Fundamentos Do Direito Comum Europeu (Apontamentos 1º Teste - 28.10.2016)
Fundamentos Do Direito Comum Europeu (Apontamentos 1º Teste - 28.10.2016)
Fundamentos Do Direito Comum Europeu (Apontamentos 1º Teste - 28.10.2016)
1. Patrícios VS Plebeus
- Patrícios – nobres (patricii): aristocracia romana que exerce o poder político e auxilia o Rei;
- Plebeus – não nobres (plebs): classe desfavorecida sem acesso ao poder político;
Ao nível do exército, a distribuição dos soldados por postos era feita com base no
censo, ou seja, era determinada pela riqueza. Assim, os patrícios integravam a cavalaria
(combatiam a cavalo) e os plebeus a infantaria (combatiam a pé).
Patrícios e Plebeus não se relacionavam, nomeadamente o casamento entre ambos
não era permitido (o que só foi absolvido com a “lex Canuleia” em 450 a.C).
Havia também na estrutura societária de Roma os proletari, um grupo de pessoas que
habitava Roma mas que não integrava o sistema politica nem era regulado pelo ordenamento
jurídico pois não tinham bens próprios e estavam recenseadas como pessoas mas não como
proprietários.
Esta divisão da ordem social tinha também como característica o acesso a cidadão
romano (Quirite). O cidadão romano podia aquele que fosse:
- Filho de pai e mãe romanos;
- Filho de pai romano casado com mãe estrangeira, desde que esse casamento tenha
sido feito à luz dos critérios romanos;
- Filho de mãe romana casada com pai estrangeiro, desde que esse casamento tenha
sido feito à luz dos critérios romanos;
- Atribuída a cidadania romana por feitos em honra de Roma.
2. Pater Familias
A família era a unidade base da organização social romana e não era determinada por
uma relação de consanguinidade (=Cognatio) entre os seus membros, mas sim por uma
relação de subordinação ao Pater Familias (=Agmatio). O Pater Familias garantia a união da
família e, embora a subordinação a si só terminasse com a sua morte, a família continuava
unida por laços familiares. Como era o Pater Familias que detinha todo o património e poder
nas suas mãos (pois era o mais velho), era ele que geria o fundo familiar, administrava as
propriedades da família e decidia a admissão de novos membros e a saída dos que estavam.
3. Clientela
Vínculo jurídico que assenta na dependência de alguém que carece de protecção face
a outra pessoa. Há assim uma relação de protecção e de lealdade, a qual era necessária para o
povo que tinha necessidade de se associar a alguém maior num período em que Roma era um
lugar perigoso.
Os clientes (plebeus e por vezes também estrangeiros) vão ocupar uma parcela de
terra que o patrono (patrícios) lhes cedia in precarium, pois não conseguia explorar
directamente, e pela qual pagam uma renda. Esta renda estabelecia em troca, não só a
ocupação da terra, como também de segurança e protecção.
Havia vários modos de adquirir a condição de cliente:
- Deditio: submissão voluntária de um grupo familiar ou político a uma gens;
- Applicatio: submissão de um estrangeiro à protecção da gens;
- Manumissio: instituto pelo qual o escravo o deixa de ser.
Os clientes deviam fidelidade ao seu patrono, e este dava-lhe em troca protecção.
Como os romanos consideravam os laços de fidelidade de natureza sagrada, a violação dos
laços de protecção por parte do patrono (patronus) podia levar à aplicação da pena de morte
ao mesmo. Isto significava que os clientes que eram vítimas da infidelidade do patrono,
podiam matá-lo sem serem punidos.
Ao longo da monarquia romana, o poder politico era do rei. O Rei (rex) tinha caracter
sagrado e estavam-lhe atribuídas funções militares, religiosas e judiciais. Desemprenhava as
funções de:
1. Comandante do exército (imperium militae): garantia a segurança do território
(motivo pelo qual os Reis eram Etruscos), o qual inicialmente só constituía a península itálica e
apenas a mais umas cidades.
O Rei era o chefe do exército e por isso:
- Delegava poderes como chefe do exército;
- Delegava poderes para comandar a cavalaria;
- Perseguia e reprimia os crimes mais graves.
3. Representante entre deuses e humanos: era um factor fundamental pois era a base
do seu poder político. O rei detinha um forte caracter sagrado e poder religioso, e por isso
tinha a função de ler os auspícios (voo das aves que significava a vontade dos deuses).
Para governar a cidade o Rei não actuava sozinho, tinha a ajuda do Senado.
O Senado (senatus) era composto por 100 elementos, que eram na sua maioria
patrícios. Tinha no período monárquico como principais funções: aconselhar e auxiliar o Rei,
auctoritas, ius belli et pacis e o interregnum.
Este órgão dava a sua opinião ao rei quando este tinha dúvidas, o que se denominou
de pareceres do Senado (Senatus Consultum). Estes pareceres detinham auctoritas, ou seja,
eram saberes socialmente reconhecidos e por isso o rei seguia-os ordinariamente. O senado
também detinha o ius belli et pacis, ou seja, tinha o direito de concluir tratados internacionais.
