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Revista Brasileira em Promoção da Saúde

ISSN: 1806-1222
[email protected]
Universidade de Fortaleza
Brasil

Mourão Melo Ponte, Clarisse; Oliveira Fernandes, Virgínia; da Costa Gurgel, Maria Helane; Saraiva
Veras, Vivian; Pinto Quidute, Ana Rosa; Magalhães Montenegro, Renan; Linhares de Carvalho,
Silvana; Magalhães Montenegro, Renan
Projeto sala de espera: uma proposta para a educação em diabetes.
Revista Brasileira em Promoção da Saúde, vol. 19, núm. 4, 2006, pp. 197-202
Universidade de Fortaleza
Fortaleza-Ceará, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=40819402

Como citar este artigo


Número completo
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Projeto sala de espera em diabetes

PROJETO SALA DE ESPERA: UMA PROPOSTA PARA


A EDUCAÇÃO EM DIABETES
Waiting room project: a proposal for diabetes education Artigo original

RESUMO
Clarisse Mourão Melo Ponte(1)
A educação é um aspecto fundamental do cuidado do diabético. Para tal, várias estratégias
têm sido buscadas. Os objetivos do presente estudo foram descrever o “Projeto Sala de Virgínia Oliveira Fernandes(2)
Espera”, uma proposta que se baseia na utilização do período em que o paciente aguarda Maria Helane da Costa Gurgel(3)
o atendimento individual para promover educação em diabetes; e avaliar o perfil clínico- Vivian Saraiva Veras(4)
epidemiológico dos diabéticos participantes deste projeto. Foram realizadas 20 reuniões, Ana Rosa Pinto Quidute(5)
de março a outubro de 2006, com 350 pacientes seguidos no Ambulatório de Diabetes, do Renan Magalhães Montenegro(6)
Hospital Universitário Walter Cantídio - UFC e seus acompanhantes. Desses, 76 pacientes,
Silvana Linhares de Carvalho(7)
selecionados aleatoriamente, foram entrevistados. As reuniões ocorriam a cada sexta-feira, em
2 sessões de aproximadamente meia-hora, que eram dirigidas por equipe uma multidisciplinar, Renan Magalhães Montenegro
e contavam com 25 participantes em cada. Ao término, era servido um café da manhã, o qual Júnior(8)
era utilizado para a educação nutricional. Entre os entrevistados, predominaram mulheres
(85,5%), com média de idade 60,4±9,1 anos e tempo médio de diagnóstico de 10,6±5,9anos.
Em relação ao tratamento, dos participantes, 40,7% usavam insulina; 63,1% antidiabéticos
orais e 9,2% adotavam apenas mudanças no estilo de vida. A adesão às drogas era contínua
em apenas 47,8% e a maioria (67,1%) não praticava atividades físicas. Quanto a dietoterapia, 1) Médica Residente de Endocrinologia do
somente 31,5% aderiam plenamente. Mais de 75% dos avaliados eram alfabetizados e Hospital Universitário Walter
recebiam um salário mínimo ou menos. A partir das observações oriundas da prática, pode- Cantídio - Universidade Federal
se perceber: maior motivação dos pacientes após cada reunião, participação mais ativa do Ceará (HUWC - UFC)
