Saul Panibra 1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FÍSICA

Um Estudo da Teoria de Cordas e Supercordas

Saúl Josué Panibra Churata

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Fı́sica do Instituto de Fı́sica da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do tı́tulo de Mestre
em Ciências (Fı́sica).

Orientador: Henrique Boschi Filho

Rio de Janeiro

Outubro de 2015
P187e Panibra Churata, Saúl Josué.
Um Estudo da Teoria de Cordas e Supercordas / Saúl
Josué Panibra Churata.– Rio de Janeiro, 2015.
98f.
Orientador: Henrique Boschi Filho.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Instituto de Fı́sica, Programa de Pós-graduação em Fı́sica,
2015.
1. Cordas bosônicas. 2. Quantização Covariante, Cone de
Luz e BRST . 3. Supersimetria 4. Formalismo RNS. 5. Formalismo
GS. I. Boschi Filho, Henrique, orient. II.Tı́tulo.
iii

Resumo
Um Estudo da Teoria de Cordas e Supercordas
Saúl Josué Panibra Churata

Orientador: Henrique Boschi Filho

Resumo da Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Fı́sica do Instituto de Fı́sica da Universidade Federal do Rio de
Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do tı́tulo de
Mestre em Ciências (Fı́sica).

Neste trabalho é feito um estudo da teoria de cordas e supercordas. Começamos por

considerar aspectos básicos da corda clássica e, posteriormente, os aspectos da quantização


da corda. Fazemos uma revisão da quantização covariante, na qual a invariância de
Lorentz é manifesta. Consequentemente, são encontrados estados fantasma (estados com

norma negativa). Posteriormente, consideramos quantizar a corda clássica no calibre do


cone de luz, onde a invariância de Lorentz não é manifesta. Mas a teoria está livre de
estados fantasmas. Também, esta quantização nos fornece a dimensionalidade crı́tica do

espaço-tempo, D = 26.

Também, revisamos a quantização BRST. Nesta nova abordagem é livre dos estados
fantasmas e também nos fornece a dimensionalidade crı́tica do espaço-tempo.

Estudamos também aspectos básicos da teoria das supercordas. Em primeiro lugar,


nós revisamos o formalismo RNS. Este formalismo tem supersimetria na folha de mundo
mas não tem supersimetria no espaço-tempo. Portanto, neste formalismo a quantização

covariante é realizada apenas na folha de mundo. Finalmente, nós revisamos o formalismo


GS. Este formalismo tem a supersimetria no espaço-tempo, exatamente o oposto do que
iv

acontece no formalismo RNS. A quantização no formalismo GS só é possı́vel no calibre


do cone de luz. Portanto, a invariância de Lorentz não é manifesta.

Palavras-chave: Cordas bosônicas, Calibre do cone de luz, Formalismo RNS, For-


malismo GS.
v

Abstract
A Study of the theory of Strings and Superstrings
Saúl josué Panibra Churata

Orientador: Henrique Boschi Filho

Abstract da Tese de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Fı́sica do Instituto de Fı́sica da Universidade Federal do Rio de Janeiro -
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do tı́tulo de Mestre
em Ciências (Fı́sica).

In this work is made a study the string and superstring theory. We start considering
some basic aspects of classical string and subsequently aspects of quantization of the

string. We make a review of the covariant quantization, where the Lorentz invariance is
manifest. Consequently, states with negative norm (ghost states) are found. Subsequently,
we will quantize the classical string in the light-cone gauge. Here the Lorentz invariance

is not manifest, but is free from ghost states. This quantization also gives us the critical
dimensionality of spacetime D = 26.
We review the BRST quantization. This new approach is free from ghost states and

also gives us the critical dimensionality of spacetime.


We also study basic aspects of the superstring theory. First, we review the RNS for-
malism. This formalism have supersymmetry in the world sheet but not in the spacetime.

Therefore, in this formalism the covariant quantization is performed only on the world
sheet. Finally, we review the GS formalism. This formalism have supersymmetry in the
spacetime, exactly the opposite of what happens in the RNS formalism. The quantiza-

tion in the GS formalism is only possible in the light-cone gauge. Therefore, its Lorentz
vi

invariance is not manifest.

Keywords: Bosonic strings, light-cone gauge, RNS formalism, GS formalism.


vii

Agradecimentos

Primeiro eu gostaria de agradecer a minha famı́lia que me apoiou desde o inı́cio a


continuar nesta bela aventura do conhecimento, porque sem o apoio deles não teria sido
capaz de chegar até aqui.

Agradeço a minha namorada por seu apoio incondicional, a meus amigos do Peru,
Colômbia e Brasil por ensinar-me, explicar-me, aconselhar-me e especialmente por todos
os bons momentos que passei com eles.

Quero agradecer a meu orientador Henrique pela paciência durante todo meu aprendi-
zado neste belo mundo da fı́sica. Agradeço ao Instituto de Fı́sica da UFRJ por receber-me
e dar todas as comodidades que eu poderia pedir. Quero agradecer a CAPES pelo finan-

ciamento nestes dois anos.


viii

Sumário

Sumário viii

1 Introdução 1

2 Cordas relativı́sticas 5

2.1 Funcional da área para superfı́cies no espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.1.1 Invariância da área por reparametrização . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.2 A ação de Nambu-Goto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.2.1 Equações de movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.3 A corda Bosônica livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2.3.1 Fixando um calibre para hαβ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2.3.2 Coordenadas do cone de luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.4 Solução da equação da onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2.4.1 Cordas abertas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.4.2 Cordas fechadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2.5 Vı́nculos de Virasoro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3 Quantização da corda 23

3.1 Quantização covariante das cordas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

3.1.1 Vı́nculos de Virasoro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.2 Quantização no cone de luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3.2.1 Regularização pelo método do corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33


ix

3.2.2 Regularização pelo método da função Zeta . . . . . . . . . . . . . . 36


3.3 Teoria de campo conforme em d = 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

3.3.1 Transformações conforme em teoria das cordas . . . . . . . . . . . . 42


3.4 Quantização BRST . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.4.1 Quantização BRST das cordas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

4 Teoria de Supercordas 48
4.1 Supersimetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.2 Formulação das supercordas de Ramond-Neveu-Schwarz . . . . . . . . . . . 51

4.2.1 Ação da corda supersimétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52


4.2.2 Condições de fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2.3 Quantização covariante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4.3 Formulação das supercordas de Green Schwarz . . . . . . . . . . . . . . . . 65


4.3.1 Ação para D0-brana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.3.2 Ação para D1-brana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

4.3.3 Calibre do cone de luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72


4.3.4 Quantização canônica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

5 Conclusão 78

A Invariância da funcional da área por reparametrização 81

B Partı́cula Relativı́stica 84

C O operador de Virasoro L0 86

D Matrizes Gamma 88

Referências Bibliográficas 90
x
1

Capı́tulo 1

Introdução

A teoria de cordas é um dos resultados mais impressionantes da mente humana, que-


rendo encontrar o sonho da fı́sica fundamental, uma teoria para tudo. A teoria de cordas
propõe que os componentes mais elementares da natureza não são partı́culas, mas são ob-

jetos unidimensionais que vibram, chamadas cordas. Cada modo de vibração das cordas
representa um estado quântico da partı́cula fundamental (elétrons, fótons, grávitons, etc).

A teoria de cordas em seus inı́cios na década de 60 era conhecida com o nome de


teorias duais. Neste tempo a fı́sica experimental encontrou uma grande quantidade de

hádrons (partı́culas que interagem fortemente) que satisfazem a relação,

J ∼ m2 α 0 , (1.1)

onde J é o momento angular, m é a massa e α0 é a inclinação de Regge.

A interações fortes tem uma mirı́ade de hádrons. Portanto, fazer uma teoria quântica
de campos de interações fortes exigiu a adição de mais campos. Além disso, os hádrons
encontrados tinham spin maiores que um. Não se sabia construir uma teoria quântica de

campos consistente para partı́culas massivas com spin maior que um. A matriz S surgiu
em 1943. Esta foi uma boa ferramenta para os modelos duais. A dualidade foi descoberta
experimentalmente em 1967 por Dolen, Horn e Schmid [1]. A partir desses resultados,

os modelos da matriz S e a hipótese da dualidade eram conhecidos como modelos duais


2

(para mais referências vide [2, 3]). Gabriele Veneziano ao estudar as interações fortes em
altas energias [4], postulou em 1968 uma amplitude de espalhamento.

Γ(−α(s))Γ(−α(t))
A(s, t) = , (1.2)
Γ(−α(s) − α(t))
onde Γ é a função Gama, α(s) = α(0) + α0 s e s, t, u são as variávies de Mandelstam,

s = −(p1 + p2 )2 , t = −(p2 + p3 )2 e u = −(p1 + p3 )2 , aqui pi são os momentos.


Mas a amplitude de Veneziano para o espalhamento em altas energias em ângulos
fixos (s → +∞, t → −∞, com s ou t fixos), não estavam de acordo com as experiências.

Em seguida em torno de 1973 e 1974, foi proposta uma teoria de calibre não abeliana
com o grupo de simetria SU (3). Esta teoria é a Cromodinâmica Quântica (QCD). Esta
nova teoria explica bem as interações fortes a altas energias e foi consistente com os dados

experimentais. Então, os modelos duais sofreram uma queda, que felizmente, não durou
muito tempo.
Nos anos 70 observou-se uma mudança de ponto de vista da teoria de cordas. O

objetivo inicial foi descrever somente hadrons, mas mudou para descrever uma teoria
das partı́culas elementares [5, pág. 173–175]. Em 1974, J. Scherk e J.H. Schwarz [6],
descobriram que a teoria das cordas predizia uma partı́cula sem massa e de spin 2, que

pode estar associada com a gravitação. A teoria novamente chamou a atenção para ser
uma teoria da unificação.
A teoria das cordas foi criticada por algumas predições, como a apresentação de es-

tados com norma negativa (fantasmas) e apresentação de táquions (estados com massa
quadrática negativa). A solução destes problemas teve consequências que, em princı́pio,
pareciam piorar a teoria, mas posteriormente foram o ponto forte da teoria de cordas. Par-

ticularmente uma predição foi a dimensão crı́tica do espaço-tempo D = 26 para cordas


bosônicas. Uma estratégia para resolver o problema do táquion foi incorporar os campos
fermiônicos. Esta incorporação dá como resultado um novo conceito chamado supersime-

tria. A supersimetria foi um trabalho original de Ramond [7] e Neveu-Schwarz [8](pelo


3

ano de 1971). Eles realizaram uma supersimetria na folha de mundo (2D), que posteri-
ormente foi generalizada por Wess e Zumino ao espaço-tempo 4D, para mais referências

vide [9].

A teoria de cordas com supersimetria agora é chamada teoria de supercordas. Por-


tanto, é uma teoria para bósons e férmions. Porém, em 1985 tinham-se descoberto cinco
teoria de supercordas: tipo I (vide [10, 11]), tipo IIA, tipo IIB, heterótica SO(32) e

heterótica E8 × E8 (vide [12]). A teoria tipo I, e as duas teorias Heteróticas têm super-
simetria N = 1, as teorias tipo IIA e tipo IIB têm simetria N = 2. A teoria tipo I
não tem orientação enquanto as quatro teorias restantes têm orientação (diferenciam os

movimentos esquerdos e direitos). A teoria de cordas tipo IIA tem quiralidades opostas
e a tipo IIB têm a mesma quiralidade, as teorias heteróticas diferenciam-se pelos grupos
de simetria SO(32) e E8 × E8 . Mas a existência de cinco teorias de cordas é algo contra-

ditório se nós queremos só uma. Em torno de 1995 surgiram certas ideias que resolveram
ao menos em parte o problema. As cinco teorias de cordas estavam relacionadas por
uma rede de dualidades, as mais conhecidas são a dualidade T e a dualidade S. Neste

trabalho tratarei de explicar a formulação da teoria de cordas; desde cordas bosônicas até
supercordas.

Neste trabalho estudam-se as teorias de cordas bosônicas e supercordas. No capı́tulo

2, começa-se estudando, o funcional da área em 3D, até sua generalização em mais di-
mensões. Estudamos a ação de Nambu-Goto, vemos suas simetrias e sua desvantagem ao
momento de resolver sua equação de movimento. Também estudaremos a ação de Polya-

kov e notaremos a diferença com a ação de Nambu-Goto. As equações de movimento da


ação de Polyakov é mais fácil de resolver. Esta ação tem duas simetrias importantes: a
invariância pela reparametrização e a invariância de Weyl que serviram no desenvolvi-

mento da teoria. No capı́tulo 3, estuda-se a quantização da corda. Começamos com a


quantização covariante, onde surgem os fantasmas1 e portanto precisa-se livrar-se deles. A
1
Estados com norma negativa, portanto estados não fı́sicos.
4

segunda maneira de quantizar é no calibre de cone de luz. Notaremos que a sua principal
desvantagem é a perda da invariância manifesta de Lorentz, mas o cálculo da dimensão

crı́tica do espaço-tempo é mais fácil. Faremos a demonstração da dimensão crı́tica do


espaço-tempo (D = 26), com o método de regularização por corte e regularização pela
função zeta. Por último também estudaremos uma quantização mais moderna chamada de

BRST (Becchi-Rouet-Stora-Tyutin), e notaremos que tem os mesmos resultados das an-


teriores. No capı́tulo 4, estudam-se as supercordas. O principal deste capı́tulo são os dois
formalismos clássicos para incorporar supersimetria na teoria de cordas. O formalismo

RNS (Ramond-Neveu-Schwarz) [7, 8] é um mapeamento (X µ , ψ µ , µ = 0 . . . 9) da folha


de mundo supersimétrico para o espaço-tempo D-dimensional. Este formalismo permite
quantizar covariantemente só na folha do mundo, mas não apresenta supersimetria no

espaço-tempo. Porém, usando o formalismo GSO (Gliozzi-Scherk-Olive) [13] obtém-se a


supersimetria desejada, além de eliminar os táquions. O formalismo GS (Green-Schwarz)
é um mapeamento (X µ , θα , µ = 0, . . . , 9; α = 0 . . . , 16) da folha do mundo para um espaço-

tempo supersimétrico. Neste formalismo a supersimetria é manifesta no espaço-tempo,


mas é difı́cil quantizar de uma forma covariante. Veremos que a forma de quantizar o
fosmalismo GS é no cone de luz, mas aı́ se perderá a invariância manifesta de Lorentz.
5

Capı́tulo 2

Cordas relativı́sticas

Neste capı́tulo é estudada a corda clássica relativı́stica. A dinâmica da corda gera


uma superfı́cie no espaço-tempo, assim como é feito com a linha do mundo gerada por
uma partı́cula relativı́stica. A área própria desta superfı́cie é proporcional à ação, que é

chamada ação de Nambu-Goto. Veremos que a ação de Nambu-Goto apresenta equações


de movimento que são difı́ceis de resolver. Por isso, nós mudamos para uma nova ação
chamada ação de Polyakov, tal que esta nova ação apresenta equações de movimento

resolúveis que servirão para construir uma teoria quântica. As referências desta parte
podem ser encontradas em [14–20].

2.1 Funcional da área para superfı́cies no espaço

A ação de uma corda relativı́stica deve ser o funcional do caminho da corda. A corda
gera uma superfı́cie que é chamada folha do mundo. As cordas abertas geram superfı́cies

abertas como bandas no espaço-tempo e uma corda fechada gera uma superfı́cie fechada
como um tubo no espaço-tempo.

Sabemos que a ação da partı́cula relativı́stica é proporcional ao tempo próprio decor-


rido sobre a linha do mundo da partı́cula relativı́stica. O tempo próprio multiplicado por

c é um invariante de Lorentz chamado comprimento próprio da linha do mundo. Para


6

uma corda nós chamamos de área própria da folha do mundo. A ação de uma corda
relativı́stica será proporcional a esta área, e é chamada ação de Nambu-Goto.

O restante desta seção é focada apenas em estudar superfı́cies no espaço. Uma linha
no espaço é parametrizada por um único parâmetro, mas no caso de uma área precisa-se
de dois parâmetros ξ 1 e ξ 2 . Tendo esta superfı́cie parametrizada, podemos desenhar sobre

a superfı́cie linhas constantes de ξ 1 e ξ 2 . Assim, cobrimos a superfı́cie com uma malha.


Chamamos espaço alvo o espaço onde a superfı́cie em duas dimensões mora (este espaço
é o R3 ). A superfı́cie parametrizada é descrita por uma coleção das funções,

~x(ξ 1 , ξ 2 ) = x1 (ξ 1 , ξ 2 ), x2 (ξ 1 , ξ 2 ), x3 (ξ 1 , ξ 2 ) .

(2.1)

Estas funções fazem um mapeamento de um certo domı́nio no espaço alvo.

O espaço ou conjunto aberto em R2 é definido pelos intervalos dos parâmetros ξ 1


e ξ 2 . Este pode ser um quadrado, por exemplo se usamos os parâmetros ξ 1 e ξ 2 ∈

[0, π]. Desejamos encontrar a área de um pequeno retângulo, da superfı́cie do espaço alvo.
Começa-se olhando um retângulo infinitesimal no espaço alvo parametrizado. Os lados do
2
retângulo são denotados por dξ 1 e dξ . Precisamos encontrar dA, que é a área diferencial

no espaço alvo. Os lados do paralelogramo no espaço alvo são,

∂~x 1 ∂~x 2
d~v1 = dξ e d~v2 = dξ . (2.2)
∂ξ 1 ∂ξ 2

Nós conhecemos da geometria que a área é igual ao produto vetorial de dois vetores.

Então, temos que,

~×B
A ~ = |A||B| sin θ.

Para os vetores d~v1 e d~v2 , temos,

da = |d~v1 ||d~v2 || sin θ|, (2.3)


7

já que cos2 θ + sin2 = 1. Portanto, teremos,


dA = |d~v1 ||d~v2 | 1 − cos2 θ,
p
= |d~v1 ||d~v2 | − |d~v1 ||d~v2 | cos2 θ,
p
= (d~v1 · d~v1 )(d~v2 · d~v2 ) − (d~v1 · d~v2 )2 . (2.4)

Agora substituı́mos as equações (2.2) em (2.4), obtendo


s
 ∂~x ∂~x 1  ∂~x 2 ∂~x 2   ∂~x 1 ∂~x 2 2
dA = 1
dξ 1 · dξ dξ · 2 dξ − dξ · 2 dξ ,
∂ξ ∂ξ 1 ∂ξ 2 ∂ξ ∂ξ 1 ∂ξ
s
 ∂~x ∂~x  ∂~x ∂~x   ∂~x ∂~x 2
= dξ 1 dξ 2 · · − · . (2.5)
∂ξ 1 ∂ξ 1 ∂ξ 2 ∂ξ 2 ∂ξ 1 ∂ξ 2

Esta é a área infinitesimal no espaço alvo. Portanto, a funcional da área é,

Z s
 ∂~x ∂~x  ∂~x ∂~x   ∂~x ∂~x 2
1 2
A= dξ dξ · · − · . (2.6)
∂ξ 1 ∂ξ 1 ∂ξ 2 ∂ξ 2 ∂ξ 1 ∂ξ 2

Temos que ter em conta que, até agora só tentamos o espaço em R3 .1

2.1.1 Invariância da área por reparametrização

A invariância da área por reparametrização nos permite escrever a área de forma explı́cita.

A área de uma superfı́cie, ou melhor, a área de qualquer pedaço da superfı́cie, deve ser
independente da parametrização escolhida. Dizemos que a área é invariante por repara-
metrização.

Uma boa escolha de parametrização, permite resolver as equações de movimento da


corda de forma elegante.

