Dedos Gélidos in Coelho Maldito

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Dedos gélidos

Ela abriu os olhos.


Estáescuro. Tudo muitoescuro, como se alguém tivesse
vedado seus olhos com um pano preto. Náo háum feixe de
luz sequer.
Será que estou cega? conhee a oeiemo do
Move a mãoem frente aos olhos. Tem a sensaçáo de ver
algo esbranquiçado se mexer. Mas não dá para distinguir exa
tamente o que é.
Desiste após algumas tentativas. A escuridão é pesada de
mais.

Que horas sáo para tanta escuridáo? Onde será que estou
para tudo estar escuro desse jeito? duclsor
Estica as máos, tateando. Algoredondo. Duro.
Nolante
Tateia a parte de trás do volante com a máo direita. Ig-Sie3es
nição. Gira a chave que está no contato. Nada. O carro náo
dá ignição.
Percorreo lado esquerdo com a mão esquerda. Ao sentir
uma espéciede<bastáo, puxa para baixo. Aexpectativa éque a
seta da esquerda comece a piscar. Mas nada. Dessa vez empurra
para cima. Nenhuma luz. Tateia e gira a ponta da alavanca
para acender ofarol dianteiro. Como esperado, nenhuma luz.
Oque seráque aconteceu?
Tenta lembrar. Mas, como a vista, a memória também
estásubmersa nas trevas.

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.. P.. .SSOra.
Ouveuma voz. de mulher bem fininha. Levanta a cabeça.
. profcssora.
para o lba
Avoz volta achamá-la. Tenta virar a cabeça
de onde vem avOZ. Mas étáo fina que náo consegue entender
de onde vem.
Professora Lee.
Sim?
Responde. Mas náo sabe de onde vemn a voz, nem de quem
é. Oumelhor, nem sabe se aquela voz estámesmno chamando
por ela. Mas sópelo fato de estar ouvindo uma voz humana.
responde animada.
Tem alguém af? Quem é? Eu estou aqui!
Voc está bem,professora Lee?
Avoz vem do lado esquerdo.
Está machucada, professora?
Não...
:nta mexer as pernas eos braços. Nao sente dores.
4 vOz fina continua do lado esquerdo.
- Entáo saia do carro. Rápido.
- Porque? Tem alguma coisa errada comigo? Que lugar
éesse?
Eque estamos num pântano eo carro estáafundando
aos poucos -responde avozfininha, tranquila. -Émelhor
se apressar.
Ela tenta se levantar. O cinto de
rax. Então pega o segurança esmaga seu to
cinto na altura do peito e desce a máo ate
pertoda cintura. Aperta o botão para
desfivelar. Vira para
esquerda ecomeça a procurar pelo puxador para abrir a
Sente a janela. Continua tateando porta
mais para baixo.
Depressa,
apressá-la. professora Lee - a voz fininha começa
Sente o puxador na máo esquerda. Puxa. A porta náo se
mexe. Tenta empurrar.
Professora Lee, rápido!
-A porta náo quer abrir.
Ela entra em em pånico. Avoz á ordens, ’vey Igobto.
Estátrancada por dentro Destrave.
Volta a tatear ao redor do puxador. Encontra vários bo
tões. Vai apertando um por um. Na terceira tentativa, ouve
um estalovindo da porta. Fica extremamente teliz com esse
Som que parece ser o da salvação.
Puxa a alavanca outra vez. Sente a porta abrir, porém per
cebe algo impedir que continue.
-A porta não quer abrir diz, empurrando com o
ombro.
E que estáatolada na lama. Deixe-me ajudar - diz a
vOz fininha, bem de perto. Sente dedos tocarem a sua máo que
tenta abrir a porta por dentro. Consegue abrir um pouco mais.
-Saia daí. Depresa- diz a voz fininha.
No momento em que põe a perna esquerda para fora do
carro seguindo as ordens da voz, se lembra de algo.
Só um minutinho...
Dois
Agacha e começa a tatear a parte de baixo do volante.
objetos duros e planos. O comprido da direita éo acelerador,
al
eomaior e mais plano o freio. Estica a máodireita para
de areia
cançar além dos pedais. Senteo tapete do carro cheio
e terra. Mas náo encontra o que procura.
voz fini
O que estáfazendo? Saia logo daí! - diz a
nha, aflita.
- Sóum pouquinho...
motorista.
Estica ainda mais a mãopara baixo do banco do
para
Uma fina e longa barra de metal. Provavelmente a alavanca
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". p...SSOra.
voz de mulher bem fininha. Levanta aacabeça.
Ouve uma
...professora. a cabeça para o Jad.
A voz volta a chamá-la. Tenta virar
conscgue entende.
de onde vem a voz. Mas é táo fina que nao
de onde vem.
Professora Lee.
Sim?
auen
Responde. Mas náo sabe de onde vem a voz, nem de
mesmo chamando
é. Oumelhor, nem sabe se aquela voz está
uma voz humano
por ela. Mas só pelo fato de estar ouvindo
responde animada.
Tem alguém aí? Quem é? Eu estou aqui!
Você está bem, professora Lee?
Avoz vem dolado esquerdo.
Está machucada, profesora?
-Não...
Tenta mexer as pernas e os braços. Não sente dores.
A
voz fina continua do lado esquerdo.
Entáo saia do carro. Rápido.
Por quê? Tem alguma coisa errada comigo? Que lugar
éesse?
-E que cstamos numn pântano eo carro está afundando
aos pouCOS responde a voz fininha, tranquila. É melhor
se apressar.
Elatenta se levantar. O cinto de segurança esmaga seu tó
rax. Entáo pega o cinto na altura do peito e desce a mão até
perto da cintura. Aperta o botão para desfivelar. Vira para a
esquerda e começa a procurar pelo puxador para abrir a porta.
Sente a janela. Continua tateando mais para baixo.
Depressa, professora Lee a voz fininha começa a
apressá-la.

