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BACHARELADO EM DIREITO

REGIANE ALMEIDA DA ROCHA

A PSICOPATIA E SEU TRATAMENTO NO ÂMBITO JURÍDICO À LUZ DO


CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

Guanambi - BA
2021
2

REGIANE ALMEIDA DA ROCHA

A PSICOPATIA E SEU TRATAMENTO NO ÂMBITO JURÍDICO À LUZ DO


CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

Artigo científico apresentado ao curso de


Bacharelado em Direito do Centro
Universitário de Guanambi - UNIFG, como
requisito de avaliação da disciplina
Trabalho de Conclusão de Curso II.
Orientadora: Profa. Nilza Santana

Guanambi - BA
2021
3

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6

2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................ 7

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................. 8

3.1 PSICOPATIA ......................................................................................................... 8

3.2 IMPUTABILIDADE PENAL .................................................................................... 9

3.3 TRATAMENTO JURÍDICO .................................................................................. 11

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 13

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 14
4

A PSICOPATIA E SEU TRATAMENTO NO ÂMBITO JURÍDICO À LUZ DO


CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

Regiane Almeida Rocha1, Nilza Santana²

¹ Graduanda do curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário de Guanambi – UNiFG.


² Docente do curso de Direito do Centro Universitário de Guanambi – UNiFG.

RESUMO: O presente artigo discorre sobre o tratamento dado a psicopatia no âmbito


jurídico à luz do Código Penal brasileiro. Em um primeiro momento, buscou-se
apresentar o conceito de psicopatia, para, posteriormente, analisar o seu tratamento
dentro da legislação penal. Sendo assim, foi apresentado que a psicopatia, sob o viés
da psiquiatria, se trata de uma espécie de transtorno de personalidade, na qual os
indivíduos não possuem capacidade cognitiva suficiente para evitar o cometimento de
comportamentos socialmente desaprovadores, e além de demonstrar que pessoas
com esse transtorno de personalidade possuem deficiências com a compreensão e a
experiência de certas emoções, o que pode acarretar no cometimento de novos
crimes. Por conta disso, a legislação penal atribui aos que possuem esse tipo de
transtorno, o caráter de inimputável, ou seja, isenta o indivíduo com essas
características da culpabilidade, que é um dos requisitos presentes na Teoria do
Crime. Ao final, foi demonstrado que muito embora haja previsão na legislação penal
sobre o tema, a lei é omissa sobre o tratamento conferido ao agente que sofre com
transtornos de personalidade, também foi visualizado a necessidade de um amparo
estatal, promovendo acompanhamento com especialistas na psicologia forense,
evitando assim que o agente volte a cometer delitos. Desta forma, o estudo realizou
uma análise sobre culpabilidade e a psicopatia, as principais posições quanto ao
impacto da psicopatia na declaração de imputabilidade, tudo isso para à luz do Código
Penal, e que a ausência de uma legislação específica traz prejuízos para as vítimas e
para o agente infrator. Metodologicamente foi realizado uma pesquisa de cunho

1
Endereço para correspondência: – Guanambi,
Bahia. CEP: 46.430-000
Endereço eletrônico: [email protected]
5

bibliográfico, a partir de estudos publicados em revistas e livros renomados, como


também a própria legislação penal.

PALAVRAS-CHAVE: Código Penal. Inimputabilidade. Psicopatia.

ABSTRACT: This article discusses the treatment given to psychopathy in the legal
context in the light of the Brazilian Penal Code. At first, we sought to present the
concept of psychopathy, to later analyze its treatment within the criminal law. Thus, it
was shown that psychopathy, under the psychiatry bias, is a kind of personality
disorder, in which individuals do not have sufficient cognitive capacity to avoid
committing socially disapproving behaviors, and in addition to demonstrating that
people with this personality disorder has deficiencies with the understanding and
experience of certain emotions, which can lead to the commission of new crimes.
Because of this, criminal law attributes to those who have this type of disorder the
character of non-imputable, that is, it exempts the individual with these characteristics
from culpability, which is one of the requirements present in the Theory of Crime. In
the end, it was shown that, although there is provision in the criminal legislation on the
subject, the law is silent on the treatment given to the agent who suffers from
personality disorders, the need for state support was also seen, promoting follow-up
with specialists in psychology forensics, thus preventing the agent from committing
crimes again. Thus, the study carried out an analysis of culpability and psychopathy,
the main positions on the impact of psychopathy on the declaration of liability, all in
light of the Penal Code, and that the absence of specific legislation brings harm to
victims and for the offending agent. Methodologically, a bibliographic research was
carried out, based on studies published in renowned magazines and books, as well as
the penal legislation itself.

