Ferreira Silva. Granja - 2016.1

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MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E O PROJETO PALAVRA

CANTADA

Isabelle Cristine Ferreira


Maria Dayane Oliveira da Silva
Zélia Porto Granja

Resumo
Este artigo teve como objetivo socializar a música na educação infantil a partir do material estruturado
Palavra Cantada manual e Dvd, e como pode contribuir para o desenvolvimento e aprendizagem da
linguagem musical. Esta temática vem despertando interesse de pesquisadores que desenvolveram
pesquisas para compreender os sentidos e significados da música para esse nível de ensino. O objetivo
geral da pesquisa foi analisar a música na educação infantil através do material estruturado Palavra
Cantada. Por meio de uma análise documental, buscamos identificar conteúdos da linguagem musical
presentes no manual e dvd a partir de aproximações e distanciamentos conceituais da proposta musical
do manual e das atividades contidas no dvd. No que diz respeito ao ensino da música na educação
infantil na perspectiva da Abordagem Triangular. Percebemos desse modo, a concepção de música
passada no material em alguns momentos ela se distancia na hora de fazer as atividades da música
como linguagem.

Palavras-Chave: Música na educação infantil, linguagem musical, palavra cantada.

1. Introdução

Como é sabido, a música é a combinação de sons de uma maneira organizada,


composta por melodia, harmonia e ritmo. A melodia é o que se destaca na música, como o
conjunto de notas que juntas dão sentido à música; a harmonia, por sua vez, vem para trazer
concordância aos sons, tornando-os agradáveis aos nossos ouvidos. Para compor uma música
temos também o ritmo que é caracterizado com um movimento, por uma marcação de tempo
que percebemos ao escutarmos uma música.
Sob a ótica de que a música pode contribuir para o desenvolvimento infantil, este
artigo buscou analisar como a música pode ser trabalhada em sala de aula de forma que,
contribua positivamente na construção do aprendizado da criança . O nosso interesse por este
campo de estudo foi despertado a partir da observação da constante presença da música em
várias atividades nas salas de aula do Centro Municipal Educação Infantil (CMEI), onde
atuamos, ou seja, a música fazendo parte do currículo e do dia a dia da creche. Dentro dessa


Concluinte do curso de Pedagogia do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco.
[email protected]

Concluinte do curso de Pedagogia do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco.
[email protected]

Professora Associada a Universidade Federal de Pernambuco. [email protected]
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nossa experiência nos deparamos com o material didático que faz parte do Projeto Palavra
Cantada (2012).
O projeto Palavra Cantada surgiu no ano de 1994, quando os músicos Sandra Peres e
Paulo Tati tiveram a ideia de criar novas canções para as crianças brasileiras. A dupla em seus
CDs e DVDs buscou trabalhar a música, fazendo um trabalho diferenciado dentro da cultura
musical voltado para criança, preocupando-se com a qualidade das canções respeitando a
inteligência e a sensibilidade das crianças. A natureza das atividades propostas pelo grupo são
lúdicas, na qual são trabalhados vários movimentos em diversos ritmos. E um dos elementos
culturais que vem em destaque no Palavra Cantada é o resgate das brincadeiras tradicionais,
que sempre fez parte da vida das crianças e das escolas de educação infantil, mas está cada
vez mais esquecido no dia a dia da sala de aula.
Esse projeto faz parte dos materiais para o ensino de música que abrange da educação
infantil aos anos iniciais do ensino fundamental das escolas e creches públicas da Prefeitura
Municipal do Recife. Tem o intuito de dar suporte às instituições para se adequarem ao que
diz a Lei 11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008 pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que torna obrigatório o ensino da música nas escolas a partir da educação infantil. O
nosso interesse foi ampliado a partir do conhecimento desse projeto e dos materiais
estruturados que o integra, para o trabalho na educação infantil.
Sendo assim analisamos o material estruturado Projeto Palavra Cantada no intuito de
identificar conteúdos da linguagem musical presentes no manual e dvd, buscando identificar
aproximações e distanciamentos a respeito do ensino da música na educação infantil presentes
nos mesmos.
A abordagem teórica utilizada, no presente trabalho foi a Abordagem Triangular no
Ensino. Na medida em que ela define o trabalho pedagógico na qual a proposta por Barbosa
(1987), identificada como Abordagem Triangular para o Ensino das Artes. Nessa abordagem,
a autora preconiza que o ensino de artes deve ser fundamentado em três eixos de ação: fazer
artístico, leitura (apreciação da obra de arte) e contextualização da imagem (história da arte).
De acordo com RCNEI, a música pode ser compreendida como linguagem e forma de
conhecimento, e está presente no dia a dia de modo muito intenso. A linguagem musical
proposta por esse documento tem estruturas e características próprias, devendo ser
compreendida como: Produção- centrada na experimentação e na imitação, tendo como
produtos musicais a interpretação, a improvisação e a composição; Apreciação- percepção
tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando
desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e
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reconhecimento; Reflexão- sobre questões referentes à organização, criação, produtos e