Proposição 2.1. A área é invariante pelas seguintes reparametrizações,

ξ˜1 = ξ˜1 (ξ 1 ), e ξ˜2 = ξ˜2 (ξ 2 ). (2.7)


1
A extensão para Rn é imediata.
8

Demonstração.
∂ ξ˜1 1 ∂ ξ˜2
dξ˜1 = dξ , ξ˜2 = 2 dξ 2 .
∂ξ 1 ∂ξ

∂~x ∂~x ∂ ξ˜1 ∂~x ∂~x ∂ ξ˜2


= , = .
∂ξ 1 ∂ ξ˜1 ∂ξ 1 ∂ξ 2 ∂ ξ˜2 ∂ξ 2

Substituı́mos na equação (2.6), então teremos,


s 2
1 2
∂~x ∂ ξ˜1 ∂~x ∂ ξ˜2 ∂~x ∂ ξ˜2 ∂~x ∂ ξ˜2 ∂~x ∂ ξ˜1 ∂~x ∂ ξ˜2
Z   
∂ξ ˜1 ∂ξ ˜2
A= dξ dξ · · − ·
∂ ξ˜1 ∂ ξ˜2 ∂ ξ˜1 ∂ξ 1 ∂ ξ˜2 ∂ξ 2 ∂ ξ˜2 ∂ξ 2 ∂ ξ˜2 ∂ξ 2 ∂ ξ˜1 ∂ξ 1 ∂ ξ˜2 ∂ξ 2
s 2
Z 1 2
∂ξ ˜1 ∂ξ ˜2 ∂ ξ ξ ˜1 ˜2
∂~x ∂~x

∂~x ∂~x
 
∂~x ∂~x
= dξ dξ · · − ·
∂ ξ˜1 ∂ ξ˜2 ∂ξ 1 ∂ξ 2 ∂ ξ˜1 ∂ ξ˜1 ∂ ξ˜2 ∂ ξ˜2 ∂ ξ˜1 ∂ ξ˜2
Z s    2
˜ 1 ˜2 ∂~x ∂~x ∂~x ∂~x ∂~x ∂~x
= dξ dξ · · − · .
∂ ξ˜1 ∂ ξ˜1 ∂ ξ˜2 ∂ ξ˜2 ∂ ξ˜1 ∂ ξ˜2

Mostra-se assim que a área é invariante pelas reparametrizações (2.7).

Há uma forma mais efetiva para provar a invariância por reparametrização de modo

mais geral (vide apendice A).

2.2 A ação de Nambu-Goto

Nós encontramos a funcional de área para o espaço alvo (que é R3 ). Então podemos
fazer de forma análoga para procurar uma funcional de área para o espaço-tempo (ou

espaço de Minkowski)2 . Neste caso só fazemos uma mudança dos parâmetros ξ 1 e ξ 2 pelos
parâmetros novos σ e τ . Também mudamos as funções xµ (τ, σ) por uma letra maiúscula

X µ (τ, σ). Note-se que X µ é uma função chamada coordenada da corda, e não devem ser
confundidas com as coordenadas do espaço-tempo.

Temos agora um mapeamento do espaço dos parâmetros (τ, σ), para uma superfı́cie
no espaço-tempo; pelas funções X µ = X µ (τ, σ).
2
Espaço de Minkowski M0 = (R4 , η), é uma variedade de Lorentz de quatro dimensões e curvatura
zero, usado para descrever fenômenos fı́sicos no âmbito da teoria da relatividade especial de Einstein, a
métrica η tem assinatura (−, +, +, +).
9

O funcional da área no espaço-tempo é,


s 2   
∂X µ ∂Xµ ∂X µ ∂Xµ ∂X µ ∂Xµ
Z
A = dτ dσ − (2.8)
∂τ ∂σ ∂τ ∂τ ∂σ ∂σ
s 2  2  2
Z
∂X ∂X ∂X ∂X
= dτ dσ · − . (2.9)
∂τ ∂σ ∂τ ∂σ

Note que as dimensões da equação (2.9) são de área, L2 . Agora nós estamos procurando

uma ação análoga à ação de uma partı́cula relativı́stica. A ação procurada será então
encontrada usando análise dimensional3 ,

T τf
Z Z σ1 q
S=− dτ dσ (Ẋ · X 0 )2 − (Ẋ)2 (X 0 )2 . (2.10)
c τi 0

Aqui T é uma força que chamaremos tensão da corda. Também temos as abreviações,

∂X µ ∂X µ
Ẋ µ ≡ e X µ0 ≡ . (2.11)
∂τ ∂σ

A ação de Nambu-Goto é manifestamente invariante pela reparametrização

∂X µ ∂X ν α β
− ds2 = ηµν dξ dξ . (2.12)
∂ξ α ∂ξ β

A métrica induzida é

∂X µ ∂X ν α β ∂X ∂X
γαβ = ηµν α β
dξ dξ = α · β dξ α dξ β , (2.13)
∂ξ ∂ξ ∂ξ ∂ξ

ou mais explicitamente,
 
(Ẋ)2 Ẋ · Ẋ
γαβ = . (2.14)
X 0 · X 0 (X 0 )2
Assim temos a ação de Nambu-Goto4 [21],


Z
T◦
S=− dτ dσ −γ, γ = det(γαβ ). (2.15)
c

Esta é a ação para uma corda que está evoluindo no espaço-tempo. O sinal negativo
é uma conveniência. A ação Nambu-Goto tem duas simetrias diferentes, uma global e a
2
3
A dimensão da ação é MTL , e a dimensão do parâmetro T é mesmo que uma força M L
T 2 . Mais adiante
nós adotamos as unidades naturais onde ~ = 1 e c = 1.
4
Esta ação foi primeiro escrita por Nambu (1970), depois por O. Hara (1971), T. Goto (1971), M.
Minami (1972) e J. Mansouri (1972).
10

outra local. A invariância de Poincaré X µ → X µ + ω µν X ν + bµ , é uma simetria global,


aqui ωµν = −ωνµ e bµ são constantes. A invariância por reparametrização, σ α → σ̃ α (σ), é

uma transformação para cada ponto na folha do mundo e portanto é uma simetria local.
Esta ação é muito adequada por razões pedagógicas. Mas é difı́cil quantiza-la pelo fato
dela apresentar uma raiz quadrada.

2.2.1 Equações de movimento

Para achar as equações de movimento se faz o mesmo que em mecânica de uma partı́cula
clássica. Encontramos as equações de movimento pelo principio de Hamilton.
Temos a ação de Nambu-Goto,
τf
Z Z σ1
S= dτ dσL(Ẋ µ , X µ0 ), (2.16)
τi 0

onde L, é o Lagrangiano,

T◦
q
L=− (Ẋ · X 0 )2 − (Ẋ)2 (X 0 )2 . (2.17)
c

Fazendo a variação da ação (2.16). Então, teremos que,


Z σ1  τ f Z τ f  σ1
∂L µ ∂L µ
δS = dσ δX + dτ δX
0 ∂ Ẋ µ τi τi ∂X µ0
Z τf Z σ1    0
∂ ∂L  ∂  ∂L 
− dτ dσ + µ0
δX µ . (2.18)
τi 0 ∂τ ∂ Ẋ µ ∂σ ∂X

A partir daqui podemos analisar três termos da equação (2.18). O primeiro termo
desaparece porque no tempo inicial e no tempo final não há variação. Pode-se ver que

δX µ (τi , σ) = δX µ (τf , σ) = 0, é análoga à análise da partı́cula clássica.


O segundo termo tem que ver com as condições na fronteira. Então temos que impor
critérios na fronteira para que esse termo desapareça. O primeiro critério é a condição
∂L
de Neumann na fronteira. Temos que ∂X µ
= Pµσ (σ∗ , τ ) = 0. Notando que σ∗ representa
ambos extremos σ = 0 e σ = σ1 . Esta condição diz que os extremos se movem livremente5 .
Também, esta condição satisfazem à condição de conservação da energia.
5
Na verdade os extremos da corda se movem com velocidade c transversal à corda.
11

O segundo critério é a condição de Dirichlet na fronteira. Temos que δX µ (σ∗ , τ ) = 0


∂X µ
ou também ∂τ
= 0 onde µ 6= 0. Aqui a coordenada da corda X 0 pode mudar em relação

ao parâmetro τ . Este parâmetro está relacionado com o tempo. Mas as coordenadas X i


(i = 1, 2, . . . N ) não mudam com o tempo. No inı́cio da teoria de cordas as condições
de Dirichlet não foram consideradas porque eles não estavam em conformidade com a

conservação da energia (com essas condições não se pode conservar a energia). Mas agora
são consideradas, pela introdução de alguns objetos chamados Dp-branas6 . Então as
cordas são vinculadas a esses objetos e, portanto, pode-se conservar a energia.

Uma corda ligada a um ponto fixo seria uma corda vinculada numa D0-brana. Uma
corda que pode-se mover em uma linha seria uma corda vinculada numa D1-Brana, e
assim por diante.

Do terceiro termo da equação (2.18) e com o Lagrangiano (2.17), pode-se encontrar


as equações de movimento. Então temos que,
∂L T◦ [(Ẋ · X 0 )Xµ0 − Ẋµ (X 0 )2 ]
=− q = Pµτ e (2.19)
∂ Ẋ µ c
(Ẋ · X 0 )2 − (Ẋ)2 (X 0 )2

∂L T◦ (Ẋ · X 0 )Ẋµ − (Ẋ)2 Xµ0


µ0
= − q = Pµσ . (2.20)
∂X c
(Ẋ · X 0 )2 − (Ẋ)2 (X 0 )2
A equação de movimento podem ser expressa de uma forma compacta,
∂Pµτ ∂Pµσ
+ = 0. (2.21)
∂τ ∂σ
Esta equação é muito difı́cil de ser resolvida na forma geral. Mas podem-se incluir
alguns vı́nculos resultantes da liberdade da parametrização, para atingir uma forma mais

simples das equações de movimento, e portanto, mais fácil de resolver. Para obter mais
informações a esse respeito consulte o livro de B. Zwiebach [15, págs. 134–136] e o review
de J. Scherk [19]. Mas não vamos ir por este caminho. Na próxima seção, vamos ver

uma ação equivalente à ação de Nambu-Goto que nos permitirá ir mais longe no nosso
caminho para a quantização da corda.
6
As Dp-branas são uma classe especial de p-Branas, D refere-se a Dirichlet.
12

2.3 A corda Bosônica livre

Em geral, podemos descrever objetos estendidos mais gerais. Por exemplo, um ponto

será um objeto 0-dimensional, a corda será um objeto 1-dimensional, a casca esférica será
um objeto 2-dimensional e assim por diante. A generalização da ação pode ser feita com
um volume invariável (n + 1)-dimensional do espaço-tempo que é gerado por um objeto

n-dimensional. Portanto, a constante (T ) que deixa adimensional a ação tem que ter
dimensão (massa)n+1 .
No entanto, estamos apenas tentando descrever os graus bosônicos de liberdade. A ge-

ometria intrı́nseca varrida pelo objeto n-dimensional é uma variedade (n + 1)-dimensional


que se caracteriza por uma métrica hαβ (σ).
Então a ação generalizada é,

T
Z √
S=− dn+1 σ hhαβ (σ)gµν (X)∂α X µ ∂β X ν , (2.22)
2

onde σ 0 = τ e as coordenadas espaciais são σ i (i = 1, 2, . . . , n). Estas coordenadas

especificam um objeto n-dimensional.


Também, hαβ é o inverso de hαβ e h é o valor absoluto do determinante; h = |det(hαβ )|.
A métrica hαβ tem uma assinatura de Minkowski. Então, um de seus valores próprios é

negativo (timelike) e os outros n valores permanecem positivos (spacelike). A função


X µ (σ) : N → M é uma aplicação, onde N ∈ Rn+1 é o conjunto onde moram os
parâmetros τ , σ e M é a variedade do espaço-tempo. A métrica gµν descreve o espaço-

tempo D-dimensional e a métrica hαβ descreve a variedade (n + 1)-dimensional gerada


por um objeto n-dimensional que é chamado world-manifold (em duas dimensões esta
variedade é chamada folha de mundo), em geral D ≥ n + 1.

Da relatividade se conhece que o elemento de volume dn+1 σ h é invariante e hαβ gµν ∂α X µ ∂β X ν
também são invariantes já que os ı́ndices são contraı́dos apropriadamente. Como no caso
da partı́cula relativı́stica (veja o Apêndice B) se pode fazer uma escolha onde hαβ é

eliminado. Mas h não pode ser eliminado simplesmente por reparametrização da world-
13

manifold. Porém, existe uma simetria local adicional que ocorre apenas no caso de objetos
1-dimensional (neste caso a corda), então devemos ter em conta esta simetria. A simetria

adicional é a invariância de Weyl,

hαβ → Λ(σ)hαβ ,

pelo qual
√ 1 √
hhαβ → Λ 2 (n+1)−1 hhαβ .

Essa simetria deixa a ação (2.22) invariante para n = 1. A simetria de Weyl é central
para o desenvolvimento da teoria das cordas. Portanto, esta simetria é o que distingue

as cordas em comparação com objetos de maior dimensão. As membranas ou objetos de


maior dimensionalidade têm outro grande problema, não são renormalizáveis de acordo
com o critério de contagem de potência 7 . As cordas são uma teoria renormalizável

de acordo com o critério referido. Então podemos concluir que para n = 1 a teoria é
renormalizável e para n > 1 é não renormalizável. Portanto, podemos concluir que os
objetos de maior dimensionalidade não são uma boa maneira de desenvolver uma teoria

da gravidade quântica, para mais detalhes veja M. Grenn, J. Schwarz, E. Witten [20, pág.
60].
A partir de agora estudaremos apenas a corda livre (objeto 1-dimensional). Na ação

(2.22) fazemos a substituição n = 1, e teremos a ação para a corda bosônica livre. Li-
vre porque não inclui interações e bosônica porque os campos obedecem uma estatı́stica
bosônica. Esta nova ação chama-se de Polyakov8 [22].
T
Z √
S=− d2 σ hhαβ ∂α X µ ∂β X ν ηµν . (2.23)
2
Há três grupos de simetria para a ação de Polyakov.
7
A contagem de potência de um Lagrangiano diz se uma teoria é renormalizável ou não. Num espaço
de d dimensões, a dimensionalidade c do Lagrangiano obtém-se desta forma, dim[L] = L−c , se c ≥ d é
renormalizável e se c < d é não renormalizável.
8
Esta ação foi descoberta independentemente por Brink, Di Vecchia e Howe e por Deser e Zumino,
em 1981 e foi usada por Polyakov para a quantização da corda mediante integrais de caminho. Existem
pequenas diferenças na definição da ação de Polyakov no livro de M.B.Green,J.H.Schwarz,E.Witten e o
livro de K.Becker,M.Becker,J.H.Schwarz, aqui seguimos a definição do primeiro.
14

• Simetria de Poincaré: Os campos da folha do mundo transformam-se da seguinte


maneira,

δX µ = aµν X ν + bµ , δhα,β = 0.

• Simetria por reparametrização: A reparametrização não muda a ação. Esta fica


invariante por reparametrização,
∂f γ ∂f δ
σ α −→ f α (σ) = σ 0α , hαβ = hγδ (σ 0 ).
∂σ α ∂σ β

• Simetria de Weyl: A ação é invariante por transformação de escala,

hαβ −→ eφ(τ,σ) hαβ , δX µ = 0.

Portanto, as equações de movimento da ação Polyakov podem ser calculadas. Primeiro,


encontramos a equação de movimento associada com a métrica hαβ . De fato, a variação da
ação em relação à métrica nos dá uma quantidade especial Tαβ chamado tensor energia-

momento.
O tensor pode ser calculado como se segue,
2 1 δS
Tαβ = − √ , (2.24)
T h δhαβ
então temos que,
1
Tαβ = ∂α X µ ∂β Xµ − hαβ hρδ ∂ρ X µ ∂δ Xµ = 0. (2.25)
2
O tensor de energia-momento pode-se encontrar com δh = −hhαβ δhαβ (derivada de uma

matriz).
Em seguida, as equações do movimento correspondentes para X µ também são encon-
tradas. Esta é calculada da forma convencional (a partir da equação de Euler-Lagrange).

Então temos,

∂α ( hhαβ (σ)∂β Xµ (σ)) = 0. (2.26)

Esta é a equação de movimento. Note a dependência do parâmetro σ na métrica. Esta


é uma forma complexa para resolver esta equação. Então vamos procurar uma forma mais

simplificada aproveitando as simetrias da ação de Polyakov.


15

2.3.1 Fixando um calibre para hαβ

É muito conveniente usar todo o poder das simetrias de calibre. Podemos escolher coor-

denadas para simplificar nossa ação (2.23). Primeiro torna-se a métrica conformalmente
plana [23],
hαβ = e2φ ηαβ ,

onde φ = φ(σ, τ ), é uma função da folha de mundo. Agora utilizamos a simetria de Weyl
e fazemos φ = 0. Em seguida, conseguimos o que querı́amos,

hαβ = ηαβ . (2.27)

Esta é uma métrica plana em duas dimensões com assinatura de Minkowski (−, +).
Então teremos para a métrica ηαβ 9 ,
 
−1 0
ηαβ = , (2.28)
0 1
onde η = det(ηαβ ) = −1.
A ação de Polyakov com a métrica plana é
Z
T
S=− d2 ση αβ ∂α X µ ∂β Xν . (2.29)
2
A equação de movimento associada a X µ é mais simples que (2.26). Portanto, a

equação de movimento é,


∂α ∂ α X µ = 0. (2.30)

A equação de movimento com a métrica ηαβ é,


1
Tαβ = ∂α X µ ∂β Xµ − ηαβ η ρδ ∂ρ X µ ∂δ Xµ = 0. (2.31)
2
Da equação de movimento Tαβ = 0, temos que,

T10 = T01 = Ẋ · X 0 = 0
1
T00 = T11 = (Ẋ 2 + X 02 ) = 0 (2.32)
2
9
Fazemos a distinção da métrica do espaço-tempo η µν com a métrica da folha de mundo η αβ da
seguinte forma: as primeiras letras do alfabeto grego αβ refere-se para a métrica da folha de mundo e µν
são utilizadas para a métrica do espaço-tempo.
16

Como resultado disto, temos a equação de movimento da corda é a equação de onda


(2.30) sujeitas aos vı́nculos (2.32).

2.3.2 Coordenadas do cone de luz

Pode-se mudar para outro sistema de coordenadas que nos ajudará a resolver melhor os

problemas discutidos mais adiante. Estas são conhecidas como coordenadas do cone de
luz. Estas novas coordenadas facilitam nosso desenvolvimento no momento de quantizar
a teoria. Mas também tem uma grande desvantagem. Nestas coordenadas a invariância

de Lorentz é não manifesta.

Como exemplo, tomamos o espaço-tempo em 4D com assinatura (−, +, +, +). Então

definimos que as coordenada no cone de luz10 .

x+ + x− x+ − x−
x0 = √ , e x1 = √ . (2.33)
2 2

Também procuramos sua forma diferencial. Portanto temos que,

dx+ + dx− dx+ − dx−


dx0 = √ e dx1 = √ , (2.34)
2 2

e ds2 em termos de coordenadas do cone de luz é,

ds2 = 2dx+ dx− − (dx2 )2 − (dx3 )2 . (2.35)

Logo a métrica do espaço-tempo em coordenadas do cone de luz é,


 
0 −1 0 0
−1 0 0 0
η̃µν = 
0
. (2.36)
0 1 0
0 0 0 1

Também é importante definir as coordenas da folha de mundo em coordenadas do cone

de luz. Então temos que,

σ+ = τ + σ e σ − = τ − σ, (2.37)
10
Notamos que nós tomamos somente a coordenada temporal x0 e uma das coordenadas espaciais neste
caso x1 , as outras coordenadas permanecem inalteradas.
17

já que dσ + = dτ + dσ e dσ − = dτ − dσ. Portanto, teremos que,

ds2 = −dσ + dσ − . (2.38)

A métrica da folha de mundo em coordenadas do cone de luz é,


 
0 −1/2
ηαβ = , (2.39)
−1/2 0

onde a inversa é,


 
αβ 0 −2
η = . (2.40)
−2 0
Pode-se escrever a ação de Polyakov usando as coordenadas do cone de luz. Assim,
teremos
Z
S = −T d2 σ∂+ X µ ∂− X ν ηµν , (2.41)

desta ação pode-se achar as equações de movimento. Portanto, fazendo a variação δS à

ação (2.41). Achamos a equação de movimento,

∂+ ∂− X µ = 0. (2.42)

Esta é a equação da corda relativı́stica em coordenadas do cone de luz.

