Fundamentos Do Direito Comum Europeu (Apontamentos 1º Teste - 28.10.2016)

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 16

Roma foi fundada no ano 753 a.C.

e vai-se progressivamente afirmando como


potência: primeiro à escala itálica, depois europeia, norte-africana e mais tarde médio oriental,
até se unificar como a maior entidade política conhecida naquela época.

MONARQUIA (753 a.C. – 510 a.C.)


- Direito quiritário ou nacional;
- Época Arcaica (753 a.C. – 130 a.C)

A emergência da entidade politica em Roma remontante para os momentos anteriores


a IV a.C. detém muitas dúvidas devido à dificuldade de acesso a dados relativos a esses
momentos e ao facto de a cidade ter sido invadida e incendiada pelos gauleses.
A emergência de Roma remonta para quando Rómulo mata Remo e, em 754-753 a.C.,
funda Roma numa das colinas da margem do rio Tibre, na região Latium (hoje Lazio).
Rómulo tornou-se inicialmente chefe dos Latinos (Latini) – povo que habitava Roma
desde a antiguidade – ou de uma tribo que integravam e associava-os aos Sabinos (sabini) ou a
parte deles, pois eram entica e culturalmente próximos por habitarem a mesma região. Após
um breve período de partilha de poder entre ambos, Rómulo acabaria por ficar chefe único do
conjunto de ambos os povos e inaugurou assim uma monarquia com a duração de dois séculos
e meio.
Contudo, muito antes de a Monarquia terminar, este povo viu-se obrigado a entregar o
poder que detinha aos Etruscos (etruschi), um povo que chegou àquela região a partir dos
finais do século VII.
Rómulo foi assim o primeiro Rei (rex) e por isso representa o momento de passagem
de uma Roma onde não existia formalmente uma cidade no âmbito cidade-estado – e na qual
os povos se organizavam estabelecendo apenas ligações de dimensão politica e religiosa de
baixa intensidade integrativa – para uma Roma onde esses povos criaram uma cidade-estado,
pois acedem a um grau de integração muito superior.

Ao nível social, deve-se a Rómulo a integração básica e inicial da cidade, a qual


mantinha vários tipos de relações:

1. Patrícios VS Plebeus
- Patrícios – nobres (patricii): aristocracia romana que exerce o poder político e auxilia o Rei;
- Plebeus – não nobres (plebs): classe desfavorecida sem acesso ao poder político;
Ao nível do exército, a distribuição dos soldados por postos era feita com base no
censo, ou seja, era determinada pela riqueza. Assim, os patrícios integravam a cavalaria
(combatiam a cavalo) e os plebeus a infantaria (combatiam a pé).
Patrícios e Plebeus não se relacionavam, nomeadamente o casamento entre ambos
não era permitido (o que só foi absolvido com a “lex Canuleia” em 450 a.C).
Havia também na estrutura societária de Roma os proletari, um grupo de pessoas que
habitava Roma mas que não integrava o sistema politica nem era regulado pelo ordenamento
jurídico pois não tinham bens próprios e estavam recenseadas como pessoas mas não como
proprietários.
Esta divisão da ordem social tinha também como característica o acesso a cidadão
romano (Quirite). O cidadão romano podia aquele que fosse:
- Filho de pai e mãe romanos;
- Filho de pai romano casado com mãe estrangeira, desde que esse casamento tenha
sido feito à luz dos critérios romanos;
- Filho de mãe romana casada com pai estrangeiro, desde que esse casamento tenha
sido feito à luz dos critérios romanos;
- Atribuída a cidadania romana por feitos em honra de Roma.

2. Pater Familias
A família era a unidade base da organização social romana e não era determinada por
uma relação de consanguinidade (=Cognatio) entre os seus membros, mas sim por uma
relação de subordinação ao Pater Familias (=Agmatio). O Pater Familias garantia a união da
família e, embora a subordinação a si só terminasse com a sua morte, a família continuava
unida por laços familiares. Como era o Pater Familias que detinha todo o património e poder
nas suas mãos (pois era o mais velho), era ele que geria o fundo familiar, administrava as
propriedades da família e decidia a admissão de novos membros e a saída dos que estavam.

3. Clientela
Vínculo jurídico que assenta na dependência de alguém que carece de protecção face
a outra pessoa. Há assim uma relação de protecção e de lealdade, a qual era necessária para o
povo que tinha necessidade de se associar a alguém maior num período em que Roma era um
lugar perigoso.
Os clientes (plebeus e por vezes também estrangeiros) vão ocupar uma parcela de
terra que o patrono (patrícios) lhes cedia in precarium, pois não conseguia explorar
directamente, e pela qual pagam uma renda. Esta renda estabelecia em troca, não só a
ocupação da terra, como também de segurança e protecção.
Havia vários modos de adquirir a condição de cliente:
- Deditio: submissão voluntária de um grupo familiar ou político a uma gens;
- Applicatio: submissão de um estrangeiro à protecção da gens;
- Manumissio: instituto pelo qual o escravo o deixa de ser.
Os clientes deviam fidelidade ao seu patrono, e este dava-lhe em troca protecção.
Como os romanos consideravam os laços de fidelidade de natureza sagrada, a violação dos
laços de protecção por parte do patrono (patronus) podia levar à aplicação da pena de morte
ao mesmo. Isto significava que os clientes que eram vítimas da infidelidade do patrono,
podiam matá-lo sem serem punidos.

