Trab. Extra. Criminologia - Equipe 8
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Florianópolis
2022
INTRODUÇÃO
A realidade dos presídios brasileiros, segundo Oliveira, “se resume em superlotação carcerária,
convivência de presos cautelares com os apenados, insuficiência de estabelecimento do tipo colônia
agrícola ou estabelecimento fabril, resultando em apenados com cumprimento de regime distinto,
porém, recebendo o mesmo tratamento” (OLIVEIRA, 2022, p.52).
Nas palavras do Ministro Luiz Fux, “a superlotação é um problema histórico que viola direitos
fundamentais das pessoas presas e alimenta o ciclo de violência dentro e fora das prisões”. Segundo
ele, as evidências apontam que as medidas adotadas até o momento não apresentaram a eficácia
desejada, o que enseja a necessidade de soluções inovadoras a partir de uma abordagem sistêmica para
impactos mensuráveis e duradouros (CNJ, 2021, p.5).
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu que quase 1 milhão de brasileiros
vivem à margem da Constituição Federal, enquanto dentro dos estabelecimentos prisionais do país,
com efeitos nefastos para o grau de desenvolvimento inclusivo
Conforme afirma o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, conhecer a situação da população
prisional é condição necessária para o desenvolvimento de uma política pública consistente na área,
cujos desafios políticos, de recursos e infraestrutura são inúmeros. Por isso a necessidade de conhecer
as condições existentes e fomentar o seu desenvolvimento (2016, p.2).
O presente trabalho pretende mostrar alguns aspectos estatísticos quanto ao sistema prisional
brasileiro. Por ser uma análise baseada em mapeamento nacional, enfatizamos que se trata unicamente
de uma abordagem geral, não havendo espaço para detalhamentos e enfoques que o devido tema
necessitaria para melhor compreensão da complexidade do tema.
Para a elaboração, foi utilizado o método dedutivo-bibliográfico, através de pesquisa feita em
sítios da internet, periódicos, bem como o uso de doutrinas.
1. Aspectos gerais
O Brasil tem uma população prisional que não para de crescer. Atualmente, segundo o
levantamento feito pelo Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional
(SISDEPEN) em junho de 2022, o Brasil possui uma população carcerária de 837.443 (oitocentos e
trinta e sete mil, quatrocentos e quarenta e três) pessoas presas – aumento de aproximadamente 2% em
relação ao mesmo período do ano passado – o que corresponde a 392,58 presos a cada cem mil
habitantes (MJSP, 2022). Esses números colocam o país como a terceira maior população prisional do
mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), “a superlotação carcerária é um fenômeno de
causas multifatoriais, que envolve desde a inadequação de investimentos, obstáculos legislativos e uso
excessivo da medida de prisão à lentidão na tramitação de ações criminais e da execução penal.”
Como será mostrado nos próximos tópicos, os dados e pesquisas indicam que a população
prisional não é multicultural e tem, sistematicamente, seus direitos violados, resultado, em grande
parte, da ausência de políticas prisionais claras, baixo investimento nas estruturas penitenciárias,
elevado índice de pessoas presas aguardando julgamento, dentre outros fatores.
“As pessoas crêem que a pena termina com a saída do cárcere, e não é verdade; as
pessoas crêem que o cárcere perpétuo seja a única pena perpétua; e não é verdade. A
pena, se não mesmo sempre, nove vezes em dez não termina nunca. Quem em pecado
está é perdido. Cristo perdoa, mas os homens não.”
Um gravame extra à situação do encarceramento surge quando se volta o olhar ao público alvo
das prisões, do processo de criminalização e da seletividade do sistema, usualmente jovens negros(as)
e periféricos(as), a prisão “nos livra da responsabilidade de nos envolver [...] com os problemas da
nossa sociedade, especialmente com aqueles produzidos pelo racismo e, cada vez mais, pelo
capitalismo global.” (DAVIS, 2020, p.17).
No que diz respeito à estrutura das unidades prisionais, o levantamento do CNJ aponta que
47% são classificados como regulares, 28% como péssimas, 13% como boas, 11% como ruins, e
apenas 1% como excelentes. Apesar de apontar uma melhora na estrutura do sistema prisional de 2015
para 2020, o percentual de acesso dos presos aos serviços oferecidos apresentou uma queda (CNJ,
2021, p.6).
