Abordagem Integrativa para Desarrollo de Teorias

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Reflexão

ABORDAGEM INTEGRATIVA PARA


O DESENVOLVIMENTO DE TEORIAS
DE SITUAÇÃO ESPECÍFICA:
REFLEXÃO TEÓRICA

Juliane Dias Aldrighi1 


Angélica Dalmolin2 
Nara Marilene Oliveira Girardon-Perlini2 
Maria Ribeiro Lacerda1 
Tatiane Herreira Trigueiro1 
Marilene Loewen Wall1 
1
Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Curitiba, Paraná, Brasil.
Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
2

RESUMO

Objetivo: refletir sobre a contribuição do uso da abordagem integrativa como caminho metodológico para o
desenvolvimento de teorias de situação específica em enfermagem.
Método: estudo do tipo reflexivo, considerando o referencial metodológico de Im e Meleis e as possibilidades
de sua incorporação pela enfermagem brasileira para o desenvolvimento de teorias de situação específica.
Resultado: são apresentados os tópicos: Abordagem integrativa: possibilidades para desenvolver teorias
de situação específica; e, Utilidade do desenvolvimento de teorias de situação específicas a partir da
abordagem integrativa. A reflexão sustenta-se na experiência de utilização do referencial metodológico para
o desenvolvimento de teorias de situação específica, bem como discute o potencial do referencial para a
construção de teorias que guiem o cuidado de enfermagem em contextos particulares.
Conclusão: a abordagem integrativa é subutilizada no contexto brasileiro de produção de teorias, mesmo sendo
um referencial próprio da enfermagem. Por isso, necessita ser visibilizada para fortalecer o desenvolvimento
de conhecimento que represente realidades diversas e específicas a fim de avançar na prática clínica.

DESCRITORES: Teoria de enfermagem. Modelos de enfermagem. Filosofia em enfermagem. Pesquisa


metodológica em enfermagem. Modelos teóricos.

COMO CITAR: Aldrighi JD, Dalmolin A, Girardon-Perlini NMO, Lacerda MR, Trigueiro TH, Wall ML. Abordagem integrativa
para o desenvolvimento de teorias de situação específica: reflexão teórica. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2023
[acesso MÊS ANO DIA] Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2022-0255pt

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ISSN 1980-265X DOI https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2022-0255pt
INTEGRATIVE APPROACH TO THE DEVELOPMENT OF SITUATION SPECIFIC
THEORIES: THEORETICAL REFLECTION

ABSTRACT

Objective: reflect on the use of the integrative approach and its contribution as a methodological path for the
development of situation specific theories in nursing.
Method: reflexive study, considering the methodological framework of Im and Meleis and the possibilities of its
incorporation into Brazilian nursing for the development of situation specific theories.
Results: the following topics are presented: Integrative approach: possibilities to develop situations specific
theories; and, Usefulness of the development of situation specific theories from the integrative approach. The
reflection is based on the experience of using the methodological framework for the development of situation
specific theories, in addition to discussing the potentialities the framework has regarding the construction of
theories that guide nursing care in particular contexts.
Conclusion: the integrative approach is underused in the Brazilian context of theory production, despite being
a nursing reference. Therefore, it needs to be made visible to strengthen the development of knowledge that
represents diverse and specific realities in order to advance in clinical practice.

DESCRIPTORS: Nursing theory. Nursing models. Nursing philosophy. Nursing methodology research.
Theoretical models.

ENFOQUE INTEGRATIVO PARA EL DESARROLLO DE TEORÍAS DE SITUACIÓN


ESPECÍFICAS: REFLEXIÓN TEÓRICA

RESUMEN

Objetivo: reflexionar sobre el uso del enfoque integrador y su contribución como camino metodológico para
el desarrollo de teorías de situaciones específicas en enfermería.
Método: estudio reflexivo, considerando el marco metodológico de Im y Meleis y las posibilidades de su
incorporación en la enfermería brasileña para el desarrollo de teorías de situaciones específicas.


