Mestranda: Andréia Chagas Pereira Bonoto Orientador: Prof. Dr. Roberto Moraes Cruz

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
CURSO DE MESTRADO

FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO NO PROCESSO DE


ADAPTAÇÃO DE CRIANÇA À
SEPARAÇÃO/DIVÓRCIO DOS PAIS EM LITÍGIO
JUDICIAL: UM ESTUDO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS

Mestranda: Andréia Chagas Pereira Bonoto

Orientador: Prof. Dr. Roberto Moraes Cruz

Área de Concentração:
Processos psicossociais, saúde e desenvolvimento psicológico

Linha de Pesquisa:
Medida e avaliação de fenômenos psicológicos

Florianópolis
2013
ANDRÉIA CHAGAS PEREIRA BONOTO

FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO NO PROCESSO DE


ADAPTAÇÃO DE CRIANÇA À
SEPARAÇÃO/DIVÓRCIO DOS PAIS EM LITÍGIO
JUDICIAL: UM ESTUDO DE LAUDOS PSICOLÓGICOS

Dissertação submetida ao
Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Universidade Federal
de Santa Catarina, área de
concentração em Processos
psicossociais, saúde e
desenvolvimento psicológico, linha
de pesquisa Medida e avaliação de
fenômenos psicológicos, para a
obtenção do Grau de Mestre em
Psicologia.
Orientador: Prof. Dr. Roberto
Moraes Cruz
Coorientadora: Profa. Dra. Maria
Aparecida Crepaldi

Florianópolis
2013
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Bonoto, Andréia Chagas Pereira


Fatores de Risco e Proteção no Processo de Adaptação de Criança à
Separação/Divórcio dos Pais em Litígio Judicial: Um Estudo de Laudos
Psicológicos / Andréia Chagas Pereira Bonoto ; orientador, Roberto Moraes;
coorientadora, Maria Aparecida Crepaldi
Cruz - Florianópolis, SC, 2013.
157 p.
- Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências
Humanas. Programa de Pós-Graduação em Psicologia.
Inclui referências
1. Psicologia. 2. separação/divórcio. 3. Conflito interparental. 4. adaptação
de crianças. 5. risco e proteção. I. Cruz, Roberto Moraes. II. Crepaldi,
Maria Aparecida. III. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de
Pós-Graduação em Psicologia. IV. Título.
Dedico este estudo às crianças que vivenciam
a separação/divórcio dos pais, as quais
justificam a realização desse trabalho.
AGRADECIMENTOS

Aos meus orientadores, Professor Doutor Roberto Moraes Cruz e


Professora Doutora Maria Aparecida Crepaldi, pela confiança,
disponibilidade, apoio e oportunidade de realizar esse trabalho, e por
acompanharem e incentivarem minha trajetória profissional desde a
graduação.

Aos meus pais, Laércio e Magda, exemplos de dedicação e superação,


pelo incentivo, carinho e apoio oferecidos ao longo da realização desse
trabalho e da minha vida.

Ao meu marido, João, pela presença e incentivo constantes, pelo apoio


emocional e por ser sempre o primeiro a acreditar que eu posso realizar
aquilo a que me proponho.

As minhas irmãs, Juliana e Luiza, e a minha amiga-irmã, Angela, por


admirarem meu trabalho e estarem sempre ao meu lado, nas horas boas
e nas horas difíceis.

A minha colega de mestrado, Cintia Costi, que abriu as “portas” para a


realização deste trabalho, e aos juízes e psicólogas do Poder Judiciário
de Santa Catarina que acreditaram e autorizaram a realização desta
pesquisa.

Aos membros da Banca, que prontamente aceitaram o convite e se


dispuseram a oferecer seu tempo e seu trabalho para contribuir com o
aprimoramento deste estudo.

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a


realização deste trabalho, meu sincero muito obrigada!
“Os processos jurídicos são narrativas, obras em que cada parte tenta
provar a veracidade de suas versões. Nenhuma narrativa deve ser
tomada como totalmente verdadeira. Qualquer versão é tendenciosa. Na
sua maioria, quando há divergências e brigas a serem arbitradas na
Justiça, ambas as partes se esforçam para responsabilizar o outro pelo
caos deflagrado a partir de seus atos. Cada membro do casal que se
desfaz luta para defender a sua versão, em que ele é a vítima e o outro o
algoz. Estimular esse ataque ou defender um ponto de vista isolado sem
pensar no conjunto é expor os filhos desse divórcio a uma longa e
destrutiva batalha emocional, em que os próprios pais – que deveriam
ser os seus protetores primordiais – serão aqueles que os convocam,
explícita ou implicitamente, para o meio da arena. Nessa hora, cada um
de nós, sejamos profissionais, parentes, amigos, colegas de trabalho,
confidentes etc., deve ter cuidado para não cair na tentação de que nosso
apoio a um ou a outro não termine por afastar aqueles que precisam
somar esforços para estabelecer os vínculos possíveis após a separação.
Nessa hora, é preciso definir posições: ou seremos parte da solução, ou
faremos parte do problema.”

Gladis Brun
RESUMO

A vivência da separação/divórcio ocorre de forma diferenciada em cada


família, tendo maior ou menor impacto nas pessoas envolvidas
dependendo de fatores econômicos, sociais, culturais, religiosos, além
das redes de apoio que podem se estabelecer ou não. O presente estudo
tem como objetivo caracterizar os fatores de risco e proteção no
processo de adaptação de crianças a separação/divórcio dos pais em
litígio judicial. Esta pesquisa é de natureza descritiva, com fonte
documental e abordagem qualitativa. Foram utilizados laudos
psicológicos como fonte de dados, como forma de aproveitar um
documento com informações sobre as famílias que vivem a situação de
litígio judicial, podendo gerar conhecimento científico através de dados
já coletados. A amostra de documentos foi composta por 76 laudos
psicológicos, datados no ano de 2011, provenientes de processos
judiciais de nove Varas de Família do Poder Judiciário do Estado Santa
Catarina. Os dados obtidos nos documentos foram organizados a partir
de categorias elaboradas com base na revisão da literatura especializada.
Verificou-se que homens e mulheres, na mesma proporção, buscaram
por meio judicial garantir seus direitos e deveres em relação aos filhos.
A guarda dos filhos foi atribuída principalmente às mulheres, mas com
um terço sendo atribuída ao pai. Quanto à idade dos membros das
famílias, os filhos tinham idade média feminina de 7,16 e idade média
masculina de 7,84, com a maioria das mulheres (mães) encontrando-se
na faixa etária entre 26 e 35 anos e a maioria dos homens (pais) entre 31
e 40 anos. Identificou-se que o relacionamento conflituoso é o principal
padrão de relacionamento estabelecido entre os ex-cônjuges, apesar
disso, o relacionamento entre crianças e pelo menos um dos genitores
foi caracterizado como harmônico, na maior parte das vezes. Verificou-
se que as crianças buscam estratégias saudáveis e não saudáveis de
compreender e reagir às situações e emoções envolvidas no contexto de
litígio dos genitores. Os fatores de proteção relativos à categoria fatores
individuais (crianças) tiveram alta ocorrência em relação aos fatores de
risco, sendo os mais citados: boa comunicação e competência cognitiva.
A importância dos fatores intrafamiliares no risco para o processo de
adaptação de crianças à separação/divórcio dos pais foi verificada nesta
pesquisa, sendo os principais fatores de risco: conflito interparental,
comunicação disfuncional e conflitos no exercício da parentalidade. A
ocorrência de fatores de proteção na categoria fatores intrafamiliares
indicou que mesmo as famílias em litígio judicial buscam preservar, de
alguma forma, uma dinâmica familiar favorável ao desenvolvimento dos
filhos. Os fatores de proteção da categoria fatores extrafamiliares foram
predominantes em relação aos fatores de risco, sendo o principal a rede
de apoio estabelecida em torno da família. A partir dos resultados
alcançados, foi elaborado um roteiro de questões que pode guiar os
profissionais que atuam com famílias em processo de
separação/divórcio a avaliar o potencial de risco e proteção para o
processo de adaptação de crianças.

Palavras-chave: separação/divórcio; conflito interparental; adaptação


de crianças; risco e proteção.
ABSTRACT

The experience of separation/divorce occurs in a different way in each


family, with greater or lesser impact on the people involved, it
depending on economic, social, cultural, religious, and support networks
that can be established or not. The present study aims to characterize the
risk and protective factors in the process of adaptation of children to
separation/divorce of parents in litigation. This research is descriptive in
nature, qualitative approach and source documents. Psychological
reports were used as the data source as a way to make a document with
information on families who live the reality of litigation, which can
generate scientific knowledge through data already collected. The
sample was composed of 76 documents psychological reports, dated in
2011, from nine lawsuits Family Courts of the Judiciary of the State of
Santa Catarina. The data were organized in documents categories
developed based on the literature review. It was found that men and
women in the same proportion, sought through judicial guarantee their
rights and duties in relation to children. The custody was mainly
attributed to women, but with a third being assigned to the father.
Regarding the age of the family members, the children had a mean age
of 7.16 female and male average age of 7.84, with the majority of
women (mothers) lying in the age group between 26 and 35 years and
most men (parents) between 31 and 40 years. It was identified that the
conflicted relationship is the main pattern of relationships established
between the former spouses, despite this, the relationship between
children and at least one parent was characterized as harmonic, in most
cases. It was found that children look healthy and unhealthy strategies to
understand and react to situations and emotions involved in the context
of litigation from parents. Protective factors related to individual factors
category (children) had high occurrence in relation to risk factors, the
most cited: good communication and cognitive competence. The
importance of intra-family risk factors for the adaptation of children to
separation/divorce of parents was found in this study, the main risk
factors: interparental conflict, dysfunctional communication and conflict
in the exercise of parenting. The occurrence of protective factors in the
category intrafamilial factors indicated that even families in litigation
seek to preserve, somehow, a family dynamic favorable to the
development of children. The protection factors of extra-familial factors
were predominant category in relation to risk factors, the main being
established support network around the family. From the results
achieved, has drawn up a list of questions that can guide professionals
working with families in the process of separation/divorce to assess the
potential risk and protection for the adaptation of children.

Keywords: Separation/divorce; interparental conflict; adaptation of


children; risk and protection.
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Comarcas e respectivas varas contatadas........................... 59


Tabela 2 – Varas de Família participantes da pesquisa e número de
laudos utilizados.................................................................................... 61
Tabela 3 - Síntese da estruturação de categorias e variáveis da
análise de fatores de risco e proteção ................................................... 63
Tabela 4 – Faixa etária de mulheres e homens (genitores) no período
de perícia psicológica ........................................................................... 70
Tabela 5 - Estado Civil de mulheres e homens (genitores) no período
da perícia psicológica ........................................................................... 71
Tabela 6 - Atividade profissional de mulheres e homens (genitores)
no período da perícia psicológica ......................................................... 72
Tabela 7 - Motivos apresentados nos laudos psicológicos para a
separação conjugal................................................................................ 73
Tabela 8 - Distribuição da frequência de ocorrência dos padrões de
relacionamentos de acordo com os tipos de relações ........................... 75
Tabela 9 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de
risco da categoria fatores individuais (crianças) .................................. 93
Tabela 10 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de
proteção da categoria fatores individuais (crianças) ............................ 97
Tabela 11 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de
risco da categoria fatores intrafamiliares ............................................. 99
Tabela 12 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de
proteção da categoria fatores intrafamiliares ....................................... 115
Tabela 13 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de
risco da categoria fatores extrafamiliares ............................................. 122
Tabela 14 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de
proteção da categoria fatores extrafamiliares ....................................... 126
Tabela 15 - Roteiro de questões a serem analisadas para avaliação de
risco e proteção no processo de adaptação de crianças à
separação/divórcio dos pais................................................................... 134
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Organização do núcleo temático percepção em


categorias e elementos................................................................... 81
Quadro 2 – Organização do núcleo temático sentimentos em
categorias e elementos................................................................... 84
Quadro 3 – Organização do núcleo temático ações em
categorias e elementos................................................................... 88
LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A: Formulário da configuração das famílias em


litígio judicial................................................ 149
APÊNDICE B: Termo de Responsabilidade do Pesquisador. 153
APÊNDICE C: Inventário para avaliação de risco e
proteção no processo de adaptação de
crianças à separação/divórcio dos pais.......... 155
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................. 23
1.2 OBJETIVOS ...................................................................... 27
1.2.1 Objetivo Geral .................................................................. 27
1.2.2 Objetivos Específicos ....................................................... 27
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................. 29
2.1 DISSOLUÇÃO CONJUGAL E TRANSIÇÕES DO
PROCESSO DE SEPARAÇÃO/DIVÓRCIO .................... 29
2.2 CONJUGALIDADE E PARENTALIDADE .................... 34
2.3 FAMÍLIAS EM LITÍGIO JUDICIAL ............................... 36
2.4 FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO
RELACIONADOS AO PROCESSO DE ADAPTAÇÃO
DE CRIANÇAS À SEPARAÇÃO/DIVÓRCIO DOS
PAIS ................................................................................... 42
2.4.1 Fatores Individuais .......................................................... 44
2.4.2 Fatores Intrafamiliares ................................................... 46
2.4.3 Fatores Extrafamiliares ................................................. 53
3 MÉTODO ......................................................................... 57
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ........................... 57
3.2 PROCEDIMENTOS .......................................................... 58
3.2.1 Coleta de dados ................................................................ 58
3.2.2 Organização, análise e tratamento de dados ............. 61
3.3 ASPECTOS ÉTICOS ......................................................... 65
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................... 67
4.1 CONFIGURAÇÃO DAS FAMÍLIAS .............................. 67
4.2 PADRÕES DE RELACIONAMENTOS NAS
FAMÍLIAS.......................................................................... 74
4.3 REAÇÕES QUE AS CRIANÇAS MANIFESTAM
COMO CONSEQUÊNCIA DO CONFLITO
INTERPARENTAL............................................................ 80
4.4 FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO NO PROCESSO
DE ADAPTAÇÃO DE CRIANÇAS À
SEPARAÇÃO/DIVÓRCIO DOS PAIS............................. 92
5 CONCLUSÃO................................................................... 131
REFERÊNCIAS................................................................ 139
APÊNDICES..................................................................... 149
1 INTRODUÇÃO

Como seria imaginar-se no meio de uma “guerra” entre as duas


pessoas de referência em sua vida? Perceber que aquelas pessoas que
você tanto ama, admira e gostaria que estivessem sempre ao seu lado,
não se suportam. Sentir como se elas tivessem vindo de “planetas”
diferentes, nos quais nenhuma ideia, valor ou opinião coincidem. O que
fazer nessa situação? Buscar uni-las a todo custo? Posicionar-se a favor
de uma delas e, consequentemente, contra a outra? Abster-se de
qualquer tipo de conflito, criando uma espécie de “blindagem”
emocional? Quais alternativas poderiam ser pensadas em uma situação
como essa? Muitas crianças vivenciam esse tipo de situação após a
separação/divórcio de seus pais, quando os conflitos conjugais e
parentais se perpetuam através de longas disputas judiciais por
definições referentes à guarda dos filhos, pensão alimentícia,
regulamentação de visitas, denúncias de maus tratos, mudanças de
cidade, estado ou país por um dos genitores, entre outras.
A vivência do conflito judicial dos pais amplia os desafios para
a adaptação das crianças às modificações resultantes do processo de
dissolução conjugal dos pais, no ciclo de vida familiar. Sendo assim,
apresenta-se como proposta desta pesquisa a compreensão dos fatores de
risco e proteção para o processo de adaptação de crianças a
separação/divórcio dos pais que permanecem em litígio judicial a partir
de questões referente aos filhos.
Atualmente, independente do casamento formal ou não, os
casais vivem juntos, têm filhos e se separam. Para os casais que
formalizam a união, a separação ocorre quando o casal deixa de viver
junto como marido e mulher sem recorrer ao judiciário; já o divórcio é a
formalização legal do rompimento dos laços do casamento, o que
permite casar-se novamente. A legislação sobre separações e divórcios
já passou por uma série de alterações; a última ocorreu com a publicação
da Emenda Constitucional 66, de 13 de julho de 2010, que permite que
os casais se divorciem sem a necessidade da separação prévia (Falconi,
2010). Nesta pesquisa, os termos separação e divórcio são utilizados de
forma conjunta, visto que independente do casamento legal, os casais
com filhos que se separam devem recorrer à justiça para as definições
quanto à guarda dos filhos, pensão alimentícia e regulamentação de
visitas, entre outros aspectos.
A separação/divórcio é definida como uma crise transicional,
que aumenta a complexidade das tarefas desenvolvimentais específicas
do momento do ciclo de vida familiar, criando a necessidade de uma
24

série de ajustamentos para todos os membros da família em todos os


níveis geracionais (Carter & McGoldrick, 1995). Dessa forma, a
separação/divórcio caracteriza-se por um longo e complexo processo,
envolvendo múltiplas mudanças, sendo necessário um período de um a
quatro anos para que os ajustamentos familiares necessários tenham
ocorrido (Carter & McGoldrick, 1995; Ahrons, 1995; Souza, 2000).
A regulamentação do divórcio no Brasil foi realizada com a
implantação da Lei no 6515/1977, fato que possibilitou a formalização
de novas uniões após o divórcio. Antes de sua regulamentação, a
separação/divórcio e recasamento já ocorriam, no entanto, muitas vezes,
não eram reconhecidos ou aceitos socialmente, não sendo formalizados
judicialmente. A legislação sobre separações e divórcios teve
significativas alterações até o momento atual, ocorrendo a redução do
prazo entre a separação/divórcio e a dissolução definitiva, a agilidade do
divórcio direto e a possibilidade do divórcio não judicial. De acordo
com as Estatísticas do Registro Civil (2009), estudo realizado pelo
IBGE, as taxas de divórcio no Brasil tiveram crescimento significativo
nos últimos dez anos com pequena queda em 2009, ocorrendo, neste
ano, 23 dissoluções para cada 100 casamentos.
A vivência da separação/divórcio ocorre de forma diferenciada
em cada família, tendo maior ou menor impacto nas pessoas envolvidas
dependendo de fatores econômicos, sociais, culturais, religiosos, além
das redes de apoio que podem se estabelecer ou não (Féres-Carneiro,
2003; Cano, Gabarra, Moré, & Crepaldi, 2009). Vivências que
necessitam de ajustes ao longo desse processo são: a crise deflagrada
pela separação/divórcio, a vida em uma família monoparental, os novos
relacionamentos amorosos dos pais, casamento de um ou de ambos ex-
cônjuges, nascimento de filhos desses novos relacionamentos conjugais,
relacionamento com a família ampliada (Ramires, 2004), além, do
exercício da coparentalidade (Grzybowski & Wagner, 2010b).
A literatura científica apresenta uma produção nacional e
internacional consistente sobre a vivência da dissolução conjugal pelas
famílias, enfocando os processos de adaptação de seus membros. Nesta
pesquisa, optou-se pelo uso do termo adaptação em relação ao termo
ajustamento, costumeiramente utilizados nas pesquisas referentes ao
divórcio na língua inglesa, devido ao significado de adaptação na língua
portuguesa estar relacionado à “integração de uma pessoa ao ambiente
onde se encontra” (http://www.dicionariodoaurelio.com/).
A busca por evidências relacionadas ao fenômeno sob
investigação foi realizada nos banco de dados Scielo, PsycInfo, BVS-
PSI, BDTD e Wiley Online Library com os descritores divórcio e
25

criança, conflito marital e criança, adaptação ao divórcio, ajustamento


ao divórcio, separação/divórcio conjugal, divórcio parental, custódia,
risco e proteção (termos utilizados em português e inglês) considerando
os estudos publicados nos últimos 10 anos. Além disso, as referências
citadas nos trabalhos científicos encontrados foram fonte para novos
materiais. Dentre as publicações em língua portuguesa, foi constatada
uma ênfase em estudos com delineamento qualitativo que investigam as
repercussões familiares e o exercício da parentalidade após a
separação/divórcio e estudos teóricos de revisão.
A separação/divórcio é um tema que vem sendo estudado
mundialmente desde a década de 1950. Revisões bibliográficas
permitem afirmar que as pesquisas realizadas nas décadas de 1950, 1960
e 1970 eram baseadas no modelo de déficit, superestimando os efeitos
deletérios da separação/divórcio per se (Amato, 1994; Souza, 2000;
Ramires, 2004). Os resultados dessas pesquisas fundamentaram a visão
de que a separação/divórcio dos pais é a causa de uma série de graves e
duradouros problemas comportamentais e emocionais em crianças e
adolescentes. Essa visão, amplamente divulgada por 40 anos, fez com
que as famílias divorciadas fossem retratadas pelos meios de
comunicação, profissionais de saúde mental e “conservadores sociais”
como “estruturas falhas”, sendo desvalorizadas em relação às famílias
casadas (Kelly & Emery, 2003).
Atualmente, pesquisadores têm voltado seu interesse para a
procura dos fatores, modelos e processos que expliquem como a
separação/divórcio pode afetar o ajustamento da criança, em vez da
comparação do ajustamento entre crianças de famílias divorciadas e
intactas (Raposo, Figueiredo, Lamela, Nunes-Costa, Castro, & Prego,
2011). As conclusões demonstram que a separação/divórcio pode
acarretar efeitos negativos no ajustamento da criança, no entanto, na
maior parte das vezes, de forma transitória (Raposo et al., 2011).
Com o amplo número de pesquisas sobre separação/divórcio,
existe o entendimento de que com o passar do tempo essa vivência pode
ser benéfica para os membros da família, gerando uma melhora na
qualidade de vida dos ex-cônjuges e dos filhos. Com isso, é possível
afirmar que a vivência dos processos decorrentes da separação/divórcio
pode contribuir para a resiliência familiar, muitas vezes, contribuindo
para o amadurecimento emocional dos pais, o que gera consequências
positivas para os filhos (Cano et al., 2009). No entanto, existem
separações que envolvem disputas e expressões de violência, muitas
vezes, gerando processos judiciais que se estendem por anos, com
26

inúmeras audiências, com pedidos e mais pedidos de revisão de


procedimentos (Costa, Penso, Legnani, & Sudbrack, 2009).
As separações que se estendem em longos processos judiciais
costumam ter como “objeto” da disputa os filhos, criando demandas
complexas para as decisões dos magistrados (Costa et al., 2009). O
Novo Código Civil, promulgado em janeiro de 2002, prevê que deterá a
guarda dos filhos aquele que tiver melhores condições de fazê-lo, sendo
assim, é frequente que juízes solicitem avaliações psicológicas, a fim de
auxiliá-los nas tomadas de decisões. As avaliações psicológicas
realizadas por psicólogos peritos, profissionais indicados e da confiança
dos juízes, geram laudos psicológicos que, segundo Rovinski (2000),
devem avaliar a competência parental quanto à relação com a(s)
criança(s), envolvendo o entorno social, a família extensa e a própria
comunidade, sendo que o grau de incongruência entre as habilidades
parentais e as necessidades da(s) criança(s) é que orientará a tomada de
posição no que se refere à conclusão do laudo.
O presente estudo está inserido na área Processos psicossociais,
saúde e desenvolvimento psicológico do programa de Pós-Graduação
em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, tendo como
relevância científica o aprofundamento do conhecimento sobre as
repercussões nas crianças das vivências de dissolução conjugal no
estado de Santa Catarina a partir do contexto jurídico, tema pouco
abordado nas pesquisas nacionais.
Os resultados desta pesquisa podem instrumentalizar os
profissionais que atuam com famílias que estejam vivenciando o
conflito parental após a separação/divórcio a preservar o menor nas
decisões judiciais e, assim, atender ao princípio constitucional do
melhor interesse da criança, proporcionando aos filhos uma maior
segurança e aos pais a expectativa de que as necessidades dos filhos
serão supridas. Nesse sentido, pretende-se, também, impulsionar a
organização de programas de intervenção e acompanhamento dessas
famílias, principalmente aquelas em que os ex-cônjuges apresentam
dificuldades para a realização de acordos em relação ao exercício da
coparentalidade, evitando assim, maiores dificuldades das famílias às
adaptações necessárias a esse processo.
Pesquisas internacionais têm abarcado questões referentes aos
fatores de risco e proteção para a adaptação familiar às vivências da
separação/divórcio (Das, 2010; Kelly & Emery, 2003; Pedro-Carroll,
2001; Hetherington & Stanley-Hagan, 1999; Hetherington, Bridges, &
Insabella, 1998). Assim, tendo como eixo principal a adaptação da
criança no processo de separação/divórcio dos pais em litígio judicial,
27

essa pesquisa pretende responder a seguinte pergunta: De que forma os


fatores de risco e proteção influenciam o processo de adaptação de
crianças à separação/divórcio dos pais em litígio judicial?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Caracterizar fatores de risco e proteção no processo de


adaptação de crianças à separação/divórcio dos pais em litígio judicial.

1.2.2 Objetivos Específicos

a) Descrever a configuração das famílias de crianças que vivem


o conflito interparental com a separação/divórcio dos pais;
b) caracterizar as reações que as crianças manifestam como
consequência do conflito interparental;
c) identificar fatores de risco e de proteção individuais,
familiares e extrafamiliares nos laudos psicológicos em Varas de
Família de Santa Catarina.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 DISSOLUÇÃO CONJUGAL E TRANSIÇÕES DO PROCESSO


DE SEPARA-ÇÃO/DIVÓRCIO

Nas últimas duas décadas, pesquisadores vêm abandonando a


visão reducionista do processo de separação/divórcio, ampliando a
compreensão das relações complexas entre os aspectos privados e
públicos desse processo. Kelly e Emery (2003) expõem algumas
questões básicas de preocupação empírica para as pesquisas com essa
temática: a) a confusão ao definir correlações que fazem com que,
muitas vezes, problemas psicológicos entre crianças de famílias
divorciadas sejam retratados como consequências do divórcio mesmo
que as evidências empíricas não demonstrem isso; b) a generalização
inadequada de dados coletados com amostras pequenas ou com
problemas em sua construção; c) a aceitação da hipótese nula a partir de
uma análise superficial ou falha, principalmente em amostras grandes e,
muitas vezes, representativas; d) o fracasso em distinguir entre os
resultados normativos e as diferenças individuais na definição de
implicações para a prática nessa área.
A redução ou perpetuação do conflito conjugal após a
separação/divórcio tem sido definida como um dos principais fatores
que contribuíram ou não para a melhora na qualidade de vida familiar
(Amato, 1994; Souza, 2000; Kelly & Emery, 2003; Ramires, 2004;
Cano et al., 2009). O curso da vida familiar nem sempre é suave; toda
família experimenta as tensões inevitáveis das mudanças do ciclo de
vida familiar e de situações a princípio inesperadas (Carter &
McGoldrick, 1995). As crianças são moldadas por inúmeras interações,
positivas e negativas, que geram potencial de risco e oportunidade para
um desenvolvimento típico (Pedro-Carroll, 2001). Sendo que, segundo
essa autora, o perigo reside na sobrecarga, falta de recursos e apoio
necessário, experimentados pela família nos momentos de mudança; e
oportunidade reside no potencial de crescimento e modificações
positivas que promovam a resiliência e resultados saudáveis para os
membros da família.
A vida familiar mudou drasticamente ao longo do século XX; a
instituição do divórcio não quebrou com a norma de constituição da
família nuclear, mas a recontratou, ao proporcionar possibilidades de
reconstrução de afetividades, de vivência de paternidades responsáveis,
30

de novos arranjos familiares, de novas formas de viver a sexualidade e a


relação com os filhos (Fáveri & Tanaka, 2010). Passados mais de 30
anos da instituição da Lei do Divórcio (No 6515/1977), a separação e
divórcio passaram a ser frequentes nas vivências das famílias, deixando
de ser um fenômeno de exceção para tornar-se um acontecimento do
cotidiano das mesmas (Fáveri & Tanaka, 2010; Grzybowski & Wagner,
2010b).
Na sociedade ocidental, esperava-se da família que
permanecesse indissolúvel, independentemente de seus conflitos. A
forma como as pessoas significam o casamento e a vida familiar está
diretamente relacionada com a resistência ou aceitação do processo de
separação/divórcio, mesmo em casos nos quais a relação envolve
conflito extremo e violência doméstica (Das, 2010). De acordo com essa
autora, a separação/divórcio costuma ocorrer em relações nas quais
existe conflito conjugal, incluindo choque de incompatibilidade, de
personalidades, falta de comunicação, uso de álcool em excesso e
relações extraconjugais. Apesar do conflito estar presente na maioria das
separações conjugais, é a gestão e resolução desses conflitos que irá
facilitar ou dificultar a adapatação às mudanças geradas por essa decisão
em todos os familiares, principalmente nas crianças (Das, 2010).
Para que se possa estudar a dissolução da conjugalidade, é
necessário o entendimento de como esta se estabelece. A conjugalidade
pode ser definida como um processo de construção de uma realidade
comum, que acontece a partir do momento que os parceiros, ao
iniciarem a relação a dois, experimentam uma reconstrução de sua
realidade individual, estabelecendo referências comuns e uma identidade
conjugal (Grandesso, 2000; Féres-Carneiro & Diniz, 2010). Sendo
assim, essa relação implica na construção de uma história comum, na
qual as posturas, vivências e definições de cada um dos cônjuges afetam
o outro. Esse processo não envolve apenas as fases inicias de
engajamento amoroso, devendo ser visto como contínuo, pois o que
mantém a conjugalidade e sua qualidade são os padrões de
relacionamentos construídos entre os parceiros, permitindo que esta
resista às mudanças previsíveis e imprevisíveis do ciclo de vida (Carter
& McGoldrick, 1995; Féres-Carneiro, 2003; Féres-Carneiro & Diniz,
2010).
No processo de separação/divórcio, a identidade conjugal,
construída ao longo da relação, vai se desfazendo, sendo necessária uma
nova redefinição das identidades individuais dos cônjuges. Nesse
processo, os padrões de manutenção da relação vão sendo modificados
até o momento em que um dos cônjuges ou ambos não a definem mais
31

como uma relação conjugal. Porém, esta ruptura conjugal pode ser
abrupta e descontínua, envolvendo um longo e doloroso processo que
pode durar muitos anos (Féres-Carneiro, 2003; Féres-Carneiro & Diniz,
2010).
A separação/divórcio não é um evento único, mas uma série de
transições e reorganizações familiares que modifica a vida e o contexto
de desenvolvimento das crianças. A separação/divórcio traz,
inevitavelmente, uma sequência de mudanças que envolvem questões
econômicas a emocionais (Pedro-Carroll, 2001; Hetherington, 1979;
Kelly & Emery, 2003). O entendimento de que a separação/divórcio dos
pais per se determinam piores resultados psicológicos na criança vem se
enfraquecendo na literatura (Raposo et al., 2011; Hack & Ramires,
2010; Amato, 2000, 2001). O processo de dissolução conjugal implica
em mudanças e descontinuidades para as vivências familiares, gerando
sentimentos de perda e desamparo (Hack & Ramires, 2010; Amato,
2000). Dessa forma, o interesse atual dos pesquisadores dirige-se para a
procura dos fatores, modelos e processos que melhor permitam
compreender a adaptação da criança e adolescentes à separação/divórcio
dos pais (Raposo et al., 2011; Lamela, Figueiredo, & Bastos, 2010;
Hack & Ramires, 2010; Das, 2010; Kelly, 2007; Ramires, 2004; Kelly
& Emery, 2003; Pedro-Carroll, 2001; Souza, 2000; Amato, 2000, 2001).
A partir da década de 1990, as pesquisas sobre os efeitos do
divórcio nas crianças começaram a apresentar resultados mais fracos, o
que vem sendo justificado por mudanças nos valores sociais e novas
práticas de intervenção junto a estas famílias. A dissolução conjugal
tornou-se mais comum em nossa sociedade, passando a ser mais aceita
pelas pessoas, o que diminuiu o estigma que as crianças de pais
separados recebiam em décadas anteriores (Amato, 2001). Também
ocorreu um incremento das intervenções terapêuticas para as crianças da
separação/divórcio (Amato, 2001), com muitos pais buscando esse tipo
de atendimento. As escolas estão mais bem preparadas para lidar com
estas crianças de forma menos estigmatizada. Grupos terapêuticos,
informativos e reflexivos vêm sendo realizados para os pais em
separação/divórcio, o que costuma ser bem avaliado pelos pais
participantes (Amato, 2001; Brito, Cardoso, & Oliveira, 2010). No
entanto, essas práticas são mais comuns em outros paises, entre eles, os
Estados Unidos.
32

