Esistindo À Globalização S Acabeus Neuza Silveira de Souza Maria de Lourdes Augusta
Esistindo À Globalização S Acabeus Neuza Silveira de Souza Maria de Lourdes Augusta
Esistindo À Globalização S Acabeus Neuza Silveira de Souza Maria de Lourdes Augusta
OS MACABEUS
Neuza Silveira de Souza
Maria de Lourdes Augusta
Resumo
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Abstract
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ISSN 1676-4951 Estudos Bíblicos, vol. 30, n. 120, p. 435-457, out/dez 2013
436
Keywords:
Introdução
Não é novidade para ninguém que, mundialmente, vivemos uma crise. Se
há consenso quanto ao diagnóstico, o mesmo não acontece no que diz respeito
às causas de tal crise e as possíveis alternativas de superação para a humanida-
de. Pela primeira vez na história, a abundância está em condições de vencer a
como contribuição
para não se iludir pela falsa alternativa da violência ou da inércia. Resistir é
lutar para se defender do sistema opressor e criar condições para se conseguir a
justiça e a paz. Neste sentido, a fé cristã nos provoca a sairmos da passividade
vida em todas as suas
dimensões.
Para o intento deste artigo, convidamos você, querido(a) leitor(a), a viajar
conosco até o período da história bíblica dos – período difícil e pouco
conhecido, porém fascinante por sua resposta teológica ao passado de Israel e
pelas provocações à fé nos dias de hoje: “Quem é o nosso Deus? Onde ele está?
O que ele quer?” E ainda por suas implicações éticas aos grupos sociais e parti-
dos políticos com seus interesses, ideologias, convicções e opções, de ontem e
de hoje. Assim sendo, ousamos propor uma leitura crítica de nossa história atual,
uma leitura com o espírito profético, cujo único critério de pensamento e de ação
é Javé e seu projeto.
-
dos e à homogeneização da economia mundial, segundo o modelo capitalista de
desenvolvimento”1
expresso no enorme poder do capital transnacional, em nível mundial, pelo po-
deroso avanço de tecnologias. Tal fenômeno aprofunda o abismo entre ricos e
pobres, provocando a marginalização e a exclusão social para grande parte da
produtivo.
valores culturais e sua forma de vida, nos territórios em que habitam. Expande-se
na América Latina o agrobusiness que, aos poucos, vai expulsando dos campos
os camponeses tradicionais, os quais buscam refúgio nas cidades, aumentando
1. IRIARTE, G. A globalização neoliberal: absolutização do mercado que a tudo coloniza. In: SOTER; AMERÍN-
DIA (Org.).
2. Cf. IRIARTE, G. A globalização neoliberal, p. 27.
3. Cf. REED. Mercado de Carbono; Pagamento por Serviços Ambientais. O que são? O que fazer? Fórum
Mudanças Climáticas e Justiça Social. Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da
Paz. Conselho Indigenista Missionário (Org.). Brasília: CEBI, 2012, p. 3.
igual e a internet e as redes sociais tornam-se, para muitos, o novo habitat. Por
outro lado, as novas gerações constituem grande força transformadora dos pro-
blemas da sociedade. A “JMJ Rio-2013”, por exemplo, foi um grande sinal de fé
e esperança da juventude comprometida com as novas possibilidades de mudança
e de resistência a um modelo social que descarta os mais jovens.
2. Os Macabeus
dos Macabeus8 deve ser datado entre 134 e 63 aC, tempo da dinastia asmoneia,
que sucedeu os tempos heroicos dos macabeus. O resgate do judaísmo e a ascen-
sóbria com grande respeito aos eventos descritos, porém, o autor, muitas vezes, se
entusiasma (1Mc 2,48; 4,24; 5,63) e até revela os sentimentos mais profundos de
sua alma através da poesia (1Mc 1,26-28.36-40; 2,7-13.49c-68; 3,3-9.45.50b-53;
4,30-33.38; 7,17; 9,21.41; 14,4-15) realçando os pontos altos e baixos no curso
da história.
