Tese Da Milena, Schon e A Formação
Tese Da Milena, Schon e A Formação
Tese Da Milena, Schon e A Formação
São Paulo
2021
Milena Pedro de Morais
CDD 22 – 796
“Dedico esta Tese ao Fabiano, à Júlia Alice, ao Augusto e a cada um de meus
pequenos estudantes que com a vivência das situações de ensino e os desafios na
aprendizagem durante as aulas de Educação Física geraram as reflexões que dão
origem e que fortalecem toda a minha trajetória de pesquisa”.
Gratidão
Aos meus pais e minhas irmãs por todo o suporte, compreensão pelos momentos
de ausência e apoio em cada um dos desafios e conquistas! Muito obrigado por tudo!
Eu amo muito vocês!
The professional training is one the of majors factors in the process of school inclusion,
because, although often the teacher does not feel safe to act. It is understood that, self-
efficacy is understood by the belief in the confidence that the teacher has to develop
positive attitudes towards students with disabilities. We aim to discuss continuing
professional training on the face of the inclusive perspective of Physical Education
teachers that works on Basic cycle Education in Portugal and Brazil. This study is
characterized as Case Study with the Mixed Methods approach for collecting and
analyzing information. Participated 26 physical education teachers which 13 were
Portuguese teachers, among these 5 participants working in Portuguese public schools
and 8 participants were recently graduated in Physical Education and 13 physical
education Brazilians teachers, among these 5 participants working on the public school
system at Itanhaém (São Paulo / Brazil) and 8 participants were recently graduated in
Physical Education, selected by accessibility. The collection of information occurred in
two moments, in the first moment, the Self-Efficacy Scale in Inclusive Physical
Education (EAE-EFI) questionnaire was applied and the semi-structured interview was
conducted with Portuguese teachers and, in the second moment the same procedure was
realized with the Brazilians teachers. The collection of information happened both in
person and through media channels using the online platforms like SurveyMonkey and
Platform Zoom. The analysis of the questionnaire information was performed with the
software for statistical analysis “Statistical Package for the Social Sciences” (SPSS
30.0) and the semi-structured interview took place with content analysis technique, and
this information was organized with N'Vivo 13 software for Windows. We observed
that the Portuguese teachers recently graduated perceive themselves as more competent
and with a higher quality of experience when working with students with Physical
Disabilities and Visual Impairments. The Brazilian teachers recently graduated have
these perceptions when working with students with Intellectual Disabilities. However,
teachers from both countries who are not recently graduated feel more competent and
have a better quality of experience in teaching action with students with Intellectual
Disabilities. We also saw that several structural, attitudinal and legislative barriers
represent an obstacle to the effectiveness of inclusive teaching in school Physical
Education classes, among them are the unavailability of pedagogical and human,
material and, above all, training resources that lead teachers to question how much feel
effective to promote a more equitable pedagogical action. With the precarious offer of
continuing education, both Portuguese and Brazilian teachers seek partnership with
Special Education teachers working in schools and share experiences with other
Physical Education teachers. This movement is pointed out by teachers as a pedagogical
action to supply the training process that Inclusive Education demands. School
inclusion in both countries is not a political project, but a pedagogical project that is
development solely by teachers. Therefore, continuing education in an inclusive school
context is not a public policy.
Sigla Significado
ODDH ...... Observatório da Deficiência e Direitos Humanos de Portugal
CRI............ Centros de Recursos para a Inclusão
NEE’s ....... Necessidades Educativas Especiais
CID ........... Código Internacional de Doenças
CEB ......... Ciclo de Ensino Básico
14
1 INTRODUÇÃO
1
O termo “Formação continuada” foi utilizado no contexto da Lei nº9394/1996 que estabelece as
Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (BRASIL, 1996).
19
criação de interações cognitivas para que o aluno possa estabelecer relações com os
objetos do saber.
Nesta linha de raciocínio, Fiorini e Manzini (2016) citam a importância do
processo formativo para o desenvolvimento de estratégias de ensino facilitadoras, assim
como a respeito das orientações e subsídios que a formação de professores pode
oferecer para que estas ações se concretizem.
Considerando a Educação Física Escolar em contexto inclusivo, Haegele (2019)
afirma que esta tem sido questionada se é efetivamente inclusiva, e o autor aponta que
muitas vezes os estudantes com deficiência apenas estão presentes no espaço de aula,
simplesmente integrados no mesmo ambiente com os estudantes sem deficiência, de
forma que, considerando o processo de ensino para o estudante com deficiência, não há
garantia sobre o acesso ao conhecimento, não há adaptações nas estratégias de ensino ou
qualquer suporte necessário para que este se faça efetivo, revelando apenas um
ambiente integrado, mas não inclusivo.
Os estudos de Cruz (2005), Cruz e Soriano (2010), Cruz et al (2011), Araújo e
Bitencourt (2014), Silva Filho e Babosa (2015) e El Tassa e Cruz (2016) apontam a
insatisfação dos professores de Educação Física com relação à formação profissional
quando considerado o processo de ensino e aprendizagem em contexto inclusivo. Nestas
pesquisas supracitadas, os professores relatam sentir insegurança no trato com o
estudante com deficiência, pois não se sentem preparados para trabalhar com a
diferença e se justificam alegando que a formação específica é incipiente e não dá
suporte para a superação de necessidades pedagógicas tais como a adequação das
estratégias de ensino para a concretização de diferentes possibilidades de situações de
aprendizagem.
Para Araújo e Bitencourt (2014), a falha no processo de formação inicial do
professor e a descontextualização do processo de formação continuada os leva à ideia de
que algumas técnicas, propostas de intervenção e guias práticos possam suprir um
sentimento de incapacidade em lidar com estudantes com deficiência, cujo
comportamento parece imprevisível e desconhecido. Para esses autores os professores
agem como se uma única forma de ensinar fosse suficiente a todo o grupo de alunos e
insuficiente a este estudante com deficiência, pois as diferenças são desconsideradas
perante a cultura homogeneizadora presente no contexto escolar (RAMALHO, 2015).
Cabe afirmar ainda que além das questões inferidas pela formação profissional, a
crença sobre a “Deficiência” no sentido negativo do termo é fruto do processo de
23
formação pessoal vivenciado pelo docente em sua vida escolar pregressa, isto porque a
exclusão social de pessoas com deficiência é um aspecto culturalmente marcado em
nossa sociedade. Neste sentido, Haegele (2019) explicita que comumente experiências
como isolamento e exclusão durante as aulas de Educação Física têm sido reportadas
por estudantes com deficiência.
Neste contexto, quando inseridos no ensino regular, os estudantes com
deficiência ainda são vistos como não pertencentes àquele espaço, como estranhos à
cultura escolar, a qual não se mostra preparada e/ou disposta a recebê-los. Perante o
contexto escolar e a cultura homogeneizadora que o permeia, o estudante com
deficiência traz de forma explícita a diferença provocando o conflito de práticas
excludentes até então não questionadas. Estas práticas não colaboram para o
reconhecimento do potencial deste estudante e para que este participe de forma ativa do
processo de ensino, implicando negativamente no pertencimento e na efetividade do
processo inclusivo (ARMSTRONG, 2014).
Cabe salientar que este não reconhecimento do professor em relação ao
estudante com deficiência, ao “diferente” está relacionado não apenas à formação, mas
ao padrão de normalidade culturalmente acordado pela sociedade. Ou seja, o que
chamamos normal é a perspectiva que visualizamos de instituir um padrão, para que
através dele haja aceitação social perante a comunidade escolar, onde as relações
estabelecidas influenciam no processo de ensino e aprendizagem e ressaltam a urgência
da valorização da individualidade e da diferença.
Hutzler et al (2019) apontam que muitos são os fatores que influenciam o
desenvolvimento de atitudes positivas e de autoeficácia docente em contexto inclusivo
nas aulas de Educação Física e acrescentam ainda que dentre estes fatores está o volume
de trabalho do professor e o tipo de experiência que este já vivenciou com pessoas com
deficiência na escola, família ou comunidade, o processo formativo com foco no
trabalho em contexto inclusivo, fatores individuais e sociais como o ambiente e a forma
como a escola atua sobre a inclusão e o tipo e comprometimento da deficiência
apresentada pelo estudante. Acrescentando à falta de suporte ofertado pelas escolas ao
professor de Educação Física e ainda à insuficiência no aporte à literatura que subsidie a
compreensão sobre o processo inclusivo em contexto escolar, sobretudo nas aulas de
Educação Física (HAEGELE; ZHU, 2017).
Estes fatores supracitados influenciam e são influenciados pelas experiências
vivenciadas por professores de Educação Física e por estudantes em contexto inclusivo
24
situações vivenciadas “o que pode ser interessante para que a escola e o professor
promovam um ensino de qualidade que garanta ao aluno a acessibilidade ao conjunto de
conhecimentos oferecido” (CHICON; CRUZ, 2017, p.137).
Contudo, se o professor de Educação Física se mantiver em uma posição de
passividade em relação ao estudante com deficiência, ele pouco desenvolverá
oportunidades de aprendizagem para esse estudante, por outro lado, se o professor atua
de forma ativa no processo de ensino, possibilitará meios facilitadores para a promoção
do desenvolvimento motor, cognitivo, social e afetivo o que de outras formas poderia
não acontecer (CHICON; SILVA, 2011).
Righi et al (2012) apontam que a formação continuada com abordagem inclusiva
nos cursos oferecidos por instâncias municipais e/ou estaduais de ensino fica por vezes
a cargo dos profissionais interessados no assunto. Estes têm buscado de forma
individual informações que os auxiliem a repensar, refazer a prática docente e
ressignificar a ação pedagógica considerando a diversidade/diferença como um
instrumento facilitador para a potencialização humana.
Esta busca não tem sido um movimento conjunto no processo de formação
profissional, mas sim isolado e provocado por ações pontuais em que a troca de
experiências vivenciadas ocorre em raras oportunidades, dificultando o processo
inclusivo, pois o compartilhamento de vivências é essencial para o sucesso de uma ação
docente mais equitativa (COSMO, 2014; CHICON et al, 2014).
Percebe-se, então, que toda esta problemática com relação ao processo inclusivo
de estudantes com deficiência está muito além das questões curriculares que emergem
de uma formação profissional incipiente e das carências que provêm desta. Ressaltando
que os programas de formação continuada devem partir de características relacionais,
em que o professor é o agente ativo de intervenções educacionais que possam contribuir
no enfrentamento dos desafios inerentes ao contexto escolar inclusivo (CRUZ et al,
2011).
Belém et al (2017) destacam que a ação inclusiva deve ser pensada para além
das questões políticas e pedagógicas, elas urgem ser abarcadas pela acessibilidade
atitudinal em relação aos estudantes com deficiência, ao promover a prática de
sensibilização e conscientização da comunidade em geral a fim de fortalecer a
convivência na diversidade humana.
Neste sentido, Belém et al (2017) corroboram com Goes (2004), que coloca que
deve-se pensar na formação inicial e continuada do docente que atua com o estudante
26
2
O termo “Formação Contínua” foi utilizado no contexto do Decreto-Lei nº 22/2014 o qual estabelece o
Regime Jurídico da Formação Contínua de professores em Portugal (PORTUGAL, 2014)
28
Para Bauman (1999), este não (negativa) é a diferença que se caracteriza no sentido de
reconhecer a normalidade a partir da própria perspectiva e não sob a perspectiva da
alteridade.
Ao não olhar para o outro considerando a diferença como algo constituinte do
ser humano, o sentimento de estranhamento torna-se uma constante. Embasado no
padrão de normalidade, faz com que os “outros” e o “diferente” não se sintam
pertencentes a uma mesma cultura e tornem-se divergentes (BAUMAN, 2012).
O estranhamento é, consoante Mandarino (2016, p.72), uma negociação
constante por participar do mesmo espaço que o outro, respeitando-se as divergências e
diferenças, assim:
“lidar” com pessoas que desejam participar e aprender à sua maneira, com métodos e
estratégias de ensino diferentes das gerações que se passaram, faz-se necessário que
aconteça a reinvenção da escola, sendo a formação profissional, um processo essencial e
fundamental que coloque o professor em posição capaz de reverter situações educativas
adversas (RODRIGUES, 2016).
Ao pensarmos em um contexto escolar que remeta à diversidade recorremos à
Rodrigues (2016, p. 13), que afirma que a formação de professores não deve ser
pensada por si só e descontextualizada da realidade proposta pela inclusão escolar, mas
sim deve ocorrer em um modelo que seja capaz de inovar a escola e a prática de ensino.
3
Conforme Peres (2010, p.83) o termo instrução é de origem russa que ao ser traduzido para a Língua
Portuguesa também significa uma unidade de ensino e aprendizagem.
4
Conforme Zabala (1998, p.18) o termo sequência pedagógica é definido como o “conjunto de atividades
ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que têm princípio
e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos” indicando a função de cada atividade na
construção do conhecimento.
45
Estes questionamentos ressaltados por Pimenta (1997) nos fazem refletir não
apenas sobre o processo de ensino e aprendizagem, mas também acerca das ações e
demandas pertinentes a este, como os recursos pedagógicos disponíveis e a
aplicabilidade de estratégias de ensino, orientações e subsídios, os quais primam ser
ofertados pela formação continuada de professores (FIORINI; MANZINI, 2016).
Quando considerado o processo de ensino e aprendizagem em contexto
inclusivo fica explícito que a formação no modelo em que ocorre não subsidia a
adequação de estratégias de ensino para que o professor egresso esteja apto a buscar
diferentes possibilidades e situações de aprendizagem, assim como não é suficiente para
que o professor sinta-se seguro para realizar as adequações necessárias tanto no
currículo quanto no processo avaliativo.
Em decorrência da cultura escolar, os professores agem como se uma única
forma de ensinar fosse suficiente ao restante do grupo de alunos e insuficiente a este
47
contínuo, em que muitas vezes esta oferta chega a ser inexistente. Em relação aos
momentos reflexivos propiciados pela formação inicial, os autores alertam que estes
apresentam componentes curriculares gerais e estritamente técnicos, sendo
descontextualizados da realidade escolar (REINA et al, 2019).
A discussão sobre a necessidade e obrigatoriedade das disciplinas relacionadas à
atuação profissional com a pessoa com deficiência se originou no Brasil em 1987 com a
publicação do Parecer nº 215/87 do Conselho Federal de Educação que explicita sobre
um rol de sugestões de disciplinas obrigatórias para cursos superiores em Educação
Física e dentre estas está uma disciplina que tivesse como objetivo subsidiar o futuro
professor para o atendimento profissional à pessoa com deficiência (SILVA et al,
2017).
Com este movimento esperava-se que o futuro professor através do processo de
formação profissional se sentisse efetivamente preparado para atuar com o referido
público, entretanto esta ineficiência do processo formativo pode estar relacionada ao
modo como a matriz curricular é desenvolvida pelos cursos superiores, em que a grande
maioria destes traz à tona o enfoque clínico da deficiência e não abordam o processo
educativo da aprendizagem motora, distanciando a realidade escolar e a aplicação do
conhecimento na prática profissional (SILVA et al, 2017; HAEGELE; ZHU, 2017).
Esta aplicação do conhecimento na prática profissional é caracterizada por
Alarcão (1996, p. 9) como conhecimento contextualizado, à medida que “desafia os
profissionais a dar respostas a questões novas, problemáticas, através da invenção de
novos saberes e novas técnicas produzidos no aqui e agora que caracteriza um
determinado problema”, sendo a aprendizagem que se gera na prática um elemento
formativo muito importante.
Ao aprofundar esta discussão, Chicon e Cruz (2017, p. 147) salientam que o
conhecimento técnico-instrumental não é suficiente na formação em uma perspectiva de
inclusão, faz-se necessário ir mais além e desenvolver a “crença no potencial humano”.
Sendo a relação humana essencial para o aprendizado e para o processo inclusivo, o
qual se aplica a toda à comunidade escolar, independentemente de condição de
deficiência.
Se não considerado o caráter inclusivo a todos no contexto educacional, o
estudante com deficiência depende do esforço próprio para se fazer incluído, o que faz
perpetuar e reproduzir ações excludentes, colocando ao aluno “diferente” a condição de
deficiente. Portanto, o relacionar-se de forma mútua no contexto educacional e de
54
formação profissional é uma condição muito pouco explorada por alunos com e sem
deficiência, por conseguinte estes não aprendem a refletir sobre a diversidade humana
(RODRIGUES et al, 2017).
Rodrigues et al (2017, p. 242) afirmam ainda que o aluno licenciando em
Educação Física tem muitas vezes dificuldade em visualizar a diversidade presente na
experiência humana, isto porque “vivenciam propostas que não consideram as
diferenças a partir de um tratamento igualitário, o que traz à tona o reforço e a
perpetuação dos ambientes exclusivos e da falta de alteridade”, ou seja, os estudantes
vivenciam durante a formação apenas um recorte do todo, feito estritamente pela
condição de deficiência, em que prevalecem características clínicas e o sentido negativo
do termo, acarretando maior visibilidade sobre as “limitações presentes” do que sobre a
necessidade de se repensar a ação docente ao nível da equidade de oportunidades.
Esta afirmação feita por Rodrigues et al (2017) coaduna com El Tassa e Cruz
(2017) alertando-nos que as queixas que os professores trazem sobre a formação inicial,
e especificamente sobre a absorção de conhecimentos necessários a serem
desenvolvidos em uma perspectiva inclusiva na aula de Educação Física Escolar, nem
sempre repercutem nos espaços de discussão sobre as mudanças necessárias na
formação acadêmica. Fato este que demonstra a falta de interesse em realizar
modificações nos métodos de ensino atualmente desenvolvidos, os quais não colaboram
para a aproximação das relações entre a universidade e a educação básica.
Alarcão (1996) denota que a universidade não auxilia o futuro professor a
contextualizar o saber, adaptar e aplicar este saber à realidade escolar. Estando estas
duas instâncias de ensino, universidade e escola, distantes e sem diálogo, sendo que o
conhecimento acadêmico é inacessível pelo profissional da educação básica como
aponta Righi et al (2012).
As queixas apresentadas pelos professores relacionam-se ainda à dicotomia entre
a teoria explicitada pelo processo formativo e a prática pedagógica presente neste, que é
consequência deste distanciamento entre a universidade e a escola e que não vai ao
encontro da prática docente quando este profissional egressa na realidade escolar
Portanto, a formação profissional “não tem valorizado uma articulação entre a formação
e os projectos das escolas (...)” (NÓVOA, 1995, p.24; NÓVOA, 2017).
Como também aponta Araújo (2014) ao salientar a inquietação do professor
recém-licenciado ao ingressar na Educação Física Escolar e se deparar com situações
para as quais não se sente preparado, como o trabalho com pessoas com deficiência. A
55
sentido da diversidade, entretanto estas não são maioria entre as matrizes curriculares
das universidades brasileiras (SILVA et al, 2017).
Nesta linha de raciocínio, Mandarino et al (2017) nos alertam para a
necessidade apresentada por estudantes concluintes da disciplina Estratégias de Ensino e
Inclusão em se obter uma lógica técnica de conteúdos, isto porque este é o formato que
os cursos superiores adotam para desenvolver o conhecimento, acarretando na
dificuldade que os alunos concluintes do curso de Educação Física apresentam em
refletir sobre o processo de inclusão escolar de forma crítica corroborando Alarcão
(1996).
