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Cuidados em saúde e
comunicação de pessoas
com incongruência de
.A.
genero
Cuidados em saúde e
comunicação de pessoas com
incongruência de gênero
Bauru
2022
2022 - Faculdade de Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo
Esta obra é de acesso aberto, sob Licença Creative Commons CC BY-NC 4.0.
BY NC
ISBN 978-65-86349-07-8
DOI: 10.11606/9786586349078
Coordenadora Vice-coordenadora
Prof.ª Dra. Alcione Ghedini Brasolotto Prof.ª Dra. Aline Epiphanio Wolf
Professora Associada do Departamento de Professora Doutora do Curso de Fonoaudiologia
Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
Responsável pelo Ambulatório de Comunicação
em Incongruência de Gênero (LabComT) do
Hospital das Clínicas da FMRP-USP
Tutoria Docente
Me. Aline Oliveira Santos Prof.ª Dra. Kelly Cristina Alves Silverio
Fonoaudióloga doutoranda do Programa de Pós- Docente Associada do Departamento de
Graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de
Odontologia de Bauru da Universidade de São Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP)
Paulo (FOB-USP)
Docente Docente
Dra. Lúcia Alves Silva Lara Dr. Sergio Henrique Kiemle Trindade
Coordenadora do Serviço de Saúde Sexual Professor Doutor do Curso de Medicina
(Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humana da Faculdade de Odontologia de Bauru da
e Ambulatório de Incongruência de Gênero) do Universidade de São Paulo (FOB-USP)
Hospital das Clínicas da FMRP-USP
Bolsista Bolsista
Adriane Marques Cardoso Débora Cristina Cezarino
Discente do curso de Fonoaudiologia da Discente do curso de Fonoaudiologia da
Faculdade de Odontologia de Bauru da Faculdade de Odontologia de Bauru da
Universidade de São Paulo (FOB-USP) Universidade de São Paulo (FOB-USP)
Bolsista Bolsista
lzabella Carolina Gomes Santana Pereira João Paulo Ferreira da Silva
Discente do curso de Medicina da Faculdade de Discente do curso de Fonoaudiologia da
Odontologia de Bauru da Universidade de São Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Paulo (FOB-USP) Universidade de São Paulo (FMRP-USP)
Bolsista Bolsista
Júlia Fonsi Sanchez Noemi da Silva Fonseca
Discente do curso de Fonoaudiologia da Discente do curso de Fonoaudiologia da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Faculdade de Odontologia de Bauru da
Universidade de São Paulo (FMRP-USP) Universidade de São Paulo (FOB-USP)
Bolsista Voluntário
Victória Mota Colombara Andréa Gracinda da Silva
Discente do curso de Fonoaudiologia da Discente do curso de Fonoaudiologia da
Faculdade de Odontologia de Bauru da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (FOB-USP) Universidade de São Paulo (FMRP-USP)
Voluntário Voluntário
Gilberto da Cruz Leal Marina Fiuza Canal
Discente do curso de Fonoaudiologia da Discente do curso de Fonoaudiologia da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Faculdade de Odontologia de Bauru da
Universidade de São Paulo (FMRP-USP) Universidade de São Paulo (FOB-USP)
Voluntário Voluntário
Melissa Franca Lima Martins Nathan Augusto Silva Santos
Discente do curso de Fonoaudiologia da Discente do curso de Medicina da Faculdade de
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Odontologia de Bauru da Universidade de São
Universidade de São Paulo (FMRP-USP) Paulo (FOB-USP)
Aos que compartilharam conosco seus saberes, suas experiências, suas ideias e vozes, para
que o conteúdo, em todas as etapas, de fato fizesse sentido e representasse a diversidade,
no sentido mais plural da palavra, sem desconsiderar o rigor científico prezado.
Em alinhamento com estes propósitos, a Universidade de São Paulo (USP) teve a iniciativa de fomentar
ações promotoras de Inclusão Social e de Diversidade dentro e fora dos muros universitários (Edital
02/2021 ).