Resultados: se presentan los siguientes temas: Enfoque integrador: posibilidades de desarrollar teorías de
situaciones específicas; y, Utilidad del desarrollo de teorías de situaciones específicas desde el enfoque
integrador. La reflexión se basa en la experiencia de utilizar el marco metodológico para el desarrollo de
teorías de situaciones específicas, además de discutir las potencialidades que tiene el marco en cuanto a la
construcción de teorías que orientan el cuidado de enfermería en contextos particulares.
Conclusión: el enfoque integrador está subutilizado en el contexto brasileño de producción teórica, a pesar
de ser un referente en enfermería. Por lo tanto, es necesario visibilizarlo para fortalecer el desarrollo de
conocimientos que representen realidades diversas y específicas para avanzar en la práctica clínica.

DESCRITORES: Teoría de enfermería. Modelos de enfermería. Filosofía en enfermería. investigación


metodológica en enfermería. Modelos teóricos.

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INTRODUÇÃO
O conhecimento da enfermagem vem sendo desenvolvido, aprimorado e organizado ao longo
dos anos, dando ênfase ao domínio de um campo específico, inovador e próprio de conhecimentos
que permitem consolidar e legitimar a enfermagem como campo profissional, disciplina e ciência
em constante evolução1.
O desenvolvimento de Teorias de Enfermagem (TE) proporciona esse avanço teórico, que se
traduz na melhoria da qualidade da prática clínica, e permite à enfermagem a estruturação progressiva
da sua identidade e da sua importância no campo do desenvolvimento científico e profissional. Na
medida em que descrevem e explicam fenômenos, bem como predizem e prescrevem respostas às
situações que ocorrem no âmbito das experiências humanas, as TE contribuem não somente para
a compreensão desses fatores, como também para conectar os conceitos e estruturas teóricas às
empíricas, formando novos conhecimentos para a transformação da realidade1–2.
A enfermagem se baseia em uma estrutura de conhecimento hierarquizada proposta por
Jacqueline Fawcett e utilizada de forma padronizada para classificar teorias e modelos conceituais.
Dentro dessa hierarquia, diferentes tipos de conhecimento coexistem em níveis de abstração distintos,
conforme a complexidade e o escopo dos fenômenos3. As Teorias de Situação Específica (TSE) são
consideradas menos abstratas e menos complexas, mas com grande suscetibilidade à testagem
e aplicação real de elementos gerados a partir de processos de teorização, por permitirem uma
articulação ordenada e sistematizada desses processos, incorporar diversidades e complexidades
específicas, e ainda transformar mais facilmente o conhecimento construído por meio de teorizações
que direcionam as ações de cuidado, em conceitos e construtos operacionalizáveis2,4.
A necessidade de gerar novos conhecimentos a partir de TSE é premente dentro da disciplina
de enfermagem, tendo em vista a dificuldade enfrentada por pesquisadores em transformar os
conceitos de grandes teorias em conhecimento prático aplicável para o cuidado5. Existe atualmente


no Brasil uma corrente de produções de teorias, principalmente, Teorias de Médio Alcance (TMA), que
tem utilizado estratégias de desenvolvimento orientadas por raciocínio indutivo, dedutivo ou indutivo-
dedutivo. Entre as diversas abordagens metodológicas para essas construções, a mais empregada
nas produções brasileiras é a proposta por Walker e Avant, uma metodologia baseada em processos
mais rígidos. Nesse sentido, são escassas as referências que diversificam na utilização de outras
abordagens, principalmente, em se tratando do desenvolvimento de TSE6.
Assim, insta que reflitamos sobre a utilização da estratégia de desenvolvimento de teoria
delineada por Meleis, a qual é composta por processos mais fluidos e, embora apresente pontos
similares, se distingue das outras por preocupar-se com a apreensão do contexto social do fenômeno,
determinado por aspectos políticos, culturais, raciais, desigualdades sociais e de gênero. Desse
modo, as TSE podem ser mais facilmente transpostas ao Processo de Enfermagem e, principalmente,
direcionadas a populações e cenários específicos, os quais se beneficiarão com cuidados direcionados
e adequados às suas especificidades, considerando os contextos de saúde e doença1–2,4.
Tendo em vista o exposto, este é um estudo teórico-reflexivo, embasado na construção de
dois projetos de tese de doutoramento brasileiros, e tem como objetivo refletir sobre a contribuição
do uso da abordagem integrativa como caminho metodológico para o desenvolvimento de teorias
de situação específica em enfermagem.

