Ebook Freud e Serial Killers
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“Quando a raposa ouve o grito do coelho ela vem correndo, mas não para ajudar.”
Hannibal Lecter
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
5 TRATAMENTO? .............................................................................................................. 52
CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 55
Introdução
No presente trabalho iremos abordar conceitos psicanalíticos que estão liga-
dos ao fenômeno serial killers (assassinos em série), e de que forma tais conceitos
podem ser utilizados para o entendimento do comportamento e o desenvolvimento
do perfil criminal destes indivíduos.
Serial killer (CASOY, 2014) é um termo criado nos anos setenta pelo agente
do FBI aposentando Robert Ressler que foi um grande estudioso do assunto, que
utilizou este termo para definir um tipo de criminoso que comete uma série de homi-
cídios durante um determinado período de tempo, sem um motivo aparente. Depen-
dendo do autor existem vários tipos de classificações tipológicas de serial killers,
mas o denominador comum entre todos os tipos é o “sadismo”, desordem crônica e
progressiva, podendo se observar que grande partes de suas ações estão ligadas a
compulsões de uma personalidade psicótica ou perversa, como veremos mais a
frente.
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Lobisomens, bruxas, vampiros e outras criaturas foram criadas pelo ser humano co-
mo uma forma de negar uma terrível verdade: o ser humano pode caçar outros seres
humanos.
Devido a esse fato serial killers reconhecíveis são escassos nos registros
históricos até meados dos anos 1400. Foi durante o Renascimento que os serial kil-
lers começaram a aparecer nos registros judiciais, a uma taxa de apreensão anual
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quase comparável à taxa per capita de serial killers nos Estados Unidos moderno.
Cerca de 300 assassinos em série foram julgados na Europa nos 200 anos entre
1450 e 1650; para comparação, nos Estados Unidos havia 431 assassinos em série
nos 204 anos entre 1800 e 2004, de acordo com os dados de Eric Hickey. Exceto
que eles não eram chamados de serial killers naquela época. Os assassinos em sé-
rie foram presos, acusados e julgados como lobisomens ou licantropos, na época
um crime eclesiástico recém-introduzido, punível com a morte.
Gibson (2012) cita alguns exemplos famosos que foram historicamente re-
gistrados como Gilles Garnier, o lobisomem de Chalons e Peter Stubbe, enquanto
outros foram considerados vampiros como Erzsebet Bathory, Vincenzo Verzini e Jo-
seph Vacher ou bruxas como Catherine Monvoison e Gilles de Rais. Em vários ca-
sos como mencionamos o mesmo assassino em série era considerado um lobiso-
mem e um vampiro ou considerado uma bruxa. O que o registro público histórico
revelou é o fato de quando as pessoas acreditam e esperam ser vítimas de vampi-
ros, lobisomens ou bruxas, é exatamente isso que acreditam que acontece.
Vai pelo caminho dos alfinetes? - Pergunta o Lobo (loup-bzou, que significa lobisomen) confirman-
do que Chapeuzinho era uma prostituta.
O Lobo da história da Chapeuzinho seria um serial killer matador de prostitutas assim como Jack
estripador.
O médico Dr. Thomas Bond foi o primeiro criador de perfilador d história, montando um
perfil detalhado do Jack, o estripador.
psiquiatra Sigmund Freud, criador da psicanálise, que foi definitivo para inicio de
uma compreensão do mecanismo psíquico do ser humano.
Sigmund Freud em suas teorias criou estruturas para entender a mente humana.
