Educação Integral No Brasil - Gadotti
Educação Integral No Brasil - Gadotti
Educação Integral No Brasil - Gadotti
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tões complexas da contemporaneidade e
traz à nossa reflexão experiências de edu-
cação integral que estão sendo vivenciadas
hoje. Ele nos convida a acompanhar e anali-
sar essas “inovações em processo”. São ini-
ciativas que vêm ao encontro de uma nova
Moacir Gadotti
Moacir Gadotti
Bibliografia
ISBN 978-85-61910-36-5
09-09785 CDD-370.11
P refácio ................................................................................07
Educar em todos os cantos - Paulo Roberto Padilha
P
refaciar é apresentar ao leitor uma determinada
obra literária. É, como diríamos, no campo da mú-
sica, preludiar e criar um clima propício e intro-
dutório para que a melodia e a harmonia se encontrem
em perfeito compasso na alma de quem está aberto àquela
arte. É também preparar o terreno, com cuidado, fertili-
zando-o para que as sementes ali plantadas possam ger-
minar com força, dando frutos saudáveis.
É grande a responsabilidade de quem prefacia, princi-
palmente a obra de quem sempre foi mestre, incentivador e
prefaciador de meus trabalhos. Mas, talvez, por isso mesmo,
o tamanho deste desafio corresponde à satisfação que esta
empreitada me causa. Convido-os, assim, a conhecer a breve
história da educação integral no Brasil e a aproveitar a opor-
tunidade de dialogar sobre esta temática com o professor
Moacir Gadotti, que completa, no lançamento deste livro,
nada menos que 46 anos de magistério.
Ler Educação integral no Brasil: inovações em processo foi
para mim uma atividade extremamente prazerosa e provei-
tosa. Prazerosa porque se trata de um texto que convida o
leitor à reflexão e ao diálogo com a sua própria experiência
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1. Educação integral
e tempo integral
O
O tema da “educação integral” volta ao debate
público depois de alguns anos, entendendo-a
como “um caminho para garantir uma educação
pública de qualidade”. (GOUVEIA, 2006, p. 84). Experiên-
cias e análises sobre o tema estão ocorrendo em dife-
rentes partes do Brasil. Mas, o tema não é novo; é tema
recorrente, desde a antiguidade. Aristóteles já falava em
educação integral. Marx preferia chamá-la de educação
“omnilateral”. A educação integral, para Aristóteles, era
a educação que desabrochava todas as potencialidades
humanas. O ser humano é um ser de múltiplas dimensões
que se desenvolvem ao longo de toda a vida. Educadores
europeus como o suíço Édouard Claparède (1873-1940),
mestre de Jean Piaget (1896-1980), e o francês Célestin
Freinet (1896-1966) defendiam a necessidade de uma edu-
cação integral ao longo de toda a vida. No Brasil, destaca-
se a visão integral da educação defendida pelo educador
Paulo Freire (1921-1997), uma visão popular e transfor-
madora, associada à escola cidadã e à cidade educadora.
Como nos educamos ao longo de toda a vida, não
podemos separar um tempo em que nos educamos e um
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2. Veja-se o livro de Darcy Ribeiro (1986), O livro dos Cieps, e o livro de Lia Faria
(1991), Ciep: a utopia possível.
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6. Veja-se: de Padilha e Silva (2004), o livro Educação com qualidade social: a ex-
periência dos Ceus de São Paulo; de Dória e Perez (2008), Educação, CEU e Cidade:
breve história da educação brasileira nos 450 anos da cidade de São Paulo.
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cidade e seus bairros dispõem de inúmeras pos-
sibilidades educadoras. A vivência na cidade se
constitui num espaço cultural de aprendizagem
permanente por si só, como disse Paulo Freire:
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11. “Os currículos voltados para o âmbito das práticas escolares e para
o da cultura e dos saberes produzidos pelas comunidades assumem papel
fundamental. As características ambientais, culturais e históricas sin-
gulares de cada município se evidenciam por meio de uma perspectiva
curricular que as acolhe e valoriza. Assim, quando os gestores apontam
a necessidade de programas curriculares adequados às realidades lo-
cais, fica sugerido que percebem o currículo também como um feixe de
relações, de acolhimento da diversidade, de cuidado, de proteção e con-
vivência, do saber do território e de sua gente.” (BLASIS, 2006, p. 63).
