
abrir aquilo? Contratei diversas pessoas para arrombar, mas foi impossível.
Todos diziam que apenas com a chave. — ele pega a chave de Evangeline.
— Essa chave.
— Então vá abrir.
— Eu... você se importa em ir comigo? Desde que... desde que meu pai
morreu, que eu...
— Claro. — Evie responde, sem deixar que ele finalize a frase. Ela
sabia o quanto doía nele, a perda do pai. — Eu vou com você.
Alec caminha pela casa, indo para o segundo andar, com Evangeline em
seu encalço. Ela nota que ele respira fundo algumas vezes, antes de abrir a
porta do quarto de Blake.
Com exceção dos caras contratados para abrir o cofre e uma empregada
específica, ninguém entrava naquele quarto. Alec queria que aquele
ambiente permanecesse do mesmo jeito que Blake havia deixado.
— Ainda tem o cheiro do charuto dele. — Alec murmura, fechando os
olhos para apreciar aquele odor. — Ah, meu Deus! — ele balança a cabeça.
— Foco, Alec. O cofre.
Evangeline entra e fecha a porta, mas permanece ali por perto. Ela
observa enquanto Alec anda até uma parede e retira o imenso quadro que
havia ali, revelando um cofre. Ele respira fundo algumas vezes, antes de
colocar a chave e finalmente abrir aquilo.
Além de algumas barras de ouro e alguns milhares de dólares, havia
joias e dois envelopes. Em um estava escrito que devia ser aberto diante de
toda a família e o outro, estava destinado a Alec. O mafioso se agarrou no
papel que continha seu nome e deu alguns passos para trás, até cair sentado
na cama de Blake.
— Eu não sei se consigo. — ele diz e olha para Evangeline. — Você
pode...
— Me dê.
Evie se aproxima e pega o envelope, abrindo-o em seguida. A letra de
Blake era cursiva e o que estava escrito ali não era muito longo.
— Alec, se está lendo isso, é porque morri. — ela começa, sentindo um
bolo se apossar de sua garganta.
“A máfia é de família, passado de geração para geração, mas chega
uma hora que basta. Quando meu pai passou a mim, eu tentei parar. Tentei
largar tudo lá atrás e fazer diferente, mas como você pode ver, não foi
possível.
Mas você fará isso. Encerre tudo. Cada conta. Cada boate. TUDO! No
final dessa carta, você terá o contato de um grande amigo, que é ótimo em
transformar pessoas em outras. Quero que suma. Pegue sua irmã, seu
sobrinho, se a Dom estiver merecendo, pode incluir ela nisso e obviamente,
a menina ruiva. Sei que você não irá a lugar nenhum sem ela.
Alec, não pense em fazer nada diferente. Acabe com tudo e tenha uma
vida longa e feliz.
Seu pai.”
— E tem um número aqui. — Evangeline conclui, olhando para Alec.
— Ele quer que você faça, o que ele sempre quis, mas não pode. — ela olha
para o papel e sorri melancolicamente. — Blake ainda me incluiu nisso. Eu
podia jurar que ele me odiava.
— Será que poderia dar certo?
— O que?
— Eu seria capaz de viver longe disso tudo? — ele olha em volta, mas o
tudo era muito além daquele quarto. — O que eu faria para viver?
— Alec, tenho certeza de que sua família acumulou dinheiro o
suficiente, para que você e qualquer um seja capaz de viver confortável até
o fim de suas vidas.
Alec a olha.
— Você e Allegra vem comigo?
— Para onde?
— Não importa o lugar. — ele vira todo o seu corpo na direção dela. —
Se for para eu abandonar tudo isso e ir embora, você tem que vir comigo.
Eu não sei se aguento mais um dia sem você na minha vida.
Evangeline tem total consciência de que o tempo em que viveu ao lado
de Alec, foram os mais felizes de sua vida. Dez anos os separaram e mesmo
que tivesse tentado seguir sua vida normalmente, ela sabia que algo faltava.
Ele.
— Alec, eu...
Antes que ela fosse capaz de fazer um misero charme, para depois
aceitar sumir no mundo com ele, uma risada conhecida pelos dois se faz
presente. E junto dela, uma voz feminina que apenas Alec conhecia.
— Ele vai adorar a surpresa. — a voz diz, causando curiosidade em
Evangeline. — Alec não suporta ficar tanto tempo longe do meu corpo.
Ele fechou os olhos com força, enquanto Evangeline se levanta e deixa
o quarto. Ela para no meio do corredor e encara as duas mulheres que
estavam alguns metros a sua frente. Dominique foi a primeira a ver
Evangeline ali. Ela retirou os óculos escuros e revirou os olhos.
— Não é possível. — a loira de corpo escultural que estava ao lado
dela, se virou e encarou a ruiva de cima a baixo. — Pensei que tínhamos
nos livrado de você há anos atrás.
— Essa é a...
— Espera... você estava no quarto do Blake? Onde está... — Alec sai do
quarto lentamente e para ao lado de Evangeline. — Alec. No quarto do seu
pai? Além de desrespeitar a memória do Blake, você desrespeitou a sua
mulher!
— A sua o que?
Evangeline olha para Alec, extremamente confusa. Se ele tinha uma
mulher, por que estava fazendo planos com ela? Por que a tinha beijado?
Dominique se prontifica a responder e da alguns passos para frente.
— Ele não te contou? — ela tinha um sorriso de lado e debochado. —
Aquele monumento ali, é a Sophie. Mulher do Alec.
Capítulo 9
Sophie não abriu a boca em momento nenhum, já que ela tinha
Dominique, como sua porta-voz.
— O que você pensou? Que Alec ficaria sozinho pelo resto da vida
dele? — mesmo que Evangeline não tenha falado nada, Dominique
destilava o seu veneno. — Muito pelo contrário! Depois de buscas e mais
buscas, ele finalmente encontrou a Sophie. A mulher perfeita para ele!
A última coisa que Evangeline queria e precisava, era de uma briga com
Dominique. Ela se limitou em apenas olhar para Alec e suspirar.
— Vou embora.
— Não, Evangeline... espera.
Evangeline ergueu a barra do vestido e literalmente correu para longe
daqueles três. Alec respirou fundo e decidiu resolver aqueles problemas,
antes de ir atrás do seu grande amor.
— Que merda você faz aqui?
— É aniversário do meu neto. Jamais perderia.
— Não estou falando com você, Dominique. — o olhar duro e frio de
Alec, estava pousando em Sophie, que tentava inutilmente se esconder atrás
de Dominique. — Eu pouco me importo com o que você faz ou deixa de
fazer da sua vida.
— Nossa, filho... O que...
— Responde, Sophie. Que merda faz aqui? Tenho certeza de que fui
muito bem claro da última vez.
— Foi. — ela finalmente diz, dando alguns passos para a frente. — Por
isso viajei para encontrar a sua mãe e te dar um tempo em paz. Eu sabia que
você só precisava de um tempinho para me perdoar.
— Perdoar? Sophie, você tinha um homem pelado dentro do seu
guarda-roupa e estava coberta apenas pelo seu cobertor de plumas. Quando
nos conhecemos, qual foi a primeira coisa que eu te disse?
— Qual era o meu preço?
Alec revira os olhos. Por mais que Sophie tivesse o corpo perfeito,
esculpido pelo melhor cirurgião plástico de Nova Iorque, o cérebro era
fodido. A mulher era burra como uma porta.
— Eu disse tudo o que você deveria saber sobre mim e a única coisa
que pedi em troca, foi a sua lealdade. Disse que não me importava com o
quanto você gastava ou o onde estava. Desde que se mantivesse fiel a mim.
— E quando foi que eu não fui leal a você? — a voz fina e adocicada de
Sophie, fazia Alec revirar os olhos infinitas vezes. — Eu gosto tanto de
você, querido...
— Não, você não gosta. Você gosta do dinheiro e todo luxo que posso
proporcionar. Bem diferente da mulher que eu amo.
Dominique se sentiu mais ofendida do que Sophie, ao ouvir aquela
frase. Quando Alec deixou as duas mulheres sozinhas e se apressou em ir
atrás de Evangeline, a ex-Castello se virou para a loira e disse:
— Não ligue para ele. Alec é um idiota. Deve ter sofrido alguma má
formação durante a gravidez. — Dom cruza seus braços com o de Sophie,
que olhava suas unhas e pensava em qual cor as pintaria. — Vamos ver para
qual país vamos dessa vez e você poderá pegar quem quiser, sem se sentir
culpada depois.
Logo que se afastou de Alec e todo aquele drama que surgira,
Evangeline procurou por Allegra no meio de todas aquelas crianças
desconhecidas. Ela encontrou a pequena cabeleira ruiva no canto do jardim,
agarrada as suas pernas.
— Allegra? — a menina direciona seu olhar molhado para Evie. — O
que aconteceu, querida?
— O Antony é um idiota! Eu o odeio.
— Me explique.
— Ele disse que eu deveria ir embora, pois não era bem-vinda aqui. —
Evangeline ergue uma sobrancelha. Aquela não parecia a educação que
Audrey daria. — Antony disse que eu estou roubando toda a atenção que
pertence ele. Que Alec é dele e não quer dividir.
Evangeline sorri de lado e segura as mãos da sua filha.
— É normal que ele se sinta assim, amor. Toda a atenção era dele por
dez anos. Alec ser seu pai, não significa que amará um ou outro menos. —
Allegra solta um suspiro entristecido e abraça Evangeline. — Que tal nós
irmos para casa? Podemos ver um filme e ficarmos abraçadinhas.
Após uma balançada de cabeça como resposta, Evangeline segura na
mão de Allegra e abandona o jardim. Ela não tinha visto Audrey, então
agradeceu por não precisar explicar o motivo de estarem indo embora cedo.
Elas estavam quase passando pelo portão, quando a voz de Alec se fez
presente.
— Não quero ouvir nada, Alec. — Evangeline fala mais alto, sem parar
de andar. — Principalmente na frente da minha filha.
Alec caminha mais rápido e para na frente das duas, fazendo Evangeline
revirar os olhos com a sua insistência. Ele respira fundo algumas vezes,
buscando o ar que faltara naquela pequena corrida.
— Você dá alguns minutos para a gente? — ele pergunta a Allegra, que
rapidamente solta a mão de Evangeline e se afasta um pouco. —
Evangeline...
— Por favor, Alec. Você seguiu sua vida. Está tudo bem.
— Não! Não está. Nada está bem sem você. — Alec dá um passo para
frente e ela não se move. — Sophie não é minha mulher. Era apenas uma
namorada, que me traiu e eu terminei. Como deu para notar, Dominique e
adotou e acha que devo perdoar o que aconteceu. Mas eu não vou. Não é ela
que eu quero. — ele segura na mão de Evangeline, que permanecia quieta.
— Eu não quero voltar para trás, onde eu era só metade de uma equação.
Sem você, eu fico completamente perdido, Evangeline. Tem noção, que
todo beijo que você me dá, me completa por inteiro? Não sou capaz de
imaginar a minha vida, sem o seu toque, sem seu cheiro... sem você. Me
desculpa... volta para mim.
Evangeline segurou a imensa vontade que tinha de beijar Alec e o
abraçou fortemente. Com os olhos fechados, ela grudou os lábios perto da
orelha dele e murmurou:
— Não vou te beijar na frente da Allegra, para não ser demais para
ela..., mas eu quero tentar de novo. Eu amo você, Alec. Com todo o meu
coração. Eu estive mais feliz nessa última hora, do que em todos esses anos
longe de você. Quero que me prometa uma coisa...
— O que quiser.
Eles não se soltavam. A cada segundo que passava, aquele abraço ficava
mais apertado e mais repleto de amor.
— Não me machuque mais. Acho que eu não sou capaz de suportar uma
outra decepção vinda de você.
— Eu não vou. — ele beija o ombro nu dela. — Prometo.
— Então tudo bem. Vamos recomeçar.
Capítulo 10
— Eu queria ficar mais em Nova Iorque. — Allegra resmunga, quando
ambas deixam um táxi na porta de seu prédio em Londres. — Não conheci
nada do que gostaria.