Graças a essa evolução sabemos hoje que tais indivíduos, os serial killers,
antes tidos como monstros são na verdade portadores de transtornos antissociais
graves, e em outros casos como o vampirismo clínico temos a presença de psicoses
como a esquizofrenia, delírios e outros tipos de transtornos que tiram do individuo a
noção de realidade. À luz do avanço cientifico das áreas de estudo da mente huma-
na (psiquiatria, psicologia e psicanalise) sabemos que os canibais, por exemplo, são
indivíduos solitários, com pulsões sexuais violentas com fixação oral, onde o ato de
devorar e a consequente saciedade estão ligados ao prazer sexual, e que tais indi-
víduos são solitários e com sentimento de vazio interior, o que também o levam a
querer “preencher este vazio” com outras pessoas, como pode ser visto analisando
casos de canibais assassinos em série famosos como Jeffrey Dahmer, Albert Fish,
Andrei Chikatilo, Issei Sagawa, Armin Meiwes entre outros.
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Assim, para que esse diagnóstico seja firmado, o indivíduo deve ter no mí-
nimo 18 anos de idade (Critério B) e deve ter apresentado alguns sintomas de trans-
torno da conduta antes dos 15 anos (Critério C). O transtorno da conduta envolve
um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual os direitos básicos dos
outros ou as principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são violados.
Os comportamentos específicos característicos do transtorno da conduta encaixam-
se em uma de quatro categorias: agressão a pessoas e animais, destruição de pro-
priedade, fraude, roubo ou grave violação a regras. Mas o que a psicanalise pode
nos dizer sobre eles? Os Portadores de transtorno antissocial (SILVA, 2017) sob a
perspectiva psicanalítica são indivíduos que se estruturaram na perversão, enquanto
os indivíduos que sofrem de esquizofrenia ou alucinações deliróides são enquadra-
das como psicose. A seguir iremos identificar e nos aprofundar nos conceitos psica-
nalíticos envolvidos na figura do serial killer.
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O Serial Killer pode ser do tipo perverso ou psicótico, sendo que o que dife-
rencia estes dois é a percepção do mundo que os rodeia. Os assassinos em série
são criminosos que matam de tempo em tempo, e seus crimes geralmente de cunho
sexual estão relacionados com seu desenvolvimento psicossexual não desenvolvido
adequadamente, desenvolvendo assim compulsões destrutivas em relação a outras
pessoas, as quais ele desumaniza, vendo-as apenas como forma de satisfazer a sua
fantasia. Existem diversas classificações de assassinos em série, aqui vamos nos a
ter a suas duas bases mais comuns que estão presentes nos conceitos psicanalíti-
cos: os que são perversos e os que são psicóticos. O perverso tem a consciência da
realidade sobre o mundo a sua volta e as consequências de suas ações, e o psicóti-
co, seja portador de esquizofrenia ou algum outro transtorno deliróide vive em um
mundo de ilusões, agindo em decorrência destas fantasias, vamos ver a seguir estes
conceitos de forma mais detalhada.
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A verdade é que o perverso sabe o que quer, sabe o foco do seu desejo
(Silva apud FERREIRA E MENEZES, 2015), mas nega a raiz de onde ele se origi-
nou, responsabilizando as pessoas a sua volta por suas ações, pois ao mesmo tem-
po em que considera a realidade o perverso também a nega, substituindo-a pelo seu
próprio desejo. Então tal indivíduo necessita da negação como forma da defesa do
ego, e isso tem como consequência decorrente o impedimento do surgimento de um
insight sobre suas ações que poderia ajuda-lo a fazer uma integração saudável com
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seu ego. Como exemplo temos o serial Killer americano Edmund Kemper, conhecido
como “assassino de colegiais” que citamos anteriormente que matou dez pessoas,
ainda criança, com apenas dez anos de idade contou a uma de suas irmãs que es-
tava apaixonado por uma professora do colegial, mas chegou a terrível conclusão
que teria de matá-la para conseguir um beijo. Então vemos a racionalização de atos
inapropriados que fogem do padrão da realidade social. Na perversão o desejo apa-
rece como vontade de gozo, e o ato é praticado geralmente como vitorioso, isento
de culpa, como uma reconstrução da realidade a partir da sua ótica particular. Verifi-
ca-se aqui que um indivíduo perverso sabe o que quer, diferente do neurótico que
reprime esse desejo, não deixando que ele se manifeste na realidade.
