Boletim Anual SECAS 2019

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 20

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/330450049

SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018

Technical Report · January 2019

CITATIONS READS
3 934

12 authors, including:

Ana Paula Martins do Amaral Cunha Jose A Marengo


Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
161 PUBLICATIONS 3,151 CITATIONS 711 PUBLICATIONS 40,355 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

Regina Célia dos Santos Alvalá Karinne Deusdará-Leal


Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI)
237 PUBLICATIONS 4,805 CITATIONS 73 PUBLICATIONS 809 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by Jose A Marengo on 17 January 2019.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


N ÚME R O 1 /JA N E I RO 2019

SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 1

Secas e Seus Impactos no


Brasil em 2018

Sumário Executivo

Em razão da extensão e severidade da seca iniciada em 2012 na


região Nordeste do Brasil, o Governo Federal demandou informações
técnico-cientificas ao Cemaden, em especial apoio para a identificação
Conteúdo dos municípios e regiões impactados pela seca, com a finalidade de
1. Introdução subsidiar as ações de suporte emergencial. Nesse contexto, desde 2013,
2. Condições meteorológicas o Cemaden tem desenvolvido e aperfeiçoado sistemas para o
observadas nos últimos 7 anos monitoramento e previsão de secas e seus impactos. De modo geral, a
3. Índice Integrado de Seca (IIS) partir de um sistema de monitoramento de secas é possível e identificar
4. Água disponível no solo estimada áreas e municípios impactados, o que constitui uma importante
pelo Índice SMI ferramenta para subsidiar o gerenciamento do risco deste fenômeno. A
5. Impactos das secas na produção identificação de áreas e municípios, juntamente com a caracterização
da agricultura de sequeiro: safra
do evento de seca (duração, severidade e extensão de área), também
2017/2018
são aspectos considerados na avaliação dos impactos. Além disso,
6. Impactos das secas nas reservas
hídricas do sistema elétrico devido à continuidade das precipitações abaixo do esperado, diversas
7. Impactos da seca nos principais bacias hidrográficas foram impactadas com a seca hidrológica (redução
reservatórios de abastecimento e de do nível dos rios, água subterrânea e em reservatórios) que, somada a
geração de energia elétrica problemas de gestão e infraestrutura, resultaram em crises hídricas com
8. Considerações finais impactos em diversas atividades humanas, tais como abastecimento
público, irrigação, geração de energia elétrica, entre outros. Neste
Citar como: contexto, em 2014, o Cemaden iniciou o monitoramento, previsões e
Cunha, AP, Marengo JA, Alvala RC, projeções de vazão e de volume armazenado nos reservatórios do
Deusdara-Leal KR, Cuartas LA, Seluchi M, Sistema Cantareira, responsável por abastecer parte do maior
Zeri M, Ribeiro-Neto G, Brodel E,
Cunningham C, Costa L, Moraes, OLL aglomerado urbano da América do Sul. Os produtos resultantes vêm
(2019) Secas e seus Impactos no Brasil sendo publicados em relatórios técnico-científicos na página do
2018. Numero 1, Janeiro 2019. CEMADEN,
Cemaden <https://www.cemaden.gov.br> contribuindo com
Sao Jose dos Campos, SP. 19p. Disponível
em: http://www.cemaden.gov.br/wp- informações técnico-científicas relevantes para uma gestão eficiente do
content/uploads/2019/01/Boletim_Anual_ recurso hídrico neste sistema.
SECAS_CEMADEN_MCTIC.pdf
Em 2015, o Cemaden passou a contribuir com o monitoramento,
previsão e cenários de vazão para a bacia hidrográfica de Três Marias
nas reuniões da Sala de Crise do Rio São Francisco, gerenciada pela
Agência Nacional de Águas (ANA), as quais contam também com a
participação de diversas Instituições, entre elas, o Operador Nacional de
Sistema Elétrico (ONS) e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
(CHESF). Mais recentemente, em 2017, o Cemaden iniciou suas
contribuições para a Sala de Crise do Rio Tocantins que, de forma similar,
vem enfrentando baixas pluviométricas históricas com diversos impactos
às atividades humanas.
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 2

De modo geral, essas ações além de alertarem a real situação vivenciada, subsidiam a tomada
de decisões para a mitigação dos impactos da seca. Em especial para a região semiárida, desde 2017
o Cemaden vem contribuindo com o monitoramento e previsão de volume armazenado para
importantes reservatórios/açudes da região. Os produtos gerados vêm sendo apresentados nas reuniões
de previsão de impacto sazonal, disponibilizados no site do Cemaden no endereço
<http://www.cemaden.gov.br/categoria/monitoramento/boletim-de-impactos/>.