— Mamãe tem muitas coisas para resolver por aqui. Nova Iorque e tudo
o que você ainda quer conhecer, estará lá quando voltarmos.
— Alec também?
Dentro do elevador, Evangeline olha para a sua filha, que tinha um
sorriso travesso nos lábios. Ela não queria dar nenhuma esperança falsa
para a menina, então apenas se limitou a sorrir e balançar a cabeça.
Logo que ambas entram no apartamento, Evangeline largou sua mala ao
pé da porta e retirou os sapatos.
— Vou para o meu quarto! — Allegra diz, já subindo as escadas com
seus pertences. — Tenho tantas coisas para contar a Olivia.
— Sem muitos detalhes, Allegra. Nossa vida não é da conta de
ninguém.
— Nem mesmo da minha?
Evangeline sente que seu coração vai sair pela boca, com o susto que
tomou. Ela se virou e encontrou encostado na porta que dá para a cozinha,
Jonah, seu ex.
— O que está fazendo na minha casa? — ela pergunta, quando
consegue se recompor do susto.
— Esse também costumava ser o meu lar.
— Olha, usou o verbo no passado. Exatamente como deve ser. — Evie
vai até a porta e a abre. — Vai embora, Jonah.
— Não. Nós temos que conversar.
— Não temos nada para conversar.
— Estava em Nova Iorque, não é? — Evangeline franze a testa, se
perguntando como ele sabia daquilo. — As compras do seu cartão de
crédito, ainda chegam no meu celular.
— Isso é outra coisa que tenho que resolver, antes mesmo do divórcio.
— Divórcio? — Jonah se aproxima de Evangeline, que apenas fecha a
porta e caminha para outro lado da sala. — Você não pode estar falando
sério.
— Sinto muito, mas não consigo mais continuar com esse casamento.
Depois de tudo o que você fez, não há mais confiança ou amor suficiente
para manter nossa relação.
— Eu entendo como você se sente, mas por favor, não tome uma
decisão tão importante assim agora. Vamos conversar, tentar resolver as
coisas juntos.
— Não há nada mais para conversarmos. Você quebrou uma promessa
fundamental em nosso casamento. — ela é firme. Aquele casamento sem
amor e respeito, já havia durado demais. Não havia mais motivos para ela
empurrar aquilo com a barriga. — Eu não consigo imaginar um futuro
juntos, onde eu sempre estarei preocupado em quem você está pensando ou
o que você está fazendo quando estiver longe de mim.
— Por favor, me dê uma chance de fazer as coisas certas, de me redimir.
— Eu já te dei muitas chances. Agora, preciso pensar em mim, na
minha filha e no meu próprio bem-estar. É hora de seguir em frente.
— Seguir em frente? — Jonah solta uma risada irônica. — Com o Alec?
O homem cujo nome você chamou todas as noites, durante esses sete anos
do nosso relacionamento?
— Você nunca falou... enfim... minhas escolhas não têm nada a ver com
ninguém, além de mim mesma. Eu não posso... eu não mereço, estar em um
relacionamento, onde sou traída a cada seis meses.
— E a Allegra? Você não pode me manter longe da minha filha.
— Sabe que ela não é sua filha. Ela também sabe.
— Você contou? — Jonah estava ofendido e ligeiramente triste. — Quer
tanto se livrar de mim, que contou a verdade a ela?
— Allegra não é nenhuma criança ingênua, Jonah. Ela já sabia há
bastante tempo que você não era o pai dela. Mas EU, jamais vou proibi-la
de ver você. Se for isso que ela quer.
— Eu quero.
Allegra desce as escadas rapidamente e corre para os braços de Jonah.
— Depois nós vamos conversar sobre essa sua mania de ouvir
conversas da escada. — Evangeline diz, mas Allegra não da bola.
A garota se afasta um pouco de Jonah e sorri para ele.
— Você sempre será o meu papai. Nós ainda podemos ir ao cinema
sexta à noite, enquanto eu e mamãe morarmos aqui em Londres.
— Enquanto moram? — Jonah direciona o seu olhar para Evangeline.
— Você vai se mudar?
— Eu não... sei. Allegra, vem. Vamos ver o seu avô.
Evangeline vai até a porta e a abre novamente, esperando pela menina.
Allegra abraça Jonah novamente e suspira.
— Te amo, papai.
— Também te amo, filha.
Jonah beija o rosto da pequena ruiva e em seguida ela corre para fora do
apartamento, para chamar o elevador. Evangeline aproveita que sua filha
está afastada e se vira para o ex.
— Arrume suas coisas e suma daqui. Quando eu voltar, espero
encontrar a cópia da sua chave com o porteiro.
[...]
— O que aconteceu com vocês? — Samuel pergunta, assim que desfaz
o seu abraço com Allegra e abre os braços para Evangeline.
— Como assim?
— Jonah me ligou algumas vezes, perguntando sobre onde você estava.
Disse que você tinha buscado Allegra mais cedo na escola um dia e sumiu.
— Ah... — ela olha na direção de sua filha, que estava entretida com o
grande computador que o avô tinha. — Estávamos em Nova Iorque. O pai
da Felippa estava morrendo e queria me ver.
— Nova Iorque, é? E você não viu o Alec?
Evangeline fecha os olhos e recorda os beijos que ela e seu mafioso
haviam trocado.
— É... nos vimos. Bem, acho que posso te contar os detalhes depois. Eu
preciso da sua ajuda com uma outra coisa.
— O que?
— O meu divórcio com Jonah. — Samuel ergue as sobrancelhas. — Por
favor, não repita aquele discurso?
— Qual? Aquele em que digo que você nunca deveria ter se casado com
aquele cara? — Evie faz careta. — Não vou. Mas o que aconteceu? Não
tem volta?
— Não. Nenhuma possibilidade. E antes que me pergunte se Alec tem
alguma coisa a ver com essa decisão, a resposta é não. Eu já tinha certeza
do que queria fazer, antes de embarcar para casa.
— Você poderia ter me avisado sobre isso, há alguns dias atrás. —
Evangeline tinha uma interrogação no rosto. — A festa da minha
aposentadoria, será no próximo final de semana. Todos os convites foram
enviados para a família e todos os meus clientes. Inclusive o dele.
— Que incrível.
— Bem, pense pelo lado positivo. Alec não é mais meu cliente há anos,
então ele certamente não estará nessa festa.
— É...
Evangeline murmura, pensando em quanto tempo ela deverá levar para
resolver todas as pontas soltas que há em sua vida e finalmente ser feliz ao
lado do amor de sua alma.
Capítulo 11
— Isso é tão injusto! Por que eu tenho que ir para uma festa do pijama
idiota, ao invés da festa do vovô?
— Eu realmente preciso responder?
Allegra revira os olhos e cruza os braços, diante da pergunta da mãe.
— Porque eu sou criança, mesmo que quase sempre não pareça. — ela
repete a frase dita quase todo dia por Evangeline, quando Allegra cisma em
pedir algo que não é apropriado para sua idade. — Já disse que é injusto?
— Você adora ir para a casa da Sabrina e ficar todo o final de semana lá.
Na festa do vovô só terá gente velha e chata. Eu mesma só vou, porque é
importante para o seu avô.
A miniatura de Evangeline coloca a mochila nas costas e agarra na
barraca de camping, descendo as escadas atrás de sua mãe.
— Os cookies estão quentinhos. — Evie diz, abrindo um dos potes para
sentir o aroma do chocolate. — A mãe da Sabrina deve chegar a… — o
celular de Evangeline toca, informando uma nova mensagem. — Olhe…
deve ser ela.
Evangeline acompanha Allegra até a porta e confere se realmente é o
carro da mãe de Sabrina. A amiguinha de Allegra está no banco traseiro e
acena alegremente para a ruiva.
— Seu telefone está carregado, para que possa me ligar caso algo
aconteça. Vê se não fica assistindo muitos vídeos de maquiagem. —
Allegra estava prestes a rolar os olhos, quando Evangeline segurou seu
rosto e beijou-lhe a testa. — Qualquer coisa me liga. Se divirta.
Evie espera que sua filha vá até o carro da amiga, acena quando o carro
está se afastando e logo entra, para pegar sua bolsa e dar um último retoque
no batom.
No elevador, indo para a garagem, ela olha para o celular e sente falta
das mensagens rotineiras de Alec. Desde que voltara de Nova Iorque, eles
se falavam todos os dias. Quando não estavam trocando mensagens de
saudades, estavam em chamadas de vídeo, conversando sobre tudo o que
aconteceu nos últimos dez anos e o que fariam nos dez que viriam. Mas
naquele dia, não teve nenhuma mensagem.
— Não surta. — ela murmura, se sentando na direção do seu carro. —
Como ele mesmo diz, Alec é indestrutível. Nada aconteceu.
Mentalizando isso, Evangeline dirige até o salão de festa, em que
acontecerá a festa de aposentadoria de Samuel. Um manobrista se ocupa em
estacionar o carro, enquanto ela se encaminha para a entrada. A garota que
atendeu Evangeline tão bem, quando a mesma foi atrás de Samuel em
Londres, havia sido promovida graças a ela. A ruiva contou ao pai como
tinha sido tratada e Samuel a transformou em sua assistente pessoal. Então
era ela que estava na frente do salão, recepcionando todos os convidados.
— Evangeline! — Zoe sorri e abraça a ruiva. — Esse vestido está
incrível em você. O preto te realça.
— Ele nem é novo, acredita?
— Acredito. Você não sai muito. — elas trocam uma risada sincera e
Zoe faz um movimento para que o segurança abra a porta para Evangeline.
— Seu pai já está aí. Se divirta.
— Assim que o último convidado passar por essa porta, entre e venha
tomar um vinho comigo.
— Pode deixar.
Todo o lugar estava decorado com as cores preto e dourado. No convite
estava como obrigatoriedade, que todos os convidados deveriam usar preto,
pois o dono da festa usaria dourado. Logo que Evangeline entrou, ela viu
uma barra de ouro com cabelo branco, abandonar uma conversa e ir até ela.
— Filha! — ele a abraça calorosamente. — Allegra ficou muito
chateada por não vir?
— Um pouco. Mas nada que alguns chocolates não resolvam. — Evie
olha em volta, desejando não ver o seu ex por ali. — Como se sente? Feliz
por estar parando?
— Feliz é uma palavra extremamente forte, mas sim. Só em pensar que
nunca mais precisarei entrar em um tribunal, já estou eternamente grato.
— Espero que use esse tempo, para conhecer pessoas. De preferência
mulheres. Não consigo acreditar, que Leah foi sua última. Ninguém é feliz
sozinho.
— Ela não foi minha última e… eu não vou falar disso com você! Vai
beber alguma coisa, que eu vou falar com outras pessoas.
O homem embrulhado naquele terno dourado, beijou a bochecha de
Evangeline e se afastou, indo conversar com alguns clientes de anos.
Evangeline por sua vez, encaminhou-se até um canto da festa e ficou por
ali, bebericando uma taça de champanhe, enquanto olhava uma foto que
Alec havia enviado alguns dias atrás.
Quase uma hora de festa havia se passado e Evangeline se sentia um
peixe fora d´água. Ela não tinha costume em participar dessas festas
grandes que seu pai promovia, então apenas passava e ia embora em
seguida. Dez taças de champanhe depois e cinco recusas para uma dança,
Evie se levantou pronta para ir até seu pai e inventar uma dor de estômago.
Ela largou a taça que estava em sua mão no balcão e quando se virou, deu
de cara com o seu pai.
— Que susto! — ela resmunga, tocando o peito. — Que foi? Que cara é
essa?
— Lembra quando eu disse que apenas meus clientes ativos tinham sido
convidados para a festa? — Evangeline ergue uma sobrancelha. — Então...
aparentemente, a minha secretária enviou o convite para alguns ex-clientes
também.
Samuel sai da frente de Evangeline, deixando um homem sorridente e
bem-vestido a mostra.
— Agora eu sei o porquê de não ter me enviado mensagens o dia todo.
— ela diz, abraçando-o em seguida. — Acredita que eu já estava com
saudades?
