Comunicação Efetiva Sobrasp
Comunicação Efetiva Sobrasp
Comunicação Efetiva Sobrasp
profissionais
Autores: Beatriz de Freitas Junqueira; Elenara Ribas; José Antônio Ferreira Cirino; Sabrina
da Costa Machado Duarte; Tiago Chagas Dalcin (membros do GTT Comunicação,
Qualidade e Segurança do Paciente da SOBRASP)
Introdução
Identificar corretamente
Imagine que você está internado em um hospital, recebendo cuidados para uma
doença. Pode ser uma pneumonia, uma fratura no pé ou até mesmo um exame para
investigar uma dor que você vem sentindo. Os motivos para uma internação hospitalar são
quase infinitos, e todos são motivos que vêm acompanhados de algum grau de ansiedade.
Claro que se o motivo da internação for, por exemplo, um câncer, o nível de ansiedade e
estresse é bastante elevado. Pois imagine então que você está internado para tratar um
câncer e você está com acesso venoso no braço, um “caninho” no braço que os profissionais
de saúde utilizam para colocar um medicamento diretamente na sua veia.
Antes de prosseguir com essa pequena história, gostaríamos que você refletisse: “o
que nos diferencia dos mais de 8 BILHÕES de habitantes na terra?” (WORLDOMETER,
2023). Além da impressão digital, voz e olho (biometria da íris e da retina), você pode
responder: o nome completo! (GARCIA, 2009). Mas será que o nome completo realmente
nos torna únicos?
No Brasil, o censo demográfico de 2010 (IBGE, 2010) apurou que dos 200 milhões
de brasileiros que existiam na época, tínhamos mais de 11 milhões de Marias e mais de 5
milhões de Josés. Qual a chance de ter Marias e Josés com nomes homônimos, ou seja,
nomes e sobrenomes idênticos? (SERASA, 2023).
É por isso que quando somos identificados em algum serviço de saúde, o protocolo
de segurança orientado pelo Ministério da Saúde (2013) para identificação correta é utilizar
no mínimo dois identificadores, usualmente o nome completo e alguma outra informação
(por exemplo número do prontuário, data de nascimento ou nome da mãe).
Vamos prosseguir com a nossa história. Imagine que conectado naquele “caninho” no
seu braço está uma bolsa de algum líquido que você não entendeu bem para que serve,
mas que disseram que era importante para o tratamento. Essa bolsa está ainda conectada
a um aparelho que regula a velocidade que o líquido entra no seu corpo. Você está lidando
com todas as dificuldades da doença, do diagnóstico recém realizado, das preocupações e
incertezas quanto ao tratamento, com muitos medos. E eis que entra no seu quarto hospitalar
uma pessoa de roupa branca. Ela até parece simpática, mas você não a viu antes. Ela entra,
higieniza as mãos e altera o número que estava no aparelho de 10 para 20, e sai do quarto.
Mais tarde, outra pessoa entra, que você também não viu antes, retira a bolsa e sai do
quarto. E você fica pensando: “quem são essas pessoas que mexeram nessa bolsa e eu
nem sei o nome delas e nem o que elas são?”.
Foi por algo parecido que a médica Kate Granger passou durante uma internação
hospitalar em 2013 na Inglaterra. Ela estava tratando um câncer e observou que os
profissionais de saúde estavam falhando em algo básico da comunicação: a apresentação!
Ela reclamou com seu marido e ele disse “pare de reclamar e faça alguma coisa”. E assim,
dessa vontade de fazer alguma coisa a respeito, nasceu a campanha “Hello my name is”
(2023).
Medicação segura
As lesões por pressão (LP) resultam da pressão sobre determinada área do corpo,
sendo relacionadas a combinação de fatores mecânicos, bioquímicos e fisiológicos,
intrínsecos e/ou extrínsecos, de maneira que, quando a pressão aplicada sobre determinada
área é prolongada, ocorre uma cadeia de eventos celulares e vasculares que podem levar à
necrose tecidual (FIGUEIRA et al, 2021).
Neste sentido, cabe destacar as quedas e as lesões por pressão como eventos
adversos evitáveis que podem ser relacionados aos erros de comunicação. Nas instituições
hospitalares, as quedas possuem uma prevalência de 30 a 40% (REBELO et al, 2021), e as
lesões por pressão, de 21% (REBOUÇAS et al, 2020), representando um importante
problema para o sistema de saúde com aumento da morbimortalidade, do tempo de
internação e de custos.
Considerações
A comunicação desempenha um papel central nas interações entre instituições de
saúde, profissionais, pacientes e familiares, sendo essencial para a segurança do paciente.
A análise de aspectos comunicacionais vai além da tradicional abordagem da comunicação
efetiva, como ilustrado no exemplo da identificação correta do paciente. A campanha "Hello,
my name is" destaca a importância da apresentação pessoal como um ato básico de
comunicação que estabelece uma conexão humana fundamental. Esse exemplo clarifica
como detalhes comunicacionais simples podem ter um impacto profundo na experiência do
paciente.
A higienização das mãos e a prevenção de quedas e lesões por pressão são metas
adicionais que ressaltam a importância da comunicação na promoção de práticas seguras.
Estratégias comunicacionais, como campanhas educativas, treinamentos práticos e o uso
de materiais visuais são destacadas para garantir a conscientização e a adesão a essas
metas.
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