Posto isto, no presente relatório apresentam-se uma avaliação dos eventos de secas ocorridos
no ano de 2018, bem como uma comparação das secas registradas nos últimos 7 anos em todo o país.
Neste relatório destacam-se os seguintes resultados:

 A partir de dados das anomalias de precipitação (%) por região, verifica-se, na escala anual,
que em todas as regiões do Brasil o acumulado de chuvas no ano de 2018 foi entre 14% e 20%
inferior ao esperado; no entanto, em termos gerais, as condições de secas em todo o Brasil
foram menos intensas do que aquelas observadas nos últimos sete anos, como apontam os
mapas do Índice Integrado de Seca.

 No que concerne aos impactos da seca na agricultura familiar do semiárido, de acordo com
as análises realizadas pelo Cemaden, 446 municípios apresentaram potencial para queda na
produção agrícola na safra 2017/2018. Embora ainda seja um número significativo para a
região, dada à vulnerabilidade do sistema de sequeiro e das comunidades envolvidas, este
número foi cerca de 40% inferior ao obtido na safra 2016/2017 (757 municípios com potencial
de queda na produção).

 Com relação às bacias hidrográficas monitoradas, em 2018 o Sistema Cantareira, na região


Sudeste, acumulou mais água do que extraiu, embora a situação de armazenamento ainda
seja menor do que quando comparada a 2017. Em Três Marias, na Bacia do Rio São Francisco,
acumulou-se mais água do que a quantidade extraída, o que levou o reservatório ao seu maior
nível dos últimos anos, atingindo 49,5%. Em Serra da Mesa, na região Centro-Oeste, também se
acumulou mais água em 2018 do que o volume extraído, o que levou o reservatório a atingir
13,1%, situação menos desfavorável do que em 2017. Para os reservatórios Castanhão e
Boqueirão, localizados na região semiárida dos estados do Ceará e Paraíba, respectivamente,
ambos apresentam situação crítica, embora menos desfavorável do que em 2017.

1. INTRODUÇÃO

A seca é considerada um fenômeno natural recorrente em algumas regiões do Brasil. Ela afeta,
principalmente, a região Nordeste do país, podendo ser caracterizada como “desastre natural” à
medida que ocorre de forma intensa e extensa em áreas densamente populadas. Quando ultrapassa
as capacidades locais de convivência da população com o clima seco, culmina em danos significativos
e perdas socioeconômicas. Nos últimos anos, eventos de secas têm afetado diferentes regiões do Brasil:
Região Nordeste, durante os anos de 2012-2017; Região Sudeste, em 2014-2015; Amazônia, em 2005,
2010 e 2016; Região Sul em 2005 e 2012 (Coelho et al., 2016; Marengo et al, 2015, 2016, 2017; Cunningham
et al, 2017; Nobre et al, 2016; Cunha et al., 2018; Anderson et al., 2018).
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 3

Em razão das secas ocorridas na última década, desde 2013 o Cemaden tem desenvolvido e
aperfeiçoado sistemas para o monitoramento e previsão de secas e seus impactos. De modo geral, a
partir de um sistema de monitoramento de secas é possível identificar áreas e municípios impactados, o
que constitui uma importante ferramenta para subsidiar o gerenciamento do risco deste fenômeno
(Figura 1).

Figura 1 – Fluxograma do Sistema de Monitoramento e Previsão de Secas e Impactos para o Brasil, desenvolvido
pelo Cemaden/MCTIC.

Considerando que a seca é um dos desastres naturais de maior impacto econômico-social no Brasil,
apresentam-se, a seguir, os resultados das atividades de monitoramento das condições meteorológicas
associadas às secas, bem como os seus impactos em diferentes regiões do Brasil, avaliados pelo Centro
Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden/MCTIC.
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 4

2. CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS OBSERVADAS NOS ÚLTIMOS 7 ANOS

De maneira geral, o Brasil vem sendo afetado por secas meteorológicas recorrentes nos últimos
sete anos. Em 2014, a maior seca do século 21 na Região Sudeste culminou em uma crise de
abastecimento sem precedentes na Região Metropolitana de São Paulo - a região acumulou um déficit
de 1/3 do total esperado para o ano (Figuras 2 e 3).

