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AVALIAÇÃO DO SISTEMA AUDITIVO EM AGRICULTORES


EXPOSTOS À AGROTÓXICOS

Evaluation of the auditory system of farm workers


exposed to pesticides
Maria Isabel Kós(1), Maria de Fátima Miranda(2), Raphael Mendonça Guimarães(3), Armando Meyer(4)

RESUMO

Objetivos: avaliar o sistema auditivo periférico, por meio de audiometria tonal, em agricultores resi-
dentes em área de intenso uso de agrotóxicos no Estado do Rio de Janeiro. Métodos: foram avalia-
dos 70 indivíduos, de ambos os gêneros, moradores de Campos dos Goytacazes, com idade variando
entre 25 e 59 anos, sendo 35 agricultores e 35 não agricultores. Todos os indivíduos tiveram sua
audição periférica avaliada, por meio de audiometria tonal nas frequências de 250, 500, 1.000, 2.000,
3.000, 4.000, 6.000 e 8.000Hz. Foram excluídos indivíduos com alteração de orelha externa e média
e/ou com alguma queixa otológica. Além disso, foi realizada anamnese com questões relacionadas
à saúde, situação sócio-econômica, educação e exposição ao agrotóxico. Foi considerada perda
auditiva, os limiares maiores ou iguais a 25dB em qualquer das frequências testadas. Resultados:
o Odds Ratio de perda auditiva foi 3,67 vezes (IC95%: 2,08-6,48) maior entre agricultores (94,3%),
quando comparados aos não agricultores (25,7%). Além disso, a maior parte das alterações auditivas
foi observada nas frequências mais agudas. Conclusão: o presente estudo sugere que a atividade
agrícola e possivelmente a exposição a agrotóxicos aumenta o risco de perda auditiva.

DESCRITORES: Agrotóxicos; Saúde Ambiental;Audiometria

„„ INTRODUÇÃO Tais dificuldades de comunicação afetam negativa-


mente a produtividade no trabalho, a qualidade de
A deficiência auditiva é considerada generica- saúde, a qualidade de vida, de aspectos cognitivos
mente como a diferença existente entre a perfor- e emocionais2-4. Este tipo de deficiência dificulta o
mance do indivíduo e a habilidade normal para a acesso e utilização dos cuidados em geral, com
detecção sonora de acordo com os padrões estabe- possíveis consequências adversas para saúde e a
lecidos pela American National Standards Institute sobrevivência5.
(ANSI-1989)1. A prevalência da perda auditiva vem aumen-
A deficiência auditiva pode gerar uma condição tando na população em geral provavelmente por
incapacitante no indivíduo. No adulto pode produzir conta do envelhecimento e aumento da exposição
uma série de alterações psicossociais, podendo ao ruído. Existe uma preocupação que as alterações
prejudicar o processamento da linguagem verbal, auditivas se tornem uma epidemia6.
limitando assim a comunicação e o convívio social. A perda auditiva é comumente associada com a
idade, exposição ao ruído e traumatismo craniano.
A perda auditiva induzida por níveis de pressão
(1)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
sonora elevados é uma das enfermidades profis-
RJ, Brasil.
sionais irreversíveis de maior ocorrência em todo o
(2)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
RJ, Brasil. mundo7, descrita em inúmeros trabalhos científicos.
(3)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, O termo perda auditiva ocupacional é usado com
RJ, Brasil. frequência, como um sinônimo de perda auditiva
(4)
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, induzida por ruído (PAIR), porém, além do ruído,
RJ, Brasil. inúmeras atividades profissionais apresentam
Conflito de interesses: inexistente outros fatores de risco para perda auditiva, como

