Isabel de York, A Matriarca de Uma Dinastia - Parte I Rainhas Trágicas

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.

com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

Inicial Espaço do Leitor Estante Filmes Informações e Contato

La Renaissance Les Temps Modernes Livro Mulheres do Império

Palácios, Falácias e História Rainhas Trágicas Licença de Uso de Conteúdo

Rainhas em Grafite The Tudors

Isabel de York, a Matriarca de uma


Dinastia – Parte I
Renato / junho 19, 2013

Por: Renato Drummond Tapioca Neto

Ao pensarmos na monarquia inglesa do século XVI, sem dúvida os nomes que mais
virão à mente serão os de Henrique VIII e Elizabeth I, os dois grandes soberanos
que definiram as bases da política e do pensamento nórdico europeu para além de
suas vidas. Entretanto, por meios de estereótipos pré-concebidos ao longo dos
séculos, a historiografia romântica acabou eclipsando outras tantas figuras
bastante interessantes dessa fase gloriosa, tais como o de Maria I,
desmerecidamente rotulada com o título de “A Sanguinária”, e Lady Jane Grey,
conhecida por muitos como a rainha dos nove dias. Tais nomenclaturas, por sua
vez, se tornaram tão enraizadas na cultura popular, que até hoje é bastante difícil
desvencilhar-se delas. Com efeito, alguns outros personagens ganham ainda
menos interesse por parte dos pesquisadores, a exemplo do próprio Eduardo VI,
coroado ainda quando tinha 9 anos, e de sua avó, Isabel de York, a única mulher na
história daquela ilha a ser filha, sobrinha, irmã, esposa, mãe e avó de reis. Tirando
esse último aspecto, que se lido em algum livro ganha apenas a conotação de uma
mera curiosidade, muito pouco ainda se foi explorado na vida dessa mulher, que

1 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

viveu em um período de guerras e teve um papel fundamental no destino político


do reino da Inglaterra. Destarte, o presente texto (dividido em duas partes mais
conclusão), objetiva retraçar de forma singela os passos desta calada
princesa/rainha, cujo próprio silêncio responde a mais perguntas do que as suas
poucas palavras.

Parte I – Uma juventude entre guerras.

Quando se olha o retrato mais famoso de


Isabel de York (exposto na galeria nacional
de retratos de Londres), observamos uma
mulher de pele pálida como o mármore, de
feições simpáticas, mas cuja beleza fica
encoberta pelos seus trajes majestáticos.
Vemo-la, porém não a sentimos. Parece que
o tempo todo ela está distraída, fitando algo
distante, desinteressada para o que quer que
seja. Nas mãos, uma rosa branca, o símbolo
da casa de seus pais, tios, e irmãos. Dessa
mesma pintura (originalmente pensada
para figurar em cartas de baralho), de autor
desconhecido, muitas outras foram feitas,
todas elas, porém, captando a mesma
expressão de imparcialidade e desinteresse
inerentes àquela dama que marcou
Quadro de Isabel de York, exposto
presença no palco das lutas pelo domínio da
na Galeria Nacional de Retratos de
coroa, e cujo destino estava
Londres (artista desconhecido).
intrinsecamente ligado ao de tantas outras
mulheres bem nascidas: casar e, através de
seus filhos, perpetuar a dinastia de seu
cônjuge. Sem dúvida, aos olhos do pai e da família, a função de Isabel era apenas a
de procria e se rebaixar ao domínio dos homens.

Fora, não obstante, criada para isso, e assim a sua imagética sobreviveu às várias
eras que a sucederam. Mas seria correto reduzi-la ao papel de mera reprodutora? É
claro que não! Nascida em 11 de Fevereiro de 1466, Isabel de York fora a primeira
filha da união entre o rei Eduardo IV, com a outrora plebeia Elizabeth Woodville[i].
Como na Inglaterra não havia uma lei sálica (que impedia a ascensão de mulheres
ao trono), a exemplo da França, seria então a herdeira de seu pai, enquanto não
viessem os filhos homens. Contudo, era claro que desde o berço estava fadada ao
mesmo destino de outras princesas, ou seja, reforçar o poder da coroa pelo
casamento com algum nobre de alta posição, ou inclusive um príncipe estrangeiro.
E assim, ainda em tenra idade, aquele bebê foi colocado no mercado nupcial, tendo
sida prometida três anos após seu nascimento a Jorge, o filho de John Neville,
Marquês de Montague. A intenção de Eduardo ao casar sua filha com o herdeiro do
rival era estabelecer um trégua entre as duas famílias. Entretanto, o consórcio não
ira muito adiante, pois um ano depois o Marquês se levantara contra a autoridade
do rei, sendo derrotado por este em Barnet, no ano de 1471.