Por outro lado, a mediação1 vem cada vez mais sendo utilizada
nas Varas de Família, no Brasil e em outros países. As pesquisas sobre
os processos de mediação apresentam resultados favoráveis em relação
ao melhor cumprimento dos acordos estabelecidos entre os pais, mais
satisfação parental, menos conflito e mais cooperação no que diz
respeito à construção de práticas educativas conjuntas (Amato, 2001), o
aumento de contato e envolvimento dos pais não residentes com seus
filhos, diminuição do conflito parental, maior flexibilidade na mudança
de acordos de custódia nas famílias em processo de mediação em
relação àquelas que estão em processo litigioso de definição de custódia
(Pickar & Kahn, 2011).
Apesar das razões citadas para justificar um declínio contínuo
nos resultados dos efeitos da separação/divórcio nas crianças, existem
pesquisas que sugerem uma conclusão diferente. Pesquisas longitudinais
indicam que o nível de discórdia conjugal antes da ruptura conjugal
interfere nos efeitos da separação/divórcio nas crianças. Nas famílias em
que o conflito conjugal anterior à decisão da separação/divórcio é
evidente, intenso, crônico e não resolvido, as crianças parecem estar em
melhor situação em longo prazo. Enquanto que, quando o casal
apresenta um baixo nível de conflito antes da separação/divórcio ou o
nível de conflito não é evidente para as crianças, estas estão em pior
situação após a separação/divórcio (Amato, Loomis, & Booth, 1995;
Hanson, 1999; Jekielek, 1998; Morrison & Coiro, 1999). Isso pode ser
explicado pelo fato de na segunda situação as crianças entenderem a
separação/divórcio dos pais como um evento inesperado e inexplicável
que gera uma série de transições estressantes e nenhuma ou poucas
compensações (Amato, 2001). Sendo assim, crianças que são retiradas
de um ambiente familiar hostil estariam sendo beneficiadas. No entanto,
o autor avalia que a diminuição das atitudes públicas desfavoráveis a
separação/divórcio, e o crescimento do número de casais se divorciando,
vêm autorizando a prática do divócio sem culpa, o que pode diminuir o
limiar de infelicidade conjugal necessário para desencadear uma
separação/divórcio.
É crescente o número de separações/divórcios precedidos por
certo nível de discórdia, ou seja, sem envolver um longo período de
evidente e intenso conflito conjugal (Amato, 2000). O fim de um
casamento por razões que têm mais relação com o "crescimento pessoal"

1
A mediação é uma técnica consensual de resolução de conflitos, que visa à
facilitação do diálogo entre as partes litigantes.
33

do que com a necessidade de sair de um relacionamento destrutivo se


torna comum (Amato, 2001). Dessa forma, cada vez mais crianças
podem viver as angústias da separação/divórcio dos pais sem a
precedência de altos níveis de conflito, ou seja, a separação/divórcio que
é mais angustiante para as crianças (Amato, 2001). Segundo o autor, é
difícil documentar essa tendência, e, até o momento, nenhuma evidência
direta está disponível para apoiar esta explicação.
A decisão de terminar um casamento costuma envolver
processos de questionamentos dos cônjuges em relação aos
acontecimentos que envolverão a vida de todos os familiares. Quando a
relação envolve filhos, é comum que os pais se questionem sobre de que
forma a decisão pela separação/divórcio irá afetar a vida das crianças?
Se isso poderá resultar em problemas de longo prazo? Se o melhor é
manter o casamento pelas crianças? (Pedro-Carroll, 2001). Como os
membros da família não são afetados de maneira uniforme por uma
separação/divórcio, sendo que os estressores ligados a esse processo
variam de criança para criança, de família para família e ao longo do
tempo (Kelly & Emery, 2003; Pedro-Carroll, 2001). As respostas a essas
perguntas sempre estarão relacionadas a uma série de outras questões.
Os estressores são originados do tipo de conflito que motivou a
separação/divórcio, do ajuste e recursos dos pais, do conflito parental e
grau de cooperação estabelecido, do recasamento de um ou ambos ex-
cônjuges, da estabilidade dos recursos econômicos e dos recursos
individuais das próprias crianças (Kelly & Emery, 2003). Dessa forma,
uma estratégia de enfrentamento ou mudança de vida positiva de um
membro da família não é necessariamente benéfico para outros (Pedro-
Carroll, 2001).
A separação/divórcio gera alterações na estrutura familiar,
possibilitando um leque de novas configurações e organizações
familiares. No entanto, quando essa decisão envolve a existência de
filhos da união, o processo de adaptação se complexifica, pois não se
trata apenas do fim de uma relação de casal, mas, também, do início de
uma relação de parentalidade de pais divorciados (Grzybowski &
Wagner, 2010b). Sendo assim, a separação/divórcio possui um efeito
desorganizador das práticas parentais, configurando-se como um
exigente desafio para a regulação desenvolvimental, que obriga ao
adulto a ativação de seus sistemas comportamentais e cognitivos para
conter os efeitos negativos (Féres-Carneiro & Diniz, 2010), com a
criação de novas estratégias parentais que potencializem uma adaptação
saudável à nova condição familiar.
34

2.2 CONJUGALIDADE E PARENTALIDADE

Uma das grandes dificuldades na separação/divórcio, apontada


pela literatura, é a tarefa dos ex-cônjuges de separar a conjugalidade da
parentalidade. A decisão pela separação/divórcio envolve um processo
de desconstruir a conjugalidade e, simultaneamente, reconstruir a
identidade individual, o que envolve um processo lento, no qual,
misturam-se a vivência de uma maior liberdade com o sentimento de
solidão, configurando-se como um período difícil para homens e
mulheres (Féres-Carneiro, 2003). Paralelo a esse processo, ocorrem
mudanças no exercício da parentalidade, que envolvem
responsabilidades essenciais para com os filhos, tais como exercer
autoridade, promover trocas afetivas, oferecer orientação e instrução,
compartilhar experiências do dia a dia e suprir as necessidades
econômicas e materiais (Grzybowski & Wagner, 2010b).
A coparentalidade implica em um interjogo de papéis para o
cuidado global da criança, envolvendo uma responsabilidade conjunta
pelo bem estar da mesma. A coparentalidade envolve quatro
componentes básicos: a) suporte para não denegrir o papel do outro
genitor, o que envolve afirmar sua competência, reconhecer e respeitar
suas contribuições, sustentar suas decisões e apoiar sua autoridade; b)
diferenças em questões educativas e valores, o que envolve diferenças
de opinião sobre temas relacionados à infância (valores morais,
disciplina, padrões educacionais e prioridades, segurança, associações
de pares, entre outros); c) divisão do trabalho parental, ou seja, de
funções, tarefas e responsabilidades relativas a rotinas diárias, aos
cuidados infantis, e às tarefas domésticas; d) gestão de interações
familiares, incluindo a exposição das crianças ao conflito interparental
(Feinberg, 2002). Sendo assim, a coparentalidade não é uma tarefa
apenas dos pais separados/divorciados, mas nesta situação, os pais tem
menos momentos e espaços em comum para efetivarem as relações
interparentais na educação dos filhos (Grzybowski & Wagner, 2010b;
Lamela et al., 2010).
A coparentalidade não deve ser entendida como grau de
cooperação dos pais na educação dos filhos, pois não induz a uma
tendência de qualidade nas relações interparentais. A inovação
conceitual é definir as relações interparentais como um subsistema
autônomo e estruturalmente diferente dos subsistemas conjugal e
parental (Lamela et al., 2010). Dessa forma, a coparentalidade pode ser
avaliada como positiva ou cooperante de acordo com o envolvimento
35

recíproco e coeso da díade coparental na educação e tomada de decisões


sobre a vida dos filhos (Feinberg, 2003). Muitos pais e mães separados
encontram dificuldades em manter um relacionamento coparental
saudável, pois a definição do próprio conceito de coparentalidade
implica na presença necessária de duas pessoas envolvidas e reponsáveis
pela educação das crianças, o que muitas vezes não ocorre após a
separação/divórcio do casal (Grzybowski & Wagner, 2010b).
Em pesquisa realizada no contexto brasileiro com 234 pais e
mães separados com pelo menos um dos filhos com idade entre seis e
doze anos, ficou evidenciada uma configuração tradicional do
envolvimento parental, ou seja, maior envolvimento materno do que
paterno após o fim do casamento. Foram avaliadas cinco dimensões do
envolvimento parental, sendo que as mães apresentaram médias
significativamente superiores a dos pais no envolvimento afetivo
(suporte emocional) e envolvimento didático (escola/conhecimentos) e
superiores no envolvimento social, envolvimento com disciplina e
responsabilidade. Considerando que todas as mães participantes da
pesquisa coabitavam com seus filhos é reforçada a compreensão de que
coabitação leva a um maior envolvimento direto com as crianças. Além
disso, os resultados são relacionados ao fato de historicamente as mães
serem reconhecidas como as principais cuidadoras e responsáveis pela
educação dos filhos e o fato delas recasarem menos frequentemente que
os homens, o que não é considerado determinante (Grzybowski &
Wagner, 2010a).
Os primeiros anos após o separação/divórcio costumam ser
marcados por um padrão coparental com altos índices de conflito e
descomprometimento na educação dos filhos, o que pode estar
relacionado ao fato de os pais estarem mais centrados na própria
adaptaçã à nova realidade familiar (Nunes-Costa, Lamela & Figueiredo,
2009). Segundo os autores citados acima, a distância física que se
estabelece entre os genitores, as dificuldades em diferenciar as
dificuldades conjugais da relação coparental e a diminuição do
envolvimento do genitor não detentor da guarda contribuem para a
ocorrência do descomprometimento coparental. Isso faz com que filhos
de pais separados, muitas vezes, sejam expostos a práticas parentais
paralelas e dessincronizadas, fomentando o conflito interparental e o
desadaptação familiar (Nunes-Costa et al., 2009).
A separação/divórcio dos pais, assim como outras situações
familiares estressantes, aumenta a probabilidade de pais e crianças
evidenciarem mal-estar psicológico (Amato, 2000). Para algumas
crianças, o mal-estar psicológico pode anteceder a separação/divórcio
36

devido a existência de conflitos intensos e crônicos com a presença de


violência, podendo ocorrer uma diminuição de problemas após a
separação/divórcio dos pais (Kelly & Emery, 2003). No entanto, no
período inicial subsequente a separação/divórcio é comum que as
crianças experimentem sensações e sentimentos como angústia, tristeza,
ansiedade, raiva, ressentimento, confusão, culpa, medo em relação ao
futuro, conflitos de lealdade, sintomas somáticos e luto em relação aos
pais ausentes (Pedro-Carroll, 2001; Souza, 2000). A vivência de
estressores múltiplos e não aliviados sobrecarregam as crianças no
processo de adaptação à separação/divórcio e são mais propensos a
resultar em maior risco e dificuldades psicológicas ao longo do tempo
(Kelly & Emery, 2003).
Em pesquisa realizada por Souza (2000), foram relatadas as
seguintes modificações percebidas pelas crianças após a
separação/divórcio dos pais: mudanças no relacionamento com o pai
e/ou redução de contato com o mesmo; mudanças no relacionamento
com a mãe; mudanças no relacionamento com irmãos; aproximação da
família materna; afastamento da família paterna, afastamento de amigos
do pai ou da mãe; perda de amigos. Essas informações evidenciam as
perdas múltiplas vivenciadas pelas crianças, apontando para a
quantidade de estresse envolvido nesse processo que gera modificações
na estrutura e funcionamento familiar e alterações profundas em sua
rotina de vida.

2.3 FAMÍLIAS EM LITÍGIO JUDICIAL

Estudos de meta-análise têm contribuído para um consenso


emergente de que a separação/divórcio dos pais apresenta riscos
específicos para crianças (Amato, 2000, 2001). Esses estudos
demonstram que apesar de existirem crianças e adultos que apresentam
uma adaptação relativamente rápida a separação/divórcio (apoiando um
modelo de crise), em outros casos, ocorre a apresentação de déficits em
longo prazo no funcionamento (apoiando um modelo de tensão crônica)
(Amato, 2000). Segundo o autor, as pesquisas realizadas ao longo da
década de 1990 apresentam duas formas de compreender os efeitos da
separação/divórcio para a sociedade: a primeira como um importante
contribuinte para muitos problemas sociais, e a segunda como uma força
benigna que oferece uma nova chance para a felicidade das famílias e
resgata crianças de ambientes domésticos disfuncionais e aversivos. No
37

entanto, as pesquisas vêm demonstrando que a separação/divórcio gera


benefícios para alguns indivíduos, leva outros a experenciar dificuldades
temporárias no bem estar que melhoram com o tempo, e é vivenciado
por alguns indivíduos como um ciclo de forças descendente do qual
talvez nunca se recupere totalmente (Amato, 2000).
No Brasil, com a publicação da Lei No 11.698 no ano de 2008, a
guarda dos filhos após a separação/divórcio do pais pode ser unilateral
ou compartilhada. A guarda unilateral é atribuída a um dos genitores,
sendo que as decisões relativas aos filhos recaem sobre o genitor
guardião. Na guarda compartilhada ocorre a responsabilização conjunta
pelas decisões e o exercício de direitos e deveres em relação aos filhos,
independentemente do tempo em que os filhos passem com cada um
deles.
Fedullo (2001) diferencia dois tipos de separação/divórcio: a) o
divórcio no ciclo de vida familiar encarado como um processo natural,
no qual, ocorre a proteção e valorização do vínculo parental, apesar da
dissolução do vínculo conjugal; b) o divórcio conflituoso que envolve
disputas e violências entre os membros da família, provocando confusão
nas fronteiras e hierarquias familiares, com vivência de sentimentos de
castigo e ataque.
Glasserman (1989, como citado em Juras & Costa, 2011, p.
224) propõe a definição de divórcio destrutivo para os casos em que a
relação entre os ex-cônjuges é baseada na desqualificação mútua, em
constantes conflitos e brigas que conservam a união, em que existem
dificuldades nos cuidados com os filhos e que necessitam da
participação de intermediários litigantes (membros da família extensa,
profissionais da saúde, da escola e da Justiça). No divórcio destrutivo,
os ex-cônjuges não reconhecem a corresponsabilidade no conflito,
adotando uma postura de encontrar culpados e cúmplices. Essa situação
tende a fazer com que os pais percam de vista o cuidado e a proteção das
crianças envolvidas nesse processo, visto que os conflitos conjugais se
sobressaem (Juras & Costa, 2011). Trabalhos científicos nacionais vêm
utilizando o termo divórcio destrutivo (Juras & Costa, 2011; Juras,
2009; Costa et al., 2009).
Quando os familiares não entram em consenso quanto às
decisões relativas aos filhos após a separação/divórcio devem procurar o
sistema judiciário. Muitas famílias acabam mobilizando um número
desproporcionalmente grande de profissionais e tempo dos tribunais,
colocando os filhos em risco pelo conflito familiar permanente, e
criando desafios especiais a todos que trabalham no sistema judiciário
(Costa et al., 2009; Jaffe, Johnston, Crooks & Bala, 2008; Horvath,
38

Logan & Walker, 2002). De acordo com Costa et al. (2009, p. 236), “os
tribunais estão cada vez mais abarrotados de processos que se estendem
por anos, com audiências que não se esgotam, com pedidos e mais
pedidos de revisão de procedimentos”. Segundo essas autoras, o
contexto judicial é um espaço encontrado pelos ex-cônjuges que
apresentam uma dinâmica de divórcio destrutivo, no qual, podem
competir suas forças, buscando terceiros, como os filhos, profissionais
do judiciário, profissionais da saúde, entre outros, como aliados na
guerra parental estabelecida.
A competição destrutiva que se estabelece entre os ex-casais
favorece a “utilização” dos filhos como objeto da disputa. Essas
situações geram relações trianguladas, não saudáveis, na qual a criança
assume compromisso de lealdade com um ou ambos os genitores, fica
envolvida em uma espécie de pêndulo emocional, no qual, enquanto
agrada a um genitor desagrada ao outro (Costa et al., 2009). O conflito
intenso pós-divórcio é mais destrutivo, gerando estresse intolerável e
conflitos de lealdade, quando os pais usam seus filhos para expressar
sua raiva, pedindo que as crianças carreguem mensagens hostis, sendo
verbal e fisicamente agressivos por telefone ou pessoalmente,
denegrindo a imagem do outro genitor na frente da criança ou proibindo
menção sobre o outro genitor na sua presença (Lamb & Kelly, 2009;
Kelly & Emery, 2003).
Segundo Lamb e Kelly (2009), o conflito que permace não
resolvido e perdura após a separação/divórcio tem maior interferência na
vida das crianças do que aquele que se localiza no período da
separação/divórcio, principalmente quando inclui a violência física e a
exposição das crianças a estas vivências. A dificuldade do ex-casal e da
família de dissolver esses conflitos e triangulações, alimentam anos de
disputas nos tribunais, “fazendo com que o processo retorne para nova
instrumentação de cinco a seis vezes” (Costa et al., 2009, p. 237). Entre
as motivações e ganhos que podem estar relacionados a essas dinâmicas
de separação/divórcio são questões emocionais, envolvendo aspectos
referentes à relação e vínculo conjugal, e questões financeiras/materiais,
envolvendo possíveis benefícios para aquele genitor que fica com a
guarda da criança (Costa et al., 2009).
Como forma de auxiliar nos processos que envolvem ex-casais
que não conseguem estabelecer propostas comuns para os arranjos de
cuidados com os filhos a atuação do psicólogo na justiça pode ser de
assessoramento direto ao magistrado, através da realização de avaliações
psicológicas e construção de um estudo psicossocial (Costa et al., 2009).
Essas autoras ressaltam que o estudo psicossocial não é somente de
39

ordem do psicológico ou do psicopatológico, pois inclui uma dimensão


que é da ordem do social, e que traz a possibilidade de o psicólogo
construir uma dimensão interventiva em seu trabalho.
As avaliações vêm sendo cada vez mais utilizadas nos sistemas
judiciais de diversos países, como forma de auxiliar na determinação
dos melhores arranjos para a custódia das crianças (Pickar & Kahn,
2011). Segundo os autores anteriormente citados, as avaliações são
especialmente úteis quando o tribunal precisa de informações a respeito
da segurança de crianças envolvidas em casos de abuso físico ou sexual,
violência doméstica, problemas psiquiátricos graves por parte dos
genitores, abuso de substâncias pelos pais e formas extremas de
alienação. No entanto, existem questionamentos quanto ao possível
enfoque aos déficits parentais, podendo reforçar o conflito e
animosidade crescente, polarizando ainda mais as relações entre os
genitores (Pickar & Kahn, 2011).
A partir das avaliações os psicólogos produzem pareceres,
relatórios e laudos psicológicos que visam determinar o melhor arranjo
de custódia das crianças, através da criação de um plano abrangente para
minimizar as fraquezas e dificuldades dos pais e oferecer acordos para
melhor servir as necessidades da criança (Horvath et al., 2002). As
maiores dificuldades para o estabelecimento desses arranjos de custódia
estão relacionadas ao elevado nível de hostilidade, desconfiança, medo e
culpa da relação entre os genitores, tornando-se especialmente
complexos quando há denúncias de violência doméstica ou abuso
infantil (Jaffe et al., 2008).
Rovinski (2000) ressalta aspectos distintivos da avaliação
forense, que irão embasar a redação do laudo realizada pelo psicólogo:
a) essa avaliação dirige-se a um foco determinado pelo sistema legal; b)
o examinador deve preocupar-se com a exatidão da informação, não
devendo restringir as fontes de informação ao cliente, mas sim, a todas
as fontes consideradas relevantes; c) o examinador pode ter que lidar
com pessoas não cooperativas e/ou resistentes e com a possibilidade de
distorções conscientes e intencionais de fatos e informações, o que está
relacionado com a natureza coercitiva e importância final do trabalho.
Muitos casos de definição de custódia judicial envolvem pais
qualificados para o exercício da parentalidade, no entanto, que não
conseguem manter uma relação saudável entre si (Horvath et al., 2002).
Lamb e Kelly (2009) ressaltam que o conflito ou mesmo a violência
conjugal não evidenciam diretamente a presença de violência na relação
entre genitores e filhos, pois muitas crianças possuem relações de afeto e
proximidade com pais que apresentam altos níveis de conflito entre si.
40

Dessa forma, é importante que o contato entre os genitores e seus filhos


não seja interrompido exclusivamente por alegações de relacionamento
conflituoso e violento entre o ex-casal, o que muitas vezes ocorre a
partir de decisões judicialmente homologadas (Lamb & Kelly, 2009).
Isso ressalta a importância de uma sentença judicial nas vivências das
famílias, podendo “definir, reestruturar, modificar, transformar, alterar,
empobrecer/enriquecer as relações familiares, promovendo um marco de
ruptura/uniões no tempo da convivência familiar” (Costa et al., 2009, p.
239).
Em pesquisa realizada por Horvath et al. (2002), com relatórios
de avaliação de 82 casos de definições de guarda de crianças nos anos
de 1997 e 1998 nos Estados Unidos, elaborados por psicólogos e outros
profissionais, foi verificado que em 27,3% dos casos a decisão final para
a guarda e visitação (que foi ordenada pelo juiz ou pelos advogados) foi
exatamente como tinha recomendado o avaliador; em 63,6% dos casos
as recomendações do avaliador e as decisões finais foram similares,
incluindo menos detalhes e estipulações sobre a visitação do que foram
recomendadas pelo avaliador; e, em apenas 9,1% dos casos a decisão
final foi totalmente contrária à recomendação do avaliador. Isso
demonstra a importância das avaliações para as decisões do sistema
judicial.
As avaliações para definição de custódia dos filhos de pais
separados e em conflito judicial visam atender os "melhores interesses
da criança"; no entanto, essa expressão não define critérios de avaliação
e técnicas específicos (Horvath et al., 2002). De acordo com Symons
(2010), a quantidade mínima de contato face a face para uma avaliação
de custódia de criança(s) deve conter entrevistas individuais com cada
um dos pais, observações e entrevistas com cada um dos pais e a(s)
criança(s), tempo individual com cada criança. Na pesquisa realizada
por Horvath et al. (2002), citada acima, foi verificado que 40% das
avaliações utilizou apenas dois métodos de avaliação para determinar
um arranjo de custódia; esse número é considerado infuciente, visto o
impacto que esta decisão tem sobre pais e filhos.
Shumaker, Miller, Ortiz e Deutsch (2011) indicam que os
seguintes fatores devem ser considerados em uma avaliação da custódia
da(s) criança(s): a) história de cuidados em relação a(s) criança(s), b) a
história do apego entre a(s) criança(s) e cada um dos pais; c) os pontos
fortes e fracos de cada um dos pais ; d) a relação entre os pais; e) o
temperamento da(s) criança(s); f) a comunicação entre os pais; g) a
qualidade do cuidado oferecido pelos substitutos dos pais, quando
necessário.
41

Jaffe, Johnston, Crooks e Bala (2008) propõem alguns


princípios norteadores para se fazer uma análise dos riscos e benefícios
dos diferentes planos de parentalidade em casos de denúncia de
violência doméstica ou abuso infantil, objetivando o melhor interesse da
criança, que devem ser priorizados na seguinte ordem: 1) proteger as
crianças de ambientes violentos, abusivos e negligentes; 2) garantir a
segurança e apoiar o bem estar do genitor que é vítima de abuso (a partir
do pressuposto de que eles serão mais capazes de proteger seus filhos);
3) capacitar o genitor que é vítima de abuso a tomar suas próprias
decisões e dirigir sua própria vida; 4) garantir que os familiares
reconheçam o problema e busquem medidas para corrigir o
comportamento abusivo; 5) propor um plano com medidas restritivas
que permita o acesso dos genitores aos filhos, de forma benéfica à
criança.
O psiquiatra norte americano Richard Gardner, na década de 80,
definiu o conceito de síndrome de alienação parental (SAP) como um
distúrbio infantil que acomete menores de idade envolvidos em
situações de disputa de guarda entre os pais, no qual um dos genitores
realiza uma programação ou lavagem cerebral para que o filho rejeite o
outro responsável (Gardner, 2001). No entanto, esse conceito vem sendo
rejeitado por cientistas sociais que afirmam a falta de uma teoria
psicológica e base científica que sustente esse conceito e as
recomendações de tratamento (Bruch, 2001). Kelly e Johnston (2001) ao
pesquisarem essas questões retratam que o comportamento do genitor
rejeitado também contribui para a alienação da criança. As autoras
consideram que essas respondem a um complexo conjunto de fatores: a)
problemas de personalidade e déficits dos pais; b) comportamento hostil
e polarizado dos pais, que incentivam a alienação; c) raiva e
vulnerabilidades psicológicas da própria criança; d) hostilidade gerada
pela separação/divórcio.
Considera-se que o melhor interesse da criança é promovido
quando essa pode ter um relacionamento saudável com ambos os
genitores, sendo que a decisão por suspender o contato da criança com
um dos pais deve ser fundamentada em evidências significativas de
prejuízos para ela. No entanto, essas decisões podem ser necessárias
quando um dos genitores expõe a criança a um risco permanente, sendo
um desafio para os profissionais de saúde mental e advogados
fornecerem informações consistentes para conseguir uma decisão que
proteja a criança (Jaffe et al., 2008).
42

2.4 FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO RELACIONADOS AO


PROCESSO DE ADAPTAÇÃO DE CRIANÇAS À
SEPARAÇÃO/DIVÓRCIO DOS PAIS

O impacto da separação/divórcio nas famílias não apresenta


certezas a priori e deve ser compreendido como resultado de um
processo sistêmico e dinâmico. A adaptação resulta da interação de
múltiplos mediadores psicossociais e está condicionada por
características individuais e pelo contexto desenvolvimental (Raposo et
al., 2011). A separação/divórcio dos pais se associa a problemas
transitórios de ajustamento nas crianças, e estas correm duas vezes mais
risco de desenvolver problemas de desenvolvimento nos dois primeiros
anos após a dissolução conjugal, do que as de famílias não divorciadas
(Raposo et al., 2011; Kelly & Emery, 2003; Amato, 2000). No entanto,
a maior parte das crianças que experiência a separação/divórcio dos pais
apresenta um bom ajustamento e não demonstra problemas emocionais
ou comportamentais permanentes, o que ressalta a importância de pensar
no desenvolvimento de um suposto processo de resiliência com essas
crianças (Raposo et al., 2011; Amato, 2001).
A partir da década de 1990, algumas pesquisas apresentam
resultados que relacionam a saúde mental das crianças ao bem estar dos
pais e à qualidade do relacionamento entre ambos, indicando riscos para
crianças que cresceram em ambiente familiar em que o casal estava em
conflito, vivendo juntos ou não. Sendo assim, os filhos de pais
separados poderão ser competentes e bem ajustados dependendo do
ajustamento psicológico e da capacidade de cuidado da figura parental
detentora da guarda, da quantidade e qualidade do contato com a figura
parental não detentora da guarda, do nível de conflito entre os pais após
a separação/ divórcio, nível de dificuldades socioeconômicas e número
de eventos estressores adicionais que incidirem sobre o sistema familiar
(Amato, 1994; Souza, 2000; Kelly & Emery, 2003; Ramires, 2004;
Raposo et al., 2011).
A partir dos anos 90, o conceito de resiliência passou a ser
utilizado na análise psicológica do contexto familiar, apresentando uma
nova concepção na maneira de compreender e atuar com as famílias.
Resiliência é compreendida por Rutter (1987), como um processo
interativo entre a pessoa e seu meio, envolvendo um conjunto de
processos sociais e intrapsíquicos, que possibilitam o desenvolvimento
de uma vida sadia, mesmo vivendo em um ambiente não sadio. Dessa
forma, a resiliência não é compreendida como uma característica ou
43

traço individual, mas sim, um processo que envolve fatores de risco e


proteção, no qual, “os fatores de proteção têm a função de interagir com
os eventos de vida e acionar processos que possibilitem incrementar a
adaptação e a saúde emocional” (Poletto & Koller, 2008, p. 408). De
acordo com Rutter (1987), o termo risco deve ser utilizado sob a ótica
de um mecanismo e não de um fator, uma vez que o que é definido
como risco em uma determinada situação, pode ser entendido como
proteção em outra.
O conceito de resiliência refere-se à capacidade dos seres
humanos responderem de forma positiva às experiências de risco
ambientais ou adversas que vivenciam, mesmo que estas ofereçam risco
potencial para sua saúde e/ou desenvolvimento (Rutter, 1987). Segundo
esse autor, a resiliência é resultante da interação entre fatores genéticos e
ambientais, que podem oscilar em suas funções, atuando como proteção
ou risco, dependendo do momento e do contexto em que esteja
ocorrendo. Esse conceito contribui para melhor compreensão sobre o
processo de produção de saúde que ocorre em meio às adversidades
experienciadas pelos seres humanos ao longo de sua existência,
ajudando a compreender os processos que permitem que algumas
crianças expostas a situações de risco não manifestem problemas
emocionais e comportamentais (Silva, Elsen, & Lacharité, 2003).
As pesquisas sobre divórcio durante as últimas décadas
evidenciaram inúmeros efeitos negativos para o desenvolvimento da
criança. No entanto, atualmente o foco das pesquisas tem se voltado
para o potencial de enriquecimento que essa transição familiar pode
comportar (Raposo et al., 2011), investigando os fatores de risco e de
proteção envolvidos neste processo (Das, 2010; Kelly & Emery, 2003;
Pedro-Carroll, 2001; Hetherington & Stanley-Hagan, 1999;
Hetherington et al., 1998). Sendo assim, a vivência da
separação/divórcio pode possibilitar crescimento e aumento de bem
estar psicológico para pais e filhos, ao mesmo tempo em que pode
permanecer como palco privilegiado de antigos e novos conflitos,
relativos à pensão, condução da educação, acordos de guarda e
regulamentação de visitas (Ramires, 2004).
O bem estar da criança está associado ao bem estar dos pais e
ao relacionamento entre eles. Desta forma, crianças em famílias
monoparentais podem apresentar um desenvolvimento mais adequado
que em famílias nucleares com alto nível de conflito, sendo que o risco
estará presente para as crianças que vivem em um lar conflituoso seja
com os pais separados/divorciados ou não (Hetherington & Stanley-
Hagan, 1999). Os fatores de risco e proteção para as crianças na
44

vivência da dissolução conjugal dos pais não são estáticos, podendo se


modificar conforme a família vive e negocia suas transições. A
vulnerabilidade ou resiliência das crianças para o enfrentamento das
mudanças e desafios advindos da separação/divórcio dos pais estão
associadas à interação dos fatores de risco e proteção existentes no plano
individual, intrafamiliar e extrafamiliar destas crianças (Pedro-Carroll,
2001; Hetherington & Stanley-Hagan, 1999; Emery, & Forehand, 1996).