produtores musicais.
De um modo geral, a Abordagem Triangular aponta a necessidade do ensino da arte
nas escolas, desde os primeiros anos, por se tratar de um aspecto fundamental no
desenvolvimento cultural da sociedade, e auxiliar no desenvolvimento estético, crítico e
criativo da criança possibilitando mesmo uma aprendizagem mais abrangente.
A temática da música na Educação Infantil tem despertado interesse de pesquisadores
que desenvolveram pesquisas para compreender os sentidos e significados da música para
esse nível de ensino. Dentre esses estudos podemos mencionar: A Presença da Música na
Educação Infantil: Entre o Discurso Oficial e a Prática (LOUREIRO, 2010), a autora buscou
investigar a presença da música e suas respectivas articulações entre as dimensões teóricas e
políticas da educação infantil escolar presentes nos discursos oficiais e sua relação com as
dimensões práticas das atividades pedagógico-musicais para crianças de zero a cinco anos de
idade.
Outro estudo intitulado Música e Educação Infantil: Possibilidades de Trabalho na
Perspectiva de uma pedagogia da Infância foi desenvolvido por Nogueira (2005), que teve
como enfoque a relação do educador na articulação entre a criança e a música. Sob o título de
A Importância da Musica na Educação Infantil, Godoi (2011), desenvolveu estudo cujo
objetivo geral foi analisar as contribuições que o ensino de música pode proporcionar no
desenvolvimento das crianças na educação infantil e a forma como é usada pelos educadores
que atuam nesta faixa etária. De um modo geral, estes estudos problematizam a Música na
Educação Infantil em sua relação com o desenvolvimento e a aprendizagem da criança
pequena.

2. Linguagem musical na educação infantil.

A presença da música na vida dos seres humanos é incontestável. Ela tem


acompanhado a história da humanidade, ao longo dos tempos, exercendo as mais diferentes
funções. Está presente em todas as regiões do globo, em todas as culturas, em todas as épocas,
ou seja, a música é uma linguagem universal, que ultrapassa as barreiras do tempo e do
espaço, apresentando-se de várias maneiras no contexto da educação infantil. É bem verdade
que na história da educação no Brasil cuidar de crianças era algo irrelevante para a sociedade,
instituições de educação infantil eram vistas como depósitos de crianças até recentemente nos
anos 1980 (KRAMER, 1984).
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Segundo Silva (2011), as capacidades expressivas e comunicativas, as linguagens


artísticas não tinham lugar nas escolas brasileiras. Este mesmo autor pergunta: o que se tem
feito com a música nas instituições de educação infantil? Como a literatura tem salientado, a
música tinha como objetivo manter a ordem na sala de aula, sendo usada como forma de
controle, não priorizando a música nos aspectos pedagógicos.
Para Gobbi (2010), a música como linguagem é organizada por signos sonoros no
espaço e no tempo. Considerando que ela se constitui como um meio de orientar a reflexão do
ouvinte sobre o mundo, pode-se afirmar que sua presença entre as crianças é fundamental para
que as mesmas possam compreender e construir seu cotidiano e seu mundo a partir da
linguagem sonora. As crianças estão envolvidas no universo sonoro desde tenra idade, alguns
afirmam que desde a fase intra-uterina.
Conforme Silva (2011), a música é uma linguagem artística, ou seja, significa entende-
la como tradutora de significados e sentidos atribuídos por nós, de forma coletiva; social e
particular; individual, pela mediação semiótica da cultura. Uma atividade simbólica e
linguística que, por isso, apresenta um código específico, uma notação peculiar, uma
gramática própria, a qual não se recomenda ensinar, de forma rígida, descontextualizada e
inflexível, como tradicionalmente se tem feito.
A importância da música na vida da criança foi colocada em evidência com a criação
da lei n° 9.394/96, que instituiu o ensino da arte obrigatório em todos os níveis da educação
básica, foi a partir daí que a música ganhou espaço como linguagem na educação infantil, já
que a mesma faz parte da educação básica. O ensino da arte, a criança poderá estabelecer
relações mais profundas com sua própria produção artística, possibilitando-lhe intervir e
reinventar sua obra. Segundo Barbosa (1987), a história da arte ajuda as crianças a entender
algo do lugar e tempo nos quais as obras de arte são situadas. Nenhuma forma de arte existe
no vácuo: parte do significado de qualquer obra depende do entendimento de seu contexto.
A linguagem musical é caracterizada no momento em que há a integração entre a
criança, o objeto sonoro e o meio sociocultural em que vive, estruturando os de maneira que
formem significados. Expressar-se musicalmente é algo que já faz parte da nossa cultura,
sendo muito importante para a integração social e para o aspecto psicológico.
É bem verdade que a música se manifesta de várias maneiras no contexto da educação
infantil. Desde cedo a criança estabelece uma relação muito importante com a música, através
da cantigas de rodas, parlendas, cantigas de ninar e cantigas usadas em comemorações
escolares, estabelecendo assim relação com o mundo que a cerca. Segundo Brito (2003), os
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momentos de troca e comunicação sonoro-musicais favorecem o desenvolvimento afetivo e


cognitivo, bem como a criação de vínculos fortes tanto com o adulto quanto com a música.
Ainda, segundo a autora a criança é um ser brincante e através da brincadeira, faz
música e assim relaciona-se com o mundo no seu cotidiano. No entanto, a música é trabalhada
na escola de forma muito superficial, muitas vezes o professor desconsidera a bagagem
cultural trazida pelas crianças, não priorizando os conhecimentos prévios dos mesmos,
esquecendo que as crianças fazem parte de meio cultural e social diferentes.
A música no ensino infantil muitas vezes é usada para moldar padrões de
comportamentos impostos pela sociedade como lanchar, dormir, fazer silêncio ou fixar letras
e números. Essa prática também acontece para dar ênfase a datas comemorativas, como dia
das mães, dia o índio, páscoa, dia dos pais, natal dentre outras datas. Essa concepção de uso
da música, não potencializa os benefícios que a música pode trazer para o desenvolvimento
cognitivo, intelectual e cultural da criança.