Todavia, o fato era que muitos contestavam a


pretensão do soberano ao trono, de modo que

2 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

constantemente a rainha e seus filhos se viam


obrigados a refugiar-se na Torre ou em
Westminster Hall, ora por algum levante
popular liderado por um nobre, ora quando o
rei travava uma campanha militar na França,
deixando a família sozinha na Inglaterra à
mercê dos inimigos. Foi o que aconteceu, por
exemplo, em 1475, quando Eduardo IV
embarcou para o continente, deixando em
testamento Elizabeth Woodville governadora
do reino e uma pensão de 10.000 coroas para
o casamento da jovem Isabel. De acordo com
David Loades, “não parece ter havido nenhum
noivo em potencial nessa altura, pelo que ela
Rei Eduardo IV, pai de Isabel de era ainda um trunfo que podia ser usado
York (artista desconhecido). diplomaticamente, e foi isso que Eduardo fez
exatamente em Pecquingy alguns meses
depois” (LOADES, 2010, pag. 84). Ao retornar
da França, o rei da Inglaterra havia entrado em acordo com o soberano rival, no
qual sua filha mais velha se casaria com o Delfin e herdeiro da coroa. A partir de
então, Isabel de York passaria a ser conhecida por todos como Madame La
Dauphine.

Sendo assim, a princesa passara por um rígido processo de preparação para o seu
glorioso futuro: ensinaram-na a falar o francês e o espanhol, e consta que era uma
criança extremamente inteligente e precoce, aprendendo a ler e a escrever em
francês ainda em tenra idade. Entretanto, assim como tantas coisas na vida de
Isabel de York, não dispomos de registros de quem tenham sido seus instrutores.
Essa lacuna, até hoje não preenchida pela historiografia, a seu modo, impede que
conheçamos um pouco mais da presença da matriarca da Dinastia Tudor nos autos
dos acontecimentos que estavam a sacudir a Inglaterra naqueles anos. Por
exemplo: não sabemos qual foi a sua reação ao saber que o rei da França havia
rompido com o acordo de Pecquingy, depois de entrar em negociações com
Maximiliano, marido de Maria de Borgonha, em Arras, privando assim a jovem
princesa de seu esperado título. Certamente deverá ter sido uma grande decepção
para ela, assim como o foi para seu pai.

A morte inesperada de Eduardo IV, por sua


vez, também deve ter sido outro golpe na vida
de Isabel, que na época (1483) contava já 17
anos de idade. De acordo com os laudos
médicos da época, o rei veio a óbito aos 42
anos devido à sua vida desregrada, regada a
muita bebedeira e sexo. Na ocasião, usaram
como argumento da quebra do tratado de
Pecquingy, o que nos parece pouco provável,
dado ao caráter e comportamento sádico do
referido monarca. Tudo então estava certo
para a coroação do príncipe Edward[ii], até
que o inesperado acontece: Ricardo, irmão
mais novo do finado rei, tomara a custódia de

3 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

seu sobrinho, para desespero e pânico da


família real (que se refugiara com a rainha
mãe em Westminster), e nos próprios Elizabeth Woodville, mãe de
adeptos do partido de York. “De início este Isabel de York (artista
pânico deve ter parecido bastante desconhecido).
desnecessário, pois os preparativos para a
coroação continuaram como se nada tivesse
acontecido. Talvez atraída por um sentimento de falsa segurança, ou talvez não
tendo a força de vontade suficiente para resistir, a rainha viúva foi convencida a
deixar o filho mais novo juntar-se ao irmão” (LOADES, 2010, pag. 85). A partir desse
ponto é que começa um dos grandes mistérios da História Inglesa: o
desaparecimento (ou assassinato?) dos príncipes na Torre de Londres. Com efeito,
o maior beneficiado com tal caso era sem dúvida o próprio Ricardo, que a 6 de Julho
daquele ano fora coroado Ricardo III, enquanto apresentava provas de que o
casamento de seu irmão Eduardo com Elizabeth era inválido.

