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Revista Portuguesa de Pneumología

ISSN: 0873-2159
[email protected]
Sociedade Portuguesa de Pneumologia
Portugal

Laizo, Artur
Doença pulmonar obstrutiva crónica - Uma revisão
Revista Portuguesa de Pneumología, vol. XV, núm. 6, noviembre-diciembre, 2009, pp. 1157-1166
Sociedade Portuguesa de Pneumologia
Lisboa, Portugal

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=169718497008

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Artigo de Revisão
Review Article

Artur Laizo1 Doença pulmonar obstrutiva crónica – Uma revisão

Chronic obstructive pulmonary disease – A review

Recebido para publicação/received for publication: 09.02.23


Aceite para publicação/accepted for publication: 09.05.15

Resumo Abstract
A DPOC é uma doença prevenível e tratável ocasio- COPD is a preventable and treatable disease caused
nada pela exposição ao tabagismo e gases tóxicos. A by exposure to tobacco smoke and poisonous gases. It
sua característica é a obstrução progressiva ao fluxo is characterised by progressive obstruction of the air-
aéreo de irreversível depois de ocorrerem as lesões no flow, irreversible once lesions occur in the parenchy-
parênquima. O objectivo do trabalho é uma revisão ma. This article aims to systematically review the dis-
sistemática da doença e da forma de tratamento. Dis- ease and its treatment.
cussão: o tabagismo é a maior causa de DPOC e leva Discussion: Smoking is the main cause of COPD and
a não só uma diminuição da oxigenação por hiperin- leads to decreased oxygenation via lung hyperinflation
suflação pulmonar com redução do fluxo aéreo como with reduced airflow as a systemic inflammatory pro-
a um processo inflamatório sistémico, reduzindo a cess. This reduces resistance to fatigue of the skeletal
resistência à fadiga da musculatura esquelética produ- musculature, leading to hypoxemia, decreased periph-
zindo hipoxemia, diminuição do fluxo sanguíneo pe- eral blood flow and also miscarriages and premature
riférico, levando inclusive a abortos espontâneos e births. Inflammatory markers such as interleukins and
partos prematuros. Marcadores inflamatórios como TNF-alpha maintain the systemic picture. While
as interleucinas e o TNF-alfa mantêm o quadro sisté- smoking cessation improves hypoxemia and exercise
mico. A cessação do tabagismo melhora a hipoxemia, intolerance, it does not repair damaged tissue. COPD
a intolerância ao exercício, porém não recupera o te- is a serious disease which can be avoided by a wider
cido lesado. A DPOC é uma doença grave que pode understanding by the population of the harm smok-
ser evitada se houver uma consciencialização maior ing causes.
da população a respeito dos malefícios do cigarro.
Rev Port Pneumol 2009; XV (6): 1157-1166
Rev Port Pneumol 2009; XV (6): 1157-1166

1 Mestre em Cirurgia Geral pela UFMG, intensivista, coordenador do Grupo de Estudos Sobre DPOC (GEDPOC), professor nas disciplinas Primeiros Socorros,
Farmacologia e Fundamentos de Pneumologia, dos cursos da área de saúde da Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC – campus VI, Juiz de Fora – MG.

Universidade Presidente Antônio Carlos – Campus VI – Juiz de Fora


e-mail: [email protected]

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Vol XV N.º 6 Novembro/Dezembro 2009
Doença pulmonar obstrutiva crónica – Uma revisão
Artur Laizo