Ressaltando que a formação profissional na perspectiva inclusiva não é um
assunto tratado no coletivo de professores e sim em ações solitárias e individuais,
normalmente impulsionadas por docentes responsáveis pela disciplina que trata da
temática acerca do trabalho com pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais,
logo esta temática no âmbito da Educação Física Escolar, não é um assunto
integralmente abordado no currículo do processo formativo inicial (SILVA et al, 2017).
Ao considerar a integralidade formativa, Reid (2000) explicita sobre a
abordagem de Infusão, método em que os conceitos de atividade física adaptada são
incluídos em todo o currículo, assinalando que é incongruente apoiar a inclusão escolar
e ao mesmo tempo supor que as pessoas com deficiência têm as mesmas necessidades
de todas as outras pessoas, ignorando as diferenças ao isolar esta discussão a uma única
disciplina. Esta incongruência é também apontada por Block et al (2016), que ressaltam
o déficit do conhecimento de professores universitários a respeito da “deficiência” e da
Educação Física Adaptada, sendo mais uma barreira para a adequada formação
acadêmica e efetiva atuação de professores de Educação Física em contexto escolar
inclusivo.
Araújo (2014) e El Tassa e Cruz (2017) indicam que a causa da insuficiência da
formação apontada por docentes egressos não tem origem apenas na dissociação entre a
teoria explicitada pela universidade e a contextualização da prática pedagógica, mas
relaciona-se à falta de estruturação curricular que urge ser organizada perante a atuação
docente e à realidade escolar em face de uma perspectiva inclusiva.
O fato de as disciplinas que abordam o enfoque sobre Inclusão, Diferença e
Diversidade serem crítico-reflexivas, causa “certo desconforto no currículo e
desestabilizam algumas das relações de poder historicamente instituídas, antecipando de
58
modo direto ou indireto que os próprios cursos de formação em Educação Física são
produtores de exclusão” como alertam Silva et al (2017, p. 216).
El Tassa e Cruz (2017) afirmam que as licenciaturas ainda não estão preparadas
para formar professores com orientação na perspectiva inclusiva e que apesar da
vigência das diretrizes curriculares indicarem este caminho, os cursos universitários não
modificaram o formato pelo qual se consolidaram academicamente e ignoram a
existência de um publico diferenciado com necessidades específicas como se a mesma
fórmula ou teoria fosse suficiente para ensinar a todos.
três formas diferenciadas de percepção, sendo que em cada uma destas as expectativas
positivas servem como um incentivo à continuidade e manutenção de determinada ação
ou comportamento e as negativas desestimulam a ação. Estas formas se distinguem
entre si pelos efeitos fisiológicos que causam no indivíduo, os quais são acompanhados
pelas mudanças de comportamento, estando a sensação de prazer inclusa nas
experiências sensoriais e os prazeres físicos dentro de uma de suas formas positivas e as
experiências sensoriais negativas ou aversivas, relacionadas à sensação de desconforto
físico nas suas formas negativas (BANDURA, 1997).
Nesta linha de raciocínio, as pessoas regulam seu comportamento baseadas no
próprio julgamento que fazem dos efeitos físicos positivos e negativos que o
acompanham, considerando os efeitos sociais positivos e negativos e a observação que
fazem destas reações sociais também positivas ou negativas acerca da autoevolução
deste mesmo comportamento (BANDURA, 1997).
Estas reações variam conforme a complexidade da tarefa e a força de convicção
nesta eficácia pessoal é o que determina como uma pessoa irá lidar com uma situação
considerada difícil. Logo, as pessoas evitam situações difíceis porque acreditam que não
são capazes de lidar com elas e o contrário também ocorre, quando o comportamento
afirma o julgamento de capacidade para a obtenção de sucesso em determinada
situação, ressaltando que as pessoas fazem coisas que geram satisfação e prazer e se
esquivam do que gera insatisfação e autocensura (BANDURA, 1997; 1977b).
A tarefa de criar ambientes de ensino e aprendizagem que conduzem ao
desenvolvimento de competências cognitivas está diretamente relacionada ao nível de
autoeficácia docente do professor que desenvolverá determinada ação pedagógica, isto
porque a crença docente em sua própria eficácia determina parcialmente como esta ação
docente será estruturada e como será desenvolvido determinado processo de ensino com
cada turma de estudantes (BANDURA, 1997).
Estando a qualidade do programa de ensino diretamente relacionada à atitude do
professor, implícita no comportamento, à crença que este tem na própria capacidade de
desenvolver e efetivar determinada tarefa, e à autoeficácia docente e o suporte ofertado
pela comunidade escolar (HAEGELE; ZHU, 2017).
Por conseguinte, professores com alto nível de eficácia no processo de ensino
trabalham com a crença de que as dificuldades apresentadas pelos estudantes são
contornadas através do suporte extra e de estratégias de ensino adequadas a cada
contexto e a cada situação. Por outro lado, professores que tem um baixo nível de
62
eficácia na ação docente acreditam que os estudantes são desmotivados e que em razão
da influência externa ao ambiente educativo, não é possível ofertar suporte ao nível da
evolução da aprendizagem (BANDURA, 1997).
A autoeficácia docente influencia ainda no estabelecimento de objetivos e metas
e pode ser rapidamente recuperado ou perdido, conforme a atribuição consequente de
um autojulgamento insuficiente sobre a própria capacidade ou déficit de conhecimento e
habilidades quando estes são requeridos em situações ou tarefas que podem exigir
controle sobre o ambiente ou a ação (BANDURA, 1994).
Considerando o contexto educativo, ao fazer este julgamento o professor auto
avalia o nível de sua própria eficácia e o relaciona com o que é exigido na demanda do
processo de ensino durante a prática pedagógica, o que produzirá informações sobre a
dificuldade ou habilidade e capacidades necessárias para que se obtenha sucesso na ação
docente (IAOCHITE; AZZI, 2012).
Consoante ao contexto escolar, Dantas e Azzi (2018) afirmam que a qualidade
da experiência vivenciada pelo docente, pode ser julgada como sucesso ou fracasso,
através do envolvimento em atividades ou práticas específicas e resulta na revisão das
crenças de autoeficácia e das expectativas de resultados estimados para si. Exercendo
efeito direto sobre as metas da atividade e sobre as escolhas, em que a percepção sobre a
crença de eficácia influencia na persistência e na resiliência dos professores face aos
desafios da prática profissional (TSCHANNEN-MORAN; HOY, 2001).
A autoeficácia docente pode ser entendida como a crença que professores e
estudantes em processo de formação mantêm sobre as suas próprias capacidades de
organizar e executar as ações necessárias para a produção de resultados no processo de
ensino com relação à instrução, a gestão da aula e o engajamento de seus estudantes
(PFITZNER-EDEN, 2016).
De forma que a habilidade dos professores e o autojulgamento que fazem sobre
o nível de autoeficácia docente pode sofrer influências e ser influenciado pelo ambiente,
além de gerar impacto no processo de aprendizagem dos estudantes e no controle que o
profissional tem sobre os fatores externos a ele. Professores que expressam confiança
em suas habilidades para ensinar estudantes com dificuldades de aprendizagem
evidenciam que a percepção positiva que têm sobre a própria crença de eficácia docente
pode reforçar o autocontrole e os fatores intrínsecos à pessoa em relação às próprias
crenças (TSCHANNEN-MORAN; HOY, 2001).
63
A formação inicial não esgota nem substitui a formação contínua, mas, tanto
pode castrar quanto promover o desenvolvimento das competências
profissionais que necessariamente terão que ser aperfeiçoadas ao longo da
vida, tanto pode desmotivar, quanto pode entusiasmar o interesse pela
profissão. Não é uma varinha mágica que tudo resolve, mas, é
inquestionavelmente o berço da construção das competências e da identidade
profissional, servindo ao mesmo tempo como um mediador importante na
formação para a mudança. A deficiente formação fragiliza a Educação Física
e favorece a regressão. Não é com certeza a única variável a influenciar o
processo, mas, presta um papel importante no desenvolvimento da Educação
Física (BRÁS, 1996, p.48).
70
Este trajeto ressalta uma longa caminhada histórica marcada por conflitos e
reflexões acerca da identidade e da valorização profissional, da construção de
competências e do aprimoramento do processo formativo voltado à Educação Física e
ao Desporto.
Neste capítulo, este processo histórico será retratado em 3 períodos a serem
explanados de forma cronológica, sendo que o primeiro período compreende a época de
1926 a 1974, o segundo período de 1975 a 1988 e o terceiro, de 1989 a 2020.
5
A Mocidade Portuguesa era um grupo organizado com bases distintas para mulheres e homens que tinha
como objetivo abranger a juventude e preparar o novo cidadão português conforme os ideais do
Salazarismo, época marcada pelo Estado Novo (PIMENTEL, 2007).
71
O terceiro período de 1950 até 1977 é marcado pela publicação da Lei nº 4.024
em 20 de dezembro de 1961 que estabelecia as Diretrizes e Bases da Educação Nacional
que caracteriza a discussão em torno da organização dos sistemas de ensino, trazendo as
demandas da Educação como uma responsabilidade unicamente do Estado. E a partir do
Golpe Militar de 1964 se fortalece a cultura esportiva na Educação Física, já
demonstrada no segundo período com a publicação do Decreto-Lei nº 3.199 de 14 de
abril de 1941 a qual é reforçada com a Publicação do Decreto-Lei nº 69.450/71 e com a
Publicação da Lei nº 62.51 em 08 de outubro de 1975, retratando um processo de
formação de professores com tendência tecnicista (BRACHT, 2013; CASTELLANI
FILHO, 2015; BRASIL, 1975).
geracional, entre outras;” (BRASIL, 2015a, p.06). Nas diretrizes expressas no capítulo
III para a formação do egresso da formação inicial e continuada, a temática da Educação
Inclusiva também é abordada de forma rasa “VIII - demonstrar consciência da
diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de
gêneros, de faixas geracionais, de classes sociais, religiosas, de necessidades especiais,
de diversidade sexual, entre outras;” (BRASIL, 2015a, p.08).
Ainda no ano de 2015 decorreu a Publicação da Lei nº 13.146, de 6 de julho de
2015 que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência). Com relação a esta legislação e a relação com o processo
formativo de professores para atuação em contexto inclusivo, cabe atentarmos ao
Capítulo IV que trata Do Direito à Educação e explicita no “Art. 28. Incumbe ao poder
público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
(...) X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial
e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento
educacional especializado;” (BRASIL, 2015b, p.08). Ressaltando que é Dever do poder
público prover a oferta sobre a formação continuada de professores para o trabalho com
pessoas com deficiência.
A Lei Brasileira de Inclusão ressalta ainda a responsabilidade do poder público
para a adoção de medidas que garantam o acesso estrutural e arquitetônico, assim como
a acessibilidade ao conjunto de conhecimentos como podemos observar no parágrafo
“XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais
integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às atividades
concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino” (BRASIL, 2015b, p.08)
Mais recentemente, em 2018 ocorreu a Publicação da Resolução nº 6/2018 que
institui as Diretrizes Curriculares nos cursos de Graduação em Educação Física
especificamente com relação à Formação Específica em Licenciatura em Educação
Física que é especificada no Capítulo III e com relação à Formação Específica em
Bacharelado em Educação Física, especificada no Capítulo IV (BRASIL, 2018).
Esta resolução trata sobre os objetivos e as diretrizes do curso de graduação em
Educação Física, ressaltando que este curso de Formação inicial deverá acontecer de
forma articulada com o processo de Formação contínua, tendo como premissa a
autonomia do graduando para o contínuo aprimoramento, e organiza este processo
formativo com um ingresso único tendo uma etapa de formação comum tanto ao
Bacharelado quanto à Licenciatura que é composta por um núcleo de estudos de
88
formação geral de 1.600 horas e na etapa específica também de 1.600 horas, em que os
graduandos terão acesso a conhecimentos específicos das opções em Bacharelado ou
Licenciatura. Para a Etapa Comum, ressaltamos o Capítulo I “§ 2º A formação para
intervenção profissional à pessoa com deficiência deve ser contemplada nas duas etapas
e nas formações tanto do bacharelado, quanto da licenciatura” (BRASIL, 2018, p. 2).
Com relação aos aspectos da Formação Específica para Licenciandos em Educação
Física ressaltamos os Artigos 9º e 10º que tratam dos aspectos que referenciam esta
formação como os objetivos para uma formação humanista, técnica, crítica, reflexiva e
ética e a articulação e contextualização com a Educação Básica:
equitativa, inclusiva e com aprendizado ao longo da vida, com vistas à atuação efetiva
em espaços comuns ou especializados” (BRASIL, 2020, p.3).
A Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida promulgada em 2020 promove a abertura por uma
flexibilização do processo de inclusão escolar, o qual deveria ser o princípio norteador e
orientador do documento e deveria fortalecer o movimento da Educação Inclusiva.
Contudo, esta Política retoma a oferta de um processo de ensino segregado, reforçando
a diferença negativamente e não prevê o apoio e suporte para a Inclusão escolar em
sistema regular de ensino (MENDES, 2020).
O quarto período de 1978 a 2020 é marcado pela Publicação de Pareceres e
Resoluções acerca da organização dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em
Educação Física, em que o primeiro Parecer nº 215/87 ressalta, após o declínio da
ditadura militar, a preocupação com a formação profissional de cunho filosófico e
humano. Contudo, observamos no decorrer deste trajeto histórico, forte movimento de
expansão do mercado de atividade física reforçando a exploração econômica dos cursos
de Educação Física conforme foi retratado pela Publicação das Resoluções nº 7/2004 e
nº 4/2009 e fortalecido com a Promulgação da Lei nº 9696/98 em 1º de setembro de
1998.
Para Ayala et al (2015) a formação de professores de Educação Física,
especificamente na América Latina, busca se adequar às políticas públicas que, no
contexto da globalização, têm sido desenvolvidas com foco no capitalismo, que a partir
de conceitos e princípios de organizações mundiais e nacionais assumem a proposição
de novas diretrizes e orientações com objetivo de contribuir para a melhoria da
qualidade do sistema educativo, a partir da análise do pragmatismo entre a teoria e a
prática, da relação multicultural entre os povos, da relação existente entre a educação, o
processo de formação e o mercado de trabalho, da articulação com a formação
continuada e orientada para a práxis e para a constituição de identidades educativas que
respondem para um “maior compromisso docente e para uma forte relação multi e
interdisciplinar de todas as áreas” (AYLA, 2015, p.83).
90
8 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
6
Conforme o Regime jurídico da habilitação profissional para a docência previsto no Decreto-Lei n.º
79/2014 (PORTUGAL, 2014), estão habilitados neste país para atuar no Sistema de Ensino Nacional,
especificamente no 1º ciclo básico também os professores licenciados e para atuar no 2º e 3º ciclos, estão
habilitados professores Mestres.
92
7
Os Agrupamentos de Escolas são unidades organizacionais, dotados de órgãos próprios de administração
e gestão, constituídos por estabelecimentos de educação pré-escolar e de um ou mais níveis e ciclos de
ensino, com um Projeto Educativo comum. A constituição de Agrupamento de Escolas considera, entre
outros, critérios relativos à construção de percursos escolares integrados, à articulação curricular entre
níveis e ciclos educativos e à proximidade geográfica. Cada um dos estabelecimentos que integra o
Agrupamento mantém a sua identidade e denominação próprias (PORTUGAL, 1998).
93
9 DISCUSSÃO E RESULTADOS
Com relação ao Score de respostas (em unidade por professor) dos cinco
Professores portugueses para a Percepção da Competência observamos que para as três
subescalas analisadas (Deficiência Intelectual – DI; Deficiência Física – DF e
Deficiência Visual - DV) todos os cinco professores participantes indicaram
perceberem-se “com alguma competência” para a atuação docente com o estudante com
deficiência.
106
Gráfico 4 - Score por subescala dos Professores Portugueses para a Qualidade da Experiência
contextos integrados e negativos, com atitudes negativas por parte dos professores. Fato
este ainda relacionado, ao entendimento da diferença de forma negativa (HAEGELE et
al, 2019).
Retomando Armstrong (2014), a Educação Inclusiva tem por premissa estar
fundamentada nas perspectivas da participação e do reconhecimento, sendo a
participação um direito que deve ser garantido a todos os membros da comunidade e o
reconhecimento que assume como preceito de que cada participante desta comunidade é
reconhecido e aceito por ser quem é.
A formação profissional contínua tem um papel essencial para o
desenvolvimento de atitudes positivas do professor de Educação Física atuante em
contexto inclusivo contribuindo para o fortalecimento do sentimento de eficácia em face
da tarefa de ensino e influenciando na necessidade que este professor tem por um maior
suporte na ressignificação de sua prática docente, assim como na reflexão sobre o
currículo, sobre os objetivos almejados e sobre as estratégias de ensino quando
considerado o processo de ensino em contexto inclusivo (HUTZLER et al, 2019).
A Qualidade da Experiência tem um papel essencial neste processo formativo,
pois na medida em que a experiência vivenciada é julgada pela pessoa como positiva
para si, fortalece a crença de autoeficácia e pode neutralizar o impacto negativo de um
evento adverso que possa ter ocorrido em uma experiência anteriormente vivenciada
pela pessoa (BANDURA, 2008).
Este processamento cognitivo acerca das Expectativas de Eficácia docente
perante o processo de ensino e das Expectativas de Resultado com relação ao sucesso ou
fracasso desta ação acontece de forma cíclica e deriva-se da reflexão pessoal sobre a
avaliação das consequências da crença de eficácia e do comportamento produzido
conforme o desempenho da ação realizada e do resultado pretendido (IAOCHITE,
2014).
Desta forma, a informação advinda das experiências vivenciadas se refere à
interpretação que o professor faz sobre os resultados de determinada tarefa de ensino
considerando ainda o contexto escolar e as demandas envolvidas neste contexto
(IAOCHITE; COSTA FILHO, 2020).
O processo formativo inicial tem um papel essencial no sentido de promover aos
futuros professores de Educação Física experiências de atuação em contexto inclusivo
que fortaleçam a crença de autoeficácia docente. Nesta linha de raciocínio apresentamos
os resultados expressos pelos oito participantes Recém-Licenciados em Educação Física
111
apontados tanto para a própria Percepção da Competência quanto para a auto Percepção
de Qualidade da Experiência.
Ressaltando que estes oito participantes Recém-Licenciados são também
estudantes de Mestrado em formação contínua no curso de Mestrado em Ensino da
Educação Física nos ciclos Básico e Secundário na Faculdade de Ciências do Desporto
e Educação Física da Universidade de Coimbra e atuavam no ano corrente à pesquisa
com o estágio supervisionado, que corresponde a uma das etapas de cumprimento
obrigatório requeridas do processo de formação profissional contínuo.
O estágio tem um papel muito importante para o desenvolvimento e aquisição de
conhecimentos e competências diretamente relacionados com a realidade escolar por
parte dos futuros professores de Educação Física, pois através do estágio
supervisionado, os estudantes têm a oportunidade de aplicar o conhecimento em
situações teórico-práticas conforme o contexto que vivenciam na aula de Educação
Física Escolar ao exercitar o papel da docência (IAOCHITE; COSTA FILHO, 2020).
