Transtornos Do Humor 2017

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Transtornos do Humor

Van Gogh, Worn Out, 1882

PROF. DR. SÉRGIO LUIZ RIBEIRO


CURSO DE PSICOLOGIA
UNIP – Campus de Bauru
Classe de transtornos no qual a perturbação fundamental é uma alteração do humor ou
do afeto, no sentido de uma depressão ou de uma elação. A alteração do humor em geral se
acompanha de uma modificação do nível global de atividade e a maioria destes transtornos
tende a ser recorrentes e a ocorrência dos episódios individuais pode frequentemente estar
relacionada com situações ou fatos estressantes.

Transtornos Depressivos

1)Definição

Caracterizados por sintomas de anedonia (incapacidade de sentir prazer), retraimento


em relação aos amigos e família, falta de motivação e baixa tolerância a frustração.
Apresentam sintomas físicos de perda da libido, perda de peso e anorexia, ganho de peso e
hiperfagia, cansaço, insônia terminal ou inicial, falta de cuidados pessoais, cefaléia,
constipação. Psiquicamente podem apresentar ideações suicidas, de desvalia, pensamentos de
culpa, ruína, niilismo e desesperança. Nos casos graves podem apresentar sintomas psicóticos
como alucinações ou delírios com esta temática.

2) Epidemiologia

- Atinge 10 % dos homens e 20 % das mulheres.


- Idade de início ao redor dos 40 anos.
- Maior probabilidade com antecedentes familiares de transtorno
humor.

3) Tipos de Transtornos Depressivos

I) Depressão Grave
Quadro depressivo no qual a pessoa apresenta vários dos sintomas depressivos de
forma marcante, angustiante e com muita gravidade, com a perda da autoestima e ideias de
desvalia ou culpa. As ideias e os atos suicidas são comuns com grave risco de suicídio e

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observa-se em geral uma série de sintomas somáticos (dores, inapetência, desnutrição, etc.).
Pode apresentar sintomas psicóticos de alucinações, ideias delirantes, de uma lentidão
psicomotora ou de estupor de uma gravidade tal que todas as atividades sociais normais
tornam-se impossíveis.

Caso: Janaína, 20 anos, casada, mora com a família do marido. Ela atirou óleo de cozinha
quente no rosto do marido e então ateou fogo em si mesma. Foi levada à emergência para
tratamento das queimaduras e então encaminhada para avaliação psiquiátrica. Três meses
antes a esposa de seu cunhado tinha se matado da mesma maneira. Janaína tinha
testemunhou o suicídio e ficara gravemente chocada. Desde aquele dia tinha perdido o
interesse por sua casa, mal falava com as pessoas isolava-se o mais que podia. Parecia
fatigada, dormia mal e seu apetite diminuiu. Nos últimos dias antes de se queimar não tinha
comido nem falado com ninguém. O incidente ocorreu enquanto ela preparava a comida, o
que sempre fazia naquela hora do dia. As pessoas da família disseram que ela atirou o óleo
em seu marido sem qualquer aviso e sem razão aparente. Tinha se casado aos 17 anos, o
marido era 5 anos mais velho e era dependente de maconha e sofria de tuberculose. Após o
casamento mudou-se com o marido na casa onde viviam com os pais dele e dois de seus
irmãos e suas esposas. Ela não estava muito satisfeita com o casamento e referia que o
relacionamento sexual com o marido não era satisfatório. Apesar disto tinha um bom
relacionamento com a família do marido. Na entrevista ela estava prostrada na cama e
parecia aterrorizada. Após muita insistência, falou que era um fardo para a nova família, que
merecia morrer e que foi a cunhada (falecida) que mandou ela atirar óleo no marido e em si
mesma.

II) Depressão Moderada

Apresenta alguns dos sintomas depressivos com gravidade moderada e a pessoa


aparentemente tem muita dificuldade para continuar a desempenhar as atividades de rotina ou
as realizam, mas com desempenho muito prejudicado. Pode apresentar ideações e intentos
suicidas, menos frequentes que na depressão grave e alguns sintomas físicos.

Caso: Joana, viúva de 50 anos. Após a morte do marido, há 10 meses, vendeu sua
casa e mudou-se para um apartamento alugado. Foi encaminhada para avaliação por ter se

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tornado cada vez mais deprimida após a morte do marido por linfoma maligno, após ter
ficado doente por 3 meses. Ele foi internado no hospital para fazer radioterapia e
quimioterapia, que não deram resultado, e nunca mais voltou para casa. Joana sofreu com a
morte do marido, mas conseguiu cuidar do enterro, bem como de outras questões com
relação a ela mesma, incluindo a venda da casa e mudança para o apartamento. Este ficava
num bairro desconhecido e ela sentia-se terrivelmente só. Tentou manter contato com filhos e
amigos, mas acabou por parar de sair. Tornou-se cada vez mais deprimida, especialmente
nas quatro últimas semanas antes da avaliação. Sentia-se muito infeliz e não tinha interesse
por coisa alguma. As atividades cotidianas tornaram-se insuportáveis e era incapaz de fazer
qualquer serviço doméstico. Sentia-se doente, com sensações de queimação nos olhos. Estava
inquieta e não conseguia relaxar, dizia que era como se houvesse uma faixa apertada em
volta de sua cabeça. Seu sono estava perturbado, acordava muito cedo, comia mal e havia
perdido quase sete quilos em três meses. Começou a pensar que sua própria morte seria um
alívio, mas não pensava seriamente em suicídio por causa da dor que isto causaria aos filhos.