2.4.1 Fatores Individuais

Pesquisas evidenciam que as características individuais da


criança interferem em seu ajustamento à separação/divórcio dos pais
(Raposo et al., 2011; Kelly & Emery, 2003; Pedro-Carroll, 2001), sendo
que aquelas que apresentam temperamento fácil, são inteligentes,
competentes, responsáveis, socialmente sensíveis e apresentam senso de
humor, demonstram maior adaptação positiva a essa transição familiar
(Raposo et al., 2011; Hetherington & Stanley-Hagan, 1999). Além
disso, associação entre dimensões como autoestima, competência
cognitiva e autonomia da criança, ao suporte social oferecido, também
foram relacionadas positivamente à maior adaptação da criança (Kelly
& Emery, 2003; Pedro-Carroll, 2001). Já as crianças que se culpam e
criam ideias erradas ou imprecisas em relação à compreensão do
processo de separação/divórcio têm demonstrado mais dificuldades para
adaptação (Pedro-Carroll, 2001).
A separação/divórcio apresenta efeitos diferentes de acordo
com o estágio de desenvolvimento da criança, sendo que crianças em
idade pré-escolar apresentam maior risco para trajetórias sociais e
emocionais desadaptadas se comparadas com crianças de mais idade
(Kelly & Emery, 2003). O fato das estruturas cognitivo-emocionais
encontrarem-se imaturas contribui para a possibilidade de avaliações
indevidas das causas, processos e consequências da separação/divórcio,
centralizando em si a responsabilidade pela dissolução conjugal e
gerando sentimentos de total abandono, além da menor possibilidade de
conseguir suporte necessário à diminuição da aflição vivenciada
(Raposo et al., 2011; Hetherington & Stanley-Hagan, 1999).
No entanto, o suporte a essas afirmações são controversos, pois
existem pesquisas que afirmam maior efeito negativo para crianças
menores e outras que indicam efeitos negativos equivalentes para
crianças mais velhas e adolescentes (Hetherington & Stanley-Hagan,
1999). Segundo os autores citados, as conclusões inconsistentes podem
refletir falhas na metodologia, pois a idade das crianças é confundida
45

com o tempo desde a separação/divórcio dos pais e idade das crianças


no período de realização da pesquisa.
A adaptação das crianças à separação/divórcio dos pais não
apresenta influência significativa quanto à questão de gênero. Entre os
resultados apresentados nos estudos com esse enfoque, foi verificado
que meninos e meninas apresentam vulnerabilidade semelhante ao
desenvolvimento de problemas de comportamento, sintomas
depressivos, dificuldades cognitivas e nos relacionamentos sociais,
apesar de apenas as meninas demonstrarem competência excepcional
para lidar com as mudanças advindas da separação/divórcio
(Hetherington & Stanley-Hagan, 1999). Isso pode ser explicado pelo
fato de os meninos experimentarem um maior declínio na qualidade do
ambiente doméstico após a separação/divórcio do que as meninas, por
apresentarem relacionamentos mais conflituosos com suas mães de
custódia e porque os pais costumam passar mais tempo com seus filhos
do que com suas filhas durante o casamento, o que tende a se modificar
após a separação/divórcio visto que as mães costumam ficar com a
guarda dos filhos (Kelly & Emery, 2003). Para filhas e mães o divórcio
foi percebido como um fator que pode contribuir para o
desenvolvimento, no entanto, isso foi raramente percebido como uma
resposta a dissolução conjugal para filhos ou pais (Hetherington &
Stanley-Hagan, 1999).
As características da criança também podem influenciar o grau
de envolvimento dos genitores após o divórcio. Segundo Kelly e Emery
(2003), as crianças podem limitar o contato com pais não residentes por
razões adequadas ou psicologicamente inadequadas ao
desenvolvimento. Este afastamento pode ocorrer pelo fato de: a) a
criança ter presenciado situações de violência durante o casamento,
recusando-se ao contato com o genitor com comportamento abusivo,
após a separação/divórcio; b) por relutarem em visitar os pais doentes
mentais ou aqueles cujo desinteresse, narcisismo extremo ou egoísmo
interferem de forma significativa na relação pais-filhos; c) por serem
estimuladas a se afastarem de um dos genitores com quem já tiveram
uma relação adequada, ou melhor (Kelly & Emery, 2003).
As crianças que não contam com a concordância ou
cooperaração dos pais quanto aos seus cuidados são expostas a conflitos
de lealdades que geram altos níveis de estresse e risco para o
desenvolvimento. Ainda não se tem conhecimento suficiente sobre
como se desenvolvem as lealdades e antipatias nas relações pais-filhos;
desta forma, é muito importante o cuidado dos profissionais ao lidarem
com essas questões (Bruch, 2001).
46

2.4.2 Fatores Intrafamiliares

A resiliência da criança a situações adversas está associada a


uma relação de apoio com pelo menos um dos pais ou responsáveis
(Lamb & Kelly, 2009; Pedro-Carroll, 2001). Uma relação sólida e
saudável com um dos pais tem o potencial de proteger a criança de
efeitos de uma relação negativa com o outro genitor. Essas relações de
alta qualidade protegem a criança de estressores gerados a partir das
mudanças ocasionadas com a separação/divórcio; aumentam a
percepção de segurança das crianças; reduzem temores, e transmitem
uma mensagem de que a ajuda está disponível (Pedro-Carroll, 2001).
Sendo assim, para que os pais tenham um impacto positivo no
desenvolvimento de seus filhos, é importante que estejam diretamente
envolvidos em suas vidas, conhecendo professores e amigos, sabendo o
que ocorre no ambiente escolar, conhecendo quais atividades são
importantes ou significativas para as crianças, e estando cientes dos
eventos que ocorrem no dia a dia de seus filhos (Lamb & Kelly, 2009).
A questão da comunicação familiar é fator importante para os
ajustamentos necessários ao proceso de separação/divórcio. Em geral, os
pais têm dificuldades para comunicar os seus pensamentos a respeito da
guarda e condições de acesso aos filhos, além de pouco oferecerem para
as crianças informações importantes sobre mudanças imediatas e de
longo alcance em relação à estrutura familiar, às condições de vida, e à
relação pai-mãe-filho durante o processo de separação/divórcio (Kelly &
Emery, 2003). Isso pode ser reforçado pela ideia de que falar sobre a
separação/divórcio perturba as crianças, o que faz com que os pais não
toquem no assunto; os filhos, de forma complementar, mantêm seus
sentimentos escondidos, criando para os pais o entendimento de
ausência de dificuldades (Souza, 2000). Essa situação faz com que a
criança sinta-se sozinha ao lidar com os significados das mudanças e
desafios que esse evento gera para suas vidas, podendo causar uma
sensação de isolamento e confusão cognitiva e emocional (Kelly &
Emery, 2003).
As informações que os pais fornecem aos filhos sobre a decisão
de separação/divórcio são fundamentais para o processo de
reorganização da vida familiar. Isso ocorre, pois nem sempre as crianças
identificam a tensão conjugal, e quando percebem, podem não
estabelecer a relação causal conflito-separação. Sendo assim, é
importante que os pais expliquem aos filhos os motivos da
separação/divórcio e que esta não os envolve, apesar de trazer uma série
de modificações que irão interferir na rotina de vida de todos os
47

membros da família. Explicar que modificações serão estas e repetir


essas informações várias vezes em diferentes momentos de ajustamento
infantil, pode auxiliar na adaptação da criança à separação/divórcio
(Souza, 2000). Em estudo realizado por Dunn, Davies, O‟Connor &
Sturgess (2001, como citado em Kelly & Emery, 2003, p. 353) sobre a
comunicação entre pai, mãe e seus filhos foi verificado que 23% das
crianças afirmam que ninguém falou com eles sobre o divórcio, 45%
que tinha sido informado de forma abrupta e sem muitas explicações e,
apenas 5% disseram ter sido plenamente informados e encorajados a
fazer perguntas sobre o que estava acontecendo.
Em pesquisa realizada com adolescentes brasileiros que
vivenciaram a separação/divórcio dos pais durante a infância foi
verificado que todos relataram sentimentos de perda e comportamentos
reativos; no entanto, aqueles que foram informados sobre a
separação/divórcio por ambos os pais não indicaram sentimentos de
culpa e tentativas de restabelecer a união dos pais (Souza, 2000, p. 207).
Segundo os adolescentes da pesquisa, “embora os pais tenham
comunicado que iriam se separar, porque não estavam se dando bem ou
porque não se amavam mais, era difícil compreender o que isto
significava na prática e na rotina de vida”. A autora conclui que uma
informação clara, dada por ambos os pais, facilita a compreensão, por
parte da criança, dos acontecimentos relativos aos processos de
separação/divórcio, auxiliando-a a se diferenciar do conflito conjugal.
A decisão pela separação/divórcio costuma ser seguida pela
saída de casa de um dos genitores; na maioria dos casos, a saída do pai,
visto que a mãe costuma ficar com a responsabilidade pelos filhos. Essa
ausência abrupta e, muitas vezes, a ausência total de contato gera uma
vivência angustiante, dolorosa e estressante, principalmente para as
crianças que apresentam forte ligação com o genitor que realiza a
mudança, sendo que esta situação pode ser prolongada por semanas ou
meses (Kelly & Emery, 2003). Além disso, muitas crianças passam a ter
contato com o genitor não residente quatro dias por mês, o que pode
levar a uma visão reduzida da importância desse genitor na sua vida e
uma erosão de proximidade e do significado dessa relação (Kelly &
Emery, 2003). As mães não residentes, comparadas com pais não
residentes, são mais propensas a realizar visitas frequentes aos filhos,
assumindo funções parentais e com menos frequência deixam de manter
contato, o que pode estar relacionado com as diferentes expectativas do
papel das mães em nossa sociedade (Kelly & Emery, 2003).
A redução de contato entre a criança e o genitor não residente é
resultado de uma série de barreiras psicológicas, interparentais e
48

institucionais. Esse comportamento pode ser gerado por: limitações de


personalidade dos genitores; pouco envolvimento com a criança durante
o casamento; início de uma nova relação conjugal; uma depressão a
partir da distância dos filhos que dificulta ainda mais o contato;
ambiguidades no papel de pai/mãe de visita, incluindo a falta de
definições claras sobre a forma como pai/mãe de tempo parcial devem
se comportar (Kelly & Emery, 2003). Segundo os autores citados, as
crianças e adultos jovens descrevem a perda de contato com um dos
genitores como o principal aspecto negativo da separação/divórcio.
As crianças que não vivenciam as dificuldades de contato com o
genitor não residente, por ter permissão legal ou informal, precisam se
adaptar a logística e as emoções das transições por duas casas. Com
isso, precisam: se adaptar a novos horários e espaços físicos que muitas
vezes lhes são impostos sem um diálogo anterior, como por exemplo:
definir que roupas, brinquedos e materiais devem permanecer ou se
deslocar de uma casa para outra; aprender a conviver com as regras que
podem ser diferentes em cada uma das casas; lidar com as manifestações
de emoções de um genitor em relação ao outro; lidar com a ausência de
um dos pais e aos acordos de visitas que nem sempre atendem as
necessidades de desenvolvimento social e psicológico das crianças
(Kelly & Emery, 2003).
Fatores como coabitação, frequência das visitas, ocupação e
escolaridade dos pais, relação com o ex-cônjuge, tipo de
separação/divórcio e recasamento estão sendo associados ao
envolvimento parental após o divórcio/separação (Grzybowski &
Wagner, 2010a). Os relacionamentos emocionalmente seguros com os
pais - aqueles que incluem prestação de apoio emocional consistente e
envolvimento com genitor não residente - foram associados a uma maior
confiança e menor dependência da criança nas relações interpessoais e
menos probabilidade de depressão. Sendo assim, as relações de apego
saudável entre crianças e seus cuidadores são essenciais para a
resiliência das crianças face à adversidade (Pedro-Carroll, 2001).
Os conflitos e mudanças envolvidos no processo de dissolução
conjugal costumam aumentar os níveis de ansiedade, depressão e
estresse parental, o que consequentemente diminui a efetividade dos pais
na relação com os filhos e pode afetar negativamente seus ajustamentos
(Raposo et al., 2011). Dessa forma, quando as crianças estão lidando
com mudanças familiares estressantes, muitas vezes, os pais encontram-
se em grande dificuldade para oferecer a estabilidade emocional e o
apoio de que elas tanto necessitam (Pedro-Carroll, 2001). Esta situação
pode levar crianças e adolescentes a tornarem-se o único suporte
49

emocional para seus pais perturbados e necessitados (Kelly & Emery,


2003), assumindo um papel para o qual não possuem amadurecimento
emocional.
Existem evidências de que mães que são capazes de fornecer
nutrição de alta qualidade no relacionamento com os filhos criam uma
espécie de amortecedor ao impacto negativo da separação/divórcio sobre
a adaptação das crianças (Pedro-Carroll, 2001). Sendo assim, a
segurança emocional da criança é mediada pela relação entre o mal-estar
parental e as dificuldades de adaptação da criança (Raposo et al., 2011).
Problemas de saúde mental dos pais que parecem
particularmente relevantes para as respostas das crianças em relação à
separação/divórcio estão relacionados a sintomas de depressão,
comportamento antisocial, alcoolismo, abuso de drogas, queixas
psicossomáticas, bem como as principais doenças mentais, como
esquizofrenia, transtorno bipolar e transtornos de personalidade
(Symons, 2010; Kelly & Emery, 2003; Hetherington et al., 1998). O
quadro de sintomas apresentado por ambos ou um dos pais tem impacto
no exercício da parentalidade, na capacidade de apresentar uma
comunicação eficaz, podendo gerar comportamentos negligentes ou
hostis, menor consistência educativa e disponibilidade emocional,
menores cuidados com a saúde da criança, e mais comportamentos
parentais de risco (Raposo et al., 2011; Symons, 2010).
As crianças de pais que apresentam sintomatologia
psicopatológica têm maior probabilidade de desenvolver perturbações
de depressão, ansiedade e comportamentos oposicionais, podendo
demonstrar menor autoestima, dificuldades de relacionamento
interpessoal, pior comportamento social e rendimento acadêmico
(Raposo et al., 2011). Symons (2010) ressalta a importância pela busca
do bem-estar e da construção de possibilidades a partir dos pontos fortes
dos pais, sendo o ajuste pessoal e impacto positivo sobre a parentalidade
e coeducação mais importantes do que um modelo de déficit baseado na
identificação de deficiências nas famílias do divórcio. Dessa forma, a
avaliação da personalidade dos pais e de seu sofrimento emocional é útil
quando se trata da busca por arranjos de coeducação para melhor
atender as necessidades das crianças, criando estratégias de
enfrentamento dos conflitos que possam comprometer seu
desenvolvimento (Symons, 2010).
O conflito conjugal faz parte do processo de terminar um
relacionamento e de desligar-se emocionalmente do parceiro. No
entanto, os conflitos são estabelecidos e vivenciados de forma diferente
por cada casal. Sendo que, o conflito interparental manifestado pela
50

raiva, hostilidade, desconfiança, linguagem agressiva, agressão física,


dificuldades de cooperação nos cuidados e comunicação com os filhos,
cria um ambiente familiar estressante (Raposo et al., 2011). Relações
parental conflituosas são consideradas o fator de risco com maior
impacto no ajustamento da criança à separação/divórcio dos pais, pois
suscita reações de estresse, tristeza e insegurança na criança (Raposo et
al., 2011; Kelly & Emery, 2003; Amato, 2000). Esse conflito costuma
estar relacionado ao emaranhamento dos problemas conjugais na relação
parental. Em pesquisa realizada por Grzybowski e Wagner (2010a), os
autores verificaram que a variação na qualidade da relação conjugal
desfeita e tipo de separação/divórcio associaram-se ao envolvimento
didático, disciplinar e global de pais e mães com os filhos.
O conflito interparental gera efeitos diretos e indiretos no
funcionamento psicológico da criança, visto que interfere na qualidade
do comportamento parental (Raposo et al., 2011; Pedro-Carroll, 2001;
Amato, 2000). Os pais que vivenciam esse conflito apresentam
disciplina permissiva e inconsistente, volatilidade emocional, elevados
índices de hostilidade e impulsividade educativa, e menor
responsabilidade e disponibilidade emocional (Raposo et al., 2011).
Nessas situações, as mães, em particular, podem ser menos carinhosas,
apresentando comportamentos de rejeição e sendo mais severas; já os
pais costumam ficar mais distantes e se envolvem em interações mais
intrusivas com seus filhos (Kelly & Emery, 2003). Apesar da associação
entre conflito interparental intenso e baixa adaptação da criança ser
repetidamente demonstrada em pesquisas, os resultados têm sido
variados, o que pode refletir o uso de diferentes tipos de medidas de
conflito e de ajuste, a dificuldade de diferenciar os tipos de conflito após
o divórcio, estilos parentais de resolução de conflitos e a extensão da
exposição direta da criança à raiva e ao conflito dos pais (Lamb &
Kelly, 2009; Kelly & Emery, 2003).
Entende-se que o conflito pré-divórcio é um sinal da quantidade
de conflito pós-divórcio. Muitas crianças experimentam conflitos
intensos durante o casamento de seus pais, sendo que alguns casais
reduzem o conflito quando separados, enquanto outros continuam
entrincheirados nos padrões de conflito, podendo inclusive que estes
sejam inflamados pelo impacto altamente contraditório dos processos
legais. A exposição ao conflito conjugal e violência ocorre de diferentes
formas entre as famílias separadas, com as crianças podendo ser
oneradas pela intensificação do conflito ou beneficiadas por
experimentarem conflitos diários significativamente menores (Kelly &
Emery, 2003).
51

As crianças de famílias que permanecem envolvidas durante


longos períodos de tempo em disputas judiciais sobre a regulação do
poder parental demonstram pior ajustamento à separação/divórcio
(Raposo et al., 2011). As crianças e adolescentes que são expostos ao
conflito conjugal são mais deprimidos e ansiosos quando comparados
àqueles que foram poupados nas trocas de raiva entre seus pais. Dessa
forma, as crianças que não ficam no meio do conflito entre os pais
apresentam resultados em seu desenvolvimento semelhantes aos de
crianças cujos pais tinham baixos níveis de conflitos (Kelly & Emery,
2003).
Quanto maior a percepção da criança acerca do conflito
interparental maior o risco para problemas em seu ajustamento (Raposo
et al., 2011). Pedro-Carroll (2001) ressalta que é interessante o fato de
que crianças que são informadas da resolução dos conflitos tendem a ter
o impacto negativo sobre elas reduzido. De acordo com Kelly e Emery
(2003), em geral, o alto conflito pós-divórcio é uma interação
compartilhada entre dois pais com raiva e culpados; no entanto, não é
raro encontrar um genitor enfurecido ou desafiador e um segundo
genitor que já não abriga a raiva e que busca alternativas para evitar ou
silenciar conflitos que envolvem a criança. Porém, quando o genitor que
busca atenuar o conflito é aquele não residente com a criança, suas
oportunidades de influência sobre a criança são menores e tendem a
diminuir com o tempo (Kelly & Emery, 2003).
Como um processo de separação/divórcio harmonioso entre os
pais, visando o interesse superior da criança, reduz as dificuldades de
ajustamento dos filhos, compreende-se que os fatores protetores para
criança e redutores do risco estejam relacionados com dimensões do
ajustamento parental. Assim, a qualidade da parentalidade é um dos
melhores preditores do bem estar social e emocional da criança. (Raposo
et al., 2011, Amato, 2000). Segundo Hack e Ramires (2010), o exercício
da coparentalidade pós-divórcio é mediado por questões relativas à
conjugalidade e vínculo emocional entre pais e filhos. Com isso, o
vínculo que uniu o casal, os sentimentos que nutrem ou nutriram um
pelo outro, a forma como se deu a separação/divórcio e a superação ou
não das problemáticas emocionais conjugais, refletem na forma como se
estabelece a coparentalidade pós-divórcio (Hack & Ramires, 2010).
De acordo com Grzybowski e Wagner (2010b), os acordos
financeiros, a regulamentação de visitas e as práticas educativas são
influenciadas pelas seguintes variáveis: coabitação, conjugalidade,
vínculos pais-filhos, gênero e poder financeiro dos genitores e
personalidade e gênero da criança. Isso demonstra a complexidade
52

dessas questões, que devem ser compreendidas como interdependentes e


variáreis de acordo com o contexto em que se inserem (Grzybowski &
Wagner, 2010b). Desse modo, um afastamento parental ou, um
exercício coparental problemático pode estar relacionado à inexistência
de um vínculo conjugal importante durante o casamento, ao fato do
nascimento dos filhos não ter sido fruto de uma escolha mútua, ao fato
da separação/divórcio ser conflituosa ou não consensual, à questão de
um dos ex-cônjuges apresentar um forte vínculo afetivo/sexual pelo
outro, entre outras questões (Hack & Ramires, 2010).
As questões citadas influenciam na prática da coparentalidade,
que, segundo Grzybowski e Wagner (2010b, p. 85) podem ser: a)
Solidária e compartilhada – “com apoio mútuo, planejamento do futuro
dos filhos, cooperação, respeito, valorização, divisão de tarefas, foco no
bem estar dos filhos”; b) Destrutiva e conflitante – “sem cooperação,
conflitada, triangulada com os filhos – boicote, exclusão -, permeada por
críticas, desrespeito, brigas, e sem divisão de tarefas e
responsabilidades”; c) Inexistente ou desengajada – “cada um educa ao
seu estilo, com pouco ou nenhum contato”. A prática da coparentalidade
solidária e compartilhada é considerada um fator de proteção que
promove o bem estar da criança, em dimensões como o rendimento
escolar e o estado de saúde. Nesses casos, os pais definem como
prioridade o bem estar dos filhos, buscando estabelecer uma relação
construtiva, com novas fronteiras e novos papéis parentais flexíveis e
maleáveis entre si. No entanto, o risco de relação coparental „destrutiva
e conflitante‟ ou „inexistente ou desengajada‟ é elevado no período
posterior à separação conjugal (Raposo et al., 2011).
A separação/divórcio cria a possibilidade de as crianças
vivenciarem uma série de mudanças na estrutura familiar e
relacionamentos afetivos quando um ou ambos os pais introduzem
novos parceiros sociais e sexuais, coabitam, casam de novo, e/ou se
redivorciam novamente. O recasamento dos pais pode ser estressante e
problemático para as crianças, principalmente quando ocorre logo após
o divórcio (Kelly & Emery, 2003). Pesquisas indicam que a presença de
um padrasto, especialmente com os meninos pré-adolescentes, pode
atenuar problemas ou dificuldades dos enteados, enquanto que a
presença de uma madrasta ou padrasto pode estar associada com níveis
mais altos de problemas de comportamento para as meninas
(Hetherington et al., 1998). De acordo com Amato (2000), alcançar
generalizações quanto ao papel do recasamento dos pais no
desenvolvimento de crianças é complicado, pois os resultados variam de
acordo com as idades das crianças, sexo das crianças, o tempo desde o
53

divórcio, entre outros fatores. No entanto, novos divórcios dos pais


parecem mais estressantes para os filhos que o primeiro divórcio.
O impacto que a separação/divórcio tem sobre a qualidade do
relacionamento entre irmãos (Shumaker et al.., 2011; Abbey & Dallos,
2004) e a influência dessa relação para a adaptação a dissolução
conjugal tem sido pouco pesquisado. De acordo com Abbey e Dallos
(2004), a separação/divórcio parece intensificar a natureza da relação
entre irmãos, ao invés de alterá-la. Ou seja, os irmãos que mantinham
uma relação próxima antes da separação/divórcio tenderão a se
aproximar ainda mais, enquanto que os irmãos que mantinham uma
relação negativa tenderão a aumentar o nível de tensão nos contatos. Em
pesquisa realizada com adolescentes brasileiros que vivenciaram a
separação/divórcio dos pais na infância os participantes relataram não
terem conversado sobre o processo de separação/divórcio dos pais nem
mesmo com os irmãos (Souza, 2000).
A forma como os pais lidam com os filhos será determinante
para a relação entre eles, sendo que abordagens e tratamentos
preferenciais dos pais em relação aos filhos e buscas pelo
estabelecimento de lealdades poderão reforçar rivalidades e ciúmes entre
irmãos (Shumaker et al., 2011). Segundo esses autores, os fatores
implicados para o relacionamento de irmãos após a separação/divórcio
dos pais são: a) a história prévia do relacionamento entre irmãos, b) a
idade, c) o sexo dos irmãos, d) a interpretação de cada criança sobre o
fracasso da relação conjugal, e) as condições de vida e os papéis
atribuídos aos filhos após a separação/divórcio. A separação de irmãos
após a dissolução conjugal impede-os de experimentar o alto grau de
acesso físico e emocional para eles, o que vem sendo classificado como
um pré-requisito para a formação de vínculos entre irmãos próximos. No
entanto, é importante considerar as razões que levam a família a optar
por esse caminho, podendo estar relacionadas a conflitos intensos e
preferências fortemente diferentes entre os irmãos, além de capacidades
diferentes de pai e mãe que são adequadas às necessidades diferentes
das crianças (Shumaker et al., 2011).

2.4.3 Fatores Extrafamiliares

Recursos que vão além da família imediata da criança podem


auxiliar na adaptação às modificações geradas pela dissolução conjugal
(Kelly & Emery, 2003; Pedro-Carroll, 2001; Amato, 2000), como o
papel dos avós; relações estreitas com outros familiares e amigos que
são como família; apoio, compreensão e orientação de professores;
54

acompanhamento psicoterapêutico; rede social de amigos. Esses apoios,


muitas vezes, são dificultados pela necessidade de mudança de moradia
após a separação/divórcio o que intensifica as modificações vividas pela
criança, que podem ser afetadas por uma moradia improvisada, muito
diferente da que residiam anteriormente (Brito et al., 2010); nova
vizinhança; distância dos amigos; nova escola, professora e colegas;
entre outras perdas, como a distância de um amado animal de estimação
que não é permitido na nova residência (Pedro-Carroll, 2001).
A escola pode ter um papel fundamental para adaptação da
criança, fortalecendo o apoio e inclusão da criança no grupo de colegas,
incentivando a participação dos pais a terem uma inserção efetiva na
vida escolar dos filhos (Pedro-Carroll, 2001), compreendendo e
manejando as dificuldades que a criança possa apresentar. Acesso a
intervenções terapêuticas também parece auxiliar a criança nesse
processo, sendo essa voltada a reduzir o estresse das crianças através do
compartilhar a experiência; esclarecer equívocos e aumentar a
compreensão das crianças referente às mudanças familiares; reforçar as
competências das crianças e sentimentos de autoeficácia através da
formação de habilidades interpessoais e estratégias eficazes de
enfrentamento (Pedro-Carroll, 1997); além de fortalecer e orientar a
família na construção de uma nova organização e dinâmica de
funcionamento.
As dificuldades econômicas que costumam surgir com a
separação/divórcio também apresentam impacto no bem estar das
crianças (Raposo et al., 2011; Kelly & Emery, 2003; Amato, 2000).
Essas dificuldades estão relacionadas ao fato da perda ou diminuição da
disponibilidade econômica do genitor não residente, o que aumenta a
probabilidade de pobreza e suas concomitantes adversidades ambientais
e vivenciais (Hetherington et al., 1998). O impacto da diminuição dos
recursos econômicos da família pode significar para a criança menor
qualidade de vida, devido à possível necessidade de mudança de casa e
de escola, além da diminuição dos recursos financeiros disponíveis para
a saúde, educação, atividades extracurriculares e acesso a atividades de
entretenimento (Raposo et al., 2011). Os genitores que permanecem
com a guarda dos filhos, geralmente as mães, precisam lidar com as
consequências do declínio econômico notável após a dissolução
conjugal, o que pode influenciar no seu estado de humor, funcionamento
e capacidade para providenciar cuidados apropriados à criança,
dificultando o exercício da parentalidade (Raposo et al., 2011;
Hetherington et al., 1998).
55

A família extensa costuma oferecer um importante apoio


emocional para pais e crianças, podendo auxiliar na dissolução do
conflito conjugal (Das, 2010), mas também, fomentar disputas e
rupturas nos vínculos familiares. Em pesquisa realizada no contexto
brasileiro com o objetivo de averiguar os tipos de apoio oferecidos pelos
avós aos netos antes e após situações de separação/divórcio dos pais, foi
possível verificar que o apoio emocional teve um aumento significativo
através das ações de dar conselhos, transmitir informações sobre a
família e telefonar, enquanto que o apoio instrumental apresentou
aumento, mas não significativo, em ajudar a cuidar dos netos quando
estes estão doentes, preparar suas refeições, levá-los ao médico e ajudar
nas tarefas escolares (Araújo & Dias, 2002). Essas autoras ressaltam
ainda que apesar de os avós também vivenciarem o impacto da
separação/divórcio é mais provável que eles estejam numa fase estável
nas suas vidas, sendo possível prestar assistência, sendo essa relacionada
à distância geográfica, custódia parental, situação empregatícia, idade,
sexo e estado civil dos avós.
A comunidade pode ser fonte de apoio e conforto para os
membros da família separada/divorciada. Vizinhos, colegas de trabalho
e pessoas próximas podem auxiliar prestando cuidados alternativos às
crianças, fornecendo apoio e aconselhamento durante a fase de transição
do divórcio. De acordo com Das (2010), esse apoio pode ter custos
associados, como excessiva interferência na vida familiar privada, com
pressão para compartilhar assuntos particulares. Além disso, o próprio
sistema judicial pode ter um enorme impacto sobre os pais em processo
de separação/divórcio ao abordar as questões em litígio de forma a
intensificar ou reduzir o conflito entre os ex-cônjuges (Pedro-Carroll,
2001).
3 MÉTODO

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Esta pesquisa é de natureza descritiva, com fonte documental e


abordagem qualitativa. É descritiva por permitir conhecer o processo de
adaptação de crianças à separação/divórcio dos pais em litígio judicial.
Rampazzo (2005) afirma que a pesquisa descritiva busca investigar, com
a precisão possível, a natureza e características de um determinado
fenômeno, a frequência com que esse ocorre e sua relação e conexão
com outros fenômenos. Possibilita a ampliação da capacidade de
observação do pesquisador e cria as bases para a identificação e
categorização das variáveis que definem o objeto da investigação
(Lakatos, 1990).
Por tratar-se de uma pesquisa documental, foi utilizada a
observação indireta que, segundo Luna (2007, p. 52) consiste em fazer
“uso de indícios e pistas como informações das quais se deduzem outras
informações”. Essa observação indireta teve como fonte documentos
que ainda não receberam tratamento analítico e científico. As pesquisas
com fonte documental são compostas de técnicas para a apreensão,
compreensão e análise de documentos dos mais variados tipos (Sá-Silva,
Almeida & Guindani, 2009). Cellard (2008) sugere que na avaliação
preliminar dos documentos devem ser considerados: a compreensão do
contexto no qual o documento foi produzido; o autor ou autores dos
documentos em questão; a autenticidade e a confiabilidade do texto,
para assegurar a qualidade das informações que serão transmitidas; a
natureza do texto e seu suporte; a delimitação de forma adequada do
sentido das palavras e dos conceitos, e a lógica interna do texto; análise
das informações derivadas dos documentos a partir da teoria.
As fontes de dados para esta pesquisa são laudos psicológicos
elaborados a partir de avaliações psicológicas solicitadas pelo juiz de
direito responsável pelo processo, como forma de esclarecer questões
pertinentes à decisão judicial. O laudo psicológico é um documento no
qual o conteúdo deve se adequar aos aspectos básicos do caso em
questão, tendo como estrutura: introdução, procedimentos utilizados,
discussão, conclusões e respostas aos questivos (questões elaboradas
pelo juiz e advogados), devendo ser escrito com objetividade, clareza e
detalhamento do nível de confiança das predições e descrições
(Rovinski, 2000; CFP, 2003).
58

A escolha do uso de laudos psicológicos como fonte de dados


para esta pesquisa está relacionada à possibilidade de aproveitar um
documento com informações sobre as famílias que vivem a situação de
litígio judicial, podendo gerar conhecimento científico através de dados
já coletados, valorizando assim, o investimento de tempo e de recursos
financeiros e emocionais das famílias, profissionais e poder judiciário.
Também foram consideradas as limitações existentes para se abordar
famílias que estão vivendo uma experiência de litígio judicial,
dificultanto o nível de concordância entre seus membros; além do fato
dessas famílias, muitas vezes, serem expostas a uma série de
procedimentos solicitados pelo poder judiciário e, também, procurados
pelos próprios membros da família, como forma de provar a
competência ou incompetência do ex-cônguje para o exercício da
parentalidade. Dessa forma, os procedimentos da pesquisa poderiam se
somar a esta realidade, intensificando o sofrimento por ela provocada.
Nesta pesquisa, foi utilizada uma abordagem qualitativa que é
fundamentalmente interpretativa, o que inclui descrição e análise de
dados para entender o fenômeno de interesse, além de interpretação e
alcance de conclusões sobre seu significado (Creswell, 2007). Dessa
forma, os procedimentos empregados visam conhecer, descrever e
analisar os fatores de risco e proteção individuais, familiares e
extrafamiliares relacionados ao processo de adaptação de crianças à
separação/divórcio dos pais em litígio judicial, bem como a
configuração dessas famílias e as reações que essas crianças manifestam
como consequência desse conflito.

3.2 PROCEDIMENTOS

3.2.1 Coleta de dados

O estudo teve início com o estabelecimento de contatos e


pedidos de autorização aos juízes responsáveis pelas Varas de Família
do Poder Judiciário de Santa Catarina para a realização da pesquisa em
documentos das Varas de Família selecionadas (Tabela 1), no sentido de
favorecer o acesso aos laudos psicológicos dos processos de disputa de
guarda e regulamentação de visita. Esses contatos foram realizados
através de e-mail, telefonemas e visitas a algumas Varas de Família,
sendo intermediados por uma aluna do Programa de Pós Graduação em
59

Psicologia da UFSC, Juíza de Direito do Poder Judiciário do Estado de


Santa Catarina.
No processo de definição das comarcas (divisão territorial que
indica os limites territoriais da competência de um determinado juiz ou
Juízo de primeira instância) a serem contactadas pela pesquisadora,
foram utilizados os seguintes critérios: a) comarcas que possuam Vara
de Família no estado de Santa Catarina; b) comarcas que possuam
psicólogos contratados pelo poder judiciário que realizem trabalho de
perícia em processos de disputa de guarda e regulamentação de visita.
Dessa forma, foi realizado contato com os juízes responsáveis por
quinze comarcas, sendo que a única que possui Vara de Família no
estado, mas não foi incluída na pesquisa é a de São José, pois não
possuía psicólogo contratado no ano de 2011.

Tabela 1 – Comarcas e respectivas varas contactadas.