nas consultas médicas e um crescente interesse sobre a sua enfermidade e o seu cuidado.
Proporcionar a participação do diabético no seu tratamento, estimulando o autocuidado, é 2) Médica Endocrinologista, Assistente
do Serviço de Endocrinologia e Diabetes
um desafio a ser alcançado por todos os serviços de saúde e que pode ser facilitada com a
do HUWC -UFC
utilização de propostas como a descrita.
3) Médica Residente de Endocrinologia do
Descritores: Acolhimento; Diabetes mellitus; Educação; Autocuidado. HUWC - UFC
4) Acadêmica de Enfermagem da
ABSTRACT Universidade de Fortaleza
Education is an essential aspect of diabetic care. For this, many strategies have been searched. 5) Médica Endocrinologista, Assistente
The objectives of the present study were to describe “The Waiting Room Project”, a proposal do Serviço de Endocrinologia e
based on using the time in which the patient waits for individual attendance, to promote Diabetes HUWC -UFC
Diabetes Education; and to evaluate the clinical and epidemiological profile of diabetic
participants of this project. Twenty meetings were conducted from March to October 2006, 6) Médico Endocrinologista, Professor
Adjunto do Departamento de Medicina
with 350 patients followed-up at the Diabetes Clinics of Walter Cantídio University Hospital-
Clínica, da Faculdade de Medicina - UFC;
UFC, and their companions. Of these, 76 randomly assigned patients were interviewed. The
meetings occurred on each Friday, in 2 sessions of approximately half hour, which were 7) Enfermeira Chefe do Serviço de
coordinated by a multidisciplinary team, and took into account 25 patients each. At the end, a Endocrinologia e Diabetes do HUWC-UFC
breakfast was served and used for nutritional education. Among the interviewed participants,
8) Médico Endocrinologista, Professor
women prevailed (85.5%), with mean age of 60.4±9.1 years, and average time of diagnosis of Adjunto do Departamento de Saúde
10.6±5.9 years. In relation to treatment, 40.7% used insulin, 63.1% used oral anti-diabetics Comunitária da Faculdade
and 9.2% only adopted life style changes. Drugs compliance was present in only 47.8% of
de Medicina - UFC
the participants and the majority (67.1%) did not practice physical activities. Regarding to
the diet, only 31.5% fully adhered to it. More than 75% of the participants could read and
write, and earned a minimum wage or less. From the observations derived from practice,
one may perceive: a greater motivation of the patients after each meeting, a more active
participation in doctor’s appointments and an increasing interest on their disease and care.
To provide the participation of diabetic patients in their treatments, stimulating self-care, is
a challenge to be reached by all health units, and that can be favored by strategies like this
described. Recebido em: 15/08/2006
Descriptors: User embracement; Diabetes Mellitus; Education; Self-care. Revisado em: 25/10/2006
Aceito em: 01/11/2006