KEYWORDS: Criminal Code. Imputability. Psychopathy.


6

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por objetivo discutir acerca do que dispõe o Título III do
Código Penal Brasileiro, que trata sobre a Imputabilidade Penal, e conforme previsão
presente no art. 26 do mesmo diploma legal, é isento de pena aquele que era incapaz
de entender o caráter ilícito de sua conduta em decorrência de doença mental,
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, denominando indivíduos com essas
características como inimputáveis (BRASIL, 1940).
De acordo com a Teoria do Crime, muito embora não seja possível fragmentar
o crime conforme ensina Greco (2017), a análise do crime é feita através da presença
de três elementos fundamentais, quais sejam: tipicidade, antijuridicidade e
culpabilidade que são responsáveis pela conversão de uma ação em um delito
(GRECO, 2017).
A capacidade de culpa ou imputabilidade, é conceituada como a ausência de
um impedimento de natureza psíquica para a compreensão da ilegalidade e para a
adequação de comportamentos de acordo com esse entendimento, ou seja, como o
conjunto de faculdades psíquicas mínimas que um sujeito, autor de um crime, deve
possuir (SANTOS, 2018).
Consequentemente, se o sujeito carece dessas faculdades psíquicas mínimas,
considera-se que ele não é capaz de fazer uso do seu arbítrio e, portanto, não pode
ser responsabilizado por seus atos. A psiquiatria e a psicologia forense podem
promover mudanças no direito penal, especialmente no conceito de culpabilidade.
Quanto a psicopatia, o que se traduz em incerteza quanto à resposta criminosa
(aplicação de pena ou medida de segurança) que deve ser dada, caso seja
comprovado que o psicopata cometeu algum ilícito (SANTOS, 2018).
No que tange a capacidade cognitiva, esta compreende todas as habilidades
que o sujeito possui para incorporar as informações que o meio emite, como os
processos perceptivos sensoriais e a capacidade intelectual do sujeito. Aqui, é
determinado se o indivíduo está ciente do caráter ilícito e das consequências de sua
conduta. Por outro lado, a capacidade volitiva inclui todos os aspectos motivacionais
que estão por trás do comportamento de um indivíduo, as reações de adaptação às
demandas do ambiente, a possibilidade real de o indivíduo agir de acordo com o que
o sistema jurídico espera dele (CELANT, 2016).
7

A análise da imputabilidade não se limita ao exame da capacidade de


compreensão da ilegalidade do ato. Está associada à capacidade do indivíduo de agir
de acordo com esse entendimento, capacidade que geralmente é identificada com a
vontade ou capacidade volitiva, porém, expressões como capacidade de
determinação ou autodeterminação, autoconduta, autocontrole, autodeterminação,
governar ou controlar impulsos estão intrinsecamente ligados a caracterização ou não
imputabilidade penal (PINHEIRO, 2018)
Diante disso, a presente pesquisa realizou uma análise sobre possibilidade de
culpar e a psicopatia, as principais posições quanto ao impacto da psicopatia na
declaração de imputabilidade, tudo isso para à luz do Código Penal, e que a ausência
de uma legislação específica traz prejuízos para as vítimas e para o agente infrator.
O estudo, portanto, possui relevância social e jurídica, visto que a partir dele,
serão apresentados os entendimentos da literatura, que sustentam a ideia de que há
ausência legislativa no tratamento dos agentes que sofrem com transtornos de
personalidade, que deveriam contar com acompanhamento psicológico para não
voltarem a cometer ilícitos.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O presente artigo contribui para a discussão sobre a omissão legislativa


