Módulo 01 - Mudança Do Clima Noções Gerais
Módulo 01 - Mudança Do Clima Noções Gerais
Módulo 01 - Mudança Do Clima Noções Gerais
Módulo
1 Noções Gerais
Brasília - 2017
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Francisco Gaetani
Conteudistas (2015)
Mônica Santos da Conceição
Eagles Muniz
Thiago Mendes
Conteudista revisora (2017)
Marcela Cardoso Guilles da Conceição
© Enap, 2017
1. Boas-Vindas..................................................................................................................... 5
2. Introdução....................................................................................................................... 6
3. Efeito Estufa.................................................................................................................... 7
3.1 Histórico............................................................................................................................... 7
1. Boas-Vindas
Olá! Seja muito bem-vinda(o) ao curso Impactos da Mudança do Clima para a Gestão
Municipal.
É um prazer ter você conosco e poder contribuir para a construção de seu conhecimento
acerca deste assunto.
O curso está direcionado principalmente aos governos estaduais e locais, podendo facilitar
a incorporação da questão da mudança do clima no processo de planejamento fiscal e
orçamentário.
5
2. Introdução
Mudança do clima...
Efeito Estufa...
Não há dúvida que exploraremos assuntos vitais para a nossa vida e a vida do planeta, não é
mesmo? Por isso, vamos conversar sobre: aspectos importantes do efeito estufa; dois princípios
fundamentais da Convenção-Quadro (Princípio da Precaução e Princípio das Responsabilidades
Comuns, mas diferenciadas); e Protocolo de Quioto. Veremos também os graves impactos da
mudança do clima e o que os Relatórios de Avaliação do IPCC nos dizem sobre o tema.
6
3. Efeito Estufa
Os gases de efeito estufa (GEE) existem naturalmente na atmosfera e são responsáveis por
manter a Terra mais quente do que ela seria sem a existência desses gases. Os principais
GEEs naturais são o vapor d›água, o dióxido de carbono (CO2), o ozônio (O3), o metano (CH4)
e o óxido nitroso (N2O).
Mas as ações provenientes das atividades humanas - como a geração de energia, a produção
agrícola e a urbanização - têm acentuado a concentração desses gases na atmosfera, gerando
um aumento na absorção do calor.
Junto com o modelo de produção e consumo, iniciados pela Revolução Industrial, houve uma
intensificação das emissões desses gases por ações humanas. Por causa do longo tempo
que os gases de efeito estufa permaneceram na atmosfera, as emissões históricas desses gases
trazem um grande impacto na concentração atual de GEE. O aumento dessa concentração
reflete a ampliação dos padrões de consumo das sociedades.
3.1 Histórico
Vamos entender o que aconteceu com o efeito estufa ao longo do tempo? Veja na imagem a
seguir como isso ocorreu.
7
Figura 2- Aumento do Dióxido de Carbono
Em 1988, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (PNUMA) estabeleceram o IPCC, a fim de fornecer informações científicas,
técnicas e socioeconômicas relevantes para o entendimento da mudança do clima, para a
sociedade e para os formuladores de políticas.
O conhecimento científico produzido pelo IPCC é demonstrado por meio de seus relatórios,
os Assessment Reports (ARs) – Relatórios de Avaliação. O 1º relatório foi emitido em 1990; o
2º, em 1995; o 3º, em 2001; o 4º, em 2007 e o 5º, em 2014.
Mais informações sobre o IPCC, podem ser obtidas nos endereços abaixo:
http://ipcc.ch/index.htm
http://www.ipcc.ch/organization/organization.shtml#.Unkh83k_1c8
http://aquecimentoglobal.info/co2-aumenta-taxa-recorde-408-ppm-2016
http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,concentracao-de-gases-atinge-
recorde-e-onu-anuncia-nova-era-climatica,10000083955
https://public.wmo.int/en/media/press-release/climate-breaks-multiple-records-2016-
global-impacts
https://www.theguardian.com/environment/2016/oct/24/new-era-of-climate-change-
reality-as-emissions-hit-symbolic-threshold
Adicional ao CO2, outros gases com propriedades similares de reter calor foram criados por
causa de diversas atividades econômicas e passaram a ser lançados intensamente na atmosfera.