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Ponte CMM et al.

INTRODUÇÃO e para o compartilhamento de informações com pessoas


que possuam uma necessidade de saúde em comum. Esta
O Diabetes Mellitus (DM) é um relevante problema de proposta tem sido utilizada com sucesso na abordagem de
saúde pública em todo o mundo, pelo crescimento de sua várias doenças crônico-degenerativas em vários centros,
freqüência, pelos impactos que geram o desenvolvimento promovendo trabalhos com pacientes e familiares(8,9).
de suas complicações agudas e crônicas, bem como pelo Por estas razões, instituiu-se o Projeto Sala de Espera,
seu elevado custo social e econômico. Em 2002, estimava- um programa de educação continuada para os diabéticos
se que existissem 173 milhões de adultos com DM no acompanhados no Ambulatório de Endocrinologia e
mundo, com projeção de chegar a 300 milhões em 2030(1). Diabetes do Hospital Universitário Walter Cantídio, da
O Estudo Multicêntrico Brasileiro, realizado em 1988, Universidade Federal do Ceará (HUWC-UFC). Este
revelou que 7,6% da população brasileira entre 30 e 69 anos projeto tem como objetivos desenvolver ações preventivas
era portadora de DM(2). Mais recentemente, em estudo com e educativas direcionadas ao diabetes mellitus e suas co-
metodologia semelhante realizado no município de Ribeirão morbidades, estimulando uma interação dinâmica entre
Preto, em 1996 e 1997, foi demonstrada uma prevalência de pacientes, familiares e equipe multidisciplinar; conhecer os
12,2% em população na mesma faixa etária(3). pacientes quanto ao nível de conhecimento sobre a doença,
A importância do controle glicêmico já está amplamente compreensão e adesão à terapêutica e avaliar o impacto da
reconhecida como a melhor estratégia para a prevenção das educação continuada sobre o controle do diabetes e suas
complicações crônicas do DM, como demonstrado pelos complicações.
maiores estudos com estes pacientes. No Diabetes Control No presente trabalho, pretende-se descrever o referido
and Complications Trial (DCCT)(4), foi demonstrado que o projeto, assim como avaliar o perfil clínico-epidemiológico
tratamento disciplinado do DM tipo 1 possibilita prevenir ou dos diabéticos participantes até este momento.
retardar complicações agudas e crônicas da doença. O United
Kingdom Prospective Diabetes Study (UKPDS)(5) confirmou
MÉTODOS
a importância do controle da glicemia e da pressão arterial
em diabéticos tipo 2, levando a uma redução significativa O projeto foi desenvolvido com pacientes seguidos
da ocorrência de alterações microvasculares. Apesar disso, no Ambulatório de Diabetes do HUWC-UFC, através de
poucos pacientes atingem as metas preconizadas de controle reuniões, realizadas por equipe multidisciplinar, composta
glicêmico e metabólico, sendo o desconhecimento sobre sua por médicos, enfermeiras, psicólogos, nutricionistas,
enfermidade, uma das principais barreiras para o sucesso do educadores físicos, dentistas e assistentes sociais, além de
tratamento. alunos da graduação e pós-graduação das especialidades
A educação é uma estratégia fundamental para a citadas. Foram utilizadas diferentes estratégias de grupo e
promoção da saúde, visando atuar sobre o conhecimento recursos audiovisuais.
das pessoas, para que elas desenvolvam a capacidade de Às sextas-feiras, pela manhã, eram realizadas duas
intervenção sobre suas vidas e sobre o ambiente, criando reuniões educativas com temas idênticos, com grupos de
condições para sua própria existência. Considerando- 25 pacientes cada uma e duravam em média meia-hora. Os
se a especificidade do diabetes como doença crônica e o grupos eram formados de acordo com o horário de chegada
controle glicêmico como fundamental na prevenção de ao hospital e, a partir de convite, participavam da atividade,
complicações e seqüelas, o conhecimento da doença por que ocorria durante o seu período de espera para a consulta.
meio de educação constitui aspecto muito relevante no Os mesmos eram identificados por crachás, para permitir
tratamento. Para o sucesso da educação destes pacientes, é uma melhor integração do grupo e conduzidos a uma sala
imprescindível considerar os aspectos motivacionais para o de reuniões para o início da sessão.
autocuidado, a participação da família e o estabelecimento Durante as reuniões foram distribuídos materiais
de vínculos efetivos com a equipe multiprofissional(6). educativos, sendo utilizada linguagem acessível, com
No entanto, só a partir da década de 70, com base na gravuras e símbolos que permitiam a participação dos
experiência do Professor Jean - Phillipe Assal e da dinâmica pacientes não alfabetizados. À medida que as atividades eram
desenvolvida por ele, se começou a encarar a educação do desenvolvidas, procurava-se identificar grupos de pessoas
diabético de uma forma estruturada, com a organização de com objetivos comuns, com o intuito de, posteriormente,
cursos para educadores e a realização sistemática de cursos em outros encontros, formar grupos que permitissem uma
para portadores de diabetes(7). maior integração e aprendizado.
O desafio está em sempre buscar um momento e um Os demais pacientes do ambulatório que não eram
espaço para educar. Nesse contexto, a sala de espera se recrutados para a reunião ficavam nas “salas de espera
mostra como um local propício ao início do processo de convencionais”, assistindo a filmes que abordavam temas
educação que começa antes da consulta médica, constituindo educativos diversos sobre diabetes até sua chamada para
um espaço para passar informações relevantes aos pacientes consulta.
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Projeto sala de espera em diabetes