Neste contexto, o futuro professor tem contato com as demandas vivenciadas
pelo professor de Educação Física da escola e ao exercitar a docência no contexto do
estágio supervisionado, os futuros professores fortalecem o desenvolvimento de crenças
acerca de suas próprias competências (IAOCHITE; COSTA FILHO, 2020).
Conforme Iaochite e Costa Filho (2020) quando os professores têm uma baixa
percepção sobre o próprio senso de autoeficácia, estes tendem a interpretar a qualidade
da experiência vivenciada também de forma negativa, o que pode estar relacionado não
apenas à falta de experiências positivas vivenciadas, mas também à falta de
conhecimento em saber como lidar com as demandas do processo de ensino, sobretudo
em contexto inclusivo. De forma que, segundo Bandura (1997), o nível de autoeficácia
docente cai quando o professor não tem clareza sobre o caminho a ser tomado para a
resolução de determinado conflito ou desafio no processo de ensino.
A fim de compreender de forma aprofundada como os oito participantes Recém-
Licenciados se percebem com relação à competência para a atuação docente em
contexto inclusivo, realizamos um detalhamento sobre estes resultados para cada tipo de
deficiência, sendo a ação docente em face da perspectiva inclusiva com o estudante com
Deficiência Intelectual, com Deficiência Física e com Deficiência Visual, o qual pode
ser observado na tabela 1.
Gráfico 8 - Score por subescala dos Recém-Licenciados Portugueses para a Qualidade da Experiência
8
Todos os participantes relataram cumprir os critérios de inclusão.
116
Tabela 2 – Posto Médio para a Percepção da Qualidade da Experiência para os Professores participantes
Recém-Licenciados Portugueses.
em Educação Física para a atuação docente com estudantes com Deficiência Intelectual,
Deficiência Física Deficiência Visual ao aplicar o questionário Escala de Autoeficácia
na Educação Física Inclusiva (EAE – EFI) de Block et al (2013). Os autores concluíram
que o processo de formação contínua contribui de forma significativa para a elevação
dos níveis da Percepção da Competência e para a Percepção da Qualidade da
Experiência, sendo essencial para que o processo inclusivo nas aulas de Educação Física
Escolar ocorra de forma efetiva ao promover maior equidade de oportunidades aos
estudantes com deficiência (MORAIS et al, 2019b) .
Estes resultados corroboram o estudo de Campos e Neves (2017) no sentido de
que os níveis elevados de autoeficácia dos professores relacionam-se ainda ao interesse
destes em buscar contribuir para o processo inclusivo de estudantes com deficiência,
fato que denota grande relevância para a importância do processo formativo contínuo a
fim de que este professor mantenha-se motivado em face da perspectiva inclusiva.
A presença da preocupação em salientar a perspectiva inclusiva no processo de
formação inicial do professor de Educação Física em Portugal também é ressaltada por
Fonseca (2014) ao expressar que os futuros professores portugueses tem uma concepção
ampla sobre a inclusão e denotam preocupação com a valorização da diversidade para
com a realização da prática pedagógica, porém a autora alerta que esta é uma
preocupação futura que não necessariamente é aplicada na prática, pois a percepção
positiva de autoeficácia docente tende a diminuir após o primeiro ano de atuação
profissional na escola, revelando a necessidade de suporte para o professor não
experiente e de continuidade do processo formativo (HOY; SPERO, 2005).
Assim, a importância da formação contínua também é ressaltada por Morais et al
(2019c) como essencial a fim de preparar o profissional para a diversa demanda escolar
em contexto inclusivo, assim como no sentido de fortalecer e subsidiar o
desenvolvimento de elevados níveis de Percepção da Competência e Qualidade da
Experiência vivenciados na prática docente de forma que o professor sinta-se mais
confiante e capacitado para a realização de práticas pedagógicas mais equitativas e, por
conseguinte, o docente torne o processo inclusivo mais efetivo.
118
apanhá-los nas escolas, porque eles estão inclusos, porque eles estão nas escolas (...)
daí a dar uma aula.. nos diferentes contextos.. mas os professores vão apanhá-los(...)”
Esta falha no processo formativo é apontada por Rodrigues et al (2017), em que
os autores afirmam que as propostas vivenciadas na Licenciatura abordam apenas um
recorte do trabalho a ser desenvolvido com o estudante com deficiência na aula de
Educação Física e por vezes não englobam o processo de ensino em face da perspectiva
inclusiva.
Nesta linha de raciocínio, Hutzler et al (2019) colocam que o processo formativo
é essencial para o desenvolvimento de atitudes positivas e para o fortalecimento da
autoeficácia para a atuação docente em contexto inclusivo, estando o comportamento e
as ações positivas ou negativas do professor implícitos nesta ação docente.
Cabe ressaltar que os professores afirmam que reconhecem a vulnerabilidade do
estudante com deficiência dentro do contexto escolar e que na aula de Educação Física
assumem um papel de cuidados com este estudante no sentido de primar pela garantia
da integridade física ao manter rotinas de precaução com este estudante e que, em razão
da falta de suporte da escola para com o professor para gerir esta dinâmica da aula
conturbada pela quantidade excessiva de alunos, o processo de ensino com qualidade é
pormenorizado e fica bastante prejudicado (MACHADO, 2016).
Em consequência desta questão bastante conflituosa vivenciada pelos
professores, observamos que há elevação do nível de stress do docente alterando o
estado fisiológico, o que consequentemente pode alterar também o quanto este professor
sente-se competente para a realização da tarefa de ensino e o quanto é positiva ou
negativa esta experiência vivenciada na aula (BANDURA, 1997).
Por esta condição e necessidade do cuidado com o estudante com deficiência,
pela falta de suporte da escola e, assim, a dificuldade em lidar com a dinâmica da aula, o
professor tem a sensação de que o processo de ensino ofertado não é efetivo ao todo o
que poderia ser, assim expressa a professora (4P_PT):“(...) exatamente é a falta de
condições e de não estar disponível para aquele aluno, nem tampouco podermos dizer
que... para o aluno fazer isto ou aquilo não podemos porque o aluno é totalmente
irresponsável, então nós temos de estar a par com ele e se estamos com ele, não
estamos com os outros (...) estamos a anular o nosso principio base que é a integridade
física do aluno, ou damos atenção a uns ou damos atenção a outros, alguém fica a
perder ( ...) o que eu faço é colocar o aluno na maior segurança possível ou em grupos
de segurança com outros alunos ou peço para ele realizar tarefas a parte da aula em
123
que não coloque em causa nada no aluno mas é (...) é entreter , é entreter, não se
consegue trabalhar uma área específica (...) eu não consigo dar atenção àquele aluno,
então vou metê-lo a fazer exercícios só para ocupar o tempo, são exercícios de
ocupação de tempo, pode haver um ou outro que seja realmente critério e um exercício
exemplar, mas serão raras as vezes que isso acontece porque eu precisava estar ali com
o aluno para verificar todo este processo e eu (...) não se consegue estar(...)”
Os professores apontam que o próprio contexto da aula de Educação Física
considerando as condições estruturais e sociais em que esta aula ocorre, muitas vezes
não atende às necessidades dos estudantes com deficiência, neste caso em específico
para os estudantes com Transtorno do Espectro Autista conforme cita a professora
(3P_PT):“(...) não é fácil, porque eu percebo que eles ganham em estar na convivência
com outros, mas, por exemplo, é muito complicado com os alunos autistas com as
características que eles tem (...) ah (...) estarem no grupo, porque muitos deles reagem
ao barulho excessivo, não conseguem estar em um espaço com muito barulho e as aulas
de educação física são normalmente um espaço onde há muito barulho, onde há
confusão e os autistas gostam normalmente das coisas da mesma forma da mesma
rotina e nem sempre isso é fácil (...)”
Observamos pelas colocações que os professores portugueses fizeram nesta
categoria que o contexto escolar em que as aulas de Educação Física acontecem faz com
que o professor de Educação Física se questione a respeito da efetividade de sua própria
prática docente e o quanto as estratégias de ensino elaboradas por eles e adaptadas às
necessidades do aluno são aplicáveis a ponto de tornar o conhecimento efetivamente
acessível a todos e assim valorizar as diferenças de forma equitativa. Neste sentido,
Haegele (2019) coloca que a Educação Física tem sido questionada se é efetivamente
inclusiva dada as condições em que as aulas acontecem.
Os professores denotam a falta da oferta sobre encontros de formação
continuada nesta perspectiva inclusiva e ainda a descontextualização do processo
formativo com relação às necessidades e demandas do universo escolar ao discutir sobre
o Processo formativo contínuo: experiências e trabalho colaborativo como cita o
professor (2P_PT): “(...) não, não é oferecida, as pessoas podem escolhê-la, mas é...
quase todas são a pagar, não há... pelo menos que eu conheço... não há formações
oferecidas... não há entidades que ofereçam (...)” e afirma a professora (3P_PT): “É
porque no nosso agrupamento temos vários miúdos com necessidades especiais ou com
124
deficiência, pronto e temos mesmo ao nível do centro de formação ãh... de forma geral
e não especifica, há esta oferta de como lidar (...) pronto”.
O processo formativo é ofertado com temáticas gerais e tratando
especificamente ao contexto escolar inclusivo esta busca por formações contínuas fica a
cargo dos professores interessados nesta temática como citam Righi et al (2012) e neste
contexto os professores colocam que, apesar de não haver a oferta da formação
continuada em contexto inclusivo, os docentes buscam no trabalho colaborativo com os
professores de Educação Especial e no compartilhamento de experiências com outros
professores de Educação Física fortalecer cotidianamente sua formação profissional e
pessoal, processo este também ressaltado por Cosmo (2014) e expresso pela professora
(4P_PT):“(...) em termos de formação, não tivemos alguma formação na faculdade me
lembro para alunos invisuais, eventualmente pode haver uma outra situação que eu
possa ter estado , mas não, não, e tenho uma relação muito afável mesmo com as
professoras da educação especial , portanto tenho uma excelente relação e qualquer
coisa também pergunto o que é que aquele aluno pode fazer , como é que ele pode ir,
mas não há em termos de formação, não há (...)” .
Ainda sobre a importância deste trabalho colaborativo no âmbito do contexto
escolar, e sobretudo em face da perspectiva inclusiva, Souza e Mendes (2017) ressaltam
que a prática docente colaborativa com outros profissionais da escola e com a família
potencializam as práticas inclusivas como demonstra a professora 5P_PT ao explanar
neste sentido (5P_PT): “(...) isso era uma ação de formação (...) já tivemos um projeto
piloto, que era uma ação formativa em que nós fomos às turmas do primeiro ciclo de
uma escola primária aqui do Concelho, aqui em Viseu, e estivemos a fazer um apoio a
coadjuvar neste caso, o professor de Educação Física é (...) tinha lá alguns casos que
necessitavam deste apoio porque o professor não conseguia sozinho dar conta do
recado, por assim dizer (...)”.
Os professores colocam que as formações costumam acontecer dentro das
escolas, mas em raras oportunidades são voltadas aos professores de Educação Física,
sobretudo abordando a atuação destes em contexto inclusivo e neste sentido Rodrigues
(2016), ressalta que não podemos culpabilizar o professor por uma prática de ensino
conservadora e que não seja equitativa, pois toda a estrutura educativa e arquitetônica
no contexto escolar também tem de se modificar como, por exemplo, a oferta da
formação nesta perspectiva conforme aponta a professora (3P_PT): “(...) mais uma vez
eu acho que precisaríamos de ajuda dentro da sala... se calhar eu estou a fazer alguma
125
coisa errada (...) posso estar a fazer alguma coisa errada, eu admito, posso estar a
fazer alguma coisa e não consigo tirar proveito (...)” e a professora (5P_PT): “(...) a
nível de educação física, vão existindo alguns mas que eu tenha conhecimento são
poucos, ah (...) nós aqui em Viseu fizemos, que foi o Congresso, sei que em Coimbra
também trabalham muito essa área , depois a nível nacional que eu acompanho até
algumas entidades máximas a nível nacional não vejo muitas formações direcionadas
especificamente para professores de educação física (...)” .
Os professores relatam que o currículo que vivenciaram à época de curso na
Licenciatura esteve muito distante da realidade escolar e apenas com a vivência e
experiência profissional ao ensinar estudantes com deficiência foi que apreenderam o
contexto da prática pedagógica nesta perspectiva escolar inclusiva conforme atenta
Nóvoa (2017) ao afirmar a descontextualização do processo formativo docente.
Além desta distância da formação para com a vivência e a realidade escolar, os
professores denotam a dicotomia presente entre a teoria explicitada na universidade e a
prática de ensino e o quanto esta tem sido falha neste processo formativo segundo
aponta a professora (1P_PT):“(...) em termos de conteúdos programáticos, daquilo que
é lecionado nas licenciaturas, se não for o aluno a procurar e querer saber mais, não é
na licenciatura que tira e das várias experiências que tive foi porque queria estar e
tinha algo que me puxava para ali , é porque no contexto de curso, tive teoria, não tive
nada na prática... ah ( ...) e isso faz muita, muita diferença e é uma coisa a se pensar
nas licenciaturas é a quantidade de teoria que se tem e a pouca prática efetiva dos
alunos e isso influencia muito a percepção que eles vão ter porque eles consideram
sempre que não vão ter esses alunos nas turmas deles (...)”.
Esta dicotomia entre a teoria explicitada na universidade e a prática de ensino é
também apontada por Libâneo (2015) no sentido de afirmar que a questão está na
dissociação entre o componente curricular e o domínio de saberes e habilidades para
ensinar estes componentes, de forma que há uma desvalorização do princípio
pedagógico e o cotidiano escolar é pormenorizado durante este processo formativo
inicial.
O professor 2P_PT ressalta a importância da vivência do estágio aos futuros
professores de Educação Física no sentido de oferecer experiências no contato com
estudantes com deficiência, em que estes futuros professores têm a oportunidade de
vivenciar o contexto escolar no papel de docência, experimentar diversificados
momentos de práticas de ensino aplicando o conhecimento apreendido na universidade
126
perante as demandas reais das aulas de Educação Física Escolar que passam a vivenciar
como afirma o professor (2P_PT): “(...) eu sou orientador de estágio e tenho um
estagiário em cada uma das minhas turmas... eu só supervisiono, eu só dou o Input e
acho... pronto, acho pertinente e acho que é necessário (...)”.
A importância de vivenciar situações de ensino e aprendizagem em contexto
escolar em contexto de estágio supervisionado também é apontada por Iaochite e Costa
Filho (2020), os quais afirmam ser esta vivência essencial para o início da vida
profissional do docente porque permite a contextualização do conhecimento.
Os professores afirmam que as escolas recebem poucos estudantes com
deficiência e que em razão disto nem sempre estes professores têm contato com estes
estudantes e questionam se a escola é de fato um espaço inclusivo fazendo emergir a
categoria Escola em contexto inclusivo como comenta professor (2P_PT):“(...) neste
momento na escola que trabalho talvez haja 7 ou 8 e a escola tem 1200... e tal alunos ,
não recebemos muitos alunos com deficiência (...)” .
Ainda com relação ao contexto escolar nesta perspectiva inclusiva, os
professores apontam que uma das barreiras que encontram é a aceitação das diferenças
em ambiente escolar, isto porque a diferença é entendida de forma negativa tanto por
estudantes sem deficiência quanto por professores de Educação Física como expresso
pela professora (1P_PT):“(...) no inicio notamos que havia alguma dificuldade dos
miúdos em aceitar a integração deles nas atividades, também não conseguiam fazer
grandes conquistas digamos assim, não conseguiam cumprir grande parte dos
objetivos, tudo que era tarefa de grupos eles eram renegados para segundo plano, eles
não lhes passavam bola e quando recebiam a bola sabiam que ele era o mais fraco e
era o primeiro a apanhar e por isso não se apanhava ou atirar a bola e depois o que
fizemos foi dar feedbacks e ferramentas aos alunos e mesmo aos professores de
maneira a integrá-los nas atividades(...)”.
As barreiras atitudinais encontradas por estudantes com deficiência perante
colegas e professores, assim como a desvalorização das diferenças são problemas
também apontados também por Haegele e Zhu (2017) que ressaltam o quanto esta
conotação negativa da diferença em contexto escolar influencia no desenvolvimento de
atitudes positivas do professor com o estudante com deficiência. Os autores afirmam a
importância de que o processo de formação continuada seja pensado sob uma
perspectiva inclusiva, colaborativa e humana que busque ressaltar as potencialidades de
cada estudante.
127
passavam menos de 20% do tempo com a turma, e apenas 12% destes estudantes com
deficiência passam 80% do tempo letivo ou mais com as suas respectivas turmas
(ODDH, 2017; 2018).
O Relatório aponta ainda a falta de suporte e de recursos humanos para o apoio
aos professores nas escolas, assim como a falta da estruturação adequada do sistema
escolar e de ações voltadas para a adaptação curricular revelando que a maioria destes
estudantes “continua a não beneficiar de uma educação verdadeiramente inclusiva”
(ODDH, 2017, p.25).
Considerando todo este contexto escolar nomeadamente excludente, os
professores demonstram insegurança quando comparam o contexto em que as aulas de
Educação Física acontecem, com o próprio processo formativo que vivenciam e com a
expectativa social que se tem acerca do sucesso do processo inclusivo, que por princípio
deve ser realizado com sucesso, gerando um conflito entre a expectativa sobre uma aula
mais inclusiva e a real condição que os professores têm para efetivar o processo
inclusivo.
Ao refletir sobre este conflito, os professores de Educação Física sentem-se
decepcionados com relação à experiência que vivenciam, como expressa a professora
4P_PT ao explicitar sobre a elaboração de estratégias de ensino para a adaptação dos
componentes curriculares para uma atuação docente mais inclusiva (4P_PT): “É (...)
não, não, não, não. Não atende e tem que ser ãh (...) nomeadamente é solicitado ao
profissional de educação física que faça uma adaptação na própria disciplina para
aquele aluno em especifico e atendendo as necessidades daquele aluno e não é possível,
não temos esta habilidade, não existe espaço (...) normalmente é pequeno, turmas
exageradamente grandes, com condições precárias para aquele aluno e (...) aquele
aluno precisava duma atenção (...) não digo a 100%, mas 90% e não é possível porque
nós temos que cumprir todo um programa, toda uma matéria, temos os alunos bons,
temos alunos médios, temos alunos fracos e depois temos os alunos que necessitam
quase a 100% e é difícil, não se consegue(...)”.
Conforme Lautenbach e Antoniewicz (2018) muitas vezes os professores
percebem que a formação que vivenciaram é insuficiente no momento em que
comparam o autojulgamento que fazem com relação às experiências de ensino que
vivenciam e o nível de qualidade do processo de ensino que julgam ser o ideal, estando
desta forma, o aumento ou redução do nível de autoeficácia dos professores diretamente
129
pessoa, um especialista da área que pudesse estar a trabalhar com o aluno porque iria
haver muito mais ganhos (...)”.