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por exemplo substâncias químicas que, consi- frequências de 1, 2, 3 e 4KHz e 47% apresentaram
deradas isoladamente ou em combinação com o perda auditiva bilateral nas frequências de 3, 4, 6 e
ruído, podem trazer e/ou potencializar os danos à 8KHz19.
saúde do trabalhador 8,9. O Brasil é um dos principais usuários de
Diversos estudos têm demonstrado que agrotóxicos no mundo, especialmente na agricultura.
substâncias químicas podem provocar danos ao Apesar disso, são raros os estudos que avaliaram
ser humano e ao meio ambiente. Ainda que o foco o impacto da exposição a essas substâncias sobre
principal dos estudos sobre saúde auditiva seja a a capacidade auditiva de agricultores brasileiros.
exposição a ruído, são cada vez mais frequentes os O presente estudo teve como objetivo avaliar o
estudos sobre os impactos das exposições químicas sistema auditivo periférico, por meio da audiometria
sobre a capacidade auditiva, especialmente de tonal, em agricultores residentes em uma área de
trabalhadores 10-13. As desordens sensoriais do intenso uso de agrotóxicos no Estado do Rio de
sistema auditivo também têm sido associadas às Janeiro.
drogas medicamentosas, como aminoglicosideos,
quinino e outras drogas14.
„„ MÉTODOS
Existe a suspeita de que muitos compostos
químicos possam ser ototóxicos ou neurotóxicos,
mas poucas pesquisas foram realizadas para De acordo com as normas preconizadas para
sua confirmação.Entre os grupos de produtos estudos envolvendo seres humanos, este estudo
químicos descritos como potencialmente ototóxicos foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em
encontram-se os agrotóxicos. Muitos pesticidas Pesquisa (CEP) do Instituto de Estudos em Saúde
são neurotóxicos e potencialmente podem afetar Coletiva – Universidade Federal do Rio de Janeiro
a audição. Alguns estudos apontaram os organo- conforme a resolução CEP número de parecer
fosforados como potenciais causadores de perda 113/2009, processo número 51/2009. Todos os
auditiva permanente bilateral14-17. participantes do estudo foram orientados a respeito
dos procedimentos a serem realizados para a
Em estudo transversal realizado com 830
pesquisa, todas as dúvidas foram esclarecidas e
indivíduos, os achados sugeriram que o risco
assinaram o consentimento livre esclarecido.
de desenvolver disfunção cognitiva leve é de
aproximadamente cinco vezes maior no grupo de O presente trabalho é um estudo epidemio-
indivíduos expostos a pesticidas do que no grupo lógico, transversal.
de não expostos18. Foram avaliados 70 indivíduos, sendo 35
Em outro estudo realizado para estimar a preva- agricultores e 35 não agricultores, de ambos os
lência de alterações periféricas em um grupo de sexos, com idade variando entre 25 e 59 anos,
trabalhadores expostos a inseticidas organofos- moradores de Campos dos Goytacazes, sem queixa
forados e piretroídes, desordens auditivas foram auditiva. Entre estes, 54 eram do sexo masculino e
evidenciadas. Entre aqueles expostos apenas aos 16 do sexo feminino.
inseticidas, 63,8% apresentaram perda auditiva, Os agricultores foram recrutados de forma
com tempo médio entre início da exposição e início aleatória no Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas
do aparecimento da perda de 7,3 anos. Para o de Campos dos Goytacazes, sendo que 35 se
grupo com exposição a ruído e agrotóxico a preva- encaixaram nos critérios de inclusão. Os agricultores
lência de perda auditiva foi de 66,7%, com tempo selecionados para a pesquisa apresentaram idade
médio para desenvolver de 3,4 anos14. A diferença média de 46,57 anos, sendo que para serem
encontrada entre o grupo de expostos apenas a incluídos era necessário que tivessem histórico de
pesticidas e os expostos simultaneamente a ruído e exposição crônica a inseticidas, fungicidas e/ou
agrotóxicos foi estatisticamente significante. herbicidas. A pesquisa audiológica foi realizada no
Em outro estudo, 1622 agricultores do estado próprio sindicato, em sala silenciosa, com cabine
de Nova York foram entrevistados por meio de audiométrica tratada acusticamente para realização
um questionário. Para avaliar a confiabilidade do do exame.
questionário, foram realizadas 376 audiometrias. O grupo controle foi recrutado no Hospital
Os resultados da pesquisa revelaram que 36% Municipal Geral de Guarus no ambulatório de
dos pacientes referiram apresentar perda auditiva, ortopedia e com funcionários do setor de limpeza,
caracterizado como alguma dificuldade para por apresentarem nível sócio econômico próximo
escutar em uma ou ambas as orelhas. No exame ao grupo de agricultores, foram excluídos todos
audiométrico 9% apresentaram perda auditiva que relataram exposição à ruído e produto químico
bilateral nas frequências de 0,5, 1 e 2KHz, ou história de alteração otológica. A idade média
29% apresentaram perda auditiva bilateral nas do grupo controle foi de 44,45 anos. A pesquisa foi

