Artigo Saude Coletiva Enfermagem Do Trabalho Ana Paula
Artigo Saude Coletiva Enfermagem Do Trabalho Ana Paula
Artigo Saude Coletiva Enfermagem Do Trabalho Ana Paula
ESCOLA DE ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM MATERNO INFANTIL E SAÚDE
PÚBLICA
Belo Horizonte
2014
Ana Paula Santos Prates
Belo Horizonte
2014
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RESUMO
INTRODUÇÃO
Envelhecer faz parte do ciclo de vida do ser humano: o corpo passa a apresentar
algumas limitações e falhas físicas e muitas vezes emocionais. Atualmente, tanto no Brasil
como no mundo, a população vem envelhecendo devido à significativa expectativa de vida do
homem. Porém, em alguns casos, essa longevidade vem acompanhada de um acentuado
declínio corporal e/ou mental, que leva à necessidade de cuidados dispensados por outra
pessoa.
É nesse contexto que o papel do cuidador se mostra fundamental. Esse cuidador pode
ser alguém da família ou um profissional que presta cuidados cotidianos ao idoso, por esse
apresentar limitações e doenças e, muitas vezes, se encontrar acamado. Essa dedicação quase
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Graduada em Enfermagem; Discente Curso de Pós Graduação em Saúde Coletiva ênfase: Enfermagem do
Trabalho; Departamento Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública, Escola de Enfermagem, UFMG, Belo
Horizonte, MG, Brasil
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Doutora em Enfermagem no departamento Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública; Professora do Curso
de Pós Graduação em Saúde Coletiva ênfase:Enfermagem do Trabalho; Escola de Enfermagem, UFMG, Belo
Horizonte, MG, Brasil
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exclusiva apresenta, quase sempre, desgaste da saúde física, mental, emocional e social dos
cuidadores.
Percebe-se que a relação idoso/exigência de cuidados/cuidador acaba sendo inevitável
e, por isso mesmo, deveria ser mais estudada, melhor entendida e avaliada, para que se
instituíssem ações que permitissem ao mesmo tempo o bom atendimento do cuidador em
relação ao idoso e a manutenção do equilíbrio e da saúde daquele que se dedica com tanto
afinco ao indivíduo necessitado. Trata-se de uma realidade repleta de desafios e com algumas
perspectivas de melhorias e conquistas.
Portanto, diante dessa nova realidade em relação ao novo cenário etário e sua
necessidade de cuidadores para os idosos, esse artigo apresenta os seguintes problemas: o que
pode ser feito para se estabeleça a saúde e a segurança do cuidador de idosos acamados?
Quais as medidas podem ser tomadas para que os desafios quanto a essa relação sejam
superados? Existem perspectivas de melhoria em relação ao cuidador profissional no que diz
respeito à garantia da ergonomia?
O objetivo geral desse trabalho é o de avaliar os desafios e perspectivas dos cuidadores
de idosos acamados no que diz respeito à ergonomia, à qualidade de vida e à saúde e
segurança no trabalho. Procurando dar respaldo a essa finalidade principal, os objetivos
específicos são: compreender o significado e os principais aspectos ligados à ergonomia, à
qualidade de vida, e à saúde e segurança do trabalho; compreender o processo de
envelhecimento da população e a necessidade cada vez maior de cuidadores.
A metodologia utilizada foi a pesquisa de cunho bibliográfico, que segundo Silva e
Schappo (2002) permite a composição de um diagnóstico da situação investigada, além de
ampliar as informações referentes ao tema estudado. Foram analisados 24 textos, com datas
entre os anos de 2000 e 2014, com intuito se apreender melhor sobre todos os aspectos
relacionados ao envelhecimento da população, consequentemente a necessidade de
cuidadores, que, por sua vez, vêm sofrendo com problemas laborais devido ao trabalho
pesado e sobrecarga de horas que a função exige.
A importância desse estudo está no fato de ter havido uma investigação mais
aprofundadamente de como é a trajetória ocupacional de cuidadores de pessoas idosas
acamadas, quais as consequências na saúde e segurança desses trabalhadores, o que pode ser
feito para minimizar os danos laborais que esses profissionais sofrem. Ademais, a pesquisa se
mostrou de enorme importância, pois os trabalhos relacionados ao tema são escassos e esse
artigo pode servir como base de consulta de profissionais e acadêmicos da área, além se ser
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um incentivo para novas pesquisas sobre uma temática tão atual e que vem fazendo parte do
cotidiano das famílias brasileiras.
1 ERGONOMIA NO TRABALHO
Sendo assim, a Abergo (2012) entende que a ergonomia se divide três categorias:
física, que engloba aspectos como a anatomia humana, antropometria, fisiologia e
biomecânica; cognitiva, que envolve os elementos mentais, como a memória, raciocínio e
percepção; e organizacional, que dizem respeito às estruturas organizacionais, como as
políticas, missão, visão, etc. A Figura 2 demonstra todo esse processo.