Dessa forma, se a antiga união entre o


casal nunca foi efetivada aos olhos de
Deus, significava dizer que a outrora
Madame La Dauphine nunca fora uma
princesa, mas sim uma bastarda. Só se
pode imaginar a aflição das princesas e de
sua mãe em Westminster, afastadas de
tudo o que lhes era mais caro, e temendo
pela própria sobrevivência. Logo se diria a
respeito de Isabel que “o amor que tinha
pelos irmãos e irmãs era algo inaudito e
quase inacreditável”. De acordo com o que
sabemos de testemunhos posteriores, ela
deveria ter sido uma mulher muita
carinhosa e amável (características que,
na opinião de Loades, não a qualificavam
para governar, mas a tornavam num
Os Príncipes na Torre (1878), por
expoente perfeito para uma consorte real).
John Everett Millais.
Entretanto, Ricardo III não tinha intensão
de fazer mal à sua cunhada e sobrinhas,
pelo que se limitou apenas a cercar o
refúgio das mesmas, por durante um período de nove meses, até que finalmente
Elizabeth Woodville se rendeu. Mal sabendo o novo soberano, entretanto, que a
rainha viúva, ainda sob cativeiro, já confabulava acerca do destino político de sua
filha e da própria Inglaterra!

[i] Usei aqui o nome Elizabeth para se referir à mãe de Isabel de York, em vez de
usar também a tradução para o português, no intuito de evitar uma provável
confusão entre mãe e filha.

[ii] Mais uma vez uso o Edward para se referir ao filho e Eduardo para se referir ao
pai.

4 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

junho 19, 2013 em Dinastia Tudor. Tags:Dinastia Tudor, Eduardo IV, Elizabeth Woodville,
Isabel de York

Posts Relacionados

Download do dossiê sobre a Dinastia Tudor, publicado pela edição nº 65 da


revista Aventuras na História!

Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Conclusão

A Biblioteca dos Tudor: livros da poderosa dinastia inglesa são destaque em


exposição!

← A rainha Elizabeth II no Brasil: os Rainhas em Grafite – 21 →


detalhes da visita real da soberana britânica
ao país, em 1968!

Um comentário sobre “Isabel de York, a Matriarca de uma


Dinastia – Parte I”

peppa maio 15, 2020 às 9:21 am

legal

 Curtir
Responder

Deixe um comentário

Digite seu comentário aqui...

5 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

Pesquise neste site!

Pesquisar …

Renato Drummond Tapioca Neto

O Rainhas Trágicas virou livro!

6 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

Rainhas Trágicas: quinze


mulheres que moldaram o
destino da Europa

Siga este blog

Entre com seu endereço de e-mail para seguir esse blog e receba notificação de
novos posts.

Endereço de e-mail

Seguir

Junte-se a 236.647 outros assinantes

Arquivo

junho 2013

S T Q Q S S D

1 2

3 4 5 6 7 8 9

10 11 12 13 14 15 16

17 18 19 20 21 22 23

24 25 26 27 28 29 30

« maio jul »

Siga-nos do Facebook

Rainhas Trá…
294 mil seguidores

Seguir Página

7 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

Tweets de @RTragicas Seguir no Twitter

Rainhas Trágicas @RTragicas · 33 min


Acabou de publicar uma foto

instagram.com
Rainhas Trágicas (@rainhastragicas_ofc) •
Instagram photo

Veja mais no Twitter

8 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

Parceiros

Amantes da História

Art, Literature and Fairytales

Artrianon

As Barbas do Imperador

Casa Barroca

Dinastias Inglesas

Império Retrô

Lady Cult

Little Pink Design

Los Líos de la Corte

Marina Franconeti

No Inconsciente

O Fantástico Mundo da Leitura

Rainhas na História

Savio Roz – História e Quadrinhos

Sol de Austerlitz

Tudor Brasil

Siga-nos no Instagram

9 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

Curso Completo de História da Arte

10 of 11 08/01/2023 18:25
Isabel de York, a Matriarca de uma Dinastia – Parte I | Rainhas Trágicas https://rainhastragicas.com/2013/06/19/isabel-de-york-parte-i/

Curso Oline Frida Kahlo: Vida e Obra

Blog no WordPress.com.

11 of 11 08/01/2023 18:25

Você também pode gostar