A riqueza do processo de exploração e descoberta das delícias da música e


do movimento é menosprezada em função de uma ênfase na apresentação,
em um produto final mecânico, estereotipado, quase sempre pouco
expressivo. Ou seja, os professores tem conhecimento da importância da
música na educação, mas que ainda tem uma visão muito reduzida da
amplitude das práticas pedagógicas que podem ser realizadas com a música
(NOGUEIRA, 2005, p.03).

Para ter seus objetivos atingidos, o professor deve trabalhar com o conteúdo da música
em diferentes formas. Na educação infantil, o professor pode dispor de mecanismos que
possibilitem ao aluno o estímulo à criatividade, permitindo ao mesmo explorar a música
através de sons, ruídos, canto, brincadeiras, instrumentos musicais, usando situações do dia a
dia com a reprodução de pequenos sons usados em suas ações como lavar as mãos, escovar os
dentes, imitar um ruído de um animal, etc.
O ensino de música na educação infantil geralmente é pautado de práticas que
priorizam o ensino tradicional, onde não há significado, reflexão ou possibilidade de
experimentação da criança através da música. Mesmo com propostas de um ensino de música
onde a criança possa elaborar hipóteses e comparar possibilidades, é muito frequente a
concepção tradicional, possivelmente pela falta de conhecimento de novas práticas
pedagógicas nessa área do conhecimento.

Segundo Gobbi (2010), a criança é um ser brincante e que a música é criada ao


brincar, os sons, são transformados e recriam ambientes. É necessário que nossos ouvidos
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estejam atentos para perceber o modo como bebês e crianças maiorzinhas se expressam
musicalmente em cada período de suas vidas. Estamos ainda habituados, no interior das
creches e pré-escolas, ao trabalho com canções que apresentam versos em canções com
valores morais e com refrãos sugestivos de certos comportamentos, música entendida apenas
como canção e não como som e melodia.

Para Loureiro (2010), atualmente, é bastante comum encontrarmos escolas que se


mostram afônicas e como que contaminadas apenas pelo vírus do som mecânico. A presença e o
uso de aparelhos de som, CDs e DVDs é uma constante, muitas vezes tomados como o único
recurso disponível e utilizado pelo professor no desenvolvimento das práticas musicais em sala de
aula. Fato é que, mesmo que haja a disciplina música inserida na proposta pedagógica da escola e,
cotidianamente, como prática educativa em sala de aula, sua presença se dá de modo inadequado,
e nas mais diversas situações: como recreação ou recurso didático, com a função de relaxar,
comandar e disciplinar; ou, e, sobretudo, como protagonista de festas e datas comemorativas.
Conforme Souza (2011), através de uma aprendizagem multimodal aplicada na
música, podemos trabalhar o letramento multimídia que é a junção de várias linguagens e
recursos do processo de comunicação contemporâneo, tais como vídeos, programas de
computadores, música, sons, história em quadrinho, propaganda, cinema, etc., ou seja, todo e
qualquer elemento comunicativo que associe mais de uma forma de linguagem possibilitando
um processo de aprendizagem mais dinâmico. A aprendizagem multimodal é aquela que tem
por objetivo integrar som, imagem, texto, animação. Esse tipo de aprendizagem pode
promover várias vantagens ao contexto educacional, colaborando com o desenvolvimento da
aprendizagem do aluno, desde que seja usada adequadamente.
E a aplicação do letramento multimodal é relevante na construção de conhecimento,
facilitando a ponte entre envolvimento do aluno e compreensão do assunto estudado. Os
estudos chegaram a conclusão que a proposta da inclusão do hibridismo de linguagens e do
proveito da música infantil deve ser levada em consideração e explorada, possibilitando
enxergar novas propostas e rumos a serem tomados no intuito de melhorar o aproveitamento
cognitivo da criança.

2.1 O ensino da música numa perspectiva do artístico estético.

Ao trabalhar a música na escola, não podemos deixar de considerar os conhecimentos


prévios da criança sobre a música e o professor deve tomar isso como ponto de partida,
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incentivando a criança a mostrar o que ela já entende ou conhece sobre esse assunto, deve ter
uma postura de aceitação em relação à cultura que a criança traz.
Para Godoi (2011) em algumas situações pode ocorrer o fato de o professor, de uma
maneira despercebida, deixar de lado o meio cultural e social da criança, o que não é bom,
pois isso pode levá-la ao desinteresse pela educação musical. O envolvimento das crianças
com a música acontece desde quando são ainda pequenos. Essa presença desenvolve nelas
conhecimentos novos, como vocabulário, socialização e autonomia.
Ensinar música tem relação com a percepção e sensibilidade do professor em perceber
como esta pode ajudar em sua aula, considerando o que as crianças querem trabalhar
relacionado ao que o professor planejou. Ele pode propor atividades e coordená-las, mas é
preciso que as crianças participem também, escolham músicas ou atividades musicais.
A música tem como propósito favorecer e colaborar no desenvolvimento dos alunos,
sem privilegiar apenas alguns alunos, entendendo esta, não como uma atividade mecânica e
pouco produtiva que se satisfaz com o recitar de algumas cantigas e em momentos específicos
da rotina escolar, mas envolve uma atividade planejada e contextualizada.

Muitas vezes, ainda, vemos que a criança é impedida de usar sua


criatividade, pois a elas são propostas músicas ou atividades já prontas,
canções folclóricas já cantadas há décadas de maneira mecânica e em
momentos específicos da rotina escolar, sem saber o significado e sentido
daquilo do que está cantando, realizam apenas a memorização e gestos
corporais estereotipados que deixam as crianças desinteressadas e poucos
contribuem no seu desenvolvimento (GODOI, 2011, p. 21).