Ao longo da monarquia romana, o poder politico era do rei. O Rei (rex) tinha caracter
sagrado e estavam-lhe atribuídas funções militares, religiosas e judiciais. Desemprenhava as
funções de:
1. Comandante do exército (imperium militae): garantia a segurança do território
(motivo pelo qual os Reis eram Etruscos), o qual inicialmente só constituía a península itálica e
apenas a mais umas cidades.
O Rei era o chefe do exército e por isso:
- Delegava poderes como chefe do exército;
- Delegava poderes para comandar a cavalaria;
- Perseguia e reprimia os crimes mais graves.

2. Administrador da cidade (Imperium domi): resolvia os aspectos da vida colectiva na


relação das pessoas com a comunidade e os conflitos entre pessoas através da aplicação de
regras ordenadas por si.

3. Representante entre deuses e humanos: era um factor fundamental pois era a base
do seu poder político. O rei detinha um forte caracter sagrado e poder religioso, e por isso
tinha a função de ler os auspícios (voo das aves que significava a vontade dos deuses).

Para governar a cidade o Rei não actuava sozinho, tinha a ajuda do Senado.
O Senado (senatus) era composto por 100 elementos, que eram na sua maioria
patrícios. Tinha no período monárquico como principais funções: aconselhar e auxiliar o Rei,
auctoritas, ius belli et pacis e o interregnum.
Este órgão dava a sua opinião ao rei quando este tinha dúvidas, o que se denominou
de pareceres do Senado (Senatus Consultum). Estes pareceres detinham auctoritas, ou seja,
eram saberes socialmente reconhecidos e por isso o rei seguia-os ordinariamente. O senado
também detinha o ius belli et pacis, ou seja, tinha o direito de concluir tratados internacionais.
Para aceder ao senado era necessário ter em conta a riqueza de cada um, uma vez que
só entravam os mais ricos. Para determinar este acesso existia um Censor.
Censor = organizava a riqueza das famílias e determinava de acordo com essa
organização, quem acedia ao Senado. A sua função gerava poder político e por isso vai estar no
topo das magistraturas romanas, mesmo após a monarquia cair.

O Senado também exercia uma importante função após a morte do Rei: Interregnum.
O interregnum acontecia após a morte do rei e o poder que antes era dele é devolvido aos
Pater Familias mais antigos (Senado), que por sua vez vão delegar apenas um entre si para
exercer o Interrex.
O interrex tinha uma duração de 5 dias e como objectivo ler os auspícios e indicar
assim o nome do novo rei. Após isto, o rei era proclamado pelas assembleias em vigor para
poder tomar posse. Contudo, este rei necessitava de ser aprovado pelo povo.
Quando o interrex falhava, ou seja, quando os deuses não se manifestavam pelo voo
das aves, era declarado outro interrex para manter o poder seguro.

O povo funcionava organizado em assembleias (comitia):


Assembleias de Cúrias (Comitia Curiata): era um órgão que reunia todo o populus de Roma e
o qual era presidido por um sacerdote, o curio maximus. Reuniam-se para:
- Votar a “lex curiata de imperium”: eleição/aprovação da lei sobre a qual o novo rei,
proposto pelo Senado, era investido dos seus poderes – votavam o nome proposto para rei, o
qual era primeiro aprovado (creatio) e depois submetido a uma cerimónia religiosa
(inauguratio) onde os deuses aceitavam o novo rei revestido de poderes sagrados e políticos.
- Votar as propostas de lei do rei que, uma vez aprovadas, vigoravam como leges
regiae.
- Decidir a guerra e a paz.
Assembleias de Centúrias (Comitia Centuriata): estavam ligados à organização militar de
Roma, pois surgiu quando Roma se começou a focar mais na composição do seu exército, e
com o passar do tempo vai-se tornar a assembleia mais importante. Inicialmente a sua função
era decidir sobre a guerra e a paz, mas com o surgimento da República começa a assumir as
funções da Comitia Curiata: eleição dos magistrados e aprovação de leis. Com a sua perda de
importância face à comitia centuriata, não vai desaparecer imediatamente, mas passa apenas
a exercer rituais sagrados.

Quanto ao fim da monarquia, Tarquínio Prisco, nobre etrusco, destruiu no seu reinado
as instituições políticas e passou a governar como um rei absoluto exercendo um poder
despótico.
Embora Sérvio Túlio, seu sucessor, tenha implementado várias reformas para voltar a
institucionalizar o poder político estas foram todas anuladas por Tarquínio, o Soberbo, que
sobe ao poder.
Tarquínio, o Soberbo, foi o último Rei deste período histórico que voltou a introduzir o
poder despótico absoluto que o seu pai outrora tinha começado a implementar.
Este carácter absoluto, tirânico e arbitrário dos Tarquínios originou um golpe palaciano
levado a cabo por Bruto e Collatino em 510 a.C. que, com o apoio da população romana, ditou
o fim da monarquia.
Roma fica entregue a dois cônsules com o objectivo de travar a centralização do poder
e sucessivamente, os desvios autoritários. Destes cônsules, um tinha o poder de tomar
decisões e o outro, o poder de intercessio, ou seja, com o poder de vetar/paralisar a decisão
do primeiro cônsul. Ao fim do ano, o cônsul tem de prestar contas ao povo, mostrar o que foi
feito.