Comarca Vara
Blumenau 1a Vara da Família e 2a Vara da Família
Brusque Vara da Família, Órfãos, Sucessões e Infância e
Juventude
Capital Fórum Desembargador Eduardo Luz - 1a Vara
da Família e Órfãos e 2a Vara da Família e
Órfãos
Capital Fórum Distrital do Continente Vara da Família
Chapecó Vara da Família, Infância e Juventude
Concórdia Vara da Família, Infância e Juventude
Criciúma Vara da Família
Curitibanos Vara da Família, Órfãos, Sucessões e Infância e
Juventude
Itajaí Vara da Família
Balneário Vara da Família, Órfãos, Infância e Juventude
Camboriú
Jaraguá do Sul Vara da Família, Infância e Juventude
Joinville 1a Vara da Família, 2a Vara da Família e 3a Vara
da Família
Lages Vara da Família
Palhoça Vara da Família, Órfãos, Sucessões e Infância e
Juventude
Rio do Sul Vara da Família, Órfãos, Sucessões e Infância e
Juventude
Tubarão Vara da Família Órfãos Infância e Juventude
Fonte: dados organizados pela autora.
60

Os critérios utilizados para seleção das comarcas visaram a


permitir: a) acesso às maiores regiões do estado, visto que a criação de
Varas segue tendências de número de processos da região; b) acesso a
materiais elaborados por profissionais competentes para realização de
avaliações psicológicas com famílias em litígio judicial, considerando
que os psicólogos contratados pelo poder judiciário passaram por
processo seletivo através de concurso público estadual realizado no ano
de 2008; c) acesso a documentos produzidos por diferentes
profissionais, o que evita um viés a partir de características particulares
ao profissional avaliador.
A partir da disponibilidade e autorização formal dos juízes
responsáveis e da entrega do termos de responsabilidade do pesquisador
e documento comprovando a autorização da pesquisa pelo Comitê de
Ética para Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Federal de
Santa Catarina nas Varas de Família, foram coletados os documentos
para pesquisa. Os laudos psicológicos foram entregues impressos ou
digitalizados, de acordo com a autorização concedida por cada Juiz.
Com o propósito de cumprir com os objetivos dessa pesquisa os
critérios para inclusão dos laudos psicológicos foram: a) serem
provenientes de processos judiciais das comarcas selecionadas; b)
resultarem de ações para definição ou modificação da guarda e/ou
regulamentação de visita envolvendo crianças (0 meses a 11 anos e 11
meses); c) terem sido datados no ano de 2011; d) especificarem nos
procedimentos utilizados contato direto com as crianças e genitores.
Conforme os documentos foram sendo disponibilizados, foi
feita uma primeira análise de acordo com os critérios de inclusão para
verificar aqueles que seriam utilizados na pesquisa. Dessa forma, 12
laudos psicológicos coletados foram descartados pelo não cumprimento
dos critérios estabelecidos para esta pesquisa.
A amostra de documentos foi então composta por 76 laudos
psicológicos, datados no ano de 2011 (finalizados e anexados ao
processo judicial no ano de 2011), provenientes de processos judiciais
de nove Varas de Família que fazem parte de sete comarcas do estado,
redigidos por sete psicólogos peritos contratados pela Poder Judiciário
do Estado Santa Catarina, de acordo com a tabela 2.
61

Tabela 2 – Varas de Família participantes da pesquisa e número de


laudos utilizados.
Laudos
Varas de Família
utilizados
Blumenau - 1a Vara da Família 14
Blumenau - 2a Vara da Família 8
Capital – Fórum Desembargador Eduardo Luz - 1a 13
Vara da Família
Capital – Fórum Desembargador Eduardo Luz - 2a 9
Vara da Família
Criciúma - Vara da Família 9
a
Joinville - 2 Vara da Família 5
Lages - Vara da Família 10
Palhoça - Vara da Família, Órfãos, Sucessões e 4
Infância e Juventude
Tubarão - Vara da Família Órfãos Infância e 4
Juventude
Fonte: dados organizados pela autora.

3.2.2 Organização, análise e tratamento de dados

Para garantir o sigilo sobre o conteúdo dos laudos psicológicos,


adotou-se a alteração do nome da pessoa pela posição ocupada na
família, ou seja, a identificação da pessoa foi substituída por pai, mãe,
filho(a)1, filho(a)2, filho(a)3, madrasta, padrasto, avó materna, entre
outros. Para análise, os dados obtidos nos laudos psicológicos foram
organizados em estruturas categóricas. Embora nessa análise os dados
fossem de natureza qualitativa, estes foram tratados quanti-
qualitativamente, uma vez que as respostas foram quantificadas.
As 76 famílias, protagonistas das avaliações descritas nos
laudos, tinham filhos crianças, conforme critérios de inclusão, sendo
que, entre essas, seis famílias possuíam, também, filhos adolescentes.
Desta forma, para alcançar os resultados referentes ao primeiro objetivo
específico desta pesquisa, foram consideradas todas as informações
sobre as famílias, independente se envolviam questões com os filhos
crianças ou adolescentes. Enquanto que, para atender aos segundo e
terceiro objetivos específicos foram utilizadas somente as informações
referentes às crianças.
Como forma de alcançar o objetivo específico: a) Descrever a
configuração das famílias de crianças que vivem o conflito interparental
com a separação/divórcio dos pais, foi utilizado um formulário
62

(Apêndice A) elaborado a partir dos dados científicos da revisão de


literatura, para melhor aproveitamento das informações contidas nos
laudos psicológicos. O instrumento é composto majoritariamente por
questões estruturadas, abertas e com múltiplas alternativas de resposta,
organizadas em torno dos seguintes eixos: informações referentes ao
processo judicial (cinco itens); identificação pessoal - mãe (seis itens),
identificação pessoal - pai (seis itens), estrutura da família a que se
refere o processo judicial (seis itens), relação entre os membros da
família a que se refere o processo judicial (seis itens). O formulário foi
preenchido pela pesquisadora com as informações referentes a cada
laudo psicológico analisado.
Para a caracterização das relações entre os membros das
famílias que vivenciam litigio judicial, foram utilizados os padrões
transacionais propostos por Wendt e Crepaldi (2008): a)
Relacionamento harmônico - experiência emocional de união entre os
membros familiares, nutrindo sentimentos positivos um para com o
outro e possuindo interesses, atitudes ou valores recíprocos; b)
Relacionamento muito estreito - há fusão e dependência emocional entre
os membros familiares, ou seja, caracteriza relacionamentos nos quais
não há diferenciação entre os membros; c) Aliança - interações
positivas, baseadas nas lealdades invisíveis que interferem, também, no
processo de diferenciação, porém em menor grau que o
superenvolvimento; d) Relacionamento conflituoso - há constantes
atritos que geram muita ansiedade e desavenças no meio familiar
traduzidas por dificuldades de comunicação, podendo evoluir para
padrões capazes de gerar violência física; e) Relacionamento vulnerável
- não há conflito explícito, mas apresentam risco de haver conflitos em
condições adversas; f) Relacionamento distante - caracteriza-se por
pouco contato, principalmente de ordem emocional; g) Rompimento - a
ligação emocional entre os membros é mantida, apesar de não haver
contato entre os mesmos; h) Triangulação - configuração emocional de
três pessoas, na qual a pessoa "triangulada" cumpre uma função
periférica de regulação da tensão existente entre outras duas e, na
ausência de conflito explícito, encontra-se em um estado de insegurança
e mesmo de sofrimento emocional.
Para cumprir com o objetivo específico: b) Verificar as reações
que as crianças manifestam como consequência do conflito
interparental, foram coletados nos documentos informações referentes às
seguintes categorias: a) percepções referidas pelas crianças durante o
processo de perícia psicológica que permitiram identificar as
construções cognitivas realizadas por elas frente às experiências
63

relativas ao conflito entre os genitores; b) sentimentos apresentados


pelas crianças ou referidos por essas e/ou responsáveis durante a perícia
psicológica que permitiram identificar as emoções presentes nas
experiências relativas ao conflito entre os genitores; c) ações
apresentadas pelas crianças ou referidas por essas e/ou responsáveis
durante a perícia psicológica que permitiram identificar as reações
fisiológicas, emocionais e comportamentais das crianças no contexto de
litígio dos genitores. As categorias foram criadas a partir da proposta de
três dimensões - pensamentos, sentimentos e ações - para a interpretação
do fenômeno da violência familiar contra crianças (Maciel, 2011).
Com o propósito de atingir o objetivo específico: c) identificar
fatores de risco e de proteção individuais, familiares e extrafamiliares
nos laudos psicológicos em Varas de Família de Santa Catarina, foram
construídas três categorias apresentadas na tabela 3.

Tabela 3 - Síntese da estruturação de categorias e variáveis da análise de


fatores de risco e proteção
Categorias
Fatores de Risco Fatores de Proteção
 Avaliação distorcida  Avaliação realista dos
dos motivadores da motivadores da
Fatores Individuais (Criança)

separação/divórcio; separação/divórcio;
 Temperamento difícil  Temperamento fácil
(caracterizado por alto (caracterizado por
Categorias

nível de humor humor positivo e senso


negativo, medo, de humor);
timidez e raiva);
 Dificuldades sociais;  Competência social;
 Dificuldades  Competência cognitiva;
cognitivas;
 Baixa autoestima;  Boa autoestima;
 Dependência;  Autonomia;
 Dificuldade  Boa capacidade
comunicativa; comunicativa;
 Conflito interparental;  Proteção em relação ao
Categorias

Familiares

conflito interparental;
Fatores

 Comunicação  Comunicação funcional;


disfuncional;
64

 Psicopatologia  Bem estar psicológico


parental; dos genitores;
 Descontrole  Controle emocional dos
emocional dos genitores;
genitores;
 Ausência de relação  Relação com o genitor
com o genitor não não residente;
residente;
 Uso de álcool e outras  Relação com os irmãos;
drogas;
 Conflitos no exercício  Relação sólida e
da parentalidade; saudável com pelo
menos um dos genitores;
 Vivência de uma nova  Exercício da
separação/divórcio de parentalidade de forma
um dos genitores; conjunta;
 Pais com histórico de  Diminuição do conflito
violência em sua interparental após o
família de origem; separação/divórcio;
 Recasamento dos  Recasamento dos
genitores; genitores;
 Mudança de moradia,  Relacionamento positivo
escola ou de suporte com modelos
cidade/Estado/País; adultos;
Fatores Extrafamiliares

 Manutenção do  Rede de apoio: família,


conflito no sistema escola e comunidade;
judiciário;
 Apoio ou incentivo de  Apoio, compreensão e
familiares e amigos a orientação de
manutenção do professores;
conflito parental;
 Estresse decorrente  Acompanhamento
das dificuldades psicoterapêutico;
financeiras.
 Estabilidade financeira.
Fonte: Revisão de Literatura

São elas: a) fatores individuais (crianças), b) fatores


intrafamiliares, c) fatores extrafamiliares, definidos a partir da revisão
65

da literatura especializada. Os documentos foram analisados, sendo


extraído o máximo de conteúdos possível com base nas categorias
definidas. Segundo Sá-Silva et al. (2009), o processo de definição de
categorias para análise de um documento envolve, em um primeiro
momento, a construção com suporte no conhecimento científico
investigado. O que pode ir sendo modificado ao longo do estudo, através
de um processo dinâmico de confronto constante entre empiria e teoria,
o que trará novos olhares sobre o objeto de pesquisa.

3.3 ASPECTOS ÉTICOS

Após aprovação do projeto de pesquisa pelo Programa de Pós-


Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina e
autorização formal de quatorze juízes, responsáveis por Varas de
Família do Estado de Santa Catarina, o projeto de pesquisa foi
submetido ao Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da
mesma universidade, sendo aprovado com Número de Parecer 97.206,
na data de 13/09/2012. A partir de avaliação do Comitê de ética foi
autorizada a dispensa do uso do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, tendo em vista que se trata de uma pesquisa documental, na
qual, não foi realizado nenhum tipo de contato com as pessoas citadas
nos laudos psicológicos utilizados, não sendo necessário que os
pesquisadores tivessem conhecimento sobre a identidade dessas pessoas.
Além disso, para resguardar o sigilo, a privacidade e a
confidencialidade de tais documentos e dos seus sujeitos, foi redigido
um termo de responsabilidade do pesquisador (Apêndice B) que foi
entregue às instituições que autorizaram a realização da pesquisa
comprometendo-se a resguardar sigilo aos dados e informações
consultadas, não apresentando qualquer tipo de identificação das
pessoas envolvidas nos processos judiciais e utilizar o material apenas
para fins de pesquisa acadêmica.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando os objetivos do presente estudo, os resultados e


discussão serão apresentados de forma conjunta, distribuídos em quatro
partes: primeiro, serão demonstrados os dados sociodemográficos; na
segunda parte, serão apresentados os padrões de relacionamento
relativos às famílias pesquisadas; na terceira parte, serão apresentados os
resultados elencados a partir da análise das reações que as crianças
manifestam como consequência do conflito interparental; na quarta
parte, serão expostos os resultados sobre os fatores de risco e proteção
presentes nas famílias de acordo com categorias criadas a partir da
revisão de literatura.
Para exemplificar os resultados alcançados com este estudo,
serão apresentados trechos dos laudos, transcritos literalmente. A fim de
garantir a não identificação dos laudos e de suas origens, os mesmos
foram organizados de forma aleatória, sendo denominados pelas siglas
L1, L2, L3... e assim, sucessivamente, até um total de 76 laudos. Como
forma de evitar dubiedade na compreensão dos resultados, o termo pais
será utilizado apenas quando se fizer referência ao grupo de genitores do
sexo masculino, sendo utilizado o termo genitores, para referenciar pai e
mãe de forma conjunta.

4.1 CONFIGURAÇÃO DAS FAMÍLIAS

Os 76 laudos psicológicos que formaram a amostra de


documentos analisados nesta pesquisa continham informações referentes
a 76 famílias, nas quais, pelo menos um dos genitores residia na região
das cidades de Blumenau, Criciúma, Florianópolis, Joinville, Lages,
Palhoça e Tubarão, no estado de Santa Catarina. Todas as famílias
avaliadas nos laudos encontravam-se, no ano de 2011, em litígio
judicial, pelo fato de os genitores não estarem em acordo com relação à
guarda e/ou regulamentação de visitas aos filhos, menores de 12 anos,
após a separação/divórcio do casal. Os laudos psicológicos são
arquivados junto ao processo judicial de cada ex-casal em litígio, o que
pode justificar a falta de algumas informações pesquisadas em vários
documentos, haja vista que estas informações costumam ser citadas em
outros documentos do processo judicial.
68

Referente ao número de filhos em comum, do casal em litígio


judicial, para 61 famílias o casal possuía um filho em comum, para 13
famílias o casal possuía dois filhos em comum e para duas famílias o
casal possuía três filhos em comum. O baixo número de filhos entre o
casal está de acordo com dados do IBGE (2010) que informam que as
mulheres com rendimento domiciliar per capita de mais de um salário
mínimo apresentam níveis de fecundidade muito baixos (entre 1,30 e
0,97 a média de filhos por mulher), apresentando decréscimos da
fecundidade com o aumento da renda.
As famílias do estudo possuem um total de 93 crianças e
adolescentes, sendo 46 meninas e 47 meninos, com idade média
feminina de 7,16 (variando de 2 a 16 anos) e idade média masculina de
7,84 (variando de 2 a 14 anos). O baixo número de filhos dessas famílias
está de acordo com a diminuição do tamanho das famílias, como reflexo
do aumento de separações/divórcios, da inserção da mulher no mercado
de trabalho, do surgimento da pílula anticoncepcional entre outras
mudanças socioculturais (Dessen & Braz, 2005).
Quanto à iniciativa de requerer o processo judicial, que
ocasionou o pedido de avaliação psicológica, 25 processos judiciais
foram iniciados pela mãe, 25 iniciados pelo pai, um pela família materna
e em 25 laudos não constava a informação sobre quem deu início ao
processo judicial. Em 2010, segundo dados do IBGE (2010), entre os
divórcios não consensuais ocorreu um equilíbrio entre os requerentes,
sendo 52,2% feitos pelas mulheres. Informação semelhante à observada
nesta pesquisa, considerando que ocorreu o mesmo número de processos
requeridos por mulheres e homens. Foram encontrados dados na
literatura que indicam o crescente número de mulheres que manifestam
o desejo de romper com o casamento (Maldonado, 2000; Carter &
Mcgoldrick, 2001; Fères-Carneiro, 2003). No entanto, não foram
encontradas informações quanto à questão de gênero referente à decisão
de iniciar um processo judicial relacionados aos filhos.
Com relação à motivação para início do processo judicial, dois
laudos psicológicos são provenientes de ação para dissolução conjugal,
45 para definição ou modificação de guarda, 27 para regulamentação de
visitas e dois para a definição ou modificação de guarda e
regulamentação de visitas no mesmo processo. O fato da maioria dos
processos serem movidos para definição ou modificação de guarda dos
filhos, pode estar relacionado aos juízes terem solicitado a perícia
judicial em casos de maior complexidade, para esclarecimento dos
fatores relacionados ao conflito, entre os ex-cônjuges, e a possibilidade
de encontrar arranjos familiares que preservassem o bem estar dos
69

menores envolvidos. Isso porque a decisão desses processos tem uma


influência direta no ambiente e nas relações familiares e sociais, às quais
a criança em desenvolvimento será submetida.
Em uma pesquisa realizada com grupos de reflexão com pais e
mães separados, os pais relataram que por serem constantes e violentas
as brigas com a ex-mulher e por considerarem que recorrer à justiça
como forma de garantir o direito de visita aos filhos geraria tensão e
desgaste emocional, prejudiciais para eles e para as crianças, acabavam
por se distanciar dos filhos (Brito et al., 2010). Esse comportamento não
foi confirmado nesta pesquisa, considerando que os homens, na mesma
proporção que as mulheres, buscaram garantir seus direitos e deveres em
relação aos filhos por meio judicial, não optando pelo distanciamento
em relação aos mesmos.
Das 76 famílias avaliadas, em 67 famílias pai e mãe residem na
mesma cidade e em nove famílias pai e mãe residem em cidades
diferentes, sendo que entre estes, quatro residem em estados diferentes.
Segundo Pedro-Carroll (2001) e Brito et al. (2010), as mudanças de
moradia oriundas da separação conjugal intensificam as modificações
vividas pela criança, o que pode ser ampliado com os genitores
residindo em cidades e estados diferentes, dificultando o acesso da
criança a ambos os genitores.
Para 50 famílias, a guarda do filho era materna, para 25 famílias
a guarda era paterna e para uma família a guarda da criança era da avó
paterna. Esses dados corroboram resultados de outras pesquisas (Dantas,
2003; Cano et al., 2009), nas quais, na maioria dos casos de
separação/divórcio, os filhos ficam sob a custódia da mãe. Segundo
IBGE (2010), a responsabilidade pelos filhos foi delegada às mulheres
em 87,3% dos divórcios concedidos no Brasil, neste ano, e 5,6% aos
homens. Nos resultados da presente pesquisa, o número de pais
detentores da guarda dos filhos é bem maior que a informação divulgada
pelo IBGE (2010), o que pode estar relacionado ao fato de a amostra ser
composta por genitores que se encontram em litígio judicial. Nesses
casos, a guarda dos filhos costuma ser atribuída a mãe, sendo paterna em
casos de alto conflito entre os genitores (em situações caracterizadas
como de Alienação Parental) e que a mãe apresente alguma limitação
para o exercício da parentalidade.
Entre os laudos psicológicos pesquisados, não houve ocorrência
de guarda alternada, guarda jurídica e material conjunta e guarda
compartilhada, o que está relacionado à amostra ser composta por ex-
casais em litígio judicial, o que evidencia presença de desacordos e
conflitos entre os genitores, fator que costuma não ser indicado para
70

estes tipos de guarda. Dados do IBGE (2010) demonstram um


crescimento do compartilhamento da guarda dos filhos menores entre os
cônjuges, sendo esse índice de 5,5% no ano de 2010, no Brasil.
Quanto ao contato do genitor não residente com os filhos, em
24 famílias não ocorria contato entre a(s) criança(s) e o genitor não
residente; em sete famílias, o contato ocorria de forma livre; em 25
famílias, o contato ocorria em finais de semana, férias e feriados
alternados entre os genitores; em 18 famílias, ocorria outra forma de
contato, geralmente os casos em que ainda existia contato com o genitor
não residente, mas de forma muito esporádica, sem um compromisso ou
organização; em dois laudos, não foi informada a forma de contato. O
contato entre criança e genitor não residente é apontado na literatura
como um fator de proteção importante (Raposo, 2011), haja vista que
uma das mudanças mais difíceis trazidas pela separação/divórcio, para a
criança, é ter a ruptura do vínculo com um dos pais (Kelly & Emery,
2003; Brito, 2007).

Tabela 4 – Faixa etária de mulheres e homens (genitores) no período de


perícia psicológica.
Faixas etárias Mulheres Homens
De 21 a 25 anos 7 2
De 26 a 30 anos 18 8
De 31 a 35 anos 9 10
De 36 a 40 anos 7 11
De 41 a 45 anos 2 2
De 46 a 50 anos 1 3
Mais de 51 anos - 4
Não informa 32 36
Total 76 76
Fonte: dados coletados pela autora.

Com relação à idade dos genitores no período da perícia (Tabela


4), entre os documentos que continham esta informação, a maioria das
mulheres (27 ocorrências) encontra-se com idade entre 26 e 35 anos e a
maioria dos homens (21 ocorrências) encontra-se com idade entre 31 e
40 anos. Dados do IBGE (2010) revelam uma faixa etária com idade
superior, na data da sentença do divórcio, do que a verificada nesta
pesquisa, sendo que a idade média da mulher variou de 38 a 41 anos e a
dos homens entre 41 e 45 anos. Nesta pesquisa, são poucas as mulheres
com mais de 41 anos (3 ocorrências), o que pode ser justificado pela
faixa etária reprodutiva feminina (em média dos 12 aos 45 anos),
71

considerando que se trata de famílias com filhos menores de 12 anos.


Enquanto que o número de homens com mais de 41 anos (9 ocorrências)
é maior, tendo em vista que a faixa etária reprodutiva masculina é mais
prolongada (em média dos 12 aos 60 anos).
Referente ao estado civil dos ex-cônjuges no período da
avaliação psicológica, de acordo com dados da tabela 5, a maioria
encontra-se solteira, mulheres (41 ocorrências) e homens (45
ocorrências), seguidos de casados e em união estável, mulheres (29
ocorrências) e homens (27 ocorrências). Dantas (2003) relaciona o fato
de geralmente as mulheres permanecerem com a guarda dos filhos,
assumindo responsabilidade com a casa e educação dos mesmos, com o
fato de levarem mais tempo para recasarem, se comparadas aos homens.
No entanto, na presente pesquisa o número de mulheres recasadas foi
maior que o de homens, sugerindo não haver diferença de gênero quanto
ao tempo para estabelecer um novo relacionamento estável.

Tabela 5 - Estado Civil de mulheres e homens (genitores) no período da


perícia psicológica.
Estado Civil Mulheres Homens
Solteiro 41 45
Casado/União estável 29 27
Nova separação conjugal 1 -
Não informa 5 4
Total 76 76
Fonte: dados coletados pela autora.

De acordo com Zordan, Wagner e Mosmann (2012), o


fenômeno da separação conjugal pode ocorrer em qualquer etapa do
ciclo vital, com casais que tenham oficializado a relação ou não, tenham
filho ou não, nos quais, ambos trabalhando para o sustento do lar, ou
para aqueles que seguem papéis tradicionais, de homem provedor e
mulher dona de casa. A separação/divórcio é considerada uma crise
transicional no ciclo de vida familiar (Ahrons, 1995) e, a partir da
constatação de que é um fenômeno que não está restrito a um grupo
específico de características sociodemográficas, é considerada uma crise
vital (Zordan et al., 2012). Estatísticas indicam que metade dos
casamentos atuais irá terminar em separação conjugal, revelando um
padrão de sucessões conjugais (Dantas, Jablonski & Féres-Carneiro,
2004) e o crescente número de famílias recasadas e monoparentais
(Cano et al., 2009).
72

Quanto à atividade profissional realizada pelos ex-cônjuges no


período da avaliação psicológica (Tabela 6), segundo dados dos
documentos que continham esta informação, a maioria de mulheres (25
ocorrências) e homens (24 ocorrências) encontra-se em vínculo
empregatício, seguido de profissionais liberais e autônomos. Entre as
mulheres, um número significativo (11 ocorrências) não exerce
atividade profissional, o que não ocorre entre os homens. O que está de
acordo com as mudanças sociais, a partir da entrada da mulher no
mercado de trabalho, em que na grande maioria das famílias homens e
mulheres são provedores de seus lares (Dantas et al., 2004; Cano et al.,
2009).

Tabela 6 - Atividade profissional de mulheres e homens (genitores) no


período da perícia psicológica.
Atividade Profissional Mulheres Homens
Não exerce atividade 11 2
Desempregado 2 1
Profissional empregado 25 24
Profissional liberal/autônomo 12 10
Empresário - 5
Funcionário Público 1 4
Aposentado - 3
Não informa 25 27
Total 76 76
Fonte: dados coletados pela autora.

A sociedade ocidental moderna é composta por mulheres que


não querem mais casar a qualquer preço, tendo mais medo da solidão a
dois do que da vida sem um parceiro, e por mulheres que optam por
largar o trabalho e cuidar só da casa e dos filhos, se o marido puder
sustentar a família com o seu salário (Goldenberg, 2001). Os dados
desta pesquisa corroboram com as afirmações feitas por essa autora,
considerando que a maior parte das mulheres não iniciou um novo
relacionamento conjugal após a separação/divórcio e a maioria exerce
atividade profissional.
Em relação ao(s) motivo(s) para separação apresentados nos
laudos psicológicos (Tabela 7), constatou-se que em 31 documentos não
havia registro do(s) motivo(s) para separação. Entre os que continham
essa informação, 39 apresentaram apenas um motivo e seis registraram
dois motivos. Os principais motivos citados para as separações
conjugais foram: brigas e discussões frequentes (18 ocorrências);
73

agressões físicas por parte de um genitor (9 ocorrências); desgaste e


distanciamento na relação (7 ocorrências).

Tabela 7 - Motivos apresentados nos laudos psicológicos para a


separação conjugal.
O que motivou a separação Ocorrência
Brigas e discussões frequentes 18
Agressões físicas por parte de um ou ambos os 9
genitores
Desgaste e distanciamento na relação 7
Infidelidade por parte do cônjuge 6
Alcoolismo do cônjuge e/ou dependência química 4
Ciúmes e possessividade excessiva por parte do 3
cônjuge
Não chegaram a estabelecer uma relação conjugal 3
Já estavam separados de fato 1
Não informa 31
Total* 82
* O total é acima do número de laudos, pois alguns apresentaram mais de um
motivo.
Fonte: dados coletados pela autora.

Pesquisa realizada por Zordan et al. (2012), com processos


judiciais da área de família, apresentou resultados semelhantes a este
estudo quanto aos motivos alegados nos processos de separação
conjugal, sendo o principal motivo as brigas e discussões frequentes. De
acordo com Goldenberg (2001, p. 5), “quanto mais independente
economicamente é a mulher, mais exigente ela se torna com o seu
parceiro amoroso”. As transformações nos papeis masculinos e
femininos têm interferido nas relações conjugais, mudando as
exigências dos cônjuges e provocando novos desafios e dificuldades
(Cano et al., 2009, Goldenberg, 2001).
As agressões físicas por parte de um ou ambos os genitores foi
apontado como o segundo principal motivo para as separações
conjugais. Segundo Raposo et al. (2011), o ambiente familiar torna-se
estressante com a presença do conflito interparental manifesto por raiva,
agressividade, agressão física, favorecendo um impacto negativo para as
crianças. O conflito interparental é apontado como prejudicial ao
desenvolvimento da criança estando os genitores casados ou
separados/divorciados (Kelly & Emery, 2003). Féres-Carneiro (2003),
em pesquisa com casais separados, verificou que a traição conjugal
74

masculina foi citada como a principal causa das separações/divórcio,


sendo a traição conjugal feminina e masculina, também, citada nos
resultados no presente estudo.

4.2 PADRÕES DE RELACIONAMENTOS NAS FAMÍLIAS

Adotando a concepção de que a família é um sistema complexo,


composto por vários subsistemas, como pai-mãe, genitores-filhos e
irmãos-irmãos, nos quais ocorrem diferentes padrões de relacionamento
(Wendt & Crepaldi, 2008; Dessen & Braz, 2005); na tabela 8, são
apresentados os padrões de relacionamentos nas famílias referidas nos
laudos psicológicos, a partir das informações expostas nos mesmos.
Foram identificados os padrões de relacionamento entre os ex-cônjuges,
entre mãe e filhos, entre pai e filhos e entre irmãos.
No relacionamento entre ex-cônjuges incluíram-se os padrões
de relacionamento entre pai e mãe após a separação. Os principais
padrões de relação entre ex-cônjuges foram: relacionamento conflituoso
(44 ocorrências), relacionamento vulnerável (19 ocorrências).
O rompimento do vínculo conjugal implica a vivência de
sofrimento, é um processo no qual é necessário desconstruir a
conjugalidade e reconstruir a identidade individual (Costa et al., 2009;
Féres-Carneiro, 2003). Segundo Féres-Carneiro (2003), trata-se de um
processo lento permeado, nos primeiros tempos por sentimentos de
liberdade e solidão. Para os participantes da presente pesquisa esse
processo se torna mais complexo, haja vista que, além das vivências
relativas ao fim da conjugalidade, devesse construir a relação de
parentalidade de pais divorciados (Grzybowski & Wagner, 2010b).
O relacionamento conflituoso foi o de maior ocorrência,
resultado esperado já que a amostra é composta por famílias que se
encontram em litígio judicial, sendo necessária a perícia técnica para dar
suporte à decisão do magistrado em relação às questões que envolvem
os filhos do casal. Os ex-casais que demonstraram relacionamento
conflituoso apresentavam questões como: a) envolvimento em conflitos
anteriores ao término da relação; b) envolvimento em denúncias e
registros de boletins de ocorrência por negligência em relação aos filhos,
não cumprimento de ordem judicial, abusos e/ou violências; c) vivência
de situações que constrangiam os filhos como forma de ofender o outro
genitor; d) ações para dificultar ou impedir o contato do genitor não
residente com o filho; e) difamar o outro genitor; dificuldades de
75

comunicação e cooperação nos cuidados com o filho; f) agressões


verbais e/ou físicas mútuas; conflitos relativos a questões financeiras
(pensão e bens do casal); g) entre outras.

Tabela 8 - Distribuição da frequência de ocorrência dos padrões de


relacionamentos de acordo com os tipos de relações.
Tipos de Relações
Padrões de Entre Entre
Entre ex- Entre
Relacionamentos mãe e pai e
cônjuges irmãos
filhos filhos
Relacionamento
- 33 29 14
harmônico
Relacionamento muito
estreito ou - 3 - -
superenvolvimento
Aliança - 5 3 1
Relacionamento
44 2 1 1
conflituoso
Relacionamento
19 24 33 3
vulnerável
Relacionamento
7 4 4 2
distante
Rompimento 4 4 6 -
Triangulação - 1 - -
Não informa 2 1 1 19
Total 76 77* 77* 40**
* Para duas famílias, os filhos apresentaram padrões de relacionamento
diferentes um do outro, com pai e mãe.
** Em 36 laudos as crianças são filhas únicas, sem irmãos por parte do casal em
litígio ou meio-irmão.
Fonte: dados coletados pela autora.