A Região Nordeste vem sendo caracterizada por ciclos irregulares de chuvas nos últimos anos.
Verifica-se que em todos os últimos sete anos os períodos chuvosos apresentaram déficits de chuvas,
especialmente os anos de 2012 e 2015 (com déficit de precipitação de aproximadamente 35%) que se
refletiram em regiões significativas (acima de 20% do território), com seca moderada a excepcional.

A Amazônia foi impactada por uma seca provocada pelo terceiro El Niño mais intenso da era
moderna. O déficit percentual de precipitação durante 2015 e 2016 atingiu mais de 45%, somados os
dois anos. Esta seca de proporções históricas levou a grandes impactos: os recordes históricos no número
de focos de calor foram batidos durante os meses de janeiro, março e abril de 2016.

Figura 2 - Anomalia de precipitação anual (%). Fonte dos dados de precipitação: CPTEC/INPE. Elaboração dos
mapas: Cemaden/MCTIC.
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 5

Figura 3 - Anomalia de precipitação anual (%) por região do território brasileiro. Fonte dos dados de precipitação:
CPTEC/INPE. Elaboração do mapa: Cemaden/MCTIC

3. ÍNDICE INTEGRADO DE SECA (IIS)

3.1 Avalição para os últimos anos hidrológicos (outubro a setembro)

O IIS consiste na combinação entre o Índice de Precipitação Padronizada (SPI) e o Índice de


Suprimento de Água para a vegetação (VSWI), este último estimado por sensoriamento remoto. O SPI é
um índice amplamente utilizado para detectar a seca meteorológica em diversas escalas e pode ser
interpretado como o número de desvios padrões nos quais a observação se distancia da média
climatológica. Valores negativos do índice representam condições de déficit hídrico, no qual a
precipitação é inferior à média climatológica, enquanto valores positivos representam condições de
excesso hídrico, que indicam precipitação superior à média histórica. O VSWI é calculado a partir de
duas variáveis, isto é, do índice de vegetação da diferença normalizada (NDVI, sigla em inglês) e da
temperatura da superfície (LST), ambos obtidos a partir do sensor MODIS a bordo dos satélites Terra e
Aqua, disponibilizadas pelo Earth Observing System (EOS/NASA). O VSWI indica condição de seca
quando o valor do NDVI é baixo (baixa atividade fotossintética) e a temperatura da vegetação é alta
(estresse hídrico). Portanto, o índice é inversamente proporcional ao conteúdo de umidade do solo e
fornece uma indicação indireta do suprimento de água para a vegetação. Para a compilação do ISS,
os dados de SPIs nas escalas 3, 6 e 12 meses e o VSWI são reclassificados e compatibilizados, de forma
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 6

que as classes de ambos os índices se traduzam nas mesmas intensidades de seca, as quais variam de
fraca à excepcional. Uma vez que o ISS é gerado em base georeferenciada para todo o Brasil, é possível
estimar esse índice em nível municipal.

A partir do IIS é possível caracterizar os principais eventos de secas ocorridos em diferentes


regiões do Brasil nos últimos 7 anos. No ano de 2012, destacou-se a região semiárida do Brasil, em que a
maior parte da região (Figuras 4 e 5) apresentou condição de seca severa a excepcional. Segundo os
dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), tal condição culminou em cerca de
2500 declarações de estado de emergência de municípios brasileiros, entre as quais 70% foram
relacionadas a municípios inseridos na Região Nordeste. Conforme já destacado previamente, a Região
Sudeste foi impactada por uma seca intensa entre os anos de 2014 e 2015 em decorrência do déficit de
chuvas, culminando em significativos impactos para a população e econômicos, principalmente na
região metropolitana de São Paulo, a maior megacidade da América do Sul (Marengo et al., 2015).

A região amazônica também é considerada vulnerável aos efeitos de eventos climáticos


extremos, como as frequentes “secas prolongadas” registradas na região. O IIS aponta que, nos anos
hidrológicos de 2015 e 2016, grande parte da região (Figuras 4 e 5) apresentou condições de seca entre
moderada e severa. Estudo recente liderado por pesquisadores do Cemaden
(http://www.cemaden.gov.br/pesquisadoras-do-cemaden-apontam-que-secas-extremas-e-incendios-
na-amazonia-aumentam-a-vulnerabilidade-das-florestas/) apontou que 46% da floresta foi
caracterizada por uma seca severa durante o último El Niño (2015-2016), causando impactos em mais
de 400 mil km2 de florestas, diminuindo sua capacidade fotossintética. Neste estudo ressalta-se, ainda,
que as florestas vêm sendo, progressivamente, mais afetadas por secas extremas.