---- PERIODO DE TRANSIÇAO MONARQUIA (509 a.C.) – REPÚBLICA (367 a.C.) ---

Este período entre a monarquia e a república é um período marcado pela instabilidade


social e politica. A derrota face aos gregos limitou a possibilidade de comércio, e por isso
determinou o regresso a uma economia de base agrícola e consequentemente a uma estrutura
de poder assente na propriedade fundiária.
A insegurança também contribuiu para esta instabilidade, tudo por causa do fim da
expansão Etrúria que coloca Roma em colisão com outros povos. Isto traduziu-se numa
necessidade de mobilização constante do exército e por isso, o papel indispensável da plebe na
defesa militar de Roma.
Contudo, este período ficou marcado principalmente pela luta dos plebeus para
conquistarem a paridade política e o prestígio social atribuído aos patrícios (494 a.C.).
Os plebeus detinham liberdade e cidadania, pois não eram escravos, mas eram
privados de poder e considerados inferiores. Este grupo social, que ocupavam o posto da
infantaria no exército, conseguem com o passar do tempo nivelar-se face aos patrícios que
integravam a cavalaria. Com o seu prestígio na carreira das armas e com a ajuda do comércio
marítimo que dominavam e os fazia enriquecer, a plebe vai começar a reivindicar o poder que
antes pertencia aos patrícios.

A partir deste período o poder não volta mais a ser unitário, e para o exercer, dão lugar
as magistraturas.

Em Roma, a lei é o comando imposto pelo povo e cumprido por si mesmo (“lex
rogata”), ou seja, é o povo e não o governo que aprova/delega e cumpre a lei, a qual era
denominada de constituição imperial.
Em Roma, o direito era por sua vez entendido como algo sacral, algo supremo. Nesta
estrutura estavam inseridos os colégios sacerdotais (collegia sacerdotalia), importantes
instituições com forte poder de influência sobre as decisões políticas. Destes colégios faziam
parte:

1.Colégio dos áugures: em Roma era necessário procurar legitimar a vontade divina na
forma como decidiam a vida dos homens. As formas de encontrar a expressão da vontade dos
deuses eram recorrendo aos:
- Auspicia: ler o voo das aves. O auspicium era um instrumento fundamental de
exercício do poder do rei que determinava a sua acção e o tempo de a executar. Ou seja, eram
os auspicia favoráveis ou desfavoráveis que diziam ao rei como e quando agir e por isso eram
mais comuns quando era necessário efectivar uma determinada decisão e o seu conteúdo.
- Auguria: procura todo o tipo de acontecimentos indícios dessa vontade no
comportamento/fisionomia/manifestações dos animais e da natureza. O augurium implicava a
possibilidade de uma decisão que se pretendia tomar, ser afastada porque o que se previa dela
era um efeito negativo. Assim, o augurium pretendia evitar e impedir que certas decisões
prejudiciais fossem tomadas e cumpridas. Era mais complexo do que o auspicium pois não
procurava apenas a vontade divina mas sim concentrar as condições para um melhor exercício
da acção humana.

2. Colégio dos pontífices: detinha os poderes politico-religiosos que o Rei devia


respeitar.
O colégio dos pontífices integrava primeiramente três pontífices, e mais tarde passa a integrar
cinco, e era presidido pelo Pontifex maximus.
Os pontífices, que eram designadamente patrícios, estavam por sua vez isentos de
pagar impostos e de cumprir serviço militar, e eram designados por cooptação para um cargo
vitalício numa cerimonia designada de inauguratio que era presidida por um áugure.
Os pontífices foram adquirindo um saber técnico crescente na criação de soluções para
resolver de forma pacifica os litígios que surgiam. Cabia-lhes a eles a interpretação das regras
do direito e a observação da religião.
Neste período de tempo, a validade jurídica dos actos assentava no cumprimento de
um conjunto de formalidades e rituais de natureza sacral, que por sua vez só podiam ser
praticados ou tinham de ser presenciados pelos sacerdotes.
Assim, este colégio tinha como objectivo ditar a justiça e impor as regras (mores
maiorum) com o auxílio dos deuses. Os sacerdotes pontífices exigiam que estas regras se
tornassem escritas de modo a reconhecer o seu direito. Para isto acontecer forma-se um corpo
de 10 patrícios, que não exercessem a função de sacerdote pontífice, que vão olhar para as
regras antigas de Roma (mores maiorum) e transformá-las em leis.

É neste seguimento que surge a Lei das XII Tábuas (450 a.C.), a lei mais antiga de
Roma. Este documento ditava o processo da lei e quem é que detinha o cargo de Pater
Famílias. Também estava na Lei das XII Tábuas determinado que a palavra para designar
estrangeiro era a mesma que designa inimigo: hostis (só mais tarde o estrangeiro passa a ser
designado como pereginus – aquele que atravessa o campo).