2.4 Solução da equação da onda

A solução da equação de onda pode ser expressada em termos da superposição de duas


ondas em movimento para a direita e para a esquerda (solução de D’Alembert). Portanto
tem-se,

X µ (τ, σ) = XLµ (τ + σ) + XRµ (τ − σ). (2.43)

As soluções mais gerais que satisfazem as condições na fronteira são:

1 1 i X 1 µ −2in(τ +σ)
XLµ (τ + σ) = xµ + `2s pµ (τ + σ) + `s α e , (2.44)
2 2 2 n6=0 n n

1 1 i X 1 µ −2in(τ −σ)
XRµ (τ − σ) = xµ + `2s p̄µ (τ − σ) + `s ᾱ e , (2.45)
2 2 2 n6=0 n n
18

onde αnµ e ᾱnµ são os modos de Fourier. Também, xµ é a posição do centro de massa, pµ é
o momento total da corda e `s é o comprimento da corda. Estas soluções são mostradas

na referência11 [20]. O comprimento da corda está relacionado com a tensão T , a qual


está relacionada ao parâmetro de declive α0 por,
1 1 2
T = , ` = α0 . (2.46)
2πα0 2 s
Pode-se também derivar as seguintes condições de realidade fı́sica,

(αkµ )∗ = α−k
µ µ
e (ᾱnµ )∗ = ᾱ−n . (2.47)

Agora impomos condições na fronteira. Já que temos duas classes diferentes de cordas

(abertas e fechadas), vamos tratar as duas separadamente.

2.4.1 Cordas abertas

Agora vamos aplicar as condições na fronteira. Começamos com cordas abertas com

extremos livres. As cordas abertas satisfazem as condições de Neumann


δL
= 0.
δX 0µ σ̄,σ=0

Neste caso teremos,

X 0µ (τ, σ)|σ=0,π = 0.

Aplica-se a derivada em relação de σ às equações (2.44) e (2.45). Agora temos


∂XLµ 1 X
= `2s pµ + `s αnµ e−2in(τ +σ) , (2.48)
∂σ 2 n6=0

∂XRµ 1 X
= − `2s p̄µ − `s αnµ e−2in(τ −σ) . (2.49)
∂σ 2 n6=0

Somamos estas equações com a condição σ = 0. Portanto, teremos,


`2s µ X
X 0µ |σ=0 = (p − p̄µ ) + `s e−2inτ (αnµ − ᾱnµ ) = 0, (2.50)
2 n6=0

onde se,
11
Há uma variedade de livros que mostram as soluções da equação de onda de corda com algumas
diferenças menores, mas elas não são transcendentais. O livro de B. Zwiebach [15, págs. 183–186] mostra
em detalhes a solução da equação de onda.
19

pµ = p̄µ as cordas não podem enrolar-se nelas mesmas e,


αnµ = ᾱnµ mesmos modos para ondas direitas e esquerdas.
Quando fazemos σ = π, chegamos à conclusão de que n é um inteiro. Portanto
podemos escrever a equação de movimento, da seguinte forma,
X αµ
n −2inτ
X µ (τ, σ) = xµ + `2s pµ τ + i`s e cos(2nσ). (2.51)
n6=0
n

Também podemos calcular a posição e momentum de centro de massa da corda,


1 π
Z
µ
XCM = dσX µ (τ, σ) = xµ + `2s pµ τ. (2.52)
π 0
Antes de prosseguir, fazemos a seguinte derivada da solução (2.51),
X
Ẋ µ = 2`s αnµ e−2inτ cos 2nσ, (2.53)
n=0

onde α0µ = `s µ
2
p . Portanto, temos que.
Z π Z π
µ 1 X
pCM = 2T dσ Ẋ µ = dσ2`s αnµ e−2inτ cos 2nσ
0 2π`2s 0 n∈Z
1
= 2 2 2`s α0µ π
2`s π
= pµ , (2.54)

1
aqui T = 2π`2s
, é a tensão12 da corda. Assim notamos que a posição (2.52) e momento
(2.54) são do centro de massa da corda.
Porém, também pode-se impor condições de contorno de Dirichlet. Os extremos da

corda são mantidas em um objeto chamado Dp -brana13 .

2.4.2 Cordas fechadas

As cordas fechadas geram tubos no espaço-tempo. Elas não tem extremos. Portanto, as
condições na fronteira são periódicas,

X µ (τ, σ + 2π) = X µ (τ, σ). (2.55)


12
A tensão da corda esta relacionada com o parâmetro de declive α0 da seguinte forma T = 2πα
1
0, e o

parâmetro de declive esta relacionado com o comprimento da corda `s como segue α0 = `2s , vide o livro
de B.Zwiebach [15, págs. 168 – 170].
13
Aqui não estudamos as Branas, as Branas são estudadas no livro de J.Polchinski String Theory Vol
II.
20

Agora, a condição na fronteira (2.55) é introduzida nas soluções (2.44) e (2.45). Em


consequência, o número n é um inteiro. Portanto temos,

1 1 i X αnµ −2in(τ +σ)


XLµ (τ + σ) = xµ + `2s pµ (τ + σ) + `s e (2.56)
2 2 2 n
n∈Z−{0}

1 1 i X ᾱnµ −2in(τ −σ)


XRµ (τ − σ) = xµ + `2s p̄µ (τ − σ) + `s e . (2.57)
2 2 2 n
n∈Z−{0}

Define-se,
1 1
α0µ = `s pµ e ᾱ0µ = `s p̄µ . (2.58)
2 2
Então as derivadas de (2.56) e (2.57) podem-se escrever,
X
∂+ XLµ = `s αnµ e−2in(τ +σ) e (2.59)
n∈Z
X
∂− XRµ = `s ᾱnµ e−2in(τ −σ) , (2.60)
n∈Z

onde ∂± → ∂
∂σ ±
e σ ± = τ ± σ. A condição de periodicidade impõe pµ = p̄µ .
A posição do centro de masa é
Z 2π
µ 1
XCM = dσX µ (τ, σ) = xµ + `2s pµ τ, (2.61)
π 0

e momento do centro de massa é,


Z 2π
pµCM = 2T dσ Ẋ µ
Z0 2π
1 X
= 2 dσ`s (αnµ e−2in(τ +σ) + ᾱnµ e−2in(τ −σ) )
π`s 0 n=0
1
= (α0µ + ᾱ0µ ) = pµ . (2.62)
`s

A equação (2.61), em τ = 0, tem a mesma equação de movimento de uma partı́cula

livre. As duas equações anteriores, representam o movimento da corda. A corda pode-se


mover como um todo. O movimento é descrito pela posição xµ , momentum pµ e os modos
de Fourier αnµ e ᾱnµ . A corda não só move-se como um todo, mas também pode vibrar de

muitas formas.
21

Também pode-se calcular o momento angular da seguinte forma


Z 2π
µν
J =T dσ(X µ Ẋ ν − X ν Ẋ µ ), (2.63)
0

então temos
∞ ∞
µν µ ν
X
ν µ 1 µ ν ν µ
X 1 µ ν ν
J =x p −x p −i (α−n αn − α−n αn ) − i (ᾱ−n ᾱn − ᾱ−n ᾱnµ ). (2.64)
n=1
n n=1
n

A partir daqui vemos que o momento angular da corda tem contribuições de movimento
do centro de masa e das vibrações da corda.

2.5 Vı́nculos de Virasoro

Os componentes T−− e T++ do tensor energia-momento em coordenadas do cone de


luz são,
1 1
T−− = (∂− X)2 = 0 e T++ = (∂+ X)2 = 0. (2.65)
2 2
Pode-se definir os operadores de Virasoro em relação aos modos de Fourier do tensor

energia-momemto. Então para cordas fechadas tem-se.


Z 2π
Lm = 2T dσT−− eim(τ −σ) , (2.66)
0
Z 2π
L̄m = 2T dσT++ eim(τ −σ) . (2.67)
0

Também, pode-se expressar em termos dos modos de oscilação,

1X
Lm = αm−n · αn , (2.68)
2 n∈Z

1X
L̄m = ᾱm−n · ᾱn . (2.69)
2 n∈Z

Com as condições de realidade fı́sica L∗m = L−m e L̄∗m = L̄m . Portanto, o Hamiltoniano
pode-se expressar da seguinte forma,

H = L0 + L̄0 . (2.70)
22

Porém, para cordas abertas define-se os operadores de Virasoro


Z π
Lm = 2T dσ(T−− eim(τ −σ) + T++ eim(τ +σ) ). (2.71)
0

Em termos de modos de oscilação,

1X
Lm = αm−n · αn . (2.72)
2 n∈Z

Portanto o Hamiltoniano é,


H = L0 . (2.73)

Em consequência, com ajuda dos parênteses de Poisson para os modos de oscilação,


pode-se derivar os parênteses para os operadores de Virasoro. Eles formam uma álgebra
chamado álgebra de Virasoro clássica,

{Lm , Ln }CP = −i(m − n)Lm+n , (2.74)

{L̄m , L̄n }CP = −i(m − n)L̄m+n , (2.75)

{Lm , L̄n }CP = 0. (2.76)

Para cordas abertas Lm = L̄m . Portanto L̄m esta ausente para cordas abertas. Os
vı́nculos de Virasoro L0 são importantes porque eles incluem uma quantidade muito im-
portante. O quadrado do quadrimomento (ou momento no espaço-tempo) pµ . Mas, o

quadrimomento ao quadrado é igual à massa de uma partı́cula em repouso.

pµ pµ = −M 2 . (2.77)

Assim os vı́nculos L0 e L̄0 , dizem que a massa efetiva de uma corda em termos de
modos de oscilação é,

4 X 4 X
M2 = α n · α −n = ᾱn · ᾱ−n . (2.78)
α0 n>0 α0 n>0

Esta massa ao quadrado obtida será muito importante no desenvolvimento da teoria.


Nós veremos o que acontece com a massa após da quantização da teoria.
23

Capı́tulo 3

Quantização da corda

Até agora nós tratamos as cordas de uma forma clássica. Agora precisamos quantizar

a teoria. Neste capı́tulo tentamos três abordagens para quantizar as cordas. Primeiro
vamos fazer a quantização covariante. Nesta quantização se utiliza o calibre de Lorentz,
o método de quantização é análogo à quantização de Gupta Bleuer para QED. Depois

fazemos quantização em coordenadas do cone de luz. Nesta abordagem a invariância


de Lorentz é não manifesta, portanto, não é muito conveniente para aplicações futuras.
Finalmente fazemos a quantização BRST. Como consequências da quantização, achamos

que o espaço-tempo tem dimensão crı́tica D = 26. Para a corda bosônica também são
encontrados estados com norma negativa, normalmente conhecidos como fantasmas. Esses
fantasmas surgem na quantização covariante. A fixação de um calibre ajuda a eliminar

esses fantasmas1 . Outra consequência importante são os estados de vibração fundamental.


Estes estados fundamentais têm massa ao quadrado negativas e são chamados os táquions.
Estes táquions são estados não fı́sicos. Portanto, nós precisaremos de alguma teoria que

elimine essas incoerências não fı́sicas. Uma teoria para eliminar essas incoerências, é a
incorporação da Supersimetria (SUSY) na teoria das cordas, como veremos no capı́tulo 4.

1
Tenha em mente que estes estados fantasma são diferentes dos campos fantasma da quantização
BRST. A quantização covariante da QED também apresenta este tipo de problema. Os estados com
norma negativa são eliminados com o método de quantização de Gupta-Bleuler.
24

3.1 Quantização covariante das cordas

Vamos a quantizar D campos X µ que são governados pela ação de Polyakov (2.29) (vide

a seção § 2.3, e depois imporemos os vı́nculos,

Ẋ · X 0 = Ẋ 2 + X 02 = 0. (3.1)

As coordenadas da corda X µ (τ, σ), são promovidas para operadores. Portanto, preci-
samos o momento conjugado Pτµ . Da dinâmica Lagrangiana temos

∂L
Pτ µ = . (3.2)
∂(∂τ X µ )

Da ação,
Z
T  
S= d2 σ ∂τ X µ ∂τ Xµ − ∂σ X µ ∂σ Xµ , (3.3)
2

temos a Lagrangiana,
T 
L= ∂τ X µ ∂τ Xµ − ∂σ X µ ∂σ Xµ . (3.4)
2

Agora pode-se calcular o momento conjugado,

∂L
Pτ µ (τ, σ) = = T ∂τ Xµ . (3.5)
∂(∂τ X µ )

Portanto, pode-se quantizar a teoria mudando os comutadores clássicos para comu-


tadores quânticos. O método padrão para passar da fı́sica clássica à fı́sica quântica é

substituir os parênteses de Poisson por comutadores via [. . .]B.P → i[. . .].

[Pτµ (τ, σ), X ν (τ, σ 0 )] = −iη µν δ(σ − σ 0 ) (3.6)

[X µ (τ, σ), X ν (τ, σ 0 )] = 0 (3.7)

[Pτµ (τ, σ), Pτν (τ, σ 0 )] = 0. (3.8)

As relações de comutação são tomadas num mesmo tempo. As posições espaciais são

tomadas em diferentes regiões da corda. Agora as relações de comutação para os modos


25

de Fourier xµ , pµ , αnµ e ᾱnµ são:

[xµ , pν ] = iη µν , (3.9)
µ
[αm , αnν ] = mη µν δm+n , (3.10)
µ
[ᾱm , ᾱnν ] = mη µν δm+n , (3.11)
µ
[αm , ᾱnν ] = 0, (3.12)

onde,

0 se m + n 6= 0
δm+n =
1 se m + n = 0
Definimos agora
1 µ 1 µ
aµν = √ αm , aµ†
m = √ α−m ∀m > 0. (3.13)
m m
As relações de comutação (3.10) e (3.11) com esta nova definição são:

[aµm , aν† µ ν† µν
n ] = [ām , ān ] = η δm,n ∀m, n > 0. (3.14)

Note-se que isto vale para cordas fechadas. Portanto, para cordas abertas, temos só a
relação de comutação,
µ
[αm , αnν ] = mη µν δm+n,0 . (3.15)

µ µ
Os operadores αm e ᾱm , são semelhantes aos operadores de criação e destruição do
µ µ
oscilador harmônico da mecânica quântica. Aqui o operador αm (ou ᾱm ) para m < 0, são

os operadores de criação e para m > 0 são os operadores de aniquilação. Estes operadores


atuam sobre um estado que pertence ao espaço de Fock. Podemos definir o estado de
vácuo da corda como |0i. Este estado se comporta da seguinte forma,

µ µ
αm |0i = ᾱm |0i = 0, m > 0. (3.16)

É importante distinguir o estado de vácuo de uma teoria quântica dos campos (TQC)
e o estado de vácuo de uma corda. O estado de vácuo no TQC é um vácuo do espaço-
tempo, enquanto que, um vácuo de uma corda está relacionado ao estado fundamental de

vibração de uma corda.


26

O estado também traz informações de momemtum linear, então temos um operador


de momentum linear que aplica-se ao estado |pµ ; 0i, como se segue,

p̂µ |pµ ; 0i = pµ |pµ ; 0i . (3.17)

Podemos agora construir o espaço de Fock com ajuda dos operadores de criação (os
µ µ
modos vibracionais da corda). Os operadores de criação αm ou ᾱm com m < 0 atuam

no vácuo |0; pµ i e desta forma você pode criar novos estados. Qualquer estado pode ser
definido como segue,

µ1 nµ1 µ2 nµ2 ν1 nν1 ν2 nν2


(α−1 ) (α−2 ) . . . (ᾱ−1 ) (ᾱ−2 ) . . . |0; pµ i . (3.18)

Cada estado que pertence ao espaço de Fock trata-se de um diferente estado excitado

da corda. Cada um destes estados tem uma interpretação no espaço-tempo. Estes estados
do espaço de Fock representam uma partı́cula no espaço-tempo.
Aqui há um problema. Nós construı́mos um espaço de Fock com estados que tem

norma negativa. Isto pode ser analisado a partir dos comutadores (3.14) e (3.15). O
comutador das componentes temporais tem sinal negativo. Assim,

0 0
[αm , α−m ] = −m, [a0m , a0†
m ] = −1. (3.19)

Este resultado tem como consequência a existência de estados com norma negativa.
Daqui e com a relação de comutação (3.19), temos o estado a0†
m |0i com norma

h0| a0m a0†


m |0i = −1. (3.20)

Nós pomos nossa atenção por um momento aqui. Em uma teoria da natureza é es-
sencial que os estados fı́sicos tenha normas positivas para não violar princı́pios de unita-
riedade e causalidade. Porem, há formas para eliminar esses estados com norma negativa

do espectro fı́sico como veremos na próxima seção § 3.2.


Agora, tal qual como em mecânica quântica, podemos construir o operador número
em função dos modos,

Nm = α−m αm , m > 0. (3.21)


27

Da mesma forma do oscilador harmônico pode-se defenir os estados e valores próprios do


operador número. Então temos que

Nm |φi = nm |φi . (3.22)

O operador número total é



X ∞
X
N= Nm = α−m αm . (3.23)
m=1 m=1

3.1.1 Vı́nculos de Virasoro

Em termos dos modos de Fourier, o vı́nculo clássico pode ser escrito como, Lm = L̄m = 0.
Onde,
1X
Lm = αm−n · αn , (3.24)
2 n

o mesmo para L̃m .

Os vı́nculos são os geradores de Virasoro. Em uma teoria quântica os geradores de


Virasoro são promovidos para operadores quânticos. A álgebra clássica é,

[Lm , Ln ]B.P = i(m − n)Lm+n . (3.25)

Nós não imporemos todas essas equações para os operadores no espaço de Hilbert. Na

verdade, só podemos exigir que os operadores Lm e L̃m eliminem os elementos de matriz
entre dois estados fı́sicos |φi e |φ0 i.

hφ0 | Lm |φi = hφ0 | L̄m |φi = 0. (3.26)

Se L†m = L−n , então é suficiente que,

Lm |φi = L̄m |φi = 0, ∀n > 0. (3.27)

Até agora não foi explicado como impor os vı́nculos para L0 e L̄0 . O problema é que,
ao contrário dos operadores Lm com m 6= 0, o operador L0 não é unicamente definido
28

quando passamos à teoria quântica. Há uma ambiguidade na ordem entre os operado-
res causada pelas relações de comutação (3.11). Para resolver essa ambiguidade, vamos

escolher apenas uma opção de ordenamento. Vamos definir os operadores para ter orde-
namento normal.
O ordenamento normal é denotado por : : , esto denota que todos os operadores de

aniquilação vai para a direita. Assim temos para os vı́nculos,

1X
Lm = : αm−n · αn : . (3.28)
2 n

O comutador para os operadores αm−n e αn com m 6= 0, é

[αm−n , αn ] = 0. (3.29)

Então, quando m 6= 0 nós não precisamos do ordenamento normal. Portanto podemos


colocar os operadores onde quiséramos. Os vı́nculos para L0 e L̃0 são,
∞ ∞
X 1 X 1
L0 = α−n · αn + α02 = 0 e L̃0 = α̃−n · α̃n + α̃02 = 0. (3.30)
n=1
2 n=1
2

Em seguida, a ambiguidade se manifesta nas diferentes equações de vı́nculo que pudéramos


impor.
(L0 − a) |φi = (L̃0 − a) |φi = 0. (3.31)

A constante a é o resultado da ambiguidade.