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realizada no próprio hospital, no setor de audiologia, Pearson para avaliar a significância estatística da
em cabine audiométrica tratada acusticamente. diferença de prevalências entre agricultores e não
A inspeção do meato acústico externo e a agricultores. Finalmente, para ajustar as razões
medida da imitância acústica foram realizadas em de chances (Odds Ratio, OR) foi usada regressão
todos os indivíduos, com o objetivo de verificar a logística não condicional.
integridade funcional da orelha média e a existência
de possíveis alterações condutivas ou mistas „„ RESULTADOS
(obstrução do meato acústico externo, membrana
timpânica perfurada e outras alterações de orelha
média). Indivíduos que apresentaram algum tipo de Da população estudada a sua grande maioria
alteração na inspeção do meato acústico externo era do sexo masculin o(77,2%) sendo 35 do grupo
e medida da imitância acústica foram excluídos de expostos e 35 dos grupo não exposto. A idade
do estudo. O uso frequente de medicamentos média do grupo de agricultores foi de 46,57 anos
ototóxicos e doenças degenerativas também e do grupo de não agricultores foi de 44,45 anos.
causaram a exclusão de participantes. A medida da Entre os agricultores, 42,9% relataram exposição a
imitância acústica foi realizada com o equipamento ruído, 22,9% eram fumantes e a maioria (71,4%)
portátil Mini-Tymp® da marca Interacoustic® e a não fazia uso frequente de bebidas alcoólica. Com
inspeção do meato acústico externo foi realizada relação ao estado de saúde, 34,3% relataram fazer
com o otoscópio da marca Heine®. uso de algum tipo de medicação, e 65,7% referiram
As entrevistas foram realizadas utilizando-se não apresentar pressão alta. Já entre os controles
um questionário semi-estruturado, contendo dados (não agricultores), apenas 20% relatou exposição a
de identificação pessoal, riscos ocupacionais e ruído no local de trabalho e/ou no lazer. Com relação
não ocupacionais, utilização de equipamentos de aos hábitos de vida, no grupo de não agricultores,
proteção individual (EPI), história pregressa de 22,9% relatou serem fumantes e 37,1% consumiam
problemas auditivos e sintomas de saúde geral, bebida alcoólica regularmente. Já 45,7% deles,
situação sócio-econômica, educacional e exposição afirmaram utilizar medicamentos regularmente e a
a agrotóxicos. Os dados relativos ao histórico mesma porcentagem apresentou pressão alta. No
ocupacional incluíram descrição da atividade que diz respeito ao nível educacional a maior parte
exercida, exposição a ruidos, agrotóxicos e outros dos agricultores (65,7%)e não agricultores (51,4%)
tipos de substâncias químicas. Os resultados dos possuíam 1º grau incompleto.(Tabela 1).
testes auditivos foram anexados ao questionário Avaliando as perdas auditivas segundo unila-
dos trabalhadores após cada entrevista. Todos os teralidade ou bilateralidade verificou-se que os
testes foram realizados por um só profissional de agricultores apresentaram maior prevalência de
fonoaudiologia, segundo métodos padronizados. perdas auditivas tanto unilaterais quanto bilaterais
Todos os indivíduos tiveram sua audição em relação ao grupo de não agricultores em todos
periférica avaliada, por meio de audiometria tonal, os itens analisados, e essa diferença foi estatistica-
realizada de forma descendente e, para confirmação mente significante.Quando analisado os resultados
dos limiares, de forma ascendente, nas frequências alterados para as médias das frequências da área
de 0,25, 0,5, 1, 2, 3, 4, 6 e 8KHz. Foram excluídos da fala os agricultores apresentaram 45, 71%
indivíduos com alteração de orelha externa e média (16 indivíduos) para perdas bilaterais e 17,14%
e/ou com alguma queixa otológica. Foi utilizado o (6 indivíduos para perdas unilaterais.Já os não
audiômetro modelo AC33 da marca Interacoustic, agricultores apresentaram prevalência de 5,71% (2
calibrado segundo ISO R389 (1991), antes da indivíduos) de perda bilateral e 8,57% (3 indivíduos)
coleta de dados. Foram considerados casos de de perdas unilateral. Já para a média das frequências
perda auditiva, os indivíduos que apresentaram agudas, os agricultores apresentaram prevalência
limiares maiores ou iguais a 25dB em qualquer das de 45,71% (16 indivíduos) de perdas bilaterais e
frequências testadas. 25,71% (9 indivíduos), o grupo de não agricultores
A análise estatística foi realizada utilizando-se apresentou prevalência de 28,57% (10 indivíduos)
o software SPSS Statistics versão 17.0. Foram para as perdas bilaterais e 5,7% (2 indivíduos) para
usados o Teste Exato de Fisher e Qui-Quadrado de as perdas unilaterais (Tabela 2).