Na educação infantil, podemos buscar um trabalho que permita o aluno a


experimentar sensações e sentimentos como de tristeza, alegria, e que ele venha a expressar
esses sentimentos através da manipulação dos instrumentos musicais que lhes serão colocados
a disposição pelo professor.
Mesmo com a propostas de um ensino de música onde a criança possa elaborar
hipóteses e comparar possibilidades, é muito frequente a concepção tradicional,
possivelmente pela falta de conhecimento de novas práticas pedagógicas nessa área do
conhecimento. Conforme Loureiro (2010), nas escolas onde se desenvolvem práticas
musicais, há uma redução desse ensino a uma mera disciplina. Os professores continuam
reduzindo essa área de conhecimento à realização de atividades, vinculadas, principalmente, à
prática do canto, ou seja, como auxílio para outras práticas e atividades que orientam suas
ações em seu trabalho cotidiano. A realidade é que mesmo que no currículo da escola tenha a
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música como disciplina, sua utilização acontece de forma inadequada sendo usada nas mais
diversas situações como forma de recreação, de disciplinar, de um recurso pedagógico,
fugindo assim da sua principal finalidade.

Nesse sentido Nogueira (2005) nos diz que: em um momento em que os diferentes
profissionais envolvidos travam um significativo esforço no sentido de redimensionar as
práticas, as abordagens, os ambientes e formas de atuação, a música, paradoxalmente,
continua sendo trabalhada, e o que é mais grave, compreendida, de forma mecanicista e
convencional. Essa realidade se apresenta por vários motivos, que se inicia desde as razões
históricas que coloca em evidência a desvalorização das linguagens artísticas nas escolas e vai
até falta de formação para os docentes e a falta de ambientes e materiais adequados.

2.3 Marco Regulatório

Segundo os Referenciais Curriculares da Educação Infantil (RECNEI),

a linguagem musical é capaz de promover a integração entre os aspectos


sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a interação e
comunicação social. Por ser uma das formas importantes de expressão
humana, justifica-se sua presença no contexto da educação, de um modo
geral, e na educação infantil, em particular (BRASIL, 1998).

No RCNEI é mostrado claramente a importância da presença da música na educação


infantil. O mesmo tem o objetivo de dar suporte ao professor, dando orientações sobre os
objetivos e conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. Esse documento compreende a
música como linguagem e área de conhecimento, considerando que esta tem estruturas e
características próprias, devendo ser considerada como: produção, apreciação e reflexão
(BRASIL, 1998).
Ao analisarmos as Diretrizes e Bases Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL,
2010), verificou-se que no documento há recomendações para as práticas pedagógicas que
compõem a proposta curricular da Educação Infantil. Elas devem ter como eixos norteadores
as interações e a brincadeira e garantir experiências que:

Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo


domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal,
plástica, dramática e musical;
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Promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas


manifestações de músicas, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança,
teatro, poesia e literatura;

De acordo com o RCNEI em seus objetivos, o trabalho com música para crianças de
0 a 3 anos deve ser organizado de uma maneira que elas possam desenvolver as seguintes
capacidades: ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e
produções musicais; brincar com a música, imitar inventar e reproduzir criações musicais.
Nessa fase, a expressão musical é caracterizada dando ênfase aos aspectos intuitivo e afetivo e
através da exploração ( sensório-motora) dos materiais sonoros.
Os conteúdos a serem trabalhados nas instituições de educação infantil, deverá
conforme o RCNEI, antes de tudo, respeitar o nível de percepção e desenvolvimento (musical
e global) das crianças em cada fase, bem como as diferenças socioculturais entre os grupos de
crianças das muitas regiões do país. E estão organizados em dois blocos: “O fazer musical” e
“Apreciação musical”.
O fazer musical se denomina através da improvisação, da composição e interpretação.
E a apreciação musical diz respeito a escuta e a interação com vária músicas. Como diz o
RCNEI o trabalho com a apreciação musical deverá apresentar obras que despertem o desejo
de ouvir e interagir, pois para essas crianças ouvir é, também, movimentar-se, já que as
crianças percebem e expressam-se globalmente.
Quando a música for trabalhada em sala de aula, o professor deve ter a consciência
que ela é uma forma de expressão e uma forma de conhecimento que está ao alcance das
crianças. A linguagem musical é um importante meio para o desenvolvimento da expressão,
do equilíbrio, da auto-estima e autoconhecimento, além de ser uma forma de integração
social. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção
e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados.( RCNEI,1998)