Agora, como na teoria clássica aqui encontramos também o espectro de massa ao

quadrado para a corda. Os operadores L0 e L̃0 são importantes porque estão relacionados
com o momento ao quadrado pµ pµ = p2 . Os modos α0 e α̃0 estão relacionados ao momento
desta forma α0µ = α̃0µ = α0 /2pµ . Usando a condição de camada de massa pµ pµ = −M 2 ,
p

pode-se encontrar uma relação com os operadores. Em consequência esses operadores


desempenham um papel muito importante no espectro da corda. Levando-se em conta a
ambiguidade da ordem e a camada de massa (mass-shell), temos que,
∞ ∞
24 X  4 X 
M = 0 −a+ α−n · αn = 0 − a + α̃−n · α̃n . (3.32)
α n=1
α n=1
29

Daqui vemos que constante a tem um efeito fı́sico para alterar o espectro de massa da
corda. A condição de não existência de fantasmas em uma teoria da natureza, faz que a

constante a e os campos escalares X µ tenham um número fixo. O número para a constante


a é 1 e o número de campos escalares X µ é D = 26. O formalismo de quantização
covariante pode-se consultar com mais detalhes no livro de Green, Schwarz e Witten [20,

págs. 81–86]. Nós teremos que calcular o número de campos escalares (dimensão crı́tica)
e a constante a através do formalismo da quantização do cone de luz na seção § 3.2.
O operador de Virasoro L0 é

1 X
L0 = α02 + α−n · αn , (3.33)
2 n=1

e L0 também pode ser definido desta forma,



1 X
L0 = α−n · αn . (3.34)
2 n=−∞
Portanto, fazendo alguns cálculos, temos que
∞ ∞ ∞
1 X 1 1X 1X
α−n · αn = α0 · α0 + α−n · αn + αn · α−n . (3.35)
2 n=−∞ 2 2 n=1 2 n=1

Daqui podemos chegar a uma forma interessante (para mais detalhes vide o apêndice
C),
∞ ∞ ∞
1 X 1 X DX
α−n · αn = α0 · α0 + α−n · αn + n. (3.36)
2 n=−∞ 2 n=1
2 n=1

Isso é o que procuramos. Da equação (3.36), nós olhamos o último termo da equação.
Esta série diverge. Mas na história da fı́sica já se teve problemas parecidos. Por exemplo,

no cálculo da energia de Casimir também se encontra esta série. O método de cálculo


aqui é parecido com a energia de Casimir. Mais adiante apresentaremos dois métodos
para calcular esta série.

3.2 Quantização no cone de luz

Pode-se ainda aproveitar as simetrias que tem a corda bosônica. Há uma simetria residual

da corda (para mais detalhes vide [14, págs. 40–41]), que será útil para escolher o calibre
30

do cone de luz. Quando se faz esta escolha é possı́vel construir um espaço de Fock livre de
fantasmas (estados como norma negativa). Mas a consequência desta escolha é a perda da

invariância manifesta de Lorentz (o argumento desta seção pode-se encontrar em [15,23]).

Definimos as coordenadas do cone de luz,

1
X ± = √ (X 0 ± X D−1 ). (3.37)
2

O produto de dois vetores é,

X
v · w = −v + w− − v − w+ + v i wi . (3.38)
i

A regra para levantar e abaixar os ı́ndices é,

v − = −v+ , v + = −v− , e v i = vi (3.39)

Uma vez que as coordenadas são tratadas diferentemente umas das outras, a in-
variância de Lorentz já não é manifesta. A solução da equação de movimento em co-

ordenadas do cone de luz é,

X + = XL+ (σ + ) + XR+ (σ − ). (3.40)

Agora, vamos escolher o calibre. Há liberdade de escolha de calibre pela invariância
por reparametrização. Então fazendo a seguinte escolha,

1 1 1 1
XL+ = x+ + α0 p+ σ + e XR+ = x+ + α0 p+ σ − . (3.41)
2 2 2 2

Substituindo estas equações em (3.40) e sabendo que τ = 12 (σ + + σ − ), temos que,

X + = x+ + α0 p+ τ, (3.42)

este é o calibre do cone de luz. Aqui é feita a escolha αn+ = 0 para n 6= 0. Quando fazemos
esta escolha não covariante podem aparecer anomalias quânticas. No calibre de cone de

luz são removidos os modos vibracionais de X + .


31

É possı́vel determinar os modos vibracionais de X − . Os vı́nculos de Virasoro em


coordenadas do cone de luz são,

(Ẋ ± X −0 )2 = 0, (3.43)

e os vı́nculos no calibre do cone de luz são,

1
Ẋ − ± X −0 = (Ẋ i ± X i0 )2 . (3.44)
2α0 p+

Pode-se demostrar que a equação de movimento para X + é,

∂+ ∂− X − = 0. (3.45)

A solução geral para esta equação é,

X − = XL− (σ + ) + XR− (σ − ). (3.46)

Os vı́nculos em termos de σ ± são,

(∂+ X)2 = (∂− X)2 . (3.47)

Daqui pode-se determinar totalmente X − . Utilizamos o calibre do cone de luz, então


temos,
D−2
1 X
∂+ XL− = 0 + ∂+ X i ∂+ X i , (3.48)
α p i=1
da mesma forma para
D−2
1 X
∂− XL− = ∂− X i ∂− X i . (3.49)
α0 p+ i=1
Até uma constante de integração, a função X − (σ + , σ − ) é determinada em termos dos

campos. Então pode-se escrever os campos para XL/R desta forma,
r
1 1 α0 X 1 − −inσ+
XL− = x− + α 0 p − σ + + i α̃ e , (3.50)
2 2 2 n6=0 n n
r
1 1 α0 X 1 − −inσ−
XR− = x− + α 0 p − σ − + i α̃ e . (3.51)
2 2 2 n6=0 n n
32

Aqui x− é uma constante de integração indeterminada. Entanto p− , αn− e ã−


n são

fixados pelos vı́nculos (3.48) e (3.49). Os modos de oscilação para αn− são,
r ∞ D−2
− 1 1 X X i
αn = α αi . (3.52)
2α0 p+ m=−∞ i=1 n−m m

Um caso especial é α0− =


p
α0 /2p− ,
D−2
α 0 p− 1 X 1 0 i i X i i 
= + αpp + αn α−n . (3.53)
2 2p i=1 2 n6=0

Também temos outras equações para p− . Do vı́nculo (3.48), temos que,


D−2
α 0 p− 1 X 1 0 i i X i i 
= + αpp + α̃n α̃−n . (3.54)
2 2p i=1 2 n6=0

Usando os vı́nculos pode-se construir a condição da camada de massa,


D−2 D−2 D−2
2 + −
X
i i 4 XX i i 4 XX i i
M = 2p p − pp = 0 α α = α̃ α̃ . (3.55)
i=1
α i=1 n>0 −n n α0 i=1 n>0 −n n

Daqui pode-se ver que a soma é de i = 1, . . . , D − 2. Estas são as oscilações transversais.

Vı́nculos

Há um problema quando vamos para a teoria quântica. Temos o problema de ambiguidade
de ordem na condição de camada de massa (3.55). O mesmo problema que na quantização
covariante. Então, temos a constante adicional a pela ambiguidade de ordem. Portanto

os estados de massa no calibre do cone de luz são,


D−2 D−2
4 4 XX i i
2
 4 4 XX i i 
M = 0 α−n αn − a = 0 ᾱ−n ᾱn − a . (3.56)
α α i=1 n>0 α α i=1 n>0

Esta equação pode ser expressa com os operadores número da seguinte forma,
D−2
XX D−2
XX
i
N= α−n αni e N̄ = i
ᾱ−n ᾱni . (3.57)
i=1 n>0 i=1 n>0

Então temos a equação (3.55) na forma mais simples,

4 4
M2 = 0
(N − a) = 0 (N̄ − a). (3.58)
α α
33

Agora da condição da camada de massa (3.55), um resultado direito para uma teoria
quântica é,
1X i i 1X i i 1X i i
α−n αn = α−n αn + α α . (3.59)
2 n6=0 2 n<0 2 n>0 −n n
Note que não tomamos a ambiguidade de ordem para chegar a esta forma.

Daqui os operadores de aniquilação αni com n > 0 são colocados no lado direito.
Estamos fazendo um ordenamento dos operadores, tal que,

1X i i 1X i i X
i D−2X
[α−n αn − n(D − 2)] + α−n αn = α−n αni + n. (3.60)
2 n<0 2 n>0 n>0
2 n>0

Note que o último termo diverge. Podemos dar uma interpretação fı́sica como a
soma da energia no ponto zero de infinitos osciladores. A forma de resolver isto pode-se

encontrar na seção seguinte.

3.2.1 Regularização pelo método do corte

O último termo da equação (3.60) é uma série muito peculiar. Esta série diverge. Para
dar um sentido fı́sico a esta série usamos a regularização pelo método de corte,2 onde será

encontrado que,

X 1
n→− . (3.61)
n=1
12
Esta série não é estranha na fı́sica. A série se apresenta em diferentes situações, por
exemplo, ao tratar a energia do vácuo do efeito Casimir. A série (3.61), não converge.
Porém, esta série pode ter um valor muito peculiar fazendo a regularização adequada.
1 1
Este valor é − 12 . Há algumas formas de encontrar o resultado − 12 . Nesta seção para
encontrar este número nós usamos a regularização pelo método do corte.
Então o que fazemos é substituir a soma (3.61) por outra soma que é regularizada

(esta escolha pode-se ver no livro de Polchinski [32, pág. 22]).


∞ ∞
+ α0 l)1/2
X X
n→ ne−n(π/2p .
n=1 n=1
2
Este método é comentado brevemente em [25,32]. Para uma revisão do método no contexto da TQC
aplicada ao efeito Casimir veja p.ex. [24].
34

P∞ + α0 l)1/2 P∞ + α0 l)1/2
Se A = n=1 ne−n(π/2p , e M = − n=1 e−n(π/2p , agora diferenciando M
com respeito de  temos,

dM + 0 1/2
X + 0 1/2
= (π/2p α l) ne−n(π/2p α l) ,
d n=1
dM
= (π/2p+ α0 l)1/2 A.
d

1 d X −n(π/2p+ α0 l)1/2
A=− e . (3.62)
(π/2p+ α0 l)1/2 d n=1
P∞ + α0 l)1/2
Vamos, agora, nós concentrar no termo n=1 e−n(π/2p da equação (3.62). Fa-
zemos uma mudança de variável, desta forma,
∞ ∞
−n(π/2p+ α0 l)1/2
X X
e → e−nλ .
n=1 n=1

onde λ = (π/2p+ α0 l)1/2 .

Desenvolvendo a série, temos que,



X
e−nλ = e−λ + e−2λ + e−3λ + e−4λ + · · ·
n=1

isso é uma série geométrica com razão e−λ .

Então a soma do n-ésimo termo da série geométrica é,

1 − rn
S n = a1 · , |r| < 1.
1−r

Esta soma só converge se e só se λ > 0. Nós precisamos da soma no infinito, então o termo

rn é muito pequeno e vai a zero para n → ∞. A soma no infinito é aproximadamente


igual a
a1
S= .
1−r

Então a soma que nós queremos é,



X e−λ
e−nλ = .
n=1
1 − e−λ
35

Podemos substituir este resultado na equação (3.62). Portanto, temos que,


+ 0 1/2
1 d  e−(π/2p α l) 
A=− . (3.63)
(π/2p+ α0 l)1/2 d 1 − e−(π/2p+ α0 l)1/2

É conveniente que, antes de efetuar a derivação indicada, exploremos o termo entre


parênteses.

Definição 3.1. O polinômios de Bernoulli Bk (x) são definidos pela função geradora:

text X tk
= Bk (x) . (3.64)
et − 1 k∈N k!

A expressões explı́citas dos polinômios de menor grau são, avaliados em x = 1,

B0 (1) = 1, B1 (1) = 1/2, B2 (1) = 1/6.

Na equação (3.64), avaliada em x = 1 fazemos uma pequena mudança,

et X tk−1
= Bk (1) .
et − 1 k∈N k!

Portanto, a equação (3.63) pode-se escrever desta forma,

1 d X tk−1 
A= Bk (1)
(π/2p+ α0 l)1/2 d k∈N k!
 d  X Bk (1) tk−1 
=−
t d k∈N k! k!
  X Bk (1) d k−1 
=− t
t k∈N k! d
X Bk (1)
= (1 − k)tk−2 (3.65)
k∈N
k!

onde t = −(π/2p+ α0 l)1/2 .


Agora só temos que expandir (3.65). Então temos,

B2
A = B0 (1)t2 + B1 (1) − + O()
2!
1 1
= 2
− + O()
t 12
2p+ α0 l 1
= 2 − + O() (3.66)
π 12
36

O primeiro termo diverge quando  → 0, este termo tem que ser subtraı́do. Depois da
renormalização temos,

X 1
n→− (3.67)
n=1
12

3.2.2 Regularização pelo método da função Zeta

Existe uma função que pode ajudar-nos a encontrar um valor desta serie infinita. A função
zeta de Riemann é definida como:

X 1
ζ(s) = R(s) > 1, (3.68)
n=1
ns
onde s é um número complexo e R denota só a parte real. Assim, está serie só converge

para R(s) > 1 e nós podemos definir uma função analı́tica nesta região.
Fazendo a continuação analı́tica nós chegamos a uma forma diferente para a função
Zeta3 , que é válida para R(s) < 0.
s 1 − s
Γ π −s/2 ζ(s) = Γ π −(1−s)/2 ζ(1 − s), (3.69)
2 2
π2
sabemos que Γ(1) = 1, Γ(− 21 ) = −2π 1/2 e ζ(2) = 6
. Então a função zeta de Riemann
para o valor s = −1 é,
1
ζ(−1) = − . (3.70)
12
Portanto, encontramos o valor da série que aparece no último termo das equações
(3.36) e (3.60).
Agora vamos substituir este resultado na equação (3.36) que está relacionada com L0 .

Então temos,
4 4
M2 = 0
(N − a) = 0 (Ñ − a). (3.71)
α α
De fato, agora nós podemos encontrar os comutadores dos operadores de Virasoro.

Portanto, os comutadores são,


D
[Lm , Ln ] = (m − n)Lm+n + m(m2 + 1)δm+n,0 . (3.72)
12
3
A continuação analı́tica está desenvolvida no livro Mathematical Methods for Physicists, de Arfken,
Weber e Harris [26, págs. 626–629].
37

O termo adicional aparece quando quantizamos. Os operadores de Virasoro ajudam a


eliminar os estados não fı́sicos. Estamos falando de estados com norma negativa. Então,

para eliminar os estados como norma negativa nós precisamos algumas condições. Destas
condições surgem as dimensões extras na teoria de cordas.
Portanto, para eliminar estes estados com norma negativa nós precisamos que

a = 1, D = 26.

Da equação (3.60) e (3.71), nós temos

4 4 X D−2X
M2 = (N − a) = ( Ñ − a) ≡ α i
α
−n n
i
+ n. (3.73)
α0 α0 n>0
2 n>0

1
P
Daqui nós fazemos com ajuda da série n>0 n → − 12

D−2X
−a = n
2 n>0
D−2 1
=−
2 12
D−2
=− ,
24

portanto se a = 1 então D = 26, para ter uma teoria consistente.


Continuando, vamos primeiro obter o operador masa. Temos da condição de camada
de masa,

pµ pµ + m2 = 0, (3.74)

desta equação nós temos,


m2 = −pµ pµ . (3.75)

Então, da relação,
(L0 − a) |φi = 0, (3.76)

chegamos à seguinte expressão



1 2 X
( α0 + α−n · αn − a) |φi = 0. (3.77)
2 n=1
38

Então nós temos



1 2 X
α + α−n · αn − a = 0. (3.78)
2 0 n=1
O primeiro termo da equação (3.78), é a massa ao quadrado,

1 2
α = α0 M 2 , (3.79)
2 0

onde α0 = 1
2πT
. Portanto, a condição de camada de massa para cordas bosônicas abertas
é,
α0 M 2 = (N − a), (3.80)

ou também !
D−2
α0 M 2 = N− . (3.81)
24
Daqui, para ter a = 1, se precisa ter D = 26.
Para cordas fechadas pode-se fazer um cálculo similar. Então temos,
∞ ∞
1 0 2 X X
αM = α−n · αn − a = ᾱ−n · ᾱn − a = N − a = N̄ − a (3.82)
4 n=1 n=1

Então agora para cordas abertas aplicamos o operador de massa α0 M 2 ao estado base,

α0 M 2 |0; ki = (N − 1) |0i = −1 |0; ki . (3.83)

O operador N atuando no estado fundamental é, N |0; ki = 0.


Portanto, temos que para N = 0 a massa do estado fundamental é imaginária,

α0 M 2 = −1 (3.84)

Os estados com massa negativa são chamados táquions. São estados não fı́sicos, porque os
táquions viajam mais rápido que a luz. Porém, os táquions não podem ser removidos da
teoria por razões de consistência. Quando nós implementamos a supersimetria na teoria

de cordas nós poderemos nós livrar dos táquions. Em consequência também teremos uma
teoria mais em acordo com a realidade, porque também teremos férmions junto com os
bósons.
39

i
Agora para N = 1, há um bóson vetorial α−1 |0; ki, estes estados não tem massa,
α0 M 2 = 0. Nós vemos que há 24 estados, a importância destes estados está em que eles

estão relacionados com os fótons.

Para N = 2, são os primeiros estados com massa, α0 M 2 = 1. Estes estados são


i i j
α−2 |0; ki e α−1 α−1 |0; ki. Pode-se ver que temos 324 estados massivos.

O espectro de massas para cordas fechadas é construı́do aplicando o operador de massa

(3.82). O estado fundamental |0; ki é outra vez um táquion, com massa α0 M 2 = −4.
j
Para N = 1 há 576 estados e o estado tem a forma de |Ωij i = α−1
i
ᾱ−1 |0; ki. Este
estado corresponde ao produto tensorial de dois vetores sim massa. A parte simétrica
e sem traço do tensor |Ωij i, transforma pelo grupo SO(24) como uma partı́cula de spin

2, esta partı́cula é o gráviton. A parte antisimétrica de |Ωij i é um escalar sem massa,


chamado dı́laton.

3.3 Teoria de campo conforme em d = 2

Nesta parte vamos estudar a teoria de campo conforme em duas dimensões ( para mais
referências vide [33]). A evolução temporal da corda gera uma superfı́cie bidimensional

no espaço-tempo. Esta superfı́cie é a folha de mundo. A cada ponto na folha de mundo


corresponde-lhe um ponto no espaço-tempo. A formulação da teoria de cordas envolve
campos que residem na folha de mundo. A folha de mundo é invariante por reparame-

trização. Porém, a folha de mundo também é invariante pelas transformações conformes.


A invariância conforme da folha de mundo é importante para prevenir os estados com
probabilidade negativa (estados fantasmas).

Vamos trabalhar com uma métrica Euclidiana no espaço plano. Lembrando as trans-
formações conformes da teoria de variáveis complexas, uma transformação conforme é
uma aplicação de uma região do plano complexo para outra região nova. A transformação

conforme preserva os ângulos mas não os comprimentos.


40

Definição 3.2. Uma aplicação φ é chamada transformação conforme, se o tensor métrico


satisfaz φ · g 0 = Λg.