Neste sentido, a professora 5P_PT ressalta a importância de um professor de
Educação Física para o auxílio na elaboração das estratégias inclusivas (5P_PT):“ (...) o
que falta mesmo é haver uma colaboração ao professor de alguém que seja
especializado na área da educação física e que consiga ter estratégias inclusivas,
conforme os conteúdos que o professor esta a trabalhar que possa fazer uma relação
uma relação multidisciplinar e uma coordenação multidisciplinar mesmo com a área
da psicologia, com o professor titular com o professor de educação física, com outros
profissionais e criar um plano de intervenção que realmente funcione que acho que já
estamos há muitos anos a dizer que este trabalho em equipe é multidisciplinar, mas
chega-se a escolas e sinceramente eu não sinto isso (...)”.
O Relatório da ODDH (2017) afirma que no ano de 2017 houve uma queda na
presença de recursos humanos especializados nas escolas, como técnicos da área da
Educação Especial e professores dos Centros de Recursos de Inclusão e denota que esta
carência de suporte ofertado aos professores tem influenciado de forma negativa no
acompanhamento dos estudantes com deficiência e/ou com necessidades educativas
especiais. Neste sentido Armstrong (2014) alerta para a importância do suporte dado
pela gestão da escola para que o contexto educativo e o processo de ensino sejam
efetivamente inclusivos.
Contudo, apesar de todas as dificuldades enfrentadas na escola, os professores de
Educação Física relatam ações inclusivas dentro do contexto escolar a que pertencem e
explicitam que estas ações vivenciadas contribuem para o processo formativo pessoal e
profissional e que através do compartilhamento de experiências e do trabalho
colaborativo fortalecem o processo inclusivo como retrata a professora (1P_PT): “(...)
em contexto de escola, tivemos um projeto, que era o Inclusão Ativa em que
desenvolvemos um projeto numa escola de Viseu em que fomos coadjuvantes do
professor de Educação Física em um turma (...)”.
Neste sentido também explicita a professora (3P_PT): “Há alguns anos tive
também um aluno autista que tinha uma aula de apoio (...) eu propus uma aula de
apoio (...) eu sozinha com ele, é (...) o que eu fazia nesta aula? Fazia as tarefas que eu
ia fazer na aula com a turma, portanto eu tinha oportunidade de estar com ele, explicar
e reforçar, portanto antecipava o que ia se passar na aula, portanto na aula seguinte,
as tarefas eram as mesmas e ele já as tinha feito comigo ãh... não se resultava sempre
131
não (...) porque simplesmente já era outro dia e era outra situação, e se ele teimava que
não queria fazer, não queria fazer e ponto final, portanto aquilo que nós achamos que
era bom, e não? Eu percebia o que era pedido no dia anterior e no dia seguinte era
repetido, havia dias em que funcionava bem, outros dias em que não funcionava (...)” .
Os professores relatam também iniciativas para o fortalecimento da formação
contínua do professor atuante em face da inclusão escolar como expressa a professora
5P_PT ao relatar uma ação formativa que obteve como base o trabalho colaborativo
com um professor de Educação Física (5P_PT): “(...) nós primeiro tentamos perceber
como é que aquela escola funcionava, se o professor tinha estas tais informações
iniciais, se ele sentia dificuldade de incluir os alunos que tinha com o restante da turma
ou não, também tentamos perceber se a escola ouvia os professores ou não quando
tinham estas dificuldades mais na área da inclusão, então tentamos perceber um
bocadinho o lado do professor e um bocadinho o lado do funcionamento da escola,
qual era o contexto, e o estado em que os alunos estavam ou não integrados e o porquê
pronto, estes foram os primeiros passos, depois foi perceber que conteúdos o professor
ia trabalhar naquele tempo em que estávamos com ele e (...) também estar a dar a
entender que nós não estávamos ali para julgar (...) mas, para ajudar (...) e isso foi
positivo e fomos bem recebidos neste aspecto e foi depois aula a aula a perceber ou vai
dar aquela modalidade ou vai fazer aquele jogo, se podíamos usar materiais adaptados
ou então dar estratégias para ajustar as tarefas que o professor iria desenvolver na
aula (...)”.
A ação formativa contínua ofertada durante a vivência de situações de ensino e
contextualizada à realidade escolar a que o professor pertence contribui positivamente
para o desenvolvimento de atitudes positivas do professor atuante em contexto
inclusivo, isto porque se aproxima das necessidades e demandas de cada professor
dentro da própria realidade que experiência (HUTZLER, 2019).
A Formação contínua contextualizada à realidade escolar contribui ainda para o
fortalecimento do trabalho colaborativo, conforme afirmam Souza e Mendes (2017), e
através deste são potencializados os processos de ensino de forma que as estratégias
elaboradas tornam-se um instrumento facilitador ao acesso ao conhecimento pelo
estudante com deficiência na medida em que promove a potencialidade da
aprendizagem e da diferenciação curricular a fim de se promover um ambiente escolar
que seja de fato inclusivo e não apenas integrado e constituído por estudantes com e
sem deficiência como se fossem grupos distintos e separados (HAEGELE, 2019).
132
nem chamo o nome dela, eu disfarçadamente vou e utilizo outra estratégia para ela
perceber que é para ela ir fazendo as coisas(...)” .
A forma como o professor de Educação Física lida com o estudante com
deficiência com relação ao desenvolvimento da tarefa de ensino é intuitiva e carregada
de sentimento e este processo está profundamente fundamentado nas experiências que
estes professores já vivenciaram ao longo da vida profissional e no conhecimento que
está implícito em cada uma destas ações (SCHÖN, 2001).
Observamos que os professores refletem continuamente sobre a prática de
ensino que foi realizada e modificam esta prática segundo as necessidades de cada um
dos estudantes e conforme o contexto de aula, assim como cada professor demonstra em
suas falas utilizar-se da estratégia de tentativa e erro como um processo reflexivo
contínuo sobre a ação docente que realizam (SCHÖN, 2001).
Sobre esta reflexão contínua do processo de ensino e sobre a elaboração das
estratégias, observamos que os professores expressam diferentes formas de organizar a
aula e buscar fazer com que a aprendizagem do estudante com deficiência seja efetiva
como relata a professora 3P_PT sobre os momentos em que utiliza a estratégia de
ensino por tentativa e erro (3P_PT): “(...) por tentativa e erro (...) é um bocadinho,
porque o que funciona bem com um pode já não funcionar bem com outro (...)” e a
professora 4P _PT sobre a organização das aulas e o processo de ensino realizado por
tarefa (4P _PT): “ (...) é por tarefa, é por tarefa, eu vou, pego os alunos e... vocês fazem
isto, chegam outros alunos... vocês fazem aquilo... e só param quando eu disser, só
mudam quando eu disser, portanto tudo na máxima segurança... porque se eu tiver 2 a
2 por exemplo, podíamos estar com um monobol e estar a fazer uma situação
simplificada de jogo, não é? Um passe, um serve... um lance para o cesto, alguma coisa
do gênero... eu não posso fazer isto com todos com uma bola porque vai estar a haver
uma perturbação a uma bola e para aquele aluno as coisas a estarem dificultadas, eu
não posso fazer uma tarefa (...) entrar numa aula por exemplo num regime de comando,
não funciona, quando tem estes alunos não funciona, porque aquele aluno vai estar
sempre constrangido, vai estar sempre limitado, vai perceber que não cumpre, vai se
isolar, não vai querer fazer e depois é o medo( ...) o medo de falhar(...)”.
O formato de organização da aula e a utilização das estratégias de ensino por
tarefas foi uma maneira de que a professora 4P_PT encontrou de gestão da aula e do
processo de instrução, desta forma sente-se segura e eficaz para o desenvolvimento da
tarefa de ensino (PFITZNER-EDEN, 2016).
134
do ano que era da dança, todas as turmas tinham uma dança, ele era o melhor,
primeiro, era o primeiro a decorar tudo, em termos motores ele tinha algumas
dificuldades motoras e fazia bem, adorava, adorava, e (...) no fundo depois, era quem
se destacava na festa porque as pessoas não estão a espera que aquele aluno faça
aquilo daquela forma, portanto isso (...) os colegas também reconheciam nele... esta
aptidão, este entusiasmo, portanto era uma coisa diferente e ele realmente aí
destacavas (...)”.
Ao valorizar as diferenças e a potencialidade de cada um dos estudantes,
sobretudo dos estudantes com deficiência, os professores passam a contribuir para a
formação humana do estudante enquanto um sujeito que está em constante processo de
construção da identidade (SILVA et al, 2016)
Os professores expressam a importância que sentem em conhecer o contexto da
escola, local em que a aula acontece, a tarefa de ensino a ser realizada e as
características de cada estudante e da turma, pois acreditam que desta forma a
experiência profissional que têm somado ao conhecimento deste contexto escolar a que
pertencem são informações que facilitam a adaptação e elaboração das estratégias de
ensino, pois este conhecimento gera informações para que possa gerir a aula, adaptar a
tarefa de ensino e ter sucesso nesta experiência tornando a positiva, e assim se fortalece
o sentimento de autoeficácia docente. Esta discussão originou a categoria Percepções
sobre a Competência: contexto escolar.
A percepção da autoeficácia docente é relacionada pelos professores com o
Processo formativo contínuo: experiências e trabalho colaborativo sendo realizado em
parceria com as professoras de Educação Especial e a reflexão contínua sobre a prática
de ensino e sobre as experiências vivenciadas. Este processo reflexivo leva os
professores a um determinado grau de conhecimento e de sensibilidade sobre a prática
educativa, o que facilita as ações inclusivas.
Os professores ressaltaram a preocupação com a Infraestrutura da escola para
atender com qualidade a todos os alunos questionando a Escola em contexto inclusivo
afirmando que a escola não valoriza as diferenças e as potencialidades do estudante com
deficiência, no sentido de que os estudantes têm direito a frequentar todas as aulas em
todas as disciplinas, mas não frequentam as disciplinas em que se exige rendimento
acadêmico como Língua Portuguesa e Matemática. Os professores denotam que os
estudantes com deficiência frequentam algumas disciplinas e outras não, mas
frequentam as aulas de Educação Física e segundo os professores, isso acarreta em
139
tínhamos um trabalho a fazer que era um vídeo e que nós tínhamos que arranjar um
aluno com determinada deficiência e tínhamos que realizar vários testes a partir daí.
Penso que foi uma ideia boa mas que podíamos ter mais... nem que arranjássemos
determinadas escolas com protocolos e era como se fôssemos professores por um dia
para podermos ter mais ou menos não só uma turma mas tínhamos essa turma toda
com um aluno com determinada deficiência para nós sentirmos nós mesmos como seria
a dar uma aula e aí através (...) não sermos nós a dar a aula por completo... termos
alguém a auxiliar e caso nós precisássemos e estivéssemos a ver que a aula não estava
a correr bem termos alguém para nos auxiliar a determinar as estratégias para
conseguir o decorrer da aula (...) e (5RL_PT)“(...) nós na maioria aplicávamos estes
planos diferenciados aos próprios alunos e ... os nossos próprios colegas e muitos deles
acabavam por fingir que tinham aquela necessidade ou outra e se calhar seria mais
importante sim, poder trabalhar com pessoas que tenham efetivamente estas
necessidades, ter mais experiências ao longo do ano, aplicar planos com pessoas com
estas dificuldades, basicamente, para nos permitir ter aquela experiência e que estando
nós em uma fase inicial não temos tanto e isso podia ajudar esta parte da experiência
que eu considero muito importante (...)”.
Estas colocações dos professores relacionam-se a uma dicotomia entre a teoria
explicitada durante as disciplinas cursadas na Universidade e a prática pedagógica
expressa pela efetiva aplicação destes conhecimentos, especificamente com relação à
aplicação didática dos saberes, que é consequência deste distanciamento entre a
Universidade e o contexto real da escola (NÓVOA, 1995; 2017).
Os participantes evidenciam a necessidade que sentem de vivenciar práticas de
ensino em contexto real, dentro das escolas, salientando a falta de contato com pessoas
com deficiência no processo formativo. Este distanciamento entre a Universidade e o
contexto escolar é reforçado nas colocações dos participantes (4RL_PT): “(...)nós
aplicarmos a situação em contexto real, aquilo que acontecia tanto na licenciatura
quanto no mestrado era nós termos que aplicar os exercícios, a aula aos nossos
colegas... a apesar de nós adaptarmos a situação, acho que seria mais importante e
melhor para nos sentirmos mesmo mais preparados, aplicar isso mesmo no contexto
real com pessoas com necessidades educativas especiais em qual nós aplicávamos e
víamos o resultado é... porque foi isso muito que aconteceu... eu tinha... uma base...
sabia o que podia fazer ou não... mas só na hora da verdade é que nós percebemos
como é que eles vão reagir... como é que eles podem ou não fazer (...)” e pelo
142
participante (7RL_PT): “(...) nas outras disciplinas quando temos prática pensando no
papel do professor para que os nossos colegas sejam alunos o que vemos é
eventualmente, aula sim, aula não, assim, é incluir um aluno, simular um ou dois
alunos com deficiência e isso poderíamos ter posto em pratica (...)”.
Neste contexto, Mandarino et al (2017) atentam para a importância de se
repensar o processo de formação inicial de forma a sensibilizar o futuro professor a
respeito de sua função social no sentido de enfatizar a necessidade que há sobre a
compreensão de que aprender a ser professor implica em atribuir significado ao ato de
ensinar e aprender para si mesmo e para os outros.
Os participantes relatam terem sentido muitas dificuldades ao ingressar na escola
e iniciar a ação docente com estudantes com e sem deficiência sem terem compreendido
ainda qual era o contexto da Educação Física na realidade escolar, como expressa o
participante (1RL_PT): “(...) nós temos imensas modalidades durante a licenciatura e
muitas vezes esta modalidades não se focam tanto no como ensinar, mas no como fazer
e acho que para ensinar é preciso saber ensinar, e saber os erros comuns e (...) a partir
daí pegar nos outros tipos de alunos e saber quais são os erros mais comuns deles, são
erros diferentes(...), acho que nós não trabalhamos muito bem este olhar, esta analise...
o olhar de professor (...) sim... acho que não sabemos bem analisar quando saímos da
licenciatura, não temos contacto suficiente para analisar o porque daquilo estar a
acontecer... porque daquela reação ter acontecido... e isso dificulta-nos imenso porque
vamos agora ao estágio e temos muita dificuldade em trabalhar com os alunos sem
necessidades que na verdade já tem muitas necessidades (...)”
Através da formação profissional, o futuro professor será preparado para exercer
sua autonomia profissional estando comprometido com uma intervenção pedagógica
apoiada no refletir-agir no cotidiano escolar e entendendo a diversidade como uma
realidade concreta (RODRIGUES, 2016).
Neste sentido, as experiências aqui retratadas são parte de um processo reflexivo
crítico que atentam ainda para a função social docente no sentido de compreender quais
são as demandas e necessidades do contexto escolar nesta perspectiva inclusiva em que
cabe à formação profissional prover esta aproximação do futuro professor com a escola,
e assim contribuir para o desenvolvimento da sociedade de forma igualitária a partir de
uma compreensão mais aprofundada sobre determinada realidade social (EL TASSA;
CRUZ, 2017).
143
questão que muitas vezes não percebiam bem o que nós dizíamos (...) e aquilo que o
professor dizia e estavam sempre distraídos e estavam sempre no mundo deles... sei
mas era assim que eu interpretava mais um feedback individualizado, um bocadinho
assim a mais com eles, por exemplo era uma turma de 25, 23 já estavam em prática e
tinha 2 alunos que estavam ali parados (...) então porque não estás a fazer...e ficava a
olhar para mim... a professora tinha que ir lá, tinha que gastar um bocadinho a mais
de tempo com eles para que eles estivessem mais direcionados para a tarefa (...)”.
Observamos que as experiências vivenciadas pelos participantes
Recém-Licenciados tanto durante o curso de Licenciatura quanto no Mestrado geraram
uma reflexão sobre a importância e a necessidade em realizar adaptações nas estratégias
de ensino e nas atividades propostas para que todos os estudantes pudessem participar
da aula.
Salientando que estas experiências vivenciadas durante a Licenciatura e o curso
de Mestrado refletem no processo de adaptação das estratégias de ensino partindo do
pressuposto da deficiência, conforme o caso, as características clínicas ou o tipo de
deficiência e a partir destas informações é que os participantes, futuros professores
elaboram as estratégia de ensino para as atividades propostas segundo expressa o
participante (2RL_PT): “Não sei é uma questão de acolmatar as minhas dificuldades,
mas penso que já uma ajuda ao termos (...) nós tivemos duas cadeiras na licenciatura e
uma no mestrado, sendo o mestrado em Ensino penso que seja importante porque
durante a nossa experiência como professor penso que vamos ter vários casos com
alunos com deficiência e penso que seja importante nem que seja para nós como alunos
da turma ou como professores da turma para termos uma noção do que poderíamos
enfrentar e termos uma previsão de como poderíamos resolver os exercícios, tudo bem
que os casos podem não ser iguais mas acabamos por ter uma ideia minimamente do
que poderíamos trabalhar e poderíamos adaptar (...)” .
Os participantes relatam que as experiências vivenciadas durante o processo
formativo foram importantes para o desenvolvimento de sua formação no sentido de
que proporcionaram a reflexão mais aprofundada sobre a aplicabilidade destas
estratégias de ensino aprendidas como expressam os participantes (4RL_PT): “(...) nos
temos tanto na licenciatura como no mestrado cadeiras bastante boas que nos dão uma
base para podermos trabalhar nestes casos (...)”e como explicita o participante
7RL_PT ao expressar que em função destas experiências vivenciadas, sente-se seguro
para atuar com estudantes com deficiência (7RL_PT): “(...) tivemos as nossas
145
por fazer este trabalho e em vez estar eu sempre ao pé dele, eles fazem os dois e
utilizamos um aluno como exemplo de ensino e acaba por haver não só inclusão
durante as aulas mas também uma cooperação entre todos os alunos o que também é
muito importante (...)”.
Os participantes relatam ainda a importância que há sobre o professor de
Educação Física atentar para a necessidade da percepção e valorização das diferenças no
grupo de estudantes e sobre cada uma das necessidades educativas específicas de cada
aluno, pois estes também são fatores que contribuem para a elaboração das estratégias
de ensino em uma perspectiva inclusiva como ressalta o participante (5RL_PT): “(...)
normalmente as estratégias mais tradicionais estão formatadas para um modelo médio
de aluno e se estes alunos têm necessidades diferentes, obviamente tem que haver
estratégias inovadoras que possibilitem sua inclusão (...)”.
Neste sentido, os participantes afirmam também que o tipo e comprometimento
da deficiência são fatores que influenciam na elaboração das estratégias como
explicitam os participantes (6RL_PT): “(...) se tivesse que planear uma aula neste ano
como planeei no ano passado vai depender muito do tipo de limitação que o aluno tem
porque um aluno com distrofia muscular já num estagio mais avançado vai ser muito
mais complicado do que um aluno com trissomia (...)” e (7RL_PT): “(...) sim, porque a
deficiência motora exige um cuidado diferente da deficiência intelectual, penso que
depende muito de como se esta a trabalhar (...)”.