Figura 4 – Índice Integrado de Seca (IIS) – para os últimos 7 anos hidrológicos (outubro a setembro).
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 7

Figura 5 – Percentuais de áreas em condições de secas moderada à excepcional por região do Brasil.

3.2 Avaliação Mensal do IIS

Considerando o IIS estimado para o ano de 2018, observa-se que os meses do primeiro semestre
foram aqueles que apresentaram maior extensão de áreas com condições de secas (Figuras 6 e 7). A
situação foi amenizada a partir do segundo semestre; no entanto, a sub-região que inclui os estados de
Sergipe, Alagoas e norte da Bahia, apresentou condições de secas mais intensas. Tal condição resultou
do déficit de precipitação ocorrido principalmente entre abril a julho, meses da estação chuvosa da
região.
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 8

Figura 6 - Índice Integrado de Seca (IIS) mensal para o ano de 2018.


SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 9

Distribuição Mensal dos Municípios em condição de Seca


moderada a excepcional em 2018
100% 4 24 7 4
21 34 9 75 17
72 9 63
143
90% 125 16
Quantidade de município por região (%)

80% 212 128 37


219 384

70% 257

481
60% 65 124
115
86
50% 343 421
709
77
640
40% 115
166 104
30% 149 618
140

20% 197

110
10% 150
96 125
122
16 90 51 33
0% 10

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

CENTRO-OESTE NORDESTE NORTE SUDESTE SUL

Figura 7 - Distribuição mensal dos municípios do Brasil, por região, em condição de seca moderada a
excepcional.

4. ÁGUA DISPONÍVEL NO SOLO ESTIMADA PELO ÍNDICE SMI

A umidade do solo pode ser medida em unidade volumétrica (m 3/m3, por exemplo), ou seja,
representa a razão entre o volume de água sobre um volume de solo. Essa fração pode ser transformada
na água disponível para as plantas, normalizando-a por limites físicos do solo, como o ponto de murcha
permanente - limite mínimo de extração de água pelas raízes, e a capacidade de campo - valor
próximo da saturação (Zeri et al., 2018). A água disponível no solo é também conhecida como soil
moisture index (SMI), em inglês.

O SMI médio mensal para cada microrregião dos estados do Semiárido é apresentado na Figura
8. Tons de amarelo, laranja ou vermelho representam valores de SMI abaixo de 0,4, característico de
condições de déficit hídrico. Essa condição é crítica durante a estação chuvosa, por culminar em
impactos no desenvolvimento dos cultivos, mas normal nos meses restantes, justamente quando não se
recomenda o plantio. Na Figura 8 destacam-se valores inferiores a 0,4 na região semiárida de Alagoas,
Sergipe e norte da Bahia entre abril e julho, durante a estação chuvosa na região. Adicionalmente,
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 10

destaca-se que o norte de Minas Gerais apresentou valores de SMI abaixo de 0,2 no mês de janeiro de
2018, na segunda metade da estação chuvosa nessa região, tipicamente de novembro a fevereiro.

Figura 8 - Valores médios de SMI (água disponível no solo) para as microrregiões dos estados do semiárido.
Estação de medidas de umidade do solo marcadas com os símbolos cinza.

5. IMPACTOS DAS SECAS NA PRODUÇÃO DA AGRICULTURA DE SEQUEIRO: SAFRA


2017/2018

A estimativa do número de municípios com potencial para queda na produção agrícola de


sequeiro, na safra 2017/2018, foi feita por meio da avaliação do Índice de Suprimento de Água para
Vegetação (VSWI), considerando os diferentes calendários agrícolas de todos os municípios inseridos na
região Nordeste e norte dos estados de Minas Gerais e do Espirito Santo (Figura 9). Os estados da Bahia
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 11

e Ceará foram aqueles com o maior número, somando 142 e 79 municípios, respectivamente. O número
estimado para o estado da Bahia é reflexo do déficit de precipitação observado entre os meses de
novembro a janeiro na região, o qual ocorreu durante o período crítico para o desenvolvimento das
culturas, considerando o plantio realizado entre os meses de novembro e dezembro. O mesmo foi
verificado no estado do Ceará, com relação ao déficit de precipitação ocorrido principalmente entre
os meses de março a maio na região.

UF Nº de Municípios
BA 142
CE 79
PI 65
MA 34
PE 28
PB 23
MG 23
SE 20
AL 18
ES 11
RN 3

Figura 9 - Estimativa de municípios com potencial de queda na produção agrícola de sequeiro na safra 2017/2018.

