Bullying Mestrado
Bullying Mestrado
Bullying Mestrado
RIO DE JANEIRO
RIO DE JANEIRO, BRASIL
2023
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS SOCIAIS
RIO DE JANEIRO
RIO DE JANEIRO - BRASIL
2023
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS SOCIAIS
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_________________________________________________
_________________________________________________
Dr. Maria Alice R. de Carvalho
Pontifícia Universidade Católica (Examinador Interno)
_________________________________________________
Dr. Sarah Silva Telles
Pontifícia Universidade Católica (Examinador Interno)
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SUMÁRIO
1. Introdução............................................................................................... 6
2. Debate teórico ……............................................................................... 20
3.Hipóteses e objetivos..............................................................................40
4. Metodologia............................................................................................ 46
5.Estrutura da exposição …........................................................................ 48
6. Cronograma…………………………………………………………….53
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Introdução
A união das nações unidas afirma que o assunto é alarmante e urgente. Nesse relatório da
UNESCO de 2019 foram ressaltados dados muito importantes sobre a abrangência do bullying
num cenário internacional. Na pesquisa de opinião do U-Report/SRSG-VAC, ao qual
responderam 100.000 jovens de 18 países, dois terços declararam terem sido vítimas de bullying.
(OFFICE OF THE SRSG ON VIOLENCE AGAINST CHILDREN. Ending the torment: tackling
bullying from the schoolyard to cyberspace. New York, 2016. )
o estudo realizado pela ONU em 2006 sobre violência contra crianças (UN Study on
Violence against Children) divulgou que de 20% a 65% das crianças em idade escolar
são afetadas pelo bullying verbal, o tipo de violência mais prevalente nas escolas. De
acordo com o Global Education Digest da UNESCO, de 2011, em qualquer dia, há 1,23
bilhão de crianças nos ensinos fundamental e médio e, portanto 20% da população
mundial de estudantes equivale a 246 milhões de crianças. (Fonte: UNESCO-UIS.
Global education digest 2011: comparing education statistics across the world. Montreal,
2011).
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acontece sempre com espectadores em volta e provavel incentivadores. Claro que esses dados
variam de acordo com a localidade e cultura de determinado lugar. O dado mais surpreendente no
Relatório Mundial da ONU sobre Violência contra as Crianças, de 2006, observou que em uma
pesquisa realizada em Laos foi divulgado que 98% das meninas e 100% dos meninos relataram
ter testemunhado o bullying na escola, sendo que a maioria eram meninas ou provenientes de
minorias étnicas.
Nessa pesquisa será demonstrado como que o bullying afeta internacionalmente e
nacionalmente através de relatórios nacionais e internacionais. Será realizado aqui nessa
pesquisa um levantamento do estado da arte, assim como foi feito até agora, e também será
utilizado na dissertação, uma amostragem dos dados da UNESCO e da UNICEF para demonstrar
a problematização internacional do fenômeno. Enquanto que em âmbito nacional será utilizado
aqui a pesquisa da FEBRABAN de 2022 com dados nacionais e regionais brasileiros.
Aqui foi utilizado o método quantitativo com as pesquisa realizada pela FEBRABAN
“Bullying e Cancelamento: Impacto na vida dos Brasileiros” (2022) e também os relatórios da
UNESCO de 2006 e 2015 sobre o tema, com porcentagem estatística da realidade empírica atual
da realidade.
Os dados da FEBRABAN dizem que 85% dos entrevistados tem a percepção que o cyber
bullying aumentou muito nos últimos anos enquanto que 6% dos entrevistados votaram que não
se alterou, 2% que se diminuiu e/ ou diminuiu muito, enquanto que 7% respondeu que não sabia
ou não respondeu. Essa pesquisa da FEBRABAN também se divide em regionalidades, a região
que teve a maior percepção de aumento do bullying foi a região do norte com 87% dos
entrevistados, seguidamente no nordeste e no sudeste com 86% e depois centro oeste e sul com
83% e 84% respectivamente. Ainda assim, quando os mesmos entrevistados foram questionados
sobre a percepção de aumento do bullying menos pessoas responderam que “aumentou muito”
comparado ao cyberbullying. Em “aumentou muito” temos o dado de 79% e quase todas as
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regiões, excepcionalmente o sul, temos a porcentagem de 80% dos entrevistados responderam
que “aumentou muito”.
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Tanto é que não é à toa que Dan Olweus escreveu sobre os espectadores do bullying em
1978 como sua segunda pesquisa, a reação do grupo tem uma força muito potente tanto na vítima
como na motivação do agressor de agradar a plateia e quanto maior a movimentação grupal, mais
dificil se torna se defender. Como diz o pesquisador, o “bullying se refere a comportamentos de
uma ou mais pessoas intencionais, negativos e repetidos contra outra pessoa que não é capaz de
defender-se” (1993, p. 9), deve haver uma desigualdade de poder entre vítima e agressor em que
a vítima tem dificuldade de se defender, quaisquer que sejam os motivos. Além do mais, o autor
acrescenta que o comportamento dos agentes escolares pode piorar a situação de bullying ou
frear.
Trata se de um tipo específico de violência escolar, de uma relação entre jovens menores
de idade, monitorada por agentes escolares, esses por fim, orientados as regras de seus superiores
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e do Estado, como o ECA no caso brasileiro. O fenômeno do bullying é um caso escolar de
reconhecimento recentemente no campo jurídico e visto como crime ou infração dependendo da
idade do bullie.
Já que o bullying sempre acontece com espectadores em volta, o ato agressivo não é mais
uma relação entre dois sujeitos, logo, será de três ou mais. Esses espectadores (jovens) são
coatores ou corresponsáveis dentro dessa relação, rindo, dizendo palavras de reforço,
retransmitindo imagens ou fofocas para a reprodução deste tipo de abuso, e são criminalmente
responsáveis. Apesar de fazerem isso por medo de se tornarem as próximas vítimas, todo ato tem
uma certa responsabilidade civil. Pois apesar de ser uma forma de auto defesa do espectador, isso
é muito danoso à vítima pois faz ela se sentir mais impotente diante a uma multidão de
rechaçamentos ao mesmo instante.
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Além do mais, durante a categorização psicológica do bullying feita por Olweus seria
uma agressão proativa (de acordo com a psicologia, a agressão proativa é usada como um
instrumento de ganho pessoal, seja ela de status, auto confirmação, gratificação, etc) e acontece
sem provocação da vítima.
O termo “bullying” chegou no Brasil no final dos anos 90, início de 2000, depois que a
Noruega expandiu seus estudos sobre o tema. Em 1988 a Constituição redefine a criança como
sujeito de direitos, as crianças brasileiras - sem distinção de raça, classe social, ou qualquer
forma de discriminação - passam de objetos a “sujeitos de direitos” e em 1996 (Lei no 9.394, de
20 de dezembro de 1996) há a criação da LDB, que incorpora esse marco constitucional e legal,
levando-o para o âmbito da educação escolar, como também o Estatuto da Criança e do
Adolescente. .
Dessa forma, com essa modificação do direito da criança e do adolescente, aos poucos
foram se questionando, em relação ao aumento da preocupação com os direitos humanos, as
novas demandas das crianças e jovens. Em 2011, começou a preocupação com as violências
escolares, como o bullying que é um tipo de violência escolar, e isso pode ser visto com a
criação de projetos de lei relacionados ao tema como o projeto de lei criado em 14 de junho de
2011 (Senado, 2011).