Introdução países desenvolvidos. Estima-se que, até 2025,


A doença pulmonar obstrutiva crónica 75% das mortes prematuras sejam decorren-
(DPOC) ocupa no Brasil, segundo dados tes das doenças respiratórias provocadas pelo
do DATASUS, o quinto lugar dentre as tabagismo. Um terço da população com ida-
principais causas de morte e o número de de em torno dos 15 anos é fumadora habitual
óbitos referente a ela vem crescendo nos úl- e vive em países desenvolvidos 2,19,20,21. Obser-
timos vinte anos em ambos os sexos1,2. São va-se ainda um alto índice de tabagismo entre
internados 290 mil doentes anualmente, as gestantes, normalmente pertencentes a
trazendo um grande prejuízo ao sistema de classes sociais mais baixas19.
saúde. Gastos indirectos também são com- O tabagismo é considerado um problema
putados como perda de dias de trabalho, de saúde pública porquanto são atribuídos a
aposentadorias precoces, morte prematura e esse vício 90% dos casos de cancro de pul-
sofrimento familiar2,3,4,5,6,7,8,9,10. mão, 86% de bronquite e enfisema, 25%
Acredita-se que ¼ das hospitalizações por dos processos isquémicos do coração e 30%
problemas respiratórios sejam devido a dos cancros extrapulmonares20. Nos progra-
DPOC. E a doença é líder de mortalidade en- mas de combate ao tabagismo, os profissio-
tre as doenças respiratórias. A DPOC não é só nais de saúde têm um papel importante
um problema devido ao alto índice de morta- junto da população devido à sua acção edu-
lidade e morbidade, mas também por ser uma cativa, a fim de diminuir o número de pes-
doença prevenível na maioria dos casos, como, soas fumadoras8,20,21,22.
por exemplo, a cessação do tabagismo. Infe- Os doentes com DPOC apresentam uma
lizmente, a história da doença é progressiva e qualidade de vida prejudicada uma dimi-
irreversível depois de ocorrerem lesões no pa- nuição da tolerância a exercícios físicos e
rênquima pulmonar11. Estudos mostram que perda de força dos músculos respirató-
15,9% da população maior de 40 anos de São rios4,7,23,24. Estas condições podem ser mini-
Paulo apresente a doença2,4,5,11,12,13. mizadas por programas de exercícios que
Existe uma grande discussão a respeito do ainda não obtiveram uma proposta definiti-
diagnóstico para a doença e a maioria dos va sobre a melhor estratégia de treinamen-
estudiosos concorda que a espirometria as- to4. Os consensos de reabilitação pulmonar
sociada à gasometria seja o melhor critério14. sugerem que o treinamento físico dos pa-
Uma relação entre o volume expiratório for- cientes seja baseado na melhora da capaci-
çado do primeiro segundo (VEF1) sobre a dade aeróbica e são raros os exercícios que
capacidade vital forçada (CVF) – VEF1/ avaliam uma abordagem específica sobre as
/CVF –, pode ser considerada como um alterações da caixa torácica e dos músculos
bom indicador da doença, mas não é um torácicos7,10,12,16,17,25,26,27,28.
bom indicador para detectar diferenças após Existe uma gama de medicamentos utiliza-
programas de reabilitação. O critério GOLD dos no tratamento farmacológico da doen-
é mais específico e permite avaliar o grau de ça e das crises de agudização, dentre eles
severidade da doença2,4,7,8,11,15,16,17. corticóides e broncodilatadores29. São ainda
O acto de fumar é o maior problema de saúde utilizados antibióticos nas complicações in-
pública de todo o mundo, especialmente em fecciosas e oxigenioterapia , incluindo más-