8
A mudança do clima é comumente chamada de aquecimento global porque uma das
consequências mais prováveis da existência de concentrações maiores de GEE na atmosfera
é o aumento da temperatura média da superfície do planeta. Mas o aumento de temperatura
traz outros efeitos igualmente importantes, podendo provocar novos padrões de ventos,
chuvas e circulação dos oceanos.
Nesse encontro, foi adotada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,
assinada durante a “Cúpula da Terra”. O Brasil foi a primeira Nação a assinar a Convenção, a
qual entrou em vigor no país em 1994, depois de ser ratificada pelo Congresso Nacional.
A seguir, veremos um pouco mais sobre o tema.
9
Princípio da Precaução
Diz que a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para que os países
posterguem a adoção de medidas para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança do
clima e mitigar seus efeitos negativos.
Para entender melhor esse conceito, imagine o seguinte: 200 amigos marcaram uma
confraternização em um restaurante, em um horário específico. Porém, 40 colegas resolveram
chegar quatro horas antes do combinado e iniciaram o consumo de bebidas e alimentos
bastante caros.
Baseado nesses princípios, a Convenção prevê que os países desenvolvidos devem tomar a
iniciativa no combate à mudança do clima e aos seus efeitos. Ou seja, a responsabilidade do
aquecimento global e seus efeitos sentidos hoje é daqueles países que tiveram seu processo
de industrialização desde a Revolução Industrial.
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima também observa que:
• A maior parcela das emissões globais, históricas e atuais, de gases de efeito estufa é
originária dos países desenvolvidos e ainda representam a maior parcela das emissões
globais;
10
No âmbito da Convenção, com base no princípio das responsabilidades comuns, mas
diferenciadas, foram estabelecidos, basicamente, dois grupos de países: as Partes do Anexo
I, ou seja, países que são listados no Anexo I do texto da Convenção, e as Partes não Anexo I,
ou seja, que não são listadas no referido Anexo.
A lista de países do Anexo I é: Alemanha, Austrália, Áustria, Belarus*, Bélgica, Bulgária*,
Canadá, Comunidade Europeia, Croácia*, Dinamarca, Eslováquia*, Eslovênia**, Espanha,
Estados Unidos da América, Estônia*, Federação Russa(a), Finlândia, França, Grécia, Hungria*,
Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Letônia*, Liechtenstein**, Lituânia*, Luxemburgo, Mônaco**,
Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Polônia*, Portugal, Reino Unido da Grã-Bretanha e
Irlanda do Norte, República Tcheca**, Romênia*, Suécia, Suíça, Turquia, Ucrânia*.
** Nota do Editor: Países que passaram a fazer parte do Anexo I mediante emenda que entrou
em vigor no dia 13 de agosto de 1998, em conformidade com a decisão 4/CP.3 adotada na
COP3.
Agora vamos falar acerca de algumas COPs já realizadas. Daremos uma visão geral e seus
principais desdobramentos. A seguir, observe o conteúdo acerca das COP 1, 3, 15, 17, 18, 19,
20 e 21.
COP1: Após a implementação de fato da Convenção, em 1994, a primeira COP foi realizada
em Berlim, no ano seguinte. Nessa primeira reunião, já foi possível identificar que estava
ocorrendo um aumento das emissões e que a meta inicial de redução das emissões proposta
para os países desenvolvidos não seria suficiente. A solução proposta, então, foi de “atividades
implementadas conjuntamente”, presente no documento chamado de “Mandato de Berlim”
(UNFCCC, 1995).
11
O Brasil apresentou um protocolo em resposta ao Mandato de Berlim, conhecido como
“Proposta Brasileira”, que propunha:
COP3: A Proposta Brasileira, apresentada em Berlim, não foi integralmente aceita pelos países
desenvolvidos, mas forneceu subsídios para a negociação internacional e foi a precursora da
mais conhecida decisão da COP até hoje: o Protocolo de Quioto. Essa decisão foi tomada na
COP3, na cidade japonesa de Quioto, em dezembro de 1997. No entanto, diferente da Proposta
Brasileira, para o Protocolo de Quioto, não foi usado um critério objetivo de diferenciação dos
compromissos quantificados de redução de emissões (UNFCCC, 1998).