3. Método

A metodologia que foi utilizada para a realização do trabalho, teve como base a
pesquisa qualitativa voltada para uma análise documental (LUDKE; ANDRÉ, 1986). O
pesquisador deverá examinar o material destacando os aspectos mais recorrentes, verificando
se alguns temas, observações e comentários aparecem várias vezes mas em contexto diferente.
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Esses aspectos que se evidenciam com regularidade podem ser considerados como base, para
o primeiro agrupamento das informações em categorias.
Entretanto, os dados que não forem agrupados nesse primeiro momento não devem
ser esquecidos, eles deverão ser classificados em um grupo a parte para serem examinado
posteriormente. Depois da formação das categorias, processo que, chamam de convergente a
próxima etapa de acordo com os autores “é um enriquecimento do sistema mediante um
processo divergente, incluindo as seguintes categorias: aprofundamento, ligação e
ampliação”. Tendo como base os dados obtidos, o pesquisador examina novamente o material
analisado com o objetivo de aumentar o seu conhecimento, ampliando sua visão e construindo
novos conceitos.
Para a análise dos dados tomou-se como referência a análise de conteúdo de Bardin
(2009) constitui-se de algumas etapas para a consecução da análise de conteúdo, organizadas
em três fases: 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados,
inferência e interpretação. A primeira etapa, denominada pré-análise, é a fase que compreende
a organização do material a ser analisado com vistas a torná-lo operacional, sistematizando as
ideias iniciais. Compreende a realização de quatro processos: (i) a leitura flutuante
(estabelecer os documentos de coleta de dados, o pesquisador toma conhecimento do texto,
transcreve entrevistas); (ii) escolha dos documentos (seleção do que será analisado); (iii)
formulação de hipóteses e objetivos (afirmações provisórias, que o pesquisador se propõe a
verificar); (iv) elaboração de indicadores (através de recortes de textos nos documentos
analisados, os temas que mais se repetem podem constituir os índices).
Nesta fase, é importante que se atente aos seguintes critérios na seleção dos
documentos: Exaustividade: atentar para esgotar a totalidade da comunicação;
Representatividade: os documentos selecionados devem conter informações que representem
o universo a ser pesquisado; Homogeneidade: os dados devem referir-se ao mesmo tema;
Pertinência: os documentos precisam ser condizentes aos objetivos da pesquisa.
Exploração do material é a segunda etapa, diz respeito a codificação do material e na
definição de categorias de análise (rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de
elementos, sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres
comuns destes elementos) e a identificação das unidades de registro (corresponde ao
segmento de conteúdo, temas, palavras ou frases) e das unidades de contexto nos documentos
(unidade de compreensão para codificar a unidade de registro que corresponde ao segmento
da mensagem).
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Esta etapa é de suma importância, pois irá possibilitar o incremento das interpretações
e inferência. Sendo assim, a codificação, a classificação e a categorização são básicas nesta
fase). Na construção das categorias, o pesquisador deve-se ater ao critério exclusividade, a
fim de que um elemento não seja classificado em mais de uma categoria. A terceira e última
etapa consiste no tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Nesta etapa ocorre a
condensação e o destaque das informações para análise, culminando nas interpretações
inferenciais; é o momento da intuição, da análise reflexiva e crítica.
A análise foi dividido em categorias e sub-categorias (BARDIN, 2009), e teve como
objetivo identificar aproximações e distanciamentos conceituais da proposta musical do
Manual Palavra Cantada e as atividades contidas no Dvd. O material se apresenta em Manual,
Cd e Dvd, entretanto o objeto de estudo escolhido para análise foi o Manual e o Dvd, que
contém 15 músicas, dentre as quais escolhemos 7 para nos aprofundarmos na análise.
O Dvd foi escolhido por ter mais possibilidade de usar imagens e outros elementos da
linguagem musical. O manual é composto por sugestões e atividades que tem como objetivo
dar suporte para o professor fazer um trabalho diferenciado em sala de aula. Tem como título
“ Brincadeirinhas Musicais”, relacionando a brincadeira com a música. Em cada música os
autores fazem comentários dando sugestões de conteúdos a serem trabalhados, dando
exemplos de como esses conteúdos podem ser trabalhados a partir de outras músicas.
O manual também é dividido em duas partes: Fazer música é brincar com os sons e o
Ensino musical em cada brincadeira, oferecendo aos professores sugestões de materiais de
apoio que servirá de auxilio para promover o desenvolvimento musical do aluno. No DVD,
em cada música tocada é apresentado um cenário diferente, composto por instrumentos
musicais e vários brinquedos. A maioria das músicas são tocadas dentro de um estúdio
fechado, com a participação de adultos e crianças, na qual os adultos tocam os instrumentos,
cantam e fazem os gestos e coreografias para as crianças reproduzirem.

4. Resultados e Discussão

As categorias foram encontradas a partir da leitura do manual, onde percebemos alguns


conteúdos de maior destaque, aos quais o professor deveria dedicar maior atenção. A partir
das categorias encontramos as sub-categorias, enfatizando em cada momento algum aspecto
importante da linguagem musical.
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Quadro 1- Demonstrativo das Categorias e Sub-Categorias no Manual Palavra Cantada.


Categorias Sub-Categorias
Cultura corporal e consciência corporal
- Reconhecer a imagem do seu corpo.
Movimento Manipulação sensorial motora do som
- É manipular as fontes sonoras,
experimentando os mais variados gestos
(bater, chacoalhar etc).
Brincadeiras sons e músicas
- Brincadeiras de imaginação e faz de conta
para ressignificar a realidade em que a
criança esta inserida.
Repertório cultural Brincadeiras de rodas
- Brincadeira rica que pode trabalhar vários
aspectos, o corpo, o canto, a imaginação.
Brincadeiras tradicional
-Brincadeiras que espelham e sintetiza a
identidade cultural.
Atividades de música para...
Música funcional - Utilizada para exercer varias funções na
escola.
Apreciação
Desenvolvimento musical - Estimular o abito de ouvir música.
Fonte: Dados de pesquisa (2016)

Com base nas categorias escolhidas no manual, foi decidido analisar os mesmos
aspectos no DVD, encontrando os conteúdos musicais que compõe uma música e analisando
de que forma pode contribuir para o desenvolvimento musical da criança.

Quadro 2- Demonstrativo das Categorias, Sub-Categorias e Conteúdos Musicais Dvd.