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Sente o puxador na máo esquerda. Puxa. A porta náo se
mexe. Tenta empurrar.
Professora Lee, rápido!
A porta não quer abrir.
Ela entra em pånico. Avoz á ordens - vey nydis.
Estátrancada por dentro{ Destrave.
Volta a tatear ao redor do puxador. Encontra vários bo
tÑes. Vai apertando um por um. Na terceira tentativa, ouve
um estalo vindoda porta. Fica extremamente feliz com esse
som que parece ser o da salvaçá.
Puxa a alavanca outra vez. Sente a porta abrir, porém per
cebe algo impedir que continue.
A porta náo quer abrir - diz, empurrando com o
ombro.
É que está atolada na lama. Deixe-me ajudar- diz a
yoz fininha, bem de perto. Sente dedos tocarem a sua máo que
tenta abrir a porta por dentro. Consegue abrir um pouco mais.
Saia daí. Depressa - diz a voz fininha.
No momento em que põe a perna esquerda para fora do
Carro seguindo as ordens da voz, se lembra de algo.
Sóum minutinho...
Agacha e começa a tatear a parte de baixo do volante. Dois
objetos duros eplanos. Ocomprido da direita éoaceleradot,
eo maiore mais plano o freio. Estica amáo direita para al
cançar além dos pedais. Sente otapete do carro cheio de areia
e terra. Mas náo encontra o que
procura.
que está fazendo? Saia logo daí! diz a voz fini
nha, aflita.
Só um pouquinho..
Estica ainda mais a mão para baixo do banco do motorista.
Uma fna elonga barra de metal. Provavelmente a alavanca para
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Não encontra nada alén 1
ajustar o banco. Tateia o chão.
tapete, areia, terra e poeira.
perna esquerda, que está do lado de fora doca.
subirSente a
aos poucos. Nesse movimento, a porta vai se fechando,
pressionando a canela. A voz começa a gritar.
- Depressa, professora Lee! Nao sei o que estáprocuran.
do, mas deixe e saia jádaí!
Mas... hesita.
Estáprocurando o quê? pergunta a voz fininha.
Euma coisa muito importante... -responde sem
explicar muito.
Põe a mão esquerda sobre a direita. Náo encontra nada no
dedo anelar. Tateia ao redor do banco do motorista e estende
a máo para obanco do passageiro.
Eo que é essa coisaimportante? volta a perguntar
a voz fininha.
Segurando a parte de fora do carro com a mão esquerda,
faz força para alcançar debaixo do banco do passageiro com
o braço direito.
Eum anel.
Em vez do banco do passageiro, alcança aalavanca de câm
bioe o freio de máo. Estica um pouco mais o braço. Nada no
banco do passageiro. Não consegue alcançar o chão do outro
lado, talvez por causa da posiçáo inusitada.
Os mesmos dedos voltam a tocar sua máo esquerda.
issoque está procurando?
Sente um pequeno objeto arredondado e rígido tocar sua
máo. Os dedos, não sesabe de quem, põemoobjeto no dedo
anelar da sua máo esquerda.
Endireita-se esente amáo esquerda com a direita. Não con
segue ver, mas tem a sensação de familiaridade ao sentir a