Além disso, segundo dados do Infopen de junho de 2020, 87% dos estabelecimentos não possui
infraestrutura que permita a separação de grupos mais vulneráveis, como ala ou celas para pessoas que
se declarassem lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
Ainda conforme o Infopen, 88% dos estabelecimentos não dispunham de espaço exclusivo para
abrigar a população idosa, enquanto 98% dos estabelecimentos não tinham ala ou cela destinada
exclusivamente para população indígena.
Essa insuficiência além de corresponder à fragilidade de fluxos e procedimentos na custódia
prisional, que deveriam levar em conta as especificidades desses grupos, escancara a fala de segurança
e vulnerabilidade a que esses grupos estão sujeitos dentro do sistema prisional (CNJ, 2021, p.14).
Tão assombroso como os dados evidenciando um colapso, são as ideias que surgem visando
resolver mirabolantemente o problema, muitas das quais atentando contra os direitos humanos e a
dignidade da pessoa humana, como utilização de dois contêineres que funcionam como celas em anexo
do Instituto Penal de Novo Hamburgo (RS), cujas situação era degradante tanto para presos quanto
para os policiais militares que faziam suas custódias.
De acordo com a análise de dados constante do informe do CNJ de 2021, desde os anos 1980 a
população prisional cresce continuamente, sendo que nos últimos dez anos o número de presos foi
50% maior em relação às vagas existentes, chegando a quase duas pessoas por vaga no primeiro
semestre de 2016. Embora o crescimento tenha desacelerado desde então, ainda alcança patamares
elevados. Em 2020, por motivo da pandemia de COVID-19, houve uma redução (CNJ, 2021, p.6).
Segundo dados do CNJ, obtidos por meio do programa “Central da Regulação de Vagas”, entre
os anos de “2011 e 2021 havia, em média, cerca de 66% mais presos do que vagas existentes com pico
de quase duas pessoas por vaga em 2015. No mesmo período, o número de pessoas presas por 100 mil
habitantes subiu 20,3% (CNJ, 2022).
Já em 2022, segundo os dados extraídos do SISDEPEN, em 2022 constatou-se a população
privada de liberdade correspondia a 661.915 (seiscentos e sessenta e um mil e novecentos e quinze)
pessoas, enquanto havia apenas 470.116 (quatrocentos e setenta mil e cento e dezesseis) vagas para
elas, correspondendo à um déficit de 191.799 (cento e noventa e um mil e setecentos e noventa e nove)
vagas (MJSP, 2022). A Figura 1, abaixo, mostra as taxas de ocupação de unidades prisionais em
diferentes estados.
Figura 1:Taxa de ocupação das unidades prisionais, de acordo com a região do país. Fonte [CNJ, 2021, p.6]
Como pode ser observado, o sistema prisional brasileiro está muito aquém da sua capacidade.
Como consequência, tem-se o surgimento de outros problemas como a insalubridade das celas, a qual
facilita a proliferação de doenças e a expansão de epidemias, a má alimentação dos presos, em
conjunto com o sedentarismo e o uso de drogas dentro dos presídios, além da formação de ambientes,
violentos e reprodutores dos delitos, conforme destaca o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Gilmar Mendes:
1 MENDES, Gilmar Ferreira. Segurança Pública e Justiça Criminal. Disponível em: . Acesso em: 03 de nov. 2022.
Logo, em vista dos fatos, o cárcere deveria ser usado com extrema moderação, consoante às
palavras de Zaffaroni em entrevista concedida à Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio
(EPSJV)/Fiocruz: “enquanto não podemos eliminar a prisão, é necessário usá-la com muita
moderação. Cada país tem o número de presos que decide politicamente ter”.
A escritora americana Angela Davis, traduz o pensamento da realidade de seu país para o
nosso, ao afirmar que “os números são chocantes, embora não haja vagas disponíveis, percebe-se um
aumento da repressão, [...] entretanto, os índices tendem a piorar nos próximos anos se não houver
uma busca por alternativas “[...] eficazes [que] envolvem a transformação tanto das técnicas de
abordagem do “crime” quanto das condições sociais e econômicas que levam tantos jovens [...] ao
sistema correcional juvenil e depois à prisão.” (DAVIS, 2020, p. 22).
2 Os presos em números
O levantamento realizado pelo SISDEPEN apontou que dos 830.714 custodiados pelo sistema
penitenciário nacional atualmente há 215.029 presos sem condenação; 331.680 em regime fechado;
172.551 em regime semiaberto; 109.023 no aberto; 1.008 cumprindo medida de segurança do tipo
internação e 423 cumprindo medida de segurança em tratamento ambulatorial (MJSP, 2022, p.1).