Categorias Sub-Categorias Conteúdos Musicais
Sequência de gesto
-Brincadeira mecanizada
utilizada para uma função
social que é “arrumar a
bagunça” depois da Som
brincadeira.
Ritmo
Música funcional
-Brincadeira de lembrar a Melodia
sequencia dos gestos que
acompanham a letra da
canção.

-Comunicação através de
gestos.
Brincadeiras tradicionais
Ritmo
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Repertorio cultural -Cantigas de rodas Movimento


Melodia
-Repertório e resgate de
cantos e brincadeiras
tradicionais.
Consciência corporal
Ritmo
- Brincadeira de tomar
banho, esfregando o Som
corpo como se estivessem
Arranjo
Movimento debaixo do chuveiro.
Melodia
-Esticar partes do corpo,
Rima
expressar corporalmente
os sons.
Fonte: Dados de pesquisa (2016)

O manual nos diz que a música é uma linguagem expressiva, com seus códigos
próprios, e que uma das funções da escola é proporcionar o seu desenvolvimento e
aprofundamento. No entanto, o simples cantar para organizar as atividades, mesmo sendo esta
uma atividade sonora, não é suficiente para abranger todas as possibilidades que a música
contempla. É bem verdade que ela está fazendo parte de uma forma sistemática da rotina da
criança em sala de aula. A cada rotina do dia uma música é cantada marcando aquele
momento vivenciado pela criança, como por exemplo: música para o bom dia, para fazer a
fila, etc . É o que chamamos de música funcional.
Vimos que no Dvd a música “Para parar a brincadeira” é classificada como uma
música funcional, pois ela foi usada para as crianças cumprir uma tarefa, que foi guardar os
brinquedos. Após a brincadeira o ambiente estava “bagunçado” e a música cantada no Dvd só
teve um único objetivo, colocar todos os brinquedos no seu devido lugar. Conforme Silva
(2011), não é possível continuarmos utilizando a música somente enquanto um recurso
pedagógico, ou seja, para o ensino de conteúdos didáticos, para a difusão de e atitudes
socialmente adequados ou em alusão aos temas cíclicos (datas comemorativas) do calendário
cristão-ocidental, como se fez e ainda se faz nas escolas da infância.
Desse modo vimos que o professor está utilizando a música para auxiliá-lo no seu
ensino, ao invés de usar a música só por usar, pode aproveitar, como por exemplo o momento
em que as crianças vão lavar as mãos para lanchar e explorar os mais variados sons, como a
água que sai da torneira, água escorrendo pelo ralo, etc. Nesse momento de exploração do
ambiente a curiosidade das crianças podem ser aguçadas de tal forma que elas podem criar
outras situações para ver o tipo de som produzido. Nessa atividade várias características do
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som podem ser trabalhadas, em relação ao timbre, intensidade, altura e duração, deixando de
ser apenas uma música funcional.
Com relação ao repertório cultural, o manual ressalta que esse tipos de cantos e
brincadeiras tradicionais do Brasil sempre fez parte da vida das crianças e das escolas de
educação infantil. Mas esse fazer musical está cada vez menos presentes nos quintais, nas
ruas, nas casas e nas escolas, assim como as rodas de versos, as brincadeiras cantadas, as
parlendas, os acalentos e as cantigas de ninar. Preservar essas manifestações é também
reconhecer e valorizar a identidade da criança. Sendo assim, o manual afirma que cabe a toda
sociedade, e também à escola, a valorização desse repertório, pois ele é parte essencial da
nossa cultura, que vem sendo muito descuidada. Então é importante refletir: Por que esse
resgate é necessário?
No Dvd, esse resgate foi feito nas músicas “Caranguejo não é peixe” “O cravo brigou
com a rosa” na qual as crianças vão fazendo os gestos e movimentos tradicionais da canção,
batendo palmas, os pés e rodando. Na música “A canoa virou” que também faz parte do
repertório tradicional, além de fazer esse resgate ela aborda outros temas como a imaginação e
o faz de contas, quando as crianças através de um pano simboliza as ondas do mar. É através
da brincadeira que a criança poderá desenvolver a sensibilidade musical.
Do ponto de vista da linguagem musical, as brincadeiras de roda também são muito
ricas, porque trabalham de forma global a percepção auditiva, o canto, o corpo, o sentido
rítmico, os diferentes andamentos de música. Nesta perspectiva, Silva (2011), ressalta que
cabe a instituição educativa recuperar as cantigas de rodas, os jogos cantados do cancioneiro
popular, trazendo-as de volta para as praticas pedagógicas na infância, sem negar o acesso as
músicas do mundo adulto ou as demais músicas da indústria cultural.
Segundo Gobbi (2010), a canção é importante como brincadeira, como conhecimento
cultural, como contato com o folclore brasileiro. No entanto, não podemos deixar de lado o
contato com outros gêneros musicais, de outras culturas e, principalmente com os sons de
todas as partes do mundo, considerando também o que a criança porta advindo de seu
contexto social, familiar, cultural.
De acordo com o manual vimos que é fundamental a exploração dos sons corporais em
qualquer faixa etária, mas na primeira infância essa atividade adquire um significado maior,
pois é nessa fase que a criança forma a sua autoimagem e se apropria do próprio corpo assim,
explorar e conhecer as possibilidades sonoras do corpo amplia o conhecimento de si mesmo.
Na música “Tchibum da cabeça ao bumbum”, o manual sugere que antes de começar a
música haja uma conversa com as crianças, sugerindo uma atividade que trabalhe as partes do
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corpo, afirmando que a partir dos dois anos a criança aumenta gradualmente o controle sobre
os seus movimentos e seu próprio corpo.
Como diz o RCNEI que no plano da consciência corporal, nessa idade a criança
começa a reconhecer a imagem de seu próprio corpo, o que ocorre principalmente por meio
das interações sociais que estabelece e das brincadeiras. Propor brincadeiras onde os alunos
descrevem os sons que emitem quando acordam, escovam os dentes, comem e colocam suas
roupas e sapatos. Eles ainda podem reproduzir sons de animais, cachorros, cavalos e o som
dos carros. Brito (2003), relata em especifico que “esses jogos trabalham usando ações dos
cotidianos dando base para desenvolver muito a criatividade e atenção das crianças”.
No entanto, no Dvd a música “Tchibum da cabeça ao bumbum” não desenvolve a
consciência corporal. Ela trabalha a combinação dos sons através dos instrumentos musicais,
colocando em destaque um instrumento que não é muito conhecido que é a KALIMBA. As
crianças vão cantando ouvindo o arranjo dos sons e reproduzindo o seu próprio instrumento e
com palmas. Conforme Brito (2003), é fato indiscutível que o ritmo se aprende por meio do
corpo e do movimento. Partir dos movimentos naturais dos bebês e crianças, ampliando suas
possibilidades de expressão corporal e movimento, garante a boa educação rítmica e musical.
O manual afirma que quando se ouve um som o corpo reage com o movimento.
Sendo assim foi possível perceber que a música “Sai preguiça” contida no Dvd faz
essa relação de som e movimento, essa música contém movimentos lentos e rápidos. As
crianças vão fazendo os gestos e movimentos de acordo com a intensidade do som.
Como diz o manual quanto mais você se permite brincar mais você vai desenvolver
sua sensibilidade para os fenômenos sonoros, mais você vai perceber a maneira como a
criança se expressa musicalmente, mais você vai saber fornecer novos materiais para
promover o desenvolvimento musical dos seus alunos. E a imaginação e o faz de conta são
elementos presentes nas brincadeiras infantis, a partir deles a criança cria, recria
ressignificando os elementos da realidade.
Na música “Faz de conta” as crianças conheceram um pouco sobre um outro jeito de
conversar, por meio de gestos. Com essa canção o manual vai abordar o som como matéria-
prima da música, destacando a importância da exploração sonora dos objetos, dos
instrumentos musicais, da voz, dos sons corporais e dos elementos da natureza. Nessa música
as crianças se expressam usando a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), o som foi
trabalhado por meio de gestos que dispensam a comunicação verbal. Segundo Silva (2011), a
música é muito mais: é Arte, é linguagem, é movimento, é cultura. Por isso, deve-se pensar
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em uma proposta curricular adequada, definida, que possibilite a experimentação, a


