Identidade e Relações Sociais
Identidade e Relações Sociais
Identidade e Relações Sociais
INTRODUÇÃO
Nosso objetivo, neste capítulo, é apresentar ao leitor o papel que o grupo possui na
Psicologia Social para a análise dos fenômenos sociais. Diferentemente com o que
ocorre com as visões mais frequentes sobre o grupo desenvolvidas no seio da discipli-
na, nós não falaremos apenas dos pequenos grupos, nos quais seus membros mantêm
relações face a face. Nossa ênfase será nos grandes grupos, ou categorias sociais, tema
que tem recebido pouca atenção da Psicologia Social, mas que é essencial para as in-
vestigações que concebem os fenômenos sociais como sendo produzidos nas relações
de poder estabelecidas entre os grupos que formam as sociedades.
Considerando-se que os grupos constituem um fenômeno fundamental na vida
social dos indivíduos, era de se esperar que desde sua origem a Psicologia Social tives-
se se orientado para o estudo desta forma particular de organização social. Mas, de
fato, por um conjunto de razões, a Psicologia Social demorará em colocar o grupo
como tema próprio (Camino et al., 2007). O objetivo deste capítulo é analisar, come-
1 Para Tarde, as corporações seriam grupos sociais organizados, com normas e leis próprias.
A questão básica que se colocava naquela época e que, de certa forma, ainda é atu-
al, é se o social produz as disposições psicológicas individuais ou se, ao contrário, são
as disposições psicológicas individuais que produzem as instituições sociais. Dito de
outra forma, seria o social redutível ao individual? Para F. Allport (1924), a resposta
seria positiva, pois, para ele “não existe uma psicologia dos grupos que não seja essen-
cialmente e inteiramente uma psicologia dos indivíduos” (p. 6). Posição rebatida por
Tajfel (1978), que defendia que os fenômenos sociais não poderiam ser explicados a
partir de processos individuais: eles seriam de naturezas diferentes e como tais,
necessitariam de explicações teóricas de níveis diferentes das relativas aos fenômenos
individuais.
Em meio a posições contraditórias acerca da relação entre indivíduo e sociedade, o
estudo do grupo só se desenvolverá fortemente nos anos 1950, após a Segunda Guerra
Mundial. Essa grande difusão deveu-se, em grande parte, aos esforços pioneiros de
Kurt Lewin. Sua importância para a aceitação do grupo enquanto objeto de análise
dos psicólogos sociais foi ressaltada desde cedo. Por exemplo, Deutsch (1968, p. 466)
afirma que “uma das maiores contribuições de Lewin foi ajudar a converter a noção
de grupo mais aceitável aos psicólogos levando-os a aceitar a ideia de que os grupos
além de ter características em si, influenciam fortemente os indivíduos”.
Como cientista, Lewin foi um dos primeiros a salientar a importância do estudo
dos grupos não só para a compreensão dos fenômenos sociais, mas também para o
desenvolvimento de técnicas capazes de administrar problemas do cotidiano e solu-
cionar conflitos sociais (Wennberg & Hane, 2005). Distinguindo-se de teóricos ante-
riores como Tarde e Le Bon, os quais compreendiam a vida coletiva como resultado,
respectivamente, de processos de imitação e sugestionabilidade, Lewin propôs uma
psicologia dos grupos que levava em consideração, ao mesmo tempo, o aspecto de
dinamicidade, para ele inerente à vida coletiva, e o aspecto das configurações das re-
lações, que se desenvolvem nos e pelos grupos, e que estaria intrinsecamente ligado ao
primeiro. Lewin ajudou na futura popularização do conceito de dinâmica de grupo
não só com suas contribuições teóricas e empíricas, consolidadas em 1945 com a cria-
ção da primeira organização dedicada ao estudo do Grupo (The Research Center for
Group Dynamics, no Massachusetts Institute of Technology – M.I.T.), mas também
com sua intervenção direta, via a noção de pesquisa-ação, nos problemas sociais que
afligiam a sociedade norte-americana da época. Essa noção tem como princípio o
convite ao repensar a experimentação em psicologia social.