Um dos frutos dessas ações é este e-book, feito para vocês, estudantes da Fonoaudiologia e Medicina
e profissionais da Fonoaudiologia e Otorrinolaringologia (ORL).
• Propor ações em Saúde que promovam a inclusão de pessoas transe travestis, as quais são muito
discriminadas inclusive pelos profissionais de saúde;
Compartilhe com sua rede de contatos e apoie a ideia. Poderemos ir ainda mais longe com a sua
colaboração!
Boa leitura!
A SEXUALIDADE HUMANA ;1
..,
Aline Epiphanio Wolf
Aline Oliveira Santos
Alcione Ghedini Brasolotto
Andréa Gracinda da Silva
Débora Cristina Cezarino
Gilberto da Cruz Leal
João Paulo Ferreira da Silva
Júlia Fonsi Sanchez
Kelly Cristina Alves Silverio
Lúcia Alves Silva Lara
Marina Fiuza Canal
Melissa Franca Lima Martins
Nathan Augusto Silva Santos
Sergio Henrique Kiemle Trindade
Victória Mota Colombara
A sexualidade é um componente vital da existência Isto é, que as pessoas são ou devam ser heterossexuais,
humana e é mais ampla que os atos sexuais, pois isto é, se atraírem por pessoas do sexo oposto e se
além do corpo, abrange sexo, identidade, papéis identificarem de acordo com o seu sexo biológico. No
sociais, expressão de gênero, atração, pensamentos, entanto, é fundamental que todos os profissionais
intimidade e reprodução,1,2 Entende-se que ela é da Saúde estejam cientes das possíveis variações
influenciada pela interação entre fatores biológicos, sexuais de seus pacientes. Tendo isso em vista, vamos
psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, iniciar com o esclarecimento de alguns conceitos:
legais, religiosos e espirituais. 3 A área da Saúde,
como um todo, parte de uma suposta norma social
relacionada ao comportamento heterocisnormativo.4
1.2 Gênero J
• e·1nar1a
,. .
ou Não
Binária
, cisgênero
Transgênero
(trans)
Mulher Trans
omem Tran
Travesti
Cuidados em saúde e comunicação de pessoas com incongruência de gênero
CAPÍTULO 1
É importante dizer que o termo transgênero é muito amplo e dentro desse espectro e nele pode-se
encontrar pessoas:
Transfemininas
Transmasculinas
É o termo usado para se referir à marcante e persistente vivência de uma identidade de gênero divergente
do sexo atribuído ao nascimento.
É um forte incômodo, sofrimento ou desconforto causado pela discordância entre a identidade de gênero
e o sexo designado à pessoa ao nascer. 7 É importante dizer que a disferia não se relaciona somente com
a genitália. Comumente encontra-se homens trans que sintam disferia com as mamas e mulheres trans
e travestis que apresentem disferia com a presença de pelos no rosto.
,,,,,,
PRESTE ATENÇAO!
Não confunda a incongruência de gênero com disforia
de gênero! Nem todas as pessoas transe travestis apresentam
ou apresentarão em sua vida a disforia de gênero. A literatura
não apresenta um consenso quanto à incidência da disforia de
gênero em pessoas transe travestis, uma vez que raros são
os levantamentos demográficos sobre essa população.
Alguns autores apontam que a disforia de gênero
em crianças representa menos de 1%; em mulheres
transgêneros, a disforia varia de 0,005 a 0,014%,
enquanto para os homens transgêneros é de 0,002 a
0,003%.7 No entanto, para esses autores, esse número
tende a não representar a situação real, uma vez que
muitos indivíduos não procuram clínicas especializadas,
e recorrem, principalmente, à automedicação a serviços
particulares clandestinos para a realização de tratamentos
e demais procedimentos.
NÃO É MODA!
A literatura indica que crianças já são capazes de se auto identificarem como meninos ou meninas com
cerca de 2 e 3 anos de idade. 8 Segundo os autores, para algumas crianças em períodos pré-escolares, a não-
conformidade de gênero, isto é, a percepção de ser de gênero diferente do atribuído e eventualmente se rotular
como tal, tende a ocorrer devido ao desenvolvimento natural delas e/ou a exploração da sua individualidade.