6. IMPACTOS DAS SECAS NAS RESERVAS HÍDRICAS DO SISTEMA ELÉTRICO

Devido à continuidade das precipitações abaixo do esperado nas bacias hidrográficas, estas
podem ser impactadas por seca hidrológica, i.e., redução do nível dos rios, da água subterrânea e, por
fim, do nível de armazenamento dos reservatórios. A seca hidrológica, somada a problemas de gestão
e infraestrutura, podem ocasionar crises hídricas com impactos em diversas atividades humanas, tais
como abastecimento público, irrigação, geração de energia elétrica, entre outros, como está sendo
vivenciado na região Sudeste do Brasil desde 2014, na região Nordeste entre 2012-2017 e na região
Centro-Oeste desde 2016.

Um indicador de impacto da seca e crise hídrica na geração de energia hidrelétrica é o baixo


volume de energia armazenada (EAR), calculado a partir dos volumes armazenados nos reservatórios e
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 12

das produtibilidades dos aproveitamentos hidroelétricos. Para a estimativa da EAR, todos os reservatórios
dentro de cada subsistema são agregados em um único reservatório equivalente. O volume
armazenado varia mês a mês em função das vazões afluentes e da operação dos reservatórios no
sistema (Zambon, 2015). Em dezembro de 2018, a situação dos sistemas com relação à EAR foi crítica
para as regiões Sudeste/Centro-Oeste e Amazônica, com percentuais abaixo de 30%, conforme
apresentado na Figura 10. A região Nordeste esteve com 36% de sua capacidade de geração de
energia hidrelétrica, enquanto a região Sul, em melhor situação, esteve com 61%.

De acordo com os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, para o mês de
dezembro de 2018 os reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO) estiveram com níveis
próximos daqueles observados para o mês de dezembro de 2017 (23,32%); porém, com níveis inferiores
aos observados em dezembro de 2016 (33,74%), como apresentado na Figura 11. Para o subsistema
Norte, o volume armazenado no mês de dezembro de 2018 é superior ao registrado nos dois anos
anteriores. O mesmo ocorre com relação ao subsistema do Nordeste, cujo volume armazenado em
dezembro de 2018 é superior àqueles registrados em dezembro de 2016 e 2017 (16,18% e 12,68%,
respectivamente).

Figura 10 - Volume de energia armazenada (EAR) nos principais reservatórios por subsistema. Fonte dos dados:
ONS – Elaboração da Figura: Cemaden.
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 13

Figura 11 - Volume de energia armazenada (EAR) no período de março de 2016 a dezembro de 2018, nos
principais reservatórios brasileiros, por subsistema. Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

7. IMPACTOS DA SECA NOS PRINCIPAIS RESERVATÓRIOS DE ABASTECIMENTO E


GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

7.1 Sistema Cantareira

Em 2018, a situação de armazenamento do Sistema Cantareira mostrou-se melhor do que nos


anos anteriores, exceto com relação ao ano de 2017 (Figura 12). A situação do armazenamento em um
reservatório é resultante, de uma forma simplificada, do aporte natural de água, dado pela vazão
afluente, menos a extração e a defluência. No caso do Sistema Cantareira, estas duas últimas vazões
são para o abastecimento público de parte da região metropolitana de São Paulo (vazão para o
elevatório Santa Inês) e vazão para as bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (bacia do PCJ),
respectivamente.

Com relação ao aporte de entrada no reservatório, ou seja, a vazão afluente, os valores


mostraram-se, de janeiro a setembro de 2018, menores do que no período anterior (2017); entretanto,
melhores do que no ano da crise hídrica (2014), como pode ser observado na Figura 13. Com relação
aos valores médios anuais, a vazão em 2018 foi 26,5 m³/s, o que representa 65% da média anual histórica.
Ainda com relação ao aporte ao Sistema Cantareira, em maio de 2018 iniciou-se a interligação com a
bacia do rio Paraíba do Sul (PS), entre os reservatórios de Jaguari (PS) e Atibainha. Em 2018 (até 05 de
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 14

dezembro), o aporte médio anual foi 6,8 m³/s, o que constitui 128,7 hm³, um montante que representa
13,0% da capacidade de armazenamento do Sistema Cantareira (volume útil).