Em oposição ao uso impessoal dos experimentos, cujas condições e manipulações
beiravam a preocupação de assepsia das ciências da saúde, Lewin foi um dos pioneiros
a propor que a investigação produtiva dos fenômenos grupais deveria ser levada a
cabo no próprio campo psicológico em que eles se inserem. Em outras palavras, a
pesquisa-ação propunha que a identificação e manipulação das variáveis grupais de-
veriam acontecer no próprio grupo. Para ele, a pesquisa em psicologia social deveria
se converter primordialmente em uma ação social, na qual o pesquisador deveria ini-
cialmente tentar perceber os fenômenos de grupo como gestalts para, depois, empre-
ender a tarefa de reestruturá-los, facilitando assim suas transformações.
medida em que fica difícil se fazer alguma pergunta científica, desde a perspectiva da
psicologia, sobre o simples fato dessas pessoas possuírem iniciais ou datas de
aniversários comuns. Perguntas como: por que essas pessoas têm a mesma data de
aniversário ou que características específicas de comportamento podem ser espera-
das de pessoas com inicial “R”, são claramente descabidas. Esse tipo de grupo não
mereceria o nome de “grupo psicológico”.
Mas certos conjuntos ou categorias de pessoas são constituídos por critérios
menos arbitrários ou mais primários, como raça, gênero, nacionalidade etc. Esses
agrupamentos são denominados, geralmente, de “categorias sociais”. Uma série de
investigações apontam que a tendência a perceber as pessoas como membros de deter-
minadas categorias é automática, o que traz consequências para os processos de for-
mação de julgamentos e tomada de decisão (Devine, 1958; Fiske & Neuberg, 1990;
Weisman, 2015). Embora não faça muito sentido se perguntar, desde a perspectiva da
Psicologia, qual a origem de categorias sociais, como gênero ou raça, pode-se analisar
como as categorias sociais guiam nossos pensamentos, crenças e interações sociais
(Sprott, 1958; Liberman, Woodward, & Kinler, 2017). As categorias sociais, portanto,
são objeto de estudo da Psicologia Social, mas não suficientes para qualificar os gru-
pos psicológicos.
É possível, também, imaginar conjuntos de pessoas, pertencentes a categorias ar-
bitrárias que fazem fila, seja em um banco para receber o FGTS, seja para se inscrever
em um Congresso Científico (o caso das pessoas com a mesma inicial). Essas duas
categorias, em que as pessoas possuem inicialmente um elemento comum bastante
extrínseco, passam agora a ser denominadas de “agregados” na medida em que em
cada fila as pessoas, além de estarem fisicamente próximas, possuem um interesse
comum (Olmsted, 1959; Milgram & Toch, 1969).
Podemos constatar que ambos agregados oferecem temas para pesquisa psicológi-
ca na medida em que é possível levantar hipóteses sobre o comportamento das
pessoas nesses agregados. Assim, por exemplo, é bastante provável que as pessoas que
fazem fila na Secretaria do Congresso Científico estabeleçam um maior número de
interações entre si que os candidatos a recuperar o FGTS. Já estes manifestarão mais
hostilidade frente a qualquer interrupção na entrega do dinheiro esperado. Apesar
dessas possibilidades, várias das abordagens psicológicas, por exemplo todas as que só
consideram a interação face a face como fator primordial para a definição do que é um
grupo, negariam o status de grupo psicológico a estes conjuntos, particularmente ao
agregado formado por pessoas em uma fila do banco.
Mas imaginemos que o gerente do banco comunique ao público da fila que o Go-
verno não pagará o FGTS. Não seria surpreendente que essas pessoas reagissem, pro-
testando no interior do banco com maior ou menor violência. Poderíamos esperar
também que saíssem na rua, que se juntassem aos outros correntistas do FGTS, igual-
mente frustrados, e que, finalmente organizassem uma passeata barulhenta até a sede
do Governo. Trata-se de “ações de massa” ou “ações coletivas” que tradicionalmente
têm sido objeto do estudo da Psicologia (Milgram & Toch, 1969; Moscovici, 1976).
Essas formas de organização nem sempre têm sido consideradas como grupos
psicológicos.
Podemos afirmar, seguindo Brewer (1979), que as pesquisas de Sherif et al. (1961) e de
Blake e Mouton (1962) são mais uma demonstração da existência de processos de di-
ferenciação grupal em situações de conflito intergrupal do que um teste da relação
causal entre conflito e diferenciação. Observar-se-ia o fenômeno de diferenciação
grupal fora de um contexto competitivo ou conflituoso?
