O Padrão Éden
O Padrão Éden
Fonte: www.mackenzie.br
FIDES REFORMATA XII, Nº 2 (2007): 79-92
- Revista Cristã Última Chamada -
- Edição Especial Nº 022 -
Capa: imagens da internet.
Revista Cristã
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Londrina - Paraná
Dezembro de 2015
Índice
Apresentação ...6
Sobre o Autor ...8
O Padrão Éden:
modelo de Restauração da Criação
Resumo ...9
Introdução ...10
1. O motivo da expulsão do homem ...11
2. Por que a Preservação do Éden? ...14
2.1 O Éden como possível habitação
do Jesus glorificado ...15
2.2 Adão perdeu o direito de habitar o Éden ...16
2.3 O Segundo Adão conquistou o
direito da habitação definitiva ...17
2.4 Jesus é o edificador da cidade? ...21
3. Referências a Jesus Ressurreto no Céu ...24
3.1 A ascensão ...24
3.2 A visão de Estêvão ...25
3.3 A visão do trono de Deus
em Apocalipse 4 e 5 ...27
4. O Éden como Padrão de Restauração da Criação ...27
4.1 O jardim preservado é o padrão de
restauração das criaturas físicas amorais ...27
4.2 O Éden escatológico ...29
Abstract ...31
Apresentação
Resumo
PALAVRAS CHAVE
Éden; Padrão; Habitação; Cristo glorificado; Criação; Humanidade.
Introdução
...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais
penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o
amam
(1 Co 1.29).
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1 SAILHAMER, John H.; KAISER JR., Walter, et al. Genesis, Exodus, Leviticus,
Numbers. In: The expositor s Bible commentary. Vol. 2. Grand Rapids: Zondervan,
1990, p. 57.
2 É curioso que não há um único exemplo nas Escrituras de algo que tenha
desaparecido na “não-existência”, tornado-se novamente “nada”, desfeito no sentido
de sua própria existência. O juízo de Deus não leva ao “nada”, mas à punição eterna.
indicar a “saída” ao primeiro casal, possivelmente postando-se de
guarda. Curiosamente, as manifestações desses seres espirituais
estão sempre ligadas à presença pessoal de Deus, indicando que, de
alguma forma, o Senhor faria daquele lugar também a sua morada.
Nesse ensaio ficará claro que essa é uma possibilidade fortíssima
em relação ao Éden.
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3 GAFFIN JR., Richard B. Perspectives on Pentecost. New Jersey: Presbyterian and
Reformed, 1978, p. 18.
a ele, tanto física quanto espiritualmente. Da matéria comum da
terra Deus formou o homem”.5 A aplicação do substantivo “adam”
(grego ´) mostra a necessária ligação do Cristo glorificado
com a criação perfeita. O homem foi criado para ser um com a
criação; muito mais ainda aquele que, em si mesmo, restaura a
humanidade à sua condição original. Portanto, o Cristo em glória
deveria experimentar essa unidade com a criação perfeita,
preservada na proporção do Éden. Mais do que isso, a glorificação
da humanidade em Jesus Cristo está ligada ao desfrute da criação
perfeita. Seria difícil supor que a glorificação do homem, criado
para viver a matéria, poderia se dar sem essa ligação vital com o seu
habitat, matéria-prima de todos os corpos. A ligação do Cristo
ressurreto e assunto ao céu com a criação completa o modelo de
ressurreição para todos os eleitos.