presente nos casos que versam sobre agentes que cometem ilícitos e a capacidade
mental para serem responsabilizados pelos seus atos, caso reste demonstrado que
os autores de algum tipo de crime, sofrem com determinado tipo de psicopatia.
O estudo se fundamentou através de pesquisa bibliográfica de caráter
exploratório, com abordagem qualitativa. Para Martins (2001), a pesquisa
bibliográfica, procura explicar e discutir um tema com base em referências teóricas
publicadas em livros, revistas, periódicos, teses e outros. Busca também, conhecer e
analisar conteúdos científicos sobre determinado tema. Este tipo de pesquisa tem
como finalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito,
dito ou filmado sobre determinado assunto (MARCONI & LAKATOS, 2007).
No que se refere a pesquisa exploratória, Severino (2007, p. 123-4), salienta
que esta busca apenas levantar informações sobre um determinado objeto,
delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação
8

desse objeto. Por fim, a pesquisa qualitativa, preocupa com aspectos da realidade que
não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica
das relações sociais.
Para Minayo (2008, p. 57), o método qualitativo é adequado aos estudos da
história, das representações e crenças, das relações, das percepções e opiniões, ou
seja, dos produtos das interpretações que os humanos fazem durante suas vidas, da
forma como constroem seus artefatos materiais e a si mesmos, sentem e pensam.
Deste modo, foram utilizados autores como Fernando Capez, renomado
doutrinador na área do direito penal, para fundamentar como funciona o direito penal
para que o Estado possa exercer o jus puniendi que lhe é conferido e quais critérios
utilizados. Da mesma forma, no tocante à analise da psicopatia no âmbito da
psiquiatria forense, foram utilizados autores como Ambiel (2006), como também
Davoglio (2012), para apresentar à pesquisa os critérios científicos, mas específicos
do transtorno de personalidade. Ademais, foram utilizados materiais dos anos entre
2006 à 2017 sobre o tema.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 PSICOPATIA

A psicopatia é entendida como uma espécie de transtorno de personalidade,


na qual os indivíduos não possuem capacidade cognitiva suficiente para evitar
comportamentos socialmente desaprovadores, e também deficiências com a
compreensão e a experiência de certas emoções. As pessoas afetadas pelo
transtorno, tendem a ser menos influenciadas pelas emoções dos outros, então são
mais propensos a se comportar de forma contraria com quem estabelecem interações
sociais (AMBIEL, 2006).
Ao tratar sobre transtornos mentais, Davoglio et al. (2012) aponta:

As duas principais classificações nosológicas dos transtornos mentais em uso


(APA, 2002; Organização Mundial da Saúde [OMS], 2007) não recomendam
o diagnóstico nosográfico de TP antes dos 17 ou 18 anos. Porém, concordam
que esses transtornos iniciam-se precocemente e tendem a durar quase toda
a vida, sendo relativamente frequentes entre a população geral, com
prevalência entre 10 a 13% (Abrams & Horowitz, 1996). Para clínicos e
pesquisadores, são transtornos que não surgem de modo repentino, tendo
precursores de suas características básicas presentes ainda na infância,
9

consolidando-se e estabilizando-se posteriormente (O'Connor & Dyce, 2001),


levando à suposição de que é possível obter indícios diagnóstico, baseados
em evidências substanciais, antes da idade adulta (DAVOGLIO, et al. p. 453.
2012).