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Na teoria kleiniana vemos que o bebê quando nasce está envolvido na po-
sição esquizo-paranóide, e tal posição tem como particularidades: a fragmentação
do ego; a divisão do objeto externo, a mãe, ou mais especificamente o seio, que po-
de ser o bom, que é o garantidor, aquele que gratifica infinitamente enquanto o se-
gundo, o mau, somente lhe provoca frustração, não oferecendo saciedade o que
resulta na a agressividade e a realização de ataques sádicos dirigidos à figura da
mãe. Com elaboração e superação destes sentimentos surge a posição depressiva,
que resulta na integração do ego e do objeto externo (mãe/ seio), sentimentos afeti-
vos e defesas em relação à possível perda do objeto por causa dos ataques ocorri-
dos na posição anterior. Assim, observa-se o fato a se verificar é que uma criança
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ao nascer ainda tem um ego frágil em formação, e por outro lado tem pulsões muito
fortes, e estas primeiras reações são as primeiras comunicações da criança com um
outro ser humano sendo definidor para seu trajeto evolutivo.
Outro ponto presente no perverso devido seu ego frágil não integrado é o
narcisismo. O psiquiatra Sigmund Freud atribui ao psiquiatra e criminologista russo
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Paul Näcke o primeiro a utilizar o termo narcisismo, que ele via como uma forma de
autoadoração do próprio corpo como objeto sexual. Assim, no transtorno de perso-
nalidade narcisista são observadas características como um sentimento de superio-
ridade, grandiosidade e busca pelo poder persistente, necessidade excessiva de
admiração, atitude pomposa e extremamente arrogante, muito presentes no Serial
Killer perverso. Contudo, é de se notar que apesar da atitude superior e prepotente
do portador de tal transtorno sua vida se torna bastante difícil em sociedade devido a
distância que se coloca das outras pessoas, prejudicando suas interações. O psicó-
logo americano Stanton E. Samenow (2020) percebeu que está era a principal ca-
racterística observada em criminosos em presídios em suas pesquisas. Em casos
mais severos pode ter repercussões na saúde física uma vez que pode não se ater a
limites para atingir seus objetivos de autoimagem. Muito se argumenta sobre a pos-
sibilidade de tratamento para reduzir tais ações danosas para o indivíduo, todavia
como veremos as próprias características que compõem o perfil peculiar do narci-
sismo como o sentimento de superioridade permanente e a arrogância, os tornam
insensíveis em relação a opiniões de outras pessoas, fazendo com que pouco se
importem com a distância social com as mesmas, não buscando assim qualquer tra-
tamento ou forma de controlar as suas ações.
Raine (2015) que abordaremos mais a frente de forma mais detalhada nos trazendo
assim tanto aspectos sociais como biológicos para esta questão.
a) O serial killer alemão Peter Kürten conhecido como "O Vampiro de Düssel-
dorf" que matou 24 jovens, tinha um pai autoritário, ausente e mulherengo.
b) O assassino Edmund Kemper por frustração de viver com sua mãe e suas ir-
mãs fugiu de casa para morar com o pai. Ed descobriu que o pai havia se ca-
sado de novo e vivia com a esposa e o filho dela. Por isso, resolveu ir morar
com os avós paternos, mas também não se contentou. Para ele, o avô era
senil e a avó tirava sua virilidade, então os matou, foi aí que seus crimes co-
meçaram.
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filhos, e sua mãe queria uma menina e ficou descontente quando teve outro
filho. Constantemente o menosprezou e o tratou com desdém, e ainda abu-
sou dele.
e) O americano Dennis Rader, conhecido como assassino BTK (um apelido que
ele deu a si mesmo, que é uma abreviação de "bind, torture, kill", ou, em por-
tuguês, "Amarrar-Torturar-Matar") ou "Estrangulador BTK", matou 10 pesso-
as. Seus pais trabalhavam muito e prestavam pouca atenção aos filhos em
casa; Rader, mais tarde, lembraria com especificidade o sentimento de ser ig-
norado por sua mãe e o ressentimento que isso gerou contra ela por causa
isso.