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rextura polida e a espessura, um tanto incômoda, pressionar
os dedos ao lado. ton
-Éisso? pergunta a voz fininha. rispiado
É... Mas como...
-Achou o que estava procurando, náo é? Entáo saia logo
daí. É perigoso a voz fininha apressa outra vez.
Com a máo direita, empurra a porta que ameaça fechar.
Consegue pôr ametade esquerda do corpo para fora do carro.
Cuidado que o cháo estápegajoso avisa a voz fi
ninha.
Senteo péesquerdo afundar na lama. Procura sair com
cuidado, segurando a porta do carro com a máo esquerda e a
carroceria com a direita.
Os pés afundam a cada passo. E dificil manter o equilí
brio. No momento em que vacila, os dedos seguram sua máo
esquerda.
Cuidado. Um pé de cada vez. Devagar. Isso.
Passo a passo, ela se afasta do carro, seguindo as instru
ções da voz.
Para de repente.
-0que foi? pergunta a voz.
Você não ouviu? Veio de lá...
Oquë'-a voZ pergunta outra vez.
Presta mais atençáo.
Achei... acho que ouvi alguém...
A voz também tenta ouvir.
Deve ter sido engano volta a dizer a voz fininha.
-Não tem ninguém aqui. Só nós duas.
Procura ouvir de novo oque achava ter ouvido(e dod)
Não éum som (claro. Parece vir de longe, mas também^ nos)
logo ao lado. Parece voz de gente e, a0 mesmo tempo, ruído
de vento...
O som vai diminuindo até desaparecer.
Tive certeza de que tinha alguém...
Não tem ninguém além da gente diz a voz
firme.
fininha,
- Pode ser algum bicho.
Os dedos seguram sua mão esquerda com mais forca
Rápido... Émelhor sairmos daqui diz, amedron
tada, a vOz.
Aqueles dedos que apertam sua mão esquerda, transmj
tem um sentimento de pavor quea atravessa atéalcancar ser.
coraçáo.
Começa a andar em silêncio.
De vez em quando, titubeia por causa dos pés que atolam
no lamaçal. Neses nomentos, os dedos, que agarram sua máo
eotangesquerda a ponto de doer, a apoiam e ajudam a se reequilibra.
Ela não sabe para onde está indo e continua sem saber
onde está. Avoz fininha parece sentir a mesma aflição, mas
aqueles dedos que seguram firme sua mão esquerda lhe pas
sam uma segurança. Por isso, confiando na voz e nos dedos,
ela continua avançando sem saber para onde, passo a pasSo,
naquele terreno pegajoso, envolto em uma densa escuridáo.
Pronto diz a voz, parecendo aliviada.
Chegamos em terra firme
Pöeprimeiro opé esquerdo e, em seguida, o direito sobre
ch¥o duro.
Ficou bem mais fácil andar diz a voz, alegre.
Acha que podemos descansar um pouco? sugere.
Andar em um terreno pantanoso sem saber para onde 1a e pO
quantotempo tinha que enfrentar a situacáo cansou náo só 0
físico, mas tamb¿m a mente.
Senta-se ali mesmo. Adona da voz fininha senta aolado
dela. Náo dápara ver, mas sente.