O levantamento realizado pelo CNJ observou que o perfil majoritário das pessoas privadas de
liberdade, devido ao cometimento de crimes patrimoniais, segue o mesmo padrão ao longo dos anos,
com poucas variações percentuais: pobres, negras, jovens, sem acesso a oportunidades.
Logo, têm-se clara a crise da superlotação no sistema carcerário, a qual é reflexo de um sistema
penal desigual e punitivo, em que as condutas típicas criminais afetam preponderantemente a
população mais pobre e vulnerável.
Figura 2: Dados sobra população carcerária feminina no Brasil. Em (a) número absolutos; em (b) relação de detentas
por vaga. Fonte [CNJ, 2001, p.13].
A situação é pior quando se trata de mães com crianças com mais de 2 anos de idade, posto que
há apenas 12 estabelecimentos prisionais com seção própria destinada a crianças a partir dessa idade,
com espaço pedagógico (MJSP, 2022, p.3). Um Estado que se propõe a ver o sistema punitivo com um
papel ressocializador não deveria impossibilitar que esse vínculo familiar tão importante – mãe/filho –
por falta de estrutura básica.
2 BARATTA, Alessandro. Princípios do direito penal mínimo: para uma teoria dos direitos humanos como objeto e limite
da lei penal. Tradução de Francisco Bissoli Filho. Florianópolis: Habitus, 2019. p. 30.
Sobre os Sistemas Socioeducativo e Prisional Brasileiros”, 42,5% dos adultos que tinham processos registrados
em 2015 retornaram ao sistema prisional até dezembro de 2019, não obstante, o estado do Espírito Santo
conseguiu atingir 75% do índice de reincidência. Não obstante, segundo o Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias (Infopen) em 2019, presos por delitos relacionados ao tráfico representavam 27,4% -
entre as mulheres, esse índice chega a 54,9% do total.
Assim como qualquer direito exige algum tipo de custo, não seria diferente com o direito de
punir do Estado, pois o próprio vai demandar recursos públicos para ser efetivado. Embora muitos
achem um mal necessário, os dados apontam que ele causa desequilíbrio fiscal. Especialmente quando
se trata de modelos como o sistema prisional brasileiro, que não traz benefício algum a sociedade, a
medida em que não ressocializa o condenado, ao contrário tem um trabalho de dissociabilidade, como
aponta a pesquisa do grupo de estudos da USP.
A pesquisa ainda constatou que a sociedade brasileira gasta quatro vezes mais com um preso do
que com um aluno do ensino básica, enquanto com um aluno se gasta cerca de 470$ por mês,
com o dentento se gasta cerca de 1800$ por mês. É importante ressaltar que a responsabilidade
Fiscal prevista no art.165 da Constituição Federal, tem por finalidade o controle dos gastos
públicos dessa formo os exorbitantes gastos com o Sistema prisional viola o princípio da
Eficiencia da Administração Pública. O calculo do gasto dos presídios é feito dessa forma:
divide-se o número de encarcerados em cada mês de regime fechado, semiaberto e aberto,
submetidos à medida de segurança e presos provisórios pelas despesas administrativas (despesas
com pessoal como salário e gestão penitenciária), entre outras despesas (aluguel, alimentação,
recursos de higiene pessoal. O sistema prisional Além dos custos diretos, despesas como
segurança, alimentação, energia e saúde, é importante levar em consideração os custos indiretos
do aprisionamento, os custos sociais, pois a população carceraria inativa (caso não desenvolva
atividades produtivas nos presídios), bem como os custos do bem-estar das famílias dos
presidiários e as consequências para o mercado de trabalho quando os presidiários deixam o
sistema carcerário.
A pensadora Angela Davis em seu livro ( E as cadeias estão obsoletas?) complexo sistema
econômico que permeia o sistema prisional dos EUA a maior população carceraria do mundo,
des de sua origem como as politicas de criminalização tomaram força depois do pós abolição éra
uma solução do estado para continuar ter mão de obra escrava, pois a maioria dos presidiários
eram descendentes de escravos e continuaram a trabalhar como em serviços como a colheita de
algodão. Éssa complexa economia que gira em torno dos presídios, Segundo Davis, só poderá ser
extinta com politização desse debate, é necessassario pensarmos em construções de marcos
democráticos, no sentido de produzir alternativas e reduções do sistema prisional, pois segundo a
pensadora o poder punitivista do estado tem como eixo central a produção do capital
Dados do CNJ apontam que, em média, o custo mensal de um preso no Brasil é de R$2.146. Levando-
se em consideração o tamanho das populações prisionais de cada estado, o custo médio é de R$ 1.803. Contudo,
observa-se uma diferença de até 340% entre o estado com o menor custo per capta, Pernambuco (R$ 955), e o
que mais gasta, o Tocantins (R$4.200), conforme pode ser observado na Figura XX (CNJ, 2021, p.23-4).