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Em 2015 já existia a lei do bullying (12.185/2015), que caracteriza o que é considerado
bullying mas que não estabelecia punição para o agressor e foi considerada omissa por muitos
advogados e/ou legisladores, assim como o Instituto Brasileiro de Direito de Família. O mesmo
diz que a lei propõe práticas alternativas que visam uma mudança de comportamento, além de
mecanismos preventivos que são especificados no texto legislativo. Chamando-o de intimidação
sistemática, a lei de 2015 - lei do bullying- a primeira seção qualifica:
Portanto, para compreender o bullying, suas dinâmicas, suas formas de relações sociais e
a interpretação dos individuos sobre suas ações em determinados tipos de relações sociais é
preciso compreender o seu tempo. Século XXI é o século onde as interações sociais ocorrem
virtualmente o tempo todo e ao mesmo tempo, enquanto outros eventos ocorrem . Tanto é que o
cyberbullying - que é um desdobramento do bullying - pode acontecer antes do bullying escolar,
enquanto ocorre o bullying escolar, durante, ou depois como forma de reforço.
Sofrer uma violência no modo virtual, ter sua imagem e nomes difamados que poderão
permanecer no ambiente virtual eternamente - ad infinitum, já que a agressão pode ser vista
várias vezes por diferentes usuários- causam danos emocionais nos jovens e podem trazer
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consequências duradouras. O bullying virtual impossibilita o esquecimento da violência praticada
de modo online e é imprescindível que a esfera virtual esteja presente no tema de injustiças, pois
a tecnologia se tornou uma parte intrínseca de todas as pesquisas das ciências sociais, já que a
internet está presente em todos os campos sociais no dia a dia, por isso, ressaltar o cyberbullying
na lei de 2015 é tão importante, trata se de caracterizar o fenômeno do bullying em seu tempo
histórico com suas tecnologias.
Antes da lei de 2015 já surgiam projetos de leis, o que já demonstra uma preocupação
da sociedade. Esses projetos de lei que surgiram antes da lei do bullying de 2015, tinham uma
intenção mais punitivistas, de combate, enquanto que a de 2015 tinha mais o viés de prevenção e
conscientização.
Os projetos de lei anteriores, como o elaborado pelo deputado federal Junji Abe (PSD,
SP) aumentavam a pena do bullying escolar mediante as circunstâncias de acordo com a
quantidade do constrangimento, quantidade de pessoas e também se for por uma propagação por
meio de “comunicação em massa” (internet) mas esse projeto do deputado que não foi aprovado
em 2011 :
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Em síntese, o primeiro projeto de lei aprovado e sancionado sobre o bullying na
legislação brasileira (13.185/2015) foi criado em 2015. Mas, após uma tragédia em Goiania em
que um jovem de quatorze anos atirou em dois colegas e feriu outros ainda em 2017, se viu que a
lei de 2015 era insuficiente para o combate do fenômeno. Em 2018, uma outra a lei foi
sancionada ( LEI Nº 13.663, DE 14 DE MAIO DE 2018) adicionando dois incisos à lei da LDB
que dizem respeito ao combate a promoção de paz nas escolas. Como podemos ver abaixo, essa
lei é mais punitivista pois prevê não só punições mais severas aos agressores, como também
analisa a culpa dos adultos e toda a comunidade escolar envolvidos diante a omissão.
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A lei de 2015 não define de quem seja a responsabilidade da prática e nem fala sobre
indenização, aliás, a lei recomenda que a punição seja evitado o quanto possível.A lei
(13.185/2015) também não dispõe sobre a posição penal diante da matéria e diz que a punição ao
agressor deve ser evitada.Ainda assim, de acordo com a lei de 2015, deve haver uma fiscalização,
que deveria ficar a cargo dos estados e municípios, que devem produzir e publicar
bimestralmente relatórios das ocorrências de bullying registradas nas escolas e utilizar esses
dados para aprimorar o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). De acordo
com a advogada Keyla K. Holanda que publicou um artigo chamado “O direito brasileiro diante
ao bullying praticado por adolescentes” no Jus Brasil, uma empresa privada de tecnologia
jurídica, ela afirma a lei do bullying não está fazendo diferenças:
Também não dispõe sobre a posição penal diante da matéria, o que não é benéfico para a
sociedade e acaba se refletindo em dados como o da OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que elencou em 2019 uma alta entre
membros da educação que testemunharam situações de intimidação ou bullying entre
alunos, isto é, mesmo com a implantação da lei federal casos desse tipo de violência se
mantiveram e pouco são solucionados (HOLANDA, 2019).
Porém, no site da Jus Brasil, empresa privada de tecnologia jurídica orienta as pessoas
que o bullying pode ser equiparado a outras leis como violação de danos morais. Como diz
Constituição Federal, que assegura no artigo 5º, incisos V e X, “a inviolabilidade da intimidade,
da vida privada, da honra e da imagem das pessoas”. Num processo ganho por danos morais O
valor de indenização por danos morais pode ser requisitado pela vítima, advogado ou juiz e há
casos que chegaram até 50 mil reais.
As leis anti bullying, tanto de 2015 quanto a de 2018 são normas de proteção da
Constituição, Código Civil e Código de Defesa do Consumidor, e partir das mudanças da lei de
2015 para a lei de 2015 em que se enfatizou a responsabilização das escolas e se ressaltou no
próprio artigo de lei a importância do combate, as escolas que não a adotarem poderão ser
responsabilizadas financeiramente com maior intensidade a partir da lei do bullying de 2018. Se
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não forem adotadas medidas efetivas para prevenir e acabar com casos concretos em seu
estabelecimento, as penalidades serão mais efetivas.
No caso brasileiro, de acordo com o site do senado, a relatora da proposta da lei de 2018,
para demonstrar a importância dessa lei para maior conscientização, promoção de paz nas escolas
e combate ao bullying, afirma que dados do Diagnóstico Participativo das Violências nas
Escolas, feito em 2016 pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais em parceria com o
Ministério da Educação, apontam que 69,7% dos jovens afirmam terem visto algum tipo de
agressão dentro da escola, seja verbal, física, discriminação, bullying, furto, roubo ou ameaças
(SENADO, 2018).
Nessa seção, também foi feita a delimitação do fenômeno do bullying, visto que é uma
forma de violência escolar mas que nem toda violência escolar é bullying, já que o bullying
escolar se trata de um comportamento repetitivo hostil entre um grupo de alunos para com um
aluno, com uma certa motivação de ganhos pessoais no ambiente social e que demarca uma certa
desigualdade de poder. Foi dito também nessa seção sobre a origem da categorização acadêmica
por Dan Olweaus em 1973, mesmo que seus estudos só ficaram conhecidos em 1991. Nesse
sentido, podemos reconhecer que o fenômeno foi admitido no campo médico e psicológico
quando seus estudos vieram à tona e que depois repercutiram no mundo todo. Nessa onda, com o
avanço dos direitos da criança e do adolescente, essa demanda se tornou juridicamente tipificada
no Brasil se tornando lei e assim tendo seu reconhecimento no campo jurídico.
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A fim de verificar como o tema tem sido tratado pela sociologia fiz um levantamento por
meio do google acadêmico com a barra de ferramentas “pesquisa avançada”. O google acadêmico
foi escolhido como site ideal para fazer esse tipo de pesquisa pois é nele que se encontra artigos
científicos e também engloba outros sites de busca de pesquisa como o da scielo. Com a barra de
ferramentas, escolhi que as palavras chaves seriam “bullying, bullying escolar e estigmatização”,
também fiz um recorte de data: entre 2015 e 2023, sabendo que a primeira lei do bullying foi em
2015 e que é preciso analisar trabalhos recentes, feitos depois da vigência da lei até os dias de
hoje.