Era necessário garantir que a aplicação das mais graves e severas medidas repressivas,
e penas máximas não ficassem totalmente no arbítrio dos patrícios, e por isso é criada uma
contra magistratura: o tribuno da plebe e o provocatio at populum.
Existiam mais dois tipos de assembleias em Roma:
- Comitia Tributa: convocados pelos magistrados e no qual se decide e deliberam
assuntos não tão importantes, por exemplo, nomeação dos magistrados mais baixos;
- Tribuna da Plebe (concília plebis): constituída por plebeus apenas com a função de
eleger um magistrado, o que só acontece quando é necessário proteger os interesses do povo,
ou seja, eram eleitos quando houvesse uma determinada medida que afectasse os interesses
dos plebeus, e por isso podia paralisar qualquer ordem de outro magistrado. O objectivo desta
assembleia é elevar os plebeus ao mesmo lugar que os patrícios e evitar guerras civis.
Esta assembleia permitia a um cidadão condenado à morte por um magistrado com o
poder para tal, evitar a condenação pedindo a instauração de um processo nos comitia. O
processo comicial tinha duas fases:
- Inquérito (aquisito): feito pelo magistrado para apurar a real existência do crime;
- Resposta da assembleia (rogatio): a assembleia dava uma resposta através de uma
deliberação que se pronunciava sobre a pena.
Contudo, a 452 a.C. foi implementada uma lei que fixava os limites máximos de
tolerância para que os magistrados pudessem aplicar multas e penas sem o apelo ao populus
(Menenia Sextiae).
Esta assembleia aprovava também plebiscitos, leis aprovadas pelos plebeus nos
concilia plebis e as quais se declararam obrigatórias a todos os que as votassem e aprovassem.
Estes plebiscitos foram inicialmente apenas para os plebeus (449 a.C.), mas mais tarde
passaram a integrar todo o povo romano, incluindo patrícios (287 a.C.).

Com a abolição do dever de casar dentro do grupo e a legitimação dos casamentos


entre patrícios e plebeus, iniciou-se um caminho de integração social, política e jurídica.
Contudo, só com a entrada dos plebeus na vida familiar dos patrícios é que é possível a
abertura dos auspícia aos plebeus.
A instabilidade deste período de transição da monarquia para a república só termina
com a pacificação conseguida através da admissão dos plebeus nas magistraturas supremas,
como o consulado, formalizada nas Leges Liciniae Sextiae (367 a.C).
Estas medidas legislativas tinham então um significado quase mítico no culminar do
período de transição da monarquia para a república, uma vez que formalizam as reivindicações
históricas dos plebeus pela igualdade que consideravam necessária face aos patrícios para
assim se sentirem romanos em Roma. As Leges Liciniae Sextiae delititavam quatro aspectos:
1º - Limitação dos juros (lex Licinia de aere alleno): é possível ao devedor reduzir à
soma do valor do débito a pagar, o montante dos elevados juros já pagos e a possibilidade de
pagar o restante montante em três prestações a pagar anualmente;
2º - Nova forma de distribuição da terra (lex Licinia de modu agrorum): fixação de um
limite à possibilidade de apropriação de terras públicas e determinação de um limite de 500
jeiras de terra aos Pater Familias;
3º - Acesso dos plebeus aos cargos políticos (lex Licinia de consule plebeio):
possibilidade de ascensão dos plebeus ao consulado. Estava-lhes reservado um dos dois cargos
de cônsul. Estes cargos não são pagos, mas traduzem-se em liberdade a quem o exerce.
Embora só tenha sido cumprida a partir de 320 a.C., esta lei determinou uma evolução
significativa na participação política dos plebeus (172 a.C. passa a ser possível serem eleitos
dois cônsules plebeus);
4º- Lex Licinia Sextia de decemviris sacris faciundis: aumenta o número de
encarregados da custódia dos “livros sibilinos”, impondo que sejam escolhidos metade
patrícios e metade plebeus.

Estas normas instituíram o consulado como magistratura em que é exercido o poder


supremo do Estado, e a qual não está reservada apenas aos patrícios mas sim também aos
plebeus.

Contudo, os plebeus já tinham vindo a participar de certa forma nas magistraturas.


Entre 444 a.C. e 367 a.C., a cidade era governada ora por cônsules ora por tribuni militum
(colégio de comandantes militares). Uma vez que os plebeus tinham acesso a estes colégios,
isto permitia o seu acesso a cargos políticos.
Por um lado, para isto acontecer, foi necessário que a componente militar plebeia
impusesse ao Senado a sua participação. Por outro lado, há teorias que põem em hipótese o
Senado ter usado o tribunus militum para abrir portas às soluções que necessitassem da força
da plebe. Isto foi um factor muito importante pela forma como influenciou o ius Romanum.
Tinha como vantagem a junção e conciliação dos poderes supremos da política com os poderes
militares.

De qualquer modo, a abertura das magistraturas aos plebeus introduziu a


possibilidade de uma reforma social necessária para o fortalecimento de Roma como potencia
na Antiguidade. Possibilitou também uma profunda reforma de mentalidades com efeitos na
estrutura jurídica de organização do acesso ao poder e do seu exercício e na criação e
aplicação de regras jurídicas.

REPÚBLICA (367 a.C. – 27 a.C.)

O conceito de república era inicialmente relativo ao património do populus romano.


Contudo, era a vontade dos romanos impedir os aproveitamentos políticos levados a cabo na
monarquia.
Com a queda da monarquia, o predomínio etrusco desapareceu e a divisão dos
poderes passou a ser feita por magistrados de eleição popular, dos quais se distinguiam dois
cônsules que detêm o impeium que antes era do Rei. Este poder era, desde o início,
condicionado por algumas limitações, entre as quais as mais importantes foram: limitação do
exercício do poder da magistratura por um ano que e entrega do poder não a um mas sim a
diversos indivíduos.
Para poderem exercer a sua função de magistrados, os candidatos tinham de cumprir
alguns requisitos:
- Frequentar a carreira das honras (cursos honorum);
- Podiam ser submetidos à votação do eleitorado activo;
- Ter ingenuidade, ou seja:
- não podia ser escravo liberto nem filho de um liberto
- tinha de pertencer ao grupo a que a magistratura estava reservada
- ter a idade de 28 anos ou mais
Este era um cargo que não era remunerado mas quem o exercesse tinha de prestar
contas.

