Apostila G R S 1a Unidade

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ- IFPA

CURSO DE SANEAMENTO AMBIENTAL - ETEC

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

PROF. LÚCIO ARAÚJO MENEZES

ENGENHEIRO SANITARISTA E CIVIL

ESPECIALISTA EM HIDROGEOLOGIA

MESTRE EM GEOCIÊNCIAS

(*) Livro para aprofundamento de estudo: Lima, José Dantas. Gestão de Resíduos Sólidos
Urbanos no Brasil. Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES, 2006.
Objetivos

Entender a definição de resíduos sólidos, sua origem formação e classificação.


Conhecer as estimativas de quantidade de resíduos sólidos. Conhecer os serviços
de limpeza pública. Conhecer as formas de acondicionamento dos resíduos, o
sistema de coleta, o transporte e os diversos sistemas utilizados para o tratamento
dos resíduos sólidos.

Introdução

Neste curso o aluno terá acesso a informações sobre os “Resíduos Sólidos”, tais
como: definição, classificação, origem e produção, caracterização, modelos
organizacionais, bem como, todas as etapas que compõem um sistema de gestão
de resíduos sólidos, ou seja, o acondicionamento, a coleta, o transporte, as formas
de tratamento e destinação final. Estas informações são de relevante importância
para todos os profissionais ligados às áreas do Saneamento e do Meio Ambiente.

1. Resíduos Sólidos

1.1 Definição

Restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis,


indesejáveis ou descartáveis. Normalmente, apresentam-se no estado sólido, semi-
sólido ou semi- líquido (com conteúdo suficiente para que este líquido possa fluir
livremente).

2. Origem e Produção

Figura 01: Resíduos Sólidos (Fonte: www.94fm.com.br)

O lixo urbano resulta do consumo e das múltiplas atividades diárias do homem,


sendo basicamente, dois os fatores principais que regem sua origem e produção: o
aumento populacional e a intensidade da industrialização. Observando o
comportamento destes fatores ao longo do tempo, podemos verificar que existem
diversas interações entre eles. Por exemplo, o aumento populacional exige maior
incremento na produção de alimentos e bens de consumo direto. A tentativa de
atender esta demanda faz com que o homem transforme cada vez mais matérias-
primas em produtos acabados, gerando, assim, maiores quantidades de resíduos
que, dispostos inadequadamente, comprometem o meio ambiente. Assim sendo, o
processo de industrialização é considerado um dos principais fatores relacionados à
origem e produção de lixo.

Considerando a tendência futura destes dois fatores básicos e suas implicações


na produção e origem do lixo, podemos deduzir o conceito de inesgotabilidade do
lixo, ou seja, podemos afirmar que o lixo urbano é inesgotável em vista de sua
origem. Também podemos traduzir o conceito de inesgotabilidade como
irreversibilidade, pois os mecanismos de origem e produção dos resíduos advêm de
processos irreversíveis. Assim sendo, podemos finalmente concluir que os
problemas gerados pelo lixo no meio ambiente são irreversíveis, se nada fizemos
para contê-los.

Além disso podem influenciar na origem e produção do lixo os seguintes fatores:


Número de habitantes; Área relativa de produção; Variação sazonal; Hábitos e
costumes da população; Nível educacional; Poder aquisitivo.

Destacando-se entre estes últimos o componente econômico, pois quando


ocorrem variações na economia de um sistema, seus reflexos são imediatamente
percebidos nos locais de disposição e tratamento de lixo.

Outros fatores não menos importantes também são responsáveis pelas variações
na quantidade e qualidade do lixo. É o caso, por exemplo das migrações periódicas
nas férias escolares. Nesses períodos, com a paralisação das atividades escolares,
ocorrem mudanças na rotina dos estabelecimentos comerciais e industriais
principalmente de cidade potencialmente turística.

Quadro 01: Produção de lixo

Cidade Produção média diária


(kg/hab.dia)
Rio de Janeiro 0,7
Porto Alegre 0,2
São Paulo 0,57
Nova Yorque 1,47
Paris 0,77
Londres 0,83

Fonte: Júlio Russo

2.1. Estimativa da quantidade de resíduos produzidos

Objetivo: Prognosticar a quantidade de resíduos sólidos gerada em um município.

Aspectos a considerar:

A: geração per capta de lixo (kg/hab.dia), obtida através de processo de


amostragem;

B: população do município;
C: taxa de crescimento populacional (%);

D: taxa de incremento futuro do serviço de limpeza pública (%);

E: taxa de incremento da geração per capta de lixo (%).