ABORDAGEM INTEGRATIVA: POSSIBILIDADES PARA DESENVOLVER TEORIAS


DE SITUAÇÃO ESPECÍFICA
O desenvolvimento de teorias em enfermagem é possível a partir de processos dedutivos
e/ou indutivos de pesquisa, em que, especialmente na estratégia da abordagem integrativa, essas

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duas formas de raciocínio são conjugadas por meio da combinação e associação de distintas fontes
de dados. Nessa perspectiva, o pesquisador pode transitar entre diferentes processos de teorização,
seja a partir de uma teoria já existente, ou, ainda, de pesquisas ou insights oriundos da prática4,7.
A integração de todos esses processos de desenvolvimento teórico dá origem a novas teorizações,
as quais podem ser sistematizadas em conhecimentos passíveis de conceituação, formulação de
afirmações, bem como proposição de uma nova teoria.
O desenvolvimento de TSE pelo processo da abordagem integrativa é fluido e, assim como
pode seguir uma ordem em etapas sequenciais, também pode não ser homogêneo nem ter todas
as etapas contempladas. Desse modo, cada TSE vai seguir um caminho único de construção e as
consequências serão o nível de abstração da teoria, a abrangência dos conceitos, bem como a
aproximação e o refinamento da operacionalização das proposições.
A abordagem integrativa desenvolve-se a partir de quatro grandes etapas, conforme a
Figura 1, em que cada uma é composta por diferentes princípios que guiam o desenvolvimento das
conceituações e teorizações.
A primeira etapa é a verificação pelo pesquisador de suas próprias suposições para o
desenvolvimento da teoria, ou seja, é necessário analisar, de forma ampliada, os contributos filosóficos,
dos quais derivam dimensões ontológicas, epistemológicas, lógicas e éticas, para compreender a
pluralidade e a extensão dos conhecimentos internos e externos à disciplina de enfermagem. Se essas
suposições estiverem alinhadas com os princípios de múltiplas verdades, de capacidade evolutiva
do desenvolvimento teórico, de contextualização sociopolítica dos fenômenos e as perspectivas da
enfermagem, pode-se considerar válida a ideia da construção de uma TSE4.


Figura 1 – Etapas da Abordagem Integrativa.


Fonte: Adaptado de Im (2005)4.

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O desenvolvimento de uma TSE pressupõe a diversidade e a pluralidade filosófica, teórica
e metodológica, considerada por Meleis como uma posição não purista, ou seja, uma visão que
acolhe a heterogeneidade tanto das abordagens científicas, quanto dos fenômenos de enfermagem,
compreendendo que estes são cada vez mais complexos e multifatoriais, muito devido à multiplicidade
de clientes, usuários ou pacientes de enfermagem1.
Essa posição coaduna com o propósito de que o cuidado ao ser humano seja embasado em
conhecimento socialmente relevante, e que se utilize de consciência social e política para desenvolvê-
lo, a fim de proporcionar mudanças para e com os enfermeiros, destinadas a qualificar a assistência
e o cuidado à pessoa. E isso é possível se, além de tudo, refletir um sistema de valores que aceite e
respeite uma perspectiva de enfermagem que se ocupa das inquietações, visões, valores e atitudes
dos enfermeiros1–2,4.
A segunda etapa consiste em explorar o fenômeno por meio de múltiplas fontes, por meio das
quais serão depreendidas as teorizações. Averiguar as teorias do campo da enfermagem e fora dela
é uma premissa desta etapa, a fim de que, a partir da dedução de uma teoria já existente, se possa,
analogamente, obter explicações ou previsões sobre um fenômeno, situação ou população específica,
a partir de explicações ou previsões já descritas em estruturas teóricas como, por exemplo, as TMA.
Por isso, o raciocínio dedutivo é uma importante fonte de conceitualização, ao permitir a derivação da
estrutura teórica de uma teoria de suporte para embasar os questionamentos em relação ao fenômeno
estudado4. Meleis defende que o desenvolvimento de uma TSE deve aprimorar a enfermagem como
ciência, por isso, sua construção deve ser embasada e fundamentada na disciplina de enfermagem,
no escopo da prática e no domínio e perspectiva da disciplina1. Portanto, deve-se fomentar e fortalecer
as construções já existentes na enfermagem para avançar em conhecimento próprio.
Outras fontes, utilizadas de modo indutivo, são as revisões de literatura, em que, a partir delas,
pode-se, além de compreender de forma ampla o conhecimento existente sobre o fenômeno, encontrar
elementos importantes que conduzam o desenvolvimento, modificação, definição ou refinamento de


