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ISSN 1981-8874
para a cidade de
Belo Horizonte – Minas Gerais
Gustavo Henrique Prado Pedersoli, Adriano Gomes Peixoto,
Cláudio Orlando Greco, Daniel Teodoro Esser Neto,
Daniel Pedroso Becho, Eduardo de Assis Fonseca, Everton
Vieira Ouriques, Luiz Gabriel Mazzoni Prata Fernandes,
Luiz Guilherme de Moura Mendes, Marco Aurélio de
Magalhães Rocha, Maria Helena Gomes, Otávio Augusto
Pinto de Moura, Rafael Cardoso Salles & Wagner Nogueira
Introdução
Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, possui ex-
pressiva diversidade de aves em seu território (e.g. Carnevalli & Ri-
gueira 1982, Rigueira et al. 1982, Faggioli 1991, Gerra & Marini
2001, Scheibler & Melo-Júnior 2001, Nobre 2003, Lobato e Rodri-
gues 2004, Vasconcelos 2007). Fatores importantes contribuem pa-
ra a riqueza de espécies do município, como a grande variedade de
biótopos: lagos, lagoas, fragmentos de mata, campos rupestres, par-
ques, praças, ruas arborizadas e pastagens. Somada a diversidade
de ambientes, ganha destaque a presença do ecótono entre os bio-
mas Cerrado e a Mata Atlântica, dois importantes hotspots estabe-
lecidos para a conservação da biodiversidade (Myers et al. 2000)
que apresentam alto índice de endemismo de aves (Marini & Gar-
cia 2005).
O gradiente altitudinal, como demonstra Vasconcelos (2007) e
Vasconcelos & D'Angelo Neto (2007), também é uma importante
variável para o favorecimento da diversidade específica. O relevo
de Belo Horizonte é bastante acidentado, variando entre 650 e 1400
metros de altitude, aproximadamente, com o seu ponto mais alto na
porção sul, onde está localizada a serra do Curral, conforme inter-
pretação de dados do SIAM (2009).
A combinação de todos esses fatores gera uma série de ambien-
tes e micro-hábitats que abrigam surpreendentes e inesperadas es-
pécies para a cidade, como Coccyzus americanus (Carnevalli et al.
1982), Asio stygius (Melo-Júnior et al. 1996), Ramphocelus bresi-
lius, Leucopternis lacernulatus (Dias & Rodrigues 2008, 2009) e
Figura 1: Limite territorial do município de Belo Horizonte com
Strix huhula (Vasconcelos & Diniz 2008). intervalos altitudinais, destacando a zona de transição entre os biomas
Ainda sem uma lista de aves publicada, novos registros tem sido Cerrado e Mata Atlântica, além das localidades onde foram feitos os
frequentes para a cidade. Isso é explicado, dentre outros motivos, novos registros no município. Desenho: Everton Ouriques
por pressões antrópicas em ambientes naturais adjacentes, pelo au- na, construída na década de 40, com 18 km de perímetro, 260 ha de
mento dos estudos, pela crescente prática de observação de aves, fa- área e tipos variados de hábitats, entre eles regiões de brejo, pontos
cilidade de acesso a dados técnicos, além de preços acessíveis e sig- com presença marcante de macrófitas flutuantes e porções d'água
nificativa melhora dos equipamentos de registro, como gravadores sujeitas à constante assoreamento com áreas de baixas profundida-
e máquinas fotográficas (Biodiversitas 2009). des (Champs 1991 In Pimenta et al. 2007). Foi e tem sido coloniza-
da por aves residentes e/ou migratórias, associadas à ambientes la-
Área de Estudo e Métodos custres (Rigueira et al. 1982). É responsável por grande parte das
Os registros foram feitos por membros da associação ECOAVIS espécies aquáticas encontradas no município e situa-se próxima a
– Ecologia e Observação de Aves de Minas Gerais – durante saídas zona de transição entre os biomas Cerrado e Mata Atlântica. Altitu-
periódicas para observação, nas localidades detalhadas abaixo e de- de entre 780 e 850 metros (SIAM 2009).
monstradas na Figura 1. Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado (19°50'S-43°57'W):
Lagoa da Pampulha (19°50'S-43°59'W): represa artificial urba- possui 30 ha. Sua vegetação é composta por espécies típicas do bio-
Figura 4: Phimosus infuscatus, registrado na Lagoa da Figura 5: Jabiru mycteria, registrado na Lagoa da
Pampulha, Belo Horizonte, MG. Foto: Marco Rocha Pampulha, Belo Horizonte, MG. Foto: Maria Helena Gomes
ma Cerrado e por uma mata ciliar que circunda uma lagoa de 2,2 ha A identificação foi feita com auxílio de bibliografias especiali-
formada pelo represamento de três nascentes. O córrego do Nado é zadas, como Ferguson-Lees & Christie (2001), Ridgely & Tudor
um afluente do córrego Vilarinho, que deságua no ribeirão do (1994), Sick (1997), Sigrist (2006) e Perlo (2009).