Devido ao desenvolvimento das características de certos distúrbios na infância


e juventude dos indivíduos, e o aumento significativo no índice criminal
compreendendo os jovens, nos últimos anos, resultou na relevância clínica e
diagnóstica dos problemas de comportamento de crianças menores de seis anos de
idade apontando grande probabilidade no desenvolvimento de transtornos futuros.
Neste ponto de vista, os autores valorizam o processo evolutivo, apontando que cada
fase evolutiva é relevante para suas manifestações e seu treinamento de
personalidade (DAVOGLIO, 2012).
Muito embora existam vários estudos acerca da temática, o conceito de
psicopatia não é um consenso entre os especialistas. Etimologicamente, a palavra
psicopatia transporta-se do grego psyché, alma, e pathos, enfermidade
(GONÇALVES; ARAÚJO, 2019). Apesar da evolução do conceito de psicopatia com
avanços nos estudos sobre a mente humana, esse é um tema que continua sendo
alvo de muitas controvérsias, isso devido a quantidade de aspectos que devem ser
levados em conta quando esse tema é estudado, como os aspectos sociais, morais e
criminais.
Após anos de estudos, os especialistas chegaram ao entendimento que a
psicopatia não se desenvolve somente devido às questões comportamentais, como
também interpessoais e afetivas. Desse modo, com o intuito de aperfeiçoar o
entendimento do assunto, grande parte dos estudiosos sobre o tema estabeleceram
que a psicopatia não é uma doença mental, mas sim, um transtorno da personalidade
(PEREIRA, 2018).
Nesse contexto, tal transtorno pode ser entendido como uma perturbação grave
das tendências comportamentais do indivíduo. É, portanto, uma anomalia do
desenvolvimento psíquico, ou seja, uma perturbação da saúde mental. Essa
perturbação pode intervir de diversos modos na vida de um indivíduo, inclusive o
levando à ruptura pessoal e social, que por vezes, pode fazê-lo cometer delitos.

3.2 IMPUTABILIDADE PENAL


10

Para que o instituto da Imputabilidade Penal se configure e o agente possa ser


responsabilizado pelo ilícito cometido, este deve entender a natureza ilegal dos fatos
e possuir sua própria capacidade com base nesse entendimento. Um agente deve ter
condições físicas, mentais e morais para saber que está cometendo um crime. Mas
isto não é tudo, além dessa compreensão abrangente, ele também deve controlar
completamente sua vontade. Em outras palavras, de acordo com esse entendimento,
a culpa não é apenas sobre as pessoas que têm a capacidade de compreender o
significado de suas ações, mas também de direcionar sua própria vontade (CAPEZ,
2017).
Portanto, a imputabilidade possui um aspecto intelectual compatível com a
capacidade de compreensão, e outro aspecto voluntário, ou seja, a capacidade de
controlar e dirigir a própria vontade. Se um desses elementos estiver faltando, o
agente não poderá ser responsabilizado por suas ações. Em síntese, a capacidade
interna mostra dois momentos específicos: um é "cognitivo ou conhecedor" e o outro
é "intencional ou voluntário", ou seja, compreender a injustiça e determinar a
capacidade da vontade com base no significado, acrescentando que, apenas dois
momentos juntos constituem a culpa (CAPEZ, 2017).
A priori, é necessário apontar as diferenças existentes entre a imputabilidade,
capacidade, dolo e responsabilidade. A primeira, que trata sobre imputabilidade e
capacidade, nas palavras de Fernando Capez (2017), atribui à capacidade, como
sendo um gênero atribuído às espécies, que consiste em uma forma mais ampla de
expressão, incluindo não só a possibilidade e a vontade de compreensão
(imputabilidade ou capacidade penal), como também na capacidade de realizar ações
na via processual, como sem assistência de terceiros (CAPEZ, 2017).
No tocante à diferenciação existente entre imputabilidade e dolo, este último
diz respeito à vontade, e o primeiro consoante a capacidade de compreender essa
vontade. Para facilitar a compreensão, utilizemos o exemplo apresentado por Capez
(2017), conforme a seguinte situação: imaginemos um louco que pega uma faca e
dilacera a vítima, este age com dolo, haja vista que desfere os golpes contra a vítima
com consciência e animus. O que ocorre nesse caso, é a ausência de discernimento
sobre essa vontade. Ele tem consciência de que está esfaqueando a vítima, entretanto
não possui condições psíquicas para avaliar a gravidade do que está fazendo,
tampouco seu caráter criminoso. Na mesma senda, citemos um drogado que tem a
11