Comentários efetuados por Sherif et al. (1961) sobre a reação negativa dos jovens
ao saber da existência de outros grupos, mesmo antes de começar os jogos competiti-
vos, parecem indicar que o fenômeno de diferenciação grupal pode acontecer fora do
contexto conflituoso. Será que a antecipação da interação competitiva já é suficiente
para causar esse fenômeno? Várias pesquisas tentaram responder a essa questão con-
trolando sistematicamente a possível antecipação de interações competitivas. Rabbie
e Horowitz (1969), por exemplo, dividiram seus sujeitos arbitrariamente em dois gru-
pos (azuis e verdes) e lhes pediram, sem maiores explicações, para avaliar traços das
pessoas dos outros grupos e do próprio grupo. Esses autores não observaram nenhu-
ma diferença entre as duas avaliações. Mas, podemos nos perguntar se a divisão arbi-
trária em “azuis” e “verdes” constitui uma verdadeira categorização social?
É a partir da análise do que significa uma categorização social que Tajfel et al.
(1971) desenvolveram um paradigma experimental que permitia estudar a situação do
grupo mínimo. Os indivíduos eram separados em dois grupos com base em um crité-
rio arbitrário, por exemplo, a preferência por um determinado pintor. Nessa situação,
não havia nenhum tipo de interação entre os participantes ou entre os grupos, e as
pertenças sociais eram anônimas, ou seja, os participantes não sabiam quem eram os
membros do seu grupo ou do outro grupo.
Nessa situação completamente sem sentido social, a tarefa fundamental destinada
aos participantes consistia em distribuir recompensas para um membro de seu grupo
(endogrupo) e para um membro do outro grupo (exogrupo). Para tanto, eram utiliza-
das matrizes inspiradas na teoria dos jogos, que eram concebidas de tal maneira que
exigiam uma alocação conjunta de recursos, o que permitia estudar, em um contexto
intergrupal, a estratégia de distribuição que cada sujeito empregava (Figura 1). As
instruções deixavam bem claro que a escolha das recompensas era feita simultanea-
mente para o membro do endogrupo e do exogrupo.
Sujeito “A” –
(endogrupo)
Sujeito “B” –
Essas matrizes permitiam estudar a estratégia usada pela pessoa para distribuir
conjuntamente prêmios ou recompensas a membros de seu grupo e a membros do
outro grupo. O uso de diversos tipos de matrizes tem permitido, até agora, estudar
quatro tipos de estratégias:
a. Maximização da recompensa dada ao próprio grupo (alternativa 18/23 da
Figura 1);
b. Maximização conjunta das recompensas dadas aos dois grupos (de novo a
alternativa 18/23);
c. Maximização da igualdade das recompensas dadas aos dois grupos
(alternativa 13/13);
d. Maximização da diferença a favor do próprio grupo (alternativa 08/03).
Tajfel et al. (1971) observaram, em três experimentos realizados com esse paradig-
ma, que as estratégias mais utilizadas foram a primeira, maior benefício absoluto, e a
última, maior benefício relativo, embora percebessem também nos participantes,
uma certa tendência à distribuição igualitária. Eles concluíram que em uma situação
de grupo mínimo, as pessoas embora procurem maximizar os ganhos do
próprio grupo, tentam superar ao máximo o outro grupo, mesmo em detrimento ao
obtido para o próprio. Esses dados confirmam a existência da diferenciação grupal
mesmo nas situações onde só existe categorização social sem nenhuma interação nem
real nem antecipada entre os dois grupos. Mas como explicar este fenômeno?
Tajfel et al. (1971) lançam mão do conceito de “Identidade Social”, que se refere
tanto à consciência que o indivíduo possui de pertencer a um determinado grupo
social, como à carga afetiva e emocional que esta pertença traz para o sujeito. O pres-
suposto fundamental dessa concepção é de que os indivíduos procuram alcançar um
tipo de identidade social que contribui para obter uma autoimagem positiva. Essa
imagem seria obtida por meio da diferenciação positiva do endogrupo em contraste
com os demais grupos durante o processo de comparação social. Uma das consequ-
ências desse pressuposto é que quanto maior é o sentimento de pertença a um grupo,
maior será a tendência a diferenciar, de uma maneira favorável, seu próprio grupo
(endogrupo) dos outros grupos (exogrupo).
Para entender tanto o impacto dessa teoria na Psicologia Social contemporânea
como seu potencial em se aplicar a uma dinâmica social, caracterizada pela ruptura
de estruturas sociais, pela imigração global, pelo surgimento de relações virtuais, en-
tre outros fenômenos que resultam em crise e inconstância (Giddens, 2000), devemos
examinar seus três pressupostos fundamentais. O primeiro pressuposto refere-se à
natureza do comportamento social. Esse se situa num continuum em que se distingue,
em um extremo, o comportamento interpessoal, constituído pela interação entre duas
ou mais pessoas e que é totalmente determinada pelas características individuais dos
participantes e pela própria relação. No outro extremo situa-se o comportamento in-
tergrupal, constituído pela interação entre dois ou mais indivíduos ou grupos, e deter-
minado totalmente pelas respectivas pertenças sociais dos participantes na interação.