Ressaltamos que o processo inclusivo pode ser facilitado quando o estudante
com deficiência apresenta leve comprometimento motor e/ou intelectual, pois nestas
situações, os professores se sentem mais eficazes. Por outro lado, quando o
comprometimento é severo, os professores demonstram maior insegurança para a
efetivação da ação docente (CAMPOS et al, 2015).
Os participantes relatam ainda as dificuldades que são acarretadas pela falta de
acessibilidade atitudinal de muitos professores de Educação Física, os quais agem de
forma a afastar e excluir o estudante com deficiência das atividades propostas como
relata o participante (7RL_PT): “(...) a escola em si, penso que sim... agora alguns
professores em si é que podem não (...) às vezes podem afastar... ainda não tenho
experiência nesse caso, mas (...) pode haver professor que podem afastar alguns
alunos, então, por exemplo, os alunos com necessidades eles ficam a trabalhar... ficam
de lado, a aula é dada para o resto da turma (...)”.
149
dificuldade porque não tenho experiência ainda em lidar com determinados aspectos
mas acho que além do tempo e com a experiência acaba por tornar tudo na hora mais
fácil e vamos tendo decisões diferentes conforme as situações(...)”.
Os participantes relatam o quanto o sentimento de insegurança foi se
transformando em percepção de competência mais otimizada com a vivência da
experiência na prática de ensino neste contexto escolar inclusivo como expressa o
participante (4RL_PT): “(...) ao inicio foi muito desafiante e senti-me com medo... a
palavra acho que é medo e ansioso e realmente senti um bocado de dificuldades com o
tempo e ao perceber e ver as melhores estratégias comecei a sentir mais confiança,
mais preparação, com aquelas bases que nós temos da licenciatura e do mestrado, pois
não só com os inquéritos de pesquisas e investigações, mas também mesmo situações de
aprendizagem com canais de inclusão e os exercícios próprios para isso acabam por
me sentir cada vez mais preparado e mais confiante... e para além da confiança e o
gostar que era uma coisa que eu não estava à espera (...) era o gostar de trabalhar (...)
mas no inicio e também pelo numero, uma turma grande de três alunos assim (...) o que
é que eu vou fazer, como é que vou incluir todos ao mesmo tempo? Isso vai prejudicar
os outros alunos, pois aqueles ficam parados (...) mas pronto, à medida que o tempo
tem passado, tenho gostado e (... ) tenho os incluído bastante nas minha aulas (...)”.
O sentimento de insegurança que os participantes expressam tem relação direta
com a falta de experiência do futuro professor em lidar com as situações da prática de
ensino (IAOCHITE; COSTA FILHO, 2020). O processo formativo deve preparar o
profissional com conhecimentos técnicos e atitudinais para que este professor consiga
identificar quais são as demandas do contexto escolar nesta perspectiva inclusiva e se
sinta eficaz em atuar em um ambiente educativo que valorize as diferenças
(CARPENTER; CAI, 2011).
Os participantes relatam que o sentimento de insegurança também está
relacionado ao fato de ministrar aulas para estudantes com deficiência que apresentam
maior comprometimento, pensando em características clínicas da deficiência como
expressa o participante (5RL_PT): “(...) existe sempre aquela ansiedade em saber
porque (...) há características diferentes, há alunos que tem características que tornam-
se mais fácil de incluir e outros que é mais difícil , minha preocupação é em casos que
apresentem necessidades mais específicas e que seja mais difícil de incluir como é que
eu vou fazer? Ou seja, de um modo geral acho que tenho uma preparação
151
relativamente boa mas por outro lado tenho um receio em conseguir operacionalizar
quando tiver casos mais complexos digamos assim (...)”.
O processo formativo deve acontecer de forma contínua, através das reflexões e
compartilhamento das experiências vivenciadas, sendo a importância destas ações
formativas no âmbito pessoal e profissional reconhecidas pelos futuros professores
como afirma o participante (7RL _ PT): “(...) sim, não me sinto totalmente
preparado(...) pelo exemplo em uma escala de 0 a 5 eu não me sinto totalmente mesmo,
cem por cento preparado porque lá está eu nunca trabalhei com uma turma e estou com
um aluno, o apoio que nós estamos a dar é exclusivamente ao aluno, mas sim, penso
que me sinto algo preparado para isso (...)”.
A experiência das aulas vivenciadas na Licenciatura e no Mestrado e as
experiências igualmente vivenciadas em situação de estágio são a base para que o futuro
professor sinta-se preparado em trabalhar com o estudante com deficiência e a vivência
de sucesso destas experiências fortalece a crença de autoeficácia na medida em gera
uma sensação de prazer e realização e consequente informação positiva sobre a
autopercepção de competência, a qual se amplia ao adquirir experiência, sendo este um
processamento cognitivo cíclico (BANDURA, 1997).
Os participantes ressaltam que a percepção de competência e de preparo para
trabalhar com estudantes com deficiência surge na medida em que colocam em prática
no contexto da escola todas as experiências vivenciadas durante a Licenciatura e o
Mestrado como cita o participante (1RL_PT): “(...) depende do tipo de aulas, por
exemplo, o basquetebol, ainda hoje se fosse dar basquetebol, hoje em dia se fosse
alguns exercícios técnicos, acho que a Ana Julia ainda conseguia fazer... penso que
seria possível... não fiz na altura porque não sabia... mas achava que ela não
conseguia... hoje em dia acredito que sim, que sim, seria possível... a situação de jogo
tenho muita dificuldade em tratar assim, eu não me sinto preparado para pôr a Ana
Julia em um jogo em que os outros não sentissem prejudicados ou limitados e que ainda
assim a Ana Julia conseguisse ter algum sucesso (...)”.
A percepção de Competência para a efetivação da ação docente vai variando
com a complexidade e as características da tarefa de ensino a ser desenvolvida e esta
percepção não está relacionada apenas às habilidades percebidas pelo participante para
o ensino desta tarefa, mas sim pelo conhecimento do contexto da escola e da aula de
Educação Física, pelas necessidades identificadas dos estudantes, pela disponibilidade
de material e acessibilidade do espaço da aula.
152
terá que recriar o processo em uma contínua reflexão sobre a prática de ensino
(SCHÖN, 2000).
Os participantes afirmam que o grande desafio encontrado por eles está em fazer
com que o planejamento da aula vá além do simples fato dos estudantes realizarem a
tarefa, mas também em prever quais são os imprevistos que podem acontecer, os quais
são caracterizados por Schön (2000) como zonas indeterminadas da prática como
ressalta o participante (5RL_PT): “(...) penso que o planeamento tem que ser pensado
com mais detalhe... e (...) dentro deste planeamento pensar em algumas falhas que
poderão acontecer porque é muito mais suscetível que isso aconteça, porque depende
muito da cooperação que os alunos da turma têm para com estes alunos que tem estas
necessidades mais especiais obviamente e que, portanto, nós temos que pensar não só o
conteúdo, mas o plano como tentar prever ao máximo tudo aquilo que poderá estar a
correr mal e tentar ter soluções para estes possíveis erros (...) não é erros, mas estas
coisas que estão correr menos bem ... penso que o grande desafio está no planeamento
e na capacidade de operacionalizar este plano na prática (...) prever certos
comportamentos que estes alunos possam ter e a forma como vou ter que reagir a eles
porque ainda não tenho aquela experiência ...porque de um modo geral lá está, pelos
conhecimentos que tenho em relação à situação e à forma de trabalhar até me sinto à
vontade, mas um pouco por esta falta de experiência que com estes casos como a nível
de ensino ainda não sei (...)”.
A falta de experiência para lidar com as situações e comportamentos
imprevisíveis dos estudantes nas aulas representa um desafio tão grande quanto buscar
constantemente proporcionar a participação do estudante com Deficiência Visual ou
com Deficiência Física para que ele participe das atividades como os colegas e não se
sinta excluído durante as aulas como cita o participante (8RL_PT): “(...) o desafio é
maior para o professor neste aspecto em termos motivacionais, quando há casos mais
complicados, mais complexos para se resolver... tentar adaptar sei lá eu... tentar
modificar as regras, introduzir os pares nos exercícios, e o aluno com problemas
visuais e por aí adiante e o aluno com cadeiras de rodas tentar adaptar sempre os
exercícios de maneira que ele nunca se sinta excluído, eu acho que passa um bocadinho
por aí, adaptar de maneira que ele nunca se sinta excluído (...)”.
A percepção que os participantes têm é de que o tipo e nível de
comprometimento da deficiência modificam o processo de adaptação das estratégias de
ensino quando o comprometimento é mais severo e alegam ser mais difícil o processo
156
alunos, então por exemplo os alunos com necessidades eles ficam a trabalhar... ficam
de lado, a aula é dada para o resto da turma (...)”.
A ação inclusiva deve ir além das ações políticas e pedagógicas e devem ter a
acessibilidade atitudinal por premissa no sentido de promover a sensibilização para a
valorização das diferenças e desta forma contribuir para a formação humana de todos os
que pertencem à comunidade escolar (BELÉM et al, 2017).
Neste contexto os participantes relatam que há uma preocupação muito grande
nas escolas em cumprir com aspectos legislativos e em garantir o acesso do estudante
com deficiência ao espaço escolar. Porém denotam que falta às escolas recursos
humanos que sejam facilitadores ao processo inclusivo e que possam oferecer este
suporte aos professores, além da falta de materiais adequados e da falta de planejamento
da gestão escolar para este processo, e neste contexto os professores são
responsabilizados por modificações impostas nestes documentos e o processo educativo
fica muitas vezes centralizado a níveis burocráticos e respondem a documentos formais,
os quais nem sempre se traduzem em prática inclusiva efetiva (NÓVOA, 1995).
Esta percepção é relatada pelo participante (3RL_PT): “Agora é que se tem aqui,
acho que muito das questões políticas, do que vem de cima, pode-se fazer muito no
treino, mas isso é local, é numa escola, é em duas escolas, é numa região, a realidade
fica de escola para escola, e depois também as questões étnicas, culturais . Eu acho que
atualmente o pouco que é feito, é feito, ou seja, existem os projetos a nível nacional que
saem do ministério da educação e estes são preenchidos e são protocolados, pronto tem
que ser preenchidos, bem ou mal, é formal. Mas depois em termos das estratégias
também não existe nada que vem do ministério da educação (...)”.
A falta de materiais adequados, falta de recursos que sejam facilitadores ao
processo inclusivo e a falta de planejamento da gestão escolar para este processo
também é citada pelo participante (5RL_PT): “(...) as condições mais ao nível material
da escola, às vezes acesso e às vezes não estão muito preparadas para facilitar a
interação e a inclusão destes alunos, isto também poderá ser importante, mas lá está, a
falta destes recursos na escola também é um pouco do pensamento das pessoas que
lideram na escola e acho que esta é a grande barreira que existe hoje em dia (...)”.
Também o participante 1 RL_PT afirma que as escolas não têm infraestrutura para
receber os estudantes com deficiência (1 RL_PT): “ Em termos micropolíticos eu
acredito que sim, que haja alguma preocupação, eu acredito que sim, mas depois acho
que esta preocupação mesmo assim não consegue ir de encontro àquilo que eles
158
realmente precisam porque efetivamente no caso da Ana Julia, no caso do Gabriel, era
preciso haver outra pessoa, eu acredito piamente que sim, as escolas não têm uma
estrutura de base, preparada quanto mais em uma aula de 50 minutos (...)”.
Esta falta do suporte de recursos humanos retratada pelos participantes para que
o processo inclusivo seja facilitado nas escolas também é citada pelo Relatório do
Observatório da Deficiência e Direitos Humanos de Portugal – ODDH (2017; 2018), o
qual ressalta a queda da oferta deste suporte nos anos de 2017 e 2018, acarretando em
falhas no acompanhamento pedagógico dos estudantes com deficiência, os quais
necessitam deste apoio.
Desta maneira o processo inclusivo e a devida atenção dispensada a este variam
muito de escola para escola, modificando-se conforme a compreensão da gestão escolar
sobre a Inclusão como uma filosofia educacional, como afirma Haegele (2019) e
relatam os participantes (2RL_PT): “Eu acho que acaba por depender um pouco da
escola, há escolas que são capazes de ter programas específicos de acompanhamento
para quem precisar, outra escola que acabam por descartar um bocado se o aluno
precisa mesmo ou não e também acaba por partir dos próprios alunos que não gostam
de se sentir... não é excluídos... mas (...) queriam ser iguais aos outros por assim dizer e
acabam também por se diferenciar e afastar um bocadinho se calhar (...)” .
Neste contexto a valorização das diferenças no ambiente escolar também é
explanada pelo participante (3RL_PT): “Então com relação à valorização da diferença,
valorização desta diversidade, você percebe que a escola ainda tem dificuldade em
entender estas diferenças e trabalhar com isso, dentro da diferenciação pedagógica,
dentro da avaliação? (...) nós devemos olhar para cada aluno como um aluno diferente
no contexto e... ãh... dentro desta perspectiva desta analise, acho que deve-se dar
objetivos sempre a quase o nível deles, no fundo é isso que eu defendo e acho que a
escola deveria caminhar neste sentido o que dá (...) dá muito mais trabalho a quem
planeia as aulas... um dos contextos do ensino individualizado que se tem alunos a fazer
atividades diferentes dentro da sala de aula, pode-se fazer quando a turma tem níveis
diferentes ou quando existem alunos com mais níveis diferenciados( ...)”.
Na falta deste suporte de recursos humanos, a ação docente neste contexto
escolar que busca ser inclusivo acontece através de um trabalho colaborativo entre os
professores de Educação Física e os professores de Educação Especial da escola como
também abordam Souza e Mendes (2017).
159
demonstra que se sentem preparados para atuar com o estudante com deficiência, pois
toda esta base foi propiciada em disciplinas vivenciadas durante a Licenciatura e
durante o mestrado que os sensibilizaram para o despertar desta reflexão no sentido da
formação humana e na garantia do direito de aprendizagem como um processo reflexivo
contínuo sobre a prática de ensino.
Os participantes relatam na categoria Processo formativo e contexto
educacional que refletem sobre o processo de adaptação das estratégias de Ensino em
contexto inclusivo a partir de práticas vivenciadas que vivenciadas por eles em
disciplinas com esta temática na Licenciatura e no Mestrado e que as experiências
nestas disciplinas geraram uma reflexão sobre em que momentos são necessários
realizar adaptações e quando elas não se fazem necessárias ou adequadas.
Sobre as Estratégias de Ensino e Prática Inclusiva em face os participantes
explicitam que a elaboração das estratégias de ensino acontece pela estratégia de
tentativa e erro em que a experiência da contínua reflexão acontece sobre a prática de
ensino realizada e a experimentação de diferentes adaptações e estratégias para
diferentes estudantes. Neste contexto, os participantes apontam sentirem certo receio
sobre a elaboração das estratégias de ensino, em função da variabilidade destas, dos
momentos em que são necessárias conforme a disponibilidade de material, as
características da tarefa de ensino e dos estudantes e a falta de experiência profissional,
que ressaltam ser uma barreira algumas vezes impeditiva somada à percepção de que o
tipo de deficiência modifica o processo de adaptação das estratégias de ensino, de forma
que quando o comprometimento é mais severo acreditam ser mais difícil para adaptar.
Os participantes afirmam ainda que a Percepção da Competência é fortalecida pela
vivência da experiência e por um processo reflexivo cíclico sobre a atuação docente.
Com relação às Percepções sobre as necessidades formativas os participantes
expressam que, apesar de haver uma legislação inclusiva e neste sentido há uma
preocupação das escolas com relação ao atendimento a estes documentos, há também
uma falta do suporte no sentido da oferta de recursos humanos e materiais para a
elaboração das estratégias de ensino e aprendizagem em contexto inclusivo. Perante esta
falta de suporte formativo e de recursos humanos, os participantes observam que os
professores de Educação Física realizam um trabalho colaborativo em parceria com os
professores de Educação Especial, no sentido de fortalecer a perspectiva inclusiva tanto
com relação à participação dos estudantes com deficiência nas aulas como em relação
ao planejamento adequado destas.
163
Figura 5 – Representação dos Resultados Unificados das Unidades de Análise Integrada 1 e 2 – Caso 1 -
Portugal
166
“nada competente” com valor (1); “com alguma competência” com valor (2) e “muito
competente” com valor (3) sendo que cada uma destas escalas são avaliadas nas três
subescalas sendo a Deficiência Intelectual – DI; a Deficiência Física – DF e a
Deficiência Visual – DV.
A Percepção da Competência tem um papel essencial, assim como a Percepção
de Qualidade da Experiência, em contribuir com o processamento cognitivo do
professor relativo ao autojulgamento que o docente faz de sua própria eficácia para
lecionar determinada tarefa de ensino. De forma que a crença docente na própria
eficácia de ensinar em diferentes contextos e situações influencia no planejamento da
ação pedagógica a ser desenvolvida para cada turma de estudantes (BANDURA, 1997).
Cabendo ressaltar que a Percepção da Competência está relacionada à percepção
sobre o nível de autoeficácia do professor, a qualidade da experiência vivenciada e a um
processo formativo desenvolvido de forma adequada. Todos estes fatores influenciam e
são influenciados pelo desenvolvimento de atitudes positivas para a efetivação de
estratégias de ensino equitativas (CAMPOS et al, 2015).
A Qualidade da Experiência vivenciada pelo professor pode ser julgada como
sucesso ou fracasso, pois esta influencia e resulta na revisão das crenças, sendo ainda
uma das fontes de informações para o autojulgamento da crença de eficácia e de forma
cíclica é influenciada pelas expectativas de resultado (DANTAS e AZZI, 2018).
Professores com alto nível de eficácia para a ação docente atuam de forma que
as dificuldades apresentadas pelos estudantes são encaradas como um desafio e são
superadas através da elaboração de estratégias de ensino adequadas, além do suporte
ofertado pela equipe gestora da escola e pelas famílias. De outra forma, quando o
professor tem um baixo nível de percepção sobre a sua eficácia para atuação docente
frente às adversidades, estes acreditam que o grande problema é o fato de os estudantes
estarem desmotivados e que as influências externas ao processo de ensino não permitem
com que haja avanço no desenvolvimento do processo de aprendizagem (BANDURA,
1997).
Segundo Fernandes et al (2019) estudos reforçam a influência da autoeficácia
docente para o ensino em contexto inclusivo, isto porque se o nível de autoeficácia do
professor é mais elevado, este docente se sente mais preparado para intervir em ações
pedagógicas e proporcionar a aprendizagem de forma mais adequada. Por outro lado,
quando o autojulgamento sobre a percepção de competência e sobre a qualidade da
experiência vivenciada mostra-se de forma negativa, estes fatores podem fazer com que
169
profissional e ressaltar que todos estes participantes possuem até três anos de
experiência na atuação docente, sendo, portanto, egressos na atuação profissional
docente em contexto inclusivo (IAOCHITE; COSTA FILHO, 2020).
Observamos no gráfico 16 que para cada uma das três subescalas analisadas
sendo: Deficiência Intelectual – DI; a Deficiência Física – DF e a Deficiência Visual –
DV, representando cada um dos tipos de deficiência analisados pelos participantes para
atuação em contexto inclusivo, apenas um participante indicou “não ter experiência” na
atuação docente com estudantes com deficiência em aulas de Educação Física Escolar
em contexto inclusivo, um participante expressou ter vivenciado experiência “nada
positiva”, quatro participantes expressaram terem vivenciado experiência “satisfatória”
e dois participantes indicaram terem vivenciado experiência “muito positiva” ao
lecionar para estudantes com deficiência.