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caras de O2, Ventilação mecânica não inva- O tabagismo é a maior doença comunitária
siva (vmni) e ventilação mecânica invasiva no mundo. Estima-se que, em 2025, 75%
(VMI)1,2,8,15,27,29,30,32. das mortes sejam causadas por doenças pul-
O objectivo deste trabalho é fazer uma revi- monares relacionadas com o tabagismo.
são bibliográfica sobre a doença e as possí- Cresce o número de fumadores entre mulhe-
veis estratégias de tratamento do DPOC. res e um terço da população acima de 15 anos
é fumadora habitual21,24. A cessação do taba-
gismo é a melhor forma de evitar a instalação
Material da DPOC e melhorar a qualidade de vida
Foi feita uma revisão bibliográfica qualitati- dos já portadores da doença2,5,8,19,20,21,22,24.
va e randomizada entre os meses de Agosto Fazer o diagnóstico de DPOC nas fases sub-
de 2008 e Fevereiro de 2009, onde se busca- clínicas é um grande problema, já que mui-
ram artigos científicos em revistas especiali- tos doentes procuram o médico por outros
zadas e sites na Internet, a saber, Scielo, Pub factores respiratórios, como tosse persistente
Med e Google Científico. e produtiva, afecções respiratórias constantes
Foi feito ainda contacto por e-mail em di- onde não se suspeitará de DPOC. 24 O
versos países do mundo com autores de arti- doente, na fase inicial da doença, muitas ve-
gos científicos na área, que prontamente zes associa a tosse ou a diminuição da capa-
enviaram os artigos recém-publicados na ín- cidade aeróbica ou mesmo o cansaço cons-
tegra para o pesquisador. tante ao acto de fumar, mas não acredita que
Buscaram-se ainda artigos sobre a doença esteja com alguma doença respiratória, já
nos bancos de dados do laboratório Roche que consegue respirar bem, consegue realizar
de medicamentos. as suas funções e, na maioria das vezes, deixa
Esses artigos foram lidos e seleccionados de de realizar outras actividades físicas alegando
acordo com a revisão proposta. idade ou falta de preparação física2,3,5,11,15,24.
A tosse é o principal sintoma e o mais co-
mum. Pode ser seca, diária ou intermiten-
Discussão te, e produtiva nos estádios mais avança-
A DPOC é uma doença de possível preven- dos da doença e nos quadros de agudização.
ção e tratável, que se caracteriza pela obstru- A tosse produtiva ocorre em mais de 50%
ção crónica das vias respiratórias limitando dos fumadores. Define-se como bronquite
o fluxo aéreo e que não é totalmente reversí- crónica a exposição ao cigarro e tosse pro-
vel. Essa obstrução é progressiva e está asso- dutiva até três meses em dois anos conse-
ciada a um processo inflamatório anormal cutivos3,35.
devido à inalação de partículas ou gases tó- A dispneia é progressiva e leva ao aumento
xicos causada primariamente pelo tabagis- da ansiedade que reduz a actividade física,
mo3,4,9,10,14,27,28,33. O processo inflamatório gerando depressão como resposta psicológi-
crónico pode produzir alterações dos brôn- ca desse quadro9,14,27,36. O índice de dispneia
quios (bronquite crónica), bronquíolos do Medical Research Council (MRC) apre-
(bronquiolite obstrutiva) e parênquima pul- senta boa relação com a progressão da doen-
monar (enfisema pulmonar)2,3,6,7,24,25,34,35. ça4,7,12,16,17,25,26 (Quadro I).

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Quadro I – Índice de dispneia modificado do MRC A DPOC acarreta prejuízo na mecânica pul-
monar e na musculatura periférica. A mecâ-
0 Tenho falta de ar ao realizar exercício intenso
nica pulmonar altera-se pela obstrução brôn-
1 Tenho falta de ar quando apresso o meu passo ou
quica que acarreta o deslocamento do ponto
subo escadas ou ladeiras
2 Preciso de parar algumas vezes quando ando no de igual pressão para as vias aéreas que não
meu passo, ou ando mais devagar que outras pes- possuem cartilagem, favorecendo o aprisio-
soas da minha idade namento de ar, levando à hiperinsuflação que
3 Preciso de parar muitas vezes devido a falta de ar diminuirá a capacidade respiratória aos gran-
quando ando perto de 100 metros ou poucos minu- des esforços e depois ao repouso16,21,27,28,33.
tos de caminhada no plano Segundo o consenso de DPOC o estadia-
4 Sinto tanta falta de ar que não saio de casa ou preci-
mento da doença dá-se em quatro estádios
so de ajuda para me vestir ou tomar banho sozinho
(Quadro II).
Modificado de Ferrer M, Alonso J, Moreira J, et al. Chronic obstru- Além do quadro respiratório inflamatório,
tive pulmonary disease and health related quality of life. Ann Intern
Med 1997; 127:1072-1079 foram diagnosticadas células inflamatórias e
citocinas na corrente circulatória que junta-
A espirometria com obtenção de curva volu- mente com o stress oxidativo contribuem
me-tempo é obrigatória no diagnóstico, deven- para as disfunções nutricionais e musculoes-
do ser realizada na fase estável da doença antes queléticas nesses doentes que apresentam
e depois do uso de broncodilatadores. Os pon- intolerância a exercícios físicos, principal-
tos mais importantes observados são a capaci- mente na fase moderada a grave4,37. A dis-
dade vital forçada (CVF), o volume expiratório função da musculatura periférica dá-se por
forçado no primeiro segundo (VEF1) e a rela- diversos mecanismos, entre eles o descondi-
ção VEF1/CVF, onde a limitação do fluxo aé- cionamento pelo desuso18,32,36, as citocinas
reo é definida quando se encontra abaixo de pró-inflamatórias (TNFα, interleucinas 6 e
0,7 pós-broncodilatador2,3,7,11,15,16,17. 8), a diminuição de hormonas anabólicas
O exame radiológico pode não sofrer altera- (testosterona), hipoxemia ou hipercapnia,
ções em fases iniciais da doença, mas apesar desnutrição e uso prolongado de corticói-
disso deve ser considerado como o exame de de25. O doente com DPOC apresenta perda
rotina para se afastar outros diagnósticos, de peso significativa, fraqueza dos músculos
como neoplasias pulmonares, bolhas, e para respiratórios, redução da força dos MMSS e
observação de agudização da doença com evidente diminuição de força e endurance na
presença de infecções pulmonares como musculatura do quadricípite femoral, o que
pneumonia e tuberculose3,14. contribui para a baixa qualidade de vida e