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Tabela 1 - Descrição da população

Agricultores Não agricultores


Idade (média) n % n %
25 – 44 35,3 35,6
45 – 59 53,9 50,3
Sexo
Masculino 27 77,2 27 77,2
Feminino 08 22,8 822,8
Exposição à ruído
Sim 15 42,9 7 20
Não 20 57,1 28 80
Cigarro
Sim 8 22,9 8 22,9
Não 27 77,1 27 77,1
Álcool
Sim 10 28,6 13 37,1
Não 25 71,4 22 62,9
Medicamento
Sim 12 34,3 16 45,7
Não 23 65,7 19 54,3
Pressão alta
Sim 12 34,3 16 45,7
Não 23 65,7 19 54,3
Escolaridade
Analfabeto 6 17,1 0 0
1º grau incompleto 23 65,7 18 51,4
1º grau completo 2 5,7 13 37,1
2º grau incompleto 2 5,7 2 5,7
2º grau completo 12,9 25,7

Para facilitar análise dos exames das audiome- agudas, o risco encontrado foi de 4,1 (IC95%: 1,5
trias foram realizadas as médias das frequências – 11,3) e 4,7 (IC95%: 1,7 – 13,0) para as orelhas
da fala (0,5 – 2KHz) e as médias das frequências direita e esquerda respectivamente.
altas (4 – 8KHz). Foram considerados resultados Para controlar variáveis de confusão, os resul-
alterados quando essas médias apresentaram tados foram ajustados por exposição a ruído, idade,
valores maiores que 20dB, segundo Frota20. Foram grau de escolaridade, consumo de cigarro, ingestão
analisados os riscos estimados de perda auditiva de álcool regularmente, uso de medicamentos
na orelha direita e esquerda para as médias das regularmente e presença de pressão alta.Foi
frequências da área da fala e das frequências altas. observado aumento no risco em todas as médias:
Entre os agricultores, na área da fala, o risco de para área da fala na orelha direita 17,0 (IC95%:
apresentarem perda auditiva foi de 12,7 (IC95%: 3,3 3,6 – 79,3) na orelha esquerda 14,8 (3,4 – 64,4),
– 49,2) para orelha direita e 9,2 vezes (IC95%: 2,7 frequências altas na orelha direita 7,1 (1,9 – 26,3) e
– 21,7) para orelha esquerda. Já nas frequências orelha esquerda 7,0 (2,0 – 23,8 (Tabela 3).

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Tabela 2 - Prevalência de perdas auditivas unilaterais e bilaterais

Prev. Prev. não Prev. Prev. não


Perda Auditiva Agricultores Agricultores p valora Agricultores agricultores p valora
Unilateral Unilateral Bilateral Bilateral
Sim 6 (17,14%) 3 (8,58%) 16 (45,72%) 2 (5,71%)
Área Fala 0,028 < 0,001
Nãob 13 (37,14%) 30 (85,71%) 13 (37,14%) 30 (85,71%)
Média Sim 9 (25,71%) 2 (5,71%) 16 (45,72%) 10 (28,57%)
0,002 0,008
Agudos Nãob 10 (28,57%) 23 (65,72%) 10 (28,57%) 23 (65,72%)
a. obtido pelo Teste Exato de Fisher (quando n<5) e Teste de Qui-Quadrado de Fisher (quando n>5)
b. considerados como controle grupo que não apresentasse nenhuma perda auditiva (uni ou bilateral)

Tabela 3 - Risco estimado (OR) da associação entre trabalho agrícola e perda auditiva