consciência de estar carregando cocaína para uso próprio, mas não tem comando
sobre essa vontade. Configura o dolo, mas não há imputabilidade (CAPEZ, 2017).
Em relação à responsabilidade do agente, isso é mais amplo e entende a
imputabilidade. Naturalmente, a responsabilidade está relacionada à capacidade do
agente em ser punido por suas ações, entretanto requer a presença de três requisitos,
quais sejam: a imputabilidade, a consciência potencial da ilicitude de um
comportamento diversificado. Desta forma, o sujeito pode ser atribuível, mas não
responsável pela infração praticada, quando não tem a possibilidade de conhecimento
dos injustos ou quando não pode executar vários (CAPEZ, 2017).

3.3 TRATAMENTO JURÍDICO

A priori, importa destacar que o ordenamento pátrio adotou o sistema de


separação dos poderes idealizado por Montesquieu, que consiste em estabelecer um
sistema de pesos e contrapesos, no intuito de enfraquecer a centralização e
concentração do poder estatal, no Estado Democrático de Direito. Deste modo após
o Poder Legislativo elaborar as leis, cabe ao Poder Judiciário cumpri-las (MELO;
AGUIAR, 2018)
Conforme a legislação penal, elaborada pelo Poder Legislativo, via de regra,
todo agente é imputável caso não haja exceção, ou seja, não exista nenhuma causa
de excludente da imputabilidade, consoante ao art. 26 do Código Penal. A
determinação da capacidade penal é conferida mediante exclusão, isto significa que
sempre que não se verificar a existência de alguma causa que a afaste, constata-se
que há capacidade de discernimento (CAPEZ, 2017).
O Código Penal disciplina quatro hipóteses de exclusão da imputabilidade
penal, a primeira diz respeito a doença mental referente a transtorno mental ou
psíquico de qualquer ordem, capaz de suprimir ou abalar a capacidade de entender
caráter ilícito da conduta do agente, ou orientar sua vontade, o desenvolvimento
mental incompleto, desenvolvimento mental retardado e a embriaguez completa
decorrente de caso fortuito ou força maior (CAPEZ, 2017).
Entre aos critérios de aferição da inimputabilidade, estes podem ser definidos
pelo sistema biológico que se limita a saber se o agente é portador de alguma doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Entretanto, há que se
12

ressaltar a exceção adotada pelo ordenamento, que se refere aos casos dos menores
de 18 anos, que define o desenvolvimento incompleto, presumindo a incapacidade de
entendimento e vontade consoante ao art. 27 do CP (CAPEZ, 2017).
Também existe o critério psicológico e o biopsicológico, onde o primeiro se
preocupa com a existência, no momento da ação comissiva ou omissiva, de condições
de avaliação da natureza criminal do ato além de orientar-se de acordo com essa
compreensão. E o segundo combina os dois critérios de aferição de inimputabilidade
anteriormente citados, adotado pelo ordenamento pátrio conforme se extrai da leitura
do caput do art. 26 do CP (CAPEZ, 2017).
É importante salientar que, muito embora o ordenamento utilize critérios para
conferir se o sujeito é imputável, estes são considerados mediante um critério objetivo,
o que se contrapõe aos critérios utilizados na psiquiatria forense, que analisa os
parâmetros da subjetividade do agente, senão vejamos:

“E isso porque a Psicanálise, dentro desse campo específico, cumpre uma


função de ponta, na medida em que põe em funcionamento uma concepção
particular da noção de responsabilidade que não se confunde
necessariamente com a implícita no exame penal, posto que o assentimento
subjetivo envolvido no interrogatório judicial não tem, desde já, as mesmas
ressonâncias que resultam da prática psicanalítica — a responsabilidade que
envolve a tomada de posição do sujeito diante do crime. É preciso destacar,
seguindo as observações de Lacan em “Introdução teórica às funções da
psicanálise em criminologia” (1950/1998a), que o assentimento subjetivo de
um crime é necessário à própria significação da punição, uma vez que se
opõe à suposta responsabilidade egoica, com a qual trabalha o discurso
jurídico, determinada como resultado de um juízo criminoso ou por uma
simples confissão do Eu (MOREIRA; FUKS, p. 08, 2017).