Dessa forma, aquilo em que Adão fracassou Jesus conclui,
conquistando assim, para os seus eleitos, o direito da habitação
definitiva no lugar da habitação de Deus com os homens. É digno
de nota que as Escrituras afirmam que será concedido ao povo de
Deus o alimentar-se do fruto da árvore da vida, que se encontra no
paraíso de Deus. Comentando Apocalipse 22.2, Kistemaker
assevera que João conduz seus leitores a considerar o lugar que os
aguarda, levando-os a conceber a habitação no paraíso restaurado,
destacando-se nele o direito de comer do fruto da árvore da vida
(cf. 2.7).6 A figura se torna ainda mais bela ao ser também incluída
a ideia de abundância de vida, significada no rio, em cujas margens
estão, não uma, mas várias árvores da vida. Isso é sugestivo,
especialmente pelo que vemos em Apocalipse 2.7: “Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-
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4 DUNN, James D.G. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003, p. 117.
5 VAN DYKE, Fred; MAHAN, David C. et al. A criação redimida. São Paulo: Cultura
Cristã, 1999, p. 75.
ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de
Deus”. Essas são palavras do próprio Cristo glorificado à igreja de
Éfeso, enfatizando a habitação do paraíso que, em nossa opinião, é
possível ser o Éden, trabalhado pelo próprio Cristo.
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6 KISTEMAKER, Simon. Apocalipse. In: Comentário do Novo Testamento. São
Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 729.
7 Esse é o pensamento de Moisés Silva, conforme anotações de classe de um
módulo sobre o Evangelho de João, ministrado no CPAJ em 1996.
É importante considerar que “o novo céu e a nova terra” não
impõem ao homem a volta a um jardim, responsabilizando-o por
arar novamente a terra. As profissões da humanidade ressurreta não
serão essencialmente agrárias. Cristo habitará com os eleitos em
uma cidade. Seria o caso de Deus criar uma cidade para a habitação
dos eleitos? Ou seria esse o trabalho de Cristo no Éden,
construindo, nesse lugar de santas delícias, a cidade que tem em seu
centro a árvore da vida? Há grande chance disso se dar pelo
exercício dos dotes profissionais do Senhor, bem como com sua
disponibilidade de tempo para tal empreitada. Essa sugestão nos
parece bastante razoável. Não deve ser o caso de estranharmos a
possibilidade de tão grande obra ser conferida a apenas um
“homem”. Vemos as Escrituras relatarem a ordem dada a Noé para
construir um barco de proporções gigantescas para a sua época, e
ainda no meio de uma terra árida, longe do mar. Acredita-se que ele
levou cem anos para construí-la (Gn 5.32; cf. 6.11). Talvez seja o
caso de, assim como a arca foi utilizada por Pedro para tipificar a
obra salvadora de Cristo (2 Pe 2.5), os cem anos de construção da
arca se liguem à possível obra milenar do Filho encarnado na
urbanização do Éden. Além disso, qual seria o desempenho
profissional de um homem perfeito, que é a forma humana do
próprio Criador?
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8 RIDDERBOS, Herman. The Gospel of John. Grand Rapids/Cambridge: Eerdmans,
pp. 489, 490; BRUCE, F. F. João - introdução e comentário. São Paulo: Vida
Nova/Mundo Cristão, 1987, p. 225.
9 HENDRIKSEN, William. João. In: Comentário do Novo Testamento. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004, p. 650.
10 DANIEL-ROPS, Henri. A vida diária nos tempos de Jesus. 2ª ed. São Paulo: Vida
Nova, 1988, p. 157.
3
Referências a
Jesus Ressurreto no Céu
3.1 A ascensão
Apenas dois dos evangelhos sinópticos trazem alguma referência
à ascensão do Senhor. Marcos, na verdade, faz mais uma alusão do
que uma narrativa: “De fato, o Senhor Jesus, depois de lhes ter
falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus” (Mc
16.19). Lucas, por sua vez, aventurasse a uma breve narrativa:
“Então, os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou.
Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles,
sendo elevado para o céu” (Lc 24.50,51). Portanto, se quisermos
conhecer maiores detalhes sobre esse passo da glorificação de Jesus,
temos que recorrer ao segundo livro de Lucas. Esse evangelista
narra o episódio de forma mais pormenorizada em Atos 1.6-11.