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g) Francisco de Assis Pereira, serial killer brasileiro, matou 11. Em sua infância,
sofreu abusos sexuais, como a maioria dos assassinos em série. Sua tia ma-
terna, o teria molestado sexualmente na infância e com isso ele teria desen-
volvido fixação em seios.
Como pode ser notado nos exemplos acima fica claro que um desenvolvi-
mento psicossexual inadequado, e as consequentes pulsões mal adaptadas (SILVA,
2017) podem colaborar para a formação de uma personalidade perversa.
É fato que é de grande importante (SILVA, 2017) que a criança receba amor,
carinho e cuidado por parte da função materna, mas que também receba limites e
regras firmes por parte da função paterna. É muito importante que a função materna
nunca alivie essas regras, pois assim a criança aprenderá que leis são para serem
seguidas e não burladas. Lembrando que limites e regras não se assemelham em
nada com agressões e abusos como nos casos citados anteriormente, que na visão
comportamental seria o causador desse mal. Claro que se deve salientar que nem
todo indivíduo estruturado na perversão é um portador de transtorno de personalida-
de antissocial, já que pode ter introjetado dentro de si, aquilo que lhe foi ensinado
sobre regras morais e sociais. Estamos falando aqui de indivíduos que tiveram a sua
fase edipiana mal desenvolvida tendo um ego contido demais em razão de uma re-
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2.3 Narcisismo
O serial killer narcisista Patrick Bateman do filme Psicopata Americano mantêm sua
aparência física e social acima de tudo.
Ouro aspecto evidente no perverso é o narcisismo, uma vez que são extre-
mamente autocentrados. Para Lowen (1983) o narcisismo descreve uma condição
psicológica e uma condição cultural. Tal espectro de personalidade indica uma per-
turbação da personalidade caracterizada por um investimento exagerado na própria
pessoa a custa da self. Tal espectro de personalidade indica uma perturbação da
personalidade caracterizada por um investimento exagerado na própria pessoa a
custa da self. Lowen (1983) ainda adverte que num consenso geral os psicanalistas
reconhecem que o problema se desenvolve nos primeiros anos da infância, sendo
que a fusão do self ideal, do objeto ideal e das imagens reais do próprio individuo
como uma defesa contra uma realidade intolerável na área interpessoal. Não sendo
capazes de distinguir a sua autoimagem real e o self da que imaginam ser real, pos-
suindo assim um falso senso de self.
Silva (2017) afirma que cada estrutura psicológica tem suas subestruturas,
desta forma na perversão temos: sadismo, masoquismo, voyeurismo e exibicionis-
mo. Notamos em alguns psicopatas, ao longo de suas vidas, atos com forte cunho
sexual, salientando que sexual em psicanálise não está limitado ao coito; tendo um
sentido amplo que envolve o prazer em sua totalidade, atos de fetichismos que cor-
respondem a perversão. Fetichismo é a excitação sexual intensa e recorrente por
meio da utilização de um objeto inanimado ou de um foco muito específico em uma
parte, ou partes não genital. Ele colecionava cabeças de mulheres loiras na geladei-
ra, e também guardava filmes escondidos de suas práticas sexuais. Cada uma das
subestruturas tem mecanismos de defesas correspondentes a mesma.
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O assassino americano Albert Fish é o exemplo do sadismo presente nos Serial Kil-
lers.
trada e eles tiravam apenas que você queria. As partes de trás de um menino ou
menina é a parte mais doce do corpo e é vendido como costeleta de carne de vitela
pelo preço mais alto. John ficou lá tanto tempo, que adquiriu gosto pela carne huma-
na. No seu regresso a Nova Iork ele roubou dois meninos, de 7 e 11. Levou-os para
casa, despiu-os e atou-os num armário. Depois queimou tudo o que eles tinham.