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Oaneh Deve ser muito importante para você, não?
perguhta a voz de
de maneira discreta.
Ela acrtcia o objeto redondo, firme epolido no dedo
anelar da mão esquerda.
Ah, sim...
Éassim... muito importante? volta a perguntar a
vOz fininha, no mesmo tom.
Éque... ela continua mexendo no dedo anelar.
Memórias de máos grandes e tenras que seguravam as
suas: rostos familiares eaprazíveis. Momentos..(talvezàlegres
efelizes. Era..parecia)importante eprecioso,..Pelo menos,
era o que achava.
Mas quanto mais ea tenta se lembrar, mais a memória se Wpu a)
torna(ncerta, ponto de desaparecer deixando apenas algum4nenelen
calor, como raios desol no crepúsculo. Desde o momentoem qu
que abriu os olhos, sente que náo hánada além da.escuridáo no (ooem)
lugar da memória. Escuridáo igual àque envolve todoo lugar.
- Me desculpe, não queria ser intrometida... ayoz
fininha se desculpou, vendo que ela permanecia em silêncio,
Não, náo se preocupe... disse, se sentindo confusa.
que... náo lembro bem... Parece que a minha cabeça
está afundada emn trevas...
Nossa, deve ter machucado - disse a voz fininha,
preocupada.
Mas... não sinto nenhuma dor...
-Deixe-me ver.
Sentiu dedos tatearem sua testa e a cabeça. A voz fininha
perguntou:
Estádoendo?
Não.
Os dedos passaram pelas têmporas.
E aqui?
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Também náo...
-E agora?.. - suspirou avoz. E melhor sairmos
daqui o quanto antes e dar um jeito de encontrar um médi
Ela também tateou acabeçaeo rosto. Não encontrou f
ridas, nem sangue. Sentia apenas uma densa escuridão
toda a cabeça. ocupar
Escute... -finalmente perguntou depois de um bom
tempo verificando a cabeça e o rosto. Que lugar éesse?
Como éque nós... viemos parar aqui? O que aconteceu?
Nossa, você não lembra! -perguntou avoz, surpresa.
Ela respondeu abatida.
Não, não lembro de nada...
-A gente tinha idoconhecer a casa nova da professora
Choi, que acabou de se casar. O acidente foi na volta... Não
lembra?
- Não...
Não se lembrava de nada. Revirou a menmória. Até parecia
mentira, mas náo havia nada além de escuridão.
Professora... perguntou avoz fininha com apreen
sáo. Você lembra de mim?
Ela hesitou. Sentiu vontade de chorar.
-Não...
Meu deus, eagora? -A voz ficou cada vez mais fraca
Eusou a Kim... Professora da turma 2 do sexto ano. Da
sala ao lado da sua... Não lembra?
Náo, não lembro..
Ela imaginou que a palavra "professora" se referia à de
escola fundamental.
-A professora Choi, que era do quinto até oano passa
do - continuou a voz fininha, aflita, Ela pediu demissa0
depois do casamento.. Porque o marido ia trabalhar em