Figura 3: Custo mensal por preso, por unidade federativa. Valores em Reais. Fonte [xx, p.24].
Conforme pode ser visto, o custo per capita mensal do preso apresenta uma grande variação de acordo
com o estado analisado. Entretanto, os autores alertam que parte da variação encontrada deve ser atribuída a
essa ausência de uniformidade metodológica.
Com relação ao tipo de gasto, o peso da folha de pagamento e outras despesas com pessoal são o que
mais contribuem na composição dos custos do sistema prisional, conforme pode ser visto na Figura X.
Figura 4: Gastos com pessoal por unidade federativa. Fonte [XX, p.26]
Os autores destacam que o valor elevado apresentado pelo Amapá não é reflexo de uma proporção
adequada de agentes de custódia por preso, posto ser o segundo estado com maior quantidade de pessoas
privadas de liberdade por agente de custódia (19), ficando atrás apenas de Alagoas, cuja proporção é de 20
presos por agente (CNJ, 2021, p.25).
Também foi observada discrepância entre os custos com alimentação informados pelos estados:
enquanto em Pernambuco o gasto diário com a alimentação da pessoa privada de liberdade é de menos de seis
reais, no Amazonas esse gasto é seis vezes maior, R$ 38.
Com relação ao Sistema Penitenciário Federal (SPF), a maior parte dos gastos do (82%) é destinada ao
pagamento de salários dos servidores. Do restante, a maior despesa é com o transporte de presos sob custódia
(equivalente em média a R$ 2.034 mensais por preso) e alimentação (R$ 1.028) (CNJ, 2021, p.29).
Importante ressaltar que o custo mensal do preso varia de acordo com o tipo de estabelecimento no qual
ele está custodiado, sendo que os estabelecimentos de alta segurança tendem a ser mais dispendiosos.
Entretanto, de acordo com o levantamento, a discrepância observada entre os custos por preso do SPF e dos
sistemas estaduais decorre, principalmente, da maior proporção no número de funcionários por preso no sistema
federal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados estatísticos sobre o encarceramento no Brasil demonstram crescimento do tipo exponencial
nos últimos anos. É sabido que os esforços estatais para criação de vagas em estabelecimentos prisionais não
têm sido suficientes para suprir a demanda, resultando em superlotação dos presídios.
Para enfrentá-la, é necessário que haja uma articulação tanto por parte dos Poderes estatais, bem como
de suas instituições e da sociedade civil como um todo.
De acordo com levantamento no Conselho Nacional do Ministério Público, é preciso fazer ajustes
estruturais no sistema de justiça criminal brasileiro, que convive com um juízo verdadeiramente contraditório.
De um lado, tem-se uma percepção de que a resposta à criminalidade carece de efetividade, ao passo que os
números do sistema prisional mostram que as estruturas prisionais não suportam o elevado número de pessoas
encarceradas (CNMP, 2020, p.8). Isso demonstra que o sistema judiciário não tem conseguido dar vazão
3 BARATTA, Alessandro. Princípios do direito penal mínimo: para uma teoria dos direitos humanos como objeto e limite
da lei penal. Tradução de Francisco Bissoli Filho. Florianópolis: Habitus, 2019. p. 32.
satisfatória às demandas criminais e que o rigor no cumprimento das penas não tem evitado o fenômeno da
reincidência.
Importante ressaltar que, conforme aponta Souza e Silva (2020, p.103), o encarceramento no Brasil se
relaciona não só a partir da análise dos números absolutos da população carcerária, mas também desperta
atenção a partir das desigualdades regionais, no modo de funcionamento das forças de segurança pública e do
próprio sistema de justiça criminal.
De tudo exposto, acreditamos que a crise do sistema prisional, em especial a superlotação, é um
problema que afeta a sociedade de forma bastante ampla. Tal realidade vai contra o princípio basilar de nossa
Constituição, o da dignidade da pessoa humana, e contribui para a perpetuação do ciclo de violência e
criminalidade.
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