Várias vezes durante o dia e noite ele batia-lhes – torturava-os – para fazer a sua
carne mais tenra. Primeiro ele matou o menino de 11 anos, porque ele tinha o rabo
mais gordo e naturalmente a maior parte de carne dele. Todas as partes do seu cor-
po foram cozinhadas e comidas exceto a cabeça – ossos e tripas. Ele foi assado no
forno (todo do seu rebo), fervido, grelhado, frito e guisado. O menino mais pequeno
foi seguinte, da mesma maneira. Na altura eu vivia em 409 E 100 St, perto deles. Ele
dizia-me frequentemente que a carne humana era boa, e eu decidi provar. Num do-
mingo, dia 3 de Junho de 1928, fui chamado por si a at 406 W 15 St. Levei um pote
de queijo com morangos. Lanchámos. A Grace sentou-se no meu colo e beijou-me.
Decidi-me a comê-la. Sob o pretexto de a levar a uma festa. Tu disseste que sim,
que ela podia ir. Eu levei-a para uma casa vazia em Westchester, que já tinha esco-
lhido. Quando chegámos lá, mandei-a ficar fora. Ela apanhou flores silvestres. Eu fui
lá para cima e despi toda a minha roupa. Eu sabia que se não o fizesse ficaria com o
seu sangue. Quando ficou tudo pronto, fui à janela e chamei-a. Então escondi-me
num armário até que ela chegasse ao quarto. Quando ela me viu nu começou a cho-
rar e tentou descer as escadas. Agarrei-a e ela disse que iria contar à mãe. Primeiro
despi-a. Como ela lutava – mordia e arranhava. Abafei-a até à morte, depois cortei-a
em pequenas partes. Cozinhei e comi. Como era doce e tenro o seu pequeno rabo.
Levou-me nove dias para comer todo o corpo. Não a forniquei. Ela morreu virgem.”
Albert Fish admitiu mais tarde ao seu advogado que tinha mesmo violado
Grace. Por volta desta altura Fish tinha uma grande necessidade de masoquismo:
pegava em bolas de algodão, embebia-as em álcool e pegava-lhes fogo no seu
ânus, começou a espancar-se a si mesmo com um remo e espetava agulhas no seu
corpo, entre o seu reto e o seu escroto. Normalmente ele retirava-as, mas começou
a inseri-las tão profundamente que já não as conseguiu tirar. Raios X feitos posteri-
ormente revelaram 27 agulhas na sua região pélvica. McWilliams (2014) afirma que
atos agressivos e sádicos podem equilibrar o senso de self de uma pessoa antisso-
cial mitigando os estados desagradáveis de excitação e recuperação de autoestima.
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Raios X feitos depois da morte de Albert Fish mostraram 27 agulhas na sua região
pélvica.
suas vítimas como parte de uma fantasia sexual. Rader manteve suas inclinações
sexuais bem escondidas, e era amplamente considerado em sua comunidade como
"normal", "cortês" e "educado".
Dennis Rader, o assassino BTK, tinha o fetiche de se vestir com as roupas de suas
vítimas usando uma máscara de boneca.
surto, podendo assim ter alucinações visuais ou auditivas. Alguns indivíduos dizem
ter matado a mando de vozes, mas nem todos os casos são verdadeiros, alguns di-
zem isso apenas para ter os benefícios que um psicótico teria, mas em alguns ca-
sos, são realmente reais. O neurótico constrói um castelo no ar. O psicótico mora
nele” (Jerome
Lawrence).
Existe uma grande confusão entre a psicopatia e a psicose, que mesmo sem
ter nenhuma afinidade, gera preconceito acerca dos psicóticos devido ao psicopata
ser também alvo de preconceitos por falta de conhecimento.
nígenas, e que seu sangue estaria virando pó e que precisava beber san-
gue para se manter vivo.
vítimas iam direto para o céu. Marcelo cumpre pena em manicômios judi-
ciários desde 1993 e confessou 13 dos 14 homicídios.