Estas informações revelam que apesar dos oito professores participantes
Recém-Licenciados terem demonstrado médias mais altas para a subescala da
Deficiência Intelectual com relação à Percepção da Qualidade da Experiência, cabe
considerar que um professor participante Recém-Licenciado apontou “não ter
182
Tabela 3 - Posto Médio para a Percepção da Qualidade da Experiência para os Professores participantes
Recém-Licenciados Brasileiros.
183
acredita ser capaz de realizar e superar os desafios pertinentes à tarefa de ensino seja de
forma individual ou coletivamente (AZZI, 2014).
Bandura (1997) ressalta que a percepção da autoeficácia está relacionada não
apenas com as habilidades que uma pessoa julga ter, mas sim no quanto esta pessoa
acredita que pode concretizar estas habilidades em determinado contexto ou
circunstância, neste sentido, segundo o autor, a crença de eficácia é um fator chave da
competência humana.
Assim, Iaochite e Costa Filho (2020) afirmam que o processo formativo inicial,
especificamente a promoção de vivências em contexto escolar no âmbito do estágio
supervisionado e de práticas de ensino tem contribuição essencial para o
desenvolvimento de competências a serem posteriormente requisitadas durante a ação
docente em contexto inclusivo.
adaptar? não adianta você perceber, tem que vir um laudo (...) muita coisa do laudo, se
tem laudo... às vezes eles querem o laudo pra passar de ano, porque não pode
reprovar... ah, mas tem laudo vai passar, cadê o laudo dessa criança como que eu vou
passar ela sem laudo? Não tem aquela conversa do poxa, como eu vou adaptar?(...)
nesse sentido de desconsiderar mesmo qual é a necessidade daquele momento ali? E se
a gente pensar um pouco mais vão aparecer outras coisas assim do dia a dia, neste
sentido, e aí na questão toda da escola fabriquinha né? quando eu trabalhei no Japão,
as peças erradas chamam furiô, putz, errei aqui, então isso é um furiô. Então no caso,
eles são um furiô, o furiô a gente põe numa caixinha e alguém vai consertar, é assim
então se escola tá naquela fabriquinha, putz tem um furiô, vamos dar para algum
especialista consertar, pra ele entrar de novo nesta esteira aqui, pra ele entrar no
processo novamente , uma esteira que a gente não sabe nem onde dá (...)”.
A cultura escolar caracteriza-se pela negação das diferenças, ou seja, a escola
parte de uma cultura homogênea que é caracterizada pela não valorização das
diferenças. A escola estabelece uma “norma da aprendizagem” e todos aqueles que
estão fora desta norma, são os estudantes que necessitam “ser colocados dentro do
grupo”, necessitam ser incluídos, para que sejam conhecidos pela comunidade escolar
(MANDARINO, 2012, p. 67).
A escola pensa no processo inclusivo como uma ação única sem conexão com
práticas que modifiquem comportamentos excludentes e sem realizar ações efetivas no
cotidiano para que este processo inclusivo ocorra de fato, o qual demonstra estar
caracterizado apenas por momentos esporádicos. Desta forma, não há uma filosofia de
trabalho sobre a inclusão escolar enquanto um processo que é construído por uma
comunidade de professores e estudantes e não há um entendimento sobre a inclusão
como uma filosofia educacional (HAEGELE, 2019).
Neste contexto, os professores apontam que não há na escola a preocupação
com o processo inclusivo enquanto prática cotidiana como ressalta a professora
(4P_BR): “(...) a preocupação da escola é mais teórica do que na prática, no dia a dia
(...) a minha escola, a escola que eu trabalho atualmente eles realmente tentam ter um
cuidado maior em todos os sentidos, mas eu acredito que ainda nas universidades os
profissionais não estão sendo preparados realmente para ter isso assim como uma
atitude como uma abordagem natural (...)” e afirma o professor (5P_BR): “(...) na
minha escola a questão da inclusão é um pouco fetiche eu acho, não sei nem como que
fala, é (...) ah tem o dia do surdo, ah então vamos fazer o dia do surdo, dia do autismo,
189
ah todo mundo de azul, dia do autismo, ah hoje é dia da libras, todo mundo fazendo
mãozinha e colando na parede, é (...) a importância, o trabalho que tem que ser feito, a
conscientização, a reflexão, mas é porque é com... não é porque é um tema especifico
não, é com tudo, é com qualquer tema, não amplia dali por exemplo, você não tem
conexões com a realidade, com a vida, com o dia a dia, você entende?(...)”.
Os professores relatam ainda que a escola não tem a preocupação em flexibilizar
os horários e espaços de aula para proporcionar o ambiente mais adequado conforme as
necessidades do estudante e para que assim o processo inclusivo aconteça de forma
efetiva como relata o professor (5P_BR): “(...) ah, em vários sentidos, por exemplo, se
você precisar da adaptação de um horário, então tem educação física com o aluno que,
putz, ele detesta barulho ou ele se assusta com criança, então você precisa adaptar um
horário para que não tenha... para que ele não tenha muita gente em volta no caso do
intervalo e tal, a escola vai entender que a escola primeiro e depois ele (...)”.
A escola é uma estrutura temporal que pode ser menos rígida, segmentada e
uniforme em seu formato e sistema de funcionamento, carecendo ser reinventada de
forma a modificar a cultura excludente que a constitui. Desta forma, ressalta-se o
processo formativo adequado perante a importância de preparar o docente para lidar
com o impacto proveniente das políticas inclusivas (BOSSLE et al, 2016).
Neste contexto escolar que se mostra tão excludente, observamos que os
professores de Educação Física buscam desenvolver ações que proporcionem um
processo de ensino mais equitativo e que possa ofertar o conhecimento com qualidade
consoante ao contexto da aula, no sentido de que os alunos desenvolvam as atividades
propostas em parceria com todo o grupo, buscando enxergar possibilidades a este
processo (FIORINI; MANZINI, 2016).
Esta busca por ações pedagógicas mais inclusivas fica explícita na fala das
professoras (1P_BR): “(...) eu tinha uma aluna que era deficiente... ela não... não
falava... então ela tinha uma professora de libras no começo... no começo não, ela teve
o ano todo e no começo das aulas de Educação Física a professora de libras ia junto
né, pra tentar se comunicar com ela, só que, o que acontece, ela ficava mais estressada
a menina e a professora também né, porque era muita gente, muita coisa, muito
movimento, e daí eu pedi pra professora, falei o seguinte, olha vamos fazer o seguinte,
deixa a Duda na aula de Educação Física, sem você aparecer lá, eu vou tentar me
comunicar com ela do meu jeito e vou pedir ajuda para os alunos pra tentar fazer esta
comunicação. Agora, quando for um jogo que tem muitas regras, aí peço, você vai lá
190
tenta me ajudar a passar as regras e depois eu tento harmonizar com o grupo (...)” e
ressalta a professora (2P_BR): “(...) sempre eu faço um projeto de inclusão nas escolas,
onde eles passam por todas as deficiências, aprendendo o que é cada deficiência, em
uma linguagem infantil, e se colocando no lugar do outro que é a forma que você
consegue realmente atingir as crianças (...)”.
Com relação à estrutura de atendimento aos estudantes com deficiência nas
escolas, os professores questionam a formação adequada ou falta desta formação dos
estagiários que acompanham estes estudantes como ressaltam as professoras (1P_BR):
“(...) em mesmo preparar as pessoas que ficam na escola com ele né, porque assim
estas moças que ficam ajudando, estas estagiárias, elas também não têm, nenhuma
vivencia nenhuma experiência, então a gente acaba sendo mais uma cuidadora do que
uma educadora (...)”; (2P_BR) “(...) os professores, em si de sala de aula ainda não
tem conhecimento da área de educação inclusiva e ainda são auxiliados por pessoas
que não tem a mínima noção desta educação inclusiva (...)” e ressalta o professor
(3P_BR): “(...) eles contratam estagiários que não tem experiência para ficar com os
alunos inclusivos, é... os alunos especiais, só que são estagiários que estão em
formação que estão no primeiro ano de pedagogia ou matemática e não tem... não tem
noção do que fazer com o aluno especial (...)”.
O estágio tem um papel essencial na formação do futuro professor no sentido
colocar este estudante em formação em contato com o real contexto educacional, sendo
os professores de Educação Física das escolas formadores também. Porém não é isso
que acontece perante o contexto inclusivo, de forma que os professores regentes de
turma, e neste contexto também os professores de Educação Física, não demonstram
esta preocupação em contribuir com este processo formativo inicial do estudante em
situação de estágio.
Com relação às questões relacionais entre os estudantes e a influência destas
relações no desenvolvimento do processo de ensino, os professores afirmam que
buscam desenvolver nos estudantes a sensibilização com relação à importância sobre a
valorização das diferenças. Sendo esta sensibilização também utilizada como uma
estratégia de ensino através da realização de atividades em duplas e em pequenos e
grandes grupos, o que favorece o desenvolvimento de atitudes positivas dos estudantes e
aumenta o envolvimento nas atividades propostas como relatam a professora (1P_BR):
“(...) se tornam também tão afetivas... assim, integra né? ajuda muito na... no bem estar
da criança... é bem legal sabe? Tanto que essa menina da ... de libras, foi muito legal a
191
participação das crianças e tudo do primeiro ano né?”; e relata professor (3P_BR):
“(...) com o material que eu tenho... com o espaço que eu tenho para trabalhar... e é
muito bacana assim, os próprios alunos quando veem que é uma (...) eles percebem que
o aluno especial está interessado que dá para participar eles mesmo começam a puxar
para a atividade e isso a gente foi trabalhando (...) tem que ajudar (...)tem que isso..
tem que auxiliar... e hoje eles já fazem este trabalho de trazer o aluno especial para
perto deles (...)”; expressa a professora (4P_BR): “(...) todos os alunos tem que ter
consciência de que eles tem que cooperar com aquele aluno que tem alguma limitação,
então respeitando ao máximo e tomando cuidado para que não machuque e não
coloque em perigo aquele colega, então isso é conversado (...)” e afirma o professor
(5P_BR): “(...) a primeira é dentro daquela atmosfera que eu te falei, se você tem uma
atmosfera que não é de se gabar, ganhar, que é se desenvolver que cada um tal no seu
tempo e tal, a primeira estratégia é essa, é saber em que atmosfera você está? Segundo,
as pessoas entendendo isso, elas passam a se ajudar porque não tem necessidade de eu
mostrar que eu sou melhor que você, a necessidade é eu to conseguindo melhorar? Eu?
Então antes de eu falar de você, eu? Será que eu tô, pode me ajudar? Será que eu posso
ajudar alguém?”.
Nestas colocações dos professores, cabe observar que o trabalho com o
estudante com deficiência ocorre a partir de uma estrutura de vínculos e relações, em
que os relatos explicitam que a partir do momento em que o professor busca conhecer
os alunos de forma mais aprofundada, este mesmo professor faz com os próprios alunos
colaborem uns com os outros. Em uma perspectiva de alteridade, o professor trabalha de
forma reflexiva com todos os estudantes do grupo e utiliza esta colaboração no sentido
de desenvolver a acessibilidade atitudinal como uma estratégia de ensino facilitadora no
processo inclusivo (GALLO, 2008; MARTIN- BARÓ, 1989).
Neste contexto, os professores explicitam a preocupação em contribuir com a
formação humana dos estudantes e fortalecem estas ações ao utilizar a empatia e o
trabalho colaborativo por grupos e pares como estratégias de ensino e como forma de
desenvolver a acessibilidade atitudinal segundo ressaltam Belém et al (2017) e
Silva et al (2016).
Os professores ressaltam a importância sobre o ato de refletir acercado caminho
que a formação inicial tem percorrido para discutir o processo de ensino em contexto
inclusivo, assim como a influência negativa que a falta da oferta da formação
continuada tem neste contexto, originando a categoria Carência de formação
192
profissionais não estão sendo preparados realmente para ter isso assim como uma
atitude como uma abordagem natural, então muitos reclamam que não estão
preparados para isso, e que assim não dá (...)”.
Ainda sobre a falta de oferta sobre a formação continuada contextualizada à
realidade escolar em contexto inclusivo, os professores relatam que têm buscado
instrumentos formativos por iniciativa própria como ressalta o professor (5P_BR): “(...)
tem uma parte da minha formação que eu faço independente (...) que são as minhas
pesquisas, os meus estudos que eu faço em casa... de vida mesmo né, que eu acho que
quanto mais complexo eu for, mais complexo vai ser a minha aula, o meu trabalho,
então, eu acho assim, tem essa parte que eu mesmo vou atrás, então de questões
filosóficas e tal, tem essa parte fornecida pelo nosso empregador no caso que também
eu acho proveitoso, mas eu sempre acho que poderia ser um pouco melhor no sentido
de estar no contexto da realidade da escola, então ontem a gente teve uma palestra
muito legal, mas me espanta um professor que chuto que tenha aí 60 ou 70 anos de
idade, ele não tenha vídeos dele aplicando as coisas que ele esta falando, isso me
assusta, então eu entendo o que ele ta falando, mas pro meu contexto, ele não ter
mostrado, olha eu fiz assim tantos erros, tantos acertos... sabe? Sabe, olha só nesse
caso... ele passou um vídeo de um outro professor(...)”.
Os professores ressaltam que o processo formativo para atuação em contexto
inclusivo deva acontecer para toda a comunidade escolar no sentido de que a educação
inclusiva torne-se um compromisso abraçado por todos e não apenas pelos professores
de Educação Física, como retrata a professora (2P_BR): “(...) as capacitações para
todas as pessoas que estiverem trabalhando com estas pessoas, desde as pessoas que
limpam a escola, as pessoas que dá a merenda, as pessoas que trabalham na sala de
aula, até mesmo os pais, porque muitas vezes nós temos dificuldades com os pais por
eles não entenderem o que está acontecendo com o próprio filho (...)”.
Contudo, os professores relatam que muitas vezes precisam buscar por si
próprios as experiências que os levem ao processo de reflexão sobre a própria prática
pedagógica e que propiciem momentos de formação pessoal e profissional em face desta
perspectiva inclusiva. Esta busca é bastante dificultada e é considerada pelos
professores uma barreira à efetivação do processo inclusivo (COSMO, 2014; CHICON
et al, 2014).
Isto porque além deste processo formativo ser um movimento isolado, a
formação continuada ofertada pelas instâncias municipais e estaduais acontece de forma
194
especial... é raro isso acontecer, o que a gente tem muito aqui é o acesso a professores
que já trabalham com alunos de inclusão, aliás a minha maior fonte de informação são
os colegas professores porque tanto na inclusão quanto qualquer outra atividade, a
gente troca ideias e troca atividade (...) ah, o que deu certo para um, eu faço assim, eu
faço diferente, então a gente vai adaptando para nossa realidade para o dia a dia (...) a
gente vai na base do achômetro, então acho que uma capacitação, acesso às
informações seria o principal, uma capacitação justa que realmente saia da teoria e
coloque a mão na massa porque na maioria das vezes a gente só recebe a informação e
dificilmente alguém mostra pra gente , é... o jeito correto (...) acho que a capacitação
também de funcionários, de inspetores de alunos porque eles estão sempre ajudando a
gente neste quesito né? (...)”.
Ainda sobre o processo formativo contínuo, a professora 4P_BR coloca o quanto
a oferta deste é falha no sentido de discutir as demandas e necessidades sentidas pelos
professores de Educação Física Escolar atuantes em contexto inclusivo (4P_BR): “(...)
não precisaria necessariamente ter um aluno ou com limitação no curso ou na
formação, mas teria que ter como um teatro, olha, digamos que eu não enxergue, eu
estou aqui na tua aula, fazer as pessoas pensarem em como criar coisa em função
daquela.. mas na prática porque (...)” .
Fujimura (2020, p.101) destaca que a Educação Física não é abordada com
prioridade formativa perante as ações concretas que se fundamentam nas Políticas
Públicas Educacionais, sendo um fato a carência de “formação continuada, a deficiência
de projetos pedagógicos institucionais das escolas e, por vezes, a desatenção dos
gestores nos vários níveis do sistema educacional”.
Neste sentido o professor 5P_BR ressalta a importância de vivenciar momentos
para o compartilhamento de experiências e para o fortalecimento do processo formativo
(5P_BR): “(...) compartilhando as experiências e refletindo diretamente na prática,
diretamente na prática, compartilhando e diretamente na prática (...)”.
Fica explícito nesta categoria que os professores reconhecem que apenas o
conhecimento técnico instrumental não garante o processo formativo em uma
perspectiva inclusiva e que se faz necessário desenvolver a crença na potencialidade
humana, a qual se aplica a toda à comunidade escolar (CHICON; CRUZ, 2017).
A professora 1P_BR afirma que em razão das falhas em seu processo formativo
apresenta muitas dificuldades em trabalhar com estudantes com deficiência, sobretudo
em fazer com que estes estudantes participem das atividades propostas. Esta discussão
196
minha aula foi tão fraca para tal aluno, sabe? foi tão fraca para aquele, cara eu vou lá
e sento e falo cara hoje eu senti que não foi muito legal para você mas a vida é essa, um
dia vai ser... eu jogo limpo eu falo é obvio que hoje eles se divertiram mais, foi de
correr, foi de não sei o que, foi de pegar, eu sei que vocês não ficaram muito à vontade,
mas, óh é a vida também, vamos superar também... sem mimimi e eu sei que um dia vai
ser mais para vocês, eu vou pensar também (...) eu vou chegar lá e vocês também estão
abertos para conversar comigo, ah mas, lá na minha outra escola , né na casa da
minha prima a gente fez assim... então você consegue explicar pra gente... então oh...
projetos (...)”.
Sobre a adaptação das atividades e a adaptação curricular os professores
colocam que uma das barreiras encontradas é a falta de acesso ao material adequado
para a realização das atividades, como por exemplo, para o trabalho com estudantes
com Deficiência Visual como afirma a professora (1RL_PT): “(...) começando do
material... no caso desta menininha com deficiência visual, eu não tinha nenhum
material preparado para ela (...)”.
A respeito das questões estruturais para que esta adaptação curricular aconteça
de forma efetiva, os professores apontam dificuldades como a indisponibilidade de
acesso à informação por parte de gestores municipais para a aquisição de recursos e para
o devido provimento da acessibilidade e da infraestrutura necessários a um contexto
escolar inclusivo (MENDES, 2017).
Conforme Zanato (2018) as adaptações curriculares devem estar previstas e
respaldadas pelo Projeto Político Pedagógico da escola, porém a ausência desta menção
neste documento público é um fato constante. A autora ressalta que quando há a
preocupação em mencionar as adaptações curriculares no Projeto Político Pedagógico,
não são encontradas indicativas sobre como tais ações serão realizadas, caracterizando
um procedimento apenas burocrático, sem apontar para a efetiva aplicabilidade.