Para aceder ao senado era necessário ter em conta a riqueza de cada um, uma vez que
só entravam os mais ricos. Para determinar este acesso existia um Censor.
Censor = organizava a riqueza das famílias e determinava de acordo com essa
organização, quem acedia ao Senado. A sua função gerava poder político e por isso vai estar no
topo das magistraturas romanas, mesmo após a monarquia cair.
O Senado também exercia uma importante função após a morte do Rei: Interregnum.
O interregnum acontecia após a morte do rei e o poder que antes era dele é devolvido aos
Pater Familias mais antigos (Senado), que por sua vez vão delegar apenas um entre si para
exercer o Interrex.
O interrex tinha uma duração de 5 dias e como objectivo ler os auspícios e indicar
assim o nome do novo rei. Após isto, o rei era proclamado pelas assembleias em vigor para
poder tomar posse. Contudo, este rei necessitava de ser aprovado pelo povo.
Quando o interrex falhava, ou seja, quando os deuses não se manifestavam pelo voo
das aves, era declarado outro interrex para manter o poder seguro.
Quanto ao fim da monarquia, Tarquínio Prisco, nobre etrusco, destruiu no seu reinado
as instituições políticas e passou a governar como um rei absoluto exercendo um poder
despótico.
Embora Sérvio Túlio, seu sucessor, tenha implementado várias reformas para voltar a
institucionalizar o poder político estas foram todas anuladas por Tarquínio, o Soberbo, que
sobe ao poder.
Tarquínio, o Soberbo, foi o último Rei deste período histórico que voltou a introduzir o
poder despótico absoluto que o seu pai outrora tinha começado a implementar.
Este carácter absoluto, tirânico e arbitrário dos Tarquínios originou um golpe palaciano
levado a cabo por Bruto e Collatino em 510 a.C. que, com o apoio da população romana, ditou
o fim da monarquia.
Roma fica entregue a dois cônsules com o objectivo de travar a centralização do poder
e sucessivamente, os desvios autoritários. Destes cônsules, um tinha o poder de tomar
decisões e o outro, o poder de intercessio, ou seja, com o poder de vetar/paralisar a decisão
do primeiro cônsul. Ao fim do ano, o cônsul tem de prestar contas ao povo, mostrar o que foi
feito.
---- PERIODO DE TRANSIÇAO MONARQUIA (509 a.C.) – REPÚBLICA (367 a.C.) ---
A partir deste período o poder não volta mais a ser unitário, e para o exercer, dão lugar
as magistraturas.
Em Roma, a lei é o comando imposto pelo povo e cumprido por si mesmo (“lex
rogata”), ou seja, é o povo e não o governo que aprova/delega e cumpre a lei, a qual era
denominada de constituição imperial.
Em Roma, o direito era por sua vez entendido como algo sacral, algo supremo. Nesta
estrutura estavam inseridos os colégios sacerdotais (collegia sacerdotalia), importantes
instituições com forte poder de influência sobre as decisões políticas. Destes colégios faziam
parte:
1.Colégio dos áugures: em Roma era necessário procurar legitimar a vontade divina na
forma como decidiam a vida dos homens. As formas de encontrar a expressão da vontade dos
deuses eram recorrendo aos:
- Auspicia: ler o voo das aves. O auspicium era um instrumento fundamental de
exercício do poder do rei que determinava a sua acção e o tempo de a executar. Ou seja, eram
os auspicia favoráveis ou desfavoráveis que diziam ao rei como e quando agir e por isso eram
mais comuns quando era necessário efectivar uma determinada decisão e o seu conteúdo.
- Auguria: procura todo o tipo de acontecimentos indícios dessa vontade no
comportamento/fisionomia/manifestações dos animais e da natureza. O augurium implicava a
possibilidade de uma decisão que se pretendia tomar, ser afastada porque o que se previa dela
era um efeito negativo. Assim, o augurium pretendia evitar e impedir que certas decisões
prejudiciais fossem tomadas e cumpridas. Era mais complexo do que o auspicium pois não
procurava apenas a vontade divina mas sim concentrar as condições para um melhor exercício
da acção humana.
É neste seguimento que surge a Lei das XII Tábuas (450 a.C.), a lei mais antiga de
Roma. Este documento ditava o processo da lei e quem é que detinha o cargo de Pater
Famílias. Também estava na Lei das XII Tábuas determinado que a palavra para designar
estrangeiro era a mesma que designa inimigo: hostis (só mais tarde o estrangeiro passa a ser
designado como pereginus – aquele que atravessa o campo).
Era necessário garantir que a aplicação das mais graves e severas medidas repressivas,
e penas máximas não ficassem totalmente no arbítrio dos patrícios, e por isso é criada uma
contra magistratura: o tribuno da plebe e o provocatio at populum.