No entanto, apesar de suas metas modestas, o Protocolo de Quioto foi o primeiro acordo
legalmente vinculante de redução de emissões de gases de efeito estufa e criou três importantes
mecanismos para os países industrializados alcançarem suas metas individuais de limitação ou
redução (parcerias entre países para criação de projetos responsáveis ambientalmente; direito
dos países desenvolvidos obterem créditos de nações pouco poluentes; e criação do MDL).
• As ações de mitigação tomadas ou previstas pelos países não Anexo I, incluindo seus
inventários nacionais de emissões antrópicas de gases de efeito estufa, devem ser
comunicados à UNFCCC a cada dois anos;
12
Protocolo de Quioto, a partir de primeiro de janeiro 2013. Assim, juridicamente, os mecanismos
de Quioto, como o MDL, também estarão válidos para o segundo período de compromisso.
A decisão acerca da data de término (2020) e dos números das metas dos países do Anexo I,
no segundo período de compromisso, foi definida na COP18-CMP8.
COP18: Entre novembro e dezembro de 2012, em Doha (Catar), durante a 18ª Conferência das
Nações Unidas sobre Mudança do clima, ocorreu a 8ª Conferência das Partes na qualidade de
Reunião das Partes no Protocolo de Quioto (CMP). Desse encontro, participaram 193 países
com o objetivo principal de realizar um acordo final a fim de orientar as metas de redução de
emissões de GEE para os países do Anexo I em seu segundo período de compromisso (iniciado
em 2013 e acordado de ser finalizado até o ano 2020).
O texto final intitulado “O chamado de Lima para a ação para o clima” aponta os elementos
principais do próximo acordo global do clima, a ser detalhado e, posteriormente, aprovado no
fim de 2015, durante a COP 21, em Paris. Sua versão final deixa claro que as responsabilidades
entre os países são diferenciadas. Se aprovado, seu conteúdo passará a vigorar a partir de
2020.
Esse chamado foi um passo relevante para construir um acordo com o objetivo de alcançar a
participação universal e melhorar ainda mais a implementação plena, efetiva e sustentada dos
princípios e disposições da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
e seus compromissos, reforçando o regime multilateral no âmbito da Convenção, a fim de
alcançar seu objetivo conforme estabelecido no seu artigo 2º.
Todas as partes devem se esforçar para alcançar uma economia e sociedade resilientes e
de baixa emissão de GEE, com base na equidade e de acordo com suas responsabilidades
históricas, suas responsabilidades comuns, mas diferenciadas e respectivas capacidades, a fim
de alcançar o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza e prosperidade para o
benefício das gerações presentes e futuras da humanidade.
13
mudanças climáticas, bem como reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O Acordo de
Paris foi ratificado por 147 partes da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima, mais União Europeia.
O principal objetivo do Acordo de Paris é manter o aumento da temperatura média global bem
abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, aumentando esforços para limitar essa
elevação da temperatura a 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais.
Lembrando sempre que esse Acordo será implementado de modo a refletir equidade e o
princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas e respectivas capacidades,
conforme as diferentes circunstâncias nacionais.
Mas, no dia 01 de junho de 2017, o então presidente Donald Trump dos EUA anunciou a saída
dos EUA do Acordo de Paris. A Secretaria da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas lamentou a saída do país e fez ressalvas sobre a intenção anunciada de
renegociar as modalidades para essa participação, colocando-se pronta para dialogar com o
governo dos Estados Unidos quanto às implicações desse anúncio.
A saída dos EUA do Acordo poderá influenciar o cumprimento de redução das emissões de GEE,
em longo prazo. Os EUA são o segundo maior emissor de gases depois da China, respondendo
por 18% do carbono lançado na atmosfera terrestre.