No entanto, a minoria manterá essas manifestações na adolescência ou na vida adulta 9 •1 º
Porém, o contrário pode ser verdadeiro: embora não seja uma regra, muitos adultos trans referem perceber sua
identidade de gênero diferente do sexo biológico atribuído ao nascimento desde a infância ou adolescência 11 •12
Você pode entender mais sobre a transgeneridade na infância e adolescência, os cuidados necessários
e intervenções possíveis nas referências disponibilizadas nas últimas páginas deste material.
TRANSIÇÃO E PASSABILIDADE
9
É importante que você conheça outros dois
termos relacionados à transgeneridade:
•
Transição
características
Passabilidade
,,,,,
ATENÇAO!
Compreender esses conceitos é de suma importância para
atender corretamente essa população, visto que há
uma grande variabilidade de identidade e expressão
de gênero, acompanhada de disforia de gênero ou não.
A melhor maneira de você atender essa população é, como
mostra a literatura internacional nos últimos anos, por
meio da prática centrada no paciente. Portanto, faça
perguntas, ouça atentamente, não parta de pressupostos
e generalizações.
SE LIGA!
Nem todas as pessoas transe travestis buscam pela transição ou passabflidade!
Há, inclusive, pessoas que fazem questão de serem "não passáveis" e isso em nada
impacta sua identidade de gênero. Mesmo assim, você deve continuar usando o
nome e pronome de tratamento indicados por elas.
Consiste na atração física romântica ou emocional por outra pessoa. Não se trata de opção, mas sim de
orientação. Além disso, não possui uma regra amarrada à identidade de gênero. Sendo assim, podemos
encontrar, basicamente:
• Heterossexual - é uma pessoa (eis ou trans) que se sente atraída por alguém de gênero
diferente do seu;
• Homossexual - é uma pessoa (eis ou trans) que se sente atraída por alguém de gênero igual
ao seu;
• Bissexual - é uma pessoa (eis ou trans) que se sente atraída por mais de um gênero;
• Pansexual - é uma pessoa (eis ou trans) que se sente atraída por outra independentemente do
gênero;
• Assexual - é uma pessoa (eis ou trans) que sente pouca ou nenhuma atração de ordem sexual
por qualquer pessoa.
CUIDADO!
Desconsidere de seu vocabulário o sufixo ismo - homossexualismo,
transexualismo, pois, respectivamente, desde 1990 e 2018, a OMS não considera
,. ner;lhurna dasJduas. condições._cor:r:,o .um,distúrbio ou doença. Alé,m ,de ,erradq,_o uso
ãessa te r. r.n inologia é aíscr;1rt11r.)ató'riio e·r. recor.ice irnoso!
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E LEI!
Nome social é um DIREITO! Deve ser usado, assim como o pronome indicado pela pessoa.
O campo para o nome social deve estar presente em instrumentos de atendimento, registro e
monitoramento, como protocolos, fichas, cadastros, prontuários, form ulários, entre outros,
mesmo que no documento de identidade ainda conste o nome de registro civil.
Lembre-se de que nem todas as pessoas têm acesso para a retifi cação de seus documentos de
identidade.
•• •••• •• 1 •• • •• •
A SIGLA E O SUS ~
+
Andréa Gracinda da Silva
Débora Cristina Cezarino
Gilberto da Cruz Leal
João Paulo Ferreira da Silva
Kelly Cristina Alves Silverio
Marina Fiuza Canal
T
Sergio Henrique Kiemle Trindade
2.1 A Sigla
Durante muito tempo utilizou-se no Brasil a sigla GLS, Nos anos 90 até início dos anos 2000, passou a ser
que foi criada nos anos 80 para designar pessoas GLBT, que incluía também pessoas bissexuais e
lésbicas, gays e simpatizantes (neste último caso, transgêneros. 14•15 Em junho de 2008, foi realizada
para se referir às pessoas que não necessariamente a 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas,
representavam diversidade sexual ou de gênero). Esta Bissexuais Transe Travestis, cujo objetivo foi propor
sigla também era utilizada para descrever as atividades as diretrizes para a implementação de políticas
2.1 A Sigla J
E HOJE?