Estimativas

Geração Atual: A x B

Geração Futura: { (1 + D) x [ A x (1 + E) ] x [ B x (1 + C) ] }

3. Classificação

3.1. De acordo com o risco potencial ao meio ambiente:

a) Resíduos de Classe I - Perigosos

Resíduos que em função de suas propriedades físico-químicas e infecto-


contagiosas, podem apresentar risco à saúde pública e ao meio ambiente. Devem
apresentar ao menos uma das seguintes características: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade.

b) Resíduos de Classe II – A - Não Inertes

Aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos classe I ou


classe III. Apresentam propriedades tais como: combustibilidade, biodegrabilidade
ou solubilidade em água.

c) Resíduos de Classe III- B – Inertes

Quaisquer resíduos que submetidos a um contato estático ou dinâmico com


água, não tenham nenhum de seus componentes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade da água.

3.2. De acordo com a Origem:

3.2.1. Domiciliar

Produzido nas residências, caracterizando-se por uma grande quantidade de


matéria orgânica (superior a 50%), constituída de restos de alimentos, folhagem e
outros detritos putrecíveis; composto também de papéis, papelões, plásticos, vidros,
latas, embalagens diversas e material de varredura.

Os maiores problemas de limpeza de uma cidade estão relacionados com o lixo


domiciliar. Este deve separar-se em:

• lixos molhados: tais como restos de comida, cascas de frutas ou vegetais;


• lixos secos: tais como papel, folhas secas e tudo o que se varre da casa.
3.2.2. Comercial

Constituído principalmente, por embalagens, papel, papelão, plástico, e outros


materiais típicos das atividades de comércio, além de restos de alimentos e outros
detritos orgânicos, provenientes de bares, restaurantes, hotéis, etc...

3.2.3. Público

Proveniente da varrição, capinação e raspagem de vias públicas, caracterizando-


se pela presença de folhas, capins, papeis, envólucros de cigarro, bombons, picolés,
etc....

3.2.4. Industriais

É todo e qualquer resíduo resultante da atividade industrial, estando incluído


neste grupo o lixo proveniente das construções.

O prejuízo causado pôr este tipo de lixo é maior que outros lixos. Os maiores
poluentes industriais são:

• Produtos químicos: ácidos, mercúrio, chumbo, dióxido de enxofre, berílio,


oxidantes, alcatrão, buteno, benzeno, cloro, agrotóxicos.
• Drogas e tetraciclinas: inclui-se um grande percentual de lodos provenientes
do processo de tratamento de efluentes líquidos industriais, muitas vezes
tóxicos e perigosos;

3.2.5. Serviço de Saúde (Hospitalar)

É constituído pelos resíduos de diferentes áreas dos hospitais tais como: do


refeitório (cozinha), tecidos desvitalizados (restos humanos provenientes das
cirurgias), seringas descartáveis, ampolas, curativos, medicamentos, papéis, flores,
restos de laboratório.

Neste grupo incluem-se os resíduos sólidos provenientes das unidades de


medicina nuclear, radioterapia, radiologia e quimioterapia.

Este tipo de lixo exige cuidado e atenção especiais quanto á coleta,


acondicionamento, transporte e destino final, porque contém substâncias prejudiciais
á saúde humana.

3.2.6. Radioativos

Inclui-se os resíduos de origem atômica, cujo controle ou gerenciamento está, de


acordo com a Legislação Brasileira, sob a tutela do Conselho Nacional de Energia
Nuclear (CNEN);

3.2.7. Agrícola

Agrupam-se aqueles resultantes dos processos de produção de defensivos


agrícolas e suas embalagens.
3.2.8. Feiras e Mercados

Com predominância de matéria orgânica putrescível como: frutas, palhas, restos


de alimentos, folhas, etc...

3.2.9. Especiais

Restos de podas; animais mortos de grande porte; móveis velhos, entulhos; etc...

3.3. De acordo com o grau de degradabilidade:

3.3.1. Facilmente Degradáveis

É o caso da matéria orgânica presente nos resíduos sólidos de origem urbana;

3.3.2. Moderadamente Degradáveis

São os papéis, papelões e material celulósico.

3.3.3. Dificilmente Degradáveis

São os pedaços de pano, retalhos, aparas e serragens de couro, borracha e


madeira;

3.3.4. Não Degradáveis

Incluem-se aqui os vidros, metais, plásticos, pedras, terra, entre outros.

4. Composição do Resíduo Sólido Domiciliar:

A composição do lixo varia de cidade para cidade, em função das características


de cada lugar, dos hábitos e do poder aquisitivo da população. Além da matéria
orgânica, que geralmente representa mais de 50% do lixo, predominam o papel e
papelão, plástico, material metálico e vidro.