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osutra cidade. A gente tinha ido conhecer a casa nova deles...
Não lembra mesmo?
Náo...
-Eagora?...
Os dedos voltam a tatear sua mão esquerda. E entáo a
seguram com forca.
Vamos, levante-se.
O quê?
Ela se levantou sem conseguir pensar por si.
Professora Lee, acho que vocêestá pior do que ima
ginamos disse a voz fininha com determinação. Não
podemos continuar aqui. E melhor procurarmos um mécico.
Sim...
Estámuito cansada?
Ha? Ah, náo...
Entáo vamos.
Os dedos puxam de leve a mão esquerda. Ela volta a andar
guiada por eles.
Eo acidente? perguntou enquanto caminhavam.
Como foique aconteceu?
Eu também não sei direito.. suspirou a voz.
Vocêestava no volante porque eu tinha bebidodemais...
Ah...
lomada por um sentimento de culpa, ela náo conseguiu
falar por um momento. Um pouco depois, tornou a perguntar.
Então o carro éseu, professora Kim?
A voz não respondeu.
Por constrangimento e sentimento de culpa, náo fez mais
perguntas.
Você... por acaso sabe onde estamos? só falou depois
de caminhar em silêncio por um bom tempo.

t
Não exatamente... respondeu a voz, com frieza
E onde é acasa da professora Choi? quis saber.
Eperto daqui?
Eu também não sei direito... Caí no sono assim
que
partimos... - respondeu a voz, desconversando.
Ela pensou um pouco mais e perguntou.
Por acaso você está como seu celular?
-Celular? a voz demorou a responder. - Não, F
você, professora Lee? Estácom oseu aí? devolveu a per.
gunta.
-Não...
Não encontrou enquanto procurava pelo anel? in
sistiu a voz.
Não tinha nada no banco da frente... respondeu
sentindo um tom de cobrança. -Você viu se estava no b¡n
co de trás?
Não, estava muito escuro. Pode ser que tenha sido
atirado para fora do carro... respondeu a voz de maneira
pouco firme.
Pararam de falar.
Não dava para saber por quanto tempo estavam cami
nhando. Tudo continuava na completa escuridáo. Não havia
lua nem estrelas. Quanto tempo seráque vai levar atéo ama
nhecer, pensou sozinha.
Para onde estamos indo? perguntou, finalmente,
com cautela.
Avoz náo respondeu.
-Você sabe para onde estamos indo? insistiu.
A voz permaneceu um tempo em silêncio. E, em vez ae
responder, suspirou:
Coitada da professora Choi.
O quê? perguntou ela, sem entender.
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deosn
pessoa mais feliz do cola
Quando :se casou, parecia ser a pessoa
mundo murmurou a VOZ Comose estivesse talando sozi