Os casais que mantinham relacionamento conflituoso


demonstraram uma série de ações relativas ao conflito que envolve
direta ou indiretamente os filhos, o que corrobora a afirmação de que os
casais em um processo de competição destrutiva podem “utilizar” os
filhos, e que em muitos casos, estes se tornam objeto da disputa (Costa
et al., 2009). Essas autoras afirmam que o embotamento, o voltar para si
mesmo, pode levar o ex-cônjuge a oscilar entre as posições de sofrer e
fazer sofrer. Esse fato pode ser demonstrado pelas posturas dos ex-
casais em conflito.
76

O relacionamento vulnerável foi verificado em situações em


que os ex-casais: a) apesar de apresentarem conflitos durante o período
de separação, atualmente, buscam manter uma relação cortês e
respeitável naquilo que se refere ao(s) filho(s) em comum; b) apesar de
não ocorrerem situações de conflito direto entre os ex-cônjuges, um dos
genitores não deseja a interferência do outro na criação dos filhos; c)
apesar de apresentarem dificuldades nos acordos, buscam não denegrir a
imagem do outro genitor perante o filho; entre outras.
O relacionamento vulnerável entre os ex-casais foi marcado por
posturas que protegem e expõem os filhos a situações de conflito, sendo
realizadas conjuntamente por um mesmo casal. Isso demonstra que
mesmos os casais que têm o desejo de proteger os filhos do conflito têm
dificuldades em colocar ações de proteção em prática.
Pesquisas com pais e mães separados e filhos de pais separados
indicam que o rompimento do vínculo conjugal não extinguiu brigas e
desentendimentos entre os ex-casais, ocorrendo uma mudança de foco
das batalhas, que passaram a se concentrar, após a separação/divórcio,
na disputa pela convivência com os filhos (Brito et al., 2010; Brito,
2007). O conflito que perdura após a separação/divórcio tem maior
interferência na vida das crianças do que aquele que se localiza no
período da separação/divórcio (Lamb & Kelly, 2009).
O relacionamento distante ocorreu quando um dos genitores
assume o cuidado pelo(s) filho(s), enquanto o outro se mantém a parte
das informações e/ou decisões em relação a este(s). Nestes casos, em
algumas famílias, os encontros quinzenais entre o genitor não residente
e os filhos ocorrem normalmente, enquanto em outras famílias, o
contato dos filhos com o genitor não residente era quase inexistente. Em
duas famílias, as crianças estavam vivenciando maus-tratos na
convivência com as mães, sem que os pais tomassem conhecimento. O
rompimento da relação entre os ex-cônjuges ocorreu em decorrência do
intenso conflito entre os membros do ex-casal, seja por comprovação de
abuso sexual da criança por parte de um dos genitores ou por
interferências da nova companheira de um pai.
Em pesquisa realizada por Brito et al. (2010, p. 816), alguns
homens afirmaram que mesmo conscientes que tinham poucas chances
de ter a guarda exclusiva dos filhos, insistiram na disputa, para que “os
filhos soubessem que lutaram por eles”. Enquanto, outros homens,
desgastados pelos desentendimentos e brigas, questionavam se o esforço
para ficarem próximos aos filhos era interessante “ou se deveriam
apenas deixar as ex-mulheres cuidando da prole, procedimento adotado
por muitos que conheciam”. Os resultados da pesquisa de Brito et al.
77

(2010) evidenciam motivos que podem levar os ex-casais a


permanecerem em logos períodos de disputa judiciais pelos filhos ou
que pode levar um dos ex-cônjuges, geralmente o pai, assumirem uma
postura de distanciamento.
Quanto ao relacionamento dos genitores com os filhos,
verificou-se o padrão de relacionamento entre mãe e filhos e pai e filhos,
após a separação dos genitores. Em 21 famílias, as crianças mantêm
relacionamento harmônico com ambos os genitores, o que seria o ideal
considerando o melhor interesse da criança como a manutenção das
relações parentais. Um exemplo de relacionamento harmônico com
ambos os genitores pode ser observado no trecho a seguir:
Filho demonstra vínculo de afeto positivo em
relação à mãe e em relação ao pai. [...] A imagem
paterna está preservada para filho e isso se deve à
figura real do pai e também às impressões
passadas pela mãe em relação a ele (L31).
Apesar de a maioria dos ex-cônjuges apresentarem um
relacionamento conflituoso entre eles, grande parte das crianças
apresentou um relacionamento harmônico com seus genitores. Esses
dados corroboram a afirmação de Lamb e Kelly (2009), de que o
conflito ou mesmo a violência conjugal não estão diretamente
relacionados à presença de violência na relação entre genitores e filhos,
já que muitas crianças possuem relações de afeto e proximidade com
pais que apresentam altos níveis de conflito entre si. Dessa forma, é
importante que o contato entre os genitores e seus filhos não seja
interrompido exclusivamente por alegações de relacionamento
conflituoso e violento entre o ex-casal (Lamb & Kelly, 2009).
No relacionamento entre mãe e filhos, os principais padrões
de relação foram: relacionamento harmônico (33 ocorrências) e
relacionamento vulnerável (24 ocorrências). O relacionamento
harmônico foi marcado por situações que demonstraram afeto positivo
entre mãe e filho e a sensibilidade materna para exercer suas funções
parentais de forma a suprir as necessidades afetivas, sociais e cognitivas
da(s) criança(s). Em pesquisa realizada por Brito et al. (2010) com pais e
mães separados foi consenso entre eles, o fato de que muitas mulheres
sentem-se como as únicas responsáveis pelos filhos, considerando que
podem cuidá-los e educá-los sozinhas, o que pode levá-las a restringir a
participação e o contato dos ex-maridos com a prole. Esta postura
feminina foi verificada a partir do conteúdo dos laudos, no entanto,
também ocorreram casos em que os pais acreditavam que as mães não
78

tinham o direito de ter contato com os filhos, justificando esta postura a


partir de situações vivenciadas durante o relacionamento conjugal.
O relacionamento vulnerável entre mãe e filhos foi apontado a
partir de situações de negligência e violência em relação aos cuidados
com o(s) filho(s) e envolvimento dos filhos nos conflitos dos genitores.
A aliança com a mãe envolve um posicionamento da criança, a
favor da mãe, em relação ao conflito existente entre os genitores. Em
L16, as crianças mantinham uma lealdade com a mãe, a partir de um
excesso de informações acerca do conflito entre os genitores, repassadas
através de uma visão unilateral dos fatos. Brito et al. (2010, p. 816)
verificaram em sua pesquisa, que os pais consideram que quando a
mulher detém a guarda dos filhos e demonstra uma ligação muito forte
com estes, tende a procurar afastar o ex-marido das crianças de qualquer
forma; já as mulheres, admitiram que, em algumas situações, “os filhos
não se relacionam bem com os pais para agradá-las”.
O rompimento da relação entre mãe e filhos ocorreu em três
famílias, nas quais, os filhos passaram por situações de violência (sexual
e/ou física) ou exposição a conteúdos impróprios (uso de droga, brigas e
relações sexuais) e em uma família, na qual, foram identificados sinais
de alienação parental por parte do pai. Já o relacionamento distante
ocorreu em três famílias, nas quais, havia pouco contato com o genitor
não residente (no caso, as mães) e em uma família em que os genitores
mantêm um relacionamento distante com o filho.
O relacionamento entre pai e filhos teve prioritariamente
como padrões de relação: relacionamento vulnerável (33 ocorrências) e
relacionamento harmônico (29 ocorrências). O relacionamento
vulnerável entre pais e filhos foi verificado a partir de situações: a) em
que estava ocorrendo uma aproximação entre pai e filho(s), após um
período de distanciamento; b) de envolvimento dos filhos nos conflitos
dos genitores; c) de dificuldade dos pais em compreender as
necessidades dos filhos; d) de negligência em relação aos cuidados com
o(s) filho(s); entre outras.
O relacionamento harmônico entre pai e filhos foi marcado por
situações que demonstraram afeto positivo entre pai e filho e a
sensibilidade paterna para exercer suas funções parentais de forma a
suprir as necessidades afetivas, sociais e cognitivas da(s) criança(s).
Dantas et al. (2004) apontam uma mudança que vem ocorrendo nas
relações pai e filhos. Os autores afirmam que atualmente estas relações
vêm sendo marcadas pela proximidade do contato, incentivo a
demonstração de afeto e a participação ativa, durante o crescimento das
79

crianças, enquanto que, algum tempo atrás, eram marcadas pelo


distanciamento e por uma postura autoritária dos pais.
O rompimento da relação entre pais e filhos ocorreu em três
famílias, nas quais foram identificados sinais de alienação parental por
parte da mãe; uma família em que a filha vivenciou violência sexual por
parte do genitor e em duas famílias, na qual, não houve a construção de
vínculo afetivo entre pai e filhos. Já o relacionamento distante ocorreu
em três famílias, nas quais, existe pouca vinculação afetiva entre pai e
filho(s) e em uma família em que os genitores mantêm um
relacionamento distante com o filho.
Os pais, participantes da pesquisa de Brito et al. (2010)
afirmaram que no momento da dissolução conjugal, não tinham claro
que, com a decisão, haveria um grande afastamento dos filhos. Estes
pais relatam que assim que ocorreu a saída do lar familiar passaram a ser
designados como visita para os filhos. Alguns desses pais lidaram com a
rejeição dos filhos, o que afirmam ter sido extremamente penoso,
exigindo um grande esforço para que não desistissem do contato com os
mesmos.
Na subcategoria relacionamento entre irmãos, incluíram-se os
padrões de relacionamento entre os irmãos após a separação do casal em
litígio judicial. Em 25 laudos psicológicos, a criança avaliada possuía
irmão(s) proveniente(s) de relacionamentos de seus genitores com
outros parceiros, anteriores ou posteriores a separação conjugal. A
presença desse(s) irmão(s) foi qualificada, pelas crianças, como um
ponto positivo de suas configurações familiares, monoparentais ou
recasadas. Ressalta-se que em 19 laudos psicológicos não constava essa
informação, o que demonstra que a relação entre irmãos não tem sido
foco nas perícias, assim como são poucos os estudos que investigam a
influência dessa relação para a adaptação à dissolução conjugal
(Shumaker et al., 2011; Abbey & Dallos, 2004).
Os filhos únicos e primogênitos podem ser incluídos mais
facilmente em conflitos de lealdade entre os genitores (Meynckens-
Fourez, 2000; Siméon, 2000), sendo os primogênitos convidados a
confidenciar o sofrimento, preencher vazios afetivos dos genitores e a
ocupar uma posição de responsabilidade em relação aos irmãos
(Siméon, 2000). Considerando o número (36 ocorrências) de filhos
únicos dos ex-casais em litígio judicial, é grande o número de crianças
que podem ser expostas a estas demandas emocionais por parte dos
genitores.
O principal padrão de relação entre irmãos foi o relacionamento
harmônico (14 ocorrências), caracterizando-se por vinculação afetiva
80

positiva, sentimento de proteção e compartilhamento de experiências e


decepções. O relacionamento vulnerável entre irmãos ocorreu em três
famílias, sendo que as questões que geraram esse padrão de relação
foram: a) presenciar mãe e irmão fazendo uso de drogas; b) mãe
estimular que a filha (10 anos) ficasse responsável pelo irmão (cinco
anos) por não considerar o pai confiável; c) risco de ocorrer uma ruptura
dos laços fraternos ao impossibilitar um convívio frequente entre os
irmãos.
Os resultados do presente estudo estão de acordo com a
afirmação “a fratria é um recurso de suporte e fortalecimento das
crianças em uma situação de conflito entre o par parental” (Juras &
Costa, 2011, p. 237). O apoio mútuo entre irmãos pode ser um recurso
para as crianças lidarem com a carga emocional dos conflitos entre os
genitores. Enquanto que, o relacionamento vulnerável entre irmãos
apareceu diretamente ligado a posturas adotadas pelos genitores.

4.3 REAÇÕES QUE AS CRIANÇAS MANIFESTAM COMO


CONSEQUÊNCIA DO CONFLITO INTERPARENTAL

Os resultados referentes às reações que as crianças manifestam


como consequência do conflito interparental foram coletados nos laudos
a partir de três núcleos temáticos: a) percepções referidas pelas crianças
durante o processo de perícia psicológica que permitiram identificar as
construções cognitivas realizadas por elas frente às experiências
relativas ao conflito entre os genitores; b) sentimentos apresentados
pelas crianças ou referidos por essas e/ou responsáveis durante a perícia
psicológica que permitiram identificar as emoções presentes nas
experiências relativas ao conflito entre os genitores; c) ações
apresentadas pelas crianças ou referidas por estas e/ou responsáveis
durante a perícia psicológica que permitiram identificar as reações
fisiológicas, emocionais e comportamentais das crianças no contexto de
litígio dos genitores.
Quanto às reações que as crianças manifestam como
consequência do conflito interparental, 13 laudos continham
informações referentes a percepções, 29 referentes a sentimentos e 58
referentes a ações. Para organização desses resultados, todas as
informações contidas nos laudos, relativas a reações que as crianças
manifestam, foram organizadas, a partir de cada núcleo temático, em
categorias e elementos que as compunham.
81

No quadro 1, são apresentados os resultados relativos ao núcleo


temático percepções. As crianças demonstraram reconhecimento do
conflito existente entre seus genitores, podendo, a partir de sua
percepção, posicionar-se de forma a não se envolver no conflito ou
envolver-se no conflito, estabelecendo lealdade a um genitor, buscando
posicionar-se com imparcialidade ou alternando a lealdade entre os
genitores.

Quadro 1 – Organização do núcleo temático percepção em categorias e


elementos.
Núcleos
Categorias Elementos de análise
Temáticos
Não se envolve
Envolver-se estabelecendo
lealdade a um genitor
Percepções Reconhecimento do Envolver-se buscando
das crianças conflito posicionar-se com
imparcialidade
Envolver-se alternando a
lealdade entre os genitores
Fonte: dados coletados pela autora.

Maldonado (2000) defende que a separação/divórcio não


precisa ser vivenciada como algo traumático para a criança, podendo o
filho de pais separados sentir-se seguro, apresentar autoestima elevada e
ter bom desempenho escolar. No exemplo a seguir,descrito no laudo, a
criança reconhece o conflito entre os genitores, mas não se envolve,
nem é estimulada a se envolver, atitude que tende a proteger as crianças.
Filho informa ainda que nenhum dos pais denigre
a imagem do outro: diz que eles consideram-se
chatos mutuamente, porém, não utilizam
expressões pejorativas para designarem-se perante
o menino (L37).
Segundo Féres-Carneiro (1998), o pior conflito que os filhos de
pais separados/divorciados podem vivenciar é o conflito de lealdade
exclusiva, independente de ser exigida por um ou ambos os genitores.
Para Dantas et al. (2004) o filho que é colocado no meio do conflito
pelos genitores irá ficar confuso por não saber de quem deve gostar e em
quem deve confiar. Segundo pesquisa realizada por Juras e Costa
(2011), com crianças que estavam vivenciando o divórcio destrutivo dos
82

genitores, todas as crianças demonstraram perceber a situação de


conflito entre o par parental, corroborando os resultados da presente
pesquisa. No exemplo a seguir, descrito no laudo, a criança reconhece o
conflito entre os genitores e envolve-se, a partir do momento que
acredita que um está certo e o outro errado.
A criança julga que as tentativas de aproximação
do pai têm o objetivo de perturbar a família e não
são motivadas por amor. Segundo filho1, se o pai
tivesse amor por eles não teria saído de casa. O
menino tem a convicção de que o pai decidiu-se
sozinho pela separação conjugal e escolheu
abandonar o lar (L39).
No exemplo, fica evidente que a criança está sendo envolvida
no conflito conjugal, sendo prejudicada em sua relação parental com o
pai. Situação que não segue a premissa de que “quem se separa é o par
amoroso, o casal conjugal”, devendo o casal parental continuar
exercendo suas funções de cuidar, proteger e prover as necessidades
materiais e afetivas dos filhos de forma conjunta (Féres-Carneiro, 1998,
p. 387).
As informações que os pais fornecem aos filhos sobre a decisão
de separação/divórcio e o que irá ocorrer a partir disso, são
fundamentais para o processo de adaptação da criança à reorganização
da vida familiar (Souza, 2000). É necessário que os pais expliquem aos
filhos os motivos da separação/divórcio, de forma objetiva e cuidadosa,
e de que esta não os envolve, apesar de trazer uma série de modificações
em suas vidas (Souza, 2000). Essas ações podem isentar a criança de
uma responsabilidade por uma postura de lealdade ou imparcialidade em
relação aos genitores, que tende a lhe trazer desgaste emocional e
envolvimento nos conflitos conjugais, como no exemplo, descrito no
laudo, a seguir:
Filho sente-se responsável por uma tarefa
inapropriada às competências da infância.
Acredita ter a função de não permitir que os pais
briguem, decorrendo daí sentimentos de tristeza e
percebendo-se muitas vezes anulado em seus
desejos e necessidades. O menino sente a
obrigação de ser dividido como uma propriedade
ou um bem material. Afirma que deseja passar
períodos de tempo iguais com o pai e com a mãe,
porque essa condição seria a mais justa. Não faz
referência ao seu desejo, mas ao que seria justo
83

para os pais. Segundo ele, pai e mãe já disseram


que o juiz não poderia aceitar esta sugestão (L8).
Segundo Costa et al. (2009), os filhos do ex-casal podem ser
“utilizados” na competição destrutiva entre eles. Nesse exemplo, é
possível perceber que a criança assume uma postura de lealdade com
ambos os genitores, de tal forma, que passa a perceber a si mesmo como
um bem material que deve ser dividido de forma justa entre os genitores.
Demonstrando uma desconexão de seus próprios sentimentos e desejos
que pode ser prejudicial ao seu desenvolvimento.
O conflito de lealdades estabelecido entre pais e filhos pode ser
de tal forma confuso, para as crianças, que elas podem assumir posturas
contraditórias (Kelly & Emery, 2003), nas quais, dependendo das
circunstâncias posicionam-se favorável a pai ou mãe, relatando
situações reais ou fantasiosas que confirmem seu posicionamento. Esse
fato pode ser percebido no exemplo de alternância de lealdades aos
genitores, descrito no laudo, apresentado a seguir:
Filhos relatam uma série de situações que
desfavorecem o pai e valorizam a mãe, mas já
fizeram o contrário em outras situações (L47).
As reações manifestas pelas crianças estão relacionadas ao
conceito de parentalização, termo desenvolvido por Boszormenyi-Nagy,
que segundo Costa et al. (2009), refere-se à eleição de aproximação a
um dos genitores, a partir de acontecimentos anteriores ou atuais,
configurando-se um compromisso preferencial ao pai ou à mãe. Para
Juras e Costa (2011, p. 236), a parentalização coloca “a criança em uma
situação cuja responsabilidade não é cabível a ela e sim aos seus
genitores”. Os exemplos dos laudos, L39, L8 e L47, demonstram
dinâmicas familiares que utilizam a parentalização de crianças como um
padrão de relacionamento, exigindo dessas crianças decisões que não
estão de acordo com sua faixa etária, o que pode ser prejudicial a um
desenvolvimento saudável.
No quadro 2, são apresentados os resultados relativos ao núcleo
temático sentimentos. Os sentimentos das crianças referidos nos laudos
foram organizados em oito categorias, sendo as mais citadas: a)
sofrimento com o conflito dos genitores, b) mágoas em relação a um dos
genitores, c) e sofrimento com o afastamento de um dos genitores.
84

Quadro 2 – Organização do núcleo temático sentimentos em categorias e


elementos.
Núcleos
Categorias Elementos de análise
Temáticos
Conviver com duas versões
de sua própria história
Conviver com posturas
contraditórias de um dos
Sofrimento com o
genitores
conflito dos genitores
Sofrer pressão por parte dos
genitores
Sentir-se pressionado a fazer
uma escolha parental
Rejeitar o genitor sem
apresentar justificativa
Rejeitar o genitor
Mágoas em relação ao
apresentando justificativas
genitor não residente
Sentimentos distorcidas
das crianças Rejeitar o genitor
apresentando justificativas
Buscar compreender o
Sofrimento com o
afastamento do genitor
afastamento de um dos
Medo de que o afastamento
genitores
possa voltar a ocorrer
Fantasia de abandono Não se sente amado
Sofrimento pela
Culpar madrasta ou padrasto
separação
Afeto positivo em
Carinho e proximidade
relação ao genitor
Acreditar que o genitor
Medo de perder o
representa a única figura de
genitor
apoio
Fonte: Dados coletados pela autora.

O sofrimento com o conflito dos genitores é demonstrado pela


criança ao: a) conviver com duas versões de sua própria história, não
podendo confiar nos discursos dos genitores; b) conviver com posturas
contraditórias de um dos genitores, por exemplo, quando o genitor
dificulta o contato da criança com o genitor não residente, mas verbaliza
que permite; c) sofrer pressão por parte dos genitores, o que costuma
85

ocorrer quando um genitor não confia nos cuidados dispensados aos


filhos pelo outro genitor; d) sentir-se pressionado a fazer uma escolha
parental, sendo estimulado e pressionado pelos genitores a tomar partido
em relação ao conflito estabelecido. Essas situações remetem as crianças
a sentimentos de insegurança em relação aos genitores, ansiedade,
tristeza, culpa e medo. O exemplo a seguir, descrito no laudo, demonstra
uma situação de sofrimento com o conflito dos genitores:
Os procedimentos utilizados mostram que a
criança convive com duas versões diferentes sobre
sua história e demonstra sofrimento psíquico
decorrente desta ambiguidade. [...] A criança
apresenta sentimentos de culpa e teme
descontentar ou magoar os genitores. [...] Filha
vive em situação de ambivalência porque convive
com versões distintas sobre a mesma história,
sente-se insegura e não pode confiar nos pais.
Demonstra sofrimento diante do constrangimento
causado pela conduta dos pais e vivência de
humilhações provocadas por eles que, ocupados
de seus conflitos, não percebem a filha (L29).
Apesar de a separação/divórcio ser uma experiência dolorosa
para todos os membros da família, é a forma de relacionamento que os
ex-cônjuges constroem entre eles, que irá influenciar na manutenção ou
não de sofrimento infantil, anos após o término da relação conjugal
(Juras & Costa, 2011; Ahrons, 1995; Fedullo, 2001). No exemplo
citado, a criança sofre por receber duas versões contraditórias de sua
própria história, além de não ter suas demandas emocionais
reconhecidas pelos genitores, que estão envolvidos em seus conflitos
conjugais. Pesquisas demonstram que o sofrimento dos genitores no
processo de separação conjugal diminui a sua efetividade nas ações em
relação aos filhos, dificultando que estes ofereçam apoio e estabilidade
emocional às próprias crianças (Raposo et al., 2011; Pedro-Carroll,
2001).
As mágoas em relação ao genitor não residente foram
verificadas a partir de três situações: a) rejeitar o genitor sem apresentar
justificativa - as crianças manifestam mágoa em relação ao genitor,
sensação de terem sido abandonadas, no entanto, não apresentam
justificativas, mas sim indícios de receberem informações negativas
relativas aquele genitor; b) rejeitar o genitor apresentando justificativas
distorcidas - as crianças manifestam raiva ou ódio em relação ao genitor
não residente, justificando esses sentimentos a partir de aspectos
86

deletérios do genitor não residente em contraste com aspectos


enaltecidos e até fantasiosos sobre o genitor residente; c) rejeitar o
genitor apresentando justificativas - as crianças manifestam ansiedade e
rejeição ao falar sobre o genitor não residente, justificando com
situações de mal estar vividas na companhia deste genitor, podendo
envolver situações de violência física ou sexual. Essas situações
remetem as crianças a sentimentos de abandono, rejeição, raiva, ódio e
ansiedade. O exemplo a seguir, descrito no laudo, demonstra uma
situação de sofrimento a partir da vivência de violência sexual:
Mostrou ter como maior figura de referência a avó
paterna e vínculo de afeto positivo com o pai. Em
relação à mãe, apresentou sinais de ansiedade e
rejeição e apresentou relato positivo em relação às
situações de violência sexual descritas no
processo, reconhecendo na mãe e no seu
namorado, os agressores (L34).
A busca por promover um relacionamento harmônico da criança
com ambos os genitores, deve ser prioridade para o bem estar de filhos
de pais separados/divorciados, no entanto, ocorrem situações em que é
necessário suspender o contato da criança com um dos genitores, a partir
de evidências significativas de prejuízos para ela (Jaffe et al., 2008). No
exemplo citado, ocorre uma situação em que a guarda materna foi
modificada para guarda paterna e o contato entre mãe e criança foi
suspenso temporariamente em decorrência de informações consistentes
de violência sexual.
No entanto, o afastamento entre crianças e genitores nem
sempre ocorre devido a reais prejuízos para a criança, podendo o próprio
afastamento em si tornar-se um prejuízo para o desenvolvimento infantil
(Brito, 2007; Kelly, 2007; Kelly & Emery, 2003). As mágoas em
relação ao genitor não residente, sendo elas não justificadas ou
apresentando justificativas distorcidas, são formas de a criança lidar com
os conflitos de lealdades que surgem a partir do conflito entre os
genitores. Essas posturas da criança podem ser reforçadas pelo fato, de
muitas vezes, o contato com o genitor não residente ser restrito a quatro
dias por mês, podendo levar a uma visão reduzida da importância desse
genitor na sua vida e uma desinvestimento de proximidade e do
significado dessa relação (Brito et al., 2010; Alexandre & Vieira, 2009;
Kelly & Emery, 2003).
Segundo Bruch (2001), não se tem conhecimento suficiente
sobre como se desenvolvem as lealdades e antipatias nas relações
87

genitores-filhos. No entanto, o conceito de síndrome de alienação


parental (SAP) tem sido muito utilizado para designar um distúrbio
infantil que acomete menores de idade envolvidos em situações de
disputa de guarda entre os pais, na qual um dos genitores realiza uma
programação ou “lavagem cerebral” para que o filho rejeite o outro
responsável (Gardner, 2001). Da mesma forma, vem sendo apontado na
literatura, que o comportamento do genitor rejeitado também contribui
para a postura de alienação da criança em relação ao genitor (Kelly &
Johnston; 2001).
O sofrimento com o afastamento de um dos genitores ocorre
pelo fato de a criança não conseguir compreender o que gerou o
afastamento e, no caso da proximidade com o genitor estar sendo
retomada, por ter medo de que o afastamento possa voltar a ocorrer.
Situações que remeteram as crianças a sentimentos de insegurança,
abandono, saudade e medo. O exemplo abaixo, descrito no laudo,
demonstra uma situação em que a criança sofre o afastamento materno:
As fantasias que a criança tem expressado
demonstram sofrimento psíquico: a criança sofre
com o afastamento da genitora, assim como busca
criar uma estória para entender sua própria origem
e o alijamento sobre sua imagem materna. Toda
esta situação é muito deletéria para o
desenvolvimento da criança, sendo necessário que
o contato com a genitora seja retomado, mesmo
que sob supervisão (L42).
No quadro 3, são apresentados os resultados relativos ao núcleo
temático Ações. As ações das crianças referidas nos laudos foram
organizadas em seis categorias, sendo as mais citadas: a) demonstram
estar bem; b) preferência por um genitor; c) apresentam sintomas
comportamentais e físicos.
Entre as crianças que demonstram estar bem é possível observar
atitudes, brincadeiras e interesses de acordo com sua idade; bom
rendimento escolar; boa relação familiar; vínculo positivo com o(s)
genitor(es); adaptação à separação dos genitores. O exemplo a seguir,
descrito no laudo, apresenta uma situação na qual a criança demonstra
estar bem vivenciado o contexto de litígio judicial dos pais:
Filha, dois anos e oito meses, é uma menina
espontânea e extrovertida. Apresenta
desenvolvimento psicológico compatível com a
idade. Atendeu às solicitações feitas,
88

demonstrando adequada expressão gráfica e


verbal. Suas referências afetivas são a mãe, o pai e
o pai (padrasto), conforme ela mesma verbalizou
(L75).
Pedro-Carroll (2001) afirma que a relação de apego saudável
entre crianças e seus genitores são essenciais para a resiliência das
crianças face às mudanças oriundas da separação conjugal dos genitores.
Os relacionamentos emocionalmente seguros com os genitores são
aqueles que incluem prestação de apoio emocional consistente e
envolvimento com genitor não residente (Pedro-Carroll, 2001). Esses
relacionamentos foram identificados nas crianças que demonstraram
estar bem durante o processo de perícia psicológica. Fato que demonstra
que mesmo em famílias com grandes desacordos nas posturas e
resoluções entre pai e mãe, é possível que os genitores protejam as
crianças de seus conflitos, favorecendo um desenvolvimento saudável a
elas.

Quadro 3 – Organização do núcleo temático ações em categorias e


elementos.
Núcleos
Categorias Elementos de análise
Temáticos
Atitudes, brincadeiras e
interesses de acordo com sua
idade
Bom rendimento escolar
Demonstram estar
Boa relação familiar
bem
Vínculo positivo com o(s)
genitor(es)
Adaptação à separação dos
Ações das
genitores
crianças
Não aguentava mais tantas
brigas e discussões
Manter pouco contato com um
Preferência por um dos genitores
genitor Sentir-se pressionado
Não ter construído vínculo
afetivo consistente com um
dos genitores
89

Atraso na linguagem
Comportamento infantilizado
ou regredido
Autoconfiança reduzida
Ansiedade
Apresentam sintomas Negação de sentimentos
comportamentais Humor deprimido
Insegurança
Tensão
Queda no rendimento escolar
Agressividade
Vômitos
Apresentam sintomas Dores abdominais
físicos Febre
Dores de cabeça
Estresse pós-traumático
Masturbação compulsiva
Evitar genitor autor da
violência
Apresentam sintomas
Dificuldades para dormir
derivados da violência
(pesadelos)
física ou sexual
Raiva e irritabilidade
Dificuldades de concentração
Dificuldades de socialização
Ansiedade
Procuram não se Fazer referências iguais para
posicionar em relação pai e mãe
ao conflito entre os Cuidar para não citar fatos que
genitores prejudiquem os genitores
Desejam que os pais
Pressionar o(s) genitor(es)
retomem o casamento
Fonte: dados coletados pela autora.

A preferência por um genitor foi manifestada como uma ação


da criança quando: a) não aguentava mais tantas brigas e discussões - a
partir disso, a criança cria uma aliança com um dos genitores,
acreditando que só com a “separação” os conflitos poderiam se
extinguir; b) tinha pouco contato com um dos genitores - nessas
90

situações a criança costuma não ter estabelecido um vínculo afetivo com


o genitor durante a relação conjugal de pai e mãe, o que tende a ser mais
difícil de ser construído, após a separação/divórcio, considerando todas
as mudanças ocasionadas por essa vivência; c) sentia-se pressionado - ao
ser pressionado por um dos genitores a fazer uma escolha parental à
criança, caso tenha um vínculo afetivo positivo em relação ao genitor,
pode se aliançar a ele, reforçando seu afeto e fidelidade, ou, caso tenha
pouco vínculo afetivo ou um vínculo instável, pode buscar se afastar
desse genitor como forma de diminuir a pressão sentida; d) não tinha
construído vínculo afetivo consistente com um dos genitores - nestes
casos a criança costuma manifestar um comportamento aprendido na
convivência familiar. O exemplo a seguir, descrito no laudo, demonstra
uma situação, na qual, solicita-se à criança que ela faça uma escolha
parental:
Ao ser questionado pelo pai, Filho2 disse querer
morar com a mãe. Ficou bastante constrangido,
tenso, ao ter que responder à indagação do pai.
Pai, ao invés de entender a situação do filho,
conseguiu piorar o quadro: disse-lhe que a escolha
é dele, e que o momento da decisão é agora; caso
o menino opte pela mãe, não mais poderá contar
com o pai, que não o aceitará em sua casa
novamente (L19).
No exemplo citado, a criança, por ter um vínculo afetivo
positivo com a mãe e, ser pressionado pelo pai a fazer uma escolha
parental, demonstra preferência por um genitor, no entanto, o desejo
manifestado pela criança durante o processo de perícia era ter contato
com pai e mãe e com seu irmão mais velho que residia com o pai. As
crianças que não contam com a cooperação dos genitores quanto aos
seus cuidados, são expostas a conflitos de lealdades, como o citado, que
geram altos níveis de estresse e risco para seu desenvolvimento (Kelly
& Emery, 2003).
Na categoria preferência por um genitor, é possível perceber
que a escolha da criança por estabelecer lealdade a um genitor está
relacionada a características individuais da própria criança, ao vínculo
construído com os genitores, à postura dos genitores em relação à
criança e a forma como a criança percebe a relação entre os genitores
(podendo ser influenciada pela postura de um genitor e familiares). De
acordo com Kelly e Emery (2003), as crianças podem limitar o contato
com genitores não residentes por razões adequadas ou psicologicamente
91

inadequadas ao desenvolvimento, conforme os resultados verificados


nesta pesquisa.
Os sintomas comportamentais manifestos pelas crianças foram:
atraso na linguagem; comportamento infantilizado ou regredido;
autoconfiança reduzida; ansiedade, negação de sentimentos; humor
deprimido; insegurança, tensão, queda no rendimento escolar e
agressividade. Já os sintomas físicos apresentados pelas crianças foram:
vômitos, dores abdominais, febre e dores de cabeça. Os exemplos a
seguir, descritos nos laudos, demonstram sintomas comportamentais e
físicos que as crianças podem apresentar no contexto de litígio judicial
dos pais:
A partir dos procedimentos utilizados, pôde-se
constatar que filha apresenta atraso de linguagem,
comportamento infantilizado para a idade,
sentimentos de vergonha, menosvalia e a
autoconfiança reduzida (L57).
Certos sintomas como, dor de barriga e febre no
momento da visitação, pode ser a resposta do filho
para pedir aos pais que não briguem entre si por
ele; a criança pode estar sentindo-se culpada pelo
que ocorre (L59).
Como mencionado anteriormente, o apoio e estabilidade
emocionais oferecidos às crianças podem ser dificultados devido ao
processo de sofrimento e desgaste emocional vivenciado pelos genitores
no período de separação conjugal (Raposo et al., 2011; Pedro-Carroll,
2001). Segundo Amato (2000), as situações familiares estressantes que
podem ser vivenciadas a partir da separação conjugal aumentam a
probabilidade de crianças evidenciarem mal estar psicológico. Dessa
forma, a combinação de pais com dificuldades na efetividade de ações
de proteção em relação aos filhos e crianças vivenciando situações
desgastantes relativas aos conflitos entre pai e mãe e as mudanças
ocasionadas pela separação/divórcio dos genitores, cria um contexto
propício para sentimentos como angústia, tristeza, ansiedade, raiva,
ressentimento, confusão, culpa, medo em relação ao futuro, conflitos de
lealdade, sintomas somáticos e luto em relação aos pais ausentes,
sintomas apontados por Pedro-Carroll (2001) e Souza (2000).
Os resultados sobre as reações que as crianças manifestam
como consequência do conflito interparental sugerem que essas buscam
estratégias saudáveis e não saudáveis de compreender e reagir às
situações e emoções envolvidas no contexto de litígio dos genitores. Isso
92

corrobora dados da pesquisa de Juras e Costa (2011, p. 241), que


verificaram que a compreensão do conflito conjugal por parte das
crianças, “dá-se mediante expressões de afetividade – agressividade,
insegurança, depressão – e de racionalização”. Apesar das dificuldades,
verificadas na presente pesquisa, vivenciadas pelas crianças a partir do
litígio de seus pais, estudos (Raposo et al., 2011; Amato, 2001)
demonstram que a maior parte das crianças não apresenta problemas
emocionais ou comportamentais permanentes.