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Vale destacar que essas três categorias se relacionam intimamente, já que a saúde
física é ligada ao aspecto mental e emocional do indivíduo, sendo que esses dois elementos
são bases para o desenvolvimento salutar (ou não) das atividades e tarefas desenvolvidas por
essa pessoa, inclusive influenciando no ambiente e na qualidade de vida no trabalho.
Analisando a Figura 3, nota-se que qualidade de vida no trabalho não envolve somente
a saúde laboral do trabalhador, mas deve ser vista de forma holística, na qual elementos como
bem-estar físico, relações saudáveis (tanto no trabalho quanto na vida social), equilíbrio,
harmonia devem ser levados em conta. Vasconcelos (2001) também destaca que vários
setores e ciências diferentes, como o de Higiene e Segurança, Recursos Humanos, Engenharia
do Trabalho, Ergonomia, Sociologia, Saúde, Psicologia, Economia, Educação, Administração
etc. estão envolvidos na QVT.
Percebe-se que a QVT produz um ambiente de trabalho mais humanizado e saudável,
principalmente para aquele colaborador que visa a alcançar patamares mais altos do que suas
necessidades básicas, como desenvolver plenamente suas capacidades profissionais. Nesse
caso, a segurança e saúde no trabalho e os direitos dos trabalhadores devem ser observados e
respeitados.
Para Lopes (2010), conforme o próprio nome indica, segurança e saúde do trabalhador
(SST) envolvem o bem-estar social, mental e físico do trabalhador, com uma visão
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abrangente, na qual a pessoa deve ser percebida como um todo. Além disso, alguns aspectos
principais devem ser levados em conta: saúde e condição de trabalho; riscos e proteção do
trabalhador, colaborador e as necessidades físicas, sociais, ambientais e mentais; homem e a
adaptação ao trabalho.
Esse mesmo autor conceitua Saúde e Segurança do Trabalho (SST), como sendo ações
administrativas direcionadas à eliminação, diminuição ou controle de acidentes de trabalho e
doenças laborais de qualquer empreendimento, tendo como objetivo maior proteger a
integridade física e mental dos colaboradores, para que possam desempenhar de maneira
saudável e equilibrada suas funções (LOPES, 2010)
Em relação à principal finalidade da segurança e saúde no trabalho, Araújo e Garcia
(2009, p. 196) defende que:
população idosa do mundo. Essa realidade advém da expectativa de vida cada vez maior, que,
por sua vez, é consequência das mudanças dos indicadores de saúde, como acesso aos
serviços de saúde e avanços tecnológicos (BRASIL, 2006).
No entendimento de Giacomin et al. (2005) alguns fatores devem ser considerados
para esse aumento da população idosa no Brasil: freada brusca da natalidade; configurações
familiares alternativas; novas realidades econômica, social, profissional e cultural;
desenvolvimentos científico e tecnológica; valorização da saúde, envolvendo alimentação,
exercícios físicos, desenvolvimento mental, elevação da autoestima e independência. Segundo
esses autores, devido a esses múltiplos fatores, o número dos que atingem uma idade mais
avançada vem sendo considerado e nos anos vindouros tende a aumentar cada vez mais.
Para melhor entendimento desse processo, um estudo do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA, 2012, p.1) mostra que “A queda na taxa de fecundidade leva a um
crescimento mais lento da população, que chegará ao máximo de 205 milhões em 2030”. Com isso tem-se um
aumento considerável das pessoas próximas aos 65 anos e das já consideradas de terceira idade. A Figura 5
mostra mais detalhadamente esses índices etários da população comparando os anos de 2000 e 2040.
Porém, isso traz alguma preocupação. Autores como Smelter e Bare (2005, p. 200)
entendem que: “Embora as políticas públicas desenvolvidas em prol desta nova população
enfatizem estratégias para que gozem de mais saúde, observa-se que, em estudos nacionais,
até 40% dos adultos com 65 anos de idade ou mais reportam incapacidade”.
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Corroborando com os autores acima, Carvalho e Garcia (2003) destacam que esse
aumento da população idosa tem como implicação um aumento de problemas de saúde,
muitas vezes crônicos, como diminuição da visão e audição, dificuldades de locomoção,
doenças ósseas, acamação, prejuízo nas funções pulmonares, renais, etc. Portanto, tem-se que
esse avanço na expectativa de vida, com consequente presença de doenças, leva ao aumento
da população com 65 anos ou mais que se torna dependente com a necessidade de cuidados
constantes para desenvolver as atividades cotidianas.
Nesse contexto é que o cuidador passa a exercer papel fundamental, pois se trata
daquele indivíduo que assume o auxílio na realização das atividades da vida diária,
procurando instituir uma melhor qualidade de vida do idoso cuidado (SENA et al. 2006). Para
esses autores, vale fazer uma ressalva: nem todos os cuidadores são profissionais. Muitos são
pessoas da própria família que desenvolvem tarefas sem nenhuma orientação adequada. Nesse
caso, além de ser uma atividade árdua, pesada, normalmente é conciliada com outros afazeres
domésticos e profissionais.