conceitos, pressupostos e proposições oriundos da teoria de suporte. Também, pode-se utilizar como
fonte de dados os resultados e as experiências de projetos de pesquisa, programas educacionais, de
extensão e/ou provenientes da prática em ambientes hospitalares e/ou comunitários4. Além disso, tem-se
os esforços colaborativos, os quais podem envolver internacionalidade e interdisciplinaridade, sendo
elementos importantes, pois proporcionam diversidade de ideias, avultam os diálogos acadêmicos e,
consequentemente, os resultados para a prática, assim como promovem uma integração de visões, o
que fortalece a responsividade às questões sobre a natureza, missão e objetivos da enfermagem1,4.
A terceira etapa do desenvolvimento de uma TSE refere-se à teorização, sendo dividida em
inicialização, processo e integração. A inicialização é o ponto de partida, momento em que surgem
as primeiras teorizações, as quais podem ser originadas a partir de uma ou de diversas fontes de
dados, como revisões da literatura sobre o fenômeno de interesse, de projeto de pesquisa, assim
como da experiência com a prática, ou, ainda, de uma teoria de suporte com a derivação de conceitos
e afirmações condizentes com a situação específica. A depender de quais fontes serão utilizadas
para iniciar as teorizações, diferentes processos podem ser seguidos, sendo os mais utilizados:
teoria-prática-teoria; prática-teoria; pesquisa-teoria; e teoria-pesquisa-teoria. A integração dos dados
obtidos das diversas fontes ocorre a partir da reflexividade do pesquisador, da análise dos dados, da
criação de estruturas que permitam a formulação de proposições, podendo ser facilitada e refinada
com o compartilhamento de diálogos internos e externos ao meio em que o pesquisador produz
pesquisas ou vivencia suas experiências clínicas, de extensão e/ou de ensino1,4.
Além disso, a documentação de todo o processo, incluindo questões/impasses/dúvidas sobre
a conceituação e a teorização, críticas de cada etapa do processo de desenvolvimento e reflexão
sobre o possível impacto das teorias no ambiente social e político, que precisam ser sistematicamente