Não
Agricultores ORb (IC 95%) ORa* (IC 95%)
agricultores
OD área fala 19 (54,28%) 3 (8,57%) 12,67 (3,26 – 49,23) 17,05 (3,66 – 79,39)
OE área fala 19 (54,28%) 4 (11,42%) 9,20 (2,67 – 21,66) 14,90 (3,44 – 64,48)
OD média agudos 23 (65,71%) 11 (31,42%) 4,182 (1,54 – 11,35) 7,14 (1,93 – 26,37)
OE média agudos 24 (68,57%) 11 (31,42%) 4,76 (1,73 – 13,06) 7,03 (2,08 – 23,84)
Legenda: ORb – OddsRatio Bruta; ORa – OR ajustada
* ajustado por exposição à ruído, idade, escolaridade, cigarro, álcool, medicamentos e pressão alta.

As Figuras (1 e 2) a seguir mostram os resul- frequências agudas (3 a 8KHz), a média encontrada


tados encontrados nos grupos de agricultores e não no grupo dos agricultores variou entre 25 a 30dB,
agricultores na audiometria dos valores médios, enquanto que no grupo controle essa variação foi
mínimos e máximos por frequência (0,25, 0,5, 1, 2, de 10 a 13dB. Outra diferença grande encontrada
3, 4, 6 e 8KHz). foram os níveis máximos de limiares, na frequência
Analisando os resultados, segundo os valores de 8KHz no grupo dos agricultores foi de 90dB,
mínimos, valores máximos e as médias por enquanto que no grupo controle foi de 30dB. Nos
frequência avaliada, é possível observar a diferença dois grupos os valores foram crescentes de 2 a
das médias dos dois grupos.Principalmente nas 8Khz.
dB

Figura 1 - Valores médios, mínimos e máximos dos agricultores

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dB

Figura 2 - Valores médios, mínimos e máximos dos não agricultores

„ DISCUSSÃO resultados piores significantemente22. Outro estudo


realizado com 147 trabalhadores e 150 agricul-
Os resultados encontrados no presente estudo tores por meio da pesquisa de audiometria tonal e
mostraram uma maior prevalência de alterações questionários de auto-avaliação, foi observado alto
auditivas em indivíduos com exposição aos agrotó- percentual de alteração auditiva na frequência de
xicos. Esses dados foram compatíveis com os 4KHz, no grupo de trabalhadores 53% apresen-
relatados na literatura por outros estudos realizados taram perda auditiva e nos agricultores 67%23.
com agricultores14,15,17,19,21-26. Em outros estudos 9,24-26 realizados com agricul-
No presente estudo foi encontrado um alto tores, os autores também relataram um aumento
índice de perdas auditivas (unilateral ou bilateral) da prevalência de perda auditiva no grupo dos
no grupo dos agricultores: 62,85% na área da fala agricultores, com piora dos limiares nas frequências
e 71,42% na área das frequências agudas, já no agudas, e potencializadas pela exposição ao ruído.
grupo dos não agricultores foram encontrados No presente estudo a prevalência foi de 71,42%
alterações somente de 14,28% para área da fala e para os agricultores e 34,28% para o grupo
34,28% para a média das frequências agudas. No controle para as frequências agudas. Isso pode
presente estudo não foi observada diferença signi- ser justificado pela faixa etária estudada, já que
ficante entre as orelhas nos dois grupos estudados. neste estudo a maior parte dos indivíduos teve
Os valores encontrados nos indivíduos expostos e faixa etária entre 45 a 59 anos (54,9%).Outro fator
não expostos aos agrotóxicos são valores próximos em relação aos agricultores é que foi observado
aos encontrados em outros trabalhos21- 23. Em um alto índice de exposição ao ruído (42,9%) em
estudo seccional realizado com 150 agricultores relação aos não expostos aos agrotóxicos (20%).
imigrantes nos Estados Unidos(EUA), os autores Em estudo realizado para estimar o grau de perda
encontraram alteração no exame audiométrico em auditiva ocupacional em fazendeiros poloneses que
mais de 50% da população avaliada, especialmente utilizavam tratores, foram avaliados 45 agricultores
nas frequências altas, 35% relataram apresentar com idade entre 21 e 50 anos. O estudo mostrou
dificuldade para compreender a fala21. Em outro que o grupo exposto apresentou resultados estatis-
estudo realizado com 49 agricultores selecionados ticamente piores nas frequências agudas (3, 4 e
de maneira randomizada, todos trabalhadores de 6KHz), especialmente nos indivíduos com mais
tempo integral na agricultura, foi observado 65% de 30 anos, comparado com o grupo controle com
de perda auditiva nas frequências agudas e 37% a mesma idade26, corroborando os achados do
nas frequências médias no grupo dos agricultores, presente estudo. Já outro estudo para avaliar a
e 37% nas freqüências altas e 12% nas frequências prevalência de alterações auditivas em estudantes
médias no grupo de não agricultores, sendo que do ensino médio de uma região rural em Wisconsin,
a orelha esquerda dos agricultores apresentou 872 adolescentes realizaram avaliação auditiva. O