criatividade, a vivência, a apreciação e o gosto.
Ao se falar em apreciação musical, o manual destaca que a apreciação tem como
propósito fundamental criar e estimular o hábito de ouvir música. Para isso, é preciso que o
prazer acompanhe desde sempre a escuta, e cabe aos pais e professores despertar esse desejo
nas crianças desde a mais tenra idade. Entretanto, nas músicas analisadas não foi possível
perceber a presença de um dos objetivos da educação musical, que é a criação do hábito de
aquietar-se, relaxar e ouvir uma música.
Diante dessa análise foi possível perceber que no Dvd, a música está sendo usada de
uma forma funcional, ou seja, a música não está sendo trabalhada como uma linguagem
musical, e sim o fazer pelo fazer sem contextualização.
O manual na sua teorização ele traz os elementos que constitui a música como
linguagem, mas quando vai fazer a transposição para o Dvd, as atividades didáticas eles se
afastam da música como linguagem. Dizer que a música é uma linguagem artística significa
entendê-la como tradutora de significados e sentidos atribuídos por nós, de forma
coletiva/social e particular/individual, pela mediação semiótica da cultura.
Quando as sete músicas foram analisadas, vimos que a música foi trabalhada dando
ênfase apenas a reprodução de movimentos. Em todas as músicas pudemos perceber que a
figura central é o adulto, vimos que a participação da criança se resume em imitar o que os
adultos fazem.
Diante do que encontramos no confronto entre o Dvd e o manual, foi notório afirmar
que no Dvd a linguagem musical não é apresentada de maneira que as crianças pudessem
contextualizar, apreciar e vivenciar o ensino da música, contradizendo o que diz Barbosa
(1987), em sua abordagem triangular. Para que o ensino da linguagem musical seja
vivenciada de forma a se aproximar da abordagem triangular deveria contemplar ou se
apresentar nas três dimensões. Contudo, na sequencia das músicas analisadas a dimensão mais
saliente foi a do fazer brincadeiras musicais.
Pudemos perceber que em nenhuma das musicas analisadas houve aproximação plena
com a abordagem triangular. Isto pode ser verificado nas três da sete músicas: em Tchibum da
cabeça ao bumbum, Caranguejo não é peixe e A canoa virou, a ênfase do ensino da música
está contextualizar e no fazer. E as demais músicas, Faz de conta, Sai preguiça, Depois de e
Para parar a brincadeira a ênfase foi apenas no fazer por fazer, sendo caracterizada pela
reprodução de movimentos.
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5. Considerações finais