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documentados, por meio de diários teóricos e/ou memorandos. Isso demonstra transparência no
processo, bem como capacidade de reflexão e de aprofundamento em questões que podem ser
pouco exploradas e reconhecidas sobre as situações específicas e/ou as populações específicas
centrais para o desenvolvimento da teoria1,4.
Na quarta etapa da abordagem, tem-se o relato e o compartilhamento das teorizações em
formato de manuscrito, modelo ou relatório de pesquisa para a comunidade acadêmica de enfermagem,
a fim de que seja validado pelos pares por meio de revisão e crítica. É importante também que a
teoria seja validada pelos envolvidos, ou seja, a população específica, para que haja uma avaliação
da relevância e da utilidade social da teoria1.
Ao analisar a literatura científica com o objetivo de identificar os métodos de desenvolvimento
de TSE, evidenciou-se, especialmente na bibliografia internacional, que a combinação do raciocínio
dedutivo/indutivo é o processo de teorização mais utilizado pelos estudos que elaboraram TSE,
sendo caracterizado por derivação de modelos conceituais, de grandes teorias e de TMA, bem
como por explorar fontes diversificadas de informação, tais como: revisões de literatura, projetos de
pesquisa qualitativos e/ou quantitativos, experiência clínica, de pesquisa e educação, e perspectivas
de enfermagem7–8.
Para tanto, os projetos de doutoramento que subsidiam as reflexões aqui apresentadas são
guiados metodologicamente pela abordagem integrativa e, assim, seguirão as etapas supracitadas,
por meio de diversos processos de desenvolvimento teórico, a fim de modificar, redefinir, refinar e
propor conceitos e afirmações, conforme a Figura 2 e a Figura 3.
Entende-se que, ao utilizar a abordagem integrativa para elaborar TSE, pode-se detalhar,
explicar e clarear situações, contextos e/ou populações específicas, no intento de ampliar as
perspectivas de atuação da enfermagem e, então, fornecer orientações e subsídios para o cuidado
mais efetivo e congruente. Assim, congrega em seu arcabouço metodológico a possibilidade de
conjugar processos teóricos e empíricos, com vistas a proporcionar uma visão integrada do fenômeno


estudado, evidenciando a relação entre prática, teoria e pesquisa, bem como sua implicação para
o desenvolvimento da teoria.

Figura 2 – Esquema pictórico relativo ao desenvolvimento da teoria de situação específica para o cuidado
de enfermagem às pessoas com estoma intestinal de eliminação e a sua família. Curitiba, PR, Brasil, 2022.
NECFAM: Núcleo de Estudo em Cuidado e Família, que integra o Grupo de
Pesquisa cadastrado no CNPq Cuidado, Saúde e Enfermagem.

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Figura 3 – Esquema pictórico relativo ao desenvolvimento da teoria de situação
específica para o cuidado de enfermagem à mulher que transiciona para a
maternidade não planejada após os 40 anos. Curitiba, PR, Brasil, 2022.
NEPECHE: Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Cuidado Humano de Enfermagem.

UTILIDADE DO DESENVOLVIMENTO DE TSE A PARTIR


DA ABORDAGEM INTEGRATIVA


As TSE não transcendem tempo, lugar ou situação, elas são construídas a partir de contextos
particulares, tanto biológicos e de saúde, quanto sociais, políticos e culturais. No entanto, apesar de
parecer contraditório, o desenvolvimento dessas teorias é um processo contínuo, dinâmico e evolutivo4,
pois, ainda que esteja atrelado a uma conjuntura particular, ele subsidia e fomenta o desenvolvimento
de outras teorizações que, ao serem articuladas e relacionadas, formam robustas estruturas teóricas
sobre um determinado fenômeno, fortalecendo o corpo de conhecimento científico da enfermagem.
Assim, todo esse conhecimento, que, ao mesmo tempo em que é específico, é também amplo, ao
passo que alimenta um campo maior que é a unidade da disciplina de enfermagem, contribui para
a aplicação em contextos práticos, bem como para atingir o objetivo maior da enfermagem, que, na
perspectiva de Meleis, é cuidar dos seres humanos da melhor forma, para que a resposta a esse
cuidado seja o bem-estar1.
Apesar da importância das grandes teorias na construção histórica e científica da enfermagem,
e para a consolidação do conhecimento atual da disciplina, elas são estruturas dadas à generalização
e abstração e, por isso, disseminadas pelos pares como difíceis ou impossíveis de serem aplicadas
na prática, tornando a sua utilização cada vez mais afastada da operacionalização e aplicação, e
mais comumente ligadas ao campo das ideias5. Contrapondo essa posição mais generalista, as TSE
tentam suprir essa lacuna com a aproximação entre conceitos, proposições, constructos, escalas/
instrumentos e modelos aplicáveis, no intuito de (re)conectar o tripé teoria-pesquisa-prática9.
Nesse contexto, seria importante que os currículos dos cursos de graduação em enfermagem
absorvessem os novos conhecimentos gerados a partir de teorias mais práticas, para que pudessem
ser aplicadas no ensino, fomentando e preparando as próximas gerações para um raciocínio clínico
embasado em teorizações mais próximas da realidade. Além disso, no âmbito das pós-graduações,