Com as Lex Liciniae Sextiae, foi possível dividir e hierarquizar as magistraturas de


forma a conecta-las num sistema de regras e princípios que garantissem a estabilidade e
continuidade do modelo político-institucional.
As magistraturas foram reguladas sempre a partir dos mesmos pressupostos: dois
titulares para cada uma com absoluta igualdade no grau e na função, subordinação das
magistraturas maiores às menores e separação rigorosa das mesmas.

As magistraturas podem ser de caracter:


- Ordinárias: magistraturas principais que podiam ter caracter permanente (o
magistrado estava sempre a exercer funções) ou não permanente (o magistrado exercia
funções não continuas). Eram periodicamente eleitos e constituíam os elementos
estabilizadores do regime.  Censores, cônsules, pretores, edis e questores.
- Extraordinárias: eram de caracter não permanentes e tinham poderes de intercessio
sobre todos os magistrados ordinários. Eram eleitos para fazer face às circunstâncias extremas
e imprevistas e os poderes dos quais eram revestidos tinham a duração da ameaça a enfrentar
mas com um limite máximo para exercer o mandato.  Tribuno da plebe e ditador.

Os magistrados dividiam-se em:


A. magistrados ordinários maiores
1.Censor: (ordinária não permanente) o titular é eleito nos comícios centuriais para um
mandato de 5 anos e no qual exercia funções apenas durante 18 meses, o necessário para
fazer o recenseamento. Eram em regra antigos cônsules que organizavam o censo. Era o
guardião da cidade e por isso organizava as famílias por riquezas para determinar a ascensão
ao Senado. Ocupada inicialmente por patrícios, mas em 339 a.C. um dos censores tinha de ser
obrigatoriamente plebeu. Os censores agiam sempre em conjunto.
2.Consul: Eram eleitos todos os anos nos comícios centuriais e definiam a política pública e
governava a cidade. Podia vetar as decisões do pretor ao abrigo do intercessio.
3.Pretor: (magistratura ordinária não permanente) Eram eleitos todos os anos nos
comícios centuriais. Eram inicialmente dois, mas com o aumento do território passam a seis e
mais tarde a oito. O seu imperium estava subordinado ao do Cônsul, o qual substitui nas suas
falhas e impedimentos para assim realizar/administrar a justiça. Tinha como principais
funções: aplicação da justiça; substituir o cônsul nos seus impedimentos no governo civil da
cidade; convocar os comícios para a eleição de magistrados menores (comitia tributa);
apresentação das propostas de lei para aprovação nos comícios.

B. Magistrados ordinários menores


4. Edil: Era eleito nos concilia plebis e foi inicialmente pensada para ajudar os tribunos
passando a ficar com a função de guardar os arquivos e gerir os tesouros. Tinha como
principais funções garantir a segurança de Roma, e por isso fazia o policiamento dos caminhos
e fiscalizava as medidas e os pesos.
5. Questor: Era eleito na comitia tributa e promovia a supervisão das receitas fiscais
arrecadadas e a distribuição dos fundos e receitas necessárias para as despesas determinadas
pelo Senado e cônsules.

A distinção entre magistrado maior e menor suscitou alguns conflitos e por isso
adoptou-se três princípios estruturantes destas relações:
1. Princípio da prevalência do imperium: permitia que os magistrados com imperium
pudessem vetar qualquer acto mesmo que esse fosse inerente às suas competências.
2. Princípio da hierarquia: estabelecia que o magistrado com imperium e potestas maior
podia anular as ordens e vetar os actos dos outros magistrados com imperium e
potestas menor.
3. Princípio da tutela da plebe: os concila plebis tinham o poder de veto sobre a
actividade dos outros.

Neste período de tempo a designação antiga de cidadão (quirite) ganhou um novo


sentido, pois não só passou a designar-se de cives, como se alargaram os critérios de
cidadania. O cidadão romano passou a poder ser:
- Filho de mãe romana mesmo fora de um casamento válido;
- Aquele que tivesse autorização de um magistrado para tal;
- Aquele que foi libertado da escravatura.
Desde à muito que a aquisição da cidadania, de direitos e de deveres era um aspecto
meramente jurídico. Só com a república é que surgiu uma categoria de cidadãos com direitos
limitados.

Quanto às assembleias da Monarquia, continuam em vigor.


1.Senado: passa a ter uma posição de maior relevo e era constituído na maioria por
antigos magistrados já fota de funções. Competia-lhe igualmente decidir no interregnum se
ambos os cônsules desparecessem. Este órgão começou a ganhar ainda mais importância,
principalmente com as decisões que tomava (senatusconsulta).
2. Comitia Curiais: com a limitação ao tratamento de apenas questões de índole
sagrado pode-se incluir com a república, a cerimónia meramente simbólica de confirmação no
imperium dos magistrados maiores. Contudo, entram em decadência no período da república.
3. Comitia Centuriata: foram as mais importantes assembleias da república. Eram
convocadas por um magistrado com imperium e tinham como principais funções aprovar as
declarações de guerra. Mais tarde estabilizaram-se com as funções de: eleição dos cônsules,
censores, pretores e do magistrado extraordinário designado como ditador; aprovação das leis
propostas pelos magistrados sob a aprovação prévia do Senado.
4. Comitia Tributa: eram constituídos pelo povo na sua totalidade, ou seja, continham
tanto plebeus como patrícios. Tinham como principais funções a votação de leis sobre
assuntos de menor relevância; eleição de magistrados menores (edis e questores).
5. Concilia Plebis: passam a ter importantes competências legislativas na cidade. Eram
convocados por magistrados plebeus e tinham como principais funções: eleger os magistrados
plebeus e votar os plebiscitos. Era uma magistratura especial que tinha como vantagens a
imunidade absoluta e o direito de se opor às decisões de todos os magistrados com o
intercessio.