A conclusão é de que Infelizmente há uma carência sociológica sobre o tema comparado
as àreas de educação e psicologia, há, portanto, uma negligência, por parte da sociologia, em
estudar os fenômenos de bullying e a consequente urgência e importância de pesquisas nesta
direção dos conflitos escolares. Com os termos de busca foram escolhidas as palavras “bullying,
bullying escolar e estigmatização” porque para se fazer uma pesquisa é preciso recortar aonde é
feito esse bullying, visto que aqui nessa dissertação eu quero tratar apenas do bullying escolar e
não outras formas de bullying, e também ressaltei o estigma pois acredito que o bullying vem de
uma marcação humilhante e estigmatizadora, que tem poder de excluir e massacrar individuos
emocionalmente.
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Dessa forma, com as palavras chaves “bullying, bullying escolar e estigmatização”, os
próximos artigos encontrados pelo google acadêmico são de temas diferentes ao qual pretendo
pesquisar porque fazem referência a apenas uma ou mais de uma palavra dentro dessas
determinadas palavras chaves, como por exemplo textos chamados “Não é competência do
professor ser sexólogo”(que contém apenas as palavras chaves escola e estigma), ou “gênero,
sexualidade e juventude” (que contém apenas a palavra chave estigma). Já na segunda página
dessa pesquisa avançada, encontra-se apenas o termo “estigma” ou “escola”, não se tratando de
bullying nem no decorrer do texto, nem no título.
Em relação aos periódicos da psicologia, enquanto que quando se muda a busca avançada
com as mesmas palavras chaves “bullying, bullying escolar e estigmatização” e também com a
mesma referência de tempo (entre 2015 e 2023) já aparecem 212 resultados e a maior diferença
entre a pesquisa de artigos publicados em revistas de ciências sociais e os artigos publicados em
revistas de psicologia é que mesmo os artigos não tratam de todas as palavras chaves no decorrer
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do texto, podemos analisar que de certa forma tratam de todas as palavras chaves se contarmos
com o título.
De fato é uma área muito instigante para todos os educadores pois se debruçam no tema
corriqueiramente, em diferentes escolas de diferentes classes sociais, zonas urbanas e diversos
níveis de diversidades. Nesse sentido, foram encontrados muitos textos de psicólogos,
pedagogos e educadores. Aqui nesta dissertação ressaltamos os trabalhos dos psicólogos pois esse
tema já é explorado por essa área desde a sua primeira categorização, feita por Olweaus.
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adaptação facultativa a qual é influenciada por características individuais e moderada por
características ambientais (VOK et al, 2012).
Nesse sentido, neste trabalho proponho que o bullying deve ser analisado
sociologicamente para se ter uma compreensão total do fenômeno, para se compreender a
dinâmica de grupo, as formas de disputas do poder no âmbito da interação; a maneira como a
prática do bullying interpela regras e normas e instituições; de como ele se relaciona com a
coesão social; de como se relaciona com a formação de estigmas; de como a relação da escola
com a comunidade e a família podem se associar de maneira a combater e também compreender
como os diferentes padrões de associação na vida da comunidade incidem sobre a maior ou
menor recorrência de bullying.
Dessa forma, essa dissertação pretende realizar uma sociologização desse tipo de
violência escolar, o desvelamento do fenômeno nas suas características profundas das
circunstâncias sociais de grupo e instituições, complementando as abordagens psicológicas, que
mais frequentemente se atém à análise das características da vítima e seus mecanismos de reação
e sua capacidade adaptativa ao estresse como faz a psicologia.
DEBATE TEÓRICO
A psicologia estuda o indivíduo e para fazer uma análise sociológica aqui não tem como
entender a sociedade somente a partir do indivíduo, com suas características individuais e sua
psique individual. É preciso analisar como um fenômeno de grupo, com categorizações
sociológicas, trazendo os sociólogos clássicos até os mais contemporâneos porque é preciso
analisar o fenômeno do bullying como mediado por grupos diante de uma desigualdade de poder.
Essa desigualdade de poder, provinda de uma interação específica entre grupos dentro de
salas de aulas, com espectadores e incentivadores, é chamado bullying escolar. Então,
assinalamos aqui que a interdisciplinaridade para estudar esse tipo de bullying é importante, e
que entender o fenômeno somente a partir da psicologia já não é mais suficiente. O bullying
escolar é um problema atual e que acontece dentro de um coletivo e que atinge diferentes
sociedades de diferentes culturas, logo, é um problema sociológico.
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De certa forma, apesar de não focalizar nos estudos de grupo, a psicologia contribui no
sentido de compreender como que os fatores ambientais - externos ou sociais - são propícios para
tal fato acontecer para que não haja a não aceitação entre os pares. Ressalto que a parte mais
considerada da psicologia, para essa dissertação sociológica será a capacidade do ambiente social
favorecer ou não a potencialização do fenômeno bullying.
Como a autora escreve, a socialização infantil é onde constitui o self individual. Nas
leituras simmelianas, a autora se utiliza da categoria de socialização de Simmel. Diz que a
socialização é “interação, as formas de interação são as formas de socialização”
(GRIGOROWITSCHS, 2008, p.38, apud SIMMEL, 1917, p.58-59). Afirma que a socialização
acontece em todos o contatos sociais, e que se trata de um aprendizado e regras a partir de
aprendizados individuais. Logo, a autonomia individual passa a ser considerada um valor
cultural, já que o mundo social é um conjunto de relações em processo diante ao seu lugar e o seu
tempo. Essa maneira de analisar as relações entre individuos e sociedade foi o que sustentou o
conceito de relação social simmeliana (SIMMEL, 1908, p.284).
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Outros dois comentadores escreveram textos referenciando simmel publicando em um
curto espaço de tempo. José Junior escreveu “George Simmel e o conflito social”, em 2010,
enquanto que Peres Albuquerque escreveu “A sensibilidade de Simmel: notas e contribuições dos
estudos das emoções” em 2011. Essas releituras simmelianas são altamente importantes para
compreender as dinâmicas de grupo do bullying nos dias de hoje, vendo que se trata de textos
atuais que se utilizam de categorias sociológicas como conflito social, sociabilidade, distância e
etc.
A obra de Simmel nos ajuda a ver os moldes da vida social, afim de compreender e
explicar fenômenos como o bullying e diversas formas de vida coletiva. Nesse sentido, com a
lente simmeliana compreendemos que a sociedade parte da interação e não ao contrário. Como
diz Simmel: “Os individuos estão ligados uns aos outros pela influência mútua que exercem
entre si e pela determinação recíproca que exercem uns sobre os outros” (SIMMEL, 2006, p.17).
Em “George Simmel e conflito social”, o comentador de Simmel, José Júnior, explica que
o conflito social é um elemento integrante nas relações sociais (sociação no sentido simmeliano)
e que é um elemento de coalizão nas interações sociais e responsável por formar diversos tipos de
relações sociais. Assim, conflito é constatado na sua regularidade nas mais variadas interações
sociais e sociações produzidas em sociedade. Como diz o próprio Simmel: “Admite-se que o
conflito produza ou modifique grupos de interesse, organizações [...] é uma forma de sociação”
(SIMMEL, 1983, p.22).
Em síntese, José Junior, explica como que o conflito do conceito simmeliano pode gerar
coesão entre individuos e dispersão de individuos de um mesmo grupo social. No sentido que o
conflito é um elemento de fusão e tem característica de demarcar o que é singular e o que é
desigual das partes constitutivas das sociações, ao passo que as partes (os individuos do grupo
social) não se identificam como semelhantes. Logo, o conflito é a dimensão regular da vida
social. Em “Sociabilidade: um exemplo de sociologia pura” (1983), Simmel explica: “É o
conflito um fato sui generis e sua inclusão sob o conceito de unidade teria sido tão arbitrária
quanto inútil, uma vez que o conceito de conflito significa a negação da unidade” (SIMMEL,
1983, p. 123).