III) Depressão Leve

Geralmente estão presentes alguns sintomas depressivos de pouca gravidade. A pessoa


usualmente sofre com a presença destes sintomas, mas provavelmente será capaz de
desempenhar a maior parte de suas atividades.

IV) Depressão Pós-parto

Grave depressão que se inicia após o parto, usualmente num período de 30 dias.
Geralmente ocorre em mulheres que possuíam alguma pré-disposição emocional e/ou
genética. Apresenta insônia grave, labilidade e fadiga, tentativas de suicídio, crenças
homicidas e delirantes acerca do bebê, falta de cuidado e alimentação para com o bebê.
Necessita de intervenção de urgência e acompanhamento intensivo. Necessário
acompanhamento durante próximas gestações, pois é grande a possibilidade de apresentar o
quadro novamente após novo parto.

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4) Tratamentos

Atendimento intensivo (Depressão grave e pós-parto)


– CAPS, NAPS, Hospital-Dia, Enfermaria psiquiátrica em hospital geral, hospital
psiquiátrico. Articulação de várias modalidades de cuidado por meio de equipe
interdisciplinar e de acordo com a necessidade da pessoa e seu projeto terapêutico,
priorizando:
- Avaliação e utilização de medicação, apoio psicológico e psicoterapia individual ou
grupal.

Medicamentoso (Depressão grave, moderada e pós-parto)


- Antidepressivos: Tryptanol, Tofranil, Anafranil, Fluoxetina e Sertralina.
- Ansiolíticos: Diazepan, Amytril.

Psicoterapia:
- Insight ( Depressão moderada e leve)
- Apoio (Depressão grave e pós-parto)

Transtorno Maníaco (Mania)

1) Definição

A pessoa apresenta energia excessiva, insônia (falta de necessidade de dormir),


assume atividades e responsabilidades em excesso, anorexia ou hiperfagia, aumento da libido,
agitação psicomotora, hiperexcitabilidade, baixa tolerância à frustração, labilidade emocional,
euforia, expansão e irritabilidade. Aparece também verborragia, fuga de ideias, neologismos,
aceleração do pensamento e das associações. Apresenta também aumento exagerado da
autoestima, egocentrismo, delírios de grandeza e de referência. Raramente apresentam
alucinações e frequentemente tem negação total da doença. Nos quadros graves pode chegar a
morte por exaustão do organismo.

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2) Epidemiologia

- 1% da população.
- Homens = mulheres.
- Início ao redor dos 30 anos.
- Maior probabilidade com antecedentes familiares de quadros afetivos.

3) Tipos de Transtornos Maníacos

I - Mania

- Mania sem sintomas psicóticos: apresenta elevação do humor fora de proporção com a
situação do sujeito, podendo variar de uma jovialidade descuidada a uma agitação
praticamente incontrolável. Esta elação se acompanha de um aumento da energia, levando à
hiperatividade, um desejo de falar e uma redução da necessidade de sono. A atenção não pode
ser mantida, e existe grande distraibilidade. A pessoa apresenta frequentemente um aumento
da autoestima com ideias de grandeza e superestimativa de suas capacidades. A perda das
inibições sociais pode levar a condutas imprudentes, irrazoáveis, inapropriadas ou deslocadas.
Caso: Mário, 31 anos, operário. Foi trazido ao Pronto Socorro contra sua vontade por dois
de seus irmãos. Estes diziam que ele estava extremamente agitado, falando e movimentando-
se constantemente, sem que a família pudesse manejar a situação. Um mês antes tinha
começado a falar demais, embora não sobre um assunto em particular. A tagarelice era
combinada com “comportamentos inadequados”, que era embaraçoso para o resto da
família. Ela cantava canções maliciosas, dançava e dizia piadas obscenas. Este
comportamento era completamente diferente de seu caráter e ele também fazia coisa com
completa desconsideração das circunstâncias. Sua condição desenvolveu-se rapidamente e
ele dormia muito pouco, começou a comer excessivamente e estava constantemente em
movimento. A maior parte do tempo tinha um humor expansivo, ficando facilmente irritado e
agressivo. Na avaliação falava muito, sua atenção era fugaz, estava orientado quanto ao
tempo, lugar e a si mesmo e não tinha insight do fato de ter um problema psiquiátrico.