Como se pode observar acima a falta de conexão de realidade nos casos re-
lacionados com psicose é uma constante.
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exemplo, tem por base um indivíduo estruturado na perversão, como descrito anteri-
ormente. Para a comportamental, o indivíduo associa a agressão recebida com a
ideia de que só recebe carinho por meio da agressão, já a neurociência traz uma
visão biológica. A questão tem que ser entendida como multifatorial, pois sabemos
que todo ser humano é biopsicossocial. Raine (2015) seguindo a linha da neurociên-
cia acredita que alguns indivíduos nascem com certas particularidades no cérebro,
tornando-o mais propício a desenvolver o transtorno ora analisado. Nossos pensa-
mentos, desejos e emoções se formam de acordo com o funcionamento do cérebro,
em determinadas ocasiões, o cérebro modifica suas atividades dependendo da oca-
sião em que se encontra. No nível emocional, a redução no funcionamento da região
pré-frontal resulta em perda de controle sobre as partes evolutivamente mais primiti-
vas do cérebro, como o sistema límbico, que geram emoções cruas, como a raiva e
a ira. O córtex pré-frontal, mais sofisticado, mantém uma tampa sobre essas emo-
ções límbicas.
Leve: poucos problemas de conduta, se existem, além dos exigidos para fa-
zer o diagnóstico, sendo que os problemas de conduta causam apenas um dano
pequeno a outras pessoas.
Grave: muitos problemas de conduta além dos exigidos para fazer o diag-
nóstico ou problemas de conduta que causam dano considerável a outras pessoas.
Cabe fazer uma diferenciação (SILVA, 2008) em relação aos casos severos,
com métodos cruéis sofisticados, eles sentem um enorme prazer com seus atos bru-
tais como vemos nos casos de serial killers (assassinos em série). Contudo deve-se
ressaltar qualquer que seja o grau de gravidade, todos, invariavelmente, deixam
marcas de destruição por onde passam, sem piedade. Felizmente os psicopatas
graves são a minoria. Segundo a classificação norte-americana de transtornos men-
tais (DSM-IV-TR), a prevalência geral do transtorno da personalidade antissocial ou
psicopatia é de cerca de 3% em homens e 1% em mulheres, em amostras comunitá-
rias.
Existem (CASOY apud Dr. JOEL NORRIS), seis fases do ciclo do serial kil-
ler:
Vamos analisar o caso do serial killer americano Jerome Henry "Jerry" Brudos
ou mais conhecido como Jerry Brudos que mencionamos algumas vezes anterior-
mente que torturava e matava suas vítimas e colecionava seus sapatos. Ele era um
serial killer do tipo perverso com subestruturas sádicas e fetichistas. Ele tinha um
fetiche por sapatos de mulher desde os cinco anos, depois de brincar com sapatos
de salto alto numa lixeira. É evidente o desenvolvimento de patologias devido o mau
desenvolvimento em determinados pontos de fixação, nesse caso na fase fálica. In-
cidindo em perversão, em atos masoquistas e o evidente fetiche. Brudos sofreu
abuso infantil, sua mãe queria uma menina e o maltratava, ele roubava da vizinhan-
ça calçados femininos e roupas intimas, ainda criança. Alegadamente tentou roubar
os sapatos da sua professora do primeiro ano. Passou os primeiros dez anos a en-
trar e sair da psicoterapia e de hospícios. Começou a perseguir mulheres enquanto
adolescente, batendo-lhes e asfixiando-as até ficarem inconscientes, fugindo com os
seus sapatos.