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Podemos entender que as dinâmicas interacionais estão assentadas por códigos relacionais
conflituosos e o conflito gera delimitações sociais, confinamentos, como diz o autor “há uma
matriz formal de tensões que estabelece códigos sociais no interior das relações” (JUNIOR, 2010,
p.12). Com isso, Junior se utiliza da análise simmeliana para compreender que o conflito gera
energias de repulsa que em contato com as “forças de cooperação, afeição, ajuda mútua e
convergência de interesses” (SIMMEL, 1983, p. 126-127) gera energias de afeição que produzem
formas e distinções grupais.
Outro comentarista de Simmel, Peres Albuquerque, também fala que o conflito tanto
distancia grupos rivais como aproxima os membros de cada grupo (SIMMEL, 1983). Peres
Albuquerque vai além, e com a lente que o mundo social é um jogo tênue de contrastes e
oposições, o autor diz que “as emoções podem ser encaradas como fenômeno, ao mesmo tempo,
articulador e engendrado de interações sociais que de alguma forma podem influenciar a
configuração de arranjos coletivos” (ALBUQUERQUE, 2011, p.112). Peres diz isso para
explicar como as emoções podem modificar as interações entre os individuos e cita Simmel na
“Sociabilidade: um exemplo de sociologia pura” assim como o outro comentador: “Tudo quanto
exista nos individuos (....) como instinto, fim, inclinação, estado ou movimento psíquico, tudo
enfim é capaz de originar a ação sobre outros ou a recepção de suas influências” (JUNIOR apud
SIMMEL, 1983, p.60).
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De forma a organizar as interações de todo os individuos nos mesmos processos, a autora
se utiliza de conceitos de George Hebert Mead para compreender as dinâmicas socializadoras da
infância através das categorias meadianas e simmelianas. Outra categorização que a autora
utiliza é do “outro generalizado” que é a o norteador de condutas individuais na medida em que
há a capacidade de “assumir mentalmente o papel do outro” na compreensão das posições dos
outros nas interações sociais, ao passo que, essa capacidade é fruto de processos de
interpretação dos significados dos acontecimentos e ações sociais e de reconhecimento dos
símbolos e dos códigos sociais.
E isso tem tudo a ver com a socialização da infância pois demonstra como cada indivíduo
está dentro de um conjunto de expectativas esperadas pelo grupo social ao qual pertence. O
bullying então pode ser visto como uma negação da unidade, a coesão social, é a reação de um
determinado grupo para/com determinada pessoa que é vista como desigual dentro daqueles
conjuntos de expectativas de um grupo e é um fenômeno que recai sobre várias pessoas, pois a
conduta de espectadores da comunidade escolar, como alunos, professores, inspetores, pais, etc,
também é determinante para a repetição do fenômeno e o nível de violência/brutalidade.
Leonardo Nascimento, autor de “Sociologia Digital” (2020) faz uma análise Mediana que
demonstra como que mudamos o modo de ser diante a novas capacidades de experimentar o
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mundo. De acordo com as leituras de Mead, considerado psicólogo social e também sociólogo,
o corpo como constitutivo da cognição e central para o desenvolvimento da mente e do eu. Então,
se utilizando do conceito de Mead, Nascimento diz que a internet se tornou parte do nosso corpo
(embodiement) e que isso fez com que mudasse o nosso sentido de eu (self) e suas relações
sociais, à proporção que o uso de ferramentas digitais se tornou uma prática sociológica que
constrói redes e fomenta interações sociais.
Os estudos de Leonardo Nascimento são trazidos aqui para tornar esse debate o mais atual
possível, pois devo dizer que o bullying escolar se manifesta de diversas formas, inclusive
virtualmente. Vivendo no século XXI sabemos que a internet está em todos os espaços que as
crianças e jovens frequentam, inclusive nas escolas. Os meios tecnológicos são utilizados por
alunos para se comunicarem com outros colegas com diversos interesses, objetivos e inclinações
na qual as interações se estabelecem e se constituem.
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em “Mente, self e sociedade”. Mead analisa as interações sociais e o “self” em sua estrutura,
expressando ou refletindo o padrão geral de comportamento social ao qual pertence. O autor
diz: “Pesquisar as maneiras pelas quais as pessoas usam as tecnologias digitais, configuram
o seu sentido de eu (self), a corporeidade (embodiement) e suas relações sociais [...]”
(NASCIMENTO, 2020, p. 39) é fundamental.
Além do mais, outros autores que me interessam são Elias e Goffman, além dos
clássicos Weber e Durkheim. Acredito que Elias e Goffman podem trazer mais valor ao
debate atráves de suas categorias de grupo. Enquanto que Nobert Elias nos traz reflexões
com os livros “O processo civilizatório” (1939) e os “Estabelecidos e os Outsiders” (1965)
nos ensinando sobre mudanças de costumes e desigualdade de poder respectivamente,
Goffman com os livros “Estigma: notas sobre a manipulação da identidade
deteriorada”(1982) e “A representação do eu na vida cotidiana” (1983) descreve como se
forma um estigma, o que é e suas consequências e também a representações dentro da
dinâmica das interações.
Esse último, Goffman, é canadense, filho de imigrantes de judeus russos nasceu em 1922.
Em 1945 recebeu seu grau de bacharel da Universidade de Toronto, mas optou por estudar
sociologia e antropologia nos Estados Unidos, na Universidade de Chicago, onde obtém os títulos
de mestre e doutor, respectivamente, em 1949 e 1953.
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Em “A representação do eu vida cotidiana” (1983) Goffman se aprofunda nas relações
de interdependência entre os grupos. Goffman tem o intuito de compreender as relações entre os
indivíduos e as representações dentro das dinâmicas das interações. Para esse entendimento, o
autor parte do princípio que a representatividade do eu na vida cotidiana é teatral. Define
representação como “ toda atividade de um indivíduo que se passa num período caracterizado por
sua presença contínua diante de um grupo particular de observadores e que tem sobre estes
alguma influência” (GOFFMAN, 1983, p.29).
Dentro da dinâmica das interações, Erving Goffman analisa as dinâmicas grupais através
dos conceitos de representações de equipes e dinâmicas de plateia partindo do princípio que a
vida cotidiana tem semelhanças teatrais. Diz também que as interações cotidianas têm uma
influência recíproca das ações uns dos outros, Goffman diz que “o conceito de equipe
permite-nos conceber representações levadas a efeito por um ou mais atores” (GOFFMAN, 1983,
p. 79).
As primeiras edições dos trabalhos de Goffman foram produzidas entre os anos 50-60 e
muitos autores exaltam suas contribuições em diversas áreas das humanidades como o professor
de sociologia da Califórnia Lemmert (1912-1996):
Se você ainda não sabe porque ler Goffman nos dias de hoje, então se pergunte como
você e outras pessoas que você conhece exercem suas influências no mundo como ele é
apresentado. Se todas as suas relações sociais são importantes, todos os seus dados
claros e límpidos, todas as notícias cuidadosamente dignas de crédito à medida que são
passadas para você, então Goffman pode não lhe ser útil. Se, ao contrário, um telefone
toca, um som estéreo está ligado, ou uma televisão anuncia sua voz em algum lugar da
vizinhança [...]; se você foi retirado de sua leitura para atender à necessidade de alguém
com anseios totalmente diferentes daquilo que você fazia; e se você acredita que o
mundo, em sua extensa dimensão, é atualmente um mundo de discórdia moral, depressão
social e intromissões mediadas, cuja estrutura é a dinâmica da participação social ativa,
então Goffman pode lhe ser útil. (LEMERT, 1997, p. xli)
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A cerca desse debate, a contribuição Goffminiana aqui utilizada é o conceito de estigma.
Estigma é rótulo que depende das relações sociais (portanto, sempre ligadas ao grupo), de
assimetria e de poder. O estigma é sempre construído na interação entre a identificação pessoal e
a identificação social. A identificação social seria o que os outros acham que nós somos, é
derivado à filiação do indivíduo a determinados grupos.