No entanto, o Acordo de Paris continua a ser um tratado histórico assinado por 195 Partes e
ratificado por 146 países, mais a União Europeia. Portanto, não pode ser renegociado com
base no pedido de uma única Parte.
14
Para saber mais sobre o assunto, acesse os endereços:
COP1: http://unfccc.int/documentation/decisions/items/2964.php
COP3: http://unfccc.int/meetings/kyoto_dec_1997/meeting/6378.php
http://unfccc.int/cop3/
http://unfccc.int/meetings/doha_nov_2012/session/7050/php/view/decisions.php
COP15: http://www.cop15.gov.br/pt-BR/index.html
http://unfccc.int/meetings/copenhagen_dec_2009/session/6262/php/view/documents.php
COP18: http://proclima.cetesb.sp.gov.br/conferencias/negociacoes-internacionais/
conferencia-das-partes-cop/cop-18-mop-8-doha-catar-novembro-dezembro-2012/
http://unfccc.int/key_steps/doha_climate_gateway/items/7389.php
COP20: http://unfccc.int/meetings/lima_dec_2014/meeting/8141.php
http://unfccc.int/meetings/lima_dec_2014/session/8532.php
COP21: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/mundo/noticia/2017/06/saida-dos-eua-
do-acordo-de-paris-nao-tera-impacto-significativo-dizem-especialistas-9805748.html
http://newsroom.unfccc.int/unfccc-newsroom/unfccc-statement-
on-the-us-decision-to-withdraw-from-paris-agreement/
https://nacoesunidas.org/cop21/
http://unfccc.int/paris_agreement/items/9444.php
http://newsroom.unfccc.int/paris-agreement/
http://unfccc.int/paris_agreement/items/9485.php
6. Protocolo de Quioto
15
Para auxiliar os países Anexo I a cumprirem suas metas de redução de emissão, foram criados
os Mecanismos de Flexibilização do Protocolo de Quioto. São eles:
Comércio de Emissões: quando um país Anexo I já cumpriu com sua meta de redução de
emissão, pode comercializar o excedente de suas reduções com outro país Anexo I.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é visto por muitos como um pioneiro sistema
global de investimento e crédito ambiental, com um instrumento normalizado de compensação
de emissões, RCE. O MDL estimula o desenvolvimento sustentável e as reduções de emissões,
ao mesmo tempo que dá aos países industrializados alguma flexibilidade na forma como eles
atingem seus objetivos de redução ou limitação de emissões.
16
Quer conhecer mais os projetos desenvolvidos pelo Brasil e acompanhar outros projetos
pelo mundo? Acesse o endereço: https://cdm.unfccc.int/
Você sabe dizer o que significa os conceitos: adicionalidade, leakage (fuga) e pemanência?
Adicionalidade
De acordo com a Decisão 3/CMP.1, a Linha de Base define-se como o cenário que representa,
de forma plausível, as emissões antrópicas por fontes de gases de efeito estufa que ocorreriam
na ausência da atividade de projeto proposta.
Adicionalidade significa que o projeto ou uma ação não poderia ser realizada sem o apoio
específico vinculado à mitigação de emissões. Consiste na redução de emissões de gases de
efeito estufa ou no aumento de remoções de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na
ausência de tal atividade.
Gráfico 1 – Adicionalidade
Fonte: JICA, 2006.
Falando de forma mais simples: a adicionalidade diz respeito a uma atividade que ocorreria
de forma adicional ao que já ocorre (linha de base) na ausência de uma atividade ou projeto.
Por exemplo: a coleta de lixo de uma cidade pode ser considerada a linha base, e a aplicação
da coleta seletiva de lixo é adicional à coleta de lixo. Observe que a coleta seletiva é uma
adicionalidade ao que já ocorre (coleta de lixo).
17
Em MDL, o critério da adicionalidade está previsto no artigo 12, parágrafo 5º, alínea (c) do
Protocolo de Quioto, sendo definida como: “(c) Reduções de emissões que sejam adicionais as
que ocorreriam na ausência da atividade certificada de projeto”.