Atualmente, a forma correta de se identificar essa população é LGBTQIAPN+, que designa pessoas lésbicas,
gays, bissexuais, transgênero, travestis, queer, intersexo, pessoas assexuais, pansexuais e outras. Embora
possa parecer extenso falar ou escrever todas essas letras, é importante que nenhuma abreviação seja feita,
uma vez que, como exposto, sua definição veio dar representatividade a todas as pessoas devidamente
representadas.
L
Lésbica - é uma mulher (eis ou trans) que se sente atraída
afetiva-sexualmente por outra mulher (eis ou trans). 1
G
Gay- é um homem (eis ou trans) que se sente atraído afetiva-
sexualmente por outro homem (eis ou trans). 1
2.1 A Sigla
IA
p Pansexuais _J:
Pansexsual - é uma pessoa que é atraída por pessoas,
independentemente de seu gênero. 1
2.1 A Sigla J
dos serviços públicos de saúde e busca garantir o Ela tem como principal objetivo reduzir a disforia
acesso à Saúde a todo cidadão e cidadã do Brasil, de gênero, 16 a qual, na maioria das vezes já se
respeitando suas especificidades de gênero, raça/ inicia na infância, causando alterações importantes
etnia, geração, orientação e práticas afetivas e em várias áreas da vida desse sujeito, tais como
sexuais, almejando reduzir todas as desigualdades familiar, social, educacional, laboral entre outras. 17
relacionadas à saúde destes grupos sociais. A transição não é sinônimo de uso de hormônios
Por fim, esta Política reafirma o compromisso do ou realizações de cirurgias. A busca pode ser
SUS com a universalidade, a integralidade e com a apenas pelo nome social, pela aparência
efetiva participação da comunidade, contempla ações totalmente passável ou ainda uma transição que
voltadas para a promoção, prevenção, recuperação propicie uma expressão de gênero andrógina.
e reabilitação da saúde, além de incentivar a Mais uma vez destaca-se que não há certo ou errado,
produção de conhecimentos e o fortalecimento nem generalizações.
da representação do segmento nas instâncias de Nome social - é a forma pela qual uma pessoa se reconhece,
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E ATUALMENTE?
A Portaria de 2008 foi ampliada em 2013, assegurando procedimentos diversos e equipe multiprofissional
formada por diferentes especialidades: 24
Talvez você se pergunte: onde está a Fonoaudiologia profissionais das áreas podem contribuir e muito
e Otorrinolaringologia nisso? Se essas profissões com a voz, fala comunicação oral e bem-estar de
não estão previstas no atendimento das pessoas pessoas transgênero e travestis. Aliás, os estudos
trans e travestis, quais as razões que levaram à na área mostram que cada vez mais essa população
criação desse e-book? Essas profissões não se tem buscado esses profissionais para auxiliar no
relacionam com as necessidades dessas pessoas? alinhamento entre a voz e a identidade de gênero,25•26
Justamente o contrário! O e-book nasceu, pois, embora uma vez que, por meio dela, se transmite emoções,
não haja citação na Portaria, vocês profissionais e características pessoais.
futuros
Tantos homens quanto mulheres transe travestis podem ter sua autopercepção vocal ou a percepção dos
outros sobre sua voz não correspondente à sua identidade de gênero. 28 Isso pode ocorrer, pois desde a
infância todas as estruturas físicas crescem e se desenvolvem, inclusive a laringe, trato vocal, dentre outras,
e a maioria das pessoas inicia sua transição na fase adulta.