Quadro II – Estádio da doença de acordo com a espirometria (percentagem do VEF1/CVF)

Estádio I Doença leve VEF1=normal VEF1/CVF<70%


Estádio II Doença moderada VEF1 entre 50 e 80% VEF1/CVF<70%
Estádio III Doença grave VEF1 entre 30 e 50% VEF1/CVF<70%
Estádio IV Doença muito grave VEF1 <30% VEF1/CVF<70%
Consenso de DPOC

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para o aumento do número de mortalidade evolui para ventilação mecânica invasiva


nesses doentes4,25,33,39. (VMI) ou ventilação mecânica não invasiva
O TNFα, e a IL-1β foram identificadas (VMNI)32. Usam-se antibióticos, nesses ca-
como citocinas iniciadoras da cascata infla- sos, de acordo com a European Respiratory
matória de outras condições inflamatórias, Society (ERS) e a French Consensous Confe-
como artrite reumatóide, doenças inflama- rence. No entanto, bactérias são isoladas
tórias intestinais e asma grave. Por isso, é apenas em 50% dos casos de EADPOC,
presumível que a exacerbação da DPOC es- onde a alta incidência de viroses é identifi-
teja associada ao aumento da inflamação das cada. Um teste rápido para identificar bac-
vias aéreas6. térias poderia ser uma forma de limitar o
Hacket et al. demonstraram em doentes uso excessivo de antibióticos, diminuindo
com DPOC, nos estádios I e II, um elevado assim a resistência bacteriana. A procalcito-
nível de TNFα, IL-6 e CXCL8 e a relação nina (PCT) sérica pode ser usada como o
entre essas citocinas e a exacerbação da melhor marcador de infecção bacteriana,
doença, levando ao rápido declínio da fun- mas é ineficaz para viroses. Entre os níveis
ção pulmonar dos doentes estudados. Al- de PCT, temos: ausência de infecção –
guns estudos mostraram ainda não haver PCT<0,1μg; possível infecção PCT entre
relação entre VEF1 e os níveis de TNFα, 0,1 e 0,25 μg; infecção PCT>0,25 μg. Por
IL-6 e CXCL8 (ou IL-8)6,33. ser a sua eficácia questionável na DPOC,
Donaldson e colegas demonstraram, no en- excepto em doentes com infecção evidente,
tanto, que essas exacerbações contribuem o exame da PCT reduziria o uso de antibió-
para acelerar e muito a diminuição do VEF1 ticos na UTI8,12,31.
por anos nesses doentes6. As causas da intolerância ao exercício físico
Existe uma relação entre a reação inflamató- em doentes com DPOC são tradicionalmen-
ria nas vias aéreas provocada pela infecção te focadas nas limitações do sistema ventila-
bacteriana, principalmente H. influenzae, tório e na troca gasosa. Porém, estudos mos-
Streptococus pneumoniae e Bhrahemella ca- tram que não são apenas estes os motivos e
tarralis e a elevação dos níveis de marcadores um factor importante para a limitação ao
inflamatórios. Essa colonização aumenta o exercício físico é a disfunção da musculatura
nível de obstrução das vias aéreas e causa periférica com anormalidades estruturais,
exacerbação frequente8. Essas exacerbações como redução da massa muscular e relação
frequentes, com níveis de marcadores infla- capilaridade/mitocôndria, mudanças no tipo
matórios elevados, levam a uma inflamação e tamanho das fibras musculares e redução
sistémica e a uma manifestação extrapulmo- das enzimas oxidativas14,37, anormalidades
nar, como caquexia e acção hepática, com funcionais, como redução da força e resistên-
redução do fibrinogénio. O nível baixo de cia e da bioenergética muscular como a redu-
fibrinogénio é um grande risco para as doen- ção no consumo de oxigénio, aumento do
ças cardiovasculares6,8. nível de lactato e diminuição do pH25,33,36.
A exacerbação aguda da DPOC (EADPOC) Por isso mesmo se nota a diferença entre os
é causa de falência respiratória. Na grande músculos dos MMII e MMSS. A fraqueza da
maioria das vezes, o doente com EADPOC musculatura dos MMII dá-se devido ao de-