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mpliar a jornada escolar exige menos recursos
do que se pode imaginar. Mas, exige muita imagi-
nação, vontade política e integração de diversos
programas. A ampliação da jornada escolar está assenta-
da no conceito de educação integral, que articula todas as
ações do governo às demandas da população, entendendo
que todas elas têm a ver, direta ou indiretamente, com a
educação. A escola passa a ser o centro formativo e de re-
ferência dos direitos de cidadania da população. A educa-
ção integral envolve o entorno das escolas, ampliando a
cultura da escola para além dos muros da unidade escolar.
O debate atual sobre a questão da jornada integral,
da educação integral ou escola de tempo integral, ocorre
no momento em que o Brasil está vivendo o desafio da
qualidade de sua educação básica. Ampliamos o acesso à
educação básica, mas sem a correspondente qualidade.
– De que qualidade nós estamos falando?
– Gostaria de defender uma certa concepção da
qualidade e não uma concepção vaga de qualidade, uma
qualidade geral, neutra, separada de um projeto de socie-
dade. Chamo essa qualidade de “qualidade sociocultural”.
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o Brasil, o abandono escolar gira em torno de 20%
e a reprovação causa uma defasagem idade-série
em torno de 40%. Essa exclusão custa mais caro
ao país do que qualquer inovação educacional. O Brasil
está investindo hoje em presídios o que deixou de inves-
tir, no passado, na escola pública. Para reverter essa situa-
ção precisamos de outra educação. Não basta investir na
educação e no trabalho. É preciso investir na cidadania,
na democracia como modo de vida social, na formação
para e pela cidadania, para o exercício da cidadania desde
a infância. A população tem o direito de saber quais são
os seus direitos e deveres. Precisamos de uma população
bem informada. A informação é o primeiro de todos os di-
reitos humanos, pois, sem ela, as pessoas não têm acesso
a outros direitos. Daí a importância da educação cidadã,
formal e não formal, dentro e fora das escolas.
A escola pública cidadã é estratégica para diminuir
as desigualdades e para colocar o país no rol dos países
mais desenvolvidos social e economicamente. E como a
educação será para todos quando todos forem pela edu-
cação, é importante envolver no projeto educacional a
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5. Inovações educacionais em
processo
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xperiências recentes fundamentadas no conceito de
tempo integral e de educação integral estão retor-
nando ao cenário das políticas públicas com muita
vitalidade, sobretudo em nível municipal, em pequenas e
grandes cidades de todo o país. Eis alguns exemplos.
Em Apucarana (PR) funciona, desde 2001, o Progra-
ma de Educação Integral, instituído por lei municipal. Ele
superou, numa perspectiva interdisciplinar, o conceito
de turno e contraturno, integrando tempos e espaços e
centrando-se na aprendizagem integral, levando em conta
tanto os aspectos cognitivos e político-sociais dos conteú-
dos estudados quanto os aspectos culturais e afetivos. En-
tre as estratégias aplicadas foram utilizados quatro pactos
com a comunidade de Apucarana: Pacto pela Educação,
Pacto pela Responsabilidade Social, Pacto pela Vida e Pac-
to por uma Cidade Saudável. O exemplo de Apucarana aca-
bou estimulando outros municípios do Paraná e do Estado
de São Paulo a implantarem programas semelhantes.
O projeto “Cidade Escola: escola de tempo integral”,
desenvolvida pela Prefeitura de Porto Alegre (RS), a par-
tir de 2005, integra ações das mais variadas instâncias da
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6. Princípios da educação
integral, integrada, integradora e
em tempo integral
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7. Considerações finais
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Referências
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______. Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos para conhecer, pensar
e praticar o município educador sustentável. Brasília, DF: MMA, 2005.
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CASTRO, Maria Helena de. Tecendo redes para educação integral. In:
Seminário nacional tecendo redes para educação integral. São Paulo:
Cenpec/Ação Educativa, 2006.
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DÓRIA, Og; PEREZ, Maria Aparecida Perez (Org.). Educação, CEU e cidade:
breve história da educação brasileira nos 450 anos da cidade de
São Paulo. São Paulo: Livraria do Arquiteto, 2008.
FARIA, Lia. Ciep: a utopia possível. São Paulo: Livros do Tatu, 1991.
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LIMA, Licínio. A Europa procura uma nova educação de nível superior. In:
ALMEIDA, Fernando José de (Org.). O DNA da educação: legisladores
protagonizam as mais profundas e atuais reflexões sobre políticas
públicas. São Paulo: Instituto DNA Brasil, p. 63-77. 2006.
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