A não conformidade da voz com a expressão do Originalmente criado por autoras da Austrália e
gênero pode gerar sentimentos de inadequação, Canadá, já foi traduzido e validado em diversos idiomas.
tendo um potencial impacto psicossocial. 29 O Recentemente foi renomeado como Trans Woman
relato de evitação de situações de comunicação Voice Questionnaire (TWVQ), embora não tenha
oral e uso da voz é comum entre pessoas trans, 13 havido modificações em seu conteúdo. 30 No Brasil,
além de sentimentos negativos resultantes de não usa-se a versão traduzida em português brasileiro.31
terem vozes representativas de suas identidades. Até o momento, não existe um instrumento similar
A área da voz tem mostrado diversos instrumentos voltado aos homens trans, entretanto, uma publicação
que mensuram o impacto de alterações ou recente apresenta resultados otimistas de uma
modificações vocais em distintas populações. O adaptação do questionário para este grupo. 32
Transsexua/ Voice Questionnaire Ma/e-to-Fema/e O que se sabe, contudo, é que as modificações
(TVQMtFJ é um questionário de autoavaliação para vocais, que ocorrem no homem durante e após a
as mulheres trans indicaremo impacto relacionado transição, melhoram o bem-estar e qualidade de
à voz em seu cotidiano. 25 vida e reduzem a ansiedade. 33
O uso de hormônios tende a impactar mais hormonal tem pouca ou nenhuma atuação na
diretamente a voz dos homens trans, uma vez que laringe, que cresceu e se desenvolveu sob ação da
o uso da testosterona provoca o espessamento testosterona durante a adolescência/muda vocal,
das pregas vocais. 23 Além disso, a laringe também resultando num maior arcabouço laríngeo, maior
desce durante a puberdade, resultando em um ângulo de cartilagem tireóidea e maiores pregas
trato vocal maior e mais longo, 34 resultando uma vocais. Por esta razão, a feminilização da voz e fala
voz mais grave. Nas mulheres transe travestis, por torna-se ainda mais desafiadora para elas. 23
outro lado, a intervenção
O principal marcador sexual na voz está relacionado Neste processo conhecido como muda vocal, os
à frequência fundamental (F0), parâmetro acústico meninos costumam apresentar uma voz mais
que revela o número de ciclos que as pregas grave, com pouca estabilidade nos agudos e mais
vocais fazem em um segundo. 35 Sua medida é estabilidade nos graves, e há a redução da frequência
dada em hertz (Hz) e é influenciada tanto pelo fundamental em aproximadamente oito notas. 37
comprimento, massa e tensão das pregas vocais. 36 Ao entrar na fase adulta, os caracteres sexuais
Durante a infância, a F0 não apresenta diferenças secundários, incluindo a voz, estão mais estáveis.
significativas entre meninos e meninas. Entretanto, Os valores de normalidade para a F0 em homens
a partir da adolescência os hormônios agem em eis adultos é de 80 a 150 Hz e para mulheres 150
todo o organismo, resultando em uma gradativa a 250 Hz. 36
redução da F0 em ambos, que tende a ser mais
evidente nos meninos. 36
,,.,,
NAO SE ENGANE!
A frequência fundamental não é o único
parâmetro que contribui para a percepção
de gênero. Os aspectos prosódicos da
fala, ou seja, a velocidade de fala, a
intensidade, a entonação da fala, o ritmo,
além da qualidade vocal, ressonância,
dentre outros parâmetros, também.
Por isso, esse material discorrerá não
a penas sobre as intervenções que
modificam a FO. Mas atenção! Você
poderá encontrar pessoas trans
que desejam vozes ambíguas, ou
seja, com uma FO dentro da faixa
de transição entre o feminino e
masculino.
Existem dois tipos de cirurgia laríngea para estes casos, uma relacionada à estética (condroplastia) e a
outra para elevar a FO da voz (fonocirurgias).