O estigmatizado é “aquele que não está habilitado para a aceitação social plena”
(GOFFMAN, 1983, p. 7). O ponto fundamental do estigma na categoria Goffmiana é estabelecer
a conexão entre o estigma com os desvios nas relações sociais. O estigma são qualidades
negativas atribuídas pelo grupo estigmatizador a partir da violação das expectativas normativas
sustentadas culturalmente. Como diz Goffman no livro Manicômios, prisões e conventos (1987):
“Aos sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou
mau sobre o status moral de quem os apresentava” (GOFFMAN, 1987, p.11).
Goffman com o livro: “Estigma: notas sobre a identidade deteriorada” (1982) fala de
como que o estigma se forma e como essa categorização pode ser fluida, a estigmatização
depende das relações sociais impostas. Como diz Goffman, o atributo estigmatizador não tem
nada a ver com defeitos ou algum problema pessoal, mas é fruto de uma relação pessoalizada em
que os estigmatizadores impõem emblemas depreciativos como punição da quebra de anseios
sociais: “O termo estigma será usado em referência a um atributo profundamente depreciativo,
mas o que é preciso, na realidade, é uma linguagem de relações e não de atributos” (GOFFMAN,
1963, p.13)
28
Goffman sugere que o estigma pode ser usado em referência um “atributo profundamente
depreciativo, mas o que é preciso, na realidade, é uma linguagem de relações e não de atributos.
Um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem, portanto, ele não
é, em si mesmo, nem honroso nem desonroso”(GOFFMAN, 1982, p. 13). Dessa forma, Goffman
(1982, p. 13) infere que o estigma é “um tipo especial de relação entre atributo e estereótipo”, de
acordo com a linguagem que a sociedade credibiliza.
Os processos aqui descritos constituem, em conjunto, uma terceira solução principal para
o problema de normas não sustentadas. Através deles, a base comum das normas pode
ser levada além do círculo dos que as realizam totalmente; essa é, logicamente, uma
afirmativa, sobre a função social desses processos, e não sobre suas causas ou sua
desejabilidade. O encobrimento e o acobertamento estão implícitos, dando ao
pesquisador a oportunidade de aplicar as artes da manipulação da impressão, as artes,
básicas na vida social, através das quais o indivíduo exerce controle estratégico sobre a
imagem de si mesmo e os frutos que os outros recolhem dele. Também está implícita
uma forma de cooperação tácita entre os normais e os estigmatizados: aquele que se
desvia pode continuar preso à norma porque os outros mantêm cuidadosamente o seu
segredo, fingem ignorar sua revelação, ou não prestam atenção às provas, o que impede
que o segredo seja revelado (Goffman, 1982, p. 110).
Utilizando Goffman (1982), podemos analisar que os estigmatizados são os que mais
sofrem com a aplicação iníqua das normas sociais mas que o estigma é comum e “a manipulação
do estigma é uma característica geral da sociedade, um processo que ocorre sempre que há
normas de identidade” (GOFFMAN, 1982, p. 141).
29
Entendendo que os processos de interação são considerados processos de
interdependência, cremos que precisamos de várias correntes da sociologia para
compreender o problema do bullying e fazer disso uma teoria sociológica. Até aqui foi
utilizado autores diversos da sociologia como Goffman, Simmel, Leonardo Nascimento, etc.
E será utilizado aqui essa variedade que vai desde a sociologia compreensiva weberiana
para compreender as ações dos indivíduos - por isso utilizamos nesta dissertação o conceito
de luta e valores weberianos - como também a sociologia simmeliana, utilizando
categorias sobre conflito de Simmel para entender como as pessoas se comportam diante da
dinâmica de grupo em forma de instituições, responsabilidades e associações e também
conceitos durkheimeanos que compreendem a coesão e a integração dentro de uma
sociedade. .
30
A Coesão social desse primeiro grupo é devido aos individuos estarem sempre
submetidos às normas específicas do grupo, sujeitos a condutas de padrões específicos dos quais
os membros desse grupo são obrigados a seguir. Esse segundo grupo foi estigmatizado pelo
primeiro por serem “o outro” grupo. Como o primeiro grupo se encontra numa posição de poder
devido a coesão entre os indivíduos mais antigos, o segundo grupo foi excluído das associações
de comunidade e reuniões. Assim, para um grupo estigmatizar o outro, o primeiro tem que estar
em posições de poder, do qual o grupo estigmatizado é excluído (ELIAS, 2000). Dessa forma,
como frisei acima, é como se o primeiro grupo fortalecesse sua própria coesão justamente a partir
do contraponto com o outro, que chegou depois. O poder neste caso vem apenas da alteridade.
O autor diz que a exclusão e a estigmatização são armas poderosas para que o grupo
estabelecido se sinta sempre superior em relação ao outsider, preservando assim sua identidade,
mantendo os outros sempre no lugar de inferioridade. E assim, o desprezo complementar por
outros grupos traz a euforia de pertencer a um grupo de valor superior.
Partindo agora desses conhecimentos de Nobert Elias e Goffman, acredito que ressaltar as
responsabilidades das massas é de extrema importância. Maffesoli em “O tempo das tribos: o
declínio do individualismo nas sociedades de massa”(1988) parte da premissa que os grandes
acontecimentos políticos resultaram principalmente das massas. Maffesoli diz que a “identidade”
diz a respeito do indivíduo quanto ao agrupamento que o indivíduo se situa. Nesse sentido,
quanto às dinâmicas de grupo e massa social Maffesoli conversa com Goffman tanto sobre a
percepção de identidade do indivíduo quanto sobre a interdependência entre os indivíduos.
31
Em união a esse pensamento goffmaniano, no capítulo III chamado “A socialidade contra
o social”, Maffesoli explica que a massa é formada por “nós” e tem uma característica de
proximidade e cita o francês M. Halbwachs para justificar seu argumento: “Um pensamento
pessoal é aquele que segue a inclinação do pensamento coletivo”(Maffesoli, 1998, p. 96 apud
Halbawachs, 1925, p.51). Ainda no capítulo III, Maffesoli discorre esse argumento:
Weber (1864-1920) inspirou muitas vezes Nobert Elias (1897-1990). Ambos veem o
individuo como o centro da complexidade. Nesse sentido, a organização cívica da localidade
é composta da experiência subjetiva como componente de análise para estudar os individuos
através da ação no sentido compreensivo e explicativo. Assim sendo, como não existe ação
social destituída de sentido, o sociólogo pode compreender as ações quando entram em
32
relações sociais e pode explicar fatos que perpassam as ações dos individuos com suas
motivações. Como diz Weber, no capítulo 1 de Economia e sociedade : “conexão de sentido
que, para o próprio agente ou para o observador, constitui a ‘razão’ de um comportamento
quanto a seu sentido”( WEBER, 1922, p.8). Por isso, denominamos “adequado quanto ao
sentido” quando a relação entre os componentes constitui conexão de sentido típica
(“correta”)
De acordo com o comentador de Weber, Julien Freud o sentido das ações humanas é
como os homens avaliam, apreciam, utilizam, criam e destroem as diversas relações sociais
(Freund, 1970). Isso se relaciona com bullying pois através de categorias weberianas podemos
compreender certos fenômenos sociais que nos ajuda a compreender as dinâmicas de grupos
formado por indivíduos e também a interpelação de regras e normas e instituições.
Os individuos na vida social, de acordo com Weber, tem uma dimensão com
característica específica: a de luta. Para ele, a luta é uma dimensão marcadamente humana e serve
com a intencionalidade de fazer a universalização dos seus próprios valores. Para Weber, os
conflitos particularistas são estruturantes nas relações sociais
33
problema empírico e tem noção de responsabilidade inserida no contexto de racionalização
social.