Existiam mais dois tipos de assembleias em Roma:
- Comitia Tributa: convocados pelos magistrados e no qual se decide e deliberam
assuntos não tão importantes, por exemplo, nomeação dos magistrados mais baixos;
- Tribuna da Plebe (concília plebis): constituída por plebeus apenas com a função de
eleger um magistrado, o que só acontece quando é necessário proteger os interesses do povo,
ou seja, eram eleitos quando houvesse uma determinada medida que afectasse os interesses
dos plebeus, e por isso podia paralisar qualquer ordem de outro magistrado. O objectivo desta
assembleia é elevar os plebeus ao mesmo lugar que os patrícios e evitar guerras civis.
Esta assembleia permitia a um cidadão condenado à morte por um magistrado com o
poder para tal, evitar a condenação pedindo a instauração de um processo nos comitia. O
processo comicial tinha duas fases:
- Inquérito (aquisito): feito pelo magistrado para apurar a real existência do crime;
- Resposta da assembleia (rogatio): a assembleia dava uma resposta através de uma
deliberação que se pronunciava sobre a pena.
Contudo, a 452 a.C. foi implementada uma lei que fixava os limites máximos de
tolerância para que os magistrados pudessem aplicar multas e penas sem o apelo ao populus
(Menenia Sextiae).
Esta assembleia aprovava também plebiscitos, leis aprovadas pelos plebeus nos
concilia plebis e as quais se declararam obrigatórias a todos os que as votassem e aprovassem.
Estes plebiscitos foram inicialmente apenas para os plebeus (449 a.C.), mas mais tarde
passaram a integrar todo o povo romano, incluindo patrícios (287 a.C.).
A distinção entre magistrado maior e menor suscitou alguns conflitos e por isso
adoptou-se três princípios estruturantes destas relações:
1. Princípio da prevalência do imperium: permitia que os magistrados com imperium
pudessem vetar qualquer acto mesmo que esse fosse inerente às suas competências.
2. Princípio da hierarquia: estabelecia que o magistrado com imperium e potestas maior
podia anular as ordens e vetar os actos dos outros magistrados com imperium e
potestas menor.
3. Princípio da tutela da plebe: os concila plebis tinham o poder de veto sobre a
actividade dos outros.
O ditador surge na República como uma figura que se manifestava nas situações de
perturbações. A escolha do ditador estava dividida em duas fases: o Senado traçava um perfil e
o cônsul escolheria uma pessoa para tal. Este cargo durava 6 meses e tinha como objectivo
estabelecer a ordem. O ditador não tinha de prestar contas e ninguém podia paralisar as suas
ordens.
O fim da República deve-se ao facto de um destes ditadores não querer abdicar do seu
poder após os 6 meses. Foi o caso de Júlio César, que não quis abdicar do seu cargo e por isso
transformou este período num período de instabilidade.
Uma das características do Principado era a sua sucessão. A transmissão do poder era
feita pela sucessão através do carisma pessoal. A pessoa indicada para sucessor do prínceps
era um dos seus melhores colaboradores, uma espécie de vice prínceps que ia aprendendo a
decidir e a organizar até suceder ao cargo.
A sucessão ao prínceps era assim feita a partir do momento que o prínceps em vigor
sente o seu governo a chegar ao fim. Nesse momento, chamava-se um herdeiro espiritual que
passava a seguir o prínceps em tudo o que fazia. Mais tarde, quando o prínceps morria, o
Senado iria surgir este sucessor herdeiro ao povo.
A crise do Império inicia-se com a crise do Principado como regime politica e forma de
governo. A queda do Principado deveu-se principalmente a:
- Aparecimento do Principado com uma estrutura que deixa em aberto a relação do
prínceps com os órgãos de poder da república.
- Desromanização do Império: a presença de romanos como titulares de cargos e
rituais da república foram-se esvaziando e a sede do principado e a figura do prínceps
enfraqueceram-se com a perda de importância de Roma e Itália. O exército deixou de ser
capaz de garantir a estabilidade deste vasto império.
- Forma como se dava a sucessão do prínceps.
- Redução da fonte de angariação de escravos, o que tem implicações na produtividade
dos campos agrícolas. O campo é abandonado e acentua-se o movimento acelerado da
urbanização.
- Incapacidade política de manter os vínculos institucionais a todo o Império, o que
obrigou a um processo de autonomia política progressiva das províncias. Esta desagregação
política tem consequências económicas inevitáveis: diminuição do envio de receitas das
províncias para Roma e abandono da manutenção de infra-estruturas básicas.
- Cristianismo: começou a difundir-se no império, ameaçando a figura do imperador.
Os cristãos não obedeciam as leis do império, pois a sua religião punha em causa o imperador
e o seu imperium expresso nas leis. O cristianismo e o caracter sagrado do prínceps não eram
compatíveis pois tinham na sua génese a existência de um só deus que por sua vez não eram o
mesmo.
Diocleciano era contra o Cristianismo, e por isso vai organizar perseguições aos
cristãos. Acreditava que esta religião colocava em causa a unidade do Império e o poder do
imperador.