Podemos expressar esta condição da seguinte forma,

∂x0ρ ∂x0σ
gρσ 0 (x0 ) = Λ(x)gµν (x). (3.85)
∂xµ ∂xν

Escrevendo de um forma mais geral,

φ · gρσ 0 (x0 ) = Λ(x)gµν (x). (3.86)

Consideremos uma transformação de coordenadas infinitesimal, onde o parâmetro  


1,

x0ρ = xρ + ρ (x) + O(2 ). (3.87)

Nós introduzimos a transformação infinitesimal (3.87) em nossa condição (3.85), e


temos a seguinte restrição,
2
∂µ ν + ∂ν µ = (∂ · )ηµν , (3.88)
d
onde utilizamos a notação ∂ µ µ = ∂ · . Também achamos que o fator de escala é,

2
Λ(x) = 1 + (∂ · ) + O(2 ). (3.89)
d

Da condição (3.88), para transformações conformes infinitesimais em duas dimensões,


µ, ν = 0, 1, nós temos,

∂0 0 = ∂1 1 , ∂0 1 = −∂1 0 . (3.90)

Estas equações são as condições de Cauchy-Riemann. As funções 0 e 1 são complexas e


holomorfas. Portanto, nós definimos as variáveis complexas da seguinte forma,

1
z = x0 + ix1  = 0 + i1 ∂z = (∂0 − i∂1 ), (3.91)
2
1
z̄ = x0 − ix1 ¯ = 0 − i1 ∂z̄ = (∂0 + i∂1 ). (3.92)
2
41

Uma função holomorfa f (z) = z + (z) dá origem a uma transformação conforme
z → f (z). Então o intervalo sob uma transformação conforme é como segue

∂f ∂f
ds2 = dzdz̄ → dzdz̄. (3.93)
∂z ∂ z̄

Onde o Jacobiano é o fator de escala | ∂f


∂z
|2 .
Em geral uma transformação conforme infinitesimal pode ser definida da seguinte
forma,

z 0 = z + (z), z̄ 0 = z̄ + ¯(x). (3.94)

onde o (z) é holomorfa.


Podemos fazer uma expansão em série de Laurent em torno do ponto z = 0.

X X
z0 = z + n (−z n+1 ) e z̄ 0 = z̄ + ¯n (−z̄ n+1 ). (3.95)
n∈Z n∈Z

Os geradores destas transformações infinitesimais são,

ln = −z n+1 ∂z , e ¯ln = −z̄ n+1 ∂z̄ . (3.96)

Vemos que n ∈ Z e o número de transformações infinitesimais é infinito. Os comuta-


dores destes geradores são os seguintes,

[lm , ln ] = (m − n)lm+n , [¯lm , ¯ln ] = (m − n)¯lm+n , e [lm , ¯ln ] = 0. (3.97)

O primeiro comutador é o bracket de Lie da álgebra de Witt. Esta álgebra permite


uma extensão central que está em relacionada com a mecânica quântica. Portanto vamos
denotar o elemento desta álgebra como Ln onde n ∈ Z e suas relações de comutação são

c
[Lm , Ln ] = (m − n)Lm+n + (m3 − m)δm+n,0 . (3.98)
12

Também, podemos fazer o mesma mudança para ¯ln → L̄n . Enfim, a extensão central
da álgebra de Witt é chamada álgebra de Virasoro e c é uma constante chamada carga

central.
42

3.3.1 Transformações conforme em teoria das cordas

Uma teoria de campos conforme é uma teoria de campos quânticos que é invariante pelas

transformações conformes. Na transformação conforme a escala não é mantida. Então,


a teoria de campo conforme não tem escala de comprimento e não tem escala de massa.
Estas caracterı́sticas são importantes no desenvolvimento da teoria.

Agora nós aplicamos a teoria de campo conforme às cordas. Então fazemos uma
mudança das coordenadas do cone de luz em coordenadas Euclideanas. Para fazer isso
precisamos da rotação de Wick, onde se faz uma transformação na coordenada temporal

de t → −it. A rotação de Wick simplesmente faz uma mudança da métrica do cone de


luz na métrica Euclidea. Agora pela rotação de Wick temos a mudança de coordenadas
(+, −) para (z, z̄). As coordenadas z e z̄ são definidas da seguinte maneira,

z = τ + iσ e z̄ = τ − iσ. (3.99)

Imediatamente nós procuramos a ação de Polyakov com métrica Euclideana. Temos


a ação de Polyakov,
Z
1
S=− dτ dσ(∂τ X µ ∂τ Xµ + ∂σ X µ ∂σ Xµ ). (3.100)
4πα0

Agora temos que transformar a ação usando as transformações (3.99). Então, trocamos
as coordenadas da seguinte forma,

z + z̄ z − z̄
τ= e σ= . (3.101)
2 2i

Daqui também encontramos as derivadas parciais

∂ 1 ∂ ∂
∂= = ( −i ) e (3.102)
∂z 2 ∂τ ∂σ
∂ 1 ∂ ∂
∂¯ = = ( + i ). (3.103)
∂ z̄ 2 ∂τ ∂σ
Então a ação de Polyakov em coordenadas complexas é,
Z
1 ¯ µ.
S= d2 z∂X µ ∂X (3.104)
2πα0
43

A nova ação de Polyakov é muito mais simples e podemos achar as equações de movi-
mento clássicas da mesma forma que fizemos antes. Exigimos que a variação da ação seja

zero, δS = 0. Daqui encontramos as equações de movimento clássicas,


Z
1 ¯ µ ).
δS = d2 z∂X µ (∂δX (3.105)
2πα0

Em consequência de uma ação invariante nós achamos a equação de movimento

¯ µ (z, z̄) = 0.
∂ ∂X (3.106)

3.4 Quantização BRST

Como já vimos antes, os métodos para quantizar as cordas tem ventagens e desvanta-

gens. A quantização covariante mantém a invariância manifesta de Lorentz mas presenta


estados fantasma. A quantização no cone de luz não apresenta estados fantasmas, não
tem a invariância manifesta de Lorentz e a dimensionalidade crı́tica d = 26 é obtida com

facilidade. Agora trataremos de outra forma a quantização das cordas.

Este método se chama quantização BRST (onde o BRST refere-se a Becchi, Rouet,
Stora e Tyutin [27, 28]). A quantização BRST tem a invariância de Lorentz manifesta,

mas também apresenta estados fantasmas. Os estados fantasma são fáceis de separar dos
estados fı́sicos. Este método quantiza uma teoria de campos com uma simetria de calibre.

Consideramos uma teoria de campos φ que tem uma simetria de calibre. As trans-
formações de calibre satisfazem à álgebra,

[Ki , Kj ] = fij k Kk . (3.107)

Para fazer a quantização BRST nós introduzimos os campos fantasma bi e cj que

satisfazem as relações de anticomutação,

{ci , cj } = 0, {bi , bj } = 0 e {ci , bj } = δji . (3.108)


44

Estos campos são fermiônicos. Agora, podemos construir dois operadores com ajuda
do campo Ki e dos campos fantasma bi e cj . O primeiro operador BRST é,

1
Q = ci Ki − fij k ci cj bk . (3.109)
2

O operador Q caracteriza-se por Q = Q† e Q2 = 0. O operador Q é nilpotente.

O segundo operador BRST, é um operador composto só de campos fantasma. Este


operador é chamado operador número fantasma U . É definido como

U = c i bi . (3.110)

Este operador tem valores próprios inteiros,

U |ψi = m |ψi , (3.111)

onde m = 0 . . . n, são inteiros.


Um estado |ψi é invariante BRST se o operador Q aniquila o estado , Q |ψi = 0. Esses
estados |ψi invariantes são estados fı́sicos da teoria.

Nós chamamos estado |ψi nulo se,

|ψi = Q |χi . (3.112)

Sabemos que Q2 = 0 (operador nilpotente), então temos que Q |ψi = Q2 |χi = 0.


Se temos um estado fı́sico arbitrário |ϕi, então achamos a amplitude com o estado nulo.
Temos que,

hϕ|ψi = hϕ| (Q |χi) = (hϕ| Q) |ψi = 0.

A amplitude do estado nulo e o estado fı́sico desaparecem.


Um estado fı́sico |φi é equivalente a outro estado fı́sico |φ0 i, se é adicionado um estado
nulo da seguinte forma,

|φ0 i = |φi + Q |χi .

A predição fı́sica não muda a teoria, porque as amplitudes não mudam.


45

O operador Q faz aumentar el número fantasma de um estado por 1. Se o número


fantasma de |ψi é m, então o número fantasma de |χi é m − 1. Um caso importante são

os estados |ψi com número fantasma 0. Então, se o número fantasma é 0, temos que,

U |ψi = 0. (3.113)

Observando a equação (3.113), implica que bk |ψi = 0. O campo fantasma bk aniquila


o estado |ψi, mas o campo fantasma ck não pode aniquilar o estado |ψi por consistência.

A importância dos estados |ψi com número fantasma zero é o seguinte. Observando

a equação (3.109), sabemos que bk |ψi = 0, então,

Q |ψi = ci Ki |ψi . (3.114)

Esta equação implica que estados com número fantasma zero,

Ki |ψi = 0.

Daqui pode-se dizer que um estado com número fantasma zero é invariante BRST e
também é invariante pela simetria descrita pelos geradores Ki . Além disso, se um estado
|ψi tem número fantasma igual a zero, então se diz que o estado |ψi não é um estado

fantasma. Portanto, evitamos os estados com norma negativa ou probabilidade negativa.

3.4.1 Quantização BRST das cordas

Aqui consideramos a quantização BRST através das transformações BRST que é derivado
a partir do abordagem de caminho integral. Para mais detalhe pode-se ver [18, 20, 29].

Temos as transformações BRST expressas em termos das coordenadas do cone de luz.

δX µ = i(c+ ∂+ + c− ∂− )X µ

δc± = ±i(c+ ∂+ + c− ∂− )c± (3.115)


f
δb±± = ±i(T±± + T±± )
46

A ação que contem os campos fantasma em coordenadas do cone de luz pode ser
escritas como,
Z
1
Sf = d2 (b++ ∂− c+ + b−− ∂+ c− ). (3.116)
π
Esta ação tem uma simetria pelas transformações BRST.
f
Agora, o tensor energia-momento fantasma T±± , em componentes é dada por,

T f++ = (2b++ ∂+ c+ + b−− ∂+ c+ ) e (3.117)

T f−− = (2b−− ∂− c− + ∂− b−− c− ). (3.118)

O tensor de energia-momento conserva-se se,

∂− T f++ = 0 e ∂+ T f−− = 0. (3.119)

As equações de movimento dos campos fantasma são,

∂− b++ = ∂+ b−− = ∂− c+ = ∂+ c− = 0. (3.120)

Portanto, podemos expandir os campos fantasmas em modos de Fourier,


X X
c+ = cn e−in(τ +σ) , c− = c̄n e−in(τ −σ) (3.121)
n n
X X
b++ = bn e−in(τ +σ) , b−− = b̄n e−in(τ −σ) (3.122)
n n

onde cn ,c̄n ,bn e b̄n são os coeficientes de Fourier.


Os modos de Fourier satisfazem às relações de anticomutação,

{bm , cn } = δm+n,0 e {bm , bn } = {cm , cn } = 0. (3.123)

Os operadores de Virasoro associados aos campos fantasma são,


X
Lfm = (m − n) : bm+n c−n : e (3.124)
n
X
L̄fm = (m − n) : b̄m+n c̄−n : (3.125)
n
47

Daqui temos a álgebra de Virasoro para os campos fantasma,

1
[Lfm , Lfn ] = (m − n)Lfm+n + (m − 13m3 )δm+n,0 . (3.126)
6

Então os operadores de Virasoro para os campos X e os campos fantasma são,

Lm = LX f
m + Lm − aδm,0 , (3.127)

a constante a do último termo do lado direito aparece por ordenamento normal para
m = 0.

Portanto, a álgebra para o sistema total é,

[Lm , Ln ] = (m − n)Lm+n + A(m)δm+n . (3.128)

onde A(m) é,


D 1
A(m) = m(m2 − 1) + (m − 13m3 ) + 2am (3.129)
12 6
O termo A(m) na equação (3.129), impede obter uma relação que preserva o álgebra
clássica de Virasoro. Este termo é conhecido com uma anomalia. Para fazer que a

anomalia desapareça, fazemos que D = 26 e a = 1. Esto é consistente com os outros


resultados obtidos na seção precedente.
48

Capı́tulo 4

Teoria de Supercordas

As cordas bosônicas foram estudadas nos capı́tulos anteriores. O espectro das cordas
fechadas apresenta um táquion. Os táquions são não fı́sicos, eles representam uma insta-

bilidade do vácuo. Também, as cordas bosônicas não representam o universo observável.


O espectro das cordas bosônicas (fechadas e abertas) não tem férmions. Os férmions são
importantes, porque os quarks e léptons do modelo padrão são férmions. Para ter uma

teoria de acordo com a natureza se precisa de férmions. Uma forma de incluir os férmions
é através da supersimetria. A supersimetria relaciona férmions com bósons (bósons com
férmions). A teoria de cordas com supersimetria chama-se teoria de supercordas. Existem

maneiras diferentes de incorporar a supersimetria em cordas1 . Aqui duas abordagens são


apresentadas: O formalismo de Ramond-Neveu-Schwarz (RNS) e o formalismo de Green
Schwarz (GS).

Neste capı́tulo se estuda de uma forma breve os conceitos básicos da supersimetria.


Em seguida, é feito um estudo da supersimetria na folha do mundo da corda (formalismo

RNS), depois é feita a quantização neste abordagem. Finalmente se estuda a supersimetria


no espaço-tempo de Minkowski em 10 dimensões (formalismo GS).

1
Nathan Berkovits propôs um novo formalismo em 1999, o novo formalismo é chamado Espinores
Puros.
49

4.1 Supersimetria

O modelo mais simples que é conhecido, é o modelo de Wess-Zumino [30]. Este modelo

é simples, mas serve para entender a supersimetria na fı́sica. O primeiro modelo super-
simétrico que é compatı́vel com o modelo padrão foi enunciado por Howard Georgi e Savas
Dimopoulos em 1981, e é chamado Modelo Padrão Supersimétrico Mı́nimo (MSSM) [31].

Em seguida nós desenvolveremos uma supersimetria para cordas. A ação para a corda
bosônica está relacionada a uma teoria de campos em duas dimensões, formulada num
espaço bidimensional (a folha de mundo). Uma ação necessária para desenvolver uma

teoria de cordas com supersimetria na folha do mundo, precisa de coordenadas na folha


do mundo σ α e duas coordenadas associadas θA . A coordenada θA é uma variável de
Grassmann que compreende de um espinor de Majorana de duas componentes.

Definição 4.1 (Superespaço). O superespaço Σ̂ é uma variedade em duas dimensões,


de coordenadas σ α e θA onde,
{θA , θB } = 0, (4.1)

θA é uma variável de Grassmann.

Definição 4.2 (Supercampo). A função Y µ num superespaço Σ̂ será definido por,

1
Y µ (σ, θ) = X µ (σ) + θ̄ψ µ (σ) + θ̄θB µ (σ). (4.2)
2

O gerador de supersimetria é


QA = A
+ i(ρα θ)A ∂α . (4.3)
∂ θ̄

É conveniente introduzir um parâmetro arbitrário A que anticommuta. Também, é

adequado trabalhar com ¯Q. Os geradores de transformação são:

δθA = [¯Q, θA ] = A e (4.4)

δσ α = [¯Q, σ α ] = i¯ρα θ. (4.5)


50

Estas equações são transformações das coordenadas do superespaço. Também, pode-se


definir a transformação do supercampo de acordo com,

δY µ = [¯Q, Y µ ] = ¯QY µ . (4.6)

Proposição 4.3. O supercampo (4.2) se transforma de acordo com as seguintes equações


de transformação,

δX µ = ¯ψ µ ,

δψ µ = −iρα ∂α X µ + B µ , (4.7)

δB µ = −i¯ρα ∂α ψ µ .

Demonstração. Para fazer esta demonstração precisamos de uma das identidades de Fierz

1
θA θ̄B = − δAB θ̄C θC , (4.8)
2

sabendo que θA = θA .
Começamos com a transformação do supercampo (4.6),
 ∂  1
A µ
¯ QA Y = ¯ A
A
+ i(ρ θ)A ∂α (X µ (σ) + θ̄B ψBµ + θ̄B θB B µ (σ))
α
∂ θ̄ 2
∂ 1
= ¯A ψAµ + ¯A A ( θ̄B θB )B µ + i¯A (ρα θ)A ∂α X µ + i¯A (ρα θ)A θ̄B ∂α ψBµ
∂ θ̄ 2

= ¯A ψAµ + ¯A A (−θA θ̄B )B µ − iθ̄A ρα A ∂α X µ − iθ̄A ρα A θ̄B ∂α ψBµ
∂ θ̄
= ¯A ψAµ + ¯A θA B µ − iθ̄A ρα A ∂α X µ − iθ̄A ρα θB A ∂α ψBµ

= ¯A ψAµ + θ̄A A B µ − iθ̄A ρα A ∂α X µ − iθ̄A θB ρα A ∂α ψBµ


1
= ¯A ψAµ + θ̄A (−iρα A ∂α X µ + A B µ ) + θ̄C θC (−iρα C ∂α ψCµ )
2
1
δY µ = δX µ (σ) + θ̄δψAµ (σ) + θ̄θδB µ (σ).
2

Assim, demonstra-se que as transformações (4.7) propostas são verdadeiras.

Proposição 4.4. A ação com supersimetria manifesta é,


Z
i
S= d2 σd2 θD̄Y µ DY µ , (4.9)

51

onde D é a derivada covariante,


DA = + (ρθ)A ∂α . (4.10)
∂ θ̄A

Demonstração. Só se multiplica D̄Y µ com DYµ e substituı́mos em (4.9). Note que dθ2 =

dθθ̄. Aqui utilizamos a integração de variáveis de Grasmmann.

Z Z Z
dθ̄θ̄ = 1, dθθ̄θ = −2 e dθ(a + θb) = b.

Z
i
S= d2 σd2 θD̄Y µ DYµ

Z
i
= d2 σd2 θ(−ψ̄ µ ρα ∂α ψµ θ̄θ + B µ Bµ θ̄θ − θ̄ρα ∂α X µ ρβ θ∂β Xµ )

Z
1
=− d2 σd2 θ(∂α Xµ ∂ α Xµ + ψ̄ µ ρα ∂α ψµ − Bµ B µ )

Esta é a ação que precisamos para desenvolver nossa teoria de supercordas.

4.2 Formulação das supercordas de Ramond-Neveu-


Schwarz

Aqui tratamos a supersimetria na folha de mundo [7, 8]. As coordenadas do espaço-


tempo (campo bosônico) X µ (σ, τ ) estão associadas a um parceiro (fermiônico) ψ µ (σ, τ ).

O campo ψ µ (σ, τ ) é um espinor de duas componentes na folha de mundo e é um vetor


pelas transformações de Lorentz num espaço-tempo de D-dimensões. Mostramos que uma
2
ação com supersimetria N = 1 fornece uma teoria de cordas com dimensão D = 10.

É preciso o mecanismo GSO (proposto por Gliozzi, Sherk e Olive [9]) para truncar o
espectro e obter o mesmo número de estados bosônicos e fermiônicos. O processo desta
parte pode ser encontrada em [20].