O ditador surge na República como uma figura que se manifestava nas situações de
perturbações. A escolha do ditador estava dividida em duas fases: o Senado traçava um perfil e
o cônsul escolheria uma pessoa para tal. Este cargo durava 6 meses e tinha como objectivo
estabelecer a ordem. O ditador não tinha de prestar contas e ninguém podia paralisar as suas
ordens.

O fim da República deve-se ao facto de um destes ditadores não querer abdicar do seu
poder após os 6 meses. Foi o caso de Júlio César, que não quis abdicar do seu cargo e por isso
transformou este período num período de instabilidade.

PRINCIPADO (27 a.C. – 285 d.C)

O Principado é a forma de designar uma tentativa política de concretizar no governo


de Roma uma mistura de instituições da República com a Monarquia.
É um regime que gravita em torno de Octávio Cesar Augusto e não passou de uma
forma de governar assente no exemplo de Augusto e sujeita às características pessoais do
titular do poder político.
Ao longo deste tempo Roma viveu num ambiente de paz, o que proporcionou um
desenvolvimento económico e que por sua vez permitiu acalmar as tensões acumuladas com
as reformas introduzidas.

Octávio Augusto exerceu o poder político supremo, a partir de 43 a.C., através de um


triunvirato em que era ele o centro, com um mandato de cinco anos, depois renovado para um
novo e igual período de tempo. Em 31 a.C. Augusto declara-se cônsul único a toda a província
de Roma e em 33 a.C declara-se prínceps.
Augusto centralizou o poder em si próprio com a justificação de que não havia outra
alternativa para manter as instituições existentes em Roma.
Este era assim um regime que concentrava todos os poderes nas mãos de um so
homem, o prínceps. Foi a possibilidade de um só homem decidir sozinho sobre todos os
aspectos da vida romana até aí dispersos pelas magistraturas.
Augusto adquiriu assim:
- Poder de intercessio contra todo e qualquer acto dos magistrados ou Senado.
- Poder de votar os plebiscitos e convocar o Senado com os poderes do tribuno da
plebe.
- Comando militar e supremo do exército e uma extensão do seu poder até aos confins
do Império.

O prínceps era o primeiro em tudo, não apenas no exercício de poderes de imperium


mas também em todas as manifestações de poder.
Os poderes principais do prínceps eram:
- Imperium proconsulare maius et infinitum: exercício do comando militar supremo e
do governo das províncias; administração de todo o império com o imenso poder político;
capacidade de influenciar decisões; possibilidade de escolher decisores.
- Tribunitias potestas: faculdade de paralisar qualquer procedimento ou acção do
Senado ou das magistraturas que considerasse inoportunas ou inconvenientes.

No principado, foram instituídos os funcionários (praefecti). Os funcionários eram


designados pelo prínceps para fazer cumprir as leis e o seu período de exercício de funções era
indeterminado. Este grupo foi ganhando poderes e prestígio crescentes e exerciam funções
tendo sempre no topo o prínceps.

A situação politica criada pelo Principado empurra os comícios, o Senado e as


magistraturas para um papel meramente formal.
Comícios: O prínceps tornou estas assembleias em verdadeiros actos de adoração a si
mesmo, com rituais virados para o culto do chefe. Este chefe controlava as propostas,
manipulava as votações e instrumentalizava as deliberações.
As competências legislativas foram transferidas para o Senado. Os comícios têm a
partir de agora a competência para votar as listas apresentadas pelo prínceps ou pelo Senado,
mas não podem propor pela sua iniciativa nomes para a eleição dos magistrados. A decadência
politica dos comícios deixava bem claro o que o prínceps queria esconder: as instituições de
cariz republicano. Augusto aboliu a legislação popular no fim do seu governo.
Senado: O senado foi um órgão republicano concebido como instrumento de
concentrar a totalidade dos poderes no prínceps. Augusto reduziu o número de senadores
para 600 e o seu acesso passou a ser para pessoas com 25 anos ou mais.
O prínceps passa a ter o poder de convocar o Senado sempre que entenda, sem
qualquer outro formalismo ou regra. Vai expandir os poderes do Senado retirando-o do
populus, nomeadamente: administração das províncias mais antigas; nomeação dos
magistrados encarregados pelo tesouro público, poder de legislar; exercício da jurisdição
penal. Estes poderes, embora estivessem formalmente no Senado, eram exercidos pelo
prínceps.
O objectivo foi instrumentalizar o Senado, pois era mais fácil fazê-lo com o Senado do
que com o povo, e um leva ao outro.
Magistraturas: Passam a ser apenas um nome para iludir o desaparecimento dos
cargos tal como eles deviam ser exercidos e das suas funções. As magistraturas perderam
assim a iniciativa politica e a capacidade de intervenção e limitaram-se a exercer tarefas
meramente administrativas. Os magistrados faziam tudo para agradar o prínceps, na
esperança de ocuparem um dos muitos lugares que dependiam da sua indicação. Assim, o
Principado destruiu de forma eficaz o pilar fundamental sobre o qual assentava a república: as
magistraturas.
- Cônsul: o poder dos cônsules é limitado pelo prínceps.
- Pretor: o prínceps não conseguia praticar o direito e por isso não foi fácil substitui-los,
o que tornou o seu desgaste mais lento, mas acabou por acontecer.
- Censor: mantiveram-se sem importância política até Domiciano acabar mesmo com
elas como magistraturas.
- Edil: mantiveram-se como magistrados mas as suas competências foram
substancialmente reduzidas.
- Questor: foram reduzidas a metade e as suas funções principais foram entregues a
dois pretores.
- Tribunos da plebe: mantiveram o novo poder de intercessio, menos contra o
prínceps.