Ainda sobre as questões estruturais necessárias para a adaptação curricular
podemos observar que os professores buscam criar materiais acessíveis ao estudante
para que desta forma possam promover o desenvolvimento do vínculo fortalecendo
assim a aproximação com o estudante com deficiência em uma relação professor-aluno
mais aprofundada (MARTIN - BARÓ, 1989).
Esta busca do professor por facilitar o acesso ao conhecimento através do
fortalecimento do vínculo e da adaptação de materiais pode ser observada na fala do
professor (3P_BR): “(...) eu tenho alguns alunos que não interagem com o grupo, então
199
eu trago algumas bolas mais macias, eu trago algumas vezes alguma corda pequena
que eu sei que não machuca, algum brinquedo, então eu começo a fazer um trabalho de
manipulação de material, de pegar a bola e jogar, tentar jogar com uma das mãos,
tentar jogar com a outra, bater a bola no chão, então eu vou trabalhando esta
coordenação do aluno, a manipulação, eu trabalho com papel também... com folha de
sulfite, às vezes até o fato de amassar, fazer uma bolinha com o papel, então eu vou
depois interagir com ela, então é a forma que vou lidando e trazer o aluno para perto
de mim (...)”.
Os professores apontam ainda barreiras ao desenvolvimento de atividades mais
equitativas como a falta de acesso à informação para o desenvolvimento de um Plano de
Ensino Individualizado como denota o professor (3P_BR) “(...)... se já tivesse no
histórico dele o que ele tem e o que é melhor para trabalhar com este aluno, se alguém
tivesse feito uma avaliação com o aluno anteriormente, se já chegasse alguma
informação, pra gente poder em cima disso é... bolar algum plano de ensino para
aquele aluno, então isso facilitaria muito (...)” .
Neste sentido, Munster et al (2014) afirmam a importância sobre a
sistematização de um Plano de Ensino Individualizado que atenda às condições relativas
às informações sobre o estudante, as informações e instrumentos avaliativos, o nível de
desempenho com as competências e habilidades trabalhadas e adequação deste Plano
aos componentes curriculares a serem trabalhados assim como aos seus objetivos
almejados.
Contudo, o Plano Individualizado de Ensino ainda não é uma realidade no
sistema educativo quando se trata das aulas de Educação Física, de forma que os
professores se baseiam nas limitações do estudante com deficiência para planejar a
proposta de ensino adaptada sem considerar as potencialidades e uma ampla gama de
possibilidades a serem desenvolvidas (MORAIS et al, 2019).
A visualização da limitação consequente da deficiência como um start para o
planejamento de ensino é um processo que pode ser observado na fala da professora
(4P_BR): “(...) eu tenho um planejamento pra aluno de ensino regular sem deficiência
e dentro deste planejamento de acordo com as dificuldades, com as limitações dos
alunos que possuem algum tipo de limitação eu adapto as atividades que eu dou
normalmente para eles, então eles participam normalmente da minha aula como ela foi
inicialmente imaginada, só com algumas adaptações conforme as limitações deles
(...)”.
200
conhecer o grupo, relatam que em conjunto com os alunos buscam tornar a própria
figura e a relação com estes estudantes de cada grupo mais significativas para então
buscar torná-la mais inclusiva, com a premissa de que o aprendizado conjunto e as
relações e identidades pessoais e do grupo apenas acontecem com o compartilhamento
de experiências e com o reconhecimento e valorização das diferenças (BAUMAN,
2012).
Este processo de conhecimento aprofundado do grupo, de valorização das
diferenças e das características e necessidades de cada criança para que as aulas possam
acontecer de forma mais inclusiva é explicitado na fala do professor (5P_BR): “(...) eu
tenho mais ou menos um roteiro na cabeça, então a primeira coisa que eu penso é
transformar a aula de educação física, a minha própria figura em um signo para eles
certo? então, eu e minha aula tem que ser algo significativo para eles, então alguns vão
achar porque eu converso, alguns vão achar porque eu ouço, alguns vão gostar porque
eu brinco, alguns vão gostar porque eu diversifico muito, alguns vão gostar porque eu
dou bronca, não dou bronca, então eu faço esse mix de coisas prestando atenção em um
por um que demora às vezes, demora um ano, demora dois às vezes, demora dois e três
anos pra eu conhecer bem um aluno. Então se eu não tive dois, três anos com a mesma
sala que acontece de trocar às vezes, eu sei que ficou pela metade uma construção,
aquele vínculo, aquela coisa eu sei que ficou pela metade, mas quando a gente tem
vários... quando a gente tem mais tempo... quando a gente tem... não é nem questão da
quantidade, mas da qualidade de você ter tempo de sentar no chão, conversar, trocar
ideia, tentar entender o que está acontecendo, porque que ficou sentado, porque que
chorou, porque que ficou com medo, você entende? (...) Eu vou indo... se alguém que é
muito inseguro, eu tento fazer coisas mais executáveis, sabe? Eu nem sei se existe essa
palavra, mas sabe, vai adaptando? E se só conseguir um, e era isso que eu queria, na
verdade não é nem que ela execute, mas que ela tenha a segurança de tentar, e o
desafio da vida dela é ela que vai saber, mas eu quero que ela tenha segurança de falar
não, mas eu vou tentar (...)”.
Nesta categoria os professores relatam o sentimento de insegurança que têm ao
atuar com estudantes com deficiência e muitas dúvidas sobre a efetividade do processo
de ensino em contexto inclusivo. Sendo que este sentimento de insegurança está muitas
vezes relacionado com a falta da informação que deveria ser propiciada em momentos
de formação continuada e a falta de terem vivenciado a formação inicial nesta
perspectiva inclusiva.
203
eu não era capaz, que eu não conseguiria trabalhar com os estudantes com deficiência
(...)”.
Podemos observar que com o acompanhamento e a vivência de experiências
positivas o sentimento de medo e insegurança que a professora 4P_BR sentia foi
transformado em uma boa percepção de competência para a atuação em contexto
inclusivo, de forma que o processo formativo e o compartilhamento de experiências
favoreceram a vivência de experiências positivas, o que consequentemente aumentou a
percepção sobre o sentimento de eficácia para atuação em contexto inclusivo
(BANDURA, 1997; TSCHANNEN-MORAN; HOY, 2001).
A qualidade do programa de ensino está então diretamente relacionada à atitude
do professor e à crença que este tem na própria capacidade de realizar a ação docente
em contexto inclusivo, sendo que o suporte ofertado pela comunidade escolar faz
grande diferença neste processo e se realizado com sucesso, tendem a fortalecer o
sentimento de autoeficácia docente, reduzindo a insegurança do professor para atuação
com o estudante com deficiência nas aulas de Educação Física Escolar (HAEGELE;
ZHU, 2017).
Em Contexto Escolar em face da (Des) valorização das diferenças os
professores ressaltam que o processo de ensino do estudante com deficiência na escola
está baseado na característica clínica da deficiência e que os próprios professores ficam
na dependência do laudo clínico para realizar o processo de adaptação das atividades e
estratégias de ensino. Ressaltando a Carência de formação continuada em contexto
inclusivo em que os professores denotam que esta temática não é abordada na formação
dos professores e que o processo formativo pessoal e profissional dos professores tem se
baseado na troca de experiências entre os pares e no trabalho colaborativo para com os
professores de Educação Especial.
Sobre os Desafios da Prática de Ensino equitativa os professores ressaltam que
muitas vezes sentem-se inseguros pela falta do suporte dado pela escola e pela falta do
material adequado e adaptado, sobretudo para o trabalho com estudantes com
Deficiência Visual. Neste contexto, os professores afirmam que o processo de reflexão
sobre a prática pedagógica é contínuo e que a elaboração das estratégias inclusivas
inicia no planejamento das aulas e no contato com os documentos e informações sobre a
criança, de forma a aprofundar este conhecimento sobre o aluno. A reflexão sobre a
prática pedagógica e o compartilhamento de experiências fortalece a Percepção de
Competência.
205
recorremos à Tardif (1991, p.277) que coloca que os saberes da experiência são “o
conjunto de saberes atualizados, adquiridos e requeridos no quadro da prática da
profissão docente e que não provém das instituições de formação ou de currículos”. Os
saberes da experiência revelam uma cultura docente em ação e retratam a interpretação,
compreensão e a orientação da prática da profissão, no sentido do saber fazer docente e
saber ser em todas as suas dimensões como fundamentos da competência profissional.
Neste contexto, Leucas (2017, p. 210) coloca que “a concepção de Incluir para
os estudantes licenciandos em Educação Física está muitas vezes diretamente
relacionada à dimensão procedimental do “fazer”, “executar”, “integrar”, “normalizar”,
sobretudo nas aulas práticas” estando ainda distante de uma discussão fluida e
contextualizada sobre a prática pedagógica.
A descontextualização do processo formativo para com o universo escolar faz
com que não seja explicitada uma reflexão crítica sobre a prática pedagógica perante as
demandas da realidade escolar (ARAÚJO, 2014; EL TASSA; CRUZ, 2017). Sendo o
processo de formação profissional aligeirado e superficial, sem a preocupação com o
processo reflexivo do conhecimento (NÓVOA, 2017; 1995).
Os participantes citam ainda que os professores do curso de Licenciatura em
Educação Física têm dificuldade em abordar a temática do trabalho com pessoas com
deficiência, ficando esta discussão da formação nesta perspectiva inclusiva apenas nas
disciplinas que são especificamente direcionadas para este fim, de forma que a temática
não se amplia no ambiente acadêmico (EL TASSA; CRUZ, 2017). Ressaltando que em
razão destas falhas no processo formativo, o professor Recém-Licenciado encontra
muitas dificuldades em trabalhar nas aulas de Educação Física em um contexto
inclusivo ao ingressar na escola, isto porque se depara com o ensino para pessoas com
deficiência e não se sente preparado para isso (ARAÚJO, 2014, LEUCAS, 2017).
Estas dificuldades do professor de Educação Física em trabalhar com estudantes
com deficiência podem ser observadas na fala dos participantes (7RL_BR): “(...) eu
acho que uma coisa que teria que mudar é a visão de alguns professores né em relação
a esse público, tinha que ter um carinho maior com esse público né? que é muito assim,
escasso, pelo menos nas escolas né? tem alguns, é uns ou outros né? Alguns
professores evitam lidar com esse público por conta de dificuldade, de adaptação ou
qualquer outra coisa do tipo, mas creio que esse olhar com mais carinho pra esse
público é uma das coisas que poderiam ser mudadas (...)”.
208
5RL_BR, o qual explicita uma experiência com o estudante com deficiência, em que o
participante Recém-Licenciado percebe que as adaptações foram positivas, porém por
este professor ter recebido um julgamento negativo externo, este acredita que a
experiência vivenciada não foi suficiente para que se sentisse eficaz nesta atuação,
resultando em medo como relata o participante (5RL_BR): “Eu ainda vejo o meu medo,
é... eu passei por isso na feira de profissões do ano retrasado da faculdade, é... por ter
uma cadeirante e acabou que eu tomei a frente, fui fazer, mas ainda assim eu tinha
medo ao adaptar e acabou que eu fiquei com essa cadeirante muito mais tempo do que
eu fiquei com qualquer outra pessoa, é... qualquer outro aluno que tinha ido lá
conhecer, mas assim porque que... tudo bem que eu adaptei as atividades que estavam
sendo propostas lá, mas... eu acho que ela se sentiu à vontade... porém eu tinha os meus
medos, é... do toque, então... talvez do ofendê-la também... entendeu? Porém assim o
professor que estava acompanhando a atividade chegou a comentar o ponto bom de eu
ter adaptado, de ter demonstrado as coisas a ela e incentivado ela a fazer... porém ele
me mostrou como ponto negativo ter ficado com ela muito mais tempo do que eu ter
dado a outros alunos (...) eu me vi na necessidade de ter que adaptar quando ela
entrou, só que aí eu adaptei uma atividade, adaptei duas, três... e aí ela tentava fazer
uma outra atividade que o professor estava fazendo dentro da sala então eu já me via
também na necessidade de adaptar esta próxima atividade... e aprontava outra coisa...
então... foi meio no susto... mas eu conseguia adaptar, mas eu acho que ainda tenho o
medo dessa... desse... desta necessidade de ter que adaptar... a atividade (...)”.
Os participantes percebem que as discussões sobre as possibilidades da prática
de ensino vivenciadas durante o curso da Licenciatura permitiram com que pudessem
refletir sobre a prática docente com maior profundidade e vivenciar com maior
proximidade o processo de ensino contextualizado na perspectiva inclusiva, esta
importância da reflexão sobre a prática é afirmada também por Nóvoa (1999).
Neste contexto, este processo de reflexão contínuo sobre o processo formativo e
sobre a prática de ensino é explicitado na fala dos participantes ao relatarem como estas
vivências em situação de prática de ensino durante o curso de Licenciatura aconteciam
segundo explanam os participantes (1RL_BR): “(...) aprendi tem muita técnica,
inclusive aprendi com você, particularidades, tratar a criança, tratar o adolescente, e
não tivemos só a teórica a gente teve bastante prática né? então eu acho que essa
experiência ajudou bastante, o melhor currículo ficou melhor por conta disso, de igual
eu falei hoje eu tenho mais confiança porque eu tive pratica na faculdade, né? com
211
você quando você deu as aulas pra gente e também na parte quando eu peguei quando
eu dei de cara com a situação né? quando tive a experiência com a situação (...)”;
(2RL_BR): “Estas aulas, é... o professor separava os grupos e a gente tinha que
apresentar tal trabalho, trabalho x, e a gente tinha que fazer também, além da teoria
tinha que realizar a prática, como que a gente ia fazer o mesmo trabalho, mas na
prática para os alunos da sala de aula”; e explana o participante 5RL_BR ao relatar
uma prática de ensino vivenciada com estudantes de uma escola pública municipal
(5RL_BR ): “(...) exatamente, pra ver o que é realmente, a senhora mesmo, levou
numa aula que a gente fez na colônia Veneza, a senhora levou cadeiras de rodas, é...
uma coisa é a gente trabalhar com, a gente com os nossos colegas que não tem essa
necessidade e ver o que é, e outra coisa é você ter contato (...) com síndrome de Down
que ela nada, então... é.. acho que são pontos totalmente diferentes... é você notar, a
capacidade , a realidade, daquele aluno, daquela pessoa em comparado ao que a gente
pode notar em trabalhar com os colegas de classe mesmo, sentados em uma cadeira de
rodas, entendeu? São, acho, que fatores diferentes (...)”.
Os participantes relatam que os professores de Educação Física encontram
muitos desafios e barreiras para que a prática pedagógica inclusiva aconteça de forma
efetiva, originando a categoria Percepção da Competência em face das possibilidades e
desafios da prática docente.
A colocação do participante 1RL_BR observa que o processo inclusivo é
facilitado nos ciclos de ensino do Ensino Infantil e Ensino Fundamental I em
comparação com a realidade educativa dos ciclos de ensino do Ensino Fundamental II e
Ensino Médio (1RL_BR): “(...) a experiência que eu tive como estagiário e como
professor, no ensino infantil, a preocupação deles é um pouquinho maior, eu vou falar
pra você o que eu observei, porque na educação infantil, principalmente na municipal,
eles têm cuidado maior entendeu? A dificuldade é grande também, porque eu já vi
algumas situações difíceis pro professor dele ta ali junto, entendeu? Agora no ensino
médio, no fundamental II e no médio, é diferente, um pouquinho mais largado... é... a
acessibilidade não é a mesma coisa, entendeu? Na parte também da diferenciação que
você falou, porque muitas vezes a criança ela tem essa deficiência, ela tem dificuldade,
mas o professor não sabe por que, não procura saber?” .
Esta diferenciação no processo inclusivo pode estar relacionada ao caráter
conteudista nos ciclos de ensino do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio, mas
212
com que o estagiário ajude a criança... eu acho que tem que tentar fazer com que a
criança participe do contexto com a sala inteira, se você colocar um estagiário pra um
deficiente, e quando tiver mais de um? Então vai 50 estagiários pra 50 crianças, então
seria uma sala multiseriada pra alunos deficientes... então eu acho que... teria se
separar... a escola teria que ser preparada pra receber melhor estes alunos (...)”.
Ainda nesta categoria os participantes expressam que percebem a necessidade de
haver um professor auxiliar coadjuvante, para acompanhar e auxiliar o professor de
Educação Física durante aulas para que este possa realizar as atividades de forma
efetivamente inclusiva, isto porque notam que os professores têm dificuldade e sentem-
se inseguros em conseguir fazer a gestão da aula com todo o grupo de estudantes
(PFITZNER-EDEN, 2016).
De forma que, na falta deste professor auxiliar, quem assume este papel de
auxílio ao professor de Educação Física é o estudante estagiário, o qual também está
vivenciando o processo formativo profissional e não possui ainda as competências e
habilidades necessárias para a atuação docente segundo afirmam os participantes
(1RL_BR): “(...) eu acho que devia ter um professor especifico para esse aluno para...
dependendo da dificuldade dele (...) né? porque... se for pegar um aluno visual, que não
enxerga né? como você vai fazer? É... aquela sala de aula com 40 alunos, 30 alunos e
uma professora tem que tomar conta de todo mundo, então eu acho que ter um
professor assim, à parte, só para ficar com aquele aluno (...)”; (6RL_BR): “(...) eles
colocam o estagiário pra ajudar o professor, mas o estagiário não tem muito preparo
pra tá ali, aprende no dia a dia mesmo, eu acho que... é só aí falta um pouco de
suporte, um pouco de apoio para os professores (...)” e (8RL_BR): “(...) muitas
crianças a gente vê tanto que precisa até dos estagiários para auxiliar, mas ainda é...
muito pouco eu acho... o preparo assim, a estrutura... tudo mais, até nas aulas de
Educação Física também que eu pude acompanhar um pouco, é... precisa.. deste
preparo né?(...)”.
Os participantes colocaram ainda que a acessibilidade atitudinal tem sido
desenvolvida com os estudantes durante as aulas de Educação Física como um
instrumento facilitador para o processo de ensino em contexto inclusivo como citam
Goes (2004), Cruz et al (2011) e Belém et al ( 2017) e explanam os participantes
(1RL_BR): “(...) tem muita criança que primeiro ela tem medo de se socializar com
outras crianças, de se machucar, enfim é... tem outras crianças também que não ajuda
porque tem muita individualidade no meio destas crianças, é muito competitivo, não
214
quer que a outra... então por exemplo vai fazer um time... não quer que a outra jogue
no mesmo time porque acha que ela vai prejudicar o time dela, então tem a parte
também de material porque a gente tem que adaptar bastante, eu adapto bastante
também onde eu trabalho (...)”; (2RL_BR): “(...) é, porque querendo ou não, eu acho
que muitos alunos tem preconceito né? e eu acho que você receber um aluno com
deficiência, não são todos, mas acho que sempre tem aquele que não vai falar, que não
vai respeitar, que não quer fazer amizade, isso daí acontece né? mas não deveria, eu
acho que a sala como um todo... a sala de aula no geral deveria receber esse aluno com
deficiência de uma forma muito agradável, aceitar ele... sabe? A sala aceitar o aluno
com deficiência, entendeu?”; (3RL_BR): “(...) eu acredito sim que os outros alunos
interagindo, conversando, explicando até do jeitinho deles que... brincando... ajuda
muito neste processo de inclusão, só o fato de conversar e de estar perto um do outro já
ajuda e a diversidade de jogos também, então por exemplo um aluno, um aluno de
inclusão que não consegue andar, que não consegue jogar um esporte, qualquer
movimento que seja, um aluno sem ser de inclusão consiga, o aluno que não é de
inclusão puxando este aluno de inclusão vai ser bem mais fácil, vai ser legal e vai
mostrar muito esse processo de inclusão né?” ; (5RL_BR): “(...) com certeza pra que o
colega que precisa ser incluído para que ele se sinta bem também porque não adianta
só o professor adaptar para que este aluno venha a fazer, mas ele não se sinta
abraçado, por aquela turma, que ele não se sinta bem vindo, então de repente ele vai
fazer uma atividade ou duas e vai deixar de fazer por não estar se sentindo bem vindo
ali talvez (...)”.