Em 2017, as regras de extração de água para abastecimento público de São Paulo foram
condicionadas à situação de armazenamento do reservatório, de forma que uma situação com menor
volume armazenado permite uma menor extração de água, de acordo com a Resolução conjunta
ANA/DAEE Nº 925. A vazão de extração de água média anual para o abastecimento da região
metropolitana de São Paulo foi 24 m³/s em 2018, similar ao valor do ano de 2017, igual a 24,8 m³/s. Para
a defluência, as regras de operação também foram condicionadas, entretanto, para este caso, à
situação do nível dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, de acordo com a Resolução conjunta
ANA/DAEE Nº 925 e Resolução ANA Nº 1.931. Em 2018, a vazão de defluência média anual foi 4,3 m³/s,
valor este superior ao do ano 2017, que foi de 3,6 m³/s.

Em termos gerais, em 2018 a entrada de água total no Sistema Cantareira foi 31 m³/s, enquanto
que a retirada total de água foi 28,3 m³/s, ou seja, acumulou-se mais água do que se extraiu.

Figura 12 - Evolução do armazenamento do Sistema Cantareira (em %) considerando o volume útil (linha
vermelha, de março de 2014 a 05 de dezembro de 2018), o volume útil armazenado novo, representando a soma
do volume útil e a primeira cota do volume morto (linha verde – adicionada no dia 16/05/2014) e o volume útil
armazenado novo 2, representando a soma do volume útil, a primeira e a segunda cota do volume morto (linha
laranja – adicionada no dia 24/10/2014 e utilizada até o dia 15/05/2017). (Fonte dos dados: SABESP. Gráfico:
Cemaden/MCTIC).
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 15

Figura 13 - Vazão afluente (em m³/s) do Sistema Cantareira (Sistema Equivalente + Paiva Castro). As linhas preta e
vermelha correspondem, respectivamente, às vazões médias e mínimas mensais para o período 1983 – 2017. As
linhas laranja e magenta correspondem, respectivamente, às vazões médias mensais de 2014 e 2017. A linha roxa
corresponde à vazão média mensal de janeiro a 05 de dezembro de 2018). (Fonte dos dados: SABESP. Gráfico:
Cemaden/MCTIC).

6.2 Três Marias – Bacia do rio São Francisco

O reservatório da usina hidrelétrica de Três Marias está localizado na porção alta da bacia do
Rio São Francisco, na região Sudeste. Atua como importante fonte de produção energética para o país,
bem como é estratégico devido a sua contribuição para a manutenção das vazões e das reservas
hídricas nos trechos a jusante, cujos benefícios vão repercutir até os reservatórios de Sobradinho/Paulo
Afonso/Xingó, maior complexo hidrelétrico do Nordeste, este responsável por 95% da energia gerada
na região. No entanto, essa bacia enfrenta sua pior crise, em função das chuvas inferiores à média
histórica nos últimos 6 anos somadas a problemas de conservação ambiental. O ano de 2018 iniciou-se
com vazões muito inferiores à média climatológica; em janeiro, a vazão observada foi 61% abaixo da
média (Figura 14). Esse mesmo comportamento foi observado nos meses seguintes, até atingir seu nível
mais crítico no ano, no mês de agosto, com apenas 72 m3/s, aproximadamente 68% abaixo da média
esperada para este mês. No mês de outubro, quando se iniciou a estação chuvosa a partir da segunda
quinzena do mês, é possível observar uma elevação da média na bacia, que se prolongou nos meses
seguintes, chegando a valores 48% superiores à média climatológica em novembro. As chuvas no mês
de dezembro reduziram-se consideravelmente na bacia, e, consequentemente, a vazão voltou a
apresentar uma redução, com vazões de aproximadamente 22% abaixo da média.

Em 2018, com relação ao aporte de água, a situação manteve-se melhor do que em 2017 e do
que em 2014, considerada a pior série do histórico. A vazão média anual (até dia 19 de dezembro de
2018) foi 362 m³/s, o que representa 57% da média anual histórica, enquanto em 2017 esta média foi de
203 m³/s, representando 32% da média histórica, como pode ser observado na Figura 14. Com relação
à defluência, em 2018 a média anual foi de 165 m³/s, em contrapartida, em 2017 esta média foi de
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 16

220 m³/s. Assim, acumulou-se mais água em Três Marias em 2018 do que se extraiu, o que levou o
reservatório ao seu maior nível dos últimos anos, atingindo 49,5%.

Figura 14 - Vazões médias mensais (m3/s) afluentes em Três Marias, localizado na porção alta do Rio São
Francisco. As linhas sólidas em preto e marrom correspondem, respectivamente, às vazões médias e mínimas
mensais (absolutas) para o período 1983 – 2017 (MLT). As linhas roxa, magenta e cinza correspondem,
respectivamente, às vazões médias mensais de 2018, 2017 e 2014 (ano crítico). (Fonte dos dados: ONS. Gráfico:
Cemaden/MCTIC).