É evidente que se trata de um continuum teórico, à medida que seria impossível en-
contrar nas relações sociais situações puras de um ou outro extremo (Tajfel, 1981;
Turner & Giles, 1981).
Essa diferenciação nos níveis da interação social pode ser relacionada igualmente
aos diferentes níveis de explicação que podem ser oferecidos para os fenômenos so-
ciais (Lorenzi-Cioldi & Doise, 1990). Assim, como vimos no Capítulo 1, as diversas
explicações em Psicologia Social, podem ser classificadas de intraindividuais, inter-
pessoais, intergrupais a ideológicas. A possibilidade de existirem diversos níveis de
explicação está ligada à complexidade e dinamismo dos fenômenos sociais.
Situa-se aqui o segundo pressuposto da teoria que defende que a Identidade Social
não é um ato, mas um processo social, que toma lugar não só no interior do indivíduo
(fatores intrapsíquicos) ou no espaço das relações individuais (fatores interindividu-
ais), mas se desenvolve no nível social e institucional (fatores intergrupais). Essa abor-
dagem psicossocial pressupõe que o processo da identidade social é dialético à medida
que a identidade modifica o sujeito, facilitando a incorporação de valores e normas do
grupo social e, ao mesmo tempo, esse processo implica em uma participação ativa dos
sujeitos na construção da identidade do grupo (ver Capítulo 6 sobre Valores).
Finalmente, o terceiro pressuposto amplia o caráter dialético do processo ao con-
junto do sistema social. Segundo Tajfel (1972), o processo de identidade social não
ocorre no vazio social, mas em determinado contexto histórico onde os diversos gru-
pos mantêm relações concretas entre si, relações que são igualmente mediadas pelos
processos de identidade social. Para entender o tipo de relações intergrupais que po-
dem ocorrer (basicamente fusões ou conflitos intergrupais), a teoria pressupõe que o
processo de identidade social media a maneira em que indivíduos e grupos percebem
a organização da sociedade, sua estrutura, estabilidade e legitimidade.
Essa percepção, segundo Tajfel e Turner (1979), pode ser situada em um continuum
de crenças sociais. Em um extremo situa-se o que eles denominam de “Sistema de
Crenças na Mobilidade Social”, que descreve a crença em uma sociedade flexível e
permeável na qual os sujeitos não satisfeitos com as condições oferecidas pelos seus
grupos de pertença podem transferir-se, individualmente, a outros grupos. No outro
extremo encontra-se o “Sistema de Crenças na Mudança Social”, em que a sociedade
é considerada como estratificada e totalmente impermeável às tentativas de mudança
individual.
Tajfel e Turner (1979) afirmam que esses sistemas de crenças não devem ser con-
fundidos com a perspectiva sociológica, que estuda os diversos níveis de estratificação
e permeabilidade social que as formações sociais concretas podem ter. Referem-se,
expressamente, a sistemas de crenças que influenciam o comportamento das pessoas
e dos grupos. Assim, as crenças na mobilidade social, abrindo perspectivas de ascen-
são social individual, estimulariam estratégias individualistas de ação (comporta-
mentos interindividuais), enquanto que as crenças na mudança social favoreceriam
estratégias coletivas (comportamentos intergrupais).
Em ambos os casos, a relação entre crenças e ação estaria mediada pelos processos
de identidade social e diferenciação grupal: sujeitos de alta crença na mobilidade so-
SUMÁRIO E CONCLUSÕES
Diante do exposto, parece-nos claro, portanto, o papel de destaque que o grupo
possui na vida psicológica das pessoas, não só no nível individual, por exemplo, no
desenvolvimento de uma identidade social, mas também no nível societal, uma vez
que as pertenças grupais podem dar origem a fenômenos, como o preconceito e a
discriminação. Mas, por que, mesmo assim, as análises sobre os grupos têm ficado em
segundo plano tanto na psicologia como um todo, como na psicologia social, em
particular?
Como dito anteriormente, atribuir o papel secundário do grupo na psicologia so-
cial unicamente à distinção feita por Émile Durkheim (1895/2007) entre a psicologia
e a sociologia ou ao papel preponderante que o Positivismo teve na consolidação des-
ta disciplina não nos parece suficiente. Ressalte-se que, dentro da psicologia social
contemporânea se desenvolvem perspectivas, por exemplo, os estudos sobre a subjeti-
vidade (e.g., Rey, 2005), que dificilmente seriam considerados positivistas, mas que
possuem como característica primordial a ênfase no indivíduo como objeto de
análise.