A Decisão 3/CMP.1, parágrafo 43, prevê que “a atividade de projeto no âmbito do MDL será
adicional se reduzir as emissões antrópicas de gases de efeito estufa por fontes para níveis
inferiores aos que teriam ocorrido na ausência da atividade de projeto registrada no âmbito
do MDL”.
No entanto, quando outros benefícios financeiros existem, é preciso provar que o projeto não
seria implementado sem o auxílio dos recursos adicionais provenientes do MDL. Por exemplo,
uma usina hidrelétrica, que pode vender a eletricidade que produz. Se, do ponto de vista
econômico e financeiro, for mais interessante construir uma usina térmica, mas mesmo assim
o empreendedor optar por fazer uma usina hidrelétrica, motivado pelo MDL, o projeto pode
ser considerado adicional.
Caso no país exista uma atividade que reduza emissões de GEE e esta atividade for obrigatória,
ela não poderá ser registrada como atividade de projeto de MDL. Por exemplo, a exigência da
inclusão de 5% de biodiesel ao diesel brasileiro; porém, o uso superior a este percentual seria
considerado adicional.
Leakage (Fuga)
Outro conceito muito importante para qualquer ação de mitigação é o de fugas (leakage), que
podem ocorrer da aplicação da atividade pretendida. É o aumento de emissões de GEE que
ocorre fora do limite de projeto, ação ou política de mitigação que, ao mesmo tempo, seja
mensurável e atribuível a essa ação.
Permanência
O conceito de permanência está vinculado à garantia ou não de que o carbono estocado nas
florestas estará a salvo de pragas, desastres naturais ou intervenções humanas que poderão
devolver o CO2, outrora armazenado na atmosfera.
De acordo com o Guia de Orientação do MDL (FRONDIZI, 2009), o princípio de permanência
está relacionado às atividades de mudança no uso da terra e florestas.
Por tudo o que estudamos até aqui, até mesmo pela nossa experiência de vida, sabemos que
os impactos adversos à mudança do clima já são realidade; por isso, várias iniciativas brasileiras
estão sendo adotadas para enfrentar os desafios desse cenário.
Neste tópico, vamos conversar sobre duas ações inovadoras, realizadas na Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - Rio+20 e na Copa do Mundo de 2014,
quando empresas foram convidadas a fazerem doações para compensação das emissões de
gases de efeito estufa originadas nesses eventos.
18
8.1 R I O +20
Uma iniciativa inovadora, durante a Rio+20, foi a compensação das emissões de GEE originadas
na organização do evento. Pela primeira vez, o sistema de cancelamento voluntário de
Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) foi utilizado pela UNFCCC. A estratégia contou com
a doação voluntária por parte de indivíduos e empresas para compensar as emissões que não
puderam ser reduzidas em outras iniciativas.
Veja como funcionou: para compensar uma tonelada de Dióxido de carbono Equivalente
(CO2e), solicitou-se uma doação de 10 reais. Assim, ao final da conferência, mais de 45 mil
RCEs foram canceladas voluntariamente pela iniciativa junto ao sistema de registros do MDL/
Protocolo de Quioto.
http://www.rio20.gov.br/documentos.html
http://www.rio20.gov.br/
19
8.2 Compensação na Copa de 2014
http://www.mma.gov.br/governanca-ambiental/copa-verde
http://www.vermelho.org.br/noticia/245616-10
Outro tema relevante para gestores públicos é o de adaptação aos efeitos adversos da
mudança do clima, que se tornou uma preocupação mais evidente após a divulgação do 4º
relatório do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática – IPCC.
20
dos oceanos, o derretimento generalizado de neve e gelo e o aumento global médio do nível
do mar”. Também nesse relatório, o IPCC reconheceu que os países não Anexo I deverão ter
maiores dificuldades para lidar com os impactos decorrentes da mudança do clima, bem como
terão os maiores custos no que diz respeito a adaptação. Essa evidência foi confirmada no 5º
relatório do Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima – IPCC.