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esforços poderiam ser despendidos a fim de ampliar pesquisas voltadas à exploração de TMA e
TSE já produzidas pela própria enfermagem, sem deixar de preservar conhecimentos derivados das
grandes teorias de enfermagem existentes, o que garantiria o avanço da disciplina.
O desenvolvimento de TSE é indiscutível e indispensável no momento atual do conhecimento
de enfermagem, tendo em vista o nível de maturidade disciplinar, ou seja, já foram desenvolvidos
teorias e conceitos que estão solidificados acerca de questões mais gerais que envolvem fenômenos
de enfermagem. Então, há de se pensar em conhecimentos mais congruentes com a natureza da
enfermagem, que englobem a diversidade dos clientes de enfermagem, as complexidades das
experiências de saúde-doença, as respostas dos seres humanos frente às situações de doenças e
calamidades, bem como a natureza dinâmica do ambiente1. Assim, considera-se que é premente que
TSE sejam construídas, a partir de abordagens plurais, com vistas a integrar conhecimentos baseados
numa visão interpretativa, pós-modernista, pós-estruturalista e pós-colonialista, conformando produtos
facilmente transpostos para o uso clínico e prático nos diversos e diversificados contextos de cuidados2.
Por isso, a abordagem integrativa é um referencial metodológico valioso que permite desvendar
necessidades e demandas coletadas a partir de diferentes perspectivas, o que a faz versátil e
dinâmica, bem como compatível com valores sociais, políticos e culturais, assim como a própria
TSE a ser construída. Isso a torna flexível à realidade assistencial e educacional, possibilitando que
o pesquisador visualize seu fenômeno tanto de forma ampla, para compreender diversos aspectos
que o contemplam, quanto específica, a fim de capturar nuances particulares que o compõem e o
caracterizam como uma situação e/ou contexto de particularidade.
As TSE, no Brasil, formalmente nominadas dessa forma ainda são incipientes, embora haja um
movimento crescente para a construção de teorizações mais aplicáveis ao contexto prático5. Nesse
sentido, realizou-se uma breve busca na Plataforma Lattes, a fim de encontrar pesquisadores que
estejam desenvolvendo estudos nessa temática, e que tenham como produto uma TSE. Para isso,
utilizou-se o modo de busca por “assunto” com o termo “teoria de situação específica”, nas bases de


Doutores e demais pesquisadores. Foi possível localizar cinco pesquisadores e identificar que três
são doutorandas em Programas de Pós-Graduação, e, destes, dois compreendem as autoras desta
reflexão. Outra é doutora produtora de uma TSE, e outro, o seu respectivo orientador. O que se pode
inferir é que, de fato, não estão sendo produzidas TSE, ou que elas não estão sendo denominadas
formalmente como teorias, ou, ainda, que não estão sendo indexadas corretamente em termos e
palavras-chave nas bases de dados. A questão a se refletir, nesse sentido, é a de que o Brasil ainda
está pouco alinhado à tendência internacional de desenvolver teorias formalmente, menos abstratas
e capazes de guiar o cuidado de enfermagem, evidenciando dimensões que podem e necessitam
ser exploradas no cenário acadêmico em âmbito nacional.
Quanto à abordagem integrativa, esse não é um caminho metodológico comumente utilizado para
a produção de teorias em enfermagem, mesmo sendo um referencial metodológico desenvolvido por
uma enfermeira e aperfeiçoado por outra1,4. Ao fazer uma busca no Catálogo de Teses e Dissertações
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior com os termos “abordagem
integrativa” AND Meleis, “abordagem integrada” AND Meleis, nenhuma produção foi encontrada.
Ainda, realizou-se uma busca no Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), a fim
de encontrar publicações em revistas latino-americanas, a partir da seguinte estratégia: (“abordagem
integrativa” OR “abordagem integrada”) AND meleis, e não houve nenhum resultado. Essa busca
se restringiu a portais e repositórios que pudessem retornar estudos em português, no intuito de
explorar pesquisas brasileiras que seguiram esse percurso metodológico.
Para identificar o processo de desenvolvimento de novas TSE, Eun-Ok Im realizou uma
revisão de literatura, restrita à língua inglesa e, nos últimos 20 anos, foram encontrados 15 estudos
construídos por enfermeiros, publicados em revistas de enfermagem e que explicitaram o uso da
abordagem integrativa na metodologia7. Fica evidente que, mesmo com poucos estudos, esse caminho
metodológico é utilizado por enfermeiros de outros países, contrapondo-se à realidade brasileira.