4.4 FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO NO PROCESSO DE


ADAPTAÇÃO DE CRIANÇAS À SEPARAÇÃO/DIVÓRCIO DOS
PAIS

Os resultados serão apresentados segundo as três categorias:


fatores individuais (crianças), fatores intrafamiliares e fatores
extrafamiliares, destacando-se, em cada um deles, os fatores de risco e
proteção no processo de adaptação de crianças à separação/divórcio dos
pais.
Na tabela 9, é apresentada a frequência de ocorrência dos
fatores de risco da categoria fatores individuais (crianças), sendo
distribuídos de acordo com a região que as famílias residiam. O
conteúdo dos laudos analisados apresentava uma baixa ocorrência de
fatores de risco relativos à criança, o que pode estar relacionado ao fato
de que o risco nessas famílias está mais presente na dinâmica familiar
estabelecida do que em características individuais das crianças. A pouca
idade das crianças representa menos tempo de exposição a uma possível
dinâmica familiar conflituosa, o que pode estar relacionado à baixa
presença de fatores de risco nas características individuais das mesmas.
Os fatores de risco que apresentaram maior ocorrência foram:
dificuldade comunicativa (9 ocorrências) e dependência (9 ocorrências).
Tabela 9 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de risco da categoria fatores individuais (crianças).

Fatores de risco da categoria fatores individuais


(crianças)
Total

Lages
Palhoça
Tubarão

Joinville

Criciúma

Blumenau
Florianópolis
Avaliação distorcida dos motivadores da
1 - 3 - - - 1 5
separação/divórcio;
Temperamento difícil (caracterizado por alto nível de
4 2 - 1 1 - - 7
humor negativo, medo, timidez e raiva);
Dificuldades sociais; 1 1 2 1 2 - - 7
Dificuldades cognitivas; - - 1 - 1 1 - 3
Baixa autoestima; 1 - 1 1 - 1 - 4
Dependência; - 3 4 - 1 1 - 9
Dificuldade comunicativa; 3 1 2 1 2 - - 9
Total de Laudos* 22 9 23 5 10 4 4
* Número total de laudos analisados por região.
Fonte: dados coletados pela autora.
93
94

O fator de risco dificuldade comunicativa foi verificado em


crianças que apresentavam um atraso no desenvolvimento da fala, que
tinham dificuldade de falar sobre seus sentimentos e percepções com os
genitores ou com a psicóloga que realizou a perícia psicológica.
Enquanto que o fator de risco dependência esteve relacionado a mães
que consideram que apenas elas têm a capacidade para entender e
atender as necessidades dos filhos, não favorecendo o desenvolvimento
de autonomia dos mesmos, ou a genitores que transmitem aos filhos seu
medo ou receio em relação às atitudes do outro genitor. O exemplo a
seguir, descrito no laudo, demonstra essas situações:
Filha introjetou a insegurança e o medo da mãe.
Acredita que o pai possa fugir, levando-a junto.
Não tem coragem de falar com ele sobre esse
medo porque imagina que o deixaria triste. De um
modo geral, filha não se sente segura para falar
com o pai sobre suas dificuldades emocionais e
prefere permanecer angustiada a magoá-lo (L29).
O exemplo citado demonstra que as crianças, muitas vezes,
sofrem por questões que não são resolvidas entre os genitores e são
passadas para elas através de falas, comportamentos e emoções dos
genitores. No entanto, pesquisas indicam que apesar de as crianças
serem expostas a muitos desafios e mudanças a partir da
separação/divórcio dos pais, a maior parte delas apresenta um bom
ajustamento e não demonstra problemas emocionais ou
comportamentais permanentes (Raposo et al., 2011; Amato, 2001).
Para temperamento difícil, fator de risco caracterizado por alto
nível de humor negativo, medo, timidez e raiva; e dificuldades sociais
verificou-se que algumas crianças apresentavam alterações
comportamentais que podem estar relacionadas à presença do alto
conflito entre os genitores e que dificulta seu processo de
desenvolvimento. Conforme exemplo, descrito no laudo, a seguir:
Dificuldade em aceitar limites; negação de
sentimentos (chora e diz que não está chorando;
que não fica triste, chateado, nem com raiva do
que ocorre); sinais de humor deprimido;
autoflagelação (com uma tesoura fez cortes nos
braços, arranhava-se e arrancava cabelos); medo
de escuro; regressão (dificuldade para tomar
banho sozinho, vestir-se, acordar, alimentar-se);
afeto embotado (pobre expressão de afeto e de
95

espontaneidade); mentiras; agressividade; mostra-


se frágil e queixosa (L1).
De acordo com Nunes-Costa et al. (2009), intenso conflito
interparental após o processo de separação conjugal, unido a variáveis
como características da própria criança e os recursos ambientais
disponíveis pode gerar padrões de comportamento na criança diferentes
do esperado, com repercussões negativas para seu desenvolvimento. O
exemplo citado apresenta informações de uma criança que está
demonstrando alto nível de sofrimento com as vivências familiares e
que se não for acompanhada por profissionais e vivenciar mudanças na
dinâmica familiar, tende a ampliar os malefícios para sua saúde física e
emocional.
O fator de risco avaliação distorcida dos motivadores da
separação/divórcio foi apresentado por cinco crianças que
responsabilizam a madrasta ou padrasto pela separação dos pais,
colocando-se a favor do genitor que foi “traído” pelo outro; convivem
com duas histórias, muitas vezes contraditórias, referentes à separação
dos genitores; ou, confundem o rompimento do vínculo conjugal com
abandono à família.
Durante a entrevista foi possível perceber que a
menina dirige sentimentos negativos à madrasta
por culpá-la pela separação dos pais. Filha admitiu
que gostaria de ver seus genitores juntos
novamente, fantasia comum aos filhos de pais
separados, e vê na madrasta o maior impedimento
para que isso ocorra (apesar de sua mãe também
manter um relacionamento estável, não dirige os
mesmos sentimentos hostis ao padrasto) (L16).
Segundo Pedro-Carroll (2001), as crianças tendem a não desejar
a separação/divórcio dos pais, sendo que aquelas que se culpam têm
demonstrado mais dificuldade de enfrentamento às mudanças geradas
em suas vidas. Dessa forma, a atribuição de culpa a uma pessoa de fora
do núcleo familiar que está vivenciando a separação/divórcio, no caso a
madrasta ou padrasto, pode ser uma forma que a criança encontra de
lidar com as emoções negativas geradas por essa situação em sua vida.
O exemplo citado demonstra uma situação em que a criança “escolhe”
uma pessoa para atribuir a culpa pelo divórcio, podendo assim, de
alguma forma, alimentar seu desejo pela união de pai e mãe.
96

Na tabela 10, é apresentada a frequência de ocorrência dos


fatores de proteção da categoria fatores individuais (crianças), sendo
distribuídos de acordo com a região que as famílias residiam. Ao
contrário da baixa ocorrência de fatores de risco da categoria fatores
individuais (crianças), encontra-se uma maior ocorrência de fatores de
proteção, sendo os mais frequentes: boa capacidade comunicativa (44
ocorrências) e competência cognitiva (28 ocorrências). A maior
ocorrência de fatores de proteção demonstra que a maior parte das
crianças apresenta características individuais favoráveis a um
desenvolvimento saudável, podendo este ser comprometido de acordo
com a dinâmica familiar estabelecida. Em nenhum dos laudos
analisados, foram observadas informações sobre conhecimentos realistas
dos motivadores da separação/divórcio; quando foi relatada alguma
questão sobre o conhecimento das crianças dos motivadores da
separação/divórcio, esses eram distorcidos e contraditórios.
O fator de proteção boa capacidade comunicativa foi
evidenciado a partir de crianças que demonstravam facilidade em
manter um diálogo, compreendendo os questionamentos e respondendo
de forma clara, além de demonstrarem facilidade para comunicar
pensamentos, sentimentos e acontecimentos relativos às suas vivências.
Já a competência cognitiva foi verificada quando a criança demonstrava
raciocínio, compreensão, aprendizagem, atitudes e brincadeiras
compatíveis com sua idade.
A competência social envolve facilidade de estabelecer relações
sociais, seja com colegas, familiares, genitores ou profissionais, como a
perita. O temperamento fácil, caracterizado por humor positivo e senso
de humor, foi identificado nas crianças que apresentaram
comportamentos compatíveis com estas características durante a perícia
ou através do relato dos genitores.
A partir dos resultados da presente pesquisa é possível verificar
que as crianças apresentam uma série de características individuais que
favorecem sua adaptação às mudanças geradas pelo processo de
separação/divórcio dos genitores. Essas características individuais
favorecem a proteção dessas crianças, resultado identificado em
pesquisas especializadas (Raposo et al., 2011; Nunes-Costa et al., 2009;
Kelly & Emery, 2003; Pedro-Carroll, 2001).
Tabela 10 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de proteção da categoria fatores individuais
(crianças).

Fatores de proteção da categoria fatores individuais


(crianças)
Total

Lages
Palhoça
Tubarão

Joinville

Criciúma

Blumenau
Florianópolis
Avaliação realista dos motivadores da separação/divórcio; - - - - - - - -
Temperamento fácil (caracterizado por humor positivo e
6 3 - 2 - 1 1 13
senso de humor);
Competência social; 5 4 6 1 1 3 2 22
Competência cognitiva; 9 4 5 2 2 3 3 28
Boa autoestima; - 2 1 - - - 1 4
Autonomia; - 2 2 - - - 1 4
Boa capacidade comunicativa; 14 7 7 2 7 3 4 44
Total de Laudos* 22 9 23 5 10 4 4
* Número total de laudos analisados por região.
Fonte: dados coletados pela autora.
97
98

A frequência de ocorrência dos fatores de risco da categoria


fatores intrafamiliares, é apresentada na tabela 11, sendo distribuída de
acordo com a região que as famílias residiam. Os fatores de risco da
categoria fatores intrafamiliares foram os que apresentaram maior
ocorrência entre os fatores analisados nesta pesquisa, dado que
corrobora outros estudos (Raposo et al., 2011; Nunes-Costa et al., 2009;
Kelly & Emery, 2003; Pedro-Carroll, 2001) em que foi evidenciada a
importância dos fatores intrafamiliares no risco para o processo de
adaptação de crianças à separação/divórcio dos pais. Os fatores de risco
intrafamiliares que apresentaram ocorrência em mais de metade dos
laudos analisados foram: conflito interparental (55 ocorrências),
comunicação disfuncional (49 ocorrências) e conflitos no exercício da
parentalidade (48 ocorrências); e que apresentaram ocorrência em quase
metade foram: descontrole emocional dos genitores (37 ocorrências) e
ausência de relação com o genitor não residente (37 ocorrências).
O fator de risco conflito interparental era esperado na amostra,
considerando o fato de tratar-se de ex-casais em litígio judicial. No
entanto, a maior parte dos processos de dissolução conjugal implica em
algum tipo de conflito, sendo importante conhecer a frequência,
intensidade e conteúdo dos mesmos, além do quanto às crianças são
expostas diretamente a ele, para que se possa verificar o quanto e de que
forma o conflito está influenciando as vivências das crianças. King e
Heard (1999) chamam atenção para o fato de que nem todo tipo de
conflito é mau; pode ser considerado positivo quando indica que o
genitor não residente continua presente na vida de seus filhos. Enquanto
que a ausência de conflito, não indica, necessariamente, que os pais se
dêem bem, pois pode indicar que os genitores estão se afastando, como
uma forma de evitar situações que gerem ansiedade e hostilidade, mas
distanciando os filhos do genitor não residente (King & Heard, 1999).
Os conflitos interparentais verificados foram permeados por
situações: a) que envolviam os filhos no conflito; b) pela não aceitação
da separação conjugal; c) por não acreditar que o outro genitor possa ter
condições de exercer a parentalidade; d) pelo não cumprimento dos
acordos feitos entre o ex-casal; e) pela ocorrência de violência entre o
ex-casal; f) pelo envolvimento de terceiros no conflito; g) por acusações
mútuas, com registro de boletins de ocorrência. A redução ou
perpetuação do conflito conjugal após a separação/divórcio tem sido
definida como um dos principais fatores que contribuíram ou não para a
melhora na qualidade de vida familiar (Amato, 1994; Souza, 2000;
Kelly & Emery, 2003; Ramires, 2004; Cano et al., 2009).
Tabela 11 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de risco da categoria fatores intrafamiliares.

Fatores de risco da categoria fatores intrafamiliares


Total

Lages
Palhoça
Tubarão

Joinville

Criciúma

Blumenau
Florianópolis
Conflito interparental; 15 7 15 3 7 4 4 55
Comunicação disfuncional; 9 5 20 3 5 4 3 49
Psicopatologia parental; 4 - 4 1 3 1 - 13
Descontrole emocional dos genitores; 9 1 14 2 7 3 1 37
Ausência de relação com o genitor não residente; 10 2 15 1 4 2 3 37
Relação negativa com os irmãos; - - - - - 1 - 1
Pais com histórico de violência em sua família de origem; 1 - 2 1 2 - - 6
Conflitos no exercício da parentalidade; 12 2 20 1 7 4 2 48
Vivência de uma nova separação/divórcio de um dos genitores; - - - - 0 1 - 1
Recasamento dos genitores; 6 2 6 1 2 1 2 20
Uso de álcool e outras drogas; 4 - 4 1 3 - - 12
Total de Laudos* 22 9 23 5 10 4 4
* Número total de laudos analisados por região.
Fonte: dados coletados pela autora.
99
100

Como já referido neste trabalho, as crianças que vivenciam


situações de confrontos e discordâncias entre os genitores tendem a
apresentar altos níveis de estresse. O exemplo a seguir apresenta uma
situação de envolvimento dos filhos no conflito interparental, no qual, as
crianças são prejudicadas pelas posturas assumidas pelos genitores:
Observo, em pai e mãe, uma dificuldade
importante na relação que estabelecem entre eles,
e parecem utilizar as filhas como mote, como se
elas fossem o território ideal para suas batalhas.
Dificuldade antiga, presente, muito
provavelmente, desde antes do casamento, que foi
permeado por brigas e pequenas separações,
segundo relatos de ambos. Dificuldade que
repercute diretamente na qualidade do exercício
da parentalidade de pai e mãe. Tão enredados
estão no litígio, que na hora de conviver com as
filhas, estão irritados, sem paciência, não as
poupando de comentários desabonadores acerca
do outro (L64).
Kelly (2007) afirma que, apesar da importância do contato da
criança com ambos os genitores, o contato frequente com genitores que
estão mentalmente doentes, que estão comprometidos pelo abuso de
substâncias, que apresentam condutas violentas ou práticas parentais
pobres, podem afetar negativamente a criança, independente de serem
genitores residentes ou não residentes. No exemplo citado, é possível
verificar que os pais se envolvem de tal forma no conflito conjugal, que
não percebem os prejuízos que podem estar causando na vida das filhas.
Dessa forma, é importante o papel dos profissionais que têm contato
com esses genitores, no sentido de orientá-los a buscarem auxílio
profissional relativos às limitações apresentadas.
De acordo com Kelly (2007), pesquisas referem que o contato
frequente e regular do filho com o genitor não residente, nos casos de
casais com baixo nível de conflito, foi associado à maior ajustamento da
criança aos processos oriundos da separação conjugal. Enquanto que, no
contato frequente entre a criança e o genitor não residente, em famílias
onde o conflito entre o ex-casal é intenso, foi verificado um pior
processo de adaptação das crianças; o que foi associado ao fato de que
surgem mais oportunidades, entre o ex-casal, para conflitos e
hostilidades na presença da criança. Além disso, foi verificado que as
crianças de ex-casais, com alto nível de conflito, que conseguem
protegê-las de cenas de brigas e hostilidade, apresentam resultados
101

semelhantes aos filhos de ex-casais com baixo nível de conflito (Kelly,


2007; Kelly & Emery, 2003). A partir desses resultados, Kelly (2007)
afirma que cada vez mais tem sido utilizado como prática entre os ex-
casais as “transições neutras” das crianças, ou seja, aquelas que ocorrem
sem o contato direto entre os pais, por exemplo, o pai leva a criança e a
mãe busca.
A ocorrência de violência física entre o ex-casal pode ser
considerada a forma mais explícita de manifestação de hostilidade entre
os ex-cônjuges, sendo esta, muitas vezes, presenciada pelos filhos. O
exemplo abaixo demonstra uma situação desse tipo:
Filha2 contou que "o pai deu um pau na mãe"
(sic), referindo-se ao episódio recente de agressão
entre seus pais, presenciado pela menina. Pai e
filho1 contaram que o pai estava em sua casa com
uma namorada, e que mãe jogou um pedaço de
madeira nele, e o pai retrucou. Filho1 não
presenciou a cena, mas disse que a própria mãe
contou-lhe desta maneira (L6).
As “transições neutras”, propostas por Kelly (2007), podem ser
uma opção interessante de proteção aos filhos, para os casais, como
muitos apresentados na presente pesquisa, que mantém um
relacionamento conflituoso, com inúmeras manifestações de hostilidade
na presença das crianças. O exemplo citado demonstra como as
situações de conflito e, até mesmo, de violência física podem ser
tratadas de forma banalizada entre os membros da família, o que
contribui para que as crianças passem a naturalizar vivências violentas.
Em algumas famílias, o conflito interparental é reforçado pelo
fato de um dos genitores acreditar que o outro não tem condições de
exercer a parentalidade de forma efetiva, podendo colocar os filhos em
situações de risco. Essa situação ocorre: a) a partir de vivências em que
são identificados indicadores de risco para a criança (ex. negligência,
violência física e/ou sexual); b) pelo fato de um dos genitores ser
condenado à prisão (ex. tráfico de drogas) c) a partir de situações
fantasiosas, como temor excessivo ou indicadores não comprovados de
risco para criança. A dificuldade em avaliar se existe ou não risco ao
desenvolvimento da criança, muitas vezes, faz com que o juiz solicite a
perícia psicológica. No exemplo a seguir, a mãe questiona o exercício da
parentalidade pelo pai, no entanto, não apresenta nenhum relato
consistente sobre situações de negligência vivenciada pela filha:
102

Mãe considera o pai relapso e acredita que ele não


dispensa cuidados competentes à filha de um
modo geral: higiene, segurança, cuidados para
atravessar a rua, pegar sol, entrar no mar, proteger
do frio, monitorar o que assiste na televisão,
dentre outras coisas (L76).
Em pesquisa realizada por Grzybowski e Wagner (2010b), com
pais e mães separados/divorciados, foi verificado que os genitores que
coabitam com a criança, geralmente as mães, tendem a sentir-se “donos”
da educação dos filhos, sentindo seus esforços educativos ameaçados
pela convivência da criança em outra casa, que possui diferenças nesses
aspectos; enquanto que os genitores que não coabitam com as crianças,
geralmente os pais, consideram que os hábitos e rotinas divergentes são
salutares para as crianças, como forma de experiência. Alguns pais,
participantes da pesquisa de Brito et al. (2010), afirmaram que muitos
homens gostam de cuidar dos filhos, no entanto, executam as tarefas
parentais de forma diferente das mulheres, o que não quer dizer que
executem de forma inadequada. O exemplo citado juntamente com os
resultados dessa pesquisa demonstram o quanto pode ser difícil para a
mulher lidar com as mudanças sociais que autorizam pai e mãe a
exercerem a parentalidade de forma conjunta, fato que pode gerar uma
série de conflitos entre o casal parental.
Para pai e mãe separados, a comunicação e necessidade de
acordar situações relativas aos filhos é algo fundamental para o
exercício da parentalidade, podendo gerar ou intensificar conflitos
existentes na relação do ex-casal. Quando pai e mãe residem em
cidades, ou mesmo, estados diferentes, como ocorre no exemplo a
seguir, a necessidade de combinados claros e que sejam cumpridos por
ambos os genitores é fundamental:
Pai queixa-se de que mãe não mantém os
combinados, gerando ansiedade até mesmo nos
adultos que se relacionam com ela. O pai refere-se
ao clima tenso diante da imprevisibilidade das
visitas. Segundo ele, a mãe não tem atitudes
razoáveis e muda de ideia sem nenhum motivo ou
explicação. Já aconteceu de precisar transferir
passagens aéreas e cancelar reservas de hotel
porque a mãe colocou o filho no carro dos avós
que vinham para (cidade próxima a cidade de
residência do pai) num final de semana, no qual,
103

estava programado que a visita acontecesse em


(cidade de residência da mãe) (L61).
Os genitores costumam buscar locais e profissionais que
possam testemunhar ou atestar as questões relativas ao conflito
interparental, o que, em muitos casos, reforça os desacordos entre os
genitores, ocasionando o distanciamento de um deles em relação aos
filhos, como no exemplo a seguir.
Pai e mãe, na separação, inicialmente
estabeleceram combinações acerca da guarda, da
pensão alimentícia e das visitas. No entanto, a
relação foi se deteriorando e uma sucessão de
denúncias via Boletins de Ocorrência e
desacertos, idas ao Conselho Tutelar e Instituto
Médico Legal culminou na mudança de endereço
de filho, que passou a morar com o pai sem que o
fato tenha sido acordado entre eles. Em
decorrência, deu-se a busca e apreensão do
menino que voltou a morar com a mãe, tendo o
pai se afastado do filho por período considerável
(L50).
O conflito conjugal é parte natural do processo de terminar um
relacionamento e de desligar-se emocionalmente do parceiro, conforme
verificado nos exemplos L64, L6, L76, L61 e L50. São inúmeras as
situações que podem reforçar o conflito entre os genitores. Dessa forma,
é essencial que o par parental esteja engajado na busca por controlar as
manifestações de raiva, hostilidade e desconfiança, principalmente na
presença dos filhos. A relação parental conflituosa costuma estar
relacionada ao emaranhamento dos problemas conjugais na relação
parental, sendo apontada como o fator de risco com maior impacto no
ajustamento da criança à separação/divórcio dos pais (Raposo et al.,
2011; Kelly & Emery, 2003; Amato, 2000).
O fator de risco comunicação disfuncional ocorreu na
comunicação entre os ex-cônjuges e na comunicação dos genitores com
os filhos. A comunicação disfuncional entre os ex-cônjuges ocorreu: a)
a partir de divergências sobre as situações vividas pela família; b)
ausência de comunicação, sendo necessário o envolvimento de terceiros;
c) não conseguir chegar a acordos, gerando situações de
constrangimento a eles e aos filhos.
A comunicação envolve uma constante troca de mensagens que
podem ocorrer através de canais verbais e não verbais. A comunicação
funcional é aquela em que ocorre, de forma clara e direta, o
104

cumprimento de sua função, dar e obter informações. Para Watzlawick,


Beavin e Jackson (1985), a comunicação não pode ser entendida como
um simples modelo de ação e reação, sendo que as perturbações de
comunicação em um sistema interacional podem estar relacionadas às
dificuldades de relacionamento entre os indivíduos e, também, ao
desenvolvimento de psicopatologia. Sistemas interacionais envolvidos
em comunicações disfuncionais tendem a perder-se em críticas,
acusações e duplas mensagens, demonstrando dificuldade para que um
indivíduo se coloque no lugar do outro, buscando entender suas
percepções e emoções, e rigidez e impossibilidade de buscar outras
formas de resolver os problemas.
Situações como a relatada no exemplo a seguir, tendem a
inviabilizar uma comunicação funcional entre os ex-cônjuges, pois as
narrativas de cada genitor são construídas no intuito de confirmar sua
competência parental e desqualificar o outro genitor, gerando confusão e
duplicidade de fatos para aqueles que buscam compreender a relação
entre eles:
No relato de pai e mãe, nota-se acusações mútuas,
permeadas por detalhes, testemunhas, agressões,
etc., que são difíceis de verificar a veracidade dos
fatos (L42).
A comunicação entre os ex-cônjuges é fator importante para os
ajustamentos familiares necessários ao processo de separação/divórcio.
A maioria dos ex-cônjuges que se encontra em litígio judicial apresenta
grandes dificuldades para comunicar os seus pensamentos a respeito da
guarda e condições de acesso aos filhos, ao outro genitor, o que tende a
criar desacordos e desentendimentos na presença da criança. No
exemplo a seguir, é demonstrada uma situação em que o filho é
diretamente prejudicado em sua rotina e convívio com os genitores pela
dificuldade que os mesmos têm em se comunicar:
O menino já passou por situações constrangedoras
devido aos atritos dos pais. O fato descrito no
processo de quando filho foi à escola sem material
e uniforme é um exemplo e foi trazido também
para as entrevistas. O pai estendeu o período da
visita que deveria terminar à noite para a manhã
do dia seguinte e quando passou na casa da mãe
para que filho vestisse a roupa da escola e pegasse
o material necessário, mãe não atendeu, segundo
ela, no intuito de dar uma lição no filho, não
percebendo que ele sairia prejudicado (L8).
105

Quanto à comunicação disfuncional envolvendo genitores e


filhos, ocorreu de um ou ambos os genitores: a) responsabilizar os filhos
pela comunicação entre os genitores; b) não exercer uma escuta
cuidadosa em relação às questões apresentadas pelos filhos; c) utilizar
uma linguagem incompatível com a idade dos filhos; d) expor a criança
a informações inapropriadas referentes ao conflito conjugal.
Envolver os filhos na comunicação entre os genitores costuma
ser uma estratégia criada pelo ex-casal para evitar o conflito direto entre
pai e mãe, no entanto, esta é uma estratégia bastante falha, pois coloca
os filhos como responsáveis por algo que os adultos não estão
conseguindo manejar, o que tende a criar um desgaste emocional para as
crianças, e possibilitar novos desencontros entre o casal. Dantas et al.
(2004) afirmam que a comunicação entre os ex-cônjuges costuma ser
pequena , após a separação conjugal, sendo, muitas vezes, intermediada
pelos filhos. Nos exemplos a seguir, as crianças são colocadas no papel
de mediadoras da relação entre seus genitores:
Com relação à situação dos pais, filho deixou
claro que estava se percebendo como „o carinha
que manda mensagens‟(sic), referindo-se ao fato
de levar recados de um para o outro (L49).
Quando o filho retorna depois do horário
determinado para a visita, a mãe demonstra sua
insatisfação e responsabiliza-o, dizendo que
precisa programar-se e conversar com o pai para
evitar atrasos. Considera-se obrigada a falar sobre
o assunto com a criança porque com o pai não
consegue resolver, desconsiderando que, do ponto
de vista emocional e desenvolvimental, filho não
está apto para assumir tal função (L8).
Foi verificado a partir dos resultados da presente pesquisa que
muitos genitores estabelecem uma postura de não responsabilidade em
relação às dificuldades presentes na dinâmica familiar após o divórcio,
afirmando que o outro genitor é que é o responsável pelos desacordos,
brigas e hostilidades manifestas nas interações entre os ex-cônjuges.
Essa postura demonstra que os genitores têm dificuldade em
responsabilizar-se pelas situações vividas, o que permitiria a reflexão
sobre que comportamentos e posturas podem ser modificadas, com o
objetivo de estabelecer maior bem estar para os membros da família. A
dificuldade em perceber a si e ao outro genitor, com posturas
complementares, que intensificam o conflito, costuma estar atrelada a
106

uma dificuldade de demonstrar empatia em relação à posição dos filhos


em uma dinâmica familiar conflituosa. O exemplo a seguir apresenta
uma situação desse tipo:
No entanto, em nenhum dos genitores, o discurso
da filha provoca reflexão, tampouco mudança. Os
pais não têm escuta para as questões apresentadas
por filha. Tanto o pai quanto a mãe assumem o
papel de quem é o correto e colocam o outro no
papel de errado e culpado. Ambos tentam trazer a
filha para o seu lado (L29).
A postura dos ex-cônjuges citada anteriormente, além de
dificultar a percepção e escuta em relação aos filhos, pode contribuir
para que os pais percebam as crianças como “iguais”, apresentando para
elas racionalizações e explicações que não podem ser compreendidas
pelas mesmas ou estabelecendo uma relação de troca de confidências e
angústias que a criança não tem desenvolvimento psicológico para
assimilar ou processar. O exemplo a seguir demonstra esse tipo de
situação:
Os procedimentos utilizados mostram que o pai
utiliza-se de uma linguagem e de uma lógica
predominantemente adulta para interagir com os
filhos. Pai vale-se de explicações, racionalizações
e argumentos que não fazem sentido para a
criança. Além disso, nas sessões de psicoterapia
fica planejando um relacionamento futuro e não
consegue estabelecer relação no momento atual
(L39).
O fator de risco conflitos no exercício da parentalidade ocorreu
devido ao fato de os genitores: a) não conseguirem estabelecer acordos
em relação às questões que envolvem os filhos; b) não desejarem ter o
contato com o outro genitor; c) em uma família, por nenhum dos dois
desejar se responsabilizar pelos cuidados com o filho. Em algumas
famílias, os genitores demonstraram o desejo de conseguir manter um
diálogo cordial referente às questões dos filhos, sendo que, nessas
situações, segundo informações contidas nos laudos, as peritas fizeram
um trabalho de orientação para auxiliá-los nessa tarefa.
De acordo com Nunes-Costa et al. (2009), o padrão coparental,
nos primeiros anos após a separação, é marcado por altos índices de
conflito e descomprometimento na educação dos filhos. A distância
física que se estabelece entre os genitores, as dificuldades em diferenciar
107

as questões conjugais da relação coparental e a diminuição do


envolvimento do genitor não residente são os principais fatores que
contribuem para a ocorrência dessa situação (Nunes-Costa et at., 2009).
No exemplo a seguir, fica claro que as dificuldades de relacionamento
entre os ex-cônjuges interferem no exercício da parentalidade, de tal
forma, que as crianças possuem dois planos de saúde, pois os pais não
conseguiram compartilhar o uso de um mesmo plano:
(Pai) Disse que as brigas entre pai e mãe são
sempre muito relacionadas ao dinheiro, pensão,
despesas. Negou ter desvinculado as crianças de
seu plano de saúde (mostrou as carteirinhas
atuais), e disse que os meninos podem usá-lo.
Como mãe fez outro convênio, filho1 e filho2 têm
dois planos de saúde a sua disposição (L27).
Como o verificado a partir dos conteúdos dos laudos, Horvath
et al. (2002) afirma que muitos casos de litígio judicial pela guarda dos
filhos envolvem pais qualificados para o exercício da parentalidade, no
entanto, que não conseguem manter uma relação saudável entre si.
Segundo Féres-Carneiro (2003), é importante lembrar que o lugar da
criança precisa ser assegurado, pois o casal parental continua a existir,
independente da separação conjugal. Dessa forma, as sentenças judiciais
têm um impacto fundamental nas dinâmicas das famílias, pois a partir
delas é possível definir, reestruturar, modificar, empobrecer/enriquecer
as relações familiares, promovendo assim, rupturas ou uniões entre seus
membros (Costa et al., 2009). No exemplo a seguir, apesar de os
genitores estarem qualificados para o exercício da parentalidade, pai
demonstra uma postura de desejar excluir a mãe da vida do filho:
Os procedimentos utilizados demonstram que o
pai apresenta conduta característica de pais que
pretendem evitar que se estabeleça ou se
mantenha uma convivência saudável entre o filho
e o outro genitor, quadro denominado pela
literatura especializada de alienação parental
(Souza, 2010) (L57).
O descontrole emocional dos genitores envolveu situações: a)
de descontrole de impulsos; b) exposição das crianças a conteúdos
emocionais intensos; c) não aceitação das definições judiciais ou desejos
dos filhos; d) descontrole emocional em relação aos filhos, expondo-os a
situações de violência.
108