Todavia, qual o objetivo central de Lucas ao narrar o ocorrido?
Concordamos com Marshall quando afirma que o autor estava mais
preocupado em destacar dois ensinamentos do que a ascensão
propriamente dita. O fato de Jesus ter sido assunto aos céus realçou
aos discípulos: (1) o segredo da parousia e a urgência do
cumprimento da grande comissão (vs. 7-8) e (2) a certeza e o
modelo da volta de Cristo, análogo à sua ascensão (v. 11).11
Certamente a ascensão não pretendeu localizar “geograficamente”
o lugar para onde o Cristo glorificado se dirigiu, mas, antes, destacar
que estava sendo recolhido pelo seu Pai. O ser oculto pelas nuvens
possivelmente identifica a ocorrência da shekinah, a presença
pessoal de Deus, manifesta na forma de nuvem ou fumaça.12 Desse
modo, a ascensão pretendeu enfatizar que o Filho encarnado voltou
glorificado para o seio do Pai. Embora tenha ocorrido de fato, o
propósito da ascensão foi transmitir algumas verdades. Tal texto
não serve de base para localizar o Jesus ressurreto habitando
fisicamente com aqueles que se encontram no estado intermediário.
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11 MARSHALL, I. Howard. Atos – introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova,
1988, p. 59.
12 São inúmeras as ocorrências desse fenômeno no antigo Testamento: a coluna
de nuvem no êxodo; a nuvem que descia sobre a tenda da congregação; a visão de
Isaías no templo.
em que se encontram, é quase uma necessidade identificar
realidades espirituais com as de sua existência física, para que
possam compreender, da melhor maneira possível, o conteúdo
revelado. Assim como as crianças aprendem pelo uso de figuras,
mesmo o mais maduro de alma necessitará de comparações com a
realidade material para assimilar verdades espirituais.
Nossa opinião é que há o aspecto real e o aspecto simbólico
naquilo que viu o diácono martirizado. Certamente, ele teve uma
experiência real com Deus, relatando uma semelhança com o que
Moisés experimentou no Sinai, pois seu rosto também
resplandeceu (6.15). Contudo, há um forte simbolismo naquilo que
lhe foi revelado. É inegável que o que viu obedeceu a alguma
“linguagem de acomodação”, isto é, foi adaptado à compreensão
humana. Isso se torna claro no fato de ele ver, nada menos, que o
trono de Deus! A Escritura é axiomática ao afirmar que ninguém
poderá ver a Deus (Jo 1:18; 1 Tm 6:16; 1 Jo 4:12). Portanto, o que
Estêvão viu foi uma manifestação do Cristo glorificado, o conteúdo
do que havia de testemunhar à multidão. O propósito da
experiência era ratificar o domínio e a soberania daquele que havia
ascendido ao céu. Cristo, de fato, governa junto do Pai. Mais uma
vez, é nosso entendimento que tal ocorrência não serve para
afirmar a presença física de Cristo na morada espiritual de Deus.
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13 KISTEMAKER, Simon. Atos. In: Comentário do Novo Testamento. Vol. 1. São
Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 369.
3.3 A visão do trono de Deus
em Apocalipse 4 e 5
Não vemos motivo para nos deter muito nesse assunto. Sendo o
livro de Apocalipse caracterizado pela linguagem figurativa e pelo
uso abundante de simbologia, os mesmos argumentos listados
anteriormente aplicam-se integralmente a esse texto. Ele não serve
como argumento para se defender a ideia de que a essência física
de Jesus se encontra flutuando em uma dimensão espiritual de
existência.
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14 DUNN, James D. G. Romans 1-8. Word Biblical commentary. Vol. 38A. Columbia:
Nelson Reference & Electronic, 1988, p. 468.
15 SCHREINER, Thomas R. Romans. In: Baker exegetical commentary on the New
Testament. Grand Rapids: Baker Academic, 2005, p. 436.
4.2 O Éden escatológico
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