— Claro que acredito. Foi por isso que larguei todos os meus
compromissos e corri para ver você.
Eles se afastam um pouco e compartilham uma troca de olhar repleta de
informações, que apenas eles mesmo entendiam. Alec segurava a mão dela
com ternura, se perguntando se um beijo àquela altura, faria mal.
— Sabe que alguém ficará muito feliz com a sua presença aqui. Bem
mais do que eu.
— Então está feliz por eu ter vindo? — ele questiona, já que tinha
dúvidas se sua ida a Londres estragaria tudo o que ele e Evangeline estavam
cultivando novamente.
— Estou atrapalhando alguma coisa?
Jonah encara Evangeline e Alec simultaneamente, e para ao lado da
ruiva. Alec o olha de cima a baixo e coloca as mãos nos bolsos.
— Quem é você?
— Eu? — Jonah solta uma risada irônica, que faz Evangeline revirar os
olhos. — Eu sou o marido dela. Jonah. E você?
— Alec. O namorado da Evangeline.
Capítulo 12
Eles se encaram com um olhar penetrante, suas expressões faciais tensas
e alertas. Nenhum deles sabe exatamente como o outro irá agir, mas ambos
estão prontos para se defenderem caso seja necessário.
O olhar de um é desafiador e determinado, enquanto o olhar do outro é
cauteloso e calculista. Eles observam um ao outro atentamente, medindo as
intenções e o comportamento do outro, procurando por qualquer sinal de
fraqueza ou vulnerabilidade.
Por um momento, o silêncio paira no ar enquanto ambos se encaram em
um impasse tenso.
Evangeline olhou de um para o outro, antes de revirar os olhos e fazer
um estalo com os lábios.
— Você não é meu marido. — ela diz para Jonah, que sequer retira os
olhos de Alec. — Estamos em processo de divórcio. E você, — ela se vira
para Alec, que sorria. — pode tirando esse sorriso da cara. Você não é meu
namorado. Ainda estamos conversando.
— Então você tem trocado mensagens com seu ex? — Jonah questiona,
encarando Evangeline. — Não tem vergonha de dizer isso?
— Olha aqui! — ela ergue o dedo para ele, mas então se lembra do
lugar que está e respira fundo. — Eu não vou fazer uma cena na festa do
meu pai, porque ele não merece isso. Mas não. Eu não tenho vergonha em
estar falando com alguém, estando separada de você. Você quem deveria ter
tido vergonha, de sair comendo sabe se lá quantas mulheres, estando casado
comigo. Alec pode ter mil defeitos, mas ele nunca fez e nem faria algo
parecido comigo.
— Não mesmo. — Alec diz, com um sorriso soberbo brincando em seus
lábios. — Eu sei como tratar uma mulher.
Evangeline se vira para ele.
— Isso não é um duelo. Vocês não estão competindo. E eu… quer
saber? Não vou aturar vocês.
Após um movimento irrelevante com a mão, Evangeline caminha para
longe deles e procura um banheiro. Ela sorri para o homem que fazia o
controle de entra e sai do banheiro e adentra o ambiente. Evie larga a bolsa
em cima da pia e pousa as duas mãos no mesmo lugar, respirando fundo
enquanto encara sua imagem no espelho.
— Meu Deus. — murmura. — Por que esse tipo de coisa acontece
comigo? Eu não podia ter um dia, sem me estressar?
Ela se vira e entra na última cabine do banheiro. Após erguer o vestido e
abaixar sua calcinha, Evie se senta e alivia sua necessidade fisiológica do
momento. Ela murmurava a música que tocava na festa, quando ouviu o
barulho da porta se abrindo e em seguida sendo fechada. Evangeline fica
em silêncio, enquanto termina o que estava fazendo.
— Você sabia, que estar dias longe de você, me parecem meses? — a
voz de Alec soa pelo banheiro, fazendo com que a ruiva respire aliviada e
ao mesmo tempo irritada. Ela não tinha privacidade nem mesmo no
banheiro. — Dez anos, pareceram uma eternidade.
— E por isso que você veio atrás de mim no banheiro? — ela questiona,
deixando a cabine e indo lavar as mãos. — Não conhece a palavra limites?
Evangeline encara Alec pelo espelho. Ele estava encostado há umas
duas cabines de distância e a olhava firmemente.
— Jura que está fazendo essa pergunta para mim?
— O que quer aqui, Alec? — Evie se vira. — Nós tínhamos combinado
de fazer tudo com calma, para que as mudanças não assustassem a Allegra.
— Eu sei, querida. O convite da festa chegou para mim e eu ponderei.
Não queria invadir seu espaço novamente, mas...
— Mas?
— As coisas que meu pai disse naquela carta, ecoam na minha mente
todos os dias. — diz, se aproximando de sua amada. — Nós abrimos o
testamento há alguns dias e ele deixou tudo para mim e Audrey. Nós temos
mais do que o suficiente, para não precisar trabalhar nunca mais. — Alec
segura a mão de Evangeline, que não recua. — E quando digo nós, estou
incluindo você e nossa filha.
— O que está sugerindo?
— Vou marcar uma reunião com meu sócio e dizer que estou largando
tudo. Eu não quero mais estar no meio de toda essa sujeira e não saber se
vou estar vivo no dia seguinte. Mas para isso, eu preciso da sua
confirmação. Preciso que diga que vem comigo.
O olhar de Alec, se fixa em Evangeline, com uma intensidade que
parece transcender o tempo e o espaço. Seus olhos brilham com uma
expressão de ternura e adoração, como se estivesse vendo algo sagrado. Seu
olhar é tão intenso que parece atravessar a alma dela, e sua admiração é
evidente em cada movimento de seus olhos. Há uma sensação de felicidade
e paz em seu olhar, como se ele tivesse encontrado o seu lugar no mundo, e
a mulher ruiva na sua frente, é tudo o que ele precisa. Seu olhar é uma
expressão do amor que sente, e um convite para que Evangeline se sinta
amada e protegida. E ao lado de Alec, era exatamente assim que ela se
sentia.
Evie acabou com o espaço entre eles e o beijou apaixonadamente. As
mãos de Alec foram rapidamente para a cintura dela, a elevando e
colocando sentada na pia.
— Alec... — ela arfa, sem coragem de largar os lábios dele. — estamos
em um banheiro... as pessoas...
— O homem sentado lá fora, está sendo muito bem recompensado para
não deixar ninguém entrar.
Aquela frase fez o corpo de Evangeline pegar fogo. Ela cruzou as
pernas nas costas de Alec e o puxou para ainda mais perto, beijando-o
novamente. Os dois ardiam em desejo e saudade de um sexo que só eles
sabiam se proporcionar.
Evangeline levou suas mãos até o zíper da calça de Alec, deixando o
membro rígido e excitado dele amostra, em questão de segundos.
— Você quer que eu faça isso rápido ou devagarzinho? — ele sussurra
no ouvido dela, enquanto arrasta a calcinha fina para o lado e a estimula
com o polegar. — A decisão é sua.
— Não importa. Só faça.
Alec passou um braço em volta da cintura dela, ao mesmo tempo em
que a penetrou. Evie jogou a cabeça para trás e abriu a boca, absorvendo
cada segundo daquela sensação. Conforme Alec se mexia gradualmente,
Evie agarrou no cabelo dele e o beijou, para evitar que gemidos altos
saíssem de suas bocas.
Ali, entrelaçados, eles não sabiam o que seriam de suas vidas no futuro,
mas tinham certeza de que precisavam estar juntos. Nada mais importava.
— Eu e você... — Alec murmura, olhando nos olhos dela. — Fomos
feitos um para o outro. Eu não preciso de mais nada. Diz... — ele arfa e
encosta a cabeça no ombro dela, acelerando seus movimentos. Alec não
demoraria para chegar ao seu limite. — Diz que me ama... que vai ficar
comigo...
Com a boca no ouvido do mafioso, Evangeline gemia baixinho e sorria
ao mesmo tempo. Ela beijou o lóbulo da orelha dele e balançou a cabeça em
afirmativa.
— Eu amo você, Alec Castello. Ontem, hoje e sempre.
Capítulo 13
Logo que chegaram ao ápice e ambos se ajeitaram, Alec e Evangeline
combinaram quem deixaria o banheiro primeiro. Alec decide fazê-lo e vai
diretamente para o bar. Quando a ruiva faz o mesmo, ela encara o homem
que estava na porta do banheiro e lhe dá um sorriso sem graça. Ela não
conseguia parar de pensar que ele sabia exatamente o que tinha acontecido
naquele banheiro.
Depois de passar um considerável tempo com Samuel e notar que seu
quase ex-marido não está mais por ali, Evangeline faz uma proposta a Alec.
— Allegra passará o final de semana na casa de uma amiga... quer
dormir no meu apartamento?
Alec sorriu largamente com aquela pergunta. Então após se despedirem
de Samuel, os dois vão para o carro de Evie e ela dirige rapidamente até seu
prédio. Nenhum dos dois foram capazes de aguardar a chegada no quarto.
Os sapatos e roupas começaram a ser tirados na sala, de modo que os dois
já se encontraram nus, quando caíram na cama.
A todo momento, eles se olhavam com amor e carinho, seus corações
batendo em uníssono. Cada gesto, cada toque, cada olhar revelava o
profundo amor que sentiam um pelo outro.
Enquanto se beijavam, Alec acariciava o cabelo de Evangeline, sentindo
o perfume doce que exalava dele. Ele a abraçou ainda mais forte, sentindo o
coração dela batendo em sintonia com o seu, e se questionando como fora
capaz de viver longe dela por tantos anos.
Por um momento, eles se afastaram um do outro, olhando-se
profundamente nos olhos. Alec pegou a mão de Evie e a levou até o coração
dele, para que ela sentisse as batidas do seu amor por ela.
Ela sorriu, emocionada, sentindo a felicidade e a segurança que apenas
o amor dele lhe proporcionava. Ela o abraçou novamente, sentindo o calor
do corpo dele em seus braços.
[…]
Já passavam das três horas da manhã, quando o telefone de Evangeline
começou a tocar. Ela saiu da conchinha aconchegante que Alec a
proporcionava e atendeu sem ao menos ver quem era.
— Alô?
— Evangeline, desculpe te ligar… sou eu, Tiffany. A mãe da Sabrina.
— Oi! — saber quem era, fez Evangeline se sentar apressadamente, já
preocupada que algo poderia ter acontecido com sua filha. — Está tudo
bem?
— Eu não tenho certeza. Allegra acordou e começou a pedir para vir
embora. Tentei convencê-la de esperar amanhecer, mas não consegui.
Estamos aqui embaixo.
— Estou descendo.
A forma brusca que Evangeline deixou a cama, acordou Alec. Ele coçou
a vista e olhou na direção dela, que vestia um roupão sobre a lingerie que
usava.
— O que aconteceu? — ele pergunta.
— Eu não sei. Allegra está lá embaixo, então vou buscá-la. Não saia
daqui, por favor.
Ela sequer espera uma confirmação de Alec e se apressa em deixar o
apartamento. Logo que chega ao térreo, ela vê sua filha ainda de pijama,
abraçada ao bicho de pelúcia preferido, com a mãe da amiga ao lado.
— Ei… — ao ouvir a voz de sua mãe, Allegra ergueu a cabeça e correu
até ela, abraçando-a instantaneamente. — O que aconteceu, querida? — a
menina balança a cabeça negativamente. — Tiffany, obrigada por trazê-la.
Desculpa pelo incômodo.
— Incômodo nenhum, Evangeline. Quando souber o que aconteceu, me
conte, por favor.
— Claro. Obrigada, boa noite!
A outra mulher sorri e rapidamente vai embora. Sem se desgrudarem,
Evie e Allegra sobem e vão diretamente para o quarto da menina. Assim
que ela faz com que a menina se deite, Evie se aconchega ao lado dela e
acarinha sua cabeça.
— Quer me contar agora?
— Eu não tenho certeza do que aconteceu. — diz, se agarrando ainda
mais a sua pelúcia. — O meu celular começou a tocar e eu atendi. Não tinha
número e eu só conseguia ouvir uma respiração. Eu desligava e ligava de
novo. Muitas vezes. — a menina vira o rosto, para olhar para sua mãe. —
Mamãe, foi tão ruim… eu não sei explicar, mas senti uma coisa horrível
com aquelas ligações.