Acreditamos que um dos principais empecilhos para a aceitação do grupo enquan-
to objeto de análise da psicologia social reside no processo de individualização que o
mundo atual vem sofrendo, onde as necessidades individuais são colocadas à frente
da coletividade. Não estamos defendendo uma relação puramente causal entre ideo-
logia e ciência e, sim, um jogo de mútua influência no qual a primeira justifica a se-
gunda, e esta dá argumentos de sustentação à outra.
Por outro lado, diante do discutido até aqui, fica claro que as explicações para fe-
nômenos societais que partem de processos puramente psicológicos geram, também,
intervenções que colocam no indivíduo, isoladamente, a responsabilidade pelas mu-
danças sociais. Tomemos, mais uma vez, o exemplo do preconceito e da discrimina-
ção dele decorrente. Explicações que privilegiam as características idiossincráticas do
indivíduo preconceituoso, ou do indivíduo vítima do preconceito, tendem a gerar
também intervenções que colocam em segundo plano a necessidade de mudanças
sociais. O “problema” estaria nos indivíduos e não nas relações de poder existentes
entre seus respectivos grupos de pertença. Consequentemente, sua “solução” residiria,
por exemplo, no desenvolvimento, do lado da vítima do preconceito, de estratégias de
enfrentamento de situações adversas. Do lado do perpetrador, as intervenções seriam
planejadas a partir do desenvolvimento de atitudes tolerantes para com o diferente.
Em ambos os casos, entretanto, o status quo continuaria o mesmo.
Glossário
Categorização Representação cognitiva da estrutura social em termos de categorias, permitindo
Social segmentar, classificar e ordenar o ambiente social e, ao mesmo tempo, definir o
lugar do indivíduo na sociedade.
Comparação Conceito desenvolvido por Festinger (1954), parte do princípio de que os sujeitos
Social realizam avaliações sobre si mesmos a partir da comparação com os demais.
Diferenciação Processo psicológico pelo qual tendemos a manifestar favoritismo pelo nosso
Grupal próprio grupo de pertença e hostilidade contra os demais grupos.
Endogrupo Grupo com o qual se estabelece um sentimento de pertença ou identificação.
Exogrupo Grupo com o qual não há relação de pertença ou identificação.
Grupo Mínimo Metodologia experimental criada por Tajfel (1971), na qual os grupos são estabe-
lecidos pela total ausência de interação ente os participantes, sendo criados com
a finalidade de identificar condições mínimas para a diferenciação grupal.
Identidade Conceito desenvolvido por Tajfel et al. (1971) que consiste na consciência que o
Social sujeito possui de pertencer a um grupo social concreto, junto com o significado
emocional desta pertença.
Mobilidade Crença numa sociedade flexível e permeável na qual os sujeitos não satisfeitos
Social com as condições oferecidas pelos seus grupos de pertença podem transferir-se,
individualmente, a outros grupos.
Mudança Social Crença numa sociedade como estratificada e totalmente impermeável às tentati-
vas de mudança individual, demandando-se estratégias coletivas.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Filme: Filhos da Guerra/Europa Europa
Ano: 1990
Diretora: Agnieszka Holland
Duração: 107 min
O filme é baseado na história real de Solomon Perel, judeu que, durante a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945), disfarçou-se de soldado da SS e auxiliou a capturar o
filho de Stalin. No filme, Solomon é um adolescente que, devido à perseguição nazis-
ta, é obrigado a fugir da Alemanha para Polônia com toda sua família. Após nova
invasão de tropas alemãs, ele é separado de sua família e vê-se obrigado a viver num
orfanato soviético por dois anos. Porém, quando as tropas nazistas invadem a Rússia,
Solomon oculta sua origem judaica e convence a todos que é um ariano legítimo,
unindo-se à Juventude Hitlerista. Adotando como cenário a violência da guerra e a
sucessão de fatos que acompanham o drama do protagonista em esconder sua verda-
deira identidade para garantir sua própria sobrevivência, o filme ilustra como os pro-
cessos identitários são inseparáveis das questões de ordem sociopolítica que ocorrem
num dado momento histórico, ao mesmo tempo que retrata como o conflito de inte-
resses, a pertença grupal e a adesão a ideologias contribuem para a manifestação de