O relatório afirma que a forma mais efetiva de reduzir os riscos é evitar o aquecimento, ou
seja, reduzir as emissões de gases de efeito estufa (mitigar). No entanto, mesmo que as
emissões sejam reduzidas drasticamente, ainda há o risco de ocorrer impactos derivados das
emissões históricas acumuladas. A maneira de lidar com esses riscos é aumentar a resiliência
dos ambientes e das sociedades. Ou seja, tornar a sociedade adaptada aos possíveis impactos
da mudança do clima.
As populações mais pobres são as mais vulneráveis aos efeitos adversos na mudança do clima.
No entanto, essa parcela da população é a que menos contribuiu para a causa do problema,
por ter menos poder de compra. Muitos lugares do mundo, como a região semiárida do Brasil,
já sofrem com estiagens prolongadas, impossibilitando a agricultura de subsistência e o acesso
à água, colocando em risco a segurança alimentar dessas áreas.
Tendo em vista esse cenário e para auxiliar os países mais vulneráveis à mudança do clima, a
Convenção criou, em 2001, o Fundo de Adaptação (AF) para financiar projetos e programas
concretos de adaptação em países em desenvolvimento, Partes do Protocolo de Quioto. Esse
fundo ajuda mais de 140 países em desenvolvimento no mundo.
http://unfccc.int/cooperation_and_support/financial_mechanism/adaptation_fund/
items/3659.php
https://www.adaptation-fund.org/
http://www.unfoundation.org/how-to-help/donate/adaptation-fund.html?referrer=https://
www.google.com.br/
21
9.1 Plano Nacional de Adaptação
É claro, sabemos também que a maioria dos impactos afetará com maior intensidade as
regiões mais pobres, o que exigirá uma política de adaptação consistente e eficaz.
Sabendo disso, em 2016, o governo brasileiro lançou o Plano Nacional de Adaptação, elaborado
pelo governo federal em colaboração com a sociedade civil, setor privado e governos estaduais.
Em novembro de 2013, como um dos resultados da COP 19, ocorreu a criação do Mecanismo
Internacional de Varsóvia sobre Perdas e Danos. O Mecanismo conta com um Comitê
Executivo que responde à Conferência das Partes, com representação equilibrada entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento.
Esse mecanismo tem o papel de implementar abordagens de perdas e danos associados aos
efeitos adversos da mudança do clima, por meio das seguintes funções:
22
10. Consequências da Mudança do Clima
O IPCC mostra registros de uma considerável alteração no clima em escala global nos últimos
200 anos, fortemente relacionada ao aumento das atividades humanas emissoras de gases de
efeito estufa. Aponta ainda que as consequências do aumento de temperatura serão graves
para todos os seres vivos, incluindo o homem.
Como consequência desse aumento de temperatura, o IPCC (2013) prevê uma elevação do
nível do mar entre 26 cm, no melhor cenário, e 82 cm, na pior estimativa, durante o século
21 (a projeção de 2007 era de aumento do nível do mar entre 0,11m e 0,77m). Essa elevação
afetará significativamente os ecossistemas terrestres, as atividades humanas e a ocupação da
zona costeira brasileira.
Devido à inércia do sistema climático, mesmo depois da estabilização das emissões de gases
de efeito estufa, o nível do mar continuaria subindo durante vários milênios (FBMC, 2014).
Como já vimos, o Primeiro Relatório de Avaliação foi publicado em 1990; o Segundo, em 1995;
o Terceiro, em 2001; o Quarto, em 2007; e o Quinto, em 2014.
23
O IPCC está, atualmente, em seu sexto ciclo de avaliação. Durante esse ciclo, o Painel produzirá
três Relatórios Especiais, um Relatório de Metodologia sobre inventários nacionais de gases de
efeito estufa e o Sexto Relatório de Avaliação (AR6).
Na 43ª Sessão do IPCC, realizada em Nairobi, Quênia (11 a 13 de abril de 2016), o IPCC decidiu
elaborar um relatório especial sobre mudanças climáticas, desertificação, degradação da
terra, manejo sustentável da terra, segurança alimentar e fluxos de gases de efeito estufa em
ecossistemas terrestres.