Weber diz também que os homens são os únicos portadores e responsáveis pela vigência
(que é empírica) dos valores assumidos. Então, Weber se pergunta na medida em que a
racionalização social avança através da burocratização, qual tipo humano está sendo formado e
responde essa questão na “Ética protestante e o espírito do capitalismo” e ressalta que se
universalizou certas características no ocidente e no oriente não, houve uma discrepância de
valores dependendo da territorialidade e de sua cultura. Ou seja, a adoção de certas posturas exige
que haja processos sociais anteriormente dados com processos culturais determinados.
34
de interesse (externo ou interno) na obediência, faz parte de toda relação autêntica de dominação”
(Weber 1999, p. 139). Weber quer dizer com isso que em toda forma autoritária de dominação, no
sentido sociológico, é caracterizado pela legitimidade, essa legitimidade significa que considera a
a ordem válida e adequada as circunstâncias sociais.
Por isso, Weber diz que a dominação não é só “por um sentimento de obrigação, por
medo, por ‘mero costume’ ou por causa de vantagens pessoais” (Weber, 1999, p. 191) mas essa
dominação tem um reconhecimento e esse poder é um elemento constitutivo dessa relação. Nesse
sentido, seguindo a linha weberiana, a dominação é o cerne da questão para entender o poder e a
obediência nas ações sociais dos indivíduos. Em economia e sociedade, Weber diz:
[…] toda ação, especialmente a ação social e particularmente a relação social podem ser
orientadas, pelo lado dos participantes, pela representação da existência de uma ordem
legítima. A probabilidade de que isso ocorra de fato chamamos vigência da ordem em
questão (WEBER, 1999, p.19)
Por “dominação” compreendemos, então, aqui, uma situação de fato, em que uma
vontade manifesta (“mandado”) do “dominador” ou dos “dominadores” quer influenciar
as ações de outras pessoas (do “dominado” ou “dominadores”), e de fato as influencia de
tal modo que estas ações, num grau socialmente relevante, se realizam como se os
35
dominados tivessem feito do próprio conteúdo do mandado a máxima de suas ações
(obediência) (Weber, 1999, p. 191).
Já a sociologia durkheimeana, nos ajuda a entender o poder da coesão social. Para o autor,
uma sociedade com falta de coesão social é uma sociedade anômica, em crise. Durkheim é um
autor importante para o nosso trabalho pois além dele estudar educação, o mesmo também
estuda coesão social. São estudos muito interdependentes um do outro pois Durkheim constata
que a socialização do indivíduo é um fenômeno social composto em instituições e que acontece
quando se faz parte de um grupo social. A socialização é produzida na consciência coletiva ao
ingressar na coletividade do novo grupo, se trata de um processo de aprendizagem coletiva nova
através da regulação social e da integração.
36
Esse livro é super importante na carreira de Durkheim pois é nele que Durkheim explica
melhor os sentidos de anomia, coesão e solidariedade. Esta última, a solidariedade, o autor diz
sobre a divisão do trabalho que o rendimento das forças sociais é uma fonte de solidariedade. E
que a divisão do trabalho em seu estado “normal” produz solidariedade e no estado “anormal”
não produz solidariedade.
37
Durkheim define anomia como a subordinação da lei física do mais forte, onde relações
interindividuais não estão submetidas a nenhuma influência reguladora. A falta de coesão social,
Durkheim diz, que é uma consequência de contratos injustos pois é preciso que as desigualdades
sociais não sejam ressaltadas, e com isso Durkheim considera ricos e pobres desde o nascimento
já um contrato injusto. Ele admite que “A existência está comprometida no problema. Pois elas só
podem manter-se todas as partes que se formam são solidárias e só pode existir solidariedade
nessa condição” (DURKHEIM, 1999, p. 399).
Esse é um problema pois para Durkheim o trabalho é em sua essência uma atividade
corporativa composta por um ambiente com solidariedade e o trabalho se torna mais contínuo a
medida que se divide. Apesar disso, quando não há igualdade de condições a divisão do trabalho
se torna desintegradora invés de motivo para coesão social. Nesse sentido, Durkheim critica as
instituições reguladoras do mercado do trabalho que não permitem tal solidariedade: “se a divisão
do trabalho não produz solidariedade, é porque as relações entre os orgãos não estão
regulamentadas, é porque estão num estado de anomia” (DURKHEIM, 1999, p.385).
Em síntese, foi explicado nesses últimos parágrafos como que os sentidos de anomia,
coesão social e solidariedade são relacionados no livro “Divisão Social do Trabalho”
(DURKHEIM, 1999). Foi demonstrado também como é fácil ter um estado de anomia, que
Durkheim diz é uma doença social, já que para o autor o estado de anomia se trata de falta de
igualdade de condições e essas faltas de igualdades de condições podem ser vistas em vários
lugares. Porém, essa igualdade de condições se faz necessária numa sociedade orgânica na
divisão social do trabalho pois é justamente ela que seria responsável por manter a sociedade
coesa, sua solidariedade, para prender cada indivíduo a sua função do trabalho e também
ligá-las umas as outras. Como diz Durkheim na divisão social do trabalho, à medida que
produzem-se irregularidades e os movimentos desintegram (DURKHEIM, 1999).
As reflexões de Durkheim tem a ver com esse estudo, pois assim como o bullying,
Durkheim escolheu um tema em que fosse mais estudado pela psicologia e pegou um tema
considerado apenas individual e tornou um problema sociológico. Durkheim entende a taxa de
suicídio assim como a Divisão Social do Trabalho como um fenômeno social, que não tem como
38
entender a sociedade apenas a partir de comportamentos individuais. Assim como o tema dessa
dissertação.
Logo, com as reflexões de Durkheim, podemos entender como que as regras e normas
sociais formada pela sociedade interpela para uma consciência coletiva. Essa consciência coletiva
ou comum é um conjunto de crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma
determinada sociedade formada por um determinado sistema que tem vida própria. Durkheim diz
que a coesão das sociedades tradicionais deriva do seu compartilhar de costumes, valores, normas
e crenças sociais entre os seus e a solidariedade social é assegurada na comunidade das crenças e
do sentimento, diferentemente da sociedade orgânica, aquela com especialização do trabalho, que
a coesão social é ameaçada com a divisão social do trabalho.
A psicologia, então, pode ser considerada uma área da saúde. E assim como o suicidio, o
fenômeno do bullying é algo estudado muito como um fenômeno individual e deveria ser
estudado como um fenômeno social, com seu caratér de coletividade. Os caratér patológicos do
individuos não podem ser restritos a somente sua psique, mas sim seu contexto do ambiente
social.
Em resumo, no começo dessa seção foi apresentado que a sociologia não estuda muito o
tema de acordo com um levantamento exploratório dos artigos sobre o tema no google
acadêmico. Foi apresentado que essa falta de interesse na sociologia para com o tema é um deficit
39
pois se trata de um fenômeno sociológico importante e que se cria nas dinâmicas de grupo. Foi
apresentado também a face da psicologia, que é precursora dessa categorização, que é uma área
importante para o tema mas que não dá conta dele, já que ele exige uma abordagem
interdisciplinar Também foi feita uma breve incursão no campo da psicologia em suas diferentes
correntes a fim de apresentar uma caracterização de consensos básicos na área sobre o bullying.
HIPÓTESES E OBJETIVOS
Foi visto nessa pesquisa prévia que o bullying não é tanto estudado pela sociologia, e sim
pela psicologia e educação. A psicologia, como disciplina percussora do estudo do fenômeno
tende analisar o fenômeno de uma forma individualizante e que analisa mais a vítima do que os
outros individuos constitutivos do grupo. Esse estudo pela sociologia é necessário pois é algo
que acontece em grupo e precisa ser estudado como fenômeno coletivo, analisando todos os
componentes do fenômeno.