O 2º livro dos Macabeus9 é anterior ao 1º e foi escrito no Egito, tendo
como fonte primária os cinco volumes históricos de Jasão de Cirene, um judeu
-
nifestações, a saber, a dos mártires e a de Judas e seus soldados. Ambas são
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.
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mentos do presente; era preciso rever a história com um novo olhar, o olhar de
fé que nos permite ver, a partir de Deus. Essa constatação, tão atual, esconde
a força da mudança sonhada por tantas pessoas de boa vontade. Quando se
busca a limpidez da verdade dos acontecimentos, ainda que esse conhecimen-
to provoque dor, por causa dos erros e ambiguidades, é possível acreditar em
novos rumos e projetos para o mundo, para a vida social. A fé que faz brotar a
esperança também conduz para a concretização do amor, da fraternidade. Mas
é preciso vigilância para não se repetir os erros do passado, acreditar e fazer
acontecer a globalização da paz e do bem. Por ora, prossigamos nossa viagem,
e o helenismo:
“A cidade santa vivia na mais completa paz, e os mandamentos eram obser-
vados da melhor maneira possível, por causa da santidade do sumo sacer-
suas terras, mão de obra barata nos campos dos latifundiários, obrigados a servir
nas milícias, e pesadamente tributados pelo estado”14.
nova forma de organização dos helenistas?15 Nesse novo sistema, toda a base
política e econômica provém da polis: uma cidade organizada de acordo com
a administração dos gregos, cujo ato de governar é alternado entre os cidadãos.
Nesta rotatividade inclui-se a concorrência pelo aluguel do direito de cobrar im-
postos. Com isso, aos poucos, a classe alta da sociedade, concretamente a elite
de Jerusalém, vai apropriando-se desse mecanismo que favorece a exploração
econômica do povo camponês. Essa prática econômica acaba atingindo o espa-
ço sagrado. Quem detém maior poder econômico adquire o direito de ser sumo
sacerdote. O Templo e a instituição sacerdotal conquistam grande importância
econômica. Na disputa para conquistar e conservar o poder, encontramos vários
exemplos de suborno, roubo, violação da lei e até assassinatos de inocentes (2Mc
4,7-8.23-24.32-34; 1Mc 7,4.9; 2Mc 14,3-4). Há um descalabro geral!
Outra característica importante para o entendimento do projeto helenizante
é a conquista dos mares. O comércio é a fonte de riqueza das cidades. O transpor-
te de enormes quantidades de mercadorias de uma cidade para outra, através das
frotas de navios, provoca grande revolução no modo de produção. Quem ganha?
Quem perde? Enquanto o camponês, o povo pobre da terra, é reduzido a produtor
escravizado (1Mc 3,41), a aristocracia leiga de Jerusalém chega até a conquistar
a isenção de impostos.
A materialização de Deus é outro agravante da reforma helenística. Apesar
de terem um Olimpo cheio de deuses, os gregos eram profundamente materialis-
tas. No teatro, os clássicos gregos manipulavam os deuses projetando-lhes senti-
mentos (amor, ódio, ciúme) e comportamentos humanos (casamentos, adultérios,
assassínios), conforme a própria vontade. A religião centralizada na “fatalidade”
e na “imutabilidade” reduzia a função do sacerdote à de meros adivinhos. E os
mitos gregos legitimavam a situação social, sem possibilidades de mudança. O
pensamento grego encontrava no “interior” do próprio homem – na tensão entre a
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to. Segundo a perspectiva deuteronomista, que relê os acontecimentos históricos
-
cunstâncias da vida pessoal, social, política e religiosa –, os dois polos são: Israel
e as Nações (Cap. 1 e 2). A narrativa histórica contada a partir do povo da terra,
explorado e oprimido, traz à memória o ponto de partida de todos os “males”, ou
seja, o momento em que o imperialismo grego derrota o poder dos persas e se
alastra sobre toda a terra (Mc 1,1). Qual é o objetivo do Imperador Alexandre?
Qual é a sua pretensão? O que está por trás de suas estratégias? Qual é, de fato,
o seu projeto?