Os participantes Recém-Licenciados afirmam que a interação social negativa
além de caracterizar como o preconceito por ser também uma barreira ao
desenvolvimento da atividade inclusiva, impede que o processo de ensino possa ser
facilitado se um aluno estiver auxiliando o outro no grupo. Neste sentido, a participação
do estudante com deficiência nas atividades durante a aula de Educação Física também
está diretamente relacionada à participação ativa em todo o grupo em que a aceitação da
turma e a valorização das diferenças são parte do processo inclusivo e são importantes
para o sucesso da aprendizagem.
Dificuldades como a falta de elaboração de estratégias em face da perspectiva
inclusiva, falta de suporte e orientação da gestão escolar, de materiais e espaço
adequados e de encontros de formação continuada para a troca de experiências são
215
(3RL_BR): “(...) Eu me sinto professora, não se foi porque eu estagiei com uma ótima
profissional, bom, no caso, você... mas... eu sei que vai ser difícil que não vai ser nada
fácil, mas eu me sinto preparado pra poder montar aulas e projetos e... elaborar muitos
planos de aula pra essa área de crianças com deficiência, e... estagiar com você
também me ajudou muito neste sentido (...)”
Os participantes percebem ainda que a competência e o sentimento de segurança
se fortalecem ao longo do processo de formação profissional inicial e contínuo, pois
com a vivência em maior quantidade e diversificadas experiências sentem-se mais
preparados para atuar com o estudante com deficiência na medida em que a experiência
vivenciada gera informações para que se sintam mais seguros na prática docente
(BANDURA, 1997).
Este processo de reflexão sobre a prática, as experiências vivenciadas e o quanto
fortalecem a percepção de competência é explicitado na fala dos participantes
(5RL_BR): “(...) se você tem uma maior convivência com o deficiente ou com a
deficiência, eu acho que fica mais preparado talvez, mais à vontade, o profissional de
Educação Física ou o professor que seja, ele sente mais preparado em adaptar (...)”;
(6RL_BR): “(...) 100% não, mas é como a gente tá conversando sobre, é um
aprendizado, é um desafio e a gente tem que chegar lá como se fosse a primeira vez né?
pegar e tentar fazer sempre o melhor, ninguém tá preparado 100% pra tudo na vida
(...)” e (7RL_BR): “ (...) conforme você vai dando aula, você vai pegando prática ...
experiência, como tratar... como lidar... algumas praticidades que você vai descobrindo
conforme você vai trabalhando... no começo eu não me imaginava dando aula... mas
depois... agora eu consigo ter essa imagem de mim mesmo (...)”.
Por outro lado, os participantes ressaltam que vários são os fatores que geram
insegurança para atuação em contexto inclusivo, como por exemplo, a criação e o
fortalecimento de vínculo com o estudante com deficiência como cita Martin-Baró
(1989) e explicita o participante (1RL_BR): “(...) porque a gente não sabe como que o
aluno vai se identificar com a gente, né? se ele vai ficar assustado, se ele não vai ficar
assustado, entendeu?”.
Além de outros fatores anteriormente já citados como a falta de material, a
incerteza sobre a efetividade do plano de ensino no sentido de conseguir contribuir com
o aprendizado do estudante com deficiência, por não saberem elaborar estratégias
diversificadas.
218
Observamos que o receio sobre o processo formativo pode ser verificado pelo
futuro professor como inadequado em algum momento da sua vida profissional, pois
este sentimento de insegurança do professor está ainda relacionado à imprevisibilidade
da adaptação das estratégias de ensino e à necessidade de repensar estas adaptações no
contexto da aula caso algo não corra como esperado e precise ser replanejado
(BANDURA, 1977a). Neste contexto observamos que este receio apresenta-se
caracterizado como um medo de vivenciar uma experiência negativa durante o processo
de ensino segundo cita o participante (3RL_BR): “(...) muitos profissionais têm esse
medo por ter que... por ter uma dificuldade... por ser mais complexo a realização das
aulas, das atividades, por terem medo de realizar.. sei lá eu, não conseguirei concluir o
objetivo deles entendeu? Tipo, eu penso em uma aula e eu chego lá e o aluno não
consegue executar (...)”
Há ainda a percepção de que adaptar as estratégias de ensino e as atividades para
estudantes com Deficiência Física ou Visual seja mais complicado em função das
questões que envolvem a acessibilidade e do espaço adequado as quais influenciam no
sentimento de segurança e competência para trabalhar com o estudante com deficiência,
neste caso com o estudante com Deficiência Física.
Cada um destes fatores soma-se ainda à falta de experiência no contexto escolar
com relação à gestão da aula, como cita Pfitzner-Eden (2016) e esta experiência gera
uma reflexão e aprendizado contínuo para que o futuro professor se sinta mais
preparado. Desta forma, a experiência vivenciada contribui para esta formação
profissional como afirmam os participantes (1RL_BR): “(...) ah... meu... porque que
falta... não é assim autoconfiança... é que... isso daí a gente tem ter, mas... também não
é medo, mas receio de acontecer alguma coisa entendeu? Como eu falei, um monte de
aluno e você tem que ficar com vários olhos, a gente tem que ter olho na frente, atrás,
de um lado, do outro, é uma coisa, é uma doida... eu acho que... eu que acho isso seria
um pouco complicado neste momento para mim (...)” e (3RL_BR): “ (...) eu acho que o
medo professora, o medo em trabalhar com estudantes assim, entendeu? Eu acho que
os profissionais se sentem intimidados por ser um desafio, por ter coisas mais difíceis,
como eu disse lá em cima, por ter que elaborar uma aula mais difícil... mais dinâmica...
entendeu? Isso também eu acho que atrapalha... é um grande desafio... não que
atrapalhe, mas é um grande desafio (...)”.
O processo formativo contínuo é fortalecido pela reflexão contínua sobre as
práticas de ensino vivenciadas, de forma que este processo reflexivo gera informações
219
grande desafio para o professor de Educação Física que atua em contexto inclusivo,
somando-se às questões supracitadas.
não pode ser onerado por realizar o processo inclusivo, sendo esta uma responsabilidade
conjunta que deve ser assumida por toda a comunidade escolar e deve ser
contextualizada também à formação continuada.
Três professores indicaram se sentir com alguma competência e um professor
apontou se sentir muito competente para atuação em contexto inclusivo e esta percepção
de competência relaciona-se ao trabalho colaborativo desenvolvido com outros
estudantes da turma para o auxílio na adaptação de atividades para os estudantes com
Deficiência Física e à utilização da estratégia de tentativa e erro durante a realização das
atividades propostas. Contudo, a sensação de confiança é bastante variável, isto porque
por vezes os professores sentem-se bastante inseguros em função da falta de suporte
dado pela escola, do número de alunos em cada turma e da dificuldade em fazer a
gestão de tempo na aula, assim como os desafios já supracitados (PFITZNER-EDEN,
2016).
Sobre o distanciamento da universidade em relação à realidade escolar em
contexto inclusivo, os professores têm buscado no compartilhamento de experiências
com outros professores da área, fortalecimento da formação pessoal e profissional
(COSMO, 2014; CHICON et al, 2014).
Com relação às questões relacionais entre os estudantes e a influência destas
relações no desenvolvimento do processo de ensino, os professores afirmam que
buscam desenvolver nos estudantes a sensibilização sobre a importância e valorização
das diferenças e a acessibilidade atitudinal, que também é utilizada como uma estratégia
de ensino através da realização de atividades em duplas e em pequenos e grandes
grupos, favorecendo o desenvolvimento de atitudes positivas dos estudantes e
ampliando as possibilidades pedagógicas (BELÉM et al, 2017).
Os participantes Recém-Licenciados apresentam médias mais altas para o
trabalho com estudantes com Deficiência Intelectual tanto com relação à Percepção da
Competência quanto para a Qualidade da Experiência, sendo a falta de material
adequado e a falta de acessibilidade estrutural dois dos maiores desafios percebidos
pelos participantes para que a aplicação do currículo se faça efetiva de forma mais
equitativa e acessível aos estudantes com deficiência.
As barreiras e dificuldades como a falta de suporte e orientação da gestão
escolar, a falta de materiais e espaço adequados, além da falta de encontros de formação
continuada para o desenvolvimento de atividades e materiais diferenciados são
novamente citados, desta vez pelos participantes Recém-Licenciados, o que torna
222
Figura 6 – Representação dos Resultados Unificados nas Unidades de Análise Integrada 1 e 2 – Caso 2 -
Brasil
que possuem o título de Mestre e ressalta que este curso de Mestrado deve ter ênfase no
estudo específico da Didática para a Docência e somado ao estágio supervisionado, o
qual proporciona a aproximação da prática docente em contexto escolar e o consequente
contato com estudantes com deficiência.
Os participantes Recém-Licenciados portugueses colocam que por intermédio do
estágio supervisionado vivenciam esta formação contínua dentro das escolas,
observando os desafios encontrados pelos professores de Educação Física e colocando
na prática de ensino todo o conhecimento apreendido durante a formação inicial ao
refletirem sobre a prática pedagógica e sobre as demandas do universo escolar. Esta
vivência do estágio possibilita a contextualização deste conhecimento perante as
necessidades apresentadas pelos estudantes.
Na medida em que estes participantes Recém-Licenciados vivenciam
experiências positivas com a prática pedagógica nas aulas de Educação Física percebem
que se fortalece a crença de autoeficácia docente para a superação de desafios como o
processo reflexivo sobre esta prática de ensino vivenciada e o constante replanejamento
das estratégias de ensino e das adaptações necessárias para prover a oferta de
conhecimento ao estudante com deficiência e garantir a aprendizagem como afirmam
Bandura (1997) e Schön (2001).
Por outro lado, observamos que na Lei nº 22/2014, que estabelece o Regime
Jurídico da Formação Contínua, não são consideradas diretrizes para a oferta da
formação contínua aos professores atuantes em contexto inclusivo, sendo este
direcionamento presente no Despacho nº 779/2019 que altera a Lei n º 22/2014 e têm a
formação contínua na perspectiva inclusiva como uma prioridade formativa, apesar da
oferta não ser efetiva como afirmam os professores (PORTUGAL, 2014; 2018).
Os professores de Educação Física portugueses explicitam que não são ofertados
encontros de formação contínua nesta perspectiva inclusiva, sendo este fato também
salientado pelos participantes Recém-Licenciados e que, para suprir esta falha
formativa, os docentes estabeleceram um trabalho colaborativo com os professores de
Educação Especial nas escolas e o compartilhamento de experiências com outros
professores de Educação Física a fim de buscar informações e suporte para o
desenvolvimento de estratégias e propostas de ensino mais equitativas.
Sobre a oferta de formação contínua nesta perspectiva inclusiva, cabe ressaltar
que o Despacho nº 779/2019 é posterior à promulgação da Lei nº 54/2018 que
estabelece o Regime Jurídico da Educação Inclusiva, o qual amplia as adequações
227
curriculares a todos os estudantes que necessitam destas para que haja sucesso no
processo de ensino e aprendizagem e não está fundamentada nas características clínicas
da deficiência para a definição do público-alvo, mas sim na avaliação individualizada de
habilidades e competências para a aprendizagem conforme as aprendizagens essenciais
definidas pelo Decreto-Lei nº 55/2018 (PORTUGAL, 2018a; 2018b; 2019). Ao não
fundamentar-se no modelo clínico da deficiência, o Decreto nº 54/2018 estabelece uma
quebra de paradigmas ampliando o conceito sobre a Educação Inclusiva com diretrizes
voltadas para o sucesso na aprendizagem.
Os professores de Educação Física portugueses relatam que ao pensar no
planejamento pedagógico têm o foco no processo de adaptação das estratégias de ensino
para a promoção da aprendizagem, e a preocupação em organizar tanto as estratégias de
ensino quanto a gestão da aula e da turma para que os estudantes com deficiência
participem das aulas pelo maior tempo possível. E para tanto, estes professores
observam quais são as características e necessidades de cada um dos estudantes perante
o contexto da aula, o espaço e a tarefa de ensino.
Contudo, os professores apontam a falta de suporte dado pela gestão das escolas
e a necessidade do cuidado com os estudantes com deficiência durante as aulas no
sentido de preservação da integridade física destes. Estes professores alertam para a
desvalorização das diferenças no universo escolar e retratam que há diferenciação da
grade curricular cursada por estudantes com e sem deficiência, de forma que os
estudantes com deficiência não frequentam todas as aulas em todas as disciplinas com
as suas respectivas turmas, fato também explicitado pelo Relatório do Observatório da
Deficiência e Direitos Humanos de Portugal – ODDH (2017; 2018).
Os professores demonstram insegurança ao comparar o contexto em que as aulas
de Educação Física acontecem, esta falta de integração dos estudantes com deficiência
com a turma e a falta de suporte ofertado pela escola com o próprio processo formativo
que vivenciam e com a expectativa social que se têm acerca do sucesso do processo
inclusivo, que por princípio deve ser realizado com sucesso, gera um conflito entre a
expectativa sobre uma aula mais inclusiva e a real condição que os professores têm para
efetivar o processo inclusivo.
Observamos que os participantes Recém-Licenciados portugueses percebem a
escola como um local estruturado e preparado para receber os estudantes com
deficiência e concebem o processo inclusivo a partir de um processo de ensino que
tenha como premissa o atendimento a cada uma das necessidades de cada estudante, que
228
seja diferenciado ao ponto de permitir com que todos participem das atividades com
equidade.
Esta colocação relatada por estes participantes Recém-Licenciados portugueses
retrata a atitude dos professores de Educação Física perante a prática pedagógica que
desenvolvem, a fim de garantir a participação de todos, contudo representa também um
contraponto colocado por estes professores que questionam se a inclusão escolar é
efetiva, pois percebem que as diferenças não são valorizadas positivamente.
Com relação ao processo formativo inicial dos professores de Educação Física
brasileiros observamos que a Resolução nº 01 e nº 02/2002 colocam a atuação do
Licenciado em Educação Física em uma dimensão Didático-Pedagógica, em que as
unidades de conhecimento específico constituem um componente curricular das
dimensões biológicas, sociais, culturais e técnico-instrumentais do movimento humano
(BRASIL, 2004).
Cabe ressaltar que comparando-se a Resolução nº 01 e nº 02/2002 à Resolução
nº 2/2015 que define as Diretrizes Curriculares para a formação profissional em nível
superior, específica aos cursos de licenciatura e à Resolução nº 6/ 2018 que institui as
Diretrizes Curriculares nos cursos de Graduação em Educação Física com relação à
Formação Específica em Licenciatura em Educação Física, observamos que com
exceção da primeira, promulgada em 2002, que posiciona o professor licenciado em
Educação Física em uma dimensão didático-pedagógica e expressa preocupação com a
expressão Didática no contexto escolar, nas duas resoluções seguintes (Resolução nº
2/2015 e Resolução nº 6/ 2018) se reforça a formação distanciada entre a teoria
explicitada e a aplicabilidade da prática pedagógica de forma contextualizada à
realidade escolar, sendo predominante a formação técnica (BRASIL, 2002; 2015; 2018).
Os participantes Recém-Licenciados brasileiros percebem a falta que fez
vivenciarem momentos que contextualizassem a prática de ensino considerando a
realidade escolar em contexto inclusivo em cada uma das disciplinas vivenciadas
durante o curso de Licenciatura e citam que para os professores universitários é muito
complexo proporcionar a reflexão sobre a prática pedagógica para pessoas com
deficiência durante este processo formativo, ficando esta discussão restrita à disciplina
que trata desta temática. Em razão destas falhas no processo formativo, os participantes
Recém-Licenciados colocam que encontram muitas dificuldades ao ingressar na prática
profissional ministrando aulas de Educação Física.
229
9
Até a data de finalização deste estudo, a legislação brasileira é constituída pelo Decreto nº 7.611/2011 e
pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL,
2008a;2011).O Decreto Lei nº 10.502/2020 foi suspenso em 21 de Dezembro de 2020 por Referendo de
decisão liminar na medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 6590 (STF, 2020).
230
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
mesma instituição escolar. Por outro lado, os professores brasileiros apontam que apesar
dos estudantes com deficiência estarem presentes na escola, não é garantido o real
acesso ao conhecimento, pois as instituições educativas brasileiras apresentam falhas
estruturais, arquitetônicas, de gestão de recursos humanos e materiais para o provimento
educacional com qualidade.
Os professores brasileiros nos colocam que para o desenvolvimento da prática
pedagógica ainda prevalece na escola a necessidade e a dependência sobre a
característica clínica da deficiência, sendo o fator considerado para que as adaptações
curriculares ocorram e desta forma, consideramos que o processo inclusivo não
acontece de fato, pois não há preocupação com a qualidade deste processo de ensino
ofertado.
Cada uma destas experiências e percepções explicitadas, tanto pelos professores
de Educação Física portugueses e participantes Recém-Licenciados, quanto pelos
professores e participantes Recém-Licenciados brasileiros, nos mostram que o processo
formativo contínuo é fortalecido por uma reflexão contínua sobre as práticas de ensino
vivenciadas, gerando informações sobre o contexto da aula, sobre a complexidade da
tarefa de ensino e as necessidades e características de cada um dos estudantes.
Com o conhecimento de todo este contexto somado à experiência vivenciada, o
professor sente-se mais seguro em realizar novas ações pedagógicas e para a adaptação
das estratégias de ensino, porém este processo reflexivo não deve ser um movimento
docente isolado, pois o suporte da gestão da escola e o trabalho colaborativo, assim
como o compartilhamento de experiências com seus pares mostraram-se essenciais para
tornar a aula de Educação Física mais inclusiva.
Neste sentido, as contribuições deste estudo são importantes para o
remodelamento do processo formativo inicial e continuado de professores de Educação
Física Escolar ao apontar para a construção de redes formativas entre as universidades e
as instituições escolares, estreitando este diálogo pelo compartilhamento de experiências
na formação em serviço e para o fortalecimento do trabalho colaborativo docente
contextualizado à realidade escolar e às demandas desta. De forma que, a formação
inicial e continuada explicitem a reflexão contínua sobre a prática de ensino como parte
da formação permanente destes docentes ao prover o suporte e apoio ao professor para
tal ação.
As reflexões que emergiram neste estudo caminham para a reconstrução da
própria experiência docente, tanto nas instituições formativas de ensino superior quanto
239
REFERÊNCIAS
ALPI, K.M. Distinguishing case study as a research method from case reports as a
publication type. