Concepções de Linguagem
Concepções de Linguagem
Concepções de Linguagem
É comum dizer que a linguística estrutural começa em 1916, na Europa, com a publicação
do Curso de Linguística Geral, de Ferdinand Saussure. As ideias póstumas de Saussure
são consideradas como um divisor da águas no estudo científico da linguagem; ao
considerar a língua como sistema bem organizado, Saussure contribui, relevantemente,
para o desenvolvimento da análise linguística.
Segundo Saussure (2006), o estudo da linguagem comporta duas partes: uma tem por
objeto a língua (langue) e outra, a fala (parole); assim, a primeira seria social em sua
essência, em contrapartida à segunda que se apresenta como parte individual da
linguagem.
A partir desses postulados Saussure elege seu objeto de estudo: a língua, considerada
como um sistema de signos formados pela união do sentido e da imagem acústica. Sentido
enquanto conceito, ideia, significado; imagem acústica pensada como impressão psíquica,
não como um som materializado, seria o significante. Assim sendo, Saussure demarca que
esse dois elementos constituintes do signo “estão intimamente unidos e um reclama do
outro” (SAUSSURE, 2006, p. 80). Ou seja, são interdependentes, pois a existência de um
compromete a existência do outro.
Para o autor, “o laço que une o significante e o significado é arbitrário” (SAUSSURE,
2006, p.81). Essa arbitrariedade do signo linguístico é resultante da não relação necessária
entre a ideia (significado) e a sequência de sons (significante). Em outras palavras,
Saussure argumenta sua tese a partir das diferenças entre as línguas, da possibilidade de
um significado ser representado por vários significantes.
Desse modo, o pensamento saussuriano, no que tange à teoria do signo linguístico,
gerou ressonância a novos estudos e teorias. Outrossim, a vitalidade do pensamento desse
estudioso parece renascer à medida que se multiplicam as pesquisas e trabalhos de
interpretação.
El nexo que une ambos (ste e sto) no es arbitrario; es necesario. El concepto [“significado”]
“buey” es por fuerza idéntico en mi conciencia al conjunto fónico [“significante”] bwéi. Cómo
iba ser de otra manera? Uno y outro, juntos, se han impreso em mi mente, y juntos se
evocam em toda circuntancia.
De acordo com Brandão (1995, p.09), Bakhtin privilegia a enunciação enquanto realidade
da linguagem: “A matéria linguística é apenas uma parte do enunciado; existe também uma
outra parte, não – verbal, que corresponde ao contexto da comunicação”. Trata-se de uma
visão de linguagem como interação social, sendo que o outro desempenha papel
fundamental na constituição do significado. A idéia bakhtiniana é integrar o ato de
enunciação individual num contexto mais amplo, a fim de revelar relações intrínsecas entre
o linguístico e o social; haja vista que limitar-se ao estudo interno da língua não seria tarefa
de um linguista que intenta dar conta do seu objeto.
Brandão ainda assinala que para Bakhtin a linguagem é plurivalência, no sentido de que
ela é o lugar de manifestação ideológica; logo, a palavra é o signo ideológico por
excelência, produto de interação, por isso retrata as diferentes formas de significar a
realidade. Dialógica por natureza, “a palavra se transforma em acessa luta de vozes” (p.09).
Consequentemente, a linguagem não pode ser compreendida como entidade abstrada.
Segundo Faraco (2009, p.104), a presença constitutiva da linguagem é marca
característica dos textos bakhtinianos posteriores a 1926. Esta aparece como atividade e
não como sistema, e o enunciado como ato singular, irrepetível, situado concretamente.
Reconhecendo que a questão “linguagem” se centralizava nos debates de intelectuais,
Bakhtin expõe a possibilidade de haver duas disciplinas distintas para o estudo da
linguagem verbal: a linguística - para estudo gramatical - e a translingíistica ou
metalinguística - para estudo das práticas sócio-verbais concretas, das relações dialógicas.
Grosso modo, esse estudioso demostra que o objeto de seu interesse seria a lingua em sua
totalidade concreta e viva.
É possível perceber que Bakhtin dialoga positivamente com a linguística. Em outros
termos, ele não põe a linguística em questão, considera as abstrações operadas como
legítimas, justificáveis; todavia, em suas reflexões, percebe a insuficiência da linguística
para o estudo da comunicação verbal. Partindo disso, esse estudioso apresenta seus
construtos sobre língua (gem) embasado no princípio dialógico.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução de Maria Ermantina Galvão G. Pereira. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 8 ed. São Paulo: Hucitec,
1997.
BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. 4 ed. Campinas: UNICAMP, 1995.
CARVALHO, C. de. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
FARACO, C. A.. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
JOBIM E SOUZA, Solange. Infância e linguagem: Bakhtin, Vigotsky e Benjamin. Campinas, SP: Papirus, 1994.
MARCUSCHI, L. A.. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
SAUSSURE, F. de. Curso de linguítica geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e Isidoro Blikstein. 28 ed. São
Paulo: Cultrix, 2006.