De acordo com a dinâmica proposta pelo projeto, ao Observou-se que, nos grupos, os pacientes tinham uma
fim de cada reunião, era solicitado aos participantes que média de idade de 59,7±9,1 anos e um tempo médio de
se manifestassem quanto a temas de interesse para novos diagnóstico do diabetes de 10,6±5,9 anos, predominando
encontros, para que fossem adicionados aos temas básicos mulheres (85,5%). Este tempo médio de diagnóstico de
pré-estabelecidos (Quadro I). Os temas eram repetidos até diabetes observado deve-se provavelmente ao caráter
que todos os pacientes seguidos no ambulatório, que se terciário do HUWC-UFC, que acolhe pacientes com
interessavam pelo projeto, tivessem tido acesso a todos maior grau de complexidade, justificando a necessidade
eles. de tratamento medicamentoso, antidiabéticos orais e/ou
Ao término do encontro, era servido um café da manhã, insulina, para a maioria dos pacientes, como demonstrado
momento programado para que fossem abordadas de na figura 1. A literatura confirma essa relação, pois, com a
forma prática diversas questões básicas sobre alimentação progressão da doença, instala-se um processo de falência
saudável e orientações nutricionais que deiram ser seguidas pancreática, o que geralmente impossibilita o controle
pelo paciente diabético.
metabólico a longo prazo, apenas com as modificações de
Para a caracterização clínico-epidemiológica dos estilo de vida(10).
participantes, eram selecionados de forma aleatória
aproximadamente 20% dos participantes. Estes eram
convidados a participar de uma entrevista em que era (%)
aplicado, antes do início de cada sessão, um formulário 60
contendo questões sobre idade, gênero, renda familiar
50,0
escolaridade, tempo de diagnóstico do diabetes, tratamento 50
atual e adesão à terapêutica.
40
Os dados obtidos eram analisados, sendo as variáveis
contínuas descritas como média e desvio padrão e as 30 27,6
categorias como freqüências (%).
20
13,2
RESULTADOS E DISCUSSÃO 9,2
10
De março, quando foi iniciado o projeto, a outubro 0
MEV ADO INS ADO + INS
de 2006, foram realizadas 20 reuniões, com 350 pacientes
seguidos no Ambulatório de Diabetes do HUWC-UFC e Figura 1. Distribuição dos pacientes participantes do
seus acompanhantes. Desses, 76 pacientes, selecionados Projeto Sala de Espera, do Ambulatório de Diabetes, do
aleatoriamente, foram entrevistados. Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade
Quadro 1. Programação temática do Projeto Sala de Espera, Federal do Ceará, de acordo com as terapêuticas utilizadas.
do Ambulatório de Diabetes, do Hospital Universitário Fortaleza, 2006.
Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará.
Fortaleza, 2006. Mais de 75% dos avaliados eram alfabetizados, o que
pode favorecer a implementação de propostas educativas,
1. Conhecendo o diabetes: Como viver bem com este pois a escolaridade é um fator importante em virtude da
problema. complexidade das instruções que esses pacientes necessitam
2. Autovigilância do diabetes: Aprendendo a reconhecer obter. A educação é fundamental em todas as fases do
hipoglicemias e hiperglicemias. tratamento e, independentemente do grau de instrução, o
3. Verdades e mitos sobre o diabetes: Tirem suas duvidas!
educador deve empregar sempre uma linguagem simples
4. O diabético na cozinha, como saber o que devo comer.
que facilite o aprendizado(11).
5. O diabético e a atividade física.
6. Complicações tardias do diabetes. A maioria dos diabéticos avaliados (66%) tinha renda
7. Cuidados com o pé diabético. igual ou inferior a um salário mínimo. Este é um fator
8. Seus olhos e o diabetes. que pode comprometer a adesão e o controle metabólico
9. Saúde oral e diabetes. desses pacientes, pois as medidas para o cuidado e terapia
10. Planejamento familiar e diabetes. necessárias, muitas vezes, não estão disponíveis na rede
11. A festividade e o diabetes: Como participar sem perder pública de saúde.
o controle? Atualmente, o tratamento do DM consiste em
12. A cartilha do diabético.
modificações do estilo de vida, uso de drogas orais e
13. Insulina não doutor !!!
insulinoterapia. As modificações de estilo de vida, indicadas