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Apesar de subutilizado, entende-se que esse é um caminho possível e plausível, porém,
supostamente pouco conhecido pela comunidade de enfermeiros brasileiros. Assim, é interessante
que esse referencial metodológico seja apresentado aos pesquisadores nacionais, a fim de que possa
ser utilizado por enfermeiros que pretendam desenvolver esse tipo de construção, tendo como produto
final uma TSE e, consequentemente, a possibilidade de criar elementos testáveis, como escalas,
conjuntos terminológicos, protocolos, instrumentos de avaliação, proposição de diagnósticos, bem
como de características definidoras e relacionadas.
Utilizar um referencial metodológico coerente com os valores e princípios da enfermagem
e do pesquisador, que instrumentalize e conduza o Processo de Enfermagem, é uma estratégia
viável para incorporar experiências e consolidar o conhecimento, colocando o Brasil em paridade
ao contexto de evolução do conhecimento internacional.

CONCLUSÃO
A abordagem integrativa é um referencial metodológico desenvolvido, validado e refinado por
enfermeiras, sendo um produto do conhecimento científico da disciplina. Entretanto, verifica-se que
é subutilizada pelos pesquisadores brasileiros para produzir teorias, revelando uma lacuna passível
de ser explorada.
Assim, nossa pretensão foi fomentar reflexões acerca das possibilidades de utilização da
abordagem integrativa e instigar o desenvolvimento de TSE como estruturas orientadoras do raciocínio
e da tomada de decisões com relação ao Processo de Enfermagem, almejando melhores resultados
na prática clínica e, consequentemente, na ampliação do conhecimento.

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NOTAS
ORIGEM DO ARTIGO
Extraído dos projetos de tese - Cuidado de enfermagem à mulher que transiciona para a maternidade
não planejada após os 40 anos: teoria de situação específica, apresentado ao Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem, da Universidade Federal do Paraná, em 2021; e Teoria de Situação
Específica para o cuidado de enfermagem às pessoas com estoma e sua família a partir da Teoria
das Transições, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade
Federal de Santa Maria, em 2022.

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA
Concepção do estudo: Aldrighi JD, Dalmolin A.
Coleta de dados: Aldrighi JD, Dalmolin A.
Análise e interpretação dos dados: Aldrighi JD, Dalmolin A.
Discussão dos resultados: Aldrighi JD, Dalmolin A.
Redação e/ou revisão crítica do conteúdo: Girardon-Perlini NMO, Trigueiro TH, Lacerda MR, Wall ML.
Revisão e aprovação final da versão final: Aldrighi JD, Dalmolin A, Girardon-Perlini NMO, Trigueiro
TH, Lacerda MR, Wall ML.

CONFLITO DE INTERESSES
Não há conflito de interesses

EDITORES
Editores Associados: Gisele Cristina Manfrini, Ana Izabel Jatobá de Souza.
Editor-chefe: Elisiane Lorenzini.


HISTÓRICO
Recebido: 03 de outubro de 2022.
Aprovado: 22 de novembro de 2022.

AUTOR CORRESPONDENTE
Juliane Dias Aldrighi
[email protected]

Texto & Contexto Enfermagem 2023, v. 32:e20220255 10/10


ISSN 1980-265X DOI https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2022-0255pt

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