O que Alexandre busca é o mesmo de todo imperialismo que, para se ex-
pandir, não hesita em “empreender numerosas guerras, apoderar-se de fortalezas,
eliminar reis, tomar despojos de uma multidão de povos” (1Mc 1,2-3a). “E a terra
silenciou diante dele” (1Mc 1,3b), diz o autor. Ou melhor, “E a terra foi silenciada
‘à força’ diante dele”. Alexandre faz calar multidões de povos. O narrador conti-
relação social em ganância pelo poder e cobiça pela posse. Se, depois da luta ma-
16. Cf. DA SILVA, A.J. Paideia Grega e Apocalíptica Judaica. Petrópolis: Vozes, n. 113,
p. 7-22, 2012.
17. Cf. GALLAZZI, S.; RUBEAUX, F. p. 39.
Alexandre morre ainda jovem, sem herdeiros para o trono. Depois de sua
Continuando nossa viagem pelo túnel do tempo chegamos ao ano 137 da era
grega (175 aC), quando começa a reinar Antíoco IV Epífanes, o “rebento ímpio”,
o “ramo perverso”, a “raiz pecadora”. Antíoco é um dos “males multiplicados
sobre a terra”, é fruto dos 137 anos do Imperialismo grego. É o grande inimi-
go do povo, cujo apelido de “Epífanes” (manifestação terrestre de Zeus) denota
mais um orgulhoso. Contudo, os “males” não estão apenas com os estrangeiros.
pessoas com suas palavras, na busca de aliança com as nações (1Mc 1,10-15).
cujo destino da cidade que hospeda tais pessoas é a
destruição, o anátema, a espada e o fogo (Dt 13,14-18). A proposta destes ímpios
é a de abandonar a aliança com Javé para se ligar às nações. É a total ausência de
perspectiva política.
Israel é um povo consagrado exclusivamente a Javé e se comprometeu com
Ele através de uma aliança. Por conseguinte, deve construir uma sociedade fun-
dada no direito e na justiça. E isso provoca ruptura com o modo de viver das ou-
São dois projetos diferentes. Inconciliáveis! Incompatíveis! Exclu-
dentes! O Projeto das Nações visa a riqueza, o acúmulo, a dominação. Bem outro
é o Projeto de Javé e de Israel que contempla a prática da justiça, da fraternidade
e da partilha.
porcos, exatamente por serem animais impuros perante a lei (1Mc 1,41-63; 2Mc
6,6-11). As imposições das práticas e dos costumes gregos tendiam a suprimir o
judaísmo.
co-política. É o que descreve, por exemplo, 2Mc 3,4: “Certo Simão, da estirpe
de Belga, investido no cargo de superintendente do Templo, entrou em desa-
com o sumo sacerdote a respeito da administração das mercadorias da
cidade”. Ou ainda a informação a respeito da oferta de 360 talentos de prata por
Jasão, irmão de Onias, ao rei Antíoco IV Epífanes para obter o cargo de sumo
sacerdote (2Mc 4,7-8). Tudo isso nos permite detectar a perversão a que se che-
gou para que Jerusalém fosse incrementada pelo comércio e entrasse no grande
mercado da civilização grega e, dessa forma, a aristocracia leiga e sacerdotal
enriquecesse ainda mais.
O povo pobre da terra prevê que, com esta atual situação, e, segundo a ma-
neira grega de pensar, eles seriam reduzidos a escravos. E tudo seria visto como
“natural”, “imutável”, especialmente para eles que, segundo o judaísmo, já eram
considerados “impuros”, incapazes de seguir a Lei. Este povo compreende que
o Deus dos Pais seria substituído pelas divindades gregas e o projeto da Aliança
com Javé, de construir uma sociedade justa, fraterna e igualitária, seria engolido
-
jeto de uma sociedade nova baseada na fraternidade entre os homens e na partilha
de tudo o que Deus concedeu a todos. Por isso, o grupo dos macabeus resiste ao
helenismo. É em nome do Deus único, da terra livre e da vida para todos que os
macabeus iniciam a guerra.
