Unidade 3 - Protestantismo e Cultura No Brasil
Unidade 3 - Protestantismo e Cultura No Brasil
Unidade 3 - Protestantismo e Cultura No Brasil
Ser essa uma caracterstica peculiar dos evanglicos? No seria uma marca
do homo religiosus, ou da religio dita ps-moderna? Perguntas que carecem
de uma investigao mais profunda. Coloco tudo isso, assim, de cara, para que
percebamos que nossa tarefa no to simples quanto se pode pensar. Mas
podemos e devemos nos arriscar nela.
OS DOIS CAMINHOS
Caminho Largo Caminho Estreito
a- Cheio de pessoas e atratividades
a- Poucas pessoas, nada atrativo
b- Mltiplas opes
b- Opes limitadas
c- Estrada larga e aberta, da carne e
c- Estrada apertada e sinuosa, da cruz
do prazer
e sacrifcio
d- Mundo = lugar de perdio
d- Igreja = lugar de salvao
e- Espao para pecadores e
e- Espao dos eleitos e santos
mundanos
f- Instituies sagradas (igreja, templos,
f- Instituies profanas (prostituio,
edifcios e simbologias religiosas)
jogo, teatro, luxria, dana, etc.)
g- Universo da abnegao: um
g- Universo do prazer: Vnus (deusa
mundinho parte, alheio s
da formosura) e Baco (deus do vinho)
consequncias da vida no mundo
do as boas-vindas
h- Trade: Salvao-vida-Deus
h- Trade: perdio-morte-Satans
i- Seu fim o cu (paraso)
i- Seu fim o inferno
* Faa um levantamento de outras caractersticas que voc enxerga nesse
quadro como exerccio de observao e interpretao.
O mundo pode ser entendido como esse espao que no da igreja, dos
salvos, dos separados por Deus para uma vida eterna e de gozo numa terra
(nova Jerusalm) que a verdadeiramente sua. Logo, pertencer a Cristo e a
Deus igual a no ser do mundo, como fica ilustrado no trecho da cano
abaixo, de origem mais recente:
Sobre essa relao estar em Cristo versus estar no mundo, Rubem Alves
escreve:
Fundamentalismo
Evangelicalismo ou Neoevangelicalismo
Na opinio de Longuini,
Por fim, Jos Miguez Bonino (2003, p. 49-50) afirma que essa ala da igreja
evanglica latino-americana tem um rosto prprio, o que chamei aqui de rosto
alternativo. Isso se deve a alguns traos significativos que esse autor coloca e
que apenas subscrevo abaixo:
Philip Yancey observa que o maior trunfo do mal pode ser seu sucesso em
retratar a religio como inimiga do prazer, o que no deixa de ser verdade. A
grande mentira est em dizer que Deus concorda com isso, posto que todas
as coisas boas e agradveis so inveno do Criador, que doou liberalmente
esses presentes ao mundo (Yancey, 2004, p. 58).
A premissa bsica para ser cristo evanglico verdadeiro hoje ainda est na
tica do no-fazer. A no-ao, segundo Csar M. Lopes, valorizada e
apontada como um trao de santidade (In Barro e Kohl, 2005, p. 148). No
agir pressupe ainda no refletir, no questionar, especialmente no que tange
s doutrinas eclesisticas.
O tribalismo um antimovimento
A cano diz que os tribalistas no querem ter: razo, certeza, juzo, nem
religio. Ainda diz que eles no entram em questo, nem em fofoca, doutrina
ou discusso. Ou seja, me parece que o que a lgica (se assim posso chamar)
tribal mais quer descartar os paradigmas da modernidade [6] , sem sugerir
diretamente que o esteja fazendo. Sua coerncia improvisada soa mais como
uma fuga do universo do racionalismo em busca de outras formas de
racionalidade, do universo paradisaco das sensaes, onde moram os
saudosistas do futuro, isto , aqueles que tm saudade de um tempo onde
tudo poderia ser como nos sonhos ou nos contos de fada, tudo depende de
que futuro se quer.
A pergunta que fica diante desse quadro no pessimista, mas realista : dessa
troca de olhares entre uma cultura e outra, entre a cultura ps-moderna e a
eclesistica, em que ambas cultivam vises unilaterais sobre Deus, o mundo e
sobre si mesmas, existe alguma perspectiva de conciliao?
Ainda temos ranos fortes do ensino que proclama, fazendo aluso relao
do cristo com o mundo que o cerca, que joio e trigo no se misturam, mas
devem ser separados um do outro a fim de que no se confundam. A
pergunta : quando que eles se confundem? Obviamente quando o trigo no
produz frutos. Produzindo frutos, o trigo naturalmente se diferencia do joio. Ora,
joio erva daninha, e a presena de ervas daninhas no campo normal.
Vejam que na Parbola do Joio (Mt. 13:24-30), Jesus passa a rever o modo de
testemunhar a vinda do Reino de Deus e o julgamento final (Cf. BARROS,
1998, p. 76). Ali ns temos a descrio de cada personagem e seu significado
preliminar, posteriormente revelado por Jesus (v. 36-43): o homem (Jesus), o
campo (mundo), o dono do campo (Deus Pai), a boa semente (filhos do Reino),
o inimigo (Diabo), o joio (filhos do maligno), e a colheita (fim desta era).
Notas
[1] No momento em que este texto foi escrito, final dos anos 80, isto deduzido
de sua primeira edio (1990), a populao brasileira j vinha num crescente
de xodo rural, desde a metade dos anos 70; contudo, o processo ainda no
havia se acelerado tanto como nos ltimos anos, quando se aponta uma
estabilizao da ocupao populacional das cidades por uma maioria (80%),
enquanto uma minoria permanece nas zonas rurais (20%).