, -
POSSIVEIS COMPLICAÇOES
Embora possa parecer simples, a condroplastia é um desafio para o ORL, pois se a
ressecção da cartilagem for muito conservado ra, a cliente pode ficar insatisfeita com
o resultado, ao passo que, se a ressecção for excessiva, pode desestabilizar o tendão
da comissura anterior e tornar a voz mais grave, 43 efeito tota lmente indesejável para
essas mulheres. Ainda em re lação às possíveis complicações, as mais comuns são:
odinofagia,
-- .
o, arnlJas.dever,n apresenra nr~sollJção,entre 2:20 dias,
rouquidã~
_,. . '. . ·'
r.e$i:2ecriyamente/ l:4 l;stes autores também "Cit~m :gwe; ~n:ibo r.~.seja mais ;• r.aro, o ·
laring0esr:2asr.no góde ocót'Te~ eh;-i algUr.1s casos.llil
Existem dois tipos de cirurgia laríngea para estes casos, uma relacionada à estética (condroplastia) e a
outra para elevar a F0 da voz (fonocirurgias).
POSSIVEIS COMPLICAÇOES
, -
Como toda cirurgia, podem ocorrer algumas complicações para cada técnica de
Existem dois tipos de cirurgia laríngea para estes casos e o primeiro deles está relacionado à estética.
Homens trans podem recorrer a procedimentos que proporcionem uma aparência cérvico-facial masculinizada.
Embora não seja muito comum, há relatos recentes de homem trans submetido à masculinização da
cartilagem tireóide, proporcionando a proeminência laríngea, utilizando sua própria cartilagem de costela. 77
O segundo tipo de cirurgia laríngea para essa população é para redução da FO.
•
apontam que as publicações sobre a voz de homens
trans revelam dados superficiais, 8º· 81 pois apesar
da testosterona reduzir a FO, isso não significa que
é suficiente para que seja considerada dentro do
esperado para homens eis ou que haja satisfação
do próprio falante ou ainda, que ele tenha sua voz
reconhecida pelo outro como masculina.ªº
FONOCIRURGIAS
Embora não seja a primeira opção, aqueles que se encontram insatisfeitos com o pitch vocal podem
ser submetidos a procedimentos cirúrgicos, tanto para modificar o arcabouço laríngeo, 82 quanto para
aplicação de substâncias biocompatívies, tais como gel injetável de carboximetilcelulose, gordura autóloga e
hidroxiapatita de cálcio nas próprias pregas vocais. 83•84 Vejas as principais características no quadro a seguir:
Homens trans também podem ter sua Há também os casos em que, mesmo após anos de
passabilidade afetada por causa da voz. 79 •85 harmonização, haja insatisfação vocal, sendo indicado
Por isso, podem realizar ajustes vocais intuitivos o atendimento fonoaudiológico, 87 principalmente
para deixar a voz mais grave, provavelmente antes de recorrer a procedimentos cirúrgicos. Diante
utilizando tensão muscular excessiva. 81 Este autor deles, é recomendada a intervenção fonoaudiológica
também cita a utilização de faixas peitorais/coletes após uma semana da tireoplastia tipo 111.88
compressores (binders) para ocultar as mamas,
que podem afetar a respiração e a fonação. 81
Muitos podem relatar fadiga vocal, instabilidade
vocal, tensão, rouquidão, problemas na projeção
da voz. 86
O QUE FAZER?
O alongamento do trato vocal pode ser um dos O atendimento fonoaudiológico também
objetivos do atendimento fonoaudiológico, seja pode lançar mão de técnicas que melhorem
por meio de exercícios vocais que promovam a extensão vocal, promovam o ajuste da
o abaixamento laríngeo, seja com a terapia loudness, projeção vocal, resistência vocal, por
manual laríngea. 89 Outras estratégias para meio dos sons facilitadores e com articulação
desenvolver uma voz mais grave também dos órgãos fonoarticulatórios e de fala. 93
podem ser por meio de exercícios específicos Com relação aos demais parâmetros vocais,
respeitando a vontade e necessidades do não há clara evidência da contribuição da
paciente. 90 Dentre eles, destaca-se a emissão intensidade, articulação e velocidade de
de sons nasais, fricativos ou vibrantes fala na percepção de gênero na voz e fala. 94
em escalas ou glissandos descendentes. 91 Embora não haja na literatura descrições sobre
Com relação à entonação, não é indicado o as técnicas utilizadas e a dimensão de seu
desenvolvimento de um padrão monótono impacto na voz e comunicação de homens trans,
de fala e sim, redução das inflexões diante do exposto, é possível constatar que a
ascendentes e favorecer as descendentes. 91 •92 Fonoaudiologia pode melhorar a qualidade de
vida e comunicação de homens trans.