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suso ou ao descondicionamento físico com em fumadores e só retornam ao normal na


evidente diminuição da área transversa da paragem do tabagismo34 .
coxa. A fragilidade muscular na DPOC afec- Não só o CO, mas o alcatrão e o cianeto no
ta mais a musculatura de MMII do que de cigarro, reduzem a função respiratória mito-
MMSS, explicada pela diminuição da mar- condrial. O tabagismo produz fadiga mus-
cha para evitar a dispneia e predomínio de cular e intolerância ao exercício. Parar de
actividades da vida diária com o uso dos mús- fumar só reverterá esse processo desde que o
culos dos MMSS, reduzindo assim o acome- indivíduo não tenha já DPOC ou falência
timento desses membros pelo desuso. Outros cardíaca34,38.
factores que podem contribuir para essa de- O CO vai-se ligar ainda à hemoglobina, re-
bilidade muscular são o uso de corticóide sultando em hipoxemia. A carboxiemoglo-
oral e a perda de peso, esta devido à diminui- bina (COHb) pode chegar a 10% nos fu-
ção da dieta oral e depleção nutricional4,25,34. madores. Essa hipoxemia é factor de
A fadiga muscular aumentada em doentes diferença entre fumadores e não fumado-
com DPOC pode ser atribuída à deteriora- res. A inalação do CO leva ao consumo má-
ção da função pulmonar e aos efeitos sisté- ximo de O2 e uma elevação de COHb de
micos, como atrofia muscular e a transição 6% já leva a fadiga muscular. Nota-se então
slow-to-fast na composição das fibras muscu- que o fumador tem um agudo e reversível
lares. Mesmo não tendo sintomas de DPOC efeito na fadiga da musculatura esquelética
o doente apresenta fadiga muscular. A etio- causada pelo cigarro19,28,34,39,40.
logia dessa fadiga é desconhecida e não é Os componentes do tabaco ainda interferem
claro como o tabagismo contribui para o fe- na gestação. A nicotina causa vasoconstrição
nómeno, relacionado ou não com outros periférica e diminui o fluxo placentário, re-
factores, como a diminuição do nível de ac- sultando na pobre nutrição e oxigenação fe-
tividade física. O tabagismo por si só, causa tal. Pode ocorrer ainda parto prematuro ou
um significante declínio da resistência à fa- aborto. O aumento da COHb reduz o fluxo
diga da musculatura esquelética. A diminui- sanguíneo fetal, afectando o transporte de
ção da atividade física durante prolongado O2 e levando à hipoxemia fetal19.
tempo de tabagismo pode causar progressiva O tratamento da DPOC inclui uma equipa
deterioração da RFME. Em resumo, a mus- multidisciplinar, buscando uma reabilitação
culatura do tabagista é mais fatigável4,34. respiratória desses pacientes. O programa de
O efeito do tabaco na musculatura, agudo reabilitação respiratória requer a utilização
e não acumulativo, não é dosedependen- de exercícios físicos e respiratórios, acompa-
te. Mas o monóxido de carbono (CO), nhamento médico e psicológico dos doentes
presente no cigarro, liga-se à mioglobuli- com DPOC12. A utilização de exercícios fí-
na, limitando a difusão facilitada de oxi- sicos busca melhorar a resistência da muscu-
génio intracelular. Além disso, o CO blo- latura, aumentando a capacidade respirató-
queia o complexo IV da respiração ria e a troca gasosa, diminuindo a fadiga
mitocondrial, causando declínio da fun- muscular8,9,28,41,42.
ção da mitocôndria. Os complexos III e Os indivíduos com DPOC têm alta preva-
IV (citocromooxidase) estão diminuídos lência de factores de risco cardiovascular se