2
A supersimetria estendida na folha de mundo para N = 2 leva à dimensão crı́tica D = 2, e uma
supersimetria N = 4 conduz a uma dimensão crı́tica negativa.
52

4.2.1 Ação da corda supersimétrica

Sabemos que a dinâmica da corda gera uma região no espaço-tempo. Esta região é
chamada folha do mundo. O requerimento do movimento clássico da corda é que a região

da folha do mundo seja mı́nima. Então, temos a ação de Polyakov da corda bosônica,


Z
1
Sbos =− d2 σ −hhαβ (σ)gµν (X)∂α X µ ∂β X ν . (4.11)
2

onde as funções X µ (τ, σ) com µ = 0, . . . , D − 1, definem um mapeamento da folha do


mundo no espaço-tempo de dimensão D. As variáveis σ 0 = τ e σ 1 = σ parametrizam
a folha do mundo e hαβ com α, β = 0, 1, é a métrica induzida da folha do mundo,

h = det(hαβ ) e hαβ = (h−1 )αβ . A métrica gµν descreve o espaço-tempo curvo. Porém,
pode-se fazer uma fixação de calibre para ter uma métrica gµν = ηµν num espaço-tempo
plano.

Precisamos de uma teoria de cordas com bósons e férmions. Nesta parte é estudado
o formalismo Ramond-Neveu-Schwarz. Se generaliza a ação bosônica (4.11). Portanto,

são introduzidos os campos fermiônicos ψ µ (τ, σ), os quais são espinores de Majorana3
de duas componentes na folha do mundo e vetores pelas transformações de Lorentz no
espaço-tempo.

Então, a ação4 geral com parte bosônica e parte fermiônica é,


Z
1
S=− d2 σ(∂α X µ ∂ α Xµ − iψ̄ µ ρα ∂α ψµ ). (4.12)

onde ψ̄ = ψ † ρ0 . As matrizes ρα , com α = 0, 1 são matrizes de Dirac em duas dimensões.


   
0 0 −i 1 0 i
ρ = , ρ = . (4.13)
i 0 i 0
3
Os espinores de Majorana simplesmente indicam que as componentes de ψ são reais para a repre-
sentação do álgebra de Dirac (ψ † = ψ T ).
4
No livro de Becker, Becker e Schwarz tem definida uma ação da forma
Z
1
S=− d2 σ(∂α X µ ∂ α Xµ + ψ̄ µ ρα ∂α ψµ )

53

As matrizes de Dirac têm a propriedade,

{ρµ , ρν } = −2η µν , (4.14)

onde { , } é o anticomutador.
As componentes de ψ µ são números de Grassmann, e têm a propriedade,

{ψ µ , ψ ν } = 0. (4.15)

Para dois férmions quasquer ψ e χ têm-se a seguintes propriedades,


χ̄ψ = ψ̄χ,
(4.16)
χ̄ρα ψ = −ψ̄ρα χ,
Proposição 4.5 (Supersimetria). A ação 4.12, é invariante pelas transformações su-

persimétricas,

δX µ = ¯ψ µ = ψ̄ µ ,

δψ µ = −iρα ∂α X µ , (4.17)

δ ψ̄ µ = i¯ρα ∂α X µ .

onde  é um espinor infinitesimal constante, cujas componentes são números de Gras-


smann. Estas transformações mudam campos bosônicos em campos fermiônicos e vice-

versa.

Demonstração. A variação da ação (4.12) tem que ser zero (δS = 0), usando as proprie-
dades (4.16), nós temos.
Z
1
δS = − d2 σ(2∂α δX µ ∂ α Xµ − iδ ψ̄ µ ρα ∂α ψµ − iψ̄ µ ρα ∂α δψµ )

Z
1
=− d2 σ(¯2∂α ψ µ ∂ α Xµ − iδ ψ̄ µ ρα ∂α ψµ + i∂α δ ψ̄µ ρα ψ µ )

Z
1
=− d2 σ(¯2∂α ψ µ ∂ α Xµ + ¯ρβ ∂β X µ ρα ∂α ψµ − ¯ρβ ρα ∂α ∂β X µ ψµ )

Z
1
=− d2 σ¯(2∂α ψ µ ∂ α Xµ + ρβ ρα ∂β X µ ∂α ψµ − ρβ ρα ∂α ∂β X µ ψµ )

Z
1
=− d2 σ¯(2∂α ψ µ ∂ α Xµ + ∂α (ρβ ρα ∂β X µ ψµ ) − 2ρβ ρα ∂α ∂β X µ ψµ ). (4.18)

54

Agora fazemos o seguinte,

1
ρβ ρα ∂α ∂β = (ρβ ρα ∂α ∂β + ρβ ρα ∂α ∂β )
2
1 β α
= (ρ ρ ∂α ∂β + ρα ρβ ∂β ∂α )
2
1
= (ρβ ρα ∂α ∂β + ρα ρβ ∂α ∂β )
2
1
= (ρβ ρα + ρα ρβ )∂α ∂β
2
1
= {ρβ , ρα }∂α ∂β
2
= −∂α ∂ α . (4.19)

Consequentemente, substituindo a equação (4.19) em (4.18), temos que,


Z
1
δS = − d2 σ¯(2∂α ψ µ ∂ α Xµ + ∂α (ρβ ρα ∂β X µ ψµ ) − 2ρβ ρα ∂α ∂β X µ ψµ ) (4.20)

Z
1
=− d2 σ¯(2∂α ψ µ ∂ α Xµ + ∂α (ρβ ρα ∂β X µ ψµ ) + 2∂α ∂ α X µ ψµ ) (4.21)

Z
1
=− d2 σ¯(∂α (2ψ µ ∂ α Xµ ) + ∂α (ρβ ρα ∂β X µ ψµ )) (4.22)

Z
1
=− d2 σ¯∂α (2ψ µ ∂ α Xµ + ρβ ρα ∂β X µ ψµ ). (4.23)

Daqui a integração das derivadas totais podem ser tratadas com as condições de contorno,

portanto se demostra que δS = 0.

Agora é calculada a supercorrente J α que é consequência das transformações de su-

persimetria. Calcula-se a variação da ação (4.12). Então, obtêm-se


Z
2
δS = − d2 σ∂α ¯J α (4.24)
π

onde a supercorrente é,


1
J α = ρβ ρα ψ µ ∂β Xµ . (4.25)
2
Então, obtemos o tensor energia-momento,

1 1
Tαβ = ∂α X µ ∂β Xµ + ψ̄ µ ρα ∂β ψµ + ψ̄ µ ρβ ∂α ψµ . (4.26)
4 4
55

É melhor definir as coordenadas do cone de luz,

σ ± = τ ± σ, (4.27)

∂± = ∂τ ± ∂σ . (4.28)

A métrica em coordenadas do cone de luz é


   
η++ η+− 1 0 1
=− . (4.29)
η−+ η−− 2 1 0

Nestas coordenadas temos,

ρ+ = ρ0 + ρ1 , ρ− = ρ0 − ρ1 . (4.30)
   
− 0 1 + 0 0
ρ+ = η+− ρ = , ρ− = η−+ ρ = . (4.31)
0 0 −1 0
Portanto, a condição do traço de tensor energia-momento igual a zero, toma a forma

T+− = 0 e T−+ = 0. Então, o tensor energia-momento e a supercorrente são,

i µ
T++ = ∂+ X µ ∂+ Xµ = ψ+ ∂+ ψ+µ , (4.32)
2
i µ
T−− = ∂− X µ ∂− Xµ = ψ− ∂− ψ−µ , (4.33)
2
µ
J+ = ψ+ ∂ + Xµ , (4.34)
µ
J− = ψ− ∂ − Xµ . (4.35)

4.2.2 Condições de fronteira


Campos bosônicos

As equações de movimento para os campos bosônicos são obtidas fazendo a variação de


(4.12) com respeito a X µ . Então temos,

∂α ∂ α X µ = 0. (4.36)

Em coordenadas do cone de luz, pode-se escrever,

∂− ∂ + X µ = 0. (4.37)
56

As soluções das cordas bosônicas já foram encontradas na seção § 2.4. Para cordas
fechadas temos,

1 1 i X 1 µ −2in(τ −σ)
XRµ (τ, σ) = xµ + pµ (τ − σ) + α e e (4.38)
2 2 2 n6=0 n n

1 1 i X 1 µ −2in(τ +σ)
XLµ (τ, σ) = xµ + pµ (τ + σ) + ᾱ e . (4.39)
2 2 2 n6=0 n n

A solução total é,

i X 1 µ 2inσ
X µ (τ, σ) = xµ + pµ τ + (αn e + ᾱnµ e−2inσ ). (4.40)
2 n6=0 n

Para cordas abertas temos,

X1
X µ (τ, σ) = xµ + pµ τ + i αnµ e−inτ cos nσ. (4.41)
n6=0
n

onde α0µ = pµ . Os modos esquerdo e direito se misturam para formar ondas estacionárias.

Campos fermiônicos

Utilizando as coordenadas do cone de luz, na parte fermiônica da ação (4.12) escreve-se


da seguinte maneira [20],
Z
i
Sf erm = d2 σ(ψ+ ∂− ψ+ + ψ− ∂+ ψ− ), (4.42)
π

onde o campo fermiônico é


 µ 
µ ψ−
ψ = µ . (4.43)
ψ+

A variação da ação (4.42) em relação a ψ é,


Z
i
δSf erm = d2 σ(2δψ− ∂+ ψ− + 2δψ+ ∂− ψ+ − ∂+ (δψ− ψ− ) − ∂− (δψ+ ψ+ )). (4.44)
π

Portanto, as equações de movimento para os campos fermiônicos são,

∂+ ψ− = 0 e ∂− ψ+ = 0, (4.45)
57

com condições na fronteira,


σ=π
(ψ− δψ− − ψ+ δψ+ ) = 0. (4.46)
σ=0

Para a corda aberta estas condições são satisfeitas com,

µ µ
ψ+ = ±ψ− e σ = 0, π. (4.47)

Para σ = 0, pode-se fazer a escolha,

µ µ
ψ+ (τ, 0) = ψ− (τ, 0). (4.48)

Agora para ψ = π é preciso considerar dois casos. A condição na fronteira de Ramond


e a condição na fronteira de Neveu-Schwarz.

Condição na fronteira de Ramond (Periódica)

Para a condição na fronteira de Ramond (R) a condição utilizada é,

µ µ
ψ+ (τ, π) = ψ− (τ, π). (4.49)

A expansão dos modos de oscilação para os campos fermiônicos é,

µ 1 X µ −in(τ −σ)
ψ− (τ, σ) = √ dn e e (4.50)
2 n∈Z

µ 1 X µ −in(τ +σ)
ψ+ (τ, σ) = √ dn e . (4.51)
2 n∈Z
A soma é sobre todos os n inteiros.

Condições na fronteira de Neveu-Schwarz (Antiperiódica)

Para a condição na fronteira de Neveu-Schwarz (NS) é feita a escolha,

µ µ
ψ+ (τ, π) = −ψ− (τ, π). (4.52)

A expansão dos modos de oscilação são,

µ 1 X µ −ir(τ −σ)
ψ− (τ, σ) = √ br e e (4.53)
2 r∈Z+1/2
58

µ 1 X µ −ir(τ +σ)
ψ+ (τ, σ) = √ br e . (4.54)
2 r∈Z+1/2
A soma é feita sobre todos os r semi-inteiros.
Para as cordas fechadas pode-se fixar condições na fronteira periódicas ou antiperiódicas
para os modos esquerdo e direito da forma independente. Portanto, tem-se o seguinte,

µ
X
ψ− (τ, σ) = dµn e−2in(τ −σ) ou (4.55)
n∈Z

µ
X
ψ− (τ, σ) = bµr e−2ir(τ −σ) , (4.56)
r∈Z+1/2

para os movimentos para direita; e


X
µ
ψ+ (τ, σ) = d¯µn e−2in(τ +σ) ou (4.57)
n∈Z

µ
X
ψ+ (τ, σ) = b̄µr e−2ir(τ +σ) , (4.58)
r∈Z+1/2

para os movimentos para esquerda.


Correspondente aos diferentes emparelhamentos das cordas que se movimentam para
a esquerda e para direita, há quatro setores para a corda fechada. Nos referimos a esses

setores como: NS-NS, NS-R, R-NS e R-R. O primeiro e último caso descrevem os bósons
e os dois restantes descrevem os férmions.
Os geradores de super-Virasoro para cordas abertas são,
Z π Z π
1 imσ −imσ 1
Lm = dσ(e T++ + e T−− ) = dσeimσ T++ . (4.59)
π 0 π −π

Agora os geradores de super-Virasoro fermiônicos, se definem;


√ Z π √ Z π
2 imσ −imσ 2
Fm = dσ(e J+ + e J− ) = dσeimσ J+ , (4.60)
π 0 π −π

para o caso de condições de fronteira R; e


√ Z π √ Z π
2 2
Gr = dσ(eirσ J+ + e−irσ J− ) = dσeirσ J+ , (4.61)
π 0 π −π

para o caso de condições de fronteira NS.


59

4.2.3 Quantização covariante

O momento associado a X µ é,

δS 1
P µ (τ, σ) = = Ẋ µ . (4.62)
δ Ẋµ π

As relações de comutação canônicas para X µ e P µ são

[X µ (τ, σ), X ν (τ, σ 0 )] = [P ν (τ, σ), P µ (τ, σ 0 )] = 0, (4.63)

[X µ (τ σ), P ν (τ, σ 0 )] = iη µν δ(σ − σ 0 ). (4.64)

Daqui pode-se calcular as relações de comutação para os coeficientes de Fourier

µ
[αm , αnν ] = mδm+n η µν . (4.65)

Estas são as relações de comutação válidas para cordas fechadas e abertas. Porém, as
cordas fechadas precisam de uma relação de comutação a mais

µ
[ᾱm , ᾱnν ] = mδm+n η µν . (4.66)

µ
Os modos de expansão αm são para cordas abertas e fechadas. Os modos de expansão
µ
ᾱm só são para cordas fechadas.
Agora as relações de anti-comutação para as coordenadas fermiônicas ψAµ são,

{ψAµ (τ, σ), ψBν (τ, σ 0 )} = πδ(σ − σ 0 )η µν δAB . (4.67)

Isto implica que os modos de expansão bµr e dµn , satisfazem as seguintes relações de
anticomutação,
{bµr , bνs } = η µν δr+s e (4.68)

{dµn , dνm } = η µν δn+m . (4.69)

Estas são relações de anticomutação para cordas abertas e cordas fechadas direitas
(right-moving). Porém, também se precisa de relações de anticomutação para os modos

b̄µr e d¯µn da corda fechada esquerda (left-moving), mas só explicaremos para um caso.
60

Agora definem-se os estados fundamentais |0; pi como,

µ
αm |0; pi = dµm |0; pi , m>0 (4.70)

µ
αm |0; pi = bµr |0; pi , m, r > 0. (4.71)
µ
Uma aplicação dos operadores de criação α−m o dµ−m aumenta ou autovalor de α0 M 2
por m unidades. De mesma forma para bµ−r aumenta α0 M 2 por r unidades.

Supergeradores de Virasoro

A expanção em séries de Fourier das componentes do tensor energia-momento são dadas


por,

1 X
T++ = Ln e−in(τ +σ) e (4.72)
2 n=−∞

1 X
T−− = Ln e−in(τ −σ) , (4.73)
2 n=−∞
onde, os coeficientes de Fourier Ln são os supergeradores de Virasoro dados por,
1 π
Z
Lm = dσ(eimσ T++ + e−imσ T−− ) = L(bos)
m + L(f
m
er)
. (4.74)
π 0
Como já vimos antes, na teoria quântica os operadores definem-se com ordenamento
normal,

1 X
L(bos)
m = : α−n · αm+n : . (4.75)
2 n=−∞
Das relações de comutação αm+n e α−n comutam para m 6= 0. Então o ordenamento
normal só é importante para L0 .

Os supergeradores de Virasoro para a parte fermiônica dependem do setor. No setor


NS temos

1 X 1
L(f
m
er)
= (r + m) : b−r · bm+r :, (4.76)
2 r=−∞ 2
onde r é semi-inteiro.
O supergerador fermiônico (4.61) é,

X
Gr = α−n · br+n . (4.77)
n=−∞
61

O operador número N é,


N = N α + N b, (4.78)

onde,

X
Nα = α−n · αn e (4.79)
n=1
X∞
Nb = rb−r · br . (4.80)
r=1/2

A super-álgebra de Virasoro no setor NS são,

[Lm , Ln ] = (m − n)Lm+n + A(m)δm+n , (4.81)


1 
[Lm , Gr ] = m − r Gm+r , (4.82)
2
{Gr , Gs } = 2Lr+s + B(m)δr+s . (4.83)

onde,

1
A(m) = D(m3 − m), (4.84)
8
1 1
B(m) = D r2 − . (4.85)
2 4

Aqui A(m) e B(m) são termos das anomalias. Em cordas bosônicas também se tratou
este tipo de termo.
Se requer que os estados fı́sicos bosônicos |φi de acordo com as equações de vı́nculo,

tem que satisfazer,

Gr |φi = 0, r>0 (4.86)

Lm |φi = 0, m>0 (4.87)

(L0 − a) |φi = 0. (4.88)

Aqui por razões de consistência a = 21 .

O operador L0 pode-se escrever como,

1 a
L0 = α02 + N = p2 + N, (4.89)
2 2
62

onde α0µ = pµ .

Agora também pode-se utilizar a condição de camada de massa p2 = −M 2 .

No setor de Ramond os supergeradores de Virasoro são,



1 X 1
L(f
m
er)
= (n + m) : d−n · dm+n : . (4.90)
2 n=−∞ 2

Os modos das supercorrentes são,



X
Fm = : α−n · dm+n :, (4.91)
n=−∞

e o operador número é dado por,



X ∞
X
N= α−n · αn + d−n · dn . (4.92)
n=1 n=1

As super-álgebras de Virasoro no setor R são,

1
[Lm , Ln ] = (m − n)Lm+n + Dm3 δm+n , (4.93)
8
1
[Lm , Fn ] = ( m − n)Fm+n , (4.94)
2
1
{Fm , Fn } = 2Lm+n + Dm2 δm+n . (4.95)
2

Portanto os estados fı́sicos satisfazem,

Lm |φi = 0, m>0 (4.96)

Fr |φi = 0, r>0 (4.97)

(L0 − µ) |φi = 0 (4.98)

Neste novo setor a dimensão crı́tica também é D = 10, e a constante µ = 0. O

operador de massa é

M 2 = 2N, (4.99)

onde obtêm-se que o estado fundamental (N = 0) no setor R não tem massa.


63

Análise do espectro

Vamos analisar o espectro para alguns estados da corda aberta no calibre do cone de luz.
No setor NS, lembrando que a = 21 , o operador da massa é,
∞ ∞
0 2
X
i
X 1
αM = α−n αni + rbi−r bir − . (4.100)
n=1
2
r=1/2

O estado fundamental é aniquilado pelos modos positivos,

αni |0; kiN S = bir |0; kiN S = 0 para n, r > 0 (4.101)

Do operador da massa é óbvio que no setor NS o estado fundamental a massa é dada


por,
1
α0 M 2 = − .
2
O estado fundamental é um escalar no setor NS e outra vez temos um táquion.

O primeiro estado excitado no setor NS é bi−1/2 |0; kiN S , este estado tem massa nula.

No setor de R, o operador de massa é,



X ∞
X
0 2 i
αM = α−n αni + ndi−n din . (4.102)
n=1 n=1

O estado fundamental é a solução de,

αni |0; kiR = din |0; kiR = 0 para n > 0, (4.103)

assim como a equação de Dirac sem massa.

Em nossa notação escrevemos da seguinte maneira,

α0 · d0 |0; kiR = 0, (4.104)

onde d0 = Γµ . O modo zero d0 é o operador de Dirac. Também lembrando que o operador


α0µ está relacionado com o momento.

O estado fundamental no setor R é um espinor de Dirac sem massa em dez dimensões.


64

Projeção GSO

No setor NS tem-se um táquion para o estado fundamental. O espectro não é super-


simétrico, porque no setor R não se tem um férmion associado ao táquion. Para obter um
espectro supersimétrico e remover o táquion, é usado um truncamento do espectro que

foi feito por Gliozzi, Scherk e Olive [13], que é conhecido como projeção GSO.