— Calma, amor. — Evie beija a testa de Allegra e aperta contra si. —
Deve ter sido alguém com falta do que fazer. Não foi nada demais. Tenta
relaxar e dorme. Você está em casa e segura.
— Fica aqui até eu dormir?
— Claro, querida.
Evangeline tenta acreditar no que falou para a filha, enquanto murmura
uma canção de ninar. Não havia nenhum motivo para que seja o contrário
daquilo.
Menos de meia hora depois, Allegra caiu no sono e Evangeline a deixou
sozinha no quarto. Após beber uma água, ela volta para sua suíte e encontra
Alec desperto.
— Tudo bem? — ele pergunta, erguendo a coberta para ela se deitar. —
Como está Allegra?
— Ela recebeu algumas ligações de trote e ficou assustada.
— E agora ela está mais calma? Dormiu?
— Sim... — Evie boceja, se agarrando ao corpo de Alec. — Você vai
embora amanhã?
— Vou. Tenho uma reunião marcada com meu sócio, logo depois do
almoço.
— Já tinha essa reunião marcada, antes mesmo que eu te dissesse a
minha decisão? — ela questiona, brincando com os dedos dele. — E se eu
dissesse não?
Alec beija a cabeça dela e solta uma risada baixa.
— Sai de Nova Iorque, já com a reunião marcada. Apesar de duvidar
em alguns momentos, eu tinha certeza de que você viria comigo. Aliás, quer
vir amanhã? Vim de jatinho.
— Não posso. Eu tenho o meu trabalho e Allegra a escola. E se nós
realmente fomos para uma outra cidade, eu preciso me organizar.
— São duas coisas tão fáceis de resolver... uma transferência para
Allegra e um novo emprego para você. Por favor! Eu não sou mais capaz de
ficar longe de você.
Evangeline sorri pela maneira que Alec pensa. Ela se levanta, deposita
um breve beijo em Alec e se vira para o outro lado, esperando que ele a
abrace.
— Amanhã conversamos sobre isso e qualquer outra coisa. Vem. —
Evie puxa o braço dele. — Vamos dormir.
Embora quisesse prolongar aquela conversa e decidir todo o seu futuro
com Evangeline, de uma vez por todas, Alec também se deita, abraça a
mulher da sua vida e adormece aos poucos, sentindo o aroma doce do
cabelo dela.
Capítulo 14
O alarme do celular de Alec, era programado para despertar todos os
dias, às sete da manhã. E como era domingo, ao ouvir aquele barulho,
Evangeline resmungou para que ele desligasse e continuassem a dormir.
Já que o celular dele havia ficado no bolso da calça, que estava jogado
no chão do quarto, Alec precisou se levantar para ir até lá. Ao abrir o olho e
se sentar, ele notou uma figura pequena ao lado da porta, olhando na
direção deles com bastante curiosidade.
— Evie? — Alec chama, empurrando-a devagar. — Evangeline?
— O que foi, Alec? Não consegue achar o celular?
— Acho melhor você se sentar.
Sonolenta, a ruiva ergue seu corpo e boceja, olhando para Alec. Como
ele olhava fixamente para a frente, ela acompanhou o olhar dele e encontrou
Allegra ali.
— Filha! — Evangeline se levanta apressadamente e vai até a garota
confusa. — Oi... eu... — ela olha para Alec. — Se veste! Vem comigo,
Allegra.
Evangeline segura no braço da menina e a leva até a sala.
— Eu posso explicar. — ela diz, olhando para a filha.
— O que?
A mulher pisca algumas vezes. Ela se pergunta se sua filha é sonambula
e sequer viu Alec no quarto.
— O Alec...
— Ah... — Allegra dá de ombros. — Ele foi na festa do vovô?
— Sim. Vovô trabalhou com Alec há alguns anos.
Alec apareceu na sala, segurando o paletó e tentando visualizar em que
lugar seus sapatos haviam parar.
— Oi, Alec. — Allegra sorri e aquilo ilumina o mafioso. — Você está
bem?
— Eu estou e você? Dormiu bem?
Evangeline olha para Alec, completamente confusa pela reação de sua
filha. Ela sabia que com a educação que deu a menina, ela jamais faria algo
diferente do que estava fazendo, mas tinha acabado de ver a mãe deitada na
mesma cama que o homem que ela descobriu ser seu pai. Allegra deveria
estar no mínimo confusa.
— Um pouco, mas o milk-shake que mamãe faz, melhora tudo.
— Eu imagino. — Alec diz, sorrindo. — Bem, acho que eu devo ir
embora.
— Embora? — Allegra questiona, encarando os dois intercaladamente.
— Mas não vai ficar um pouco comigo?
Alec não precisava ir embora justamente naquele horário, ele apenas
achava que fazer aquilo deveria ser o certo. Ele olhou para Evangeline, que
balançou a cabeça em afirmativa.
— Claro que ele vai ficar. — Evie se levanta do sofá. — Nós vamos
tomar um café da manhã em família. O que acham?
A reação de Allegra, foi o suficiente para fazer Alec relaxar e aceitar a
proposta de Evangeline. Os três vão para a cozinha e começam os
preparativos. Enquanto Evangeline faz o seu famoso milk-shake, Alec está
ligando a cafeteira.
— Eu estava pensando... — Alec diz em voz alta, olhando para Allegra.
— O que você acharia de se mudar?
— Alec... — Evangeline murmura.
— Para Nova Iorque?
— A princípio, sim. — ele continua. — Mas eu e sua mãe estávamos
pensando em mudar para qualquer lugar do mundo. Você poderia escolher
inclusive.
— Vocês ficarão juntos? Quer dizer, nós três...
— Vamos. Até que sua mãe se canse de mim.
Evie olha para ele de lado e balança a cabeça, rindo daquela frase. Ela
não responde e não atrapalha a conversa que pai e filha estavam levando.
— Então eu acho ÓTIMO! — Allegra da ênfase na última palavra,
arrancando risadas de seus pais. — Eu não me importo de me mudar, desde
que a mamãe esteja feliz.
— Filha, você entende que precisaria deixar a escola, o judô? Tudo o
que faz aqui. Seus amigos...
— Mamãe, desde quando eu comecei a entender as coisas, eu sempre te
vi triste. Mesmo sorrindo, me deixando feliz, a senhora estava triste.
Principalmente quando o papai chegava tarde e vocês brigavam. —
Evangeline abandona o que estava fazendo e olha para sua filha. — Alec te
deixa feliz. Eu notei os sorrisos que a senhora dava, quando estava
mexendo no celular esses dias. Então se Alec e a senhora ficarem juntos e
sempre estiverem sorrindo, eu vou estar feliz. Não importa a cidade.
Evangeline deu a volta no balcão da cozinha e abraçou sua pequena
semente. Alec estava maravilhado com todas as palavras ditas pela menina.
Ninguém esperava tamanha maturidade de uma criança com quase dez
anos.
— Eu vou entender essa resposta como um sim. — Alec diz, olhando
para as duas mulheres da sua vida. — Certo?
Evie funga, beija a testa de Allegra e a olha.
— Sim?
— Sim! — a menina responde com bastante alegria. — Quando vamos?
Hoje?
— Por mim...
— Hoje não da. — Evangeline diz, voltando para o milk-shake. —
Ainda preciso resolver a questão de trabalho e cuidar da sua transferência.
Não sei se conseguiremos uma escola em Nova Iorque a essa altura.
— Deixa isso comigo.
— Alec, eu preciso...
— Eu já disse que resolvo. — ele diz mais uma vez, olhando-a em seus
olhos verdes. — Confia em mim.
— Enfim… vamos comer?
Regado a café, torrada com geleia, milk-shake e cookies do dia anterior,
os três tomam o desjejum em completa harmonia. O assunto principal era
quais cidades ou países eles tinham vontade de conhecer.
Um pouco antes das nove horas, Alec diz que precisa voltar para Nova
Iorque. Aquilo deixa Allegra entristecida, já que ela planejava passar o
domingo conhecendo seu pai melhor.
— Olhe, eu realmente preciso ir. — ele diz, se abaixando para estar na
mesma altura que ela. — Nós não combinamos que vamos para a Suíça? —
Allegra assente. — Então. Hoje eu vou para uma reunião, onde vou avisar
ao meu sócio que estou saindo do trabalho, para viver na Suíça com a
minha família.
— Quando vamos nos ver de novo?
— Quando você menos esperar. Eu prometo.
A menina sorri e pula no pescoço de Alec, o abraçando apertado. O
Mafioso encara Evangeline, que os observava com um sorriso encantador.
Aquela era uma cena que Evie não esperava ver na vida.
Após se despedir de mãe e filha, Alec deixa o apartamento e vai para o
aeroporto, onde está seu jatinho. Antes mesmo que o avião decole, ele faz
uma simples ligação.
[…]
— Mamãe?
— Estou no banho! — Evie fala, sem pausar a lavagem do cabelo. — O
que foi?
— Seu celular está tocando. É um número estranho.
Visto que Alec ainda não havia avisado que tinha chegado e quando as
coisas estão dando certo, algo desanda, Evangeline resolve atender. Ela seca
sua mão, pega o telefone e coloca no auto falante, antes de atender.
— Alô?
— Evangeline Atkins? — ela encara o box do banheiro, se perguntando
de onde conheceria aquela voz. — Não sei se ainda lembra de mim, mas
sou eu... Jude. Seu antigo professor.
— Jude! Oi. Claro que me lembro. Quanto tempo.
— É... nós soubemos do seu acidente e sentimos muito a perda do seu
talento no nosso time.
— O que aconteceu? — Evangeline questiona, querendo afastar o
assunto de seu acidente. — É estranho você estar me ligando dez anos
depois...
— Achei até que você estaria esperando minha ligação, mas...
soubemos que você está voltando para Nova Iorque e que está à procura de
um trabalho.
— Eu estou?
Evangeline solta uma risada. Era óbvio que Alec havia arrumado aquilo.
— Estou para me aposentar e eu estava à procura de alguém capacitado.
Conheço sua técnica e adoraria que você fosse essa pessoa. Aceita?
Capítulo 15
Quando o caminhão de mudanças parou diante da casa de Evangeline,
ela desceu e ajudou Allegra a fazer o mesmo, pronta para dar instruções de
onde queria que as coisas fossem colocadas. Antes mesmo de abrir a porta,
seu celular começou a vibrar no bolso. Era mais de uma, de diversas
mensagens de Alec. A última era um áudio.
“Não faz o menor sentido você não ficar na minha casa. Audrey já me
encheu o saco, perguntando o que eu tinha feito para você não querer
morar conosco.”
Evie revira os olhos e guarda o celular novamente, finalmente abrindo a
porta. Ela decide ficar observando tudo do lado de fora. Allegra se sentou
no meio fio, assistindo alguns vídeos aleatórios na internet.
— Evangeline? — ela se vira e encontra Howard descendo de um carro.
— Vocês chegaram!
— Ele mandou você vir aqui? Eu não vou morar na mansão! Alec é
impossível.
Howard ri e balança a cabeça em negativa.
— Na verdade não. Hoje é meu dia de folga. Eu vim... — o motorista
olha de lado para a casa de Felippa. — Felippa me ligou desesperada e
pediu para que viesse.
— Achei que tinham tido um término ruim.
— É... eu gostava da companhia da Felippa, mas não entendia o que
estava acontecendo entre nós. Para mim, era apenas sexo sem compromisso,
com uma pessoa que eu confiava. — ele suspirou pesadamente. — Eu
realmente confiava nela. Nós estávamos tão envolvidos, que achei justo ela
saber com quem estava se envolvendo e com o que trabalhávamos.
— E aí ela encontrou uma mulher na sua cama.