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Ponte CMM et al.

como parte do tratamento do DM, envolvem hábitos de vida (%)


saudáveis que incluem: dieta balanceada, com restrição 60
de carboidratos de absorção rápida e gorduras saturadas, 50 47,8
44,9
exercício físico regular, pelo menos 3 a 4 vezes por semana,
suspensão do tabagismo e do consumo de álcool(12). No 40
entanto, neste estudo, observou-se uma baixa adesão às 30
orientações nutricionais (figura 2), assim como à atividade 20
física (figura 3) e ao tratamento medicamentoso (figura 4).
10 4,3
(%) 0
NÃO SIM NÃO RESPONDEU
60 59,2
Figura 4. Distribuição dos pacientes participantes do
50 Projeto Sala de Espera, do Ambulatório de Diabetes, do
Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade
40
31,6 Federal do Ceará, de acordo com a adesão ao tratamento
30 medicamentoso. Fortaleza, 2006.
20
Hábitos alimentares adequados são uma das pedras
10 7,2 angulares do tratamento(13). Alcançar o controle metabólico,
1,3
0 sem a adesão do paciente à dieta é tarefa árdua, mesmo com
NÃO SIM IRREGULAR NÃO RESPONDEU o uso de drogas orais e insulina. No estudo, apenas 31,5%
dos pacientes seguiam plenamente a dieta recomendada.
Figura 2. Distribuição dos pacientes participantes do Fatores sócioeconômicos e culturais contribuem para a
Projeto Sala de Espera, do Ambulatório de Diabetes, do existência de comportamentos alimentares inadequados(14).
Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Somente com programas de educação continuada, com
Federal do Ceará, de acordo com a adesão às orientações atenção especial para os aspectos nutricionais, promove-se
nutricionais. Fortaleza, 2006. a conscientização sobre o papel fundamental da dieta no seu
tratamento(15).
Exercícios regulares ajudam: a diminuir e/ou manter
(%)
o peso corporal, a reduzir a necessidade de antidiabéticos
80
orais, a reduzir a resistência à insulina, e contribuem para
67,1
uma melhora do controle glicêmico, para a prevenção
60
de complicações agudas e crônicas, e, finalmente, para a
melhora da qualidade de vida e redução da mortalidade(16).
40
31,6 Apesar disso, a adesão à atividade física foi relatada por
20 apenas 31,5% dos pacientes. A ausência de orientações
individualizadas, oferecidas por profissionais da área da
1,3 educação física, desmotivação dos pacientes, falta de
0
NÃO SIM NÃO RESPONDEU condicionamento e incapacidade física decorrentes de
co-morbidades ou complicações estão entre os principais
Figura 3. Distribuição dos pacientes participantes do fatores causais. Para conscientização dessa população,
Projeto Sala de Espera, do Ambulatório de Diabetes, do deve ser planejado um programa de educação, contando
Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade com a participação de uma equipe treinada, dando-se
Federal do Ceará, de acordo com a realização de atividade
ênfase à importância dos benefícios da atividade física(17) e
física. Fortaleza, 2006.
respeitando-se as limitações de cada paciente.

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Projeto sala de espera em diabetes