6.3 Serra da Mesa – Bacia do rio Tocantins

O reservatório da usina hidrelétrica de Serra da Mesa está localizado na porção alta da bacia
do Rio Tocantins, na região Centro-Oeste do país. Com capacidade de 43.250 hm³, atua como
importante fonte de produção energética e apresenta importância estratégica, uma vez que contribui
para a manutenção das vazões e das reservas hídricas nos trechos a jusante, inclusive a observância às
restrições de defluências mínimas estabelecidas para a temporada de praias na bacia do rio Tocantins.
Esta bacia, assim como Três Marias, enfrenta uma crise hídrica em função das chuvas inferiores à média
histórica nos últimos 6 anos, somadas a problemas de conservação ambiental.

Com relação ao aporte de água, a situação manteve-se melhor em 2018 do que em 2017,
considerado o pior ano da série histórica. A vazão média anual (até dia 19 de dezembro de 2018) foi
491 m³/s, o que representa 73% da média anual histórica. Em 2017 esta média foi 334 m³/s, representando
50% da média histórica, como pode ser observado na Figura 15. Com relação à defluência, em 2018 a
média anual foi 380 m³/s; em contrapartida, em 2017 esta média foi 318 m³/s. Assim, acumulou-se mais
água em Serra da Mesa em 2018 do que se extraiu, o que levou o reservatório a atingir 13,1%.
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 17

Figura 15 - Vazões médias mensais (m3/s) afluentes em Serra da Mesa, localizado na porção alta do Rio Tocantins.
As linhas sólidas em preto e marrom correspondem, respectivamente, às vazões médias e mínimas mensais
(absolutas) para o período 1983 – 2017 (MLT). As linhas roxa e magenta correspondem, respectivamente, às
vazões médias mensais de 2018 e 2017 (ano crítico). (Fonte dos dados: ONS. Gráfico: Cemaden/MCTIC).

6.4 Reservatórios do Nordeste

Em função das chuvas inferiores à média histórica nos últimos seis anos, as reservas hídricas dos
açudes para abastecimento público e dessedentação animal entraram em colapso, registrando os
menores valores de suas séries históricas, principalmente para os estados do Ceará, Pernambuco,
Paraíba e Rio Grande do Norte (ANA, 2018).

Dentre os principais açudes da região, dois se destacam devido as suas importâncias para o
abastecimento público, sendo eles o Castanhão e o Boqueirão. O açude Castanhão, localizado no
estado do Ceará, representa o maior reservatório para abastecimento público do Nordeste, com
capacidade de armazenamento de 6.700 hm³. Ele abastece 8 cidades no Vale do Jaguaribe, a região
metropolitana da Grande Fortaleza, além de regiões vizinhas. O açude Epitácio Pessoa, também
conhecido como Boqueirão, localiza-se no Agreste Paraibano, cuja capacidade de armazenamento é
de 436 hm³, e é responsável por abastecer a região metropolitana de Campina Grande e mais outros
18 municípios. Desde 2012 estes açudes vêm enfrentando uma severa crise hídrica, como é possível
observar na Figura 16. Contudo, em 2018 a situação de armazenamento em ambos os reservatórios foi
um pouco melhor em relação ao ano de 2017.

O açude Castanhão, em janeiro de 2018, apresentou um volume armazenado de 2,64% de sua


capacidade total, e, no final da estação chuvosa (maio de 2018) atingiu seu maior nível, chegando a
8,7%. Porém, a partir do mês de maio, o volume armazenado no Castanhão foi diminuindo, chegando
a 4,5% do seu volume total no final de dezembro de 2018 (Figura 16a). O açude Epitácio
Pessoa/Boqueirão, a partir de abril de 2017, teve um aumento progressivo do seu volume (Figura 16b),
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 18

em decorrência do sistema de bombeamento do eixo leste do projeto de transposição das águas do


Rio São Francisco. No entanto, começou de forma gradativa, em abril de 2018, o desligamento da
transposição, em atendimento à recomendação do Ministério Público Federal (MPF), a qual determinou
que a operação ficasse suspensa pelo período necessário para realização de intervenções nos açudes
de Poções e Camalaú, na região do Cariri paraibano. Devido ao desligamento, o volume armazenado
neste reservatório, que apresentava em maio seu máximo volume (31,5%), voltou a reduzir. Atualmente
esse reservatório está com 23,1% de sua capacidade total. De acordo com a Agência Executiva de
Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA), o religamento da transposição já foi executado; porém,
a liberação ocorre com vazão em quantidade inferior ao normal.

a) b)

Figura 16 - Histórico do volume armazenado nos reservatórios a) Castanhão (2002-2018) e b) Epitácio


Pessoa/Boqueirão (1991-2018). ). (Fonte dos dados: ANA/SAR. Gráfico: Cemaden/MCTIC).