— Pois é... aos seus olhos eu devo parecer um babaca traidor. —
Evangeline dá de ombros, pois apesar de ter ficado ao lado de Felippa
quando aconteceu, ela gostava bastante de Howard. — Mas nós não éramos
namorados. Ela não queria esse rótulo. Então eu conheci aquela mulher em
um bar, nós nos sentimos atraídos um pelo outro e dormimos juntos. A
decepção no rosto da Felippa, quando viu aquela garota na minha cama,
deixou tudo claro. Ela me amava, mas não queria aparentar aquilo. E
quando ela se foi, eu percebi que também a amava.
— E nós sabemos que o orgulho de Felippa jamais a faria voltar atrás.
— ela diz, já que depois da última briga que tiveram, as amigas não se
falaram mais. — Eu acho que...
— Howard? — Felippa chama, saindo de sua casa e encarando o
caminhão com bastante curiosidade. Sua feição muda, quando ela vê quem
está conversando com ele. — Evie... oi... você está se mudando?
— Sim... eu e Allegra.
— Oh... eu... Howard, eu sei que pedi para que você viesse aqui, mas se
importa de voltar mais tarde? Preciso falar com Evie.
Howard apenas balança sua cabeça em afirmativa e pede que Felippa
lhe envie uma mensagem quando quiser que ele volte.
Evangeline não havia levado muitas coisas de seu apartamento em
Londres, então em menos de dez minutos os carregadores já tinham
acabado. E como ela ainda não tinha feito compras, Felippa a convidou para
sua casa. Allegra acompanhou sua mãe, sem dar muita atenção para elas.
— Ela ficou chateada comigo. — Felippa comenta, quando a pequena
se senta no sofá, após negar alguns biscoitos. — Sequer posso culpá-la.
Estava tão cega naquele dia.
— Eu tenho a minha parcela de culpa. Você era a minha melhor amiga e
eu escondi a minha filha de você.
— Eu era? — havia tristeza na voz de Felippa.
— Você é. — Evangeline toca a mão da amiga que estava sobre a mesa
e sorri para ela. — Você sempre será a minha melhor amiga. E por esse
motivo, você precisa saber que estou me divorciando do Jonah e me mudei
para cá, porque Alec e eu voltamos.
— Oh…
A menção do nome de Alec, fez o semblante de Felippa mudar.
— Eu descobri uma coisa. — ela diz. Felippa se levanta e vai até a sala,
apenas para pegar a carta que estava em uma gaveta. — Meu pai escreveu
essa carta, destinada a você. Era para ser entregue, caso você não viesse vê-
lo.
— E você leu? — Felippa assente com a cabeça. — Então você…
— Sei que foi meu pai quem matou o pai do Alec e que quase matou
vocês. — aquela foi a frase mais difícil que Felippa disse na vida. —
Amiga, eu sinto tanto… eu não fazia ideia de que ele era capaz de algo
assim. Você não faz o que tanto ama, por culpa dele!
— Já foi, Felippa. Não há por que remoermos algo que já aconteceu.
Infelizmente Blake foi o único a ter a vida ceifada e seu pai pagou por isso.
— Eu sei, mas...
Felippa foi interrompida pelo toque do celular de Evangeline. Ela pega
o aparelho com a intenção de desligar, pois achava que era Alec mais uma
vez, mas era seu antigo professor.
— Jude? — Evie faz um sinal para Felippa. — Eu já estou na cidade.
— Ótimo! Podemos nos encontrar para acertarmos tudo?
— Claro... eu só... minha filha tem aula online em meia hora e eu não
tenho quem a olhe.
— Ei... — Felippa murmura e Evangeline a olha. — deixa ela comigo.
— Tem certeza? — ela pergunta, tampando o telefone. Felippa assente
com a cabeça. — Então... resolvido por aqui. Nos encontramos na escola
daqui a pouco?
— Isso. Estou à sua espera.
— Obrigada, amiga. — Evie diz, guardando o celular novamente. —
Jude está me oferecendo um trabalho na escola de música.
— Ah, isso é ótimo. Fico muito feliz por você estar bem e melhor do
que isso, morando aqui novamente. — elas se levantam e compartilham um
abraço repleto de cumplicidade. — Agora vai. Antes que você se atrase.
Evangeline vai até Allegra, informa que ela está saindo e que Felippa irá
tomar conta dela. A pequena olha de lado para a melhor amiga da mãe e
sussurra:
— Eu não quero ficar aqui. Me deixa ir.
— Você não pode, querida. Sabe que não conseguimos uma escola aqui
e o acordo que fizemos com a sua antiga, era que você teria aulas online até
o fim do ano.
— Eu sei disso, mas não posso ficar em casa?
Evie suspira e se vira para Felippa.
— Ela é comportada. Eu juro. Eu vou deixá-la lá na sala e a chave com
você. Pode ser?
— Claro, Evie. Não se preocupe.
Felippa fica na porta de sua casa, observando o movimento de mãe e
filha. Após Evangeline sair e ela checar que a garota está de fato na sala e
estudando, Felippa pega seu celular e liga para Howard.
— Oi. Tudo bem? Conversou com a Evangeline?
— Sim. Você poderia vir para cá? Eu descobri uma coisa sobre a morte
do pai do Alec e queria te contar.
— Estou a caminho.
Capítulo 16
Assim que pousou em Nova Iorque, Alec foi até a sede de sua empresa,
onde iria ocorrer a reunião com seu sócio, Paul Baker. Para Paul, seria
apenas uma rotineira reunião para discutir se a fusão entre as duas famílias,
andava bem-sucedida.
Os dois mafiosos sentaram-se em uma sala escura e bem protegida, em
uma reunião para discutir negócios. Eles se olharam intensamente antes de
começarem a falar.
— Então, como estão as coisas nos nossos territórios? — Alec pergunta,
abrindo alguns botões de seu paletó.
— Tudo bem, tudo bem. Nós estamos expandindo nossas operações e
temos trazido mais dinheiro para o negócio.
— Isso é bom. Eu ouvi falar que os nossos rivais estão causando
problemas novamente. Qual é a situação?
— Sim, eles estão se intrometendo em nossos negócios. Mas não se
preocupe, temos homens de confiança cuidando disso. Eles não vão causar
mais problemas.
Se tinha algo em que Paul Baker era bom, era em resolver problemas.
Principalmente usando violência.
— Ótimo. Mas você sabe que eu sou um homem ocupado, e eu preciso
ter certeza de que tudo está sob controle.
— Claro, claro. Eu entendo completamente. Eu tenho estado em contato
com a nossa rede de informantes e tenho mantido um olho em tudo. Eu
posso garantir que estamos em cima da situação.
— Boa resposta. Continue monitorando a situação de perto. Não
podemos permitir que os nossos rivais ganhem terreno.
— Absolutamente. Eu entendo o que você quer dizer. Eu farei o que for
preciso para manter os nossos negócios seguros. — Paul sorri, mas Alec
mantem o rosto sem expressão nenhuma. — Agora, vamos falar sobre o
futuro. Eu e Cedric temos alguns novos empreendimentos em mente e
queríamos passar tudo para você.
Apesar de Alec ter esperado conversar apenas com Paul, sem a presença
de seu primo chato e intrujão, o fato de ele estar ali, deu uma nova ideia a
Alec.
— Paul, precisamos conversar sobre algo importante. — O homem mais
velho franze o cenho, diante da voz séria de Alec. — Eu decidi que é hora
de eu sair dos negócios que temos juntos.
— O que? Alec, você está falando sério?
— É uma decisão difícil, mas eu pensei muito sobre isso e decidi que é
a melhor coisa a fazer. Meu pai já queria que eu encerrasse os negócios da
família há muito tempo, mas eu só fiquei sabendo disso recente.
— Eu duvido. — Cedric murmura, encarando seu primo. — Esse é o
legado da família. Você não pode destruí-lo agora.
— Eu não estou destruindo nada, Cedric. Estou apenas dizendo que não
farei mais parte disso.
— Mas Alec, nossa fusão foi perfeita nesses dez anos. Há algo que não
esteja gostando? Nós podemos…
— Não tem nada a ver com você, Paul. Você foi um bom suporte após a
morte do meu pai. Eu vou me casar. — Cedric e Paul se entreolham,
confusos. — Eu e Evangeline nos reencontramos, temos uma família e a
única coisa que queremos, é viver em paz longe de tudo. Já temos até um
destino. Suíça.
— A ruiva? Mas… eu pensei que... — Paul fecha a boca e suspira
baixinho. — Como faremos então? Porque eu não aceito fecharmos nada.
— Não fecharemos. Eu quero vender a minha parte para vocês. Por um
preço simbólico.
Cedric estava pronto para argumentar, mas bastou uma olhada de Paul,
para que ele se mantivesse de boca fechada.
— Claro, eu entendo. — Paul diz. — É só que... é difícil aceitar que
você vai sair.
— Eu sei, Paul. Mas essa é uma decisão que eu tenho que tomar. E
quero que saiba que estou agradecido por tudo o que construímos juntos.
Você é um grande sócio e espero que possamos manter nossa amizade
mesmo depois disso.
Alec se levanta e estica a mão para Paul. O velho demora alguns
segundos a mais, mas também se levanta e aperta a mão do Castello.
— Claro, Alec. Eu respeito sua decisão e valorizo nossa amizade
também.
— Eu vou mandar meu advogado procurar você, para resolver as
questões financeiras. Bem… era isso. Até algum dia.
Após um breve aceno, Alec deixa a sala de reuniões e por muito pouco
não escuta o quebrar de um vaso de vidro.
— Maldição! — Paul grunhe, completamente irritado. — Essa garota de
novo? Nós não tínhamos dado um jeito de ela não ser mais um problema?
Nós não, você!
— Sim, Paul... eu não sei o que possa ter dado errado. Eu vou...
Cedric pega o celular e começa a procurar um contato em sua lista. Paul
começa a andar de um lado para o outro, sem conseguir entender quando foi
que tudo começou a desandar.
— Nós conseguimos desviar dinheiro dessa família há anos e somente
por isso, eu saí da ruína. Quando eu soube que o testamento do velho Blake
finalmente foi encontrado e que triplicou a fortuna dos Castellos, eu só
conseguia imaginar em todos aqueles valores caindo na minha conta nas
Bahamas. — Paul agarra em outro vaso e o joga contra a parede. — E agora
essa garota ressurge das cinzas e tudo vai por água abaixo? Não! Já ligou
para aquele idiota?
— Eu estou o esperando aten... Oi! — o primo de Alec coloca a ligação
no auto falante, para que Paul possa esbravejar. — Paul quer falar com...
— QUE MERDA VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ?
— O que?
— ALEC CASTELLO QUER SAIR DA SOCIEDADE! VOCÊ TEM
NOÇÃO DO QUE ISSO SIGNIFICA? — o homem sente seu coração bater
mais rápido e respira fundo algumas vezes. — Quando mandei você a
Londres, para ficar de olho na garota ruiva, você nos prometeu que tudo
estava sobre controle. Se casar com ela, foi um triunfo. Jonah, que merda
você fez de errado?
— Foi mal, chefe. — o sotaque britânico que Jonah possuía, só existia
para falar com Evangeline, já que ele era mais americano que todos naquela
sala. — Sabe que eu sempre achei aquela garota sem graça, então quando
uma mulher sexy aparecia na minha frente...
— Quer dizer que você colocou todo o nosso futuro em risco, por que
não consegue segurar esse teu pau? Caralho, Jonah!
— Pai...
— Não. Não vem com sentimentalismo. — Paul se senta novamente. —
De inútil já basta a sua irmã, que fica me dando gastos até na merda de um
hospital psiquiátrico.
— O que quer que eu faça?
— Não me importo! Mate-a. Sequestre a garota. Não ligo. Alec precisa
voltar a não ter por quem viver, para continuarmos a desviar o dinheiro
dele, até que não reste mais nada.
Capítulo 17
Quando a conversa com Jude terminou e eles decidiram tudo sobre o
novo trabalho de Evangeline, a ruiva deixou o prédio da escola, sentindo-se
nostálgica. Ela tinha a cabeça nas nuvens, pensando em tudo o que estava
acontecendo em sua vida, que sequer notou no carro e no homem parado
diante dela.
Alec precisou dar um assovio, para que ela parasse e notasse a sua
presença.