nha. Mas se divorciou em apenas um ano, foimandada


embora da escola...
Ela esperou, mas a voz náo continuou.
Entáo perguntou:
Do que você estáfalando?
Ela náo tem culpa de ter tido um marido infiel...
avoz fininha voltou a murmurar. -Não acha injusto? É
verdade que dizem que os professores devem dar o exemplo,
mas oproblema éque era uma mulher... divorciada, ainda
por cima...
Náo estou entendendo nada. Vocà não disse que a
professora Choi tinha acabado de se casar?
A
voz soltou ufn riso fino.
Acabado de se casar... sim, com um ano de casamento
épossível dizer que érecém-casada...
Mas você acabou de falar que fomos convidadas para
conhecer a casa nova da professora Choi, que ela tinha aca
bado de se casar...
Professora Lee, você deve ter machucado a cabeça...
respondeu avoz fininha, se esforçando para ter paciência.
Nós fomos consolara professora Choi na casa que ela ar
Tanjou para morar sozinha, porque se mudou para o interior
depois do divórcio...
Apos esperar um pouco, a voz fininha continuou.
-Parecia que ela n¥o tÉnha feito nada além de beber des
de que foi morar sozinha. Nunca vi ninguém beber tanto...
Estava confusa.
Mas... mas...
Não lembra, mesmo?
esmo?perguntou a voz. Eagora'
Precisamos de umn médico, urgente.
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Ela se caloudepois de ouvir isso.
Continuou andando em silêncio.
Olhou para o céuenquanto
caminhava. Era tudo tão
nem conseguia saber se estava mesmo olhando para
Curoque
o c¿u. Pensou que nunca tinha visto uma escuridáo táo den-
era de carfo, Certamente teri
Sa na vida. O acidente, jáque
ocorrido perto de uma estrada. Mas como podia eSsa região
não ter nenhuma iluminaçáo?
estou indo?
Onde seráqueestou? Para onde
Pobre professora Choi...
respondeu.
A voz fininha voltou a puxar conversa. Ela não
-Amãe dela chorava tanto... lão jovem... Como pode
uma tragédia dessa acontecer...
- Do que você está
falando? cortou rispidamente.
Professora Lee, você também viu suspirou a voz.
Novelório... Ah, você disse que não lembra, não é?
Velório? Como assim? - irritou-se ainda mais ao
sentir umn-tom de deboche Vocêdisse que estávamos na
Casa dela...
-A batida deve ter sido muito grave... a voz fininha
demonstrava preocupação. Por
Por mais
mais que
que o amor dela não
tenha sido correspondido durante todo aquele tempo, como
pôde pensar em suicídio...Tão jovem. Será que náo pensou
na família? Coitados...
Você.. náodisse quea professora Choi tinha se casa
do? perguntou, tentando esconder ao máximo a voz trê
mula. Náo disse que ela tinha se diyorciado... por causa
do marido infiel?
-Ai, ai... -a voz fininha suspirou longamente. -Na0
fala coisa com coisa...
Mas vocêdisse há pouco. Primeiro que era a casa nova
após ocasamento da professora Choi e depois que ela morava

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inha... Que tinha acabado de se casar e que o marido pe
diuo divórcio...
Professora Lee, nada do que você está falando faz sen
rido. Estásentindo dores na cabeca?
Ela se calou.
Vocênáo acha que a professora Choi foi tola demais?
voltou a murmurar a voz fininha, depois de um momen
to de silêncio. - Entendo que ela estava apaixonada, mas
como náo percebeu que aquele homem estava de caso com
a professora da sala ao lado? Toda a escola estava sabendo,
menos ela... Depois que a mulher tomou de vez o homem
dela, saiu da escola e fez todo aquele escândalo dizendo que
ja se matar...

Avoz fez uma pausa. Ela esperou.


E náo é que morreú mesmo?... murmuroú a voz

fininha, num tom que náo dava para saber seestava rindo ou
chorando.
Nesse momento, a confiança, recente porém profunda, se
partiu em pedaços e ela sentiu uma forte e afiada done um in
tenso sentimento de pavor revirarem seu coração. Cautelosa
mente, se afastou um pouco para a direita. Ainda colada ao
lado esquerdo dela, avoz continuava murmurando.
Você náo acha que avida é muito injusta?Todo mun
do nasce igual, mas algumas mulheres chegam a se casar com
o homem que roubaram das outras,enquanto algumas são
Simplesmente jogadas fora, cuspidas como chiclete velho...
Ela não respondeu.
Náo éengraçado? a voz fininhacontinuou. -Mes
mo tendo sofrido o mesmoacidente de carro, algumas pessoas
morrem ali mesmo, enquanto outras escapam ilesas.
Quem évoc? perguntou, sem tentar esconder o
medo.
Nocê não acha muito injusto? - a voz fininha conti
nuou sem dar atençáe, -Ter passado a vida inteira na solidss
morte...
para estar sozinha mesmo depois da
Que lugar é esse? O que aconteceu comigo? ela
gritava.
Eu acho as pessoas muito engraçadas. Avoz fininha
continuou rindo colada ao seu lado esquerdo. Você não?
Mesmo não vendo nada, elas acredicam em vozes só porque
se sentem inseguras...
Quem évocê? continuou a gritar. Onde estou?
Para onde estáme levando?
Ésó fingir um pouco de atenção que a pessoa já vai
junto sem saber quem está falando ou para onde é levada..
a voz seguiu murmurandorindo.
Não aguentando mais, ela começou a correr.
A
voz fininha, ainda rindo e murmurando, vinha de trás.
Sem nem saber quem é, para onde está indo...
Ela correu. Não sabia para onde, mas correu sem parar,
mais calma ao sentir a voz fininha cada vez mais longe.
Derepente, os pés afundaram. Perdeu o cquilíbrio e caiu.
Quando finalmente conseguiu se levantar depois de muito se
debater, (1mclaráo acegou, Seus olhos, até então acostumados
àescuridáo, pararam de funcionar diante daquela claridade
inesperada. Ela ficou estática diante da chuva de luzes.
Viunitidamente sua própria imagem petrificada e apavo
rada, sentada no banco do motorista daquele carro descontro
lado, voando em sua direção para fora da estrada. Viu também
Conhay
a presença serena, comose estivesse debochando dela, de cinco
dedos entre as suas duas mãos que seguravam inutilmente o
volante com toda a força.
A escuridáovoltou atomar conta
de tudo.
P...ssora.

