Ensaio - Normal VS Patológico
Ensaio - Normal VS Patológico
Ensaio - Normal VS Patológico
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
No terceiro capítulo de seu livro, Canguilhem apresentou conceitos como norma,
sendo regra, padrão estabelecido, exemplo, e média, sendo a porção intermediária entre
dois extremos, como dois conceitos diferentes. O autor trata de tais conceitos tendo por
pano de fundo a teoria de Quêtelet, também fisiologista, conhecido pela teoria do
homem médio. Após estudos acerca da altura do homem, num âmbito geral, segundo
este estudioso, a existência de uma média é o sinal incontestável da existência de uma
regularidade. Canguilhem explica seu interesse pelas concepções desse fisiologista por
suas noções de freqüência estatística e de norma, pois uma média que define desvios
tanto mais raros quanto mais amplos forem é, na verdade, uma norma (Coelho &
Monteiro, 2010).
Benilton Bezerra (2013), professor adjunto no Instituto de Medicina Social da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em uma palestra organizada pelo Café
Filsófico, disse que Canguilhem também definiu o limite entre a normalidade e a
normatividade com base na ideia não da normalidade como um fato, mas como um
valor. Ele queria dizer que viver é o tempo todo valorar, ele diz que mesmo para uma
ameba, viver é “preferir ou excluir”. Mesmo um ser que não tem consciência, se ele é
vivo, ele não é indiferente às condições da vida. Ele adere ou ele recua. Um vírus, se
você põe um retroviral, ele tenta se modificar para escapar do retroviral. Uma bactéria
tenta criar resistência a um antibiótico. Se uma bactéria é assim, imagine qualquer ser
consciente.
E, segundo Canguilhem, ser normativo é ser capaz de exercer essa potência que
todo ser vivo tem de manter a sua vida, de manter a sua diversidade e de ser reproduzir,
ou seja, ser normativo e, portanto, ser saudável não é não ter doenças, é poder ao
contrário, poder passar pelo sofrimento, poder passar pela doença e se recuperar. Ser
normal nesse sentido, é ser normativo, ou seja, a normalidade encontra um valor que
não apenas o normal como um fato estatisticamente mensurável.
Outra reflexão que também é possível fazer é que na aplicação de profilaxia,
utilização de procedimentos e recursos para prevenir e evitar doenças, o critério
estatístico é muitíssima importância, visto que evita de uma forma mais assídua que
uma possível epidomia se propague e possa contaminar pessoas que não foram afetadas
pela doença. Os dados estatísticos têm como finalidade descrever a situação, mas não
explicá-la e consegue estabelecer um retrato da realidade, permitindo assim uma maior
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eficiência na aplicação dos recursos voltados para o bem estar e melhoria das condições
de vida da população (Ignácio, 2012).
Entretanto, os dados estatísticos podem excluir várias informações sobre uma
nação, por exemplo, considerando apenas uma visão macro. Só em uma comunidade
indígena canadense foram registradas mais de cem tentativas de suicídio desde setembro
de 2015. Desigualdades social, falta de perspectiva e precárias condições de vida seriam
as principais causas (Terra, 2016). Mas mesmo considerando a existências desses cem
casos e de existir uma prevalêcia relativamente alta de tragédias envolvendo os 1,4
milhões de habitantes indígenas do país, eles apenas compõem cerca de 4% da
população total do país. Dessa forma, é difícil confiar nos dados estatísticos,
considerando que há uma variância enorme entre o que é mostrado e o que é vivido.
Assim como também é de complexa compreensão a leitura de dados estatísticos
visto que nem sempre o critério é estabelecido ou é de implantação duvidosa. Trazendo
como exemplo uma pessoa cega, não seria pertinente perguntar se ser cego era normal,
tendo em vista que a maioria da população não é cega. Isso estaria levando em conta a
proporção populacinal de normalidade, onde quem distoa da maioria é visto com “não-
normal”. Mas esse critério estaria ligado à questão da funcionalidade ou posse? Uma
pessoa que tivesse apenas um olho que enxergasse também seria considerada normal? É
por causa dessa falta de especificidade que nem sempre o critério estatístico é
compreendido e, assim, julgado como pertinente ou não.
Sendo assim, é possível notar que há indivíduos que não são considerados como
normais, mas são saudáveis e outros que são considerados normais, mas não são
saudáveis. Prova disso é o exemplo da pessoa cega (ou da que só possui um olho, mas
enxerga) e também o de pessoas consideradas normais, mas que não são saudáveis,
devido a possuir cáries ou gripe. Apesar de quase todo mundo já ter tido uma das duas,
a cárie e a gripe são disfunções do organismo, mas como, estatisticamente, é algo
comum, muitos consideram como algo normal. Daí surge o questionamento de como
que uma patologia pode ser considerada normal se o próprio nome distoa de seu
significado.
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CONCLUSÃO
Por fim, é conveniente frisar que existe essa dicotomia em função do que é
normal e patológico não apenas no critério estatístico, mas também no conceitual.
Perceber que existe essa controvérsia e reconhecer o seu valor. Notar que existem
pessoas que diferem do conceito de normal e que isso não necessariamente queira dizer
que ele/ela tenha uma patologia e que precisam ser tratadas. Infelizmente muito tem se
pensado no contrário e muitas pessoas, geralmente crianças, são medicadas sem
necessidade, apenas para suprir uma necessidade temporária, que pode, eventualmente,
tornar a pessoa em dependente e trazer danos (Rebouças, 2014).
REFERÊNCIAS
Canguilhem, G.. (2000). O normal e o patológico (5. ed. rev. e aum.). Rio de Janeiro:
Forense Universitária. (Original publicado em 1943.)
Dias, Diego Alonso Soares; Moreira, Jaqueline de Oliveira. (2011). As Vicissitudes dos
Conceitos de Normal e Patológico: Relendo Canguilhem. Rio de Janeiro:
Revista Psicologia e Saúde, v. 3, n. 1, jan. - jun. 2011, pp. 77-85