É importante dizer que as cirurgias abordadas podem O necessário é, seguindo-se os preceitos da WPATH,18
ser realizadas também em homens e mulheres eis, conhecer as especificidades dessa população, ter
nas mais diversas condições clínicas. Dessa forma, uma compreensão básica da saúde trans, incluindo
profissionais da ORL precisam ter experiência na área tratamentos hormonais e cirúrgicos para feminilização/
da Laringologia, especialmente cirurgias laríngeas masculinizaçâo; familiaridade e sensibilidade como
e não "especializado no processo transexualizador'' a utilização do pronome de gênero e o nome social,
ou "especialista em pessoas trans" - aliás essas sem dúvidas, é recomendado.
especializações não existem!
Com base na recente publicação de Klein, Paradise, Goodwin 96, apresentamos orientações práticas para
o seu dia a dia:
❖ Trate todas as pessoas com empatia, respeito ❖ Não tenha medo de dizer algo parecido com
e dignidade; "Embora eu tenha uma experiência limitada
em cuidar de pessoas de gênero diverso,
❖ Informe-se sobre terminologia desconhecida
é importante para mim que você se sinta
para evitar falhas de comunicação e
seguro(a) em minha prática, e trabalharei duro
discriminações;
para lhe dar o melhor atendimento possível";
❖ Respeite e use o nome social e pronome de
❖ Evite impor uma visão binária de identidade de
tratamento em qualquer circunstância. Oriente
gênero, orientação sexual, desenvolvimento
a equipe da instituição onde trabalha a fazer
sexual ou expressão de gênero;
o mesmo - recepcionistas, agentes de limpeza
e segurança, demais colegas que atendem no ❖ Profissionais de saúde também podem
seu local de trabalho; considerar a defesa de pacientes transgêneros
em sua comunidade. Eventualmente poderão
❖ Nunca pergunte e oriente a equipe a não
acontecer "piadas" e comentários por parte de
perguntar ou expor o nome de nascimento/
outros colegas. Talvez seja uma oportunidade
nome civil. Use apenas o nome social e para
para propor reflexões;
isso, basta perguntar como a pessoa deseja ser
chamada. ❖ Esteja ciente de que as intervenções para
mudar a identidade de gênero são antiéticas;
❖ Os formulários de admissão podem ser
atualizados para incluir linguagem neutra. ❖ Todos nós temos diversos preconceitos; avalie
Ex: Ao invés de escrever ou direcionar como os seus e procure formas de se reconstruir e
senhor/senhora, use "você", que não evidencia quebrá-los. Peça à sua equipe para realizar
gênero. uma avaliação pessoal dos preconceitos
internos também. Tudo começa com a
❖ Ainda sobre os formulários de preenchimento,
conscientização;
é possível identificar a identidade de gênero
escolhida e sexo atribuído no nascimento para ❖ Pessoas trans geralmente têm altas taxas de
ajudar a identificar pacientes trans; diagnósticos de saúde mental, 97 mas nem
sempre a saúde mental de um paciente é
❖ Busque construir relacionamento e confiança
secundária à sua identidade de gênero. Evite
fornecendo cuidados sem julgamento;
suposições!
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Participativa. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais [Internet].
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Translation.pdf
DATAS IMPORTANTES
29 de janeiro
Dia da Visibilidade Trans
Bdemarço
Dia Internacional da Mulher (não se esquecer das mulheres trans)
24 de junho
Dia de Ação Transpor Justiça Social e Econômica
28 de junho
Dia do Orgulho LGBT
23 de outubro
Dia Mundial de Luta Contra a Patologização da Transexualidade
19 de novembro
Dia Internacional do Homem (não se esquecer dos homens trans)
20 de novembro
Dia da Memória Transgênero