Neste estudo, foi também encontrado que quase 2. Malerbi D, Franco LJ. The Brazilian Cooperative Group
metade dos pacientes entrevistados (44%) não aderia ao on the Study of Diabetes Prevalence. Multicenter Study
tratamento medicamentoso, incluindo antidiabéticos orais e of the Prevalence of Diabetes Mellitus and Impaired
insulinoterapia. O DM é uma enfermidade que se acompanha Glucose Tolerance in the urban Brasilian population
de diversas co-morbidades, como hipertensão arterial aged 30-69 years. Diabetes Care 1992; 15(11): 509-
sistêmica, dislipidemia e doença cardiovascular, o que traz 16.
a necessidade de uso de várias drogas simultaneamente, 3. Torquato MTCG, Montenegro Jr RN, Viana LAL,
diminuindo a adesão ao tratamento(18). Souza RAHG, Ianna CMM, Lucas JCB. Prevalence
Vários podem ser os fatores determinantes desse perfil of Diabetes Mellitus and Impaired Glucose Tolerance
inadequado aqui observado, que corrobora dados descritos in the urban Brasilian population aged 30-69 years
em diferentes realidades por outros autores(19-21). Tem sido in Ribeirão Preto (São Paulo), Brazil. Med J 2003;
demonstrado que tal perfil está freqüentemente relacionado 121(6):224-30.
à qualidade do cuidado, que, por sua vez, decorre: tanto de
aspectos da prática assistencial e organizacional do serviço 4. The Diabetes Control and Complications Trial Reseach
(freqüência e tipo do atendimento, capacidade, sistemática Groups. The effect of intensive treatment of diabetes
on the development and progression of long term
e motivação da equipe, disponibilidade para aquisição dos
complications in insulin - depedent diabetes mellitus.
medicamentos, dificuldade de entendimento da prescrição e
N Engl J Med 1993; 329 (14): 977–86.
das recomendações etc), quanto de fatores relacionados aos
pacientes (educação cognição, condição psíquica, social, 5. UK Prospective Diabetes Study (UKPDS) Group.
cultural etc)(22). Intensive blood glucose control with sulphonylureas
or insulin compared with conventional treatment and
CONSIDERAÇÕES FINAIS risk of complications in patients with type 2 diabetes.
Lancet 1998; 352: 837-53.
Apesar de ainda não se dispor de dados sobre o
6. Ferraz AEP, Zanetti ML, Brandão ECM, Romeu LC,
impacto deste projeto sobre o perfil clínico-metabólico dos
Foss MC, Paccola GMGF, Paula FJA, Gouveia LMFB,
diabéticos participantes, pode-se claramente perceber: maior
Montenegro Jr RM. Atendimento multiprofissional
motivação dos pacientes após cada reunião, participação
ao paciente com diabetes mellitus no ambulatório de
mais ativa nas consultas médicas e um crescente interesse
diabetes do HCFMRP-USP. Medicina, Ribeirão Preto
sobre a sua enfermidade e o seu cuidado.
2000; 33: 170-5.
Um programa educativo com atividades em grupo
para pacientes com diabetes mellitus deve visar ao 7. Tattersall R. The expert patient: a new approach to
autoconhecimento e propiciar que educador e educando chronic disease management for the twenty-first
troquem experiências e habilidades através do processo century. Clinical Medicine. 2002; 2: 227-9.
de aprendizagem. Tornar o paciente membro da equipe 8. Assathiany R, Kemeny J, Sznajder M, Hummel M, Van
multidisciplinar e ressaltar a importância da relação médico- Egroo LD, Chevallier B; AREPEGE. The pediatrician’s
paciente é parte essencial do tratamento(6). Esforços devem waiting room: a place for health education?Arch Pediatr
ser direcionados para que haja maior integração da equipe, 2005; 12(1):10-5
em benefício do paciente portador de diabetes, com o fim de
identificar estratégias que o motivem para o autocuidado. 9. Gomes AMA, Albuquerque CM, Moura ERF, Silva RM.
Percebe-se o grande desafio de elaborar e implementar Sala de espera como ambiente para dar informações em
propostas educacionais sistemáticas e efetivas, em especial saúde. Cad Saúde C o l e t i v a, 2006; 14 (1): 7-18.
no sistema público de saúde, em que se tem limitação 10. Matheus DR, Ahmed S, Vilar L, Lyra R. Tratamento
de verbas destinadas a medidas educativas, cujo impacto farmacológico do diabetes tipo 2. In: Vilar L.
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