Sua fixação por sapatos era tamanha que mesmo depois de preso seu fetiche
continuou, o levando a colecionar inúmeros catálogos de sapatos femininos em sua
cela para se masturbar. Então vemos mais uma vez aqui a importância da análise do
trófeu levado pelo serial killer para determinar o tipo de fixação e possível histórico,
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uma vez que ele nos conta a necessidade de reviver a realização dos desejos dos
id, e seus conteúdos pulsionais. O fetiche pode ser descrito como uma substrutura
da perversão onde o objeto de prazer está vinculado a parcialidades como um objeto
inanimado, ou partes do corpo por exemplo. Esta satisfação de pulsão sexual focada
em parcialidade explica ainda a obtenção de troféus de muitos serial killers, já que
uma mecha de cabelo ou um sapato, como vimos no caso de Brudos, pode ativar a
lembrança do prazer que teve vinculado com a violência contra a vítima.
O assassino Jerry Brudos fotografava suas vítimas antes de matá-las, e pegar seus
sapatos para sua coleção.
Brudos também era necrófilo, fazia sexo com os cadáveres das vítimas o que
demonstra uma objetificação da vítima, pois não as via como uma pessoa, mas co-
mo um meio de atingir suas fantasias perversas de domínio e prazer, fica mais evi-
dente quando nos deparamos com o fato dele guardar em sua residência um seio
preservado como peso de papel e um pé de uma das vítimas que usava para se
masturbar. O assassino Jerry Brudos não é um serial killer do tipo psicótico, pois
apesar dos seus atos serem hediondos o portador de transtorno antissocial severo
não perde contato com a realidade, pois na perversão não existe uma alienação em
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relação a realidade como na psicose, ele sabe perfeitamente o que faz e o contexto,
apenas há a adulteração simbólica parcial do que ele elege. Há diferença em rela-
ção a neurose, pois ao contrário do neurótico, o perverso não se abstém do prazer,
vai a busca da satisfação dos seus desejos. E selecionada a vítima com determina-
do perfil que procura, planeja e à captura, e a vítima uma vez estando sob seu do-
mínio em um ambiente isolado e controlado permite que exerça sua fantasia de do-
mínio e satisfação sexual que incluem na maioria dos casos práticas sádicas.
Local onde Jerry Brudos abandonou o corpo de uma de suas vítimas, Harvey
Glatman, depois de mata-la.
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5. Tratamento?
Silva (2008) assim como Raine aponta que a psicopatia apresenta dois ele-
mentos causais fundamentais: uma disfunção neurobiológica e o conjunto de in-
fluências sociais e educativas que o psicopata recebe ao longo de sua vida. A en-
grenagem psicopática funcionaria desta maneira: a predisposição genética ou a vul-
nerabilidade biológica se concretizaria em uma criança que apresenta o deficit emo-
cional. Uma criança assim possui um sistema mental deficiente na percepção das
emoções e dos sentimentos, na regulação da impulsividade e na experimentação do
medo e da ansiedade. Nos casos em que os pais realizam de forma muito compe-
tente suas tarefas educacionais, essas características biológicas podem ser com-
pensadas ou canalizadas para atividades socialmente aceitas. No entanto, quando o
ambiente não é capaz de fazer frente a herança genética, seja por falhas educacio-
nais por parte dos pais, ou por uma socialização deficiente ou ainda por essa baga-
gem genética ser muito marcada, o resultado será um indivíduo perverso.
É mais sensato para Silva (2008) falarmos em ajuda e tratamento para as ví-
timas dos psicopatas do que para eles mesmos. Temos que ter em mente que as
psicoterapias são direcionadas às pessoas que estejam em intenso desconforto
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Conclusão
Referências bibliográficas
CASOY, Ilana. Serial killers: louco ou cruel? - Darkside Books – Ed. Ediouro. São
Paulo 2014.
GIBSON, Dirk C. Legends, Monsters, or Serial Murderers?: The Real Story Behind
an Ancient Crime. Praeger, 2012.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. Fontanar
1 ed. Ano 2008, Rio de janeiro, RJ.
VRONSKY, Peter. Sons of Cain: A History of Serial Killers from the Stone Age to the
Present Berkley Books, 2018.
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Leia também:
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