Foi verificado que as situações de descontrole emocional


ocorrem tanto para homens quanto para mulheres, expondo os filhos a
situações de risco para seu desenvolvimento. O descontrole emocional
das mães envolveu situações: a) de proferir ofensas em relação ao pai na
presença dos filhos; b) cautela exagerada e desconfiança em relação ao
pai; c) não respeitar os momentos em que filho permanece com o pai; d)
não respeitar a decisão do filho de ficar com o pai; e) expor a criança a
violência física e humilhações. Enquanto que, o descontrole emocional
dos pais envolveu situações: a) de proferir ofensas em relação à mãe na
presença dos filhos; b) violência física e uso de arma de fogo em
conflito entre pai e padrasto; c) depositar na criança mágoas e
frustrações referentes à relação com a mãe; d) não respeitar a decisão do
filho de ficar com a mãe; e) expor a criança a violência física e
humilhações.
Nos primeiros anos após a separação conjugal, os genitores
tendem a se preocupar com as suas próprias respostas emocionais, bem
como com questões relacionadas às suas rotinas profissionais e sociais,
o que tende a prejudicar suas práticas parentais e favorecer
comportamentos de descontrole emocional (Nunes-Costa et al., 2009;
Kelly & Emery, 2003). Situação demonstrada no exemplo a seguir:
Apresentando importantes dificuldades para
desligar-se das situações e mágoas vividas a partir
da relação conjugal frustrada no passado, pai não
consegue preservar a filha da influência de um
conflito que não diz respeito a ela. Ocupado de
seus sentimentos, o pai não percebe que deposita
na criança de onze anos suas mágoas e
frustrações, sufocando-a emocionalmente (L29).
Hetherington (1999) ressalta que os pais não residentes têm
menos oportunidades de atenuar os efeitos negativos gerados por
comportamentos de descontrole emocional por parte do genitor
residente. O exemplo a seguir demonstra uma situação desse tipo, em
que o descontrole emocional da mãe interfere, também, nos momentos
em que a criança está com o genitor não residente:
De acordo com os relatos de pai, quando o filho
está em sua companhia, a mãe liga
insistentemente para a criança, chora, fala sem
parar, diz que está com muita saudade, que o avô
comprou presente e que vai morrer se ele não
voltar logo. Chega a efetuar quinze ligações no
109

mesmo dia e quando o pai não atende, começa a


mandar uma mensagem atrás da outra (L61).
O fator de risco ausência de relação com o genitor não
residente reflete uma das principais mudanças na vida de muitas
crianças após a separação/divórcio dos pais, segundo a literatura
especializada (Brito, 2007; Kelly & Emery, 2003). A ocorrência da
ausência de relação da criança com o genitor não residente esteve
relacionada: a) ao fato de o vínculo entre o genitor e a criança não ter
sido construído de forma sólida durante o período da relação conjugal
entre os genitores; b) ter ocorrido um período de afastamento entre o
genitor e a criança após a separação conjugal o que comprometeu o
vínculo estabelecido; c) os filhos estarem envolvidos no conflito
conjugal dos genitores, posicionando-se favoráveis a um deles. Em duas
famílias, cada um dos dois filhos do casal ficou sob a guarda de um dos
genitores, o que favoreceu o distanciamento do genitor não residente e,
em outra família, a madrasta assumiu lugar e função materna,
favorecendo o distanciamento da mãe.
A separação conjugal costuma ser concretizada com a saída de
um dos genitores da residência familiar. Geralmente quem sai é o pai,
haja vista que geralmente a guarda dos filhos é atribuída à mulher.
Segundo Kelly e Emery (2003), essa ausência do genitor costuma ser
angustiante, dolorosa e estressante para as crianças, principalmente para
aquelas que apresentam forte ligação com o genitor que realiza a
mudança. Em algumas famílias, essa ausência passa a ser total,
geralmente, devido a desacertos e conflitos entre os genitores, como no
exemplo a seguir:
Após alguns conflitos que culminaram com uma
aplicação de Medida Protetiva que obrigava pai a
não se aproximar nem manter contato com mãe
houve também a suspensão de seu direito de
visitas, período que acabou consolidando o
afastamento entre pai e filha. No momento em que
foram restabelecidas as visitas, filha mostrava-se
muito resistente a manter contato com o pai
novamente, por isso o encaminhamento para que
os encontros iniciassem de forma supervisionada
por esta profissional (L3).
Segundo Nunes-Costa et al. (2009), em estudo sobre a
adaptação psicossocial de crianças de pais separados, a cooperação, o
respeito e a comunicação dos genitores na educação dos filhos, consiste
110

em um fator de proteção para os filhos, assim como, o envolvimento e o


vínculo emocional entre crianças e o genitor não residente associado a
um estilo parental democrático influencia o bem-estar da criança,
contribuindo para seu rendimento escolar e estado de saúde. Esses
resultados reforçam a importância de os genitores não adotarem posturas
que estimulem a lealdade a si e favoreçam a exclusão do outro genitor
na vida das crianças, pois os prejuízos gerados por essas posturas
recaem diretamente no desenvolvimento dos filhos. Situação
demonstrada no exemplo a seguir:
(Filhos) Eles apresentam uma imagem paterna
construída a partir do discurso materno e
vivenciam dificuldades emocionais diante de um
contato afetivamente próximo com o pai,
percebendo inclusive o descontentamento da mãe
diante desta possibilidade (L72).
Foi possível verificar através deste estudo que em algumas
famílias o vínculo entre um genitor (nos casos verificados o pai) e filhos
não é construído ou fortalecido durante a relação conjugal entre os
genitores, geralmente em situações em que a relação pai-criança é
sempre mediada pela mãe. Essas situações tendem a comprometer
gravemente a relação da criança com o pai, costumando ser necessária a
intervenção de profissionais no sentido de restabelecer o contato ente pai
e filhos. No exemplo a seguir, essa situação foi favorecida pelo fato de
os genitores não terem residido juntos durante a relação conjugal, sendo
que esses residiam em cidades diferentes, o que diminuía o contato entre
pai e filha:
Aqui tratamos de um caso em que o vínculo não
estava fortemente consolidado, e a tarefa de
modificar este quadro agora pertence
exclusivamente ao genitor, sem a mediação, que
sempre houve, da genitora (L70).
O recasamento dos genitores foi identificado como fator de
risco para 20 famílias, por apresentar problemáticas relativas a: a)
envolvimento do outro genitor no sentido de prejudicar a imagem da
madrasta ou padrasto para a criança; b) interferência negativa da
madrasta ou padrasto na relação da criança com o outro genitor; c)
violência física ou sexual praticada pelo padrasto ou madrasta em
relação à criança; d) conflito conjugal presenciado pelas crianças entre o
genitor e madrasta ou padrasto.
111

Kelly e Emery (2003) em seu estudo referem uma série de


informações sobre o recasamento dos genitores; indicam que a maior
parte dos pais e mães irá casar-se novamente ou coabitar com um novo
parceiro, que o risco para crianças de genitores separados/divorciados
não diminui com o novo casamento dos genitores e que
aproximadamente um terço das crianças viverão em uma família que se
casou novamente ou amasiada antes da idade de 18 anos. Além disso,
afirmam que o risco presente no recasamento dos genitores é de que
essas novas relações sejam acompanhadas por novos conflitos
familiares, dificuldades no relacionamento de madrasta ou padrasto com
a criança e ambiguidades nos papéis familiares (Kelly & Emery, 2003),
o que corrobora os resultados da presente pesquisa.
O recasamento dos pais não é definido na literatura como fator
de risco ou proteção, pois isso depende de outros fatores da dinâmica
familiar, principalmente no que diz respeito à postura de pai, mãe,
padrasto e madrasta. Kelly e Emery (2003) indicam que para as crianças
o recasamento dos genitores pode ser estressante e problemático se
ocorrer em um período de tempo curto após a separação conjugal. O que
pode estar relacionado ao fato de as crianças ainda estarem em processo
de adaptação em relação às mudança de rotina e desgaste emocional
relacionados à separação conjugal e já sofrerem uma série de novas
mudanças advindas do novo casamento de um dos genitores. Nos
exemplos a seguir, é possível perceber que o recasamento dos pais pode
ser fator de risco na medida em que são utilizados como argumento para
o afastamento da criança de um dos genitores:
Filha disse ter conhecido a atual companheira do
pai numa visita em que ela participou, quando
foram ao Pesque Pague no município de
Armazém. Naquela ocasião, disse ter ficado com
uma boa impressão de madrasta, que a tratou bem,
mas posteriormente revelou ter dúvidas em
relação a ela (a partir de informações recebidas de
sua mãe), portanto não gostaria de voltar a
encontrá-la, pelo menos por enquanto (L3).
Mãe afirma que padrasto tem um filho de
relacionamento anterior, sendo que ele não
consegue aproximar-se da criança devido à
proibição do companheiro atual da mulher.
Igualmente, padrasto reprovou a aproximação do
pai de filha, segundo mãe. A genitora afirma que
112

esta situação foi alterada, pois padrasto passou a


assumir postura mais flexível (L11).
A psicopatologia parental foi relatada em situações: a) nas
quais o diagnóstico e tratamento ocorreu a partir de acompanhamento
médico recorrido pelo próprio genitor adoecido; b) foram identificados
indicadores de psicopatologia na perícia psicológica; c) o adoecimento
era um fato controverso entre os genitores; d) o adoecimento foi
utilizado como argumento para afastar o genitor da criança.
A forma como os pais lidam com a separação/divórcio,
incluindo seus níveis de sintomatologia psicopatológica, tem sido
relacionada com os níveis de ajustamento da criança (Raposo et al.,
2011; Nunes-Costa et al.,2009; Kelly & Emery, 2003). Dessa forma, a
segurança emocional da criança está relacionada ao mal estar parental
(Raposo et al., 2011). No exemplo a seguir, é verificado o adoecimento
de pai durante a perícia psicológica, sendo que sua postura vinha
trazendo prejuízos em sua vida pessoal e na relação com a filha:
A partir das características e da organização
psíquica apresentada pelo pai, é possível observar
a presença de indicadores de um quadro de
neurose obsessiva: isolamento marcado pela
distância interpessoal, emotividade reduzida e
inibição dos afetos que permanecem latentes e
aparecem com maior frequência no contexto da
passagem ao ato da violência; controle e rituais
obsessivos caracterizados pelos temas de ordem,
precisão e verificação; resposta imediata à
interrupção do controle obsessivo com reações
agressivas (BERGERET, 2006). Compulsões
também estão presentes nos comportamentos de
pai: nas condutas repetitivas e na adição ao uso do
computador (excesso de tempo, de gastos e prática
de condutas ilícitas) (L67).
Segundo Nunes-Costa et al. (2009), a depressão parental,
comum durante e após a separação conjugal, tem sido apontada como
fator de risco nas perturbações comportamentais de crianças e
adolescentes. No exemplo a seguir, é apresentado um caso em que a mãe
teve depressão pós-parto:
Constam nos autos documentos técnicos que
indicam que a mãe foi acometida por uma
depressão pós-parto que trouxe importantes
prejuízos à capacidade de ocupar o lugar de mãe e
113

a impossibilitou de atender às necessidades do


filho recém-nascido (RIVERA, 2002;
MALDONADO, 1997). A mãe passou por duas
internações em clínica psiquiátrica após o
nascimento do filho e deu continuidade ao
tratamento posteriormente. [...] A avaliação
psicológica da mãe não apresentou indicadores da
presença de sintomas de transtornos de humor na
atualidade. Os procedimentos utilizados
apontaram indicadores de competência parental
preservada, demonstradas suas possibilidades de
exercer adequadamente as funções maternas e
vincular-se positivamente ao filho depois de
recuperar-se da depressão pós-parto (L21).
A partir do exemplo citado, é possível verificar que em alguns
processos judiciais as justificativas para afastamente de um dos
genitores da criança pode ser fundamentada em questões que não dizem
mais respeito ao momento atual da família, ou em alguns casos, até
mesmo fantasiosas. Isso demonstra a importância dos processos de
perícia judicial como forma de entender melhor a complexidade das
questões envolvidas na dinâmica familiar, para que a partir disso o juiz
possa decidir qual a melhor conduta para proteção e bem estar do(s)
menor(es) envolvido(s) no processo.
O fator de risco, uso de álcool e outras drogas, foi apresentado
por ambos os genitores a partir do uso abusivo de bebida alcoólica,
ocasionando situações de agressões verbais e físicas, e uso de drogas,
como maconha e cocaína, na presença dos filhos. Outros fatores de risco
citados foram: pais com histórico de violência em sua família de
origem, tendo uma família, em que o irmão do pai foi condenado a
pagar cestas básicas por ter atirado na própria esposa; vivência de uma
nova separação/divórcio de um dos pais, este fator de risco ocorreu
apenas com uma família, em que a mãe se separou do companheiro que
agrediu fisicamente o filho o que acarretou a modificação da guarda,
sendo atribuída ao pai; relação negativa com os irmãos, também
ocorreu apenas com uma família, fato compreendido pela perita como
uma forma das crianças buscarem a atenção dos genitores.
Na tabela 12, é apresentada a frequência de ocorrência dos
fatores de proteção da categoria fatores intrafamiliares, sendo
distribuídos de acordo com a região que as famílias residiam. Os fatores
de proteção da categoria fatores intrafamiliares apresentaram menor
ocorrência do que os fatores de risco da mesma categoria, resultado
114

esperado considerando que a amostra da pesquisa é composta por


famílias em que o casal encontrava-se em litígio judicial. No entanto, a
ocorrência de todos os fatores de proteção, citados na revisão de
literatura, é um indicativo de que mesmo as famílias em litígio judicial
buscam preservar, de alguma forma, uma dinâmica familiar favorável ao
desenvolvimento dos filhos. Os fatores de proteção intrafamiliares de
maior ocorrência foram relação com o genitor não residente (40
ocorrências), relação sólida e saudável com pelo menos um dos
genitores (37 ocorrências). Esses fatores são citados em pesquisas
especializadas (Raposo et al., 2011; Nunes-Costa et al.,2009; Brito,
2007; Kelly & Emery, 2003) como fundamentais para um
desenvolvimento saudável das crianças.
Quanto ao fator de proteção relação com o genitor não
residente, observou-se que em muitas famílias o conflito entre os ex-
cônjuges prejudicou o contato das crianças com um dos genitores; no
entanto, as famílias que apresentaram esse fator de proteção
conseguiram manter o contato do genitor não residente com as crianças,
independente do conflito conjugal, ou já haviam passado por um
processo de diminuição do conflito que permitiu a reaproximação das
crianças ao genitor não residente. O exemplo a seguir demonstra esse
novo momento familiar:
Em relação ao direito de visita, mãe afirma ter
conseguido seu objetivo, já que filho e filha
passam quase a metade da semana com ela.
Afirma que o ex-casal tem conseguido negociar
trocas e atender relativamente à vontade das
crianças em relação às férias e demais ocasiões.
Acredita que a família vive um momento
harmonioso. Entretanto, continua querendo a
guarda dos filhos porque deseja retirar o poder das
mãos unicamente do pai. Ficaria satisfeita com o
compartilhamento da guarda (L53).
Tabela 12 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de proteção da categoria fatores intrafamiliares.

Fatores de Proteção da categoria fatores intrafamiliares


Total

Lages
Palhoça
Tubarão

Joinville

Criciúma

Blumenau
Florianópolis
Proteção do conflito interparental; 5 1 3 - 1 - - 10
Comunicação funcional; - 2 2 - 2 1 - 7
Bem estar psicológico dos genitores; 1 1 4 - 2 1 - 9
Controle emocional dos genitores; 4 3 5 - 1 - - 13
Relação com o genitor não residente; 11 7 8 4 6 2 2 40
Relação próxima com os irmãos; 5 2 3 3 4 1 - 18
Relação sólida e saudável com pelo menos um dos
11 6 10 3 3 2 2 37
genitores;
Exercício da parentalidade de forma conjuta entre os
2 2 1 - - - - 5
genitores;
Diminuição do conflito interparental após o
1 1 5 1 3 - 1 12
separação/divórcio;
Recasamento dos genitores; 6 3 7 3 4 3 1 27
Total de Laudos* 22 9 23 5 10 4 4
* Número total de laudos analisados por região.
Fonte: dados coletados pela autora.
115
116

A guarda compartilhada costuma ser vista como uma opção


para os genitores, quando o objetivo é dividir os cuidados dos filhos
com o ex-cônjuge, como no exemplo citado. A guarda compartilhada
costuma ser interessante como forma de compartilhar as
responsabilidades pelo(s) filho(s) entre pai e mãe, sem que um detenha
exclusivamente a responsabilidade pelas decisões relativas à(s)
criança(s), podendo optar por questões do dia a dia da(s) criança(s) de
forma a afastar ou dificultar o contato do genitor não residente com o(s)
filho(s). Em pesquisa, que investigou se o tipo de guarda influencia o
relacionamento entre pais divorciados e seus filhos, verificou-se que
independente de a guarda ser exclusiva ou compartilhada “é a
convivência dos ex-cônjuges que permitirá aos homens/pais não
residentes um contato mais próximo com os filhos, favorecendo o
relacionamento entre eles” (Alexandre & Vieira, 2009, p. 63).
Além do fato de manter relação com o genitor não residente,
Kelly (2007) ressalta a importância da qualidade da relação e do tempo
dispensado entre a criança e o genitor não residente. Define que um
envolvimento ativo por parte do genitor, deve apresentar
comportamentos como: a) oferecer ajuda na lição de casa, b) participar
de atividades relativas à rotina da criança, c) oferecer apoio emocional,
d) apresentar expectativas adequadas à idade da criança, e) exercer
autoridade parental. Segundo Kelly (2007), é interessante que para o
planejamento do tempo que a criança ficará com o genitor não residente
sejam considerados: a) a idade, b) o estágio de desenvolvimento da
criança, c) a qualidade do relacionamento entre o genitor não residente e
o filho, d) o interesse e investimento do genitor não residente na relação
com o filho. No exemplo a seguir, é apresentada a reaproximação entre
pai e filho que mantiveram um relacionamento distante, por um período,
devido a desentendimentos entre os ex-cônjuges:
Em relação ao pai, este se mostra motivado a
restabelecer o contato perdido por longo tempo
com o filho, e vem obtendo sucesso pelo pleito.
As visitas que foram intermediadas por esta
profissional ocorreram de forma tranquila para o
pai e para a criança, ocasiões em que houve a
oportunidade de uma reaproximação entre ambos.
Falou que tem ficado sempre que possível com o
filho, passando finais de semana alternados com o
menino, e conseguindo pegá-lo, também quando
tem folgas durante a semana. Disse que não há
117

impedimentos por parte de mãe quanto a isso


(L45).
Relação sólida e saudável com pelo menos um dos genitores é
considerado um importante fator de proteção para as crianças, nas
famílias em que o conflito interparental é intenso. Essa relação foi
evidenciada pelo vínculo afetivo positivo entre criança a pelo menos um
dos genitores, pelo oferecimento de um ambiente seguro, salutar e
afetivo para seu desenvolvimento, o que pode ser essencial para que a
criança supere as adversidades sofridas a partir do conflito entre seus
genitores.
Estudos relacionam a resiliência da criança a uma relação de
apoio com pelo menos um dos genitores ou responsáveis (Lamb &
Kelly, 2009; Pedro-Carroll, 2001). Pedro-Carroll (2001) afirma que
mães que são capazes de fornecer nutrição de alta qualidade no
relacionamento com os filhos conseguem amortecer o impacto negativo
criado pela separação conjugal. Segue um exemplo de um
relacionamento harmônico entre mãe e filhos, que pode protegê-los de
desafios oriundos das mudanças do processo de separação conjugal:
Para os filhos, a mãe mostra-se atenciosa, afetiva
e prestativa no sentido de acompanhar suas
atividades e interesses. Segundo relatos, na
companhia da mãe existe mais conversa, crédito,
confiança e colaboração mútua, sem ameaças e
ofensas. As crianças referem-se ao sentimento de
bem estar e estímulos positivos na casa materna
(L53).
Em 21 famílias, foi citada uma relação sólida e saudável da
criança com ambos os genitores. Uma relação harmônica com pai e mãe
é o ideal para a proteção das crianças do impacto gerado pela separação
conjugal dos genitores (Lamb & Kelly, 2009). Em pesquisa realizada
por Grzybowski e Wagner (2010a) foi verificado que o envolvimento
parental após o divórcio/separação está relacionado à coabitação,
frequência das visitas, ocupação e escolaridade dos pais, relação com o
ex-cônjuge, tipo de separação/divórcio e recasamento. No exemplo a
seguir, as filhas referem que pai e mãe são importantes em suas vidas:
Apesar da situação, as relações entre Filha1,
Filha2 e seu pai, e entre elas e sua mãe têm uma
qualidade afetiva positiva. As meninas referem
gostar de ambos e evidenciaram, durante as
118

entrevistas, que igualmente precisam e querem ter


a convivência com pai e mãe (L64).
O recasamento dos genitores foi identificado como fator de
proteção para 27 famílias, por a madrasta e o padrasto auxiliarem nos
cuidados com as crianças, e, em alguns casos, mediarem os conflitos
entre os genitores. No entanto, mesmo nos casos em que a madrasta e o
padrasto apresentam ter uma vinculação positiva com a criança, nem
sempre o outro genitor sente-se a vontade com isso.
Amato (2000) afirma que alcançar generalizações quanto ao
papel do recasamento dos pais no desenvolvimento de crianças é
complexo, pois os resultados variam de acordo com fatores como idade
das crianças, o tempo desde o divórcio, entre outros. Na presente
pesquisa, os resultados sobre o recasamento dos genitores foi
qualificado mais como um fator de proteção para as crianças do que de
risco; no entanto, a frequência de ocorrência foi expressiva tanto para
proteção, quanto para risco. Em pesquisa realizada por Souza (2000), as
relações com os novos parceiros conjugais dos genitores e suas famílias
foi predominantemente vista como positiva. Essas relações foram
descritas como inicialmente tensas ou negativas quando foram
consideradas as causadoras da separação conjugal dos genitores (Souza,
2000).
Nos exemplos a seguir, é possível identificar diferentes reações
dos genitores:
Questionado sobre o papel de padrasto na vida de
filha, pai contou que a filha comenta ter dois pais,
e que isso não o incomoda, pelo contrário, entende
a importância do bom relacionamento entre a filha
e o marido da mãe (L18).
Sobre a relação de padrasto com filha, padrasto
disse que estão bastante vinculados, e que a
considera uma filha. A menina trata-o com muito
carinho, os dois brincam e divertem-se durante os
finais de semana, mas padrasto contou que, na
frente da família paterna, filha ainda sente-se
constrangida em manifestar afeto a ele e a mãe
(L14).
Dantas et al. (2004) apontam a questão de que o recasamento
dos ex-cônjuges estabelece relacionamentos mais complexos entre os
membros da família, haja vista que pais e mães biológicos precisam
aprender a compartilhar a rotina de seus filhos com os padrastos e
119

madrastas. As novas relações conjugais dos genitores aumentam o


número de pessoas envolvidas nos cuidados e na educação das crianças.
O fator de proteção relação próxima com os irmãos foi
verificado a partir do vínculo positivo entre os irmãos. Shumaker et al.
(2011) afirma que a relação entre irmãos está relacionada à forma como
os pais lidam com os filhos, sendo que tratamentos preferenciais e
estabelecimento de lealdades podem reforçar rivalidades e ciúmes entre
irmãos. No exemplo a seguir, fica evidente a importância da presença de
irmão para que a criança vivencie as situações adversas geradas pelas
posturas de pai e mãe:
Salienta-se que a criança recolhe mais afeto de L.
R., seu irmão, pois é com ele que compartilha suas
experiências e decepções (L23).
Shumaker et al. (2011) afirma que a formação de vínculos entre
irmãos necessita de alto grau de acesso físico e emocional entre eles, o
que reforça a importância da proximidade entre irmãos, questão
mencionada nos laudos. A relação entre os irmãos deve ser preservada e
estimulada; no caso de dois irmãos por parte de mãe, que residiam cada
um com seu respectivo pai, para os quais haviam sido atribuídas as
guardas, eram promovidos, pelos pais, encontros entre os irmãos nos
finais de semana, como uma forma de permitir a construção e o
fortalecimento do vínculo entre as crianças, que não tinham um convívio
diário (L4 e L17).
O controle emocional dos genitores foi citado como fator de
proteção em situações nas quais os genitores buscaram não expor os
filhos a situações de conflito com o outro genitor ou não se referir ao
outro genitor de forma pejorativa ou agressiva; compreenderam a
importância de algumas condutas em relação aos filhos, mesmo que
estas não atendessem aos seus desejos, mas sim, ao bem estar das
crianças. Nas famílias em que ocorreu a diminuição do conflito
interparental após o separação/divórcio, isso aconteceu devido à
distância física estabelecida entre os genitores, a ausência de
comunicação entre os ex-cônjuges e ao desejo e intenção dos genitores
em diferenciar as questões conjugais das parentais.
A proteção do conflito interparental ocorreu em situações em
que os genitores preservam a imagem do outro genitor, não relatam os
conteúdos de discussões com o ex-cônjuge para as crianças, estabelecem
uma diferença entre as questões conjugais e parentais. A comunicação
funcional foi identificada como fator de proteção em famílias onde as
crianças podem dialogar abertamente com os genitores sobre as questões
120

relativas à separação conjugal e suas consequências e, quando os


genitores conseguem dialogar, entre si, sobre as questões relativas aos
filhos. No exemplo a seguir, é possível perceber a importância do
diálogo entre os genitores para favorecer o bem estar dos filhos:
Quarta visita (24/06/2011). Neste dia o menino
chegou de forma mais tímida para a visita,
demorou um pouco mais para interagir com o pai.
Num momento, chegou a deitar no colo de sua
mãe e fingir que estava dormindo, como se
estivesse querendo falar algo e não estivesse
sabendo como. Neste momento, mãe comentou
com seu ex-companheiro que filho havia se
queixado de ter que dormir sozinho num quarto
com outras crianças, o que não é seu costume,
pois dorme no mesmo quarto da mãe. Por fim,
pediu que o pai desse mais atenção ao filho na
hora de levá-lo para cama. Após essa conversa,
filho foi tranquilamente com o pai (L33).
Com esse exemplo, é possível perceber que a interação positiva
entre os pais pode ser um grande facilitador para a manutenção do
contato entre a criança e o genitor não residente. Muitas situações
podem gerar mal estar para as crianças sem que o genitor não residente
perceba; dessa forma, a troca de informações e o foco no bem estar da
criança, permitem que ela sinta proteção e segurança no contato com
mãe e pai. Segundo Hetherington e Stanley-Hagan (1999), o bem estar
da criança está associado ao bem estar dos pais, sendo que crianças de
famílias monoparentais podem apresentar um desenvolvimento mais
adequado que em famílias nucleares com alto nível de conflito. Grisard
Filho (1999) afirma que a cooperação entre os ex-cônjuges promove
uma esfera de segurança e proteção em torno dos filhos que favorece o
desenvolvimento saudável dos mesmos.
O exercício da parentalidade de forma conjunta entre os
genitores foi o fator de proteção que apresentou menor ocorrência na
categoria fatores intrafamiliares, o que reforça a dificuldade que os
genitores enfrentam ao ter que exercer a parentalidade de forma
conjunta, quando existe uma relação conflituosa entre eles (Grzybowski
& Wagner, 2010a). A qualidade da parentalidade é um dos melhores
indicadores do bem estar social e emocional da criança. (Raposo et al.,
2011, Amato, 2000). Dantas et al. (2004) apontam para o fato de que
transformações sociais têm contribuído para que pai e mãe mesclem
121

cada vez mais seus papéis, sendo igualmente responsáveis pelos


cuidados, sustento financeiro e promoção de bem-estar de seus filhos.
Os fatores de risco apresentados na categoria fatores
intrafamiliares tendem a estar relacionados uns aos outros, o que faz
com que a presença de um fator de risco na dinâmica familiar aumente
as chances da presença de outro fator de risco e assim sucessivamente.
Por exemplo, um ex-casal que apresenta um alto nível de conflito
interparental, tende a ter uma comunicação disfuncional, o que
provavelmente irá comprometer o exercício da parentalidade ou até
mesmo ocasionar o distanciamento do genitor não residente dos filhos,
entre outras questões. O mesmo ocorre em relação aos fatores de
proteção dessa categoria, quando, por exemplo, a relação dos filhos com
o genitor não residente pode favorecer o estabelecimento de uma relação
sólida e saudável dos filhos com pelo menos um dos genitores. Esse fato
pode contribuir para o bem estar psicológico dos genitores, favorecendo
que estes estabeleçam novos projetos para suas vidas, após a separação
conjugal, o que pode incluir o recasamento dos genitores.
Na tabela 13, é apresentada a frequência de ocorrência dos
fatores de risco da categoria fatores extrafamiliares, sendo
distribuídos de acordo com a região que as famílias residiam. Apesar de
todos os fatores de risco da categoria fatores extrafamiliares terem
ocorrido nas famílias pesquisada, a frequência de ocorrência foi baixa se
comparada aos fatores de risco da categoria fatores intrafamiliares. Os
fatores de risco que apresentaram maior ocorrência foram: mudança de
moradia, escola ou cidade/estado/país (15 ocorrências), apoio ou
incentivo de familiares e amigos a manutenção do conflito parental (15
ocorrências) e estresse decorrente das dificuldades financeiras (14
ocorrências).
122

Tabela 13 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de risco da categoria fatores extrafamiliares.

Fatores de risco da categoria fatores extrafamiliares


Total

Lages
Palhoça
Tubarão

Joinville

Criciúma

Blumenau
Florianópolis
Mudança de moradia, escola ou cidade/estado/país; 2 2 8 - 2 1 - 15
Manutenção do conflito no sistema judiciário; - 1 2 - 1 1 1 6
Apoio ou incentivo de familiares e amigos a manutenção
2 3 5 - 5 - - 15
do conflito parental;
Estresse decorrente das dificuldades financeiras; 1 1 4 1 5 1 1 14
Total de Laudos* 22 9 23 5 10 4 4
* Número total de laudos analisados por região.
Fonte: dados coletados pela autora.
123

No fator de risco mudança de moradia, escola ou


cidade/estado/país foi verificado que algumas crianças vivenciam
prejuízos no seu desempenho escolar a partir das mudanças de
instituição escolar, principalmente quando isso ocorre repetidas vezes
após a separação/divórcio dos genitores. Nesse fator de risco, a mudança
de cidade também ocorreu com algumas crianças das famílias
pesquisadas, podendo trazer maior ou menor impacto as suas vidas,
dependendo da organização prévia estabelecida e da conduta dos
genitores após a mudança, no sentido de não romper os vínculos
estabelecidos pela criança até então. O exemplo a seguir apresenta a
situação de uma família em que a mudança de cidade foi acordada entre
os genitores sem que fosse pensado no processo de adaptação para a
criança:
O fato de o menino ter sido afastado do ambiente
familiar, escolar e social e ter mudado para a casa
da mãe sem uma preparação adequada constituiu-
se num ato de violência psicológica que foi
agravado pelas dificuldades de contato com a
família de referência afetiva e de segurança até
então (L26).
De acordo com dados apresentados por Kelly e Emery (2003), a
mudança de residência após o divórcio é comum e tende a interferir nas
relações sociais da criança. Além disso, os autores referem que caso
ocorra mudança de cidade/estado/país que impliquem longas distâncias,
o que requer mais tempo e dinheiro, para a realização de encontros entre
a criança e o genitor não residende, a tendência é que ocorra o
distanciamento dessa relação, principalmente com crianças muito
pequenas.
Quanto ao fator de risco apoio ou incentivo de familiares e
amigos à manutenção do conflito parental, foi identificado nas famílias
pesquisadas o apoio e incentivo de familiares à permanência e
intensificação do conflito entre os ex-côngujes, não sendo mencionado
apoio por parte de amigos. Em alguns casos, os familiares ficavam
inconformados com o modelo de guarda estabelecido ou as famílias
maternas e paternas tinham pontos de vista, valores religiosos,
concepções sobre educação infantil divergentes e com isso, favoreciam a
manutenção do conflito, dificultando ainda mais, o diálogo entre o ex-
casal. Nos exemplos a seguir, é possível perceber situações em que as
124

famílias extensas se envolvem no conflito, alimentando brigas e


desacordos:
A tríade (pai, mãe e filha) verbaliza, cada qual em
seu tempo, que as famílias extensas de pai e mãe
têm se envolvido no conflito: revelam brigas e/ou
situações constrangedoras entre irmãos, sobrinhos,
tios, etc., pois moram próximos e/ou se conhecem
e conhecem a história do casal (L55).
Da mesma forma, não se pode afirmar, mas
também pode-se pensar que as dificuldades
emocionais e escolares apresentadas por filha na
época das visitas e relatadas pela mãe tenham sido
um reflexo da configuração familiar materna
abalada diante do fato da criança estar convivendo
livremente com o pai, situação firmemente
rejeitada pela família. A mãe afirma que todos
apresentam problemas de saúde devido aos
conflitos com pai e explica que ele aterroriza com
brigas, gritos e ameaças (L36).
A partir dos conteúdos dos laudos, foi possível perceber que a
família extensa pode ter uma grande influência na postura dos genitores,
contribuindo tanto para a ampliação quanto para a diminuição do
conflito. A lealdade dos genitores às suas famílias extensas, muitas
vezes, contribui para que eles aumentem sua convicção de que as suas
posturas em relação à criança e ao outro genitor estão corretas, enquanto
que as posturas do outro genitor são as responsáveis pelo conflito e
pelas dificuldades de relação com a criança. Esse posicionamento de
isenção na responsabilidade pela dinâmica familiar tende a contribuir
para ampliação do conflito e aumento das dificuldades para modificação
das relações familiares.
O fator de risco estresse decorrente das dificuldades financeiras
esteve presente nos discursos maternos, relacionado a atraso ou falta de
pagamento dos valores devido a título de alimentos para o filho e
dificuldade de se restabelecer financeiramente após separação conjugal.
Essas dificuldades criam um impacto na rotina e vivências das crianças,
podendo ser necessária a mudança de casa e escola, além da diminuição
dos recursos financeiros disponíveis para a saúde, educação, atividades
extracurriculares e acesso a atividades de entretenimento (Raposo et al.,
2011). Dessa forma, as dificuldades econômicas podem comprometer o
bem estar das crianças, dificultando o processo de adaptação a
125

separação/divórcio (Raposo et al., 2011; Kelly & Emery, 2003; Amato,


2000).
O genitor que permanece com a guarda dos filhos, geralmente
as mães, tende a vivenciar um declínio econômico com a dissolução
conjugal, o que pode comprometer o exercício da parentalidade (Raposo
et al., 2011; Hetherington et al., 1998). Essas situações tendem a ser
agravadas, como no exemplo a seguir, se o homem é o único provedor
da família, pois com a separação conjugal, são duas casas para serem
providas financeiramente:
A mãe fixou-se na ideia de que sua condição
financeira apresenta problemas por culpa do ex-
marido, sem conseguir perceber que o exercício
de uma atividade remunerada poderia auxiliá-la.
Além disso, repassa esta impressão distorcida para
o filho (L8).
Devido à amostra de pesquisa ser composta por famílias em que
os casais encontravam-se em litígio judicial, o fator de risco manutenção
do conflito no sistema judiciário está presente nas 76 famílias
pesquisadas. No entanto, o resultado presente na Tabela 13 refere-se a
famílias que além do processo judicial referente às decisões envolvendo
os filhos, mantinham processos relativos à medida protetiva, prestação
alimentícia, divisão de bens e acusação de violência sexual. De acordo
com Costa et al. (2009), os ex-cônjuges encontram no contexto judicial
um espaço, no qual, podem competir suas forças, buscando terceiros,
como os filhos, profissionais do judiciário, profissionais da saúde, entre
outros, como aliados. Com isso os tribunais encontram-se repletos de
processos que se estendem por anos com sucessivos pedidos de revisão
de procedimentos (Costa et al., 2009).
Na tabela 14, é apresentada a frequência de ocorrência dos
fatores de proteção da categoria fatores extrafamiliares, sendo
distribuídos de acordo com a região que as famílias residiam. Na
categoria fatores extrafamiliares, fica evidente a predominância da
ocorrência de fatores de proteção, o que indica a importância da rede
social para essas famílias. Estudos relativos à temática da rede social
têm sido “unânimes em afirmar a estreita relação entre a qualidade do
desenvolvimento humano e a qualidade das redes sociais com as quais o
indivíduo interage” (Moré & Crepaldi, 2012, p.85).
126

Tabela 14 - Distribuição da frequência de ocorrência dos fatores de proteção da categoria fatores extrafamiliares.