A produção de lixo também é função das características do local, variando dentro


de uma mesma cidade. Estima-se que cada habitante produza de 0,5 a 1,0 Kg de
lixo domiciliar, por dia.

As Tabelas 2 e 3 mostram a composição física do lixo domiciliar de Belém e


Manaus respectivamente.
Quadro 2: Composição Física do lixo domiciliar na cidade de Belém (1991)

Componentes % em peso
Matéria orgânica putrescível 37,4
Papel e papelão 30,0
Metal ferroso 0,5
Trapo, couro e borracha 5,6
Plástico fino e grosso 7,0
Vidro, terra e pedra 12,8
Madeira 2,0
Diversos 4,7

Fonte: FADESP/SESAM apud Lima et al., 1994

Quadro 3: Composição Física do lixo domiciliar na cidade de Manaus (1979).

Componentes % em peso
Matéria orgânica putrescível 51,12
Papel e papelão 29,01
Metal ferroso 6,77
Trapo, couro e borracha 3,45
Plástico fino e grosso 2,83
Vidro, terra e pedra 4,67
Madeira 2,10
Metal não ferroso 0,01
Diversos 0,04

Fonte: LIMA apud LIMA et al., 1994

Quadro 04: Evolução da composição percentual média em peso dos resíduos


sólidos domiciliares na cidade de são Paulo.
Percentagem Média em Peso
Componentes
1927 1957 1969 1976 1991 1996 1998
Material Orgânico 82,5 76,0 52,2 62,7 60,6 55,7 49,5
Papel, papelão e Jornais 13,4 16,7 29,2 21,4 13,9 16,6 18,8
Plásticos n.c. n.c. 1,9 5,0 11,5 14,3 22,9
Metal Ferroso 1,7 2,2 7,8 3,9 2,8 2,1 2,0
Metal Não Ferroso (Al) n.c. n.c. n.c. 0,1 0,7 0,7 0,9
Trapos, Couro e Borracha 1,5 2,7 3,8 2,9 4,4 5,7 3,0
Vidros 0,9 1,4 2,6 1,7 1,7 2,3 1,5
Terra e Pedras n.c. n.c. n.c. 0,7 0,8 n.c. 0,2
Madeira n.c. n.c. 2,4 1,6 0,7 n.c. 1,3
Diversos n.c. 0,1 n.c. n.c. 1,7 2,6 n.c.

Fonte: ABLP, 1997

Para o aprofundamento do estudo relacionado aos tópicos anteriormente enfocados,


utilizar a bibliografia indicada (*).
5. Caracterização dos resíduos sólidos

A caracterização físico-química do lixo de uma cidade é realizada através de


métodos de amostragem, onde estes métodos possibilitam conhecer as
características físicas e químicas do lixo e suas tendências futuras. Os parâmetros
utilizados pelo método de amostragem possibilitam também calcular a capacidade e
tipo de equipamento de coleta, e o destino final.

Propriedades como volume, por exemplo, determinam as dimensões dos


locais de descarga ou estações de transferência, além do tempo de vida útil de um
aterro sanitário. A composição serve para mostrar as potencialidades econômicas do
lixo, facilitando a coleta de informações necessárias para a escolha do melhor e
mais adequado sistema de disposição final.

Quadro 05: Composição típica do lixo das grandes cidades brasileiras

Elementos R.J São Paulo Recife Belo Porto


constituintes Horizonte Alegre
% % % % %
Papel 20,1 16,8 3,5 7,6 5,2
Panos 2,8 2,4 0,8 1,6 6,82
Vidros 1,6 1,48 0,73 1,1 1,5
Latas e 3,5 2,2 1,7 1,56 2,5
metais
Couros 0,7 0,65 1,3 0,8 0,8
Ossos 0,,07 0,07 0,5 1,9 0,3
Matéria 69,0 76,0 83,0 83,0 83,0
orgânica

Fonte: Picanço, 2005.

Quadro 06: Exemplos de composição de lixo e dados estatísticos

Elementos/Fontes Restaurantes % Escritórios% Domicílios% Varredura%


Papel/Papelão 15,3 93,5 50,4 18,1
Metal/Latas 13,8 0,4 8,1 1,5
Plástico/Couro 3,1 2,5 5,0 2,4
Pano/Estopa 2,9 0,4 3,6 1,4
Madeira 4,1 0,1 2,7 2,6
Vidro 2,7 0,2 1,7 0,2
Louças/Ossos 0,4 0,2 0,6 0,9
Matéria Orgânica 32,9 0,2 7,5 1,4
Folhas 1,7 --- 6,0 1,5
Agregado Fino 23,1 2,5 14,4 70,0

Fonte: Picanço, 2005.

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