— Amor! — Evie gira no pequeno salto que usava e se apressa para
abraçá-lo. — Que saudade.
— Um mês para se mudar, foi exagero. Não acha?
— Não. — ela murmura, raspando seus lábios nos dele. — Isso fez com
que a minha saudade de você, me faça subir pelas paredes.
— Não fala desse jeito... ainda mais encostada assim em mim.
A reação que Evangeline causava no corpo de Alec, era instantânea. Ao
sentir o volume no meio das pernas de seu amado, ela riu e se afastou um
pouco.
— Desculpe!
— Ah, que isso. — ele segura em sua mão e a puxa para seus braços
novamente. — Mais tarde nós resolvemos isso, pois por hora, vamos jantar.
Você tem muito o que me contar. Aliás... cadê o relógio que mandei para
você e Allegra?
— Jantar? Mas deixei Allegra em casa, com Felippa. Não seria melhor
irmos para lá?
— É, mas... — Alec busca uma desculpa. Os planos que ele tinha para
aquela noite, não incluíam jantar na presença de uma criança. — Tenho
certeza de que Felippa não irá se importar. Quando saí de casa, Howard
estava indo ao encontro dela.
— Tudo bem. Vamos jantar. Vou enviar uma mensagem para Felippa. E
sobre o relógio, eu não gosto de ficar marcando meus passos. Allegra ama.
Ela não sai para canto nenhum, sem aquele relógio neon no pulso.
Alec abre a porta do carona para Evangeline. Enquanto ele dá a volta
para assumir o volante, Evie escreve uma rápida mensagem dizendo para
onde está indo e que caso tenha algum problema, é só ligar para ela.
O restaurante era em um bairro rico, levando o lugar a ser extremamente
chique. Evangeline estava usando uma calça jeans e blusa social com
botões, já que ela teve uma reunião de negócios e imaginava voltar para
casa depois.
— Você adora me levar em lugar chique, quando estou parecendo uma
mendiga. — ela murmura, sentindo os olhares de algumas mulheres.
— Você é linda, Evangeline. Para com isso.
Eles ocupam uma mesa no centro do restaurante e quando a ruiva pensa
em olhar o cardápio, Alec o puxa e diz que tudo já está resolvido.
— Ah... — Evie diz. — A reunião para trabalhar na escola de música
foi ótima! Jude me apresentou vários professores e os novos diretores, e
todos foram muito simpáticos e acolhedores. Já que a escola passou por
uma reforma esse ano, eles me mostraram as instalações da escola e fiquei
impressionada com a qualidade dos equipamentos e salas de aula.
Enquanto Evangeline falava entusiasmada sobre a reunião na escola de
música, Alec não conseguia tirar os olhos dela. Sua expressão facial
denotava uma paixão profunda e intensa pela mulher que estava à sua
frente. Ele admirava a beleza de seu sorriso e a maneira como ela movia as
mãos enquanto falava.
Cada palavra de Evangeline parecia ser uma música para seus ouvidos,
ele se pegava imaginando como seria maravilhoso ouvi-la tocar violino
novamente. Alec sentia-se completamente encantado por Evangeline e não
conseguia evitar o olhar apaixonado que a dirigia. Seus olhos brilhavam
intensamente e seu coração acelerava com a simples presença dela.
— Casa comigo? — ele pergunta, de repente.
— O que?
Alec tinha falado tão rápido, que Evangeline não tinha certeza do que
havia escutado. Ele puxou a caixinha de veludo do bolso, a abriu e colocou
em cima da mesa, deixando um anel de diamantes exposto.
— Alec... — ela sussurra emocionada, encarando o anel. — Você...
O mafioso empurrou a cadeira, causando um barulho chato e estridente,
que chamou atenção de metade do restaurante. Ele se ajoelhou diante de
Evangeline, pegou a caixinha e olhou nos olhos verdes e úmidos dela.
— Evangeline, eu amo você mais do que tudo neste mundo. Você é a
luz da minha vida, meu porto seguro e minha alma gêmea. Desde o
momento em que te conheci, eu soube que você era a pessoa com quem eu
queria passar o resto da minha vida. — ela sorri, com lágrimas escorrendo
pelo rosto. — Quero caminhar ao seu lado, enfrentar todos os desafios
juntos e compartilhar todos os momentos maravilhosos que ainda virão.
Quero que você seja minha companheira de vida, minha melhor amiga,
minha confidente e meu amor eterno. Evangeline, minha pergunta é
simples: você quer se casar comigo? Quer compartilhar sua vida comigo,
ser minha esposa, criar nossa filha e um futuro juntos?
Alec olhou para Evangeline com olhos ansiosos e amorosos, esperando
sua resposta com o coração batendo forte no peito. Ele sabia que a vida ao
lado dela seria repleta de amor e felicidade, e estava determinado a fazer
tudo o que pudesse para tornar isso realidade.
— Sim... — Evie murmura, também arrastando a cadeira e se
ajoelhando diante de Alec. — Me casar com você, é tudo o que eu mais
quero. Sim!
Ele a abraçou forte, sentindo o coração transbordar de felicidade e
alívio, e a beijou com ternura e paixão.
O beijo foi suave e cheio de carinho, transmitindo todo o amor e
admiração que Alec sentia por Evangeline. Seus lábios se tocaram com
suavidade e delicadeza, explorando cada centímetro um do outro em uma
troca de afeto e cumplicidade.
Eles se separaram do beijo, mas ainda mantinham seus corpos colados,
olhando um para o outro com um sorriso bobo no rosto. Após colocar o anel
brilhante no dedo de Evangeline, Alec acariciou o rosto dela com as mãos e
disse:
— Eu te amo, Evangeline. Não vejo a hora de passar o resto da minha
vida ao seu lado.
Evangeline respondeu com um beijo apaixonado, selando o
compromisso de amor e união que acabavam de assumir. Os dois sabiam
que tinham encontrado a pessoa perfeita para caminhar lado a lado pelo
resto de suas vidas.
Capítulo 18
Os dois apaixonados passaram todo o jantar se encarando como dois
bobos. Eles deram um jeito de comer com apenas uma mão, pois não
conseguiam desgrudar a outra.
Quando saíram do restaurante, Alec decide passar em uma sorveteria e
levar o doce favorito de Allegra. No meio do caminho, ele recebe uma
mensagem de Howard, informando que precisava conversar com ele
urgentemente.
— Se incomoda se nos vermos amanhã? — Alec pergunta, largando o
celular. — Acho que tem algum problema nos negócios. Muitas chamadas
perdidas de Howard e uma mensagem querendo conversar com urgência.
— Tudo bem. Acho que contar as novidades para Allegra sozinha, será
melhor para a cabeça dela. Ainda mais com sorvete de chocolate.
Alec para diante do condomínio de Evangeline e eles se despedem ali.
Após um beijo cheio de juras de amor, Evie abandona o carro e caminha na
direção da casa de sua melhor amiga.
— Oi, Felps. — ela cumprimenta a mulher, que estava sentada em sua
varanda. Ao olhar para sua casa, ela estranha por tudo estar apagado. —
Allegra está dormindo? A essa hora?
— Ela saiu com o pai.
— Saiu com quem?
— Ah... — Felippa abandona o celular e olha para a amiga. — o seu
ex... Allegra ficou muito feliz quando o viu e ainda o chamou de pai. Aí ele
me disse que iria levá-la para passear e que logo voltava.
— Meu Deus! — Evangeline busca o celular em sua bolsa, ligando na
mesma hora para Jonah. A ligação vai direto para a caixa postal. — Que
merda. Desligado.
— Ele não poderia sair com ela? Fiz mal?
— Não é isso... é que... — Evangeline coloca o celular de volta na bolsa
e encara a caixinha de veludo que guardava seu anel. — Nós terminamos
mal e eu queria mantê-lo afastado.
— Olhe... é o carro que ele veio.
Evangeline vira o pescoço bruscamente, encarando o carro preto que
havia parado de estacionar em frente à sua casa. Ao ver sua filha descer do
banco de carona, a ruiva se levanta apressadamente e vai até ela.
— Allegra! — ela abraça a filha, que não entende o porquê de sua mãe
estar nervosa. — Eu não mandei você ficar em casa, com a tia Felippa?
— Sim, mas o papai...
— O que você está fazendo aqui, Jonah? — Evangeline interrompe a
filha, ao ver Jonah se aproximar delas. — Não me lembro de ter lhe dado o
meu endereço.
— Eu sei, eu sei, mas eu precisava ver você e Allegra.
— Por que precisava ver Allegra? Você não tem direito de levá-la sem
minha permissão.
— Eu só queria levá-la para sair por algumas horas, Evangeline. — ele
revira os olhos e se encosta no carro. — Nós sempre saímos nas sextas. Não
há nada de errado com isso.
— Há tudo de errado com isso. Você não tem o direito de decidir o que
é melhor para Allegra sem me consultar. Você sabe disso.
— Eu sei, mas eu pensei que seria divertido para ela. — Jonah olha para
Allegra, que ainda estava abraçada a mãe. — Não foi, querida?
— Não importa qual seja a sua intenção, Jonah. — Evie responde,
ignorando a afirmativa da filha. — Você não tem o direito de agir dessa
forma. Eu não confio em você para estar sozinho com Allegra, e você sabe
disso.
— Eu entendo como você se sente, Evangeline, mas eu só queria passar
um tempo com a minha filha. Eu sinto falta dela.
— Entender que você sente a falta dela, não justifica a sua presença
aqui sem permissão. Você precisa respeitar os meus limites e as minhas
decisões como mãe!
— Só queria fazer as pazes e tentar ser um pai melhor para Allegra.
A vontade de Evangeline era mandar Jonah para o raio que o parta, mas
ela não queria ser rude na frente de Allegra. A menina ainda era bastante
apaixonada no homem que a criou.
— Eu aprecio a sua intenção, Jonah, mas você precisa entender que o
seu comportamento não é aceitável. Agora, por favor, vá embora e deixe-
nos em paz.
Antes de conseguir levar sua filha para dentro, a garota se desvencilha
da mãe e abraça Jonah.
— Eu adorei te ver, papai. Obrigada.
— Não precisa agradecer, minha princesa. — a voz dele é suave. —
Embora eu e sua mãe não estejamos mais juntos, eu sempre vou estar aqui
para você. Tudo bem?
— Sim, mas, pai, eu queria te dizer uma coisa.
— O que é, querida?
— Eu amo você, mas eu não gosto quando você faz algo errado. A
mamãe fica muito chateada.
— Eu entendo, Allegra. — ele olha rapidamente na direção de
Evangeline, que desvia o olhar. — Eu não deveria ter feito isso. Eu prometo
que vou conversar com a sua mãe e pedir permissão antes de te ver
novamente.
— Tudo bem, papai. Eu sei que você tenta fazer o que é melhor, mas às
vezes você precisa pensar nas outras pessoas também.
— Você tem razão, filha. Eu vou tentar ser mais cuidadoso no futuro.
— Tchau, pai. — Allegra o abraça novamente e lhe beija na bochecha.
— Até a próxima vez.
— Tchau, filha. Eu te amo.
Allegra acena para Jonah e corre para dentro da casa, sendo seguida por
Evangeline, que miseravelmente murmura um adeus para Jonah.
Evie vai diretamente para a cozinha, onde guarda o sorvete quase
derretido no congelador. Ela se senta em uma cadeira e retira a caixinha de
veludo da bolsa, encarando-a e pensando no que Jonah havia acabado de
fazer.
— Mamãe? — Allegra chama, se esgueirando pelas paredes. — Está
brava comigo?
— Não, filha. Só fiquei preocupada. Eu não gosto de não saber onde
você está.
— Desculpe. — ela ocupa uma cadeira ao lado da mãe. — Você estava
demorando e quando o papai chegou me chamando para tomar um sorvete,
eu quis ir. Não o vi nesse último mês... estava com saudade.
— Olhe, deixa eu te falar uma coisa. — Evangeline abre a caixinha e
vira para Allegra. — Alec me pediu em casamento e eu aceitei.
Futuramente nós vamos nos casar e mudar. Você não conseguirá ver o
Jonah. Sabe que seu pai é o Alec. Você mesma foi atrás dele.