Fatores de proteção da categoria fatores


Extrafamiliares
Total

Lages
Palhoça
Tubarão

Joinville

Criciúma

Blumenau
Florianópolis
Relacionamento positivo de suporte com modelos adultos; - - - - - - - -
Rede de apoio: família, escola e comunidade; 12 5 14 3 6 2 2 44
Apoio, compreensão e orientação de professores; 1 - 1 - 1 1 - 4
Acompanhamento psicoterapêutico; 11 2 7 1 5 - - 26
Estabilidade financeira; - - - - - - - -
Total de Laudos* 22 9 23 5 10 4 4
* Número total de laudos analisados por região.
Fonte: dados coletados pela autora.
127

Os fatores de proteção citados mais frequentemente foram: rede


de apoio: família, escola e comunidade (44 ocorrências) e
acompanhamento psicoterapêutico (28 ocorrências). Os fatores de
proteção relacionamento positivo de suporte com modelos adultos e
estabilidade financeira não foram mencionados nos laudos psicológicos,
possivelmente por essas não serem questões relativas ao foco da
avaliação psicológica e não terem sido mencionados pelas pessoas que
participaram das perícias.
A rede de apoio foi o principal fator de proteção da categoria
fatores extrafamiliares. A família extensa (pais, mães, irmãos, irmãs, tios
e tias do casal parental) representou a principal fonte de apoio para os
ex-cônjuges, o que corrobora Das (2010) que ressalta o importante apoio
emocional que a família pode oferecer a pais e crianças. O apoio
oferecido é financeiro, afetivo e em relação às crianças: favorecendo o
contato das crianças com o genitor não residente, oferecendo cuidados
às crianças e compartilhando tarefas referentes à parentalidade. Pesquisa
realizada por Araújo e Dias (2002) verificou a importância do apoio
oferecido pelos avós aos netos, após a separação conjugal dos genitores.
A escola oferece apoio no cuidado com as crianças e repasse de
informações referentes às crianças aos responsáveis. Já o apoio da
comunidade ocorreu a partir de programas sociais (CRAS - Centro de
Referência de Assistência Social, Conselho Tutelar, Programa Jovem
Aprendiz, Programa Municipal de Apoio Familiar). Os resultados
demonstram que os recursos oferecidos pela comunidade contribuíram
tanto para intensificar quanto para diminuir a presença de conflitos na
dinâmica familiar, sendo coresponsáveis por mudanças positivas nas
posturas dos genitores, como, também, pelo afastamento total entre
criança e genitor não residente.
Quanto ao fator de proteção acompanhamento psicoterapêutico,
foi verificado que algumas famílias buscaram esse recurso como apoio
na fase da separação conjugal, no caso das mães: por sentir-se
angustiada em relação à disputa da guarda do filho, devido à vivência de
violência conjugal e por sentir medo das ameaças feitas pelo ex-cônjuge;
no caso dos pais: para compreender se estava agindo de modo coerente
em relação às decisões referentes aos filhos e por sentir-se ansioso; no
caso das crianças: por ter presenciado muitas brigas dos pais. Enquanto
outras famílias foram encaminhadas para acompanhamento
psicoterapêutico durante o processo de perícia judicial, no caso das
mães: por apresentarem indícios de sofrimento psíquico e para
amadurecimento e o aumento da capacidade para solucionar problemas
128

e, no caso das crianças: por ter vivenciado violência sexual, por


interesse da criança e indicadores de sofrimento psíquico e por
dificuldades em expressar seus sentimentos.
Amato (2001) e Pedro-Carroll (1997) afirmam que intervenções
terapêuticas para crianças que vivenciam a separação/divórcio dos
genitores podem contribuir para o processo de adaptação às novas
vivências, reduzindo o estresse, reforçando competências e criando
estratégias eficazes de enfrentamento. Grupos terapêuticos, informativos
e reflexivos, vêm sendo realizados para os genitores (Amato, 2001;
Brito et al., 2010). Em pesquisa realizada por Lamela, Castro e
Figueiredo (2010), é apresentada a avaliação preliminar da eficácia de
uma intervenção em grupo para pais divorciados, que verificou a
eficácia do grupo para o melhor ajustamento pós-divórcio e
coparentalidade. Os principais fatores que contribuíram para a mudança
verificada nos participantes foram: a) o sentimento de fazer parte de um
grupo onde todos vivenciam o processo de separação/divórcio, b) o
sentimento de ser aceito, c) a oportunidade de expressar sentimentos
difíceis, d) a possibilidade de compreender as dinâmicas familiares
geradas pelo divórcio (Lamela et al., 2010).
O fato de um terço das famílias da presente pesquisa ter tido
acesso a acompanhamento psicoterapêutico ou ter sido encaminhadas
para acompanhamento reforça a importância de os profissionais ligados
ao judiciário estarem atentos às questões emocionais das famílias que
vivenciam o processo de separação/divórcio, principalmente aquelas que
permanecem em litígio judicial. Além disso, de os psicólogos, ligados
ao judiciário ou que atuam com crianças e famílias, terem conhecimento
sobre as vivências com potencial de risco e proteção para as crianças e
genitores no processo de separação/divórcio, para que possam prestar
um atendimento efetivo e de qualidade a essas famílias.
No conteúdo dos laudos, não foram identificadas referências
sobre trabalhos realizados pela escola no sentido de apoiar na inclusão
da criança ao grupo de colegas ou a participação de ambos os genitores
na vida escolar dos filhos como é sugerido por Pedro-Carroll (2001). No
entanto, a escola teve um papel fundamental na denúncia e
acompanhamento da situação de suspeita de maus tratos vividos pela
criança. Dessa forma, não é possível afirmar que a escola oferece algum
tipo de acompanhamento especial as crianças que vivenciam a separação
conjugal dos genitores e suas famílias. Acompanhamento esse que pode
ser interessante, considerando o fato de que a escola pode ser um
ambiente em que a criança sinta-se à vontade para falar de suas
angústias e emoções, além de ser um espaço em que sintomas físicos e
129

comportamentais podem ser evidenciados, comprometendo o


rendimento escolar.
A lógica de que os fatores de risco e proteção podem se somar
contribuindo para que a família tenha vivências de mal estar ou bem
estar psicológico, apresentada na categoria fatores intrafamiliares,
pode ser estendida às três categorias apresentadas nesta pesquisa, o que
inclui as categorias fatores individuais (crianças) e fatores
extrafamiliares. Dessa forma, é fundamental que os genitores sejam
conscientizados sobre a importância de refletir sobre as posturas que
vêm adotando durante o processo de separação conjugal, para que
busquem sempre ampliar as posturas e práticas familiares que conduzam
à proteção da criança de vivências de mal estar psicológico. Os
processos de perícia psicológica relatados nos laudos analisados nesta
pesquisa, em muitas situações, tiveram o papel de esclarecimento e
conscientização das dinâmicas familiares estabelecidas para os
genitores. No entanto, fica claro que muitas famílias têm a necessidade
de um acompanhamento contínuo que favoreça a reflexão para que as
mudanças nas dinâmicas familiares estabelecidas possam ocorrer a partir
de um processo de transformação nas percepções, sentimentos e
posturas dos genitores.
5 CONCLUSÃO

Neste estudo, foi analisado o processo de adaptação de crianças


à separação/divórcio dos pais em litígio judicial, por meio da descrição e
caracterização das configurações familiares implicadas, dos padrões de
relacionamento entre os membros da família, das reações que as
crianças manifestam como consequência do conflito interparental e dos
fatores de risco e proteção individuais, familiares e extrafamiliares
descritos nos laudos psicológicos em Varas de Família de Santa
Catarina. Buscou-se compreender como as famílias participantes da
pesquisa vivenciaram o impacto da separação/divórcio, identificando
fatores específicos que aumentam os riscos para problemas de adaptação
das crianças e aqueles que oferecem proteção e promovem a resiliência
nas crianças envolvidas.
Verificou-se que homens e mulheres, na mesma proporção,
buscaram por meio judicial garantir seus direitos e deveres em relação
aos filhos. A guarda dos filhos foi atribuída principalmente às mulheres,
como costuma acontecer, mas com um terço dela sendo atribuído ao pai,
número acima do que foi apurado pelo IBGE (2010). Quanto à idade dos
membros das famílias, os filhos tinham idade média feminina de 7,16 e
idade média masculina de 7,84, com a maioria das mulheres (mães)
encontrando-se na faixa etária entre 26 e 35 anos e a maioria dos
homens (pais) entre 31 e 40 anos. Esses dados demonstram a presença
de ex-casais jovens, considerando dados do IBGE (2010), vivenciando
litígio judicial por questões referentes a filhos pequenos.
O contato com o genitor não residente ocorre pelo menos a cada
quinze dias para 32 famílias. A maior parte de homens e mulheres
estava solteira após a separação conjugal, com um número semelhante
de homens e mulheres recasados, sugerindo não haver diferença de
gênero quanto ao tempo para estabelecer um novo relacionamento
estável. O principal motivo que gerou a decisão pela separação conjugal
referidos nos laudos foram as brigas e discussões frequentes entre o
casal.
Identificou-se que o relacionamento conflituoso é o principal
padrão de relacionamento estabelecido entre os ex-cônjuges, resultado
esperado considerando que se trata de ex-casais em litígio judicial. Esse
resultado, no entanto, reforça a premissa de que o rompimento do
vínculo conjugal não extinguiu brigas e desentendimentos entre os ex-
casais. Essas desavenças podem se concentrar, após a
separação/divórcio, na disputa pela convivência com os filhos. Apesar
132

de a maioria dos genitores apresentar um relacionamento conflituoso


entre eles, o relacionamento entre crianças e pelo menos um dos
genitores foi caracterizado como harmônico, na maior parte das vezes.
Esses dados demonstram que o contato dos genitores e filhos não deve
ser interrompido apenas com a justificativa de que o relacionamento
entre o ex-casal é conflituoso e violento. O relacionamento entre a
fratria foi indicado como um recurso para as crianças lidarem com a
carga emocional dos conflitos entre os genitores.
As crianças demonstraram reconhecer o conflito interparental,
podendo posicionar-se de forma a não se envolver no conflito ou
envolver-se no conflito, estabelecendo lealdade a um genitor, buscando
posicionar-se com imparcialidade ou alternando a lealdade entre os
genitores. Os principais sentimentos das crianças referidos nos laudos
foram: insegurança em relação aos genitores, sensação de abandono e
rejeição, ansiedade, tristeza, culpa, medo, saudade, raiva e ódio; esses
sentimentos são provenientes de sofrimento com o conflito dos
genitores, mágoas em relação a um dos genitores e sofrimento com o
afastamento de um dos genitores. As ações das crianças referidas nos
laudos foram: demonstrar estar bem; demonstrar preferência por um
genitor; apresentar sintomas comportamentais e físicos. Verificou-se
assim, que as crianças buscam estratégias saudáveis e não saudáveis de
compreender e reagir às situações e emoções envolvidas no contexto de
litígio dos genitores.
Os fatores de proteção relativos à categoria fatores individuais
(crianças) tiveram alta ocorrência, enquanto que os fatores de risco
tiveram baixa ocorrência. Isso demonstra que a maior parte das crianças
apresenta características individuais favoráveis a um desenvolvimento
saudável, favorecendo a adaptação às mudanças geradas pelo processo
de separação/divórcio dos genitores. A baixa ocorrência de fatores de
risco também pode estar relacionada à pouca idade das crianças, o que
representa menos tempo de exposição a uma possível dinâmica familiar
conflituosa, fato que diminui as chances de prejuízos ao
desenvolvimento infantil. Boa capacidade comunicativa e competência
cognitiva foram os fatores de proteção que apresentaram maior
ocorrência, enquanto que dificuldade comunicativa e dependência foram
os fatores de risco que apresentaram maior ocorrência.
A importância dos fatores intrafamiliares no risco para o
processo de adaptação de crianças à separação/divórcio dos pais foi
verificada nesta pesquisa. Os fatores de risco da categoria fatores
intrafamiliares foram os que apresentaram maior ocorrência entre os
fatores analisados, sendo que conflito interparental, comunicação
133

disfuncional e conflitos no exercício da parentalidade ocorreram em


mais da metade das famílias e descontrole emocional dos genitores e
ausência de relação com o genitor não residente em quase metade das
famílias. A ocorrência de fatores de proteção na categoria fatores
intrafamiliares foi bem menos expressiva que a ocorrência de fatores de
risco. No entanto, o fato de todos os fatores de proteção indicados na
revisão de literatura terem sido verificados nas famílias pesquisadas
indica que mesmo as famílias em litígio judicial buscam preservar, de
alguma forma, uma dinâmica familiar favorável ao desenvolvimento dos
filhos. Relação com o genitor não residente e relação sólida e saudável
com pelo menos um dos genitores foram os fatores de proteção mais
citados nessa categoria.
Os fatores de proteção da categoria fatores extrafamiliares
foram predominantes, o que indica a importância da rede social para as
famílias, sendo as redes de apoio: família, escola e comunidade e
acompanhamento psicoterapêutico os mais frequentes. Os fatores de
risco para essa categoria apresentaram ocorrência baixa, sendo os mais
citados: mudança de moradia, escola ou cidade/estado/país; apoio ou
incentivo de familiares e amigos à manutenção do conflito parental;
estresse decorrente das dificuldades financeiras.
É importante considerar a relação que existe entre os fatores de
risco e proteção, em que a presença de um fator de risco na dinâmica
familiar aumenta as chances da presença de outro fator de risco e, assim,
sucessivamente, o mesmo ocorrendo para os fatores de proteção. A
lógica de que os fatores podem se somar contribuindo para que a família
tenha vivências de mal estar ou bem estar psicológico, favorecendo ou
prejudicando a adaptação das crianças ao processo de
separação/divórcio dos genitores, pode ser utilizada para as três
categorias apresentadas nesta pesquisa: fatores individuais (crianças),
fatores intrafamiliares e fatores extrafamiliares. Dessa forma, é
fundamental conhecer a frequência, intensidade e conteúdo do conflito
interparental, além do quanto às crianças são expostas diretamente a ele,
para que se possam buscar medidas de proteção às crianças.
Os genitores precisam de um espaço de acolhimento e escuta
cuidadosa, em que possam falar sobre suas dúvidas, emoções, mágoas,
inseguranças, para que possam tomar consciência da importância de
refletir sobre suas posturas, no sentido de engajá-los na busca por
controlar as manifestações de raiva, hostilidade e desconfiança,
principalmente na presença dos filhos. Esse trabalho é fundamental para
que se possam ampliar as posturas e práticas familiares que conduzam à
proteção da criança de vivências de mal estar psicológico em
134

decorrência dos processos de mudanças familiares a partir da


separação/divórcio de seus genitores.
A partir dos resultados alcançados com a análise do processo de
adaptação de crianças à separação/divórcio dos pais em litígio judicial,
foi elaborado um roteiro de questões (Tabela 15) que pode guiar os
profissionais que atuam com famílias em processo de
separação/divórcio a avaliar o potencial de risco e proteção para o
processo de adaptação de crianças. A avaliação de quais fatores de risco
e proteção fazem parte do cotidiano de crianças que vivenciam o litígio
judicial dos pais pode auxiliar os psicólogos peritos a indicarem qual
arranjo familiar é mais indicado; os operadores do direito na tomada de
decisões e os psicólogos clínicos no planejamento de intervenções
terapêuticas, em ações que visem a proteção do desenvolvimento infantil
saudável.

Tabela 15 - Roteiro de questões a serem analisadas para avaliação de


risco e proteção no processo de adaptação de crianças à
separação/divórcio dos pais.
Fatores Individuais (criança)
1. Qual percepção a criança tem sobre o processo de separação
conjugal dos genitores? De que forma ela se posiciona em relação à
separação conjugal?
2. Quais as características da criança relativas a temperamento,
relações sociais, aprendizado escolar, autoestima,
dependência/autonomia e comunicação?
3. Qual a qualidade do vínculo que a criança tinha com o genitor não
residente durante a relação conjugal dos genitores?
4. A criança vivenciou algum tipo de violência física, psicológica ou
sexual na relação com os genitores ou novos parceiros dos
genitores?
5. Quais sentimentos a criança manifesta ou refere presentes nas
experiências relativas ao litígio entre os genitores?
6. Quais as reações fisiológicas, emocionais e comportamentais das
crianças no contexto de litígio dos genitores?
Fatores Intrafamiliares
1. Qual o padrão de relacionamento estabelecido entre os genitores
após a separação conjugal?
2. Ocorreu uma diminuição do conflito interparental após o
separação/divórcio?
135

3. Em caso de relação conflituosa, os genitores demonstram ou


relatam momentos de descontrole emocional? Ocorrem situações
de violência física entre os genitores? A criança presencia ou é
envolvida nos conflitos entre os genitores?
4. Como se estabelece a comunicação entre os genitores no que se
refere aos filhos?
5. Os genitores apresentam algum tipo de comprometimento para o
exercício da parentalidade? Os genitores conseguem exercer a
parentalidade de forma conjunta?
6. Qual o padrão de relacionamento estabelecido entre mãe-criança e
pai-criança? A criança apresenta relação sólida e saudável com
pelo menos um dos genitores?
7. Como se estabelece a comunicação entre a criança e os genitores?
8. A criança tem relação com o genitor não residente? Qual a duração
e qualidade do tempo compartilhado entre genitor não residente e a
criança?
9. A criança tem irmão(s)? Qual o padrão de relacionamento entre a
fratria?
10. Os genitores casaram ou estabeleceram união estável após a
separação/divórcio? Qual é o padrão de relacionamento entre a
criança e os novos parceiros dos genitores?
Fatores Extrafamiliares
1. Ocorreram mudanças de moradia, escola ou cidade/estado/país?
Como a criança lidou com estas mudanças?
2. Ocorre a manutenção do conflito no sistema judiciário?
3. Ocorre o apoio ou incentivo de familiares e amigos à manutenção
do conflito interparental?
4. Qual a situação financeira dos genitores? As crianças sofreram
fortes mudanças no padrão de vida a partir da separação/divórcio
dos genitores?
5. Os genitores e crianças recebem apoio de familiares?
6. Os genitores e crianças recebem apoio de amigos, profissionais da
escola das crianças ou comunidade?
7. Algum dos membros da família está ou esteve em
acompanhamento psicoterapêutico?
Fonte: material produzido pela autora.
136

Seguindo a proposta do roteiro apresentado na tabela 15,


também foi criado um inventário (Apêndice C) que permite a checagem
da presença de fatores de risco e proteção em cada família. Esse roteiro
pode auxiliar os profissionais a visualizarem em qual sistema (individual
– criança, intrafamiliar e extrafamiliar) a família apresenta maior
vulnerabilidade, o que indica fatores a serem trabalhados no sentido de
reduzir o impacto causado na vida das crianças, e em qual sistema a
família apresenta mais recursos, que podem ser trabalhados no sentido
de ampliar o impacto positivo que eles têm nas vivências da criança.
A principal limitação deste estudo foi o fato de ter-se utilizado
apenas o laudo psicológico como fonte de informação referente às
famílias que estavam vivenciando o litígio judicial. O uso dos autos do
processo judicial como um todo permitiria o acesso a outros documentos
que trariam informações que não foram encontradas em alguns dos
laudos psicológicos desta pesquisa, tais como: quem iniciou o processo
judicial, idade e atividade profissional dos ex-cônjuges e o que motivou
a separação conjugal. Seria possível verificar, ainda, outras informações
que não constaram nesta pesquisa, como quem decidiu pela separação
conjugal; há quanto tempo o ex-casal encontra-se separado/divorciado; a
escolaridade dos ex-côngujes; há quanto tempo o processo judicial
existe; quantas audiências, decisões e modificações nas decisões já
foram feitas; se foram apresentados outros pareceres profissionais; se a
decisão do juiz esteve de acordo com a indicação feita pela perita no
laudo psicológico, entre outras. No entanto, o uso dos autos do processo
judicial não foi possível, pois ampliaria o número de procedimentos a
ser feito, o que provavelmente implicaria em uma diminuição da
amostra da pesquisa.
Ressalta-se a importância da ampliação de pesquisas brasileiras
referentes ao processo de separação/divórcio nas famílias, seu impacto e
repercussões na vida dos pais, mães e filhos, nos padrões de
relacionamento e nas dinâmicas familiares. Além das questões que
poderiam ser estudadas a partir de pesquisas documentais, como citado,
também é interessante se pensar em pesquisas de natureza quantitativa
que possam estabelecer correlações sobre os fatores avaliados. As
famílias que vivenciam o litígio judicial, foco desta pesquisa, têm sido
pouco estudadas, o que pode limitar as ações dos profissionais que
trabalham com a interface direito e psicologia. Os estudos longitudinais,
pouco utilizados no contexto Brasileiro, podem ser interessantes no
sentido de permitir o acesso direto do pesquisador a essas famílias e,
principalmente, o acompanhamento de como as repercussões da
137

separação/divórcio vai delineando os caminhos de vida construídos por


cada membro da família.
A revisão de literatura realizada para este trabalho possibilitou
um apanhado dos fatores relativos ao processo de adaptação de crianças
à separação dos genitores, muitas vezes estudados de forma isolada. Esta
revisão ofereceu a sustentação teórica para a análise dos laudos
psicológicos, possibilitando a reunião de informações sobre famílias em
litígio judicial, não investigadas por outras pesquisas nacionais.
Por fim, considera-se que os resultados atingidos nesta pesquisa
são pertinentes à compreensão dos complexos fatores envolvidos no
processo de adaptação das crianças à separação/divórcio dos genitores.
Estudar o potencial de risco e proteção para as crianças nos fatores
envolvidos nas situações de litígio dos genitores permite que se
estabeleça um foco nas medidas de proteção para essas crianças,
podendo-se criar estratégias para diminuição ou contenção dos riscos e
estratégias para ampliação e fortalecimento das medidas protetivas.
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149

APÊNDICE A: Formulário da configuração das famílias em litígio


judicial

Informações referentes ao processo judicial


Data do Laudo:
Quem iniciou o processo: ( ) Pai - ( ) Mãe – ( ) Família Materna – ( )
Família Paterna – ( ) Não informa
Motivação do processo judicial: ( ) Dissolução conjugal - ( ) Definição
ou Modificação da guarda - ( ) Regulamentação de visita -
Modificação de Guarda e Regulamentação de Visitas no mesmo
processo
A quais filhos do casal o processo se refere? ( ) 1º - ( ) 2º - ( ) 3º - ( ) 4º
- ( ) 5º
Identificação pessoal – Mãe
Idade:
( ) < 20 - ( ) 21-25 - ( ) 26-30 - ( ) 31-35
( ) 36-40 - ( ) 41-45 - ( ) 46-50 - ( ) > 51 – ( ) Não Informa
Atividade profissional:
( ) Não exerce atividade - ( ) Desempregada - ( ) Profissional
empregada - ( ) Profissional liberal/autônoma - ( ) Empresária -
( ) Funcionária Pública - ( ) Aposentada - ( ) Não Informa
Cidade de residência:
Estado civil atual:
( ) Solteira - ( ) Amasiada ou Casada - ( ) Separada/Divorciada
novamente - ( ) Viúva – ( ) Não Informa
Filhos além do relacionamento Enteados:
do processo judicial: Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Identificação pessoal – Pai
Idade:
( ) < 20 - ( ) 21-25 - ( ) 26-30 - ( ) 31-35
( ) 36-40 - ( ) 41-45 - ( ) 46-50 - ( ) > 51 – ( ) Não Informa
Atividade profissional:
( ) Não exerce atividade - ( ) Desempregado - ( ) Profissional
empregado - ( ) Profissional liberal/autônomo - ( ) Empresário -
( ) Funcionário Público - ( ) Aposentado - ( ) Não Informa
150

Cidade de residência:
Estado civil atual:
( ) Solteiro - ( ) Amasiado ou Casado - ( ) Separado/Divorciado
novamente - ( ) Viúvo – ( ) Não informa
Filhos além do relacionamento do Enteados:
processo judicial: Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Estrutura da família a que se refere o processo judicial
Filhos do casal:
Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Sexo: ____ - Idade: ___ anos
Como era o relacionamento do casal antes da separação/divórcio?
( ) Relacionamento harmônico - ( ) Relacionamento muito estreito;
( ) Aliança - ( ) Relacionamento conflituoso - ( ) Relacionamento
vulnerável; ( ) Relacionamento distante - ( ) Rompimento – ( )
Triangulação
O que motivou a separação/divórcio?
Os pais residem na mesma cidade? ( ) Sim - ( ) Não
Modalidade de guarda atual:
( ) Guarda alternada - ( ) Guarda materna - ( ) Guarda paterna
( ) Guarda jurídica e material conjunta - Guarda compartilhada
Arranjo de visitação atual:
( ) Não ocorre visita ao genitor não residente – ( ) visitas livres
( ) Finais de semana, férias e feriados alternados entre os genitores
() outra organização:______________________________________
Relação entre os membros da família a que se refere o processo
judicial
Queixas da mulher em relação ao ex-cônjuge:
Queixas do homem em relação à ex-cônjuge:
Relação entre os ex-cônjuges:
( ) Relacionamento harmônico - ( ) Relacionamento muito estreito;
( ) Aliança - ( ) Relacionamento conflituoso - ( ) Relacionamento
vulnerável; - ( ) Relacionamento distante - ( ) Rompimento –
151

( ) Triangulação
Relação da mãe com a(s) criança(s):
( ) Relacionamento harmônico - ( ) Relacionamento muito estreito;
( ) Aliança - ( ) Relacionamento conflituoso - ( ) Relacionamento
vulnerável; - ( ) Relacionamento distante - ( ) Rompimento –
( ) Triangulação
Relação do pai com a(s) criança(s):
( ) Relacionamento harmônico - ( ) Relacionamento muito estreito;
( ) Aliança - ( ) Relacionamento conflituoso - ( ) Relacionamento
vulnerável; - ( ) Relacionamento distante - ( ) Rompimento –
( ) Triangulação
Relacionamento entre os irmãos:
( ) Relacionamento harmônico - ( ) Relacionamento muito estreito;
( ) Aliança - ( ) Relacionamento conflituoso - ( ) Relacionamento
vulnerável; - ( ) Relacionamento distante - ( ) Rompimento –
( ) Triangulação
153

APÊNDICE B: Termo de Responsabilidade do Pesquisador

1.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS
2. DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

DECLARAÇÃO

Declaro que no desenvolvimento do projeto de pesquisa


Processo de Adaptação de Crianças à Separação/Divórcio dos Pais
em Litígio Judicial, serão cumpridos os termos da Resolução CNS
196/96 e suas complementares. Comprometo-me a resguardar sigilo aos
dados e informações consultadas, não realizando contato ou
apresentando qualquer tipo de identificação das pessoas envolvidas nos
processos judiciais e utilizar o material apenas para fins de pesquisa
acadêmica. Além disso, assumo o compromisso de divulgar os
resultados obtidos em todas as Varas de Família participantes da
pesquisa e através de publicações científicas.

Florianópolis, 26 de abril de 2012.

_____________________________________
2.1. Roberto Moraes Cruz
(Pesquisador Responsável/Orientador)

_____________________________________
3. Andréia Chagas Pereira Bonoto
(Pesquisadora Principal/Orientanda)
155

APÊNDICE C: Inventário para avaliação de risco e proteção no


processo de adaptação de crianças à separação/divórcio dos pais

Fatores de Risco Fatores de Proteção


Avaliação distorcida dos
motivadores da Autonomia;
separação/divórcio;
Avaliação realista
Baixa autoestima; dos motivadores da
separação/divórcio;
Dependência; Boa autoestima;
Boa capacidade
Dificuldade comunicativa;
comunicativa;
Competência
Dificuldades cognitivas;
Fatores Individuais (Criança)

cognitiva;
Dificuldades sociais; Competência social;
Envolve-se no
Não envolve-se no conflito
conflito
interparental;
interparental;
Possuir um vínculo
Não ter construído vínculo afetivo positivo com
afetivo com o genitor não o genitor não
residente durante a relação residente durante a
conjugal dos genitores; relação conjugal dos
genitores;
Temperamento difícil Temperamento fácil
(caracterizado por alto nível (caracterizado por
de humor negativo, medo, humor positivo e
timidez e raiva); senso de humor);
Ter vivenciado algum tipo de
violência física, psicológica
ou sexual na relação com os
genitores ou novos parceiros
dos genitores;
156

Bem estar
Ausência de relação com o
psicológico dos
genitor não residente;
genitores;
Compartilhamento do tempo
Comunicação
entre criança e genitor não
funcional;
residente mal utilizado;
Controle emocional
Comunicação disfuncional;
dos genitores;
Diminuição do
conflito interparental
Conflito interparental;
após o
separação/divórcio;
Exercício da
Conflitos no exercício da parentalidade de
parentalidade; forma conjunta entre
os genitores;
Fatores Intrafamiliares

Descontrole emocional dos Proteção do conflito


genitores; interparental;
Recasamento dos
Psicopatologia parental;
genitores;
Relação com o
Recasamento dos genitores; genitor não-
residente;
Relação conflituosa ou Relação harmônica
vulnerável entre criança e entre criança e
novos parceiros dos novos parceiros dos
genitores; genitores;
Ser filho único, distância
Relação próxima
física ou relação negativa
com os irmãos;
com os irmãos;
Relação sólida e
Vivência de uma nova
saudável com pelo
separação/divórcio de um
menos um dos
dos genitores;
genitores;
Tempo de qualidade
compartilhado entre
criança e genitor não
residente;
157

Apoio ou incentivo de
familiares e amigos a Acompanhamento
manutenção do conflito psicoterapêutico;
parental;
Fatores Extrafamiliares
Apoio de amigos,
Estresse decorrente das profissionais da
dificuldades financeiras; escola das crianças
ou comunidade;
Manutenção do conflito no
Apoio de familiares;
sistema judiciário;
Mudança de moradia, escola Estabilidade
ou cidade/estado/país; financeira;
Relacionamento
positivo de suporte
Ausência de rede de apoio
com modelos
adultos;

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