58
Ouveuma voz de mulher bem fininha. Levanta a cabeca.
-...professora.
AvOZ VOlta a chamá-la. Tenta virar a cabeça para o lado
de onde vem a voz. Mas náo consegue se mexer.
-Professora Lee.
Nomomento em que está prestes a dizer algo, uma outra
VOZ, dessa vez familiar, responde.
Sim?
Ouvindo a própria voz responder ao chamado, ela se de
batedebaixo do carro. Mas náo consegue se mexer. Hámuita
lama, aliás, algo parecido com lama. Essa coisa pegajosa, in
sistente enefasta, depois de ter engolido seus dois pés, joe
lhos, as cOxas e até acintura, continua a subir, de pouco em
pouco, sem cessar.

Ouve um diálogo de longe.


Tem alguém af? Quem &? Eu estou aqui!
- Você está bem, professora Lee?
Ela se contorcecom todas as suas forças. O braço direito
estádebaixo de uma das rodas. Consegue tirar a máo esquer
da com muito custo. Segura o para-choque. Força o braço
esquerdo na tentativa de escapar de debaixodo carro.
Derepente, sente dedos gélidos tocarem sua máo esquerda.
Recua a máo, masétarde demais. Os dedos gélidos tiram do
seu dedo anelar oanel redondo, firme e polido.
"Náo...
Tem vontade de gritar. Mas náo consegue se fazer ouvir.
Fique tranquila... sussurra a voz fininha no seu ou
vido, -Nãose mexa. Você estámachucada, pro-fes-so-ra-Lee.
Avoz se afasta debochada, rindo.
Sente uma leve sacudida vinda do carro que a esmaga.
..Cuidado. Um pé de cada vez. Devagar. sso Ouve
a voz fininha falando de
longe.
59
Ela abre a boca. Ecom toda asuaforça, comtodo opavor,

fúria e desespero, grita.


Oqueoi? Ouve a voz perguntar.
Vocênão ouviu? Veio de lá...
quê?- pergunta outra vez.
O a voz
Achei... acho que ouvi alguém...
Deve ter sido engano - volta a dizer a voz fininha
-
nós duas.
Nãotem ninguém aqui. Só
sobre aquele terreno
Ouve passos dados com dificuldade
também vai di.
lamacento e pegajoso se afastarem. Odiálogo
minuindo.
carro continua a afundar pouco a pouco. Esmagada, ela
O
dizer exata
ouve o som de ossos se quebrando, mas não sabe
mentequais. Acha estranho náo sentir dor. Tudo oque sente
escuridáo des
éopeso colossal do carro que a arrasta para a
conhecida.

cuclcomnk
elleno

60

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