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resultado indicou um aumento na prevalência de foi observado que os indivíduos expostos ao ruído
perda auditiva nos estudantes que estavam envol- apresentaram um aumento no risco de apresentar
vidos em trabalhos rurais, comparado com o grupo perda auditiva15. O presente estudo evidencia que
que não trabalhava27, mostrando que apesar de o uso de agrotóxicos pode ser responsável pela
se encontrar uma prevalência maior de alterações ocorrência de perda auditiva periférica, indepen-
auditivas em pessoas com mais idade, é possível dente da exposição ao ruído.
observar quando comparado a indivíduos jovens
não expostos ao agrotóxico, uma maior prevalência „„ CONCLUSÃO
de perda nos jovens agricultores.
No presente estudo foi encontrado um risco Os resultados deste estudo sugerem que as
estimado de aproximadamente 4 vezes nas exposições crônicas aos agrotóxicos podem afetar
frequências agudas e quando ajustados para o sistema auditivo periférico, independente da
idade, exposição ao ruído, pressão alta, tabagismo, exposição ao ruído. Dados do presente estudo e
consumo de bebida alcoólica, uso de medicamentos de outras publicações sugerem que exposições
e grau de escolaridade, houve um aumento do risco químicas devem receber maior atenção com
para 7 vezes. Em um estudo realizado com 150 relação aos programas de prevenção e conser-
agricultores do estado de Iowa, EUA, foi encontrado vação auditiva, independente de exposição ao
risco estimado de 1,62 para melhor orelha, 1,67 ruído. Mais trabalhos deverão ser realizados para
para perdas assimétricas e 1,96 para pior orelha, avaliar os efeitos neurotóxicos dos agrotóxicos.

ABSTRACT

Purposes: to evaluate the peripheral auditory system, by means of pure tone audiometry for farmers
living in areas of heavy use of pesticides in the State of Rio de Janeiro. Methods: 70 individuals of
genders, 35 farmers and 35 non-farmers, with ages between 25 and 59 years, residents Campos
dos Goytacazes, were enrolled into the study. All subjects had their peripheral hearing evaluated by
means of pure tone audiometry at frequencies of 250, 500, 1,000, 2,000, 3,000, 4,000, 6,000 and
8,000 Hz. Individuals with alterations in external and middle ear and/or with a otologic complaint were
excluded from the study. In addition, interview was conducted regarding health issues, socioeconomic
status, education and exposure to pesticides. Hearing loss was considered if hearing thresholds were
equal or more than 25 dB at any frequency tested. Results: the Odds Ratio of hearing loss was
3.67 times (95% CI: 2.08 - 6.48) higher among agricultural workers (94.3%) when compared to non-
agricultural workers (25.7%). Furthermore, most of the hearing alterations were observed in the higher
frequencies. Conclusion: this study suggests that the agricultural activity and possible exposure to
pesticides increases the risk of hearing loss.

KEYWORDS: Pesticides; Environmental Health; Audiometry

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http://dx.doi.org/10.1590/1982-0216201420212
Recebido em: 03/09/2012
Aceito em: 06/12/2013

Endereço para correspondência:


Maria Isabel Kós
R. Timóteo da Costa, 1033 bl.3/903 – Leblon
Rio de Janeiro – RJ – Brasil
CEP: 22450-130
E-mail: [email protected]

Rev. CEFAC. 2014 Mai-Jun; 16(3):941-948

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