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A seca é um fenômeno ambiental com consequências negativas não somente sobre populações
vulneráveis, mas que também impacta setores estratégicos do Brasil. Secularmente têm sido vivenciada
pela população da região semiárida do Nordeste do país, cujos impactos extrapolam a capacidade
adaptativa da região. Logo, as secas afetam mais pessoas do que qualquer outra tipologia de desastre,
por ser um fenômeno que impacta grandes áreas e pode perdurar por tempo prolongado. Por se tratar
de uma tipologia de desastre, esforços foram envidados no CEMADEN para o desenvolvimento de um
sistema de monitoramento e de avaliação de impactos de secas, em apoio para a identificação dos
municípios e regiões impactados, com a finalidade de subsidiar tomadas de decisão e ações de suporte
emergencial. Neste contexto, o Cemaden busca avançar e aprimorar o Sistema desenvolvido, inclusive
com vistas a prever as secas e seus possíveis impactos em diversos setores.
SECAS E SEUS IMPACTOS NO BRASIL EM 2018 19

9. Referências

Anderson, L. O.; Ribeiro neto, G. ; Cunha, A. P.M.A. ; Fonseca, M.G. ; Mendes de Moura, Y. ; Dalagnol,
R.; Wagner, F.H.; de Aragão, L.E.O. Vulnerability of Amazonian forests to repeated droughts.
Philosophical Transactions of the Royal Society b-Biological Sciences, v. 373, p. 20170411, 2018.

Coelho CAS, de Oliveira CP, Ambrizzi T, Reboita MS, Carpenedo CB, Campos JLPS, Tomaziello ACN,
Pampuch LA, Custódio MdS, Dutra LMM, Da Rocha RP, Rehbein A (2016) The 2014 southeast Brazil
austral summer drought: regional scale mechanisms and teleconnections. Clim Dyn 46(11):3737–3752.

Cunha, A. P. M. A.; Tomasella, J.; Ribeiro-Neto, G. ; Brown, M. ; Garcia, S. R.; Brito, S.B.; Carvalho, M. A.
Changes in the spatial-temporal patterns of droughts in the Brazilian Northeast. Atmospheric Science
Letters, v. 19, p. e855, 2018.

Cunningham, C. A. C.; Cunha, A. P. M. A. ; Brito,S. Climate change and drought. In: Ben Wisner, Victor
Marchezini, Silvia Saito, Luciana Londe. (Org.). Climate change and drought. xxed.: , 2017.

Marengo J. A.; Nobre, C, ; M, Seluchi ; Cuartas, A. ; Alves, LM ; EM Mendiondo ; Obregon, GO ;


Sampaio, G. . A seca e a crise hídrica de 2014-2015 em São Paulo. Revista USP, v. 106, p. 31, 2015.

Marengo, J. A. and Espinoza, J. C. (2016). Extreme seasonal droughts and floods in Amazonia: Causes,
trends and impacts. International Journal of Climatology. 36, 1033–1050.

Marengo JA, et al. (2017) Climatic characteristics of the 2010-2016 drought in the semiarid.

Nobre, C. A., Marengo, J. A., Seluchi, M. E., Cuartas, L. A., & Alves, L. M. (2016). Some Characteristics
and Impacts of the Drought and Water Crisis in Southeastern Brazil during 2014 and 2015. Journal of
Water Resource and Protection, 8(02), 252.

Zambon, Renato Carlos. A operação dos reservatórios e o planejamento da operação hidrotérmica do


Sistema Interligado Nacional. REVISTA USP, p. 133-144, 2015.

Zeri, M., S. Alvalá, R., Carneiro, R., Cunha-Zeri, G., Costa, J., Rossato Spatafora, L., Urbano, D., Vall-
Llossera, M., Marengo, J., 2018. Tools for Communicating Agricultural Drought over the Brazilian Semiarid
Using the Soil Moisture Index. Water 10. https://doi.org/10.3390/w10101421

View publication stats

Você também pode gostar