Uma das características do Principado era a sua sucessão. A transmissão do poder era
feita pela sucessão através do carisma pessoal. A pessoa indicada para sucessor do prínceps
era um dos seus melhores colaboradores, uma espécie de vice prínceps que ia aprendendo a
decidir e a organizar até suceder ao cargo.
A sucessão ao prínceps era assim feita a partir do momento que o prínceps em vigor
sente o seu governo a chegar ao fim. Nesse momento, chamava-se um herdeiro espiritual que
passava a seguir o prínceps em tudo o que fazia. Mais tarde, quando o prínceps morria, o
Senado iria surgir este sucessor herdeiro ao povo.

Com a concessão da cidadania romana (212) a todos os habitantes do Império foi


promulgada por António Caracala (o que permitia o aumento do número de famílias a pagar
impostos), com excepção:
- Aqueles que tinham sido condenados em processo penal à perda de cidadania;
- Aqueles que viam o seu estado de liberdade alterado com a aquisição da cidadania.

A crise do Império inicia-se com a crise do Principado como regime politica e forma de
governo. A queda do Principado deveu-se principalmente a:
- Aparecimento do Principado com uma estrutura que deixa em aberto a relação do
prínceps com os órgãos de poder da república.
- Desromanização do Império: a presença de romanos como titulares de cargos e
rituais da república foram-se esvaziando e a sede do principado e a figura do prínceps
enfraqueceram-se com a perda de importância de Roma e Itália. O exército deixou de ser
capaz de garantir a estabilidade deste vasto império.
- Forma como se dava a sucessão do prínceps.
- Redução da fonte de angariação de escravos, o que tem implicações na produtividade
dos campos agrícolas. O campo é abandonado e acentua-se o movimento acelerado da
urbanização.
- Incapacidade política de manter os vínculos institucionais a todo o Império, o que
obrigou a um processo de autonomia política progressiva das províncias. Esta desagregação
política tem consequências económicas inevitáveis: diminuição do envio de receitas das
províncias para Roma e abandono da manutenção de infra-estruturas básicas.
- Cristianismo: começou a difundir-se no império, ameaçando a figura do imperador.
Os cristãos não obedeciam as leis do império, pois a sua religião punha em causa o imperador
e o seu imperium expresso nas leis. O cristianismo e o caracter sagrado do prínceps não eram
compatíveis pois tinham na sua génese a existência de um só deus que por sua vez não eram o
mesmo.

IMPÉRIO (285 d.C. – 395 d.C.)

Diocleciano inicia o seu trabalho de recuperação do império, reunificando-o


territorialmente com o reforço da autoridade imperial. O centro léxico político passou a ser de
novo a superioridade de Roma e a importância da romanidade conseguiu-se através da via
militar, um suporte essncial do poder do imperador no vasto território unificado.
O objectivo passou por ser a reconstrução de um Estado romano em retorno à matriz
romano-itálica e ao caracter pagão. Diocleciano foi assim aos poucos recuperando a
estabilidade política com base na pacificação da força armada e na estabilidade económica do
Imperio.

Diocleciano era contra o Cristianismo, e por isso vai organizar perseguições aos
cristãos. Acreditava que esta religião colocava em causa a unidade do Império e o poder do
imperador.

As instituições dos regimes anteriores não deixam de existir, pois o Imperador


convoca-as quando quiser, mas não o vai fazer.
Assim, ao longo do seu império introduziu algumas reformas, que foram bem
planeadas e executadas pois contribuíram para a romanização do Império:
- Substituição dos muitos exércitos num único, disciplinado, hierarquizado e
obediente.
- Conversão dos governadores das províncias, sem competências militares e tributárias
em representantes da administração imperial nas províncias (funcionários).
- Equilíbrio contributivo entre os vários territórios.
- Simplicidade dos critérios de recolha de receitas públicas através dos impostos, o que
permitia a todos compreender o sistema e vigiar desvios.
- Publicação de um documento onde estava fixado um preço oficial para todos os bens
e onde comunicava as penas graves para aqueles que violassem o mesmo (301 d.C).
- Criação do curator civitatis, o qual exercia o controlo governamental a partir das
administrações financeiras do Império.
Contudo, a reforma mais ousada de Diocleciano foi a tentativa de constitucionalizar o
topo da hierarquia imperial numa tetrarquia.
Deste modo, nomeou um co-imperador, Maximiano: Diocleciano ficou a cargo do
governo da parte Oriental e Maximiano a cargo do governo da parte Ocidental. Esta foi a
primeira tentativa de dividir sistematicamente as competências que o poder central de Roma
exercia no restante território do império.
Neste regime era obrigatório os imperadores não envelhecerem no cargo e por isso
foram nomeados os sucessores dos imperadores, Galério e Constanço, oriundos do exército e
logo com poderes efectivos no governo de certas regiões. Estes dois sucessores (césares),
eram chefes militares e deveriam cooptar dois novos sucessores quando chegassem ao cargo
de imperadores, e assim sucessivamente.
Este sistema tinha duas vantagens:
- Mantinha o supremo do comando da força no imperador em Roma e onde fosse
necessário estar, tornando a defesa do império mais efectiva e sem perigo de decisões e
rebeliões.
- Garantia a sucessão das chefias políticas e militares de Roma através de regras que
impunham soluções prévias.