Conforme Alvarez e Gonçalvez (2001, p. 205) existem alguns motivos para que a
família assuma o papel de cuidador, ao invés de contratar um profissional para exercer essa
função:
atividade impõe. No entendimento desses autores, vários são os desafios que os cuidadores
têm que enfrentar em relação à ergonomia, saúde e segurança no trabalho e, ao mesmo tempo,
algumas perspectivas positivas vêm se mostrando mais reais,
Alexandre e Rogante (2000, p. 165) corroboram com esse pensamento quando dizem
que:
Grande parte das agressões à coluna vertebral em trabalhadores da saúde está
relacionada a condições ergonômicas inadequadas de mobiliários, posto de trabalho
e equipamentos utilizados nas atividades cotidianas, sendo as dores nas costas
causadas por traumas crônicos repetitivos, que envolvem muitos outros fatores, além
da manipulação de pacientes. Dessa forma, as recomendações sobre um aspecto
relevante do problema das algias vertebrais, que é a prevenção, têm caminhado em
direção a uma abordagem ergonômica.
O Guia Prático do Cuidador visa orientar todos aqueles que têm sob sua
responsabilidade o cuidado de alguma pessoa com incapacidade ou deficiência.
Busca, portando, propiciar maior segurança nas ações prestadas e, ainda, orientar os
cuidadores para a prática do autocuidado.
Percebe-se, portanto, que muitos são os desafios a serem vencidos pelos cuidadores
dos idosos acamados, mas, com a nova realidade da longevidade da população, tem havido
um aumento das discussões sobre a saúde, ergonomia e segurança do cuidador e quais
medidas podem ser tomadas para que se efetive a preservação do bem-estar de quem presta
tais cuidados. Vale destacar que esses debates abrangem tanto o cuidador pertencente à
família do acamado, quanto o profissional que presta assistência ao paciente que necessita de
cuidados especiais.
Concluiu-se com esse trabalho que o perfil etário da população mundial e brasileira
vem se modificando nos últimos anos, pois o número de pessoas idosas tem se tornado cada
vez maior, devido à significativa expectativa de vida do homem, advinda do desenvolvimento
da medicina e das mudanças dos indicadores de saúde, como acesso aos serviços de saúde e
avanços tecnológicos. Além disso, fatores como a freada da natalidade; configurações
familiares alternativas; novas realidades econômica, social, profissional e cultural;
desenvolvimentos científico e tecnológica; valorização da saúde, envolvendo alimentação,
exercícios físicos, desenvolvimento mental, elevação da autoestima e independência devem
ser considerados em relação a esse novo quadro de idade populacional
Ao mesmo tempo, entendeu-se que juntamente com essa longevidade tem-se um
aumento de problemas de saúde, muitas vezes crônicos, como diminuição da visão e audição,
dificuldades de locomoção, doenças ósseas, acamação, prejuízo nas funções pulmonares,
renais. E é nesse contexto que se percebeu a importância do papel do cuidador, que pode ser
alguém da família ou um profissional que presta cuidados cotidianos ao idoso, principalmente
o acamado. Essa dedicação quase exclusiva apresenta, quase sempre, desgaste das saúdes
física, mental, emocional e social dos cuidadores.
E notou-se que muitos são os desafios, dificuldades a serem vencidas e conquistas e
boas perspectivas a serem comemoradas.
Pode-se dizer que o objetivo desse estudo (avaliar os desafios e perspectivas dos
cuidadores de idosos acamados no que diz respeito à ergonomia, à qualidade de vida, e à
saúde e segurança no trabalho) se realizou, pois por meio da pesquisa bibliográfica, apreende-
se o significado e os principais aspectos ligados à ergonomia, saúde e segurança do trabalho,
entendeu-se como vem acontecendo no processo de envelhecimento da população e as
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demandas em relação a essa nova realidade; qual a real necessidade de cuidadores e quais as
dificuldades e as conquistas que vêm enfrentando.
Por fim, a partir do resultado das percepções obtidas com essa pesquisa, compreendeu-
se a necessidade de algumas sugestões para que de fato se garanta a qualidade de vida, saúde
e segurança dos cuidadores de idosos acamados:
Sempre identificar a estrutura física disponível para os cuidados, procurando
adaptar/reparar aquilo que não oferece o bem-estar do cuidador;
Passar por programas e treinamento sobre prevenção de lesões, cuidados,
movimentação e transporte de pacientes acamados e ter um conhecimento
considerável sobre a ergonomia relacionada ao cuidador dessas pessoas;
Conhecer o que estabelece a legislação, normas regulamentadoras, manuais etc. sobre
o trabalho do cuidador e a garantia da saúde e segurança no trabalho;
Procurar cuidar de si e ter uma vida saudável, incluindo descanso, lazer e contatos
sociais e familiares satisfatórios.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações.
3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
LIDA, I. Ergonomia: Projeto e produção. 2. ed. rev. e amp. São Paulo: Blucher, 2005.