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comparados com a população no geral e a tas. A relação entre enfisema pulmonar e


EADPOC aumenta a mortalidade desses cancro é maior do que nos indivíduos com
indivíduos por falência respiratória. Estudos bronquite crónica, e hoje em dia a diferença
recentes mostram que doenças cardiovascu- entre homens e mulheres acometidos quase
lares e cancro de pulmão são causas de mor- não existe22.
te no doente com DPOC. O stress oxidativo Parar de fumar diminui os sintomas respira-
e a inflamação sistémica podem ser o elo de tórios, como a diminuição do VEF1 e da
ligação com as doenças cardiovasculares38. severa hiperresponsividade das vias aéreas e,
Observou-se que o indivíduo com DPOC consequentemente, diminui o processo in-
tem níveis de proteína C-reativa (PCR) em flamatório persistente. Ocorre ainda uma
torno de 3mg/L, o que é considerado alto diminuição da secreção brônquica, com re-
risco para alterações cardiovasculares. Além modelamento epitelial com clearence muco-
disso, a alteração no VEF1 pode ser o pre- ciliar, reduzindo a colonização das vias aére-
ceptor de coronariopatias38,39. as. A diminuição da proliferação celular e a
A cessação do tabagismo – maior factor de metaplasia de células escamosas diminui o
risco de DPOC – pode prevenir milhões de risco de desenvolvimento de cancro pulmo-
casos. Infelizmente, na DPOC, por ser uma nar2,8,20,22,24.
doença progressiva e irreversível, após certos O tratamento farmacológico da DPOC in-
danos pulmonares, podem tratar-se e dimi- clui broncodilatadores, a base do tratamento
nuir apenas alguns sintomas13. Existem vá- para a maioria das doenças pulmonares obs-
rios programas de apoio ao doente que dese- trutivas. A via preferencial é a inalatória, que
ja e/ou precisa parar de fumar. Há diminui a incidência de efeitos colaterais. Os
necessidade de apoio de uma equipa multi- beta-agonistas são os preferenciais e actuam
disciplinar especializada e recomenda-se abrindo os canais de potássio e aumentando
com frequência apoio psicológico a esses o AMP cíclico. São divididos em beta-ago-
doentes2,5,8,15,24,34. nistas de longa duração, como formoterol e
A cessação do tabagismo é um factor de suma salmeterol, e de curta acção: fenoterol, salbu-
importância no tratamento do DPOC. Em tamol e terbutalino, sendo os primeiros mais
comparação com os doentes portadores da eficazes na redução da dispneia. O bambute-
doença, os ex-fumadores têm menos armaze- rol é o único de acção por 24 horas, mas ca-
namento de epitélio brônquico mucinoso, rece de estudos para sua utilização. Os anti-
proliferação de células e metaplasia de células colinérgicos, como o brometo de ipatrópio, é
escamosas do que portadores de DPOC ain- um antagonista inespecífico dos receptores
da fumadores. A cessação do tabagismo rever- muscarínicos3,8,15.
te a proliferação e a diferenciação celular do Os boncodilatadores aumentam a função
epitélio brônquico, e esse efeito é maior quan- pulmonar, a tolerância ao exercício, dimi-
do mais tempo se passa sem fumar2,5,8,24,34. nuem os sintomas e melhoram a qualidade
O cancro de pulmão é uma doença de gran- de vida, reduzindo ainda as exacerbações.
de mortalidade e sabe-se que a principal A combinação de fluticazona e salmeterol
causa é o tabagismo, embora se encontre reduz o declínio da função pulmonar em
cancro de pulmão em pessoas não tabagis- mais ou menos três anos. Outro fármaco