A projeção no setor NS: Primeiro define-se um operador no setor NS

P∞
G = (−1) r=1/2 b−r ·br+1 . (4.105)

Aqui G determina se o número de excitações fermiônicas na folha de mundo é par


ou impar. Neste setor a projeção GSO consiste em eliminar os estados com paridade G

negativa. Desta forma elimina-se o táquion do espectro. Já que o estado fundamental
tem paridade G negativa,

G |0iN S = − |0iN S . (4.106)

Depois da projeção GSO o estado sem massa bµ1/2 |0i é estado fundamental do setor
NS.

A projeção no setor R: Aqui define-se o operador,

P∞
d−n ·dn
G = Γ11 (−1) n=1 , (4.107)

onde Γ11 = Γ0 Γ1 . . . Γ9 . A matriz Γ11 é análoga à matriz γ 5 .

O operador Γ são as matrizes de 32 × 32 que satisfazem a álgebra,

{Γµ , Γν } = 2η µν . (4.108)

também satisfazem,

(Γ11 )2 = 1 e {Γ11 , Γµ } = 0. (4.109)

Os espinores que satisfazem,

Γ11 |φi = ± |φi , (4.110)


65

tem quiralidade positiva ou negativa. Os operadores projeção de quiralidade são,


1
P± = (1 ± Γ11 ) (4.111)
2
Um espinor com uma definida quiralidade é chamado um espinor de Weyl.

No setor R se pode eliminar os estados com paridade G positiva ou negativa depen-


dendo da quiralidade do estado fundamental. Depois da projeção GSO tem-se um espectro
supersimétrico no espaço-tempo com mesmo número de bósons e férmions em cada nı́vel

de massa.

4.3 Formulação das supercordas de Green Schwarz

Na formulação RNS, vimos que pode-se incluir a supersimetria só na folha do mundo,

e podemos realizar a quantização covariante. Porém, na formulação RNS, temos uma


diferença no número de estados nos setores bosônico e fermiônico. Para ter a mesma
quantidade de estados nos setores precisamos do mecanismo GSO. Na formulação de

Green-Schwarz (GS) nós estudamos a teoria de cordas com supersimetria no espaço-tempo


[36–39]. O formalismo GS é um mapeamento (X µ , Θα , µ = 0, . . . , 9; α = 0, . . . , 16) da folha
de mundo no espaço-tempo supersimétrico. Este formalismo como veremos mais tarde

tem vantagens e desvantagens em relação ao formalismo RNS. A principal desvantagem


neste formalismo é a quantização covariante, é difı́cil fazer esta quantização. Então para
quantizar a teoria precisa-se do calibre do cone de luz. Portanto, nesta quantização se

perde a covariança de Lorentz manifesta. Mas as cordas bosônicas e fermiônicas são


unificadas num mesmo espaço de Fock.

4.3.1 Ação para D0-brana

Nós vamos começar estudando a partı́cula supersimétrica também chamada D0-brana5 .


Fazemos isto porque o mesmo caminho é seguido para uma corda ou D1-brana. Veremos

que a D0-brana e D1-brana tem o mesmo problema ao momento de quantizar a teoria.


5
No livro de Green-Schwarz-Witten a ação da D0-brana apresenta o campo auxiliar e(τ ).
66

Uma D0-brana de massa m tem a ação6 ,


Z q
S = −m dτ −Ẋ µ Ẋµ . (4.112)

Para generalizar o espaço-tempo de Minkowski num espaço-tempo supersimétrico, precisa-

se adicionar coordenadas fermiônicas ΘAα (τ ). Estas coordenadas são espinores que anti-
comutam, onde A = 1, . . . , N , sendo N o número de supersimetrias, e α = 1, . . . , 2D/2 é o
ı́ndice do espinor de Dirac em um espaço-tempo de dimensão par D. Para o caso D = 10,

os espinores são de Majorana-Weyl de 32 componentes.


Então agora é feita uma substituição, a coordenada Ẋ é substituı́da em (4.112) por,

Πµ0 = Ẋ µ − Θ̄A Γµ Θ̇A . (4.113)

Aqui o subı́ndice é 0 porque os dois termos estão derivados em relação ao tempo.

Porém, uma relação geral para Dp-branas é,

Πµα = ∂α X µ − Θ̄A Γµ ∂α ΘA , α = 0, 1, . . . , p. (4.114)

Para uma D0-brana só fazemos α = 0.


Tem-se a nova ação de (4.112),
Z p
S1 = −m dτ −Π0 · Π0 . (4.115)

Pode-se demostrar que esta ação é invariante pelas transformações globais de super-

Poincaré e difeomorfismos locais da linha de mundo.

Proposição 4.6 (Supersimetria.). A ação para D0-brana é invariante pelas trans-

formações supersimétricas,

δΘAa = Aa

δ Θ̄Aa = ¯Aa

δX µ = ¯A Γµ ΘA

δ = 0
6
Também pode-se fazer o desenvolvimento com a ação Brink-Schwarz [40].
67

aqui A é um espinor infinitesimal constante onde as componentes são números de Gras-


smann.

Demonstração.
Z
1
δS = −m δ(−Π0 · Π0 ) 2 dτ
δΠ0 · Π0
Z
=m 1 dτ
(−Π0 · Π0 ) 2

Só se precisa mostrar que δΠ0 = 0, então temos que,

δΠ0 = δ Ẋ µ − δ(ΘΓµ Θ̇A )


d A µ A
= (¯ Γ Θ ) − δΘA Γµ Θ̇A − Θ̄A Γµ δ Θ̇A
dt
= ¯Γµ Θ̇A − ¯Γµ Θ̇A = 0

É trivial fazer a demostração de

[δ1 , δ2 ]ΘAa = 0, [δ1 , δ2 ]X µ = −2¯A µ A µ


1 Γ µ = a , (4.116)

isto quer dizer que o comutador de uma transformação supersimétrica do campo bosônico
move uma quantidade aµ . Enquanto a transformação do campo fermiônico é inalterado.
As transformações supersimétricas mais as transformações de Poincaré formam em con-

junto o grupo de super-Poincaré.

As matrizes Γ satisfazem à álgebra (estas matrizes se definem no apêndice D),

{Γµ , Γν } = 2η µν (4.117)

No caso para uma teoria de supercordas tipo IIA temos que N = 2, então há dois
espinores de Majorana-Weyl Θ1 e Θ2 , que tem quiralidade oposta. Portanto, pode-se

definir o espinor de Majorana Θ = Θ1 + Θ2 , onde as coordenadas Θ1 e Θ2 podem-se


68

definir com ajuda da matriz7 Γ11 = Γ0 Γ1 . . . Γ9 ,

1
Θ1 = (1 + Γ11 )Θ, (4.118)
2
1
Θ2 = (1 − Γ11 )Θ. (4.119)
2
Então pode-se escrever

Πµ0 = Ẋ µ − Θ̄Γµ Θ̇. (4.120)

O momento associado a X µ é dado por,

δS1 m m
Pµ = =√ (Ẋµ − ΘΓµ Θ̇) = √ Π0µ . (4.121)
δ Ẋ µ −Π0 · Π0 −Π0 · Π0

A equação de movimento para X µ é,

Ṗµ = 0 (4.122)

Pode-se demostrar de (4.121) que,

P 2 = −m2 , (4.123)

esta é a condição de camada de massa (mass-shell).


As equações de movimento obtidas para Θ a partir da ação (4.115) são;

m2 Θ̇ = 0, e P · ΓΘ̇ = 0. (4.124)

Daqui vemos que no caso massivo o campo fermiônico Θ é inalterado ao longo do


tempo.

A equação da esquerda de (4.124) é obtido multiplicando o fator (P · Γ) com P · ΓΘ̇ =


0, portanto temos m2 Θ̇ = 0, assim para m 6= 0 temos Θ̇ = 0. No entanto, o fator
P · Γ é singular no caso massivo. Então pode-se saturar o limite BPS, para melhorar a

supersimetria. Isto sugere que existe outra contribuição à ação cuja inclusão assegura a
saturação de limite BPS e melhora a supersimetria. Suponhamos que há uma segunda
7
As matrizes Gama satisfazem Γ211 = 1 e {Γ11 , Γµ } = 0.
69

contribuição à ação, portanto a equação de movimento (4.124) muda para (para mais
referências vide [14, pág. 151]),

(P · Γ + mΓ11 )Θ̇ = 0. (4.125)

A consequência disto é uma contribuição adicional à ação S1 (4.115). Então temos,


Z
S2 = −m dτ Θ̄Γ11 Θ̇. (4.126)

Portanto a ação total é,


Z p
S = S1 + S2 = −m dτ ( −Π0 · Π0 + Θ̄Γ11 Θ̇). (4.127)

Esta ação é invariante pelas transformações de super-Poincaré e apresenta uma nova


caracterı́stica chamada simetria Kappa.

Simetria Kappa

A ação (4.127) tem uma simetria adicional, que é uma simetria fermiônica local que é

chamada simetria κ. Esta simetria envolve a variação δΘ, então, temos as transformações

δX µ = Θ̄Γµ δΘ = −δ Θ̄Γµ Θ. (4.128)

Portanto

δΠµ0 = δ Ẋ µ − δ Θ̄Γµ Θ̇ − Θ̄Γµ δ Θ̇ = −2δ Θ̄Γµ Θ̇. (4.129)

A variação da ação (4.127) pela simetria κ é,

Π · δΠ
Z

δS = −m dτ − √ + δ Θ̄Γ11 Θ̇ + Θ̄Γ11 δ Θ̇
Z −Π · Π Z
= −2m dτ δ Θ̄γΓ11 Θ̇ − 2m dτ δ Θ̄Γ11 Θ̇, (4.130)

onde
Γ · Π0
γ=√ Γ11 . (4.131)
−Π0 · Π0
70

Tem-se em conta que γ 2 = 1, pode-se definir os operadores de projeção

1
P± = (1 ± γ), (4.132)
2

de forma que a variação (4.130) é,


Z
δS = −2m δ Θ̄(1 + γ)Γ11 Θ̇dτ
Z
= −4m dτ δ Θ̄P+ Γ11 Θ̇. (4.133)

Então, a ação (4.127) é invariante pelas transformações,

δ Θ̄ = κ̄P− e

δX µ = −κ̄P− Γµ Θ. (4.134)

Aqui, κ(τ ) é um espinor de Majorana. A importância está em que sem a simetria


pode-se encontrar uma quantidade errada de graus de liberdade fermiônicos. A metade

das componentes de Θ desacoplam e podem ser eliminados com ajuda da simetria.

4.3.2 Ação para D1-brana

Nós introduzimos as ideias básicas da supersimetria no espaço-tempo considerando a D0-

brana (super-partı́cula)8 . Nesta seção vamos a generalizar a supersimetria para a corda


bosônica. Os campos X µ e ΘA onde A = 1, 2 dependem das coordenadas σ e τ que geram

a folha do mundo. Lembrando que esta folha é uma superfı́cie bidimensional no espaço
de Minkowski, com D = 10 dimensões. Vamos a considerar a ação de Polyakov9 ,


Z
1
S=− d2 σ −hhαβ ∂α X µ ∂β Xµ . (4.135)

Agora tem-se que generalizar esta ação seguindo a mesma maneira da super-partı́cula,


Z
1
S1 = − d2 σ −hhαβ Πα · Πβ , (4.136)

8
Um estudo mais detalhado é feito em [41]
9
No livro de Becker-Becker-Schwarz considera-se a ação de Nambu-Goto.
71

onde

Πµα ∂α X µ − Θ̄A Γµ ∂α ΘA . (4.137)

Aqui ΘA , A = 1, 2 são os espinores de Majorana-Weyl com 16 componentes reais.

Para a teoria tipo IIA os espinores Θ1 e Θ2 tem quiralidade oposta, enquanto para a
teoria tipo IIB tem a mesma quiralidade.

Γ11 ΘA = (−1)A+1 ΘA tipo IIA

Γ11 ΘA = ΘA tipo IIB. (4.138)

As transformações de supersimetria são,

δΘA = A e (4.139)

δX µ = ¯A Γµ ΘA . (4.140)

A ação (4.136) é invariante pelos difeomorfismos locais e transformações globais de

super-Poincaré. O problema com a ação (4.136) é que não é invariante pelas trans-
formações κ, então é preciso somar um termo S2 do tipo de Wess-Zumino. A nova ação
S = S1 + S2 é invariante pela transformação κ. Este novo termo é,
Z
1
S2 = − d2 σαβ [∂α X µ (Θ̄1 Γµ ∂β Θ1 − Θ̄2 Γµ ∂β Θ2 ) + Θ̄1 Γµ ∂α Θ1 Θ̄2 Γµ ∂β Θ2 ]. (4.141)
π

Onde αβ tem componentes 01 = −10 = 1 e 00 = 11 = 0. As variáveis bosônicas
transforman pela transformação Kappa de acordo a,

δ Θ̄1 = Γµ Πµα κ1β P−αβ

δ Θ̄2 = Γµ Πµα κ2β P+αβ (4.142)

δX µ = Θ̄Γµ δΘA = −δ Θ̄A Γµ ΘA ,

onde
1 αβ
P±αβ = (hαβ ± √ ). (4.143)
2 −h
72

A ação GS é S = S1 + S2 . Então temos,

√ h1
Z
1
S= d2 σ −h hαβ ∂α X µ ∂β Xµ − 2∂α X µ (P−αβ Θ̄1 Γµ ∂β Θ1 + P+αβ Θ̄2 Γµ ∂β Θ2 )
π 2
i
+ 2P+αβ Θ̄1 Γµ ∂α Θ1 Θ̄2 Γµ ∂β Θ2 . (4.144)

As equações de movimento para as supercordas no formalismo GS são extremamente


não lineares:

1
δhαβ → Tαβ = Πα · Πβ − hαβ hγδ Πγ · Πδ = 0
h√ 2 i
δX µ → ∂α −h(hαβ ∂β X µ − 2P−αβ Θ̄1 Γµ ∂β Θ1 − 2P+αβ Θ̄2 Γµ ∂β Θ2 ) = 0 (4.145)

δΘ1 , δΘ2 → Γµ Πµα P−αβ ∂β Θ1 = Γµ Πµα P+αβ ∂β Θ2 = 0

Estas equações podem ser lineares se são impostos os seguintes calibres,

X + = x+ + p + τ

1
Γ+ ΘA = 0 onde Γ± = √ (Γ0 ± Γ9 )
2
Na seguinte seção tratamos estos calibres.

A grande vantagem do formalismo de GS está nos campos fermiônicos ΘA que podem-


se transformar como espinores no espaço-tempo. Também a supersimetria é manifesta no

espaço-tempo. Porém, é difı́cil quantizar covariantemente o formalismo GS. O problema


é que não podem ser separados covariantemente os vı́nculos de primeira classe e segunda
classe10 . Mas no calibre do cone de luz a quantização pode ser feita.

4.3.3 Calibre do cone de luz

Como na seção § 3.2, fazemos uma escolha de calibre do cone de luz. Podemos fazer uma
fixação de calibre hαβ = η αβ e ainda há uma invariância conforme residual que pode ser
10
Nas Lectures de P.A.M. Dirac, se ensina o processo de quantização de uma teoria, onde os vı́nculos
desempenham um papel importante no momento de quantizar [35].
73

aproveitada. Então nós podemos fazer uma escolha de calibre adicional [20]. Definamos
as coordenadas no cone de luz no espaço-tempo D = 10 dimensões,
1
X ± = √ (X 0 ± X 9 ). (4.146)
2
Como na seção § 3.2 nós fazemos a escolha do calibre do cone de luz, da seguinte

forma,
X + (τ, σ) = x+ + p+ τ. (4.147)

Como antes isto deixa as coordenadas transversais X i com i = 1, . . . , 8 como graus de


liberdade independentes. Então tem-se 8 graus de liberdade correspondentes à oscilações
transversais em 10-dimensões. Considerando os campos fermiônicos ΘA , eles são espinores

de 32 componentes complexos em 10-dimensões. Impondo a condição de Majorana e Weyl


o número de componentes é reduzido em 16 componentes reais. Mas temos dois espinores
de Majorana-Weyl, portanto eles tem 32 componentes reais. Com a ajuda da simetria κ

pode-se reduzir à metade os graus de liberdade.


Uma escolha natural do calibre é,

Γ+ θA = 0, (4.148)

onde
1
Γ± = √ (Γ0 ± Γ9 ). (4.149)
2
Isto reduz os graus de liberdade em cada campo Θ para oito. A teoria de cordas
considerada aqui tem uma invariância de Lorentz em 10-dimensões, porém no cone de

luz só uma simetria transversal SO(8) é manifesta. As oito componentes de cada espi-
nor Θ formam uma representação espinorial de 8-dimensões do grupo transversal SO(8).
Denotam-se as duas representações de Spin(8) por 8s e 8c . Multiplicando o campo Θ

pelo fator p+ , temos que,
p
p+ ΘA →8s + 8c = (S1a , S2ȧ ) tipo IIA
p
p+ ΘA →8s + 8s = (S1a , S2a ) tipo IIB (4.150)
74

os ı́ndices a, b indicam espinores na representação 8s e os ı́ndices ponteados ȧ, ḃ indicam


espinores na representação 8c .

A ação da supercorda no calibre do cone de luz para a supercorda tipo IIB é dada

por
Z Z
1 2 αi i
S=− d σ∂α Xi ∂ X + d2 σ(S1a ∂+ S1a + S2a ∂− S2a ). (4.151)
2π π
No calibre do cone de luz as equações de movimento para a supercorda tipo IIB

assumem a forma simples,

∂+ ∂− X i = 0,

∂+ S1a = 0,

∂− S2a = 0, (4.152)

∂− S2ȧ = 0.

Agora a ação da supercorda tipo IIA é,


Z
1
S=− d2 σ(∂α Xi ∂ α X i + S̄ a ρα ∂α S a ), (4.153)

onde ρ são as matrizes de Dirac bidimensionais.

4.3.4 Quantização canônica

A quantização canônica das coordenadas transversais X i é a mesma que no formalismo


RNS. No caso para coordenadas fermiônicas temos a seguinte relação de anticomutação,

{S Aa (τ, σ), S Bb (τ, σ 0 )} = πδ ab δ AB δ(σ − σ 0 ), (4.154)

onde A, B = 1, 2 e a, b = 1, . . . , 8.

Cordas abertas

Ao contrário do que acontece no formalismo RNS, no caso de cordas abertas não existe

liberdade da escolha de sinal nas condições de fronteira. Para manter a supersimetria


75

é preciso que ambos extremos da corda tenham o mesma sinal. Agora só tomamos a
condição de Neumann na fronteira. Portanto, temos que,

S 1a = S 2a , σ = 0, π. (4.155)

Uma vez que as transformações de supersimetria são δΘA = A , onde A é constante,

as condições anteriores só são compatı́veis com a supersimetria quando 1 = 2 , portanto


o número de supersimetrias se reduz de N = 2 para N = 1. Esta é uma teoria de
supercordas tipo I.

Os modos de expansão para campos fermiônicos para uma corda aberta são,

1a 1 X a −in(τ −σ)
S (τ, σ) = √ Sn e e
2 n=−∞

2a 1 X a −in(τ +σ)
S (τ, σ) = √ Sn e , (4.156)
2 n=−∞

onde
a
{Sm , Snb } = δ ab δm+n . (4.157)

a a †
A condição de realidade implica que S−m = (Sm ).

O estado fundamental é uma representação da álgebra de Clifford,

{S0a , S0b } = δab , a, b = 1, . . . , 8, (4.158)

onde as S0a são,


 i

0 σȧb
S0a ∼ i T . (4.159)
(σȧb ) 0
i
e σȧb são matrizes Gama de 8 × 8, (a definição destas matrizes estão no apêndice D).