4.2 A Resistência de Matatias: zelo pela Lei e pela aliança dos pais
Ao novo sistema social que produz opressores e oprimidos, ou seja, ao gran-
de Projeto das Nações concretizado desde Jerusalém, começa com Matatias uma
luta de resistência, um movimento de rebelião armada contra os gregos e seus
associados da aristocracia judaica. Aos olhos de Antíoco IV Epífanes, a resistên-
cia dos judeus piedosos assume as características de uma verdadeira revolta e de
uma oposição política perigosa. “O que é interpretado em termos de perseguição
pela literatura judaica pode ser compreendido pelo historiador como uma reação
contra a agitação que não parava de aumentar e a repressão de uma verdadeira
revolta armada”22. Por trás do grupo de Matatias e de seus seguidores mais anti-
gos vigora o Projeto de Javé e de Israel, expresso através do “zelo pela Lei e pela
aliança dos pais”.
Embora apresentado como sacerdote, da descendência de Joiarib23
João e neto de Simeão, que se muda de Jerusalém para Modin, há quem levante
a hipótese de que “Matatias seja do campo, quem sabe um levita, o mentor, o
iniciador, o animador da luta do campesinato contra todos os ‘males’”24. Nas
montanhas de Modin vive Matatias ( ) -
serão inúteis, pois Deus sempre ouve o grito dos pobres e oprimidos (Ex 3,7-8).
Ainda que todo o povo, todas as outras nações abandonem os cultos e costumes
22. Citado por SILVA, A.J. da. Os Macabeus I: A Resistência. In: http:// www.airtonjo.com/
historia38.htm, acessado em 10/12/13.
23. Joiarib é, segundo Cr 24,7, o chefe da primeira das vinte e quatro classes sacerdotais que servem no Templo.
Porém, é possível que essa preeminência seja devida à reformulação do texto após as vitórias dos Macabeus e
seu acesso ao sumo sacerdócio.
24. GALLAZZI, S.; RUBEAUX, F. p. 67.
25. Cf. VASCONCELLOS, P.L.; SILVA, R.R. p. 41.
mata também o emissário real (1Mc 2,23-24). É a “justa ira”, conforme a Lei do
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E, a seguir, Matatias conclama em alta voz: “Todo o que zelar pela Lei e quiser
zelo que leva à luta. É
o amor pulsando forte no coração e transformando a fé em prática, coragem, cui-
dado! Fé e luta, Lei e Aliança: é a mística do povo pobre, oprimido sustentando a
Depois disso, Matatias foge com sua família para as montanhas. Começa a
grande luta contra os helenistas. E muitas outras famílias que “amavam a justiça
e o direito” se agregam à família de Matatias, indo para o deserto. Na busca da
exterminadas com suas famílias (1Mc 2,28-48). O martírio desses guerreiros leva
o grupo a um discernimento profundo de que “a escolha do martírio em defesa
da lei não é o caminho. Lutar é preciso. Lutar pela vida e pelas coisas justas”26. A
defesa da vida será maior que a lei do sábado.
O grupo de Matatias é acrescido com a adesão dos assideus27 e de todos
os que fugiam dos males (1Mc 2,42-44) constituindo o exército que combate
os judeus traidores, os “sem-lei”, em primeiro lugar. Eles percorrem o território
destruindo altares sacrílegos, circuncidando à força os meninos incircuncisos e
recuperando a Lei das mãos dos gentios (1Mc 2,45-48). Nesta luta, há uma coin-
cidência de interesses dos sacerdotes e levitas empobrecidos com os interesses
dos camponeses.
“Sacerdotes e levitas vivem da contribuição dos camponeses, pois o culto
e o sacerdócio não têm propriedades, excetuando-se, é claro, uns poucos
sacerdotes da nobreza. Os sacerdotes prestam serviços em Jerusalém só de
-
28
.