A menina fica alguns segundos olhando para a caixinha e depois pega o
anel.
— Por que não está usando?
— Queria contar a você primeiro.
— Ah... — Allegra pega a mão da mãe e coloca o anel onde já esteve
antes. — Tão bonito... eu sei que Alec é o meu pai, mas eu nunca vou
deixar de amar o papai Jonah.
— Eu sei, amor... enfim... deixa esse assunto para lá. Amanhã é sábado
e estamos em uma cidade nova. Que tal passarmos o dia todinho juntas?
— Aonde?
— Você decide! Topa?
Os olhos azuis da pequena Castello brilharam e ela sorriu.
— Sim!
Capítulo 19
— O que foi de tão urgente, que você me encheu de ligações? — Alec
questiona a Howard, quando o motorista entra em seu escritório na mansão.
— Aliás, eu tomei coragem e pedi a mão da Evangeline em casamento.
— Sério, chefe? Entregou a aliança que esteve guardada por dez anos?
— É... — ele sorri apaixonadamente, como se não fosse um mafioso
violento. — mas não conte a ela sobre isso. Não quero parecer um homem
mole.
Howard ri, quase se esquecendo do motivo que o levou até ali.
— Jamais faria isso. Enfim...
— Pode falar. Não enrola.
— Primeiro, como você me pediu, eu descobri o paradeiro da Leah. A
mãe da Evangeline.
— E então?
— Ela realmente está morta. — Alec suspira profundamente. — Já tem
alguns anos que aconteceu. Parece que ela estava se prostituindo, para
conseguir dinheiro para drogas. Em um desses dias, ela teve uma overdose
em um quarto de motel barato e uma camareira a achou. Pelo menos ela
andava com documentos e conseguiu ter um enterro digno.
— É... menos mal. Mas você não tem só isso para falar.
— Há algumas semanas, o seu secretário... o Jared... — Alec assente,
abrindo a caixa de charutos de seu falecido pai. — ele veio até aqui, atrás de
você. Foi no dia em que você passou um dia inteiro fora resolvendo a
questão dos documentos falsos.
— Sei, sei.
— Eu sei que não entendo praticamente nada dos seus negócios, mas
quando ele chegou me confidenciou que descobriu algo sobre o Paul Baker.
— O que foi? O que ele está fazendo?
— Ele está desviando dinheiro da empresa para a conta pessoal dele. E
o pior é que isso está acontecendo há anos. Jared trouxe provas concretas de
que ele está roubando a sua família.
— Não é possível! — Alec bate o punho na mesa, completamente
irritado com aquilo. — Por isso que aquele idiota não queria que eu caísse
fora da máfia... queria continuar a surrupiar o meu dinheiro.
— Eu pedi para ele ir mais a fundo e Jared descobriu o motivo para ele
ter te oferecido uma fusão. Paul estava praticamente falido.
— Esse homem está fodido! — o mafioso grunhe, apertando o charuto
até ele se desfazer em sua mão. — Eu tinha oferecido vender a minha parte
por um valor simbólico, mas agora eu não vendo mais!
— E não para por aí...
— Ah não... o que mais aconteceu?
— A Felippa me chamou hoje para conversar e me mostrou uma carta,
que o pai dela escreveu antes de morrer. Estava destinada a Evangeline e...
— O que foi, Howard? — Alec pergunta, impaciente.
Howard hesitou por um momento antes de falar, sabendo o quanto suas
palavras afetariam Alec. Mas ele sabia que era importante contar a verdade.
— Naquela carta estava dizendo o mandante da morte do seu pai e do
acidente que quase matou você e Evangeline.
— Que? Quem foi? Foi alguém da máfia?
— É... — ele hesita novamente. — Foi o Paul.
— Paul? Paul Baker?
— Infelizmente, sim. Ele tinha intenções de assumir o controle total da
máfia em Nova York, e vocês estavam no caminho. Ele contratou
justamente o pai de Felippa, pois sabia que aquele homem estava com
problemas nos cassinos da cidade. Inclusive no seu. Paul sabia que William
não iria negar um bom dinheiro, para simplesmente matar seu inimigo.
Alec ficou em silêncio por alguns segundos, processando aquela
informação.
— Eu não consigo acreditar nisso... aquele verme! Ele esteve no velório
do meu pai, me consolando e dizendo que me ajudaria a descobrir quem
tinha feito aquilo... que ódio!
— O que irá fazer?
— Eu ainda não sei. — Alec murmura, encarando um ponto fixo atrás
de Howard. — Mas aquele infeliz vai sofrer demais.
[...]
— Eu não vou deixar você ir sozinho. — Howard diz, saindo do carro.
— No único dia que eu não estive com vocês, seu pai foi morto, você,
Evangeline e Audrey quase foram também.
— Aqui na empresa eu só quero dar um aviso a ele. Não vou colocar as
outras pessoas em risco.
— Ainda assim eu vou com você.
Alec não teve outra escolha. Ele poderia falar mil motivos para Howard
não ir com ele, que o seu amigo lhe daria mais mil para estar junto.
— Onde estão Audrey e AB?
— Na Itália. — Howard responde, chamando o elevador. — O tal lá que
namorava com ela, ordenou um exame de DNA e ela voou para lá.
— Independente do merda que aquele mafioso é, eu sei que ele não vai
deixar Audrey ou meu sobrinho em risco. Depois ligue para ele e peça que
não a deixe voltar para cá. Pelo menos por enquanto.
— Pode deixar comigo.
— E a Dom?
— Viajando pelo mundo com a Sophie. Ela faz questão de postar tudo
pelo Instagram.
— Pelo menos está longe de mim. — Alec murmura. — E mantendo
aquele veneno dela longe da Evangeline.
Logo que chega no andar em que fica a sala de Paul, Alec pede para que
Howard espere do lado de fora. Ao entrar, ele nota que a pessoa que está na
cadeira e ao telefone, não é Paul e sim Cedric. Seu primo.
Quando Alec passa pela porta, Cedric ergue o olhar e solta uma risada
baixa.
— Vou desligar. Me mantem informado. — ele deixa o celular sobre a
mesa e se levanta, indo na direção da mesa em que ficam as bebidas
quentes. — Alec! Imaginei que não fosse mais ver você por aqui. Quer?
— Onde está o Paul?
— Saiu para resolver uns probleminhas novos... por quê? Desistiu de
viver com a ruivinha e quer voltar aos negócios?
— Como é?
— Ué... — ele caminha pela sala. — Se você está aqui, procurando pelo
Paul, é sinal de que a sua ruivinha te deu um pé na bunda e deve ter voltado
para o marido dela.
Aquela frase acende um alerta na mente de Alec.
— Como você sabe sobre a vida da Evangeline?
— O que?
— Como você sabe que ela tinha um marido? — Alec anda na direção
de seu não querido primo, com a mão fechada em punho. — Responde!
— Ah... você mencionou naquele dia e...
— EU NÃO FALEI NADA!
Alec foi extremamente rápido. Ele agarrou Cedric pelo paletó e o jogou
contra a mesa de bebidas, causando um barulho e estrago imediato.
— Eu fiquei sabendo do seu interesse na vida amorosa da Evangeline,
quando ainda éramos namorados. — ele diz, agarrando Cedric novamente.
Seu rosto branco e perfeitamente desenhado, tinha algumas escoriações
causadas pelas garrafas quebradas. — E quando Paul veio me oferecer uma
sociedade, você foi o primeiro a dizer que era uma ótima ideia. Estava
mancomunado com ele, Cedric? — Cedric engole em seco, sem romper o
contato visual com Alec. — Vocês mandaram matar o meu pai!
Com essa última frase, Alec arremessa Cedric contra a grande mesa de
madeira e começa uma sequência de socos e pontapés. Cedric não tinha
forças para pedir por misericórdia e era orgulhoso demais para fazer aquilo.
Alec se agacha, se aproxima o suficiente de Cedric para constatar que
ele ainda está respirando e diz:
— Eu só não mato você agora, porque ainda resta humanidade em mim
e porque eu quero que você passe um recado para o Paul. — Alec aperta o
nariz quebrado do primo, que geme de dor. — Avise àquele verme, que eu
vou encontrá-lo e com toda certeza, vou matá-lo. Esse será o meu último
feito, como chefe da máfia americana.
Capítulo 20
Evangeline acordou naquele sábado, com uma sensação estranha em seu
peito. Ela tinha combinado com Allegra, que aquele dia seria somente delas
duas, onde poderiam fazer o que quisesse. A pequena escolheu ir a um
parque, onde elas passaram o dia em completa harmonia. Elas passearam
pela grama, deram comida para os patos que tinham no lago, fizeram um
piquenique e ficaram deitadas no pano, encarando a forma das nuvens.
Quando a tarde foi caindo, Allegra quis tomar um sorvete antes de irem.
Logo que pede dois sorvetes, Evangeline se dá conta que só tem uma única
nota de cinquenta dólares na bolsa.
— Eu vou ali na esquina trocar e já volto.
Mãe e filha se sentam no banco que havia ao lado da carrocinha, se
deliciando do sorvete de morango. De repente uma grande van preta para
diante delas e abre a porta, mostrando dois homens encapuzados e armados.
Eles saltam da van rapidamente, assustando as duas. Evangeline
rapidamente ergue os braços, se tremendo por inteiro.
— Pode levar tudo. — ela diz, esticando a sua bolsa. — Só não nos
machuque, por favor.
— Não é essa bolsinha que nós queremos.
Um homem agarra no braço de Evangeline e o outro no de Allegra,
jogando-as bruscamente dentro da van. Elas foram vendadas e amarradas,
incapazes de ver para onde estavam sendo levadas. Evie tentou manter a
calma pelo bem de Allegra, mas seu coração batia forte no peito. Ela não
conseguia acreditar que aquilo estava lhe acontecendo de novo.
Depois do que pareceram horas, a van parou e elas foram puxados para
fora do veículo. Evangeline tropeçou e caiu no chão, raspando os joelhos na
superfície áspera. Ela ouviu Allegra chorando ao seu lado e tentou confortá-
la o melhor que pôde. Seu maior terror era estar vivendo aquele sequestro
com a sua filha.
Elas foram conduzidas a um prédio abandonado e jogadas em uma
pequena sala. Evie podia ouvir o som de ratos correndo ao redor deles e o
cheiro de mofo invadiu seu nariz. Os sequestradores tiraram as vendas e
Evie pôde ver três homens parados na frente deles. Dois deles usavam
máscaras, mas o que estava no meio, não fazia questão nenhuma de se
esconder.
— Jonah? — Evie pisca algumas vezes, confusa com o que estava
acontecendo. — O que... onde estamos? Que brincadeira de mal gosto é
essa?
— Brincadeira? Acha que alguém aqui está brincando?
Jonah abre os braços, dando a deixa para que Evangeline olhe onde ela
estava. Aquela sala abandonada e empoeirada, estava quase vazia, com
exceção de um colchão fino e um vaso sanitário no canto.
— Se isso é uma pegadinha, para agora. Está deixando Allegra
assustada.
Os dois olham na direção da menina, que além de chorar copiosamente,
mexia os braços de forma desconfortável, já que as amarras machucavam
seus pulsos. Quando Jonah andou até ela, Evangeline rastejou para perto da
filha, na intenção de ser uma barreira entre eles dois.
— Eu estou assustando você? — ele questiona, encarando os olhos
azuis e encharcados de Allegra. A pequena olha para a mãe por alguns
segundos e depois assente, encarando Jonah de volta. — Responde!
— Sim, papai.
— Papai? — Jonah repete, com uma risada no final. — Eu não sou seu
pai, garota estupida.
— Olha como você fala com ela!
— Ou o que? — ele direciona o seu olhar para Evangeline, que tinha
ódio pulsando em seu sangue? — O que você vai fazer, ruivinha sem graça?
— Sem graça agora, não é? — Evangeline sorri de lado, com a ironia
dançando em sua voz. — Só porque eu NÃO TE QUERO MAIS!
A mão direita de Jonah acerta o rosto de Evangeline com tanta força,
que a faz cair.