De fato não tem como analisar uma sociedade sem compreender suas normas
constitucionais, por isso, o direito e a ciência política se fazem presentes aqui nessa
interdisciplinaridade sociológica. Com o intuito de compreender toda a esfera da dinâmica social
40
violenta, é preciso haver uma análise sociológica do tema que traga as categorias sociológicas
como lógicas de fenômeno de grupo e dinâmicas de poder.
Objetivos gerais: Explorar a abordagem sociológica sobre a dinâmica dos grupos, com suas
dinâmicas de poder, as quais estão diretamente associadas a contexto institucionais, históricos e
culturais. A partir desse enquadramento pretendo construir um diálogo com o pensamento
sociológico tendo como ponto de partida as questões colocadas pelo fenômeno do B com autores
clássicos e contemporâneos. Pretendo também analisar questões que circulam o bullying como:
schoolshooting, cancelamento e cyberbullying. Pretendo também trazer uma visão inovadora
sobre o tema, que é estudado a tanto tempo como derivado de inseguranças da vítima, como
questões da persona, como autora trago questões sobre sociedade para entender o fenômeno
como algo coletivo e que é uma agressão que acontece em grupo, com uma dinâmica de
desigualdades de poderes criadas em circunstâncias sociais.
Objetivos específicos:
Os objetivos específicos aqui são de analisar o objeto através das pesquisas da UNESCO,
FEBRABAN junto aos artigos recém publicados sobre tal. Diante da percepção da população
entrevistada será visto como o nosso objeto de pesquisa se relaciona com as pessoas
entrevistadas. E como que se relaciona com as leis por segundo, como que a interpretação dos
entrevistados sobre bullying está direcionado as demandas legislativas de construção da lei e
aceitação do publico, entendendo se aqui que a lei numa sociedade democrática é a expressão de
um povo representativo. Nesse sentido, sabendo da importância dessas organizações
internacionais que foram ditas anteriormente, será criado um observatório – levantamento
bibliográfico - com esses relatórios como formas de referências. Sendo a UNESCO, uma
organização internacional, que significa em inglês “Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura”, fundada em 1945, a ONU, Organização das Nações Unidas e a
FEBRABAN, a fundação brasileira de bancos.
41
Pretende se fazer uma análise sobre a historicidade da categorização do bullying, uma
análise das legislações brasileiras a partir do entendimento do bullying como direito civil e a
mudança da lei do bullying de 2015 para 2018. Ademais, para compreender a materialidade do
fenômeno, essa pesquisa analisa relatórios atuais. Para em medida de melhor compreensão do
fenômeno do bullying, foi utilizado dados de uma perspectiva internacional da ONU,
UNESCO e UNICEF. Nacionalmente essa o relatório da FEBRABAN sobre a percepção dos
brasileiros sobre o fenômeno. Nesse sentido, como é algo pesquisado internacionalmente e
nacionalmente pode se entender que é um fato social e por isso comum a todos os estados, países
e cidades; de fato uma preocupação mundial.. Deve-se sociologizar para resolver.
De acordo com o texto “Forensic aspects and assessment of school bullying” escrito por
psiquiatras em 2012, apesar do bullying não ser um fenômeno novo, a atenção nacional foi
atraída para suas consequências mais dramáticas na década de 1990, após vários incidentes
altamente divulgados de violência escolar, como o massacre de Columbine (FREEMAN;
THOMPSON; JAQUES, 2012). O bullying somados a fatores debilitados da saúde mental como
estresse demasiado, sensação de impotência e acesso as armas de fato pode causar uma tragédia
movido pelo desejo de vingança, como foram alguns célebres schoolshootings, apensar de nem
todo schoolshooting ter essa motivação.
42
O massacre de Colombine, que aconteceu em 1999 em Colorado, foi um caso célebre e
midiatizado e foi realizado por exs alunos que sofreram bullying naquela determinada escola.
Com toda a visibilidade, com uma quantidade de 12 alunos mortos e um professor, e também
com 21 feridos, foi um episódio que demarcou a história e que fez as pessoas refletirem mais
sobre bullying, políticas de controle e cultura das armas.
Essas tragédias fazem os individuos de uma sociedade pensar onde está o erro e como
consertá-lo. Portanto, podemos assumir que um massacre é feito por causa de pensamentos de
ódio, motivado por algum tipo de vingança motivada. O que faz gerar tamanha anomia, no
sentido Durkheimeano?
O autor do crime, que demorou 10 anos para colocar em prática seus pensamentos de
vingança, comprou rapidamente dois revólveres - um calibre 32 e outro de calibre 38 - e um
carregador assim como fez aulas de tiro. Visto que Wellington já tinha 23 anos na época do
43
massacre, já era maior de idade e tinha certa autonomia, por meio de uma denúncia anônima,
Wellington comprou o revólver calibre 32 com dois homens, um vigia desempregado e um
chaveiro, e alegou que estava comprando a arma para se proteger e vivia sozinha. O outro
revólver de calibre 38 ainda não foi descoberto aonde foi comprado.
Com o tempo, comprar uma arma e/ou fazer aulas de tiro se tornou cada vez mais fácil,
com aumento da quantidade e também da circulação das mesmas no país. De acordo com a
reportagem do Brasil de Fato, um levantamento feito no Espírito Santo, por exemplo, revela que
pelo menos 30% dos armamentos usados em crimes e apreendidos entre 2018 e 2019 têm registro
no Sistema Nacional de Armas da Polícia Federal (SINARM). Em 2021, durante o governo de
Bolsonaro, se mudou o estatuto do desarmamento. De acordo com o ex presidente, a mudança
serviu para desburocratizar procedimentos” e “aumentar a clareza das normas que regem a posse
e porte de armas de fogo e a atividade dos colecionadores, atiradores e caçadores”. Entre as
medidas, o ex governo alterou o Decreto nº 9.845, de 2019, que permitia que as pessoas
autorizadas pelo Estatuto do Desarmamento pudessem ter até quatro armas. Com a regra válida a
partir desde 2021, o limite aumentou para seis armas de fogo de uso permitido.
Além do aumento das armas de fogo nos últimos anos e aumento da sua respectiva
circulação, devido a globalização e sua facilidade de transportação e comunicação, devemos
analisar quais outros fatores os massacres tem em comum. O massacre de Columbine, realizado
em 1999 e o massacre de Realengo, realizado em 2011, são os mais conhecidos e ambos foram
realizados por exs alunos que sofreram bullying, nenhum site de notícias comenta sobre a renda
dos réus, e comenta mais sobre o temperamento da vítima do bullying e sua formação familiar
do que atenta para as suas motivações para o massacre.
Depois do ataque de Columbine, Em maio de 2002, o Serviço Secreto dos Estados Unidos
publicou um relatório que examinava 37 tiroteios em escolas dos Estados Unidos que
encontraram semelhanças nos ataques. As principais semelhanças entre os schoolshooting que
são importantes para o estudo do fenômeno do bullying são: “Incidentes de violência direcionada
na escola raramente eram atos repentinos e impulsivos; muitos dos autores dos crimes se sentiam
intimidados, perseguidos, ou feridos por outros antes do ataque; e na maior parte dos casos outros
alunos estavam envolvidos de alguma forma” (UNITED STATES SECRET SERVICE, 2002).
A pesquisa a Unesco, se utilizando dos dados da pesquisa “Office the Srsg on violence
against children” da UNICEF realizada em 2016 demonstra que mais de 70% das vítimas que
sofrem bullying contam sim para alguém, esse dado nos faz pensar na responsabilização dos
adultos dessa sociabilidade assim como das pessoas que assistem o fenômeno. Não somente os
alunos devem tomar noção de sua devida responsabilidade, mas assim como toda a comunidade
45
escolar. A omissão das instituições escolares diante ao fato, dividindo-se em: familiares, alunos,
inspetores, professores, diretores é algo devidamente criminalizado pela atual lei do bullying de
2018.