Onça, unindo-se ao rio das Velhas, integrante da bacia do rio São
Francisco (PBH 2009). Altitude entre 770 e 800 metros (SIAM Resultados e Discussões
2009). São apresentados neste trabalho, registros documentados de no-
Parque Municipal das Mangabeiras (19°57'S-43°55'W): locali- ve novas espécies, pertencentes a sete famílias e quatro ordens.
zado ao pé da Serra do Curral, domínio Mata Atlântica, possui gran- A lagoa da Pampulha foi a localidade que mais contribuiu com o
de fragmento de mata conservada em sua área de 280 ha, além de acréscimo de espécies, totalizando cinco registros.
21 nascentes do Córrego da Serra, que integra a Bacia do Rio São Anhinga anhinga - biguatinga (Pelecaniformes: Anhingidae)
Francisco. Está entre as áreas verdes mais conservadas e represen- Registro realizado em julho de 2008 na lagoa da Pampulha (Fi-
tativas do município. Altitude entre 1.000 e 1.300 metros (PBH gura 2). Existem relatos de registros anteriores realizados no pró-
2009). prio local e na Lagoa do Nado, porém não foram documentados.
Parque Municipal Roberto Burle Marx (20°04'S-43°59'W): Krabbe (2007) demonstra que P. Lund e J. Reinhardt coletaram, en-
mais conhecido como Parque das Águas, situado no bioma Mata tre 1825 e 1855, espécimes no município de Lagoa Santa, região do
Atlântica, é parte do complexo ecológico da Serra do Rola- atual Parque Estadual do Sumidouro, a cerca de 40 km dos pontos
Moça, e faz limite com Áreas de Proteção Especial situadas no de registro em Belo Horizonte.
Barreiro, um dos principais pontos de captação de água potável Sirygma sibilatrix - maria-faceira (Ciconiiformes: Ardeidae)
para abastecimento do município. Em uma área de 17,2 ha, apre- Único indivíduo registrado, em março de 2008, na Lagoa da
senta um lago e diversas nascentes que formam o Córrego do Cle- Pampulha, em área próxima ao Parque Ecológico (Figura 3). Per-
mente, afluente do ribeirão Arrudas que integra a bacia do rio corria área de capim alagada capturando insetos encontrados no
São Francisco (PBH 2009). Altitude entre 950 e 1.200 metros emaranhado. Ali permaneceu por vários minutos, até seguir em
(SIAM 2009). vôo para outro ponto semelhante. Registros para a espécie, em áre-
Figura 8: Elaenia spectabilis, registrado no Parque Roberto Figura 9: Fluvicola albiventer, registrado na Lagoa da
Burle Marx, Belo Horizonte, MG. Foto: Luiz Mazzoni Pampulha, Belo Horizonte, MG. Foto: Tavinho Moura
as adjacentes ao ponto de registro, foram realizados em datas re- flutuante, capturando peixes e outras presas aquáticas (Figura 5).
centes, o que indica a presença constante da espécie naquela locali- Acredita-se ter sido registrado um casal e seus filhotes, por estarem
dade. juntos. Novos registros da espécie não ocorreram no local até en-
Phimosus infuscatus - tapicuru-de-cara-pelada (Ciconiiformes: tão.
Threskiornithidae) Ictinia plúmbea - sovi (Falconiformes: Accipitridae)
Cerca de 3 indivíduos observados, em dias diferentes, no mês de Grupo de três indivíduos registrado no Parque das Mangabeiras,
setembro de 2009, forrageando em pontos marginais da Lagoa da em agosto de 2009, desenvolvendo vôo rápido e linear, sentido geo-
Pampulha (Figura 4), compostos por brejos de águas rasas próxi- gráfico Norte – Sul, a uma altitude aproximada de 1000 metros em
mos à taboas, gramados e alagados com macrófitas, onde são en- relação ao solo (Figura 6). Por ser migrante sazonal e o registro ter
contradas outras espécies aquáticas comumente avistadas na re- ocorrido próximo à primavera, cogita-se a hipótese de passagem
gião. Em um dos registros realizados, já no fim da tarde, dois indi- do grupo pelo local, seguindo a sua rota migratória para o Brasil me-
víduos voaram juntos para um ninhal de garças, situado em uma ma- ridional. Novos avistamentos da espécie não ocorreram no local,
ta próxima a Fundação Zoobotânica, adjacente ao local. O compor- até então. Identificação possibilitada pelas asas estreitas e compri-
tamento observado permite sugerir um casal retornando ao local de das, corpo inteiramente cinza-ardósia, com a face interior das pri-
reprodução ou em busca de abrigo noturno. márias castanha.
Jabiru mycteria - tuiuiú (Ciconiiformes: Ciconiidae) Corythopis delalandi - estalador (Passeriformes: Tyrannidae)
Registrados 5 indivíduos, em janeiro de 2001, em dois pontos da Dois indivíduos registrados, no mesmo dia, em novembro de
Lagoa da Pampulha, sendo um próximo a “Ilha dos Amores” e ou- 2008, forrageando na serrapilheira em uma das trilhas do Parque
tro na atual área do “Parque Ecológico da Pampulha”. Forragea- das Mangabeiras, circundada por mata em bom estado de conser-
vam em áreas marginais, caminhando sobre o capim e vegetação vação e com baixa luminosidade (Figura 7). Identificado inicial-