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- Mania com sintomas psicóticos: presença, além dos sintomas acima, ideias delirantes (em
geral de grandeza) ou de alucinações (em geral do tipo de voz que fala diretamente ao
sujeito), de agitação, de atividade motora excessiva e de fuga de ideias de uma gravidade tal
que o sujeito se torna incompreensível ou inacessível a toda comunicação normal.

Caso: Sra. Aide, 27 anos, casada. Enfermeira numa clinica pediátrica. Foi levada a
emergência pelo marido pois estava muito excitada e tagarela. Após uma discussão com o
marido a quatro dias atrás ela saiu revoltada de casa e foi para uma igreja e ficou lá rezando
a noite toda. Voltou para casa e ficou mais ainda perturbada, muito agitada, não conseguia
dormir, falava sem parar e recusava-se a comer. Ela recitava orações fervorosamente, mas
misturava algumas das palavras sem perceber. Falava sem parar principalmente sobre
religião, parando apenas para rezar nas quais acusava inúmeras pessoas de serem
pecadoras. Na entrevista, Aide estava bem vestida, parecia excitada e irritável, proferia
xingamentos agressivos. Falava muito e muitas vezes era difícil de acompanhar porque
falava rápido e mudava de assunto também muito rápido. Sentia-se superior aos outros e
dizia que os outros tinham ciúmes de sua voz e de sua beleza e que ouvia todo mundo afirmar
isto. Distraia-se com muita facilidade.

- Hipomania: Transtorno caracterizado pela presença de uma elevação ligeira, mas


persistente do humor, da energia e da atividade, associada em geral a um sentimento intenso
de bem-estar e de eficácia física e psíquica. Aumento da sociabilidade, do desejo de falar, da
familiaridade e da energia sexual e uma redução da necessidade de sono. Estes sintomas não
são graves de modo a entravar o funcionamento profissional ou levar a uma rejeição social. A
euforia e a sociabilidade são por vezes substituídas por irritabilidade, atitude pretensiosa ou
comportamento grosseiro. As perturbações do humor e do comportamento não são
acompanhadas de alucinações ou de ideias delirantes.

II) Transtorno Bipolar

Alterna períodos de Depressão Grave com Mania ou Hipomania.

Caso: Pedro, 41 anos, pedreiro, casado. O quadro se iniciou aos 18 anos, acordou de
madrugada e permaneceu andando pela casa. Falava sozinho, perturbando os familiares. Na

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manhã seguinte, comprara diversas bicicletas, levando-as à garagem de sua casa para
desmontar e vender as peças. Chamou seus amigos para ajudá-lo, vindo a agredi-los
inesperadamente com um pedaço de pau. Passava as noites em claro, falava muito e
depressa, interpelando os passantes de maneira hostil e inadequada. Fora internado em
hospitais psiquiátricos por diversas vezes por este quadro, sendo que entre as internações
permanecia bem e sem sintomas. Apresentou alguns poucos episódios diferentes deste, com
duração de um a dois meses, onde apresentou lentificação psicomotora, ficava deitado o
tempos todo, não se alimentava, apresentava tristeza, falta de disposição. Estes episódios
foram menos frequentes dos que os de agitação. Desta vez chega ao Pronto Socorro
acompanhado da esposa. Ria muito, dizia estar muito feliz e disposto. Fazia piadas,
provocando riso daqueles que lhe rodeavam. Dizia ser um próspero fazendeiro, que havia
chegado em seu avião particular e que era esperado para negócios importantes. Dizia que
não sabia o que estava fazendo lá, pois tinha muitas fazendas e mais de 10 mil cabeças de
gado. Falava muito e depressa a ponto de não se entender o que dizia. A esposa dizia que
passava as noites acordado e dirigia-se aos familiares de maneira hostil e muitas vezes
agressiva.

4) Tratamentos

Atendimento intensivo (Manias e Transtorno Bipolar na crise)

– CAPS, NAPS, Hospital-Dia, Enfermaria psiquiátrica em hospital geral, hospital


psiquiátrico. Articulação de várias modalidades de cuidado por meio de equipe
interdisciplinar e de acordo com a necessidade da pessoa e seu projeto terapêutico, incluindo
atividades expressivas, apoio e orientação familiar, avaliação e uso de medicação e
psicoterapia de apoio.

Medicamentoso (Manias e Transtorno Bipolar)

- Antipsicóticos: Haldol, Neozine, Amplictil, Risperidona e Zyprexa.


- Antidepressivos: Tryptanol, Tofranil, Anafranil, Fluoxetina e Sertralina.
- Estabilizantes de Humor: Carbolítio e Tegretol.

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REFERÊNCIAS

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto


Alegre: Artes Médicas, 2000.

KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J. Manual de Psiquiatria Clínica. Rio de Janeiro: Medsi,


1992, cap. 6.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de Transtornos Mentais e de


Comportamento da CID-10. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

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