Ainda assim, com essa abordagem comparada, me utilizando de dados quantitativos para
demonstrar a importância da incidência do bullying, vemos o fenômeno como um fato comum a
todas as sociedades. Dessa forma, expliquei aqui nesse projeto porque a caracterização da
abordagem predominante realizada pela psicologia e pela educação, que é a mais comum, deve
ser problematizada quanto ao fenômeno, já que tem a ver com uma dinâmica de grupo e deve ser
lida sociologicamente utilizando autores clássicos e contemporâneos da sociologia.
Essa pesquisa é escrita através de um prisma multifocal que engloba autores distintos
campos do saber, como Psicologia, História, Linguística, Direito, Antropologia, Linguística, entre
outros. As ciências sociais é uma disciplina composta pela interdisciplinaridade porque de fato
para compreender o fenômeno sociológico é preciso olhar de vários ângulos.
46
METODOLOGIA
Assim como Durkheim caracterizou a taxa de suicidio como fenômeno social, assim
podemos fazer com o fenômeno de bullying. Digamos então, que o fenômeno do bullying é um
fenômeno social, que assim como uma sociedade com alta taxa de suicidio, uma sociedade com
altas taxas de bullying é uma sociedade com pouca solidariedade e coesão social.
.
Dessa forma, essa pesquisa tem muitas semelhanças com os trabalhos do Durkheim,
assim como os estudos sociológicos de Durkheim sobre suicídio, que debate com a psicologia,
assim foi feito e assim como Durkheim se utilizou de estatísticas para descortinar o fenômeno,
assim também foi feito.
47
respostas da população entrevistada acessar as experiências, valores, atitudes, e principalmente
suas contradições a partir de sua narrativa
A entrevista é uma das principais formas de coleta de dados nas ciências sociais, esses
dados dos relatórios da UNESCO e da FEBRABAN fazem parte dessa metodologia documental
que será trazida para a dissertação. Os relatórios, que têm uma série de perguntas fechadas
buscam padronizar os dados com perguntas predefinidas, perguntas com um roteiro e uma
estrutura fechada, em que o entrevistador pode escolher suas respostas dentro das opções dadas, e
suas respostas são fechadas e padronizadas.
ESTRUTURA DE EXPOSIÇÃO
48
CAPÍTULO 1 – Esse capítulo se subdivide em quatro seções. A primeira seção
pretende realizar uma abordagem teórica para compreender como o bullying vem sendo tratado
psicologicamente através de uma revisão bibliográfica de como o bullying tem sido abordado no
campo da psicologia, sabendo que foi a disciplina percussora no campo. A segunda seção desse
capítulo será será explorado o estudo bibliográfico do fenômeno no campo da educação de
forma mais extensa do que na qualificação, visto que tem muitos artigos publicados sobre este
tema. A terceira seção desse capítulo trata-se da questão digital, das formas mais recentes de
manifestação do B. por meio do que se convencionou chamar de cyberbullying.
Por isso sem uma presença mais forte da sociologia, ficamos desarmados para pensar com
mais profundidade os seguintes aspectos da dinâmica de grupos e instituições - a relação entre o
fenômeno (com sua dinâmica de grupos) e os ambientes regulatórios e institucionais relacionados
à escola e à comunidade escolar.
Também é importante analisar a dimensão das representações sociais, a forma pela qual o
senso comum sobre o bullying tende a produzir uma psicologização vulgar do problema,
49
relacionado ao senso comum escolar, e a tendência à psicologização dos problemas escolares, de
forma que se entende ser um problema individual mesmo e se soluciona como um problema
individual, no sentido de querer compreender como e porque a vítima não consegue lidar com o
estresse do agressor.
Meu trabalho é como um estudo exploratório, cujo objetivo seria o de se fazer perguntas
à sociologia a partir do fenômeno do bullying. Essas perguntas te permitem vislumbrar questões
que possivelmente tem sido pouco valorizadas, nos termos acima propostos. A primeira delas e
talvez a fundamental diz respeito a como a sociologia permite pensar a relação entre grupos e
instituições.
Sobre essas instituições relaciono com a política clássica e com a contemporânea de como
o bullying como uma política publica representa a vontade geral, de ser uma preocupação da
sociedade geral no sentido que a sociedade democrática escolhe seus representantes com a
intencionalidade de criação de leis e efetivá-las.
A terceira tem a ver com a questão digital onde relaciono com sociólogos
contemporâneos da sociologia digital já que a tecnologia muda nosso modo de ser e instaura
50
novas capacidades de se experimentar o mundo (MARRES, 2017, p.25). Diante disso, a
tecnologização restaurou diferentes forma de se ver no mundo em comparação a tecnologia
analógica, que ainda não foi informatizada e isso faz com que a forma de bullying seja totalmente
diferente das décadas anteriores ao século XXI e também sua percepção com as leis e comoção
da sociedade como público geral.
Dessa forma, para fazer uma análise sociológica atualizada sobre o bullying
contemporâneo é preciso pesquisar as maneiras pelas quais as pessoas usam as tecnologias
digitais, configuram seu sentido de eu (self), sua corporeidade (embodiement) e as relações
sociais entre os pares dentro de toda a comunidade escolar. Sintetizando, é preciso analisar o
bullying de uma perspectiva tecnológica já que fazemos parte do século XXI e com isso nós
somos seres tecnológicos e partindo da premissa que a tecnologia muda o nosso modo de ser
(self) e nossa corporeidade (embodiment) no sentido de George Herbert Mead. Então, o bullying
hoje em dia acontece não só na escola mas tem uma interface com a internet onde o fenômeno se
desdobra e acontece em simultaneidade .
51
Entender a partir dessas categorias sociológicas como funcionam as relações de poder
hierarquias dentro de determinados espaços relacionadas a disputa de ganhos pessoais em
relacionamentos de confronto por um status de superioridade e rivalidade entre alunos dentro de
escolas para analisar a dinâmica do bullying escolar da vida social em sua praticidade com suas
circunstâncias específicas.
Então, não deixando de lado as novas formas de se relacionar no século XXI, irei realizar
no 2º capítulo uma breve síntese de autores clássicos e contemporâneos que te ajudem a montar
uma espécie de quadro teórico para a abordagem sociológica (a partir da estrutura temática que
propus acima). Autores como Goffman, Elias, Dubet, Simmel, Durkheim, Putnam, Giddens,
Bourdieu são extremamente essenciais nessa interpretação dessa nova sociedade tecnológica em
que a internet está em todos os campos e em todos os espaços, em que todas as publicações de
redes tem configurações ad infinitium, ou seja, podem ser vistas eternamente e diante de todos os
lugares repetidas vezes por diversos usuários de diferentes classes, cor e gênero.
52
CRONOGRAMA
Qualifi- X x
cação
Leitura dos X X
novos textos
sugeridos
diante a uma
nova revisão
53
bibliográfica
diante da
atualização
Elaboração X
do capítulo 1
que trata se
da
sociologizaçã
o do bullying
Leitura de X X
artigos sobre
educação e
práticas na
escola para
prevenir e
combater
Elaboração X
do sumário e
revisão
Exploração X
maior sobre
o
cyberbullyin
g como uma
extensão do
B.
Escrita sobre X
as
conclusões:
como que a
preocupação
social
interfere nas
políticas
públicas e
como o
bullying tem
sido
combatido
nas escolas e
54
suas
consequência
s
Revisão das X
questões
teóricas,
ortografia e
ABNT e
defesa da
dissertação.
Referência bibliográficas:
BECKER, H. S. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Rio
de Janeiro, 2008.
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