Esta pesquisa buscou analisar elementos que lhe deem condição de ampliar a
percepção do confronto entre o Manual e Dvd. Dessa maneira essa pesquisa pode contribuir
para que seja repensado o papel da música na educação infantil, não só criticando os
professores, mas revendo sua formação, os recursos que eles tem a sua disposição, e tentando
ressignificar a música na educação infantil, mostrando que é possível uma prática consistente
com a música na educação infantil.
E com base nas pesquisas e leituras realizadas, podemos dizer que a música é essencial
na formação das crianças, pois é rica em informações, propiciando, promovendo e
desenvolvendo o cognitivo das crianças.
Ela já se faz presente no dia a dia da educação infantil, mas deve ser trabalhada com
objetivos e não apenas como forma de repressão, disciplina ou memorização. E cabe aos
professores a ação de facilitar o dia a dia do ensino aprendizado, com as mediações que trarão
resultados positivos não somente no processo da educação musical, mas também nas
disciplinas inclusas no currículo escolar.
O professor necessita aprender e mudar sua ação educativa em prol das crianças, com
o objetivo de que os alunos adquiram a capacidade de se expressarem livremente, e com a
meta de usar sua criatividade e estimular o desenvolvimento do conhecimento cognitivo e
linguístico dos alunos. Quando o professor pensa em música, costuma pensar que é algo
muito difícil, feita apenas para profissionais especializados na área, ou para alguém que tem
talento para lidar com essa arte tão complexa. Foi possível perceber que a música é um fazer
cultural de muita importância e que vivemos envolvidos por ela, e cabe ao professor criar
possibilidades para que as crianças ampliem esse universo de sons, ritmo e melodia. E é
através da escuta, a sensibilidade auditiva que a criança vai despertar a percepção para os sons
a sua volta.
Vemos no ambiente escolar, a música vem sendo tratada como algo pronto, que tem
que ser copiado e mantido, tanto em ensaios de comemorações festivas, para cantar
corretamente, como nas expressões e na dança, com movimentos criados pelos professores e
as crianças tendo que imitar do mesmo jeito, isso se torna algo chato e irritante para elas, que
ficam desanimadas, sem interação e participação.
Nesse contexto da educação infantil, a música é fortemente usada nas questões de
formação de hábitos, atitudes e comportamentos. Isso percorre uma longa história, nos dias
atuais vem sendo realizadas pesquisas e propostas para mudanças, mas ainda tem a
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permanência de cantar as mesmas músicas para a hora do lanche, de escovar os dentes e de


vários momentos e comemorações de eventos.
A música é a mudança de um trabalho de reprodução, para um trabalho que se
constrói, de uma maneira agradável, despertando o interesse das crianças, na participação,
construção, reflexão e apreciação, propondo que elas criem novas músicas, danças,
movimentos, ritmos e que cada um tenha sua contribuição, expondo ideias, sentindo-se livres
e tendo prazer de apresentar algo que foi criado por eles mesmos.
Além disso fazer com que as crianças possuam ou não valores educativos será
relevante a formação delas nos anos iniciais por desenvolver o gosto, a apreciação musical,
autonomia e estimular o senso crítico. Apresentar e dar oportunidade à criança de conhecer
os vários ritmos e gêneros musicais trará a esta criança a possibilidade de tornar-se um ser
critico capaz de comunicar-se por meio da diversidade musical.
O problema que encontramos no material é que ele tem uma forte ênfase na cultura
corporal, na música funcional. O que percebemos desse modo, que a concepção de música
passada nesse material em alguns momentos ela se distancia na hora de fazer as atividades da
música como linguagem artística.
Concluímos que a ênfase do material vai ser no fazer e não nas três dimensões em que
a música deve abordar como linguagem, de acordo com Barbosa (1987). Ele está pelo fazer,
com a imitação e por ultimo um programa todo voltado com a música como funcional. Ele é
coerente quando diz que é atividades por atividades, não dar uma brecha faz tudo pela
imitação, pouco espaço para a produção da criança produzir seus movimentos corporais, os
movimentos da cultura dela e não os movimentos da cultura do professor.
Nessa ótica, a música como linguagem tem muito a contribuir com a sua
expressividade por meio das manifestações/produções sonoras, movimentos corporais e
ritmos que utilizam os sentidos humanos, fazendo com que a criança adquira a leitura do ser
individual e social, e assim transformar suas relações interpessoais.
As atividades musicais realizadas na escola não visam a formação de músicos, e sim,
através da vivência e compreensão da linguagem musical, propiciar a abertura de canais
sensoriais e inclusivos, facilitando a expressão de emoções, ampliação da cultura geral e
contribuição para a formação integral do ser.
Assim sendo, constatamos que a música quando trabalhada desde cedo no contexto
escolar das crianças ajuda de maneira prazerosa o aprendizado e o trabalho em equipe,
fazendo-se necessária a sensibilização dos educadores para despertar a sensibilização e
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conscientização das possibilidades que a música oferece para o bem estar e o crescimento do
saber dos alunos.
Para a nossa formação pessoal, o trabalho foi um aprendizado, pois obtivemos
conhecimento concreto sobre a importância da música na vida não só das crianças, mas do
individuo em geral. Saber um pouco como lidar com a música na realização da aula e a
contribuição que ela traz é um incentivo para utilizá-la como recurso pedagógico e não um
mero passa tempo. Concluirei o curso de graduação com uma ampla bagagem sobre a música
e sua importância mesmo sabendo que há muito a aprender e ser pesquisado.

Referências

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Livro do professor v.1. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2012 – ( Palavre Cantada ).

BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São
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BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009.

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NOGUEIRA, Monique Andries. Música e educação infantil: possibilidades de trabalho na


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SOUZA, Lara Carvalho Assunção. Aprendizagem multimodal aplicada na música


infantil: um olhar sobre o grupo Palavra Cantada.Trabalho de Conclusão de Curso (
Graduação em Pedagogia ). Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2011

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