— Mamãe!? — Allegra chama, cada segundo mais desesperada. —
Mamãe?
— Estou bem, filha. — ela murmura, sentindo o gosto de sangue em sua
boca. Com esforço, Evangeline se ergue e encara Jonah novamente. — Qual
o seu problema?
— Você! Você e aquele mafioso de merda.
Evangeline pisca algumas vezes, tentando entender aquela frase.
— Meu pai tinha me dado apenas uma missão. — ele diz, andando de
um lado para o outro, fazendo com que Evangeline note a arma que estava
nas costas dele. — Eu tinha que ficar em Londres vigiando você e agir para
que você e o Castello nunca mais se encontrassem. Já que matar vocês não
tinham dado certo, mantê-los afastados bastava. Meu pai conseguiu se
juntar nos negócios dos Castello e tem minado a fortuna dele desde então...,
mas aí você resolve vir para Nova Iorque, reencontra aquele imbecil e ele
resolve que quer sair da máfia, para viver feliz com a família ruiva dele.
— Espera... seu pai... trabalha com Alec? — Evie junta a mais b,
relembra tudo o que o pai de Felippa lhe contou e chega a uma conclusão
doentia. — Você é filho do Paul Baker... o homem que mandou matar o
Blake... que quase me matou...
— É, é, é. Enfim! — Jonah estala os dedos na direção dos dois homens
mascarados e aponta para mãe e filha. — Podem soltar as mãos delas. —
ele saca a arma que estava presa em sua calça e aponta diretamente para
Allegra. — Faz uma gracinha, que eu estouro a cabeça dessa criança chata.
Evangeline sentia seu sangue ferver, cada vez que ouvia Jonah se referir
à filha dela daquela maneira. Assim que um dos mascarados solta os braços
dela, Evie faz um movimento brusco e abraça Allegra, que também tinha o
braço solto.
— Mas o que é isso... — Jonah se aproxima delas e agarra na mão de
Evangeline, que tinha o anel. — Um anel de diamantes... o mafioso de
araque te pediu em casamento?
— Isso não é da sua conta.
Evangeline puxa sua mão com violência e torna a abraçar a filha. Um
dos mascarados faz menção de se aproximar dela, mas Jonah o detém e se
levanta.
— Essa posição é perfeita... — Jonah questiona, encarando as duas
abraçadas. — não acham? — ele olha intercaladamente para os dois
capangas. — Quando o fogo que colocarmos nesse lugar, for apagado e
acharem os corpos delas abraçadinhos, será noticia o ano inteiro.
— Tiramos o anel?
— Não. — ele responde à pergunta feita por um dos capangas. —
Assim Alec terá certeza de que o corpo torrado, é o da sua amada
Evangeline. Diamantes não derretem, já pele humana...
— Mamãe?
Jonah solta uma risada alta e macabra, diante do olhar assustado que a
pequena Allegra desferiu para sua mãe. Ele novamente estala os dedos para
os homens, apontando para a saída.
— Daqui a pouco alguém vem trazer uma última refeição para vocês.
Aproveitem essas últimas horas de vida.
Após uma piscadinha e um beijo irônico, Jonah deixa o pequeno espaço
juntamente com os seus capangas. Evie não vê, mas a porta está sendo
fechada com correntes grossas e cadeados do lado de fora.
— O que está acontecendo, mamãe? — Allegra questiona, chorando. —
O papai vai queimar a gente?
— Não pensa nisso, filha...
Evangeline se levanta com certa dificuldade e começa a inspecionar
cada canto daquele quarto. Além de escuro, sujo, com ratos passando por
cima dos canos expostos, só havia uma pequena janela, que tinha grades e
madeiras a fechando. A única forma de sair, era por onde entraram.
Ao notar aquilo, Evie sente o desespero tomar conta de seu corpo. Ela
olhou para sua filha, buscando alguma fonte de energia. Allegra permanecia
sentada no mesmo lugar, abraçando suas pernas, enquanto chorava sem
parar.
— Calma, filha. — Evangeline diz, se sentando ao lado dela e puxando-
a para o seu corpo. Abraçando-a de forma reconfortante e beijando-lhe a
cabeça, Evangeline tenta passar um pouco de paz para Allegra. — Alec vai
perceber que algo está errado. Eu sei. Eu o conheço. Ele virá nos salvar.
Final
“Eu não estou disponível no momento, deixe seu recado e em breve lhe
retorno.”
Aquela mensagem eletrônica que soava cada vez que Alec ligava para o
telefone de Evangeline, estava o deixando extremamente irritado. Ele tinha
tentado contatá-la várias vezes ao longo do dia, mas ela não havia
respondido às suas mensagens ou chamadas telefônicas.
No final do dia, Alec decidiu ir pessoalmente procurá-la. Ele começou
visitando os lugares que sabia que ela frequentava, mas ninguém parecia ter
visto ela ou Allegra. Nem mesmo no food truck de tacos que ela adorava ir.
Alec começou a ficar cada vez mais preocupado e decidiu ir até a casa
de Evangeline. Ele bateu na porta várias vezes, mas não obteve resposta.
Começou então a tocar o interfone várias vezes, mas ainda assim, ninguém
atendeu.
— Merda! — ele grunhe, batendo o pé no assoalho da varanda.
— Alec? Tudo bem?
— Felippa! — Alec caminha apressadamente até ela e a segura pelos
ombros, o que a deixa alarmada, pelo estado de agonia dele. — Você sabe
onde Evangeline está? Eu tenho ligado o dia todo e nada. Ela também não
abre a porta.
— Ela saiu com Allegra quase na hora do almoço. Eu vi quando
entraram em um táxi... tenho uma cópia da chave. Espere...
Alec espera impacientemente, enquanto Felippa corre até a sua casa e
procura a chave de Evangeline. Quando ela finalmente acha, retorna, Alec
puxa a chave e abre a porta.
Ele caminhou pela casa e viu que parecia que Evangeline e Allegra
haviam saído às pressas. A casa estava uma bagunça, com roupas e
pertences espalhados pelo chão.
— Que estranho... — Felippa murmura, olhando toda aquela zona. —
eu não notei nenhuma mala com a Evie...
Alec sentiu seu coração disparar. Ele sabia que algo estava errado.
Começou a procurar por pistas, olhando em todas as gavetas e armários.
Finalmente, ele encontrou um bilhete escrito por Evangeline.
“Eu não quero viver no meio da máfia de novo. Minha filha não merece
correr perigoso ao seu lado. Eu te amo, mais não posso. Não nós procure.”
"Hoje fazem cinco anos desde o grande incêndio que destruiu a antiga
fábrica da família Baker, em Nova Iorque. Além de alguns corpos que
ficaram irreconhecíveis devido ao fogo, foram encontrados os corpos de
Paul e Jonah Baker. Na época do acontecido, a única herdeira da família,
Davine Baker, que estava internada em uma clínica psiquiatra, foi libertada
e colocou a boca no mundo, dizendo que seu pai foi o mandante pela morte
do antigo magnata da cidade, Blake Castello. Desde o ocorrido, nossa
imprensa tem procurado pela família Castello, mas nenhum deles foram
mais vistos. Com exceção de Dominique, ex Castello e também ex Harris,
que viaja pelo mundo e faz cliques a cada país. Todos os outros integrantes
da família sumiram, como se não existissem mais. Onde será que eles...”
A televisão é desligada repentinamente e a garota olha para trás furiosa.
— Ei! Eu estava vendo.
— É hora da escola, Allegra. Você não deveria estar vendo informações
sobre Nova Iorque.
A menina revira os olhos e se levanta irritada.
— Não é justo, mamãe. — ela cruza os braços. — É um dia importante
para a família... eu não posso mesmo ficar em casa?
Evangeline suspira e abraça sua quase debutante. Em poucas semanas
Allegra completaria quinze anos. A raiz ruiva começava a se fazer presente
no meio de tantos fios negros.
— Olhe... eu não queria estragar a surpresa, mas...
— AH NÃO! — Allegra grita e tampa os ouvidos. Ela adorava
surpresas. — LA, LA, LA... estou indo vestir o uniforme. Em quanto tempo
a balsa chega?
— Dez minutos.
— Não demoro!
A casa onde viviam, é à beira-mar em uma pequena ilha tropical na
Australia, cercada por águas cristalinas e praias de areia branca. A casa
tinha uma varanda com vista para o mar e um jardim exuberante, onde
passarinhos cantavam e borboletas coloridas voavam ao redor.
— Melhor do que essa paisagem paradisíaca, só você nesse vestido
florido.
— Amor! — Evangeline se vira e abraça Alec apertado. — Achei que
estivesse na cidade.
— Eu estava lá atrás, colhendo algumas verduras na horta. Pensei em ir
à balsa que passa para pegar Allegra. Aliás, cadê ela?
— Terminando de se arrumar para a escola... hmmm...
Alec estreita os olhos, pelo jeito mole que Evie falou. Ele sabia o que
aquilo significava.
— O que você fez?
— Ah... nada demais... só disse para Allegra que terá uma surpresa para
ela depois da escola.
— Parece até que você adivinhou... vou a cidade buscar alguns
convidados. Adivinhe quem?
Os olhos azuis da nova loira do pedaço, brilharam. Já tinham mais de
três anos que eles não viam ninguém, além dos nativos da cidade.
O tiro disparado por Paul Baker, acertou o lado direito do peito de
Howard. Antes que ele conseguisse disparar novamente e acertar Alec, o
Castello descarregou o pente da sua arma na direção de seu rival. No
momento em que Alec se descuidou, para checar o estado de saúde do seu
amigo, Evangeline notou que Jonah estava conseguindo se soltar e segurou
na arma que estava ao seu lado. A ruiva não pensou duas vezes, antes de
pegar a arma de Howard e atirar na direção de seu ex-marido.
— Além de Audrey e AB, Felippa e Howard estão trazendo o pequeno
Gael para conhecermos.
— Ah, amor... — Evangeline sorri e abraça Alec novamente. — Eu
ainda não acredito que nós saímos daquele sequestro, com o Howard quase
morto e agora ele está vindo aqui com a família, completamente feliz.
— É... as vezes eu também não acredito. Ainda bem que eu tinha
deixado todos os novos documentos prontos. Howard não sabia, mas eu
tinha feito para ele e Felippa também. Pelo menos todos nós tivemos uma
segunda chance para viver.
Quando o barulho da balsa se faz presente, Allegra sai de seu quarto
como um furacão e vai até seus pais.
— TCHAUUU...
— Espere! Vem aqui, Allegra.
A garota suspira e mexe os ombros, sabendo o que viria a seguir.
— Já sei, mamãe. Meu nome é Helena. Eu já sei! São cinco anos.
— Ei! — Evangeline ri, trocando um olhar divertido com Alec. —
Desculpe. Só queria reforçar. Beijo. Vai para a escola. Seu pai vai pegar a
balsa com você.
Allegra corre os degraus do deck e depois pela areia, com seu sapato em
mãos. Só quando entra na balsa que ela o calça.
— Não demoro. — Alec diz, beijando os lábios de Evangeline. —
Quando eu voltar, vamos continuar praticando o irmão que Allegra tanto
pede.
— Nós teremos convidados, lembra?
Alec dá de ombros e olha na direção da balsa, quando o sinal é soado
novamente. Ele sopra um beijo para Evangeline e faz o mesmo caminho
que sua filha fez anteriormente.
Evangeline fica ali da varanda acenando para os dois, vendo a balsa se
afastar para levá-los a cidade.
Alec e Evangeline haviam construído um relacionamento sólido,
baseado em amor e confiança mútua. Eles passavam seus dias explorando a
ilha, nadando no mar, lendo livros e assistindo ao pôr do sol juntos.
Allegra estava feliz por finalmente ter encontrado um lar e um lugar
onde pudesse ser livre e feliz. Ela fazia novas amizades, aprendia novas
habilidades e descobria novas paixões.
Os três juntos, formavam uma família feliz e unida, celebrando cada dia
e cada conquista. Eles haviam superado as adversidades e encontrado a
felicidade em um lugar mágico, onde as preocupações do passado não mais
os alcançavam.
FIM.