A representação consiste de 8v vetores com massa, denotam-se com hi|, i = 1, . . . , 8, e


os 8c espinores sem massa |ȧi,ȧ = 1, . . . , 8. Eles estão relacionados da seguinte forma,

i
|ȧi = σȧb S0b |ii ,
i
|ii = σȧb S0b |ȧi . (4.160)
76

Os estados são normalizados de acordo com,

hi|ji = δij ,
1
hȧ|ḃi = (hΓ+ )ȧḃ . (4.161)
2
a i
Os estados excitados são construı́dos com os operadores S−n e α−n .
A condição da camada de massa (mass-shell) é,

X
0 2 i
αM = (α−n a
αni + nS−n Sna ). (4.162)
n=1

Neste caso não temos uma constante adicional, a constante de ordenamento normal para
os modos bosônicos se cancelam com a constante para os modos fermiônicos. Portanto,
não temos táquions no espectro e não precisamos da projeção GSO.

Cordas fechadas

As cordas fechadas requerem a periodicidade,

S Aa (τ, σ) = S Aa (τ, σ + π). (4.163)

Esta condição de fronteira é compatı́vel com a supersimetria. A expansão dos modos


de oscilação são,

X
S 1a (τ, σ) = Sna e−2in(τ −σ)
n=−∞
X∞
S 2a (τ, σ) = S̃na e−2in(τ +σ) (4.164)
n=−∞

Os estados sem massa são construı́dos pelos produtos tensoriais

|ii |ȧi ⊗ |ji |bi , tipo IIA

|ii |ȧi ⊗ |ji |bi , tipo IIB (4.165)

Para a teoria tipo IIA tem-se os estados bosônicos |ii ⊗ |ji e |ȧi ⊗ |bi. Os estados

fermiônicos são |ii ⊗ |bi e |˙ai ⊗ |ji.


77

No caso da teoria tipo IIB os estados bosônicos são |ii ⊗ |ji e |ȧi ⊗ |ḃi. Os estados
fermiônicos são |ii ⊗ |ḃi e |ȧi ⊗ |ji.

Até agora, vimos dois formalismo para incorporar a supersimetria às cordas. Cada
formalismo tem vantagens e desvantagens como já foi mencionado. Mas há um novo
formalismo que resolve alguns problemas dos formalismos precedentes. Este novo forma-

lismo desenvolvido por Nathan Berkovits é chamado formalismo de Espinores Puros [43].
Neste formalismo pode-se quantizar as supercordas na forma covariante e a supersimetria
é manifesta no espaço-tempo.
78

Capı́tulo 5

Conclusão

Nesta dissertação iniciamos apresentando um estudo do formalismo de cordas bosônicas.


Nós apresentamos as diferenças entre a ação de Nambu-Goto e a ação de Polyakov, cons-

tatamos que as equações de movimento de Nambu-Goto são mais difı́ceis para resolver
porque eles apresentam uma raiz quadrada enquanto as equações de movimento de Polya-
kov são mais fáceis de resolver escolhendo um adequado calibre covariante hαβ = η αβ .

Vimos a importância das simetrias em cada ação. A ação de Polyakov para objetos n-
dimensionais não é renormalizável exceto para as cordas (objetos de n = 1). Isto é uma
consequência da simetria de Weyl que está presente apenas nas cordas mas não em ob-

jetos de dimensão n > 1. Nós vimos que a quantização da corda no calibre covariante
hαβ = η αβ apresenta fantasmas (estados com norma negativa) e táquions. Mas no calibre
do cone de luz pode-se eliminar os fantasmas e também é mais fácil calcular a dimensão

crı́tica D = 26. Na quantização em o calibre do cone de luz nós apresentamos duas formas
de regularizar: a regularização pelo método de corte e a regualarização pela função ζ, nas
duas formas encontramos que a soma ∞ 1
P
n=1 n, tem um valor de − 12 . Este valor é muito

importante porque nos proporciona a dimensionalidade crı́tica do espaço-tempo D = 26


para cordas bosônicas.

No capitulo 4 nós apresentamos a supercorda. Neste capı́tulo vimos os dois forma-


lismos para incluir a supersimetria às cordas bosônicas. O formalismo RNS incorpora

a supersimetria só na folha de mundo. Os campos bosônicos e fermiônicos X µ , ψ µ só


79

moram na folha de mundo, portanto a supersimetria esta restringida à folha de mundo.


Neste formalismo os campos X µ , ψ µ são só vetores no espaço-tempo. A vantagem deste

formalismo é que pode-se quantizar covariantemente. Mas os estados no setor bosônico


e no setor fermiônico não são iguais. O setor bosônico apresenta um táquion, um estado
há mais que no setor fermiônico. Para arranjar isto se precisa do mecanismo GSO para

ter os dois setores com o mesmo número de estados. Com o mecanismo GSO também se
elimina o táquion que é um estado não fı́sico. A supersimetria restringida só à folha de
mundo não é adequada quando se toma o processo de interação de cordas.

O formalismo GS apresenta supersimetria no espaço-tempo. Vimos que neste formalismo


a quantização só pode ser feita no calibre do cone de luz. O espectro de estados não
apresenta o táquion e não precisa de nenhum mecanismo para desaparecer este táquion.

Neste formalismo nós vimos a aparência das ações para a supercorda tipo IIA e IIB.
A quantização covariante neste formalismo é muito difı́cil de fazer. No entanto, há um
novo formalismo desenvolvido em 1999 por Nathan Berkovits [43] (Formalismo de Espi-

nores Puros) onde a quantização covariante é feita. Este formalismo é supersimétrico no


espaço-tempo e também tem invariância de Lorentz.

Com estudos mais avançados será possı́vel compreender um tema que na ultima década
está atraindo a atenção de muitos fı́sicos, a correspondência AdS/CFT (ou conjetura de

Maldacena [44, 45]). Este novo paradigma é uma dualidade entre uma teoria de cordas
em um espaço curvo (com gravidade) AdS5 × S 5 e uma teoria de calibre super-conforme
(sem gravidade) em um espaço plano de quatro dimensões. Esta dualidade hoje em dia

tem muitas aplicações: em plasma de Quark-Gluon, Glueballs [46], supercondutividade,


superfluidez, metais estranhos [47], efeito Hall fraccionário [48], etc. Muitos podem criticar
a teoria das cordas, mas seus frutos valem o esforço de muitos anos de trabalho.

Para uma teoria surpreendente como a dualidade holográfica é importante e necessário


fornecer-lhe um entendimento sólido, não só de uma forma prática e circunstancial, mas

descobrir sua origem para conseguir estabelecer sua infalibilidade teórica e poder ter
80

uma visão mais ampla. Minha perspectiva futura é aplicar o conhecimento adquirido
que está escrito nesta dissertação, para futuras pesquisas e aplicações na correspondência

AdS/CFT. Vai ser um longa viagem na compreensão da natureza.


81

Apêndice A

Invariância da funcional da área por


reparametrização

Demostração da invariância da funcional da área.


Z s
 ∂~x ∂~x  ∂~x ∂~x   ∂~x ∂~x 2
A = dξ 1 dξ 2 · · − · . (A.1)
ξ1 ξ1 ξ2 ξ2 ξ1 ξ2

Do cálculo fundamental temos as transformações de coordenadas,

∂ξ i
dξ 1 dξ 2 = det( ) dξ˜1 dξ˜2 = det(M ) dξ˜1 dξ˜2 , (A.2)
˜
∂ξ j

∂ξ i
onde a matriz M = ∂ ξ̃ j
,
∂ξ 1 ∂ξ 1
!
∂ ξ˜1 ∂ ξ˜2
Mij = ∂ξ 2 ∂ξ 2 . (A.3)
∂ ξ˜1 ∂ ξ˜2
similarmente para ξ˜1 e ξ˜2 , temos,

∂ ξ˜i
dξ˜1 dξ˜2 = det( ) dξ 1 dξ 2 = det(M ) dξ 1 dξ 2 . (A.4)
∂ξ j
∂ ξ˜1 ∂ ξ˜1
!
∂ξ 1 ∂ξ 2
Mij = ∂ ξ˜2 ∂ ξ˜2
. (A.5)
∂ξ 1 ∂ξ 2
Combinando as equações (A.2) e (A.4), temos que,

dξ 1 dξ 2 = det(M ) det(M̃ ) dξ 1 dξ 2 . (A.6)

Logo fazemos que,

det(M ) det(M̃ ) = 1. (A.7)


82

Agora consideremos o espaço alvo S que está mapeado pelas funções xi = xi (ξ 1 , ξ 2 ).


Define-se o intervalo do vetor d~x tangente ao espaço,

ds2 = d~x · d~x. (A.8)

A diferencial de um vetor ~x qualquer é,

∂~v 1 ∂~v 2 ∂~v


d~v = 1
dξ + 2 dξ = i dξ i . (A.9)
∂ξ ∂ξ ∂ξ

Agora substituı́do este resultado na equação (A.8), temos:

∂~x i ∂~x j ∂~x ∂~x


ds2 = i
dξ · j dξ = i · j dξ i dξ j , (A.10)
∂ξ ∂ξ ∂ξ ∂ξ

ds2 = gij dξ i dξ j . (A.11)

Onde definimos,
∂~x ∂~x
gij = · . (A.12)
∂ξ i ∂ξ j
Esta é a métrica induzida,
!
~
x ~
x ~
x ~
x
∂ξ 1
· ∂ξ 1 ∂ξ 1
· ∂ξ 2
gij = ~
x ~
x ~
x ~
x . (A.13)
∂ξ 2
· ∂ξ 1 ∂ξ 2
· ∂ξ 2

Achamos o determinante de gij ; det(gij ) = g


 ∂~x ∂~x  ∂~x ∂~x   ∂~x ∂~x 2
g = det(gij ) = · · − · . (A.14)
∂ξ 1 ∂ξ 1 ∂ξ 2 ∂ξ 2 ∂ξ 1 ∂ξ 2

Então temos a funcional de área,


Z
A= dξ 1 dξ 2 g. (A.15)

Esta fórmula obtida agora é fundamental e elegante. Aqui observaremos as propri-

edades da invariância de uma forma mas clara. A partir das propriedades da métrica
gij . Sabemos da invariância da métrica ds2 , é invariante por qualquer transformação. Se
temos,

ds2 = gij dξ i dξ j e (A.16)


83

ds̃2 = g̃ij dξ˜p dξ˜q , (A.17)

e sabemos que ds2 = ds̃2 . Então, temos que,

gij dξ i dξ j = g̃ij dξ˜p dξ˜q . (A.18)

Onde,
∂ ξ˜p i ∂ ξ˜q j
dξ˜p = dξ , dξ˜q = dξ . (A.19)
∂ξ i ∂ξ j
Substituindo (A.19) em (A.18), temos,
∂ ξ˜p i ∂ ξ˜q j
gij dξ i dξ j = g̃ij dξ j dξ , (A.20)
∂ξ i ∂ξ
∂ ξ˜p ∂ ξ˜q i j
gij dξ i dξ j = g̃ij dξ dξ . (A.21)
∂ξ i ∂ξ j
Em seguida teremos que,
∂ ξ˜p ∂ ξ˜q
gij = g̃ij i j = g̃ij M̃pi M̃qj , (A.22)
∂ξ ∂ξ
gij = M̃ipT g̃pq M̃qj . (A.23)

Obtendo o determinante destas matrizes,

g = det(M̃ T )g̃det(M̃qj ), (A.24)

g = det(M̃ )g̃det(M̃ ) = g̃(det(M̃ ))2 , (A.25)


√ p
g= g̃|det(M̃ )|. (A.26)

Agora da funcional de área (A.15), fazemos as substituições (A.2) e (A.26) na funcional


da área. Então temos,
Z
det(M ) dξ˜1 dξ˜2
p
A= g̃ det(M̃ ) , (A.27)

em consequência temos que,


det(M ) det(M̃ ) = 1, (A.28)
Z
A = dξ˜1 dξ˜2 g̃,
p
(A.29)

e assim fica demostrado a invariância da área de uma forma geral.


84

Apêndice B

Partı́cula Relativı́stica

A partı́cula relativı́stica tem ação,


r
τ1
∂xµ (τ ) ∂xν (τ )
Z
S = −m dτ − ηµν , (B.1)
τ0 ∂τ ∂τ

esta ação é invariante pela reparametrização τ → τ̃ (τ ). Para uma reparametrização

infinitesimal τ → τ + ε(τ ), xµ transforma da seguinte forma,

d µ
δxµ (τ ) = −ε(τ ) x (τ ). (B.2)

O momento conjugado é,


∂L ẋµ
= m√ = pµ . (B.3)
∂ ẋ −ẋ 2

Uma boa forma de definir um vı́nculo é,

φ = p2 + m2 = 0, (B.4)

daqui temos a condição camada de massa p2 = −m2 .

El Lagrangiano é singular porque a determinante da Hessiana é igual a zero; onde


 2 
W = ∂ q̇∂i ∂Lq̇j e det(W ) = 0. Se temos um Lagrangiano singular se segue o método de
quantização de Dirac. Então definimos um novo Hamiltoniano,

X
HT = HC + ck φk labelap5 (B.5)

∂L µ
onde Hc = ∂ ẋµ
ẋ − L = 0 (HC é Hamiltoniano canônico).
85

Agora redefinimos o momento conjugado da seguinte forma


∂L ẋ0
= −m √ = p0 ,
∂ ẋ0 −ẋ 2

∂L ẋi
= m√ = pi .
∂ ẋi −ẋ 2

A equação (B.4) é um vı́nculo primário e é de primeira classe porque {φ, HT }P = 0.


Os vı́nculos de primeira classe estão relacionadas com as transformações de calibre. Neste
caso o gerador de transformação de calibre para algum (τ ) arbitrário é,

δx0 = {x0 , G}P = −P 0 ,

δxi = {xi , G}P = −P i ,

δP 0 = {P 0 , G}P = 0,

δP i = {P i , G}P = 0.

Em uma teoria quântica o vı́nculo (B.4) tem que eliminar um estado quântico Φ.
Então temos,

φ̂ |Φi = 0,

(p̂2 + m2 ) |Φi = 0, (B.6)

ou simplesmente
(∂ µ ∂µ + m2 ) |Φi = 0

. Esta é a equação de Klein-Gordon.

Existe uma ação equivalente a (C.1),


Z
S = (e−1 ẋ2 − em2 )dτ. (B.7)

A equação de movimento é
ẋ2 + e2 m2 = 0

. Esta ação é invariante pela reparametrização. No desenvolvimento da teoria das cordas

esta ação é muito importante. O análogo da ação da partı́cula relativı́stica é a ação de


Polyakov para as cordas.
86

Apêndice C

O operador de Virasoro L0

O operador L0 é definido,

1 2 X
L0 = α0 + α−n · αn . (C.1)
2 n=0

Se pode mudar para a seguinte forma


∞ −1 ∞
1 X 1 1 X 1X
α−n · αn = α0 · α0 + α−n · αn + α−n · αn , (C.2)
2 n=−∞ 2 2 n=−∞ 2 n=1

no segundo termo da direita nós fazemos uma mudança de n → −n,


∞ ∞ ∞
1 X 1 1X 1X
α−n · αn = α0 · α0 + αn · α−n + α−n · αn .
2 n=−∞ 2 2 n=1 2 n=1

Agora adicionamos e sustraemos ∞


P
n=1 α−n · αn ,
∞ ∞ ∞ ∞ ∞
1 X 1 X X 1X 1X
α−n · αn = α0 · α0 + α−n · αn − α−n · αn + αn · α−n + α−n · αn
2 n=−∞ 2 n=1 n=1
2 n=1 2 n=1
∞ ∞ ∞
1 X 1X 1X
= α0 · α0 + α−n · αn − α−n · αn + αn · α−n
2 n=1
2 n=1 2 n=1
∞ ∞
1 X 1X
= α0 · α0 + α−n · αn + αn · α−n + α−n · αn
2 n=1
2 n=1

Assim, uma equação mas reduzida,


∞ ∞ ∞
1 X 1 X 1X
α−n · αn = α0 · α0 + α−n · αn + [αn , α−n ]. (C.3)
2 n=−∞ 2 n=1
2 n=1

Lembremos a relação de comutaçao,

µ
[αm , αnν ] = mη µν δm+n,0 (C.4)
87

então se m = n, temos
[αnµ , α−n
ν
] = nη µν .δn+n,0

Agora do ultimo termo da equação (C.3) temos,

[αn , α−n ] = αn · α−n − α−n · αn

αn · α−n − α−n · αn = αnµ α−nµ − α−nµ αnµ

αnµ α−nµ − α−nµ αnµ = ηµν (αnµ α−nν − α−nµ αnν )

daqui temos o comutador,

αnµ α−nµ − α−nµ αnµ = ηµν [αnµ , α−nν ]. (C.5)

Portanto do comutador (C.4), nós temos

αnµ α−nµ − α−nµ αnµ = ηµν nη µν . (C.6)

Assim agora utilizando o resultado (C.6) na equação (C.3), nós temos,


∞ ∞ D−1 ∞
1 X 1 X 1X µ X
α−n · αn = α0 · α0 + α−n · αn + η n. (C.7)
2 n=−∞ 2 n=1
2 µ=0 µ n=1

Então da primeira somatória do último termo da equação anterior, temos


D−1
X
=D
µ=0

∞ ∞ ∞
1 X 1 X DX
α−n · αn = α0 · α0 + α−n · αn + n (C.8)
2 n=−∞ 2 n=1
2 n=1
Esta é a forma que nós precisamos. O ultimo termo tem uma série que diverge.
88

Apêndice D

Matrizes Gamma

As matrizes Gamma em 10 dimensões1 são de 32 × 32, serão denotadas por Γµ , onde

µ = 0, . . . , 9 no espaço de Minkowski. A álgebra que elas satisfazem, é denominada álgebra


de Clifford e é,

{Γµ , Γν } = 2η µν . (D.1)

Na representação de Weyl as matrizes Gamma definem-se desta forma


 
µ 0 (γ µ )αβ
Γ = (D.2)
(γ µ )αβ 0

onde α, β = 1, . . . , 16. As matrizes são simétricas de 16 × 16 e satisfazem,

{(γ µ )αβ , (γ ν )βγ } = 2η µν δαγ . (D.3)

As matrizes γ estão dadas em formas explicitas por


 
0 αβ 0 18×8 0
(γ ) = −(γ )αβ = (D.4)
0 18×8
 
9 αβ 9 18×8 0
(γ ) = (γ )αβ = (D.5)
0 −18×8

0 σai ȧ
 
i αβ i
(γ ) = −(γ )αβ = . (D.6)
σbiḃ 0

1
Para maı́s informação vide [42].
89

i
As matrizes sigma satisfazem σȧa = (σai ȧ )T e podem ser expressas como o produto
direto de matrizes 2 × 2.

σa1ȧ =  ⊗  ⊗ 

σa2ȧ = 1 ⊗ τ 1 ⊗ 

σa3ȧ = 1 ⊗ τ 3 ⊗ 

σa4ȧ = τ 1 ⊗  ⊗ 1

σa5ȧ = τ 3 ⊗  ⊗ 1

σa6ȧ =  ⊗ 1 ⊗ τ 1

σa7ȧ =  ⊗ 1 ⊗ τ 3

σa8ȧ = 1 ⊗ 1 ⊗ 1

onde τ i são as matrizes de Pauli e  = iτ 2 .


A matriz de quiralidade e de conjugação em D = 8 tem a forma explicita,
 
11 0 1 9 116×16 0
Γ = Γ Γ ...Γ = (D.7)
0 −116×16
 
11 0 1 9 0 116×16
Γ = Γ Γ ...Γ = (D.8)
−116×16 0
90

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