Diocleciano renunciou voluntariamente o cargo de imperador a favor do seu sucessor


(305 d.C), arrastando Maximiano a fazer o mesmo.
Contudo, este projecto politica falha com a morte de Constanço, sucessor de
Diocleciano, pois desencadeia uma luta pelo poder com características idênticas às que se
queria evitar com estas reformas. A escolha dos césares que se seguiram a Diocleciano e
Maximiano não foi respeitada pelo exército, que impõe à força a aclamação de Constantino
8filho de Constanço) como Imperador. O regime da tetrarquia chega ao fim.

Constantino aceita subir ao trono em co-regência com Licínio, respeitando a separação


política entre Ocidente e Oriente. Isto durou apenas dois anos, pois as divergências entre
ambos iam aumentando e Licínio é constrangido a abdicar do trono, acabando por ser
assassinado.
Constantino passa a governar sozinho a parte ocidental e oriental do império, no qual
se mantiveram duas capitais: Roma e Bizâncio. O seu percurso conduz o poder imperial para
um despotismo oriental monárquico, firmando a autoridade do chefe e o princípio dinástico do
principado. Roma regressa assim ao regime monárquico.
O novo imperador segue o caminho de Diocleciano completando as reformas
burocráticas por ele iniciadas.
É fixada uma orgânica uniforme para os servidores administrativos do Império, com
hierarquia, honras, carreiras, categoria e uniformidade de remunerações.
Este governo de Constantino passa a integrar:
- Os dois chefes das administrações financeiras imperiais: o chefe do erário e o chefe
do património da Coroa.
- Magister officirum: chefe da casa do imperador (cargo criado por Constantino).
- Quaestor sacri palatii: chefe do tribunal imperial.
O direito público romano termina e passa a corresponder à vontade do soberano
expressa na lei, na decisão politica e na ordem administrativa executada.
Estas mudanças empobrecem e aniquilam as estruturas jurídico-políticas que
mantinham o Império Romano, o que contribui para o desenvolvimento dos elementos que
provocam a queda do Império.

Constantino termina a perseguição aos cristãos: estudou o potencial centralizador e de


obediência que o Cristianismo e a fé cristã representavam e por isso vai utilizá-la para manter
o Império Romano territorialmente unificado.
Em 313 d.C, com o Édito de Milão, torna livre e legítimo o culto cristão.
Estava assim aberto o caminho para tornar o Cristianismo na religião oficial do
Império.
O imperador reconhece a jurisdição dos bispos, apoia a construção de Igrejas em todo
o território e doa bens e terrenos à Igreja. Por outro lado, proíbe as cerimonias religiosas pagãs
criticadas pelos cristãos e manda demolir os templos religiosos considerados ofensivos.
A Igreja passa a aceitar a intervenção do imperador em matérias religiosas. Contudo,
rapidamente se sentiu ameaçada com esta proximidade imperial e Constantino, ao aperceber-
se, convoca concílios com o propósito de fixar dogmas fundamentais em torno dos quais a
Igreja se devia manter unida.

Após a morte de Constantino, o princípio dinástico por si instaurado não funcionou. As


ameaças militares voltaram com os seus filhos (nomeados de césares): Constante e Constanço.
Ambos tinham igualdade de poderes imperiais mas adoptaram políticas completamente
diferentes no governo de Roma.
Constante é assassinado e Constanço nomeia Gaio para substituir o irmão. Mal chega
ao poder, Gaio inicia um governo despótico próprio abusando dos poderes que lhe foram
atribuídos. É por isso destituído e julgado, ficando Juliano (meio irmão de Constanço) com o
seu cargo.
Constanço morre em 361 d.C e Juliano reina sozinho o império. Vai tentar reduzir a
despesa pública, diminuir a carga fiscal e termina o favorecimento da Igreja cristã e dos
privilégios dos cristãos (benefícios fiscais e reconhecimento jurisdicional dos bispos).
A morte de Juliano tem como consequência um novo período de anarquia e
desgoverno até que o exército impõe dois generais como imperadores: Valentiniano e Valente.
Iniciam ambos um governo militar.
Em 375 d.C. Valentiniano morre em combate contra os bárbaros, e em 377 d.C. morre
Valente após uma batalha com os hunos. O filho de Valentiniano, Graciano, é aclamado
imperador e designa como co-imperador Teosódio (379 d.C).
Tiosódio era um militar respeitado e procurou centralizar o poder político
concentrando as competências no imperador. Conseguiu vencer os Visigodos e salvar
Constantinopla. Contudo, permitiu a entrada de Visigodos no exercito de Roma, o que abriu
caminho para a barbarização do exercito imperial. Isto contribuiu para o colapso do império.
Em 380 d.C., com o Édito de Tassalónica, proclama o Cristianismo como religião oficial
do Império Romano.
Teodósio morre em 395 e com ele rompe-se a possibilidade de manter unido o Império
Romano. Os seus filhos passam a reinar separadamente no Oriente e no Ocidente, os quais
acabam por entrar em guerra.

Você também pode gostar