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que pode ser utilizado é o tiotrópio. O uso exercício; encorajar o gasto de energia de
de esteróides inalados reduz a exacerbação, forma eficiente; proporcionar sessões educa-
mas os efeitos adversos acabam por dimi- tivas a doentes, familiares e outras pessoas
nuir a sua utilização. Mucolíticos são con- relacionadas; reduzir os sintomas e melhorar
siderados em doentes com tosse crónica a QV9,10,27,28,36.
produtiva5,8,15,18,26. Na fisioterapia, inúmeros programas de
As xantinas continuam a ser usadas em larga exercícios físicos para reabilitação de doen-
escala, apesar de o seu efeito broncodilata- tes com DPOC têm sido propostos na lite-
dor ser menor do que os demais fármacos e ratura e muito ainda se tem que estudar so-
apresentou maiores efeitos colaterais. A bre a doença e seu tratamento, o que
aminofillina, a bamifililna e a teofilina são justifica a necessidade de pesquisas, estudos
xantinas utilizadas. Há estudos mostrando e publicações sobre a doença, o tratamento
que esses fármacos não apresentam acção e a reabilitação pulmonar4,7,16.
satisfatória no DPOC. A literatura diz que
deveriam ser usados na DPOC como últi-
ma opção3,12. Conclusão
O oxigénio (O2) é usado em doentes com A DPOC é uma doença pulmonar grave,
DPOC visando manter a oxiemoglobina com repercussão sistémica causada princi-
acima de 90%. Observou-se que o uso de palmente por uma exposição constante e
O2 melhora a tolerância ao exercício físico, a prolongada ao tabagismo. De início pulmo-
oxigenação do indivíduo e a qualidade de nar, o processo inflamatório actua na mus-
vida (QV)28. O uso de O2 domiciliar melho- culatura esquelética, hipotrofiando a fibra e
ra a QV do doente, apesar de ser um trata- causando intolerância ao exercício físico.
mento caro e nem sempre acessível44, pode Outros componentes do tabaco levam a al-
aumentar a sobrevida, tem impacto sobre a teração da mioglobina e da hemoglobina,
hemodinâmica, amplia a função neuropsi- causando hipóxia sistémica. Podem ocorrer
cológica, além de melhorar as actividades de ainda doenças associadas, como IAM, AVE,
vida diárias40. Os doentes internados em cancro pulmonar, abortos espontâneos e
EADPOC com grave insuficiência respira- partos prematuros, além de alterações psico-
tória podem ser submetidos a VMNI ou à lógicas, como ansiedade, depressão e disfun-
VMI em casos mais graves, ou onde não há ção sexual.
adaptação ou aceitação à VMNI32. A cessação do tabagismo é o melhor caminho
A reabilitação pulmonar (RP) é recomenda- na busca pela melhoria da qualidade de vida
da com uma boa resposta, porém há áreas do doente porque, diminuindo a incapacida-
pulmonares onde não existe possibilidade de física, a hipoxemia, e revertendo a intole-
de regeneração e, nas áreas passíveis de rege- rância ao exercício, reintegra o indivíduo na
neração, apenas 9% responderá à reabilita- sociedade e na sua vida independente.
ção24. Os objectivos da RP são: maximizar a Há necessidade de se investir em campanhas
independência funcional do indivíduo em antitabágicas para diminuir o consumo do
actividades de vida diárias; avaliar e iniciar o tabaco e o grande número de portadores de
treino físico para aumentar a tolerância ao DPOC.

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