Matatias morre no ano 166 aC, mas, antes de morrer, pronuncia o lindo tes-
tamento que, trazendo à memória a fé dos antepassados, revela a mística que deve
continuar animando a luta desses guerreiros (1Mc 2,49-70). É o convite à decisão
de “zelar pela Lei e dar a vida pela aliança dos pais”.
da luta (1Mc 3,1–9,22), desenvolvendo uma guerra de guerrilhas cada vez mais
ampla e vencendo um a um os generais selêucidas enviados para detê-lo. É preci-
so reconhecer, porém, o poderio das forças dos selêucidas para sufocar a rebelião
judaica. No entanto, Antíoco IV Epífanes, ocupado com a explosão de vários pro-
blemas em diversas partes do reino, não pode ocupar-se, de fato, com os judeus.
Isso, sem dúvida, favorece as vitórias de Judas e do grupo da guerrilha.
No início do relato de 1Mc 3,1-9, é tecido um belo elogio a este grande he-
rói popular e, neste poema, canta-se a glória do seu povo, celebra-se a libertação
alcançada e destaca-se sua capacidade de “reunir” os que estavam para morrer.
Aliás, este verbo “reunir” é o eixo de toda a narração, articulada literariamente
em três partes maiores, unidas entre si por duas partes menores. Tal narrativa não
é linear, mas concêntrica:
A – Judas, o Comandante (3,1–4,35)
B – O Templo libertado (4,36-61)
C – Judas, o Pastor (5)
B’ – A morte de Antíoco (6,1-7)
A’ – Judas, o Chefe (6,18–9,22)29.
A resistência ante o poder opressor não pode ser apenas passiva. Mas para o
êxito da luta é preciso uma liderança que organize o povo e o ensine a enfrentar
corajosamente o inimigo. O relato de 2Mc 8,1.5-7 nos conta as estratégias e táti-
cas de Judas na busca da libertação:
“Entretanto, Judas, também chamado Macabeu, e os seus companheiros,
iam introduzindo-se às ocultas nas aldeias. Chamando a si os coirmãos
-
garam a reunir cerca de seis mil pessoas (...). Transformada a sua gente
em grupo organizado, o Macabeu começou a tornar-se irresistível para os
pagãos, tendo-se mudado em misericórdia a cólera do Senhor. Chegando
de improviso às cidades e aldeias, ateava-lhes fogo; e, apoderando-se dos
-
cursões, escolhia de preferência a noite como cúmplice. De resto, a fama
da sua valentia propagava-se por toda parte”.
Templo:
“No dia vinte e cinco do nono mês – chamado Casleu – do ano cento e
quarenta e oito, eles se levantaram de manhã cedo e ofereceram um sacrifí-
cio, segundo as prescrições da Lei, sobre o novo altar dos holocaustos que
haviam construído. Exatamente no mês e no dia em que os pagãos o tinham
profanado, foi o altar novamente consagrado com cânticos e ao som de
cítaras, harpas e címbalos. O povo inteiro se prostrou com a face por terra
para adorar, elevando louvores ao Céu que os tinha tão bem conduzido até
ali. (...) Reinou, pois, extraordinária alegria entre o povo e assim foi cance-
a guerra santa34. A vida do povo está nas mãos de Deus! As cidades gregas são
votadas ao anátema: fogo, espada, morte e saque.
Judas prossegue, destemido, no combate pelos irmãos (1Mc 5,32). É pela
nenhuma forma de escravidão. Quem rejeita seu projeto acaba sendo rejeitado.
“E Judas reuniu todo Israel...” (1Mc 5,45). Como no “grande acampamen-
to” rumo à terra prometida (Ex 12,41), Judas agora é o novo Moisés que reúne
todo o povo de Israel. É na liderança destas batalhas, de modo especial, que Judas
passa da função de “comandante” à missão de “pastor”, como se pode ler em
1Mc 5,53: “Judas vai reunindo os que estão atrasados e anima o povo por toda a
viagem, até chegar à terra de Judá”.