Diante disso, o que podemos observar é que há critérios além dos


apresentados na legislação para analisar a capacidade de culpar, que deve seguir
critérios subjetivos, que demanda um diagnóstico bem mais criterioso e profundo do
agente delinquente. A doutrina ainda sustenta a existência do transtorno mental
transitório e estados de inconsciência como causas excludentes da imputabilidade,
senão vejamos:
Nélson Hungria sustenta ser possível equipararem-se à doença mental o delírio
febril, o sonambulismo e as perturbações de atividade mental que se ligam a
certos estados somáticos ou fisiológicos mórbidos de caráter transitório. Para
Frederico Marques, “a inconsciência ou transtorno transitório, se enquadráveis
no art. 26, caput, como doença mental, excluem a imputabilidade. Caso
contrário, em nada alteram. Se a inconsciência for absoluta, como no sono, por
exemplo, inexistirá fato típico porque não houve ação ou conduta tipificável. É
13

de se observar, porém, que se culpa houver ligando o fato praticado em estado


de absoluta inconsciência a ato anterior, a aplicação da actio libera in causa
torna punível o agente. É o que sucederia com a pessoa que imprudentemente
fosse deitar-se ao lado de um recém-nascido, sem cautelas para evitar a
ocorrência de algum evento lesivo proveniente da proximidade dos dois corpos
e dos movimentos realizados durante o sono. Se viesse a afogá-lo ou feri-lo,
seria responsável, a título de culpa, pela imprudência anterior ao sono”
(CAPEZ, p. 347, 2017).

Destarte, restando comprovado o transtorno mental do agente, inclusive


aqueles de cunho transitório, podem ser considerados para aplicação da excludente
de imputabilidade penal.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por ser considerada pela psiquiatria, como uma espécie de transtorno sério de
personalidade, retirando dos indivíduos a capacidade cognitiva para que possam
evitar comportamentos socialmente reprováveis, como também a falta de
compreensão sobre as emoções sentidas, as pessoas que sofrem com esse tipo de
transtorno, obrigaram o legislador a dar-lhes um tratamento legal diferenciado, muito
embora ainda não haja uma lei específica que garanta um tratamento suficientemente
adequado. O Código Penal, por sua vez não permite que pessoas com transtornos de
personalidade, como a psicopatia, sejam responsabilizados pelos seus atos, já que
agem desprovidos de racionalidade.
Deste modo, o presente estudo verificou que a omissão legislativa, muito
embora isente o agente de determinado delito de penalização, não contribui de forma
significativa para o tratamento desse transtorno. Verificou-se também que há
possibilidade de ser proporcionado a estes indivíduos tratamento psicológico, mas por
se tratar de uma doença psicológica crônica, não permite a cura da psicopatia, razão
pela qual justifica o desamparo legislativo perante as autoridades competentes.
Assim, para conferir um amparo adequado aos indivíduos que sofrem com este
transtorno, é necessário que o legislador, como também as autoridades públicas se
aliem com a psicologia forense e invistam em acompanhamento psicológico para que
essas pessoas não voltem a delinquir, proporcionando, consequentemente uma
melhor condição de vida, atendendo aos objetivos presentes na Carta Magna.
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responsabilização subjetiva do criminoso psicótico*1 *1 Artigo desenvolvido a partir
da dissertação de mestrado A imputabilidade penal na visão da psicanálise: a voz
perdida do sujeito inimputável é possível encontrá-la, apresentada ao Programa de
Pós-graduação – Stricto Sensu – Mestrado Profissional em Psicanálise, Saúde e
Sociedade da Universidade Veiga de Almeida, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade, tendo sido
defendida e aprovada em 2.6.2017. . Revista Latinoamericana de Psicopatologia
Fundamental. 2018, v. 21, n. 3, pp. 511-524. Disponível em:
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