Naquela ocasião, houve concordância de que o Relatório de Síntese AR6 seria finalizado em
2022, a tempo para o primeiro estoque global da UNFCCC, quando os países analisarão o
progresso em direção ao seu objetivo de manter o aquecimento global bem abaixo de 2 °C.
Para limitar a 1,5 °C, as três contribuições do Grupo de Trabalho para AR6 serão finalizadas em
2021.
Em sua 45ª Sessão, em Guadalajara, México (28 a 31 de março de 2017), o Painel aprovou o
esboço das Mudanças Climáticas e da Terra: um relatório especial do IPCC sobre mudanças
climáticas, desertificação, degradação da terra, manejo sustentável da terra, segurança
alimentar e Fluxos de GEE em ecossistemas terrestres. O relatório será finalizado em setembro
de 2019.
Fonte: http://www.ipcc.ch/publications_
and_data/ar4/syr/en/contents.html
24
Altíssima probabilidade de áreas do nordeste árido e semiárido do Brasil
serem especialmente vulneráveis aos impactos da mudança global do
clima nos recursos hídricos, com diminuição da oferta de água. Esse
cenário é ainda mais relevante se considerar o aumento esperado na
demanda por água em razão do crescimento populacional.
Independente dos cenários elaborados serem de baixas ou altas emissões de GEE, em média
há uma diminuição da área de floresta tropical e um aumento da área de savana. Para um
aumento de 2 °C a 3 °C na temperatura média, até 25% das árvores do cerrado e até cerca de
40% de árvores da Amazônia poderiam desaparecer até o final deste século2.
25
Em regiões que enfrentam escassez de água, como o nordeste do Brasil,
a população e os ecossistemas são vulneráveis a precipitações menos
frequentes e mais variáveis, por causa da mudança global do clima, o
que pode inclusive prejudicar o abastecimento da população e o
potencial agrícola dessa região (dificuldades na irrigação).
Os impactos futuros são analisados tendo como base diferentes cenários de emissão
de gases de efeito estufa, que não preveem medidas adicionais de combate à
mudança do clima ou maior capacidade adaptativa dos sistemas, setores e regiões
analisados. Além disso, não preveem medidas de mitigação nesse período.
26
Quer conhecer o que já se vem estudando sobre os impactos do clima na agricultura?
Acesse a pesquisa no endereço: http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/
pdfs/destaques/CLIMA_E_AGRICULTURA_BRASIL_300908_FINAL.pdf
Veja que as concentrações de CO2, observadas em 2011, aumentaram 40% desde os tempos
pré-industriais, principalmente devido às emissões decorrentes do uso de combustíveis
fósseis (IPCC, 2013). O 5º Relatório nos informa que, dependendo do cenário de evolução
do problema, cerca de 15% a 40% do carbono emitido permanecerá na atmosfera durante
1000 anos. Também afirma que o aquecimento do sistema climático é inequívoco e, desde a
década de 1950, diversas das mudanças observadas são sem precedentes sobre décadas e até
milênios, tais como:
Em março de 2014, o IPCC divulgou novo relatório (intitulado Mudança do Clima 2014:
Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade), informando que os efeitos da mudança do clima já
estão ocorrendo em todos os continentes e oceanos.
27
Veja, então, que o IPCC AR5 (2014) tem como principal mensagem a clareza da influência
humana sobre o sistema climático, gerando riscos de graves impactos em vários sistemas
do globo, mas que existem meios para limitar essa situação e projetar uma sociedade mais
sustentável.
Concluímos o Módulo 1, no qual compreendemos como ocorre o efeito estufa e como as ações
humanas contribuem com o aumento desse fenômeno. Inicialmente, vimos também que
mudança do clima é entendida como aquecimento global, mas também traz outros desafios
que vão além do incremento da temperatura, como o aumento da frequência e da intensidade
de secas, furacões, enchentes e tempestades.
28
relacionados a temperaturas muito altas ou muito baixas, e serão ampliadas a intensidade,
quantidade e frequência de chuvas.
É muita coisa para pensarmos com atenção e zelo, não é mesmo? Agora que já percebemos a
importância do que vimos até aqui, vamos nos encontrar no Módulo 2, para estudarmos a mitigação!
29