É “um Judas completamente diferente, cheio de preocupação, de carinho
com os últimos, com os mais fracos. Conforta o povo. Todos são “reuni-
dos” ao longo do caminho. Longe de ser o comandante militar, Judas assu-
me as feições mais carinhosas de Deus: o Pastor (cf. Is 40,11)”35.
onde tinham sido dispersados36. Libertado do jugo das “nações”, o povo de Israel
pode reconhecer que o Projeto de Javé, assumido por Judas, busca a liberdade e
a vida para todos. Não mais nas mãos do rei opressor nem do sacerdote a serviço
do imperialismo, mas nas mãos de quem se apropria do Projeto de Javé, realmen-
te colocando-se a serviço do povo, é que se torna possível a construção de uma
sociedade justa e fraterna.
Judas cumpriu sua missão, ao reunir os que estavam para morrer (1Mc 3,9).
É impossível não pensar no projeto de Jesus que veio para que toda a humanidade
tenha vida, e vida em abundância (Jo 10,10).
34. A guerra santa ou “sagrada”, na qual povoados inteiros são massacrados (1Mc 5,28.34-35.51; 2Mc 12,13-
16), propõem-nos problemas teológicos de difícil solução. É importante considerar que: “A maioria das guerras
e dos relatos de aniquilação são provavelmente ampliação literária – na linha do Dt – de escaramuças ou lutas
reais, orientadas no sentido de garantir a segurança contra inimigos atuais ou potenciais. Em segundo lugar, é
preciso recordar que o povo judeu age nestes casos em defesa de sua própria identidade, das ‘tradições pátrias
e da lei’ (...). Finalmente, é preciso lembrar que estamos no Antigo Testamento e que essas atitudes não foram
sancionadas por Jesus”. LAMADRID, A.G. et al. p. 307.
35. GALLAZZI, S.; RUBEAUX, F. p. 128.
36. Idem, p. 128.
37. Idem, p. 32.
dos “males”.
As quatro últimas batalhas de Judas contra: Lísias (1Mc 6,18-63); Báquides
(1Mc 7,1-24); Nicanor (1Mc 7,25-50) e Báquides (1Mc 9,1-22) rendem-lhe três
derrotas e apenas uma vitória. Judas perde seu poder de convocação (1Mc 6,54);
perde muitos combatentes pela morte ou dispersão (1Mc 6,42.54; 7,16.19; 9,2.6 )
e, depois de reconhecer “seu coração esmagado, pois não era mais a hora propí-
cia para reunir os seus” (1Mc 9, 7-10), combate até perder a própria vida (1Mc
9,17-19).
Depois da morte de Judas, o movimento revolucionário prossegue com os
irmãos: Jônatas (1Mc 9,23–12,53) e Simão (1Mc 13,1–16,24). Os judeus se tor-
nam alvo da cobiça dos poderosos, tanto gregos como romanos. Por falta de cla-
reza das situações e intenções, e por terem perdido o foco inicial da luta, ou seja,
a memória presente não mais foi regada pela mística e pelo sentido que sustentou
a luta passada, por isso o judaísmo se subdivide em diversos grupos, segundo
interesses diversos, e todos se tornam “joguete” nas mãos dos grandes.
A história dos macabeus deixa-nos, dentre outros, um ensinamento sempre
Não basta a perseverança na luta se já não existe também a mística que gera co-
munhão e integração, na defesa não dos interesses pessoais, mas do Projeto de
Javé. Atualmente, nossa sociedade também carece desse tipo de sabedoria, na
eleição de seus governantes: um verdadeiro que nos ajude
na escolha de pessoas que façam do Projeto de Javé o alicerce de seu próprio
projeto.
Conclusão
-
beus. Nas entrelinhas de nossa leitura, descobrimos o testemunho de coragem e
resistência desses nossos antepassados na fé à dominação helênica. Nesse percur-
so redescobrimos também o rosto libertador de Deus: o “Javé” do povo oprimido,
38. FRANCISCO. Mensagem do Santo Padre para a Celebração do XLVII Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro
de 2014, Fraternidade, fundamento e caminho para a paz. In: http://www.vatican.va/holy_father/francesco/
messages/peace/documents/papa-francesco_20131208_messaggio-xlvii-giornata-mondiale-pace-2014_
po.html Acessado em 12/12/13.