Aula 2 Evento Xeque Mate

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EVENTO XEQUE-MATE

Vença o Jogo Narcisista

Carolina Mueller
@psi.carolinamueller
Carolina Mueller

Por que você não melhora após o RAP?


Muitas pessoas passam anos estudando sobre narcisismo, sobre a dinâmica de
relacionamentos tóxicos, sabem reconhecer narcisistas de longe, mas, mesmo
assim, não melhoram após sair do relacionamento amoroso patológico (RAP).

O motivo é que não é suficiente estudar só sobre os transtornos de personalidade,


comportamentos abusivos, etc. Você precisa entender também as sequelas
psicológicas e fisiológicas de ter vivido um RAP.

Somente quando você entende os seus sintomas e o que fazer para melhorar, você
consegue reduzir a culpa e a vergonha pelo que você viveu, os pensamentos
intrusivos, em círculos e a sensação de abstinência de uma pessoa tóxica, mesmo
sabendo que ela te faz mal.

Se você viveu um RAP, é provável que você não se recupere espontaneamente só


com o passar do tempo. Muitos sobreviventes não sabem que têm trauma. Você só
percebe que está passando muito mal e não consegue superar o relacionamento
tóxico, mesmo já estando fora do RAP há anos e às vezes décadas.

Sintomas comuns variam entre reações traumáticas leves até Transtorno de


Estresse Pós-Traumático Complexo severo. Principalmente para os casos mais
graves, esse é um quadro que precisa ser tratado por especialistas em trauma que
entendam de abuso narcisista.

Esse tipo de trauma é comparável ao tipo de trauma de ter sobrevivido a uma


guerra. Isso precisa ser reconhecido.

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Carolina Mueller

O que é trauma?
Um trauma pode acontecer em decorrência de diversas situações que uma pessoa
não consegue processar psicologicamente. Segundo o Peter Levine (desenvolvedor
da experiência somática S.E.), o trauma acontece quando uma pessoa vive coisas
que foram intensas demais, cedo demais, rápido demais para ela. Perdas
inimagináveis, abuso, choque, tragédias, guerra, perdas e doenças podem causar
trauma.

No Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-5), os diferentes tipos de trauma são


medidos em termos da duração dos sintomas:

> Se forem alguns dias - é uma Reação Traumática


> Até um mês de duração dos sintomas - Estresse Agudo
> Mais de 1 a 3 meses - Transtorno de Estresse Pós-Traumátcio (TEPT)
> Mais do que 3 meses, sintomas que duram anos - TEPT Complexo que é uma
forma mais crônica do TEPT -> isso infelizmente ainda não é reconhecido no DSM!

Sintomas intrusivos incluem:

Lembranças intrusivas angustiantes, recorrentes e involuntárias


Sonhos angustiantes recorrentes do evento traumático
Reações dissociativas (ex. flashbacks)
Sofrimento psicológico prolongado na presença de gatilhos internos ou externos
Reações fisiológicas intensas a gatilhos internos ou externos

Sintomas de evitação incluem:

Evitação ou esforços para evitar recordações, pensamentos ou sentimentos


angustiantes acerca de ou associados de perto ao evento traumático
Evitação ou esforços para evitar lembranças externas (pessoas, lugares,
conversas, atividades, objetos, situações) que despertem recordações,
pensamentos ou sentimentos angustiantes acerca de, ou associados de perto ao
evento traumático.

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Carolina Mueller

Sintomas de Reatividade (hipervigilância) incluem:

Comportamento irritadiço e surtos de raiva (com pouca ou nenhuma


provocação)
Comportamento imprudente ou autodestrutivo
Hipervigilância
Respostas de sobressalto exageradas
Problemas de concentração
Perturbação do sono

Sintomas de Cognição e Humor incluem:

Incapacidade de recordar algum aspecto importante do evento traumático


Crenças ou expectativas negativas persistentes e exageradas a respeito de si, dos
outros e do mundo
Cognições distorcidas persistentes a respeito da causa ou das consequências do
evento traumático que levam o individuo a culpar a si ou os outros
Estado emocional negativo persistente (ex. medo, pavor, raiva, culpa ou
vergonha)
Interesse ou participação diminuídos em atividades significativas
Sentimentos de distanciamento e alienação em relação aos outros
Incapacidade persistente de sentir emoções positivas (incapacidade de vivenciar
sentimentos de felicidade, satisfação ou amor)

A maioria de sobreviventes de RAP apresenta mais do que apenas uma das


reações traumáticas descritas acima.

O grande problema: O trauma vai se instalando pouco a pouco ao longo do RAP,


sem a gente perceber. Quando já estamos com sintomas crônicos é quando a
maioria de nós tende a buscar ajuda, porque a vida parece que parou. Porém, nem
todos os profissionais de saúde mental estão treinados para reconhecer as formas
mais crônicas do TEPT. Por isso, o trauma acaba não sendo diagnosticado e a(o)
sobrevivente pode até receber um diagnóstico errado, ficando sem o tratamento
adequado.

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Carolina Mueller

A dissonância cognitiva é o grande vilão


A dissonância cognitiva é uma confusão mental com pensamentos em círculos
sobre a pessoa patológica, sobre o relacionamento e sobre si. Você lembra dos
momentos bons, principalmente no bombardeio de amor, mas também lembra dos
momentos ruins. Ao mesmo tempo que ama, também odeia essa pessoa.

Confia, mas não confia. Quer estar, mas não suporta estar com essa pessoa. Se sente
viciada(o), mas sabe que a pessoa te faz mal. Você lembra do que você viveu, mas
duvida de si. É um constante ping-pong mental e emocional que confunde, faz
você duvidar das suas percepções e não deixa você perceber a real natureza
abusiva do relacionamento, por muito tempo.

A dissonância cognitiva é o sintoma n.º 1 vivido por sobreviventes de RAP (Sandra


L. Brown). Se foi um RAP, tem dissonância cognitiva. O problema é que a dissonância
cognitiva faz com que esse trauma tenha uma mistura de sintomas típicos do TEPT,
porém, além disso, também sintomas ATÍPICOS. Isso faz com que seja muito difícil
identificar que o que você tem é trauma.

A dissonância cognitiva é produzida por vários fatores presentes


no RAP, incluindo:

a patologia da personalidade do(a) parceiro(a) ou ex


a falta de escrúpulos e os comportamentos de gaslighting do(a) parceiro(a) ou ex
a personalidade "dupla" - o médico e o monstro em uma só pessoa
o impacto da comunicação enlouquecedora dele(a)
as sequelas do ciclo do abuso (lua de mel, desvalorização, abuso, lua de mel, etc.)
a necessidade que sobreviventes têm de reagir a duas facetas contrastantes da
mesma pessoa, sem saber qual vai aparecer a cada momento do relacionamento

Pode-se dizer que sobreviventes de RAP sofrem de TEPT duplo! As memórias


negativas são traumáticas e as positivas também, porque fazem você sentir falta de
algo que não pode ter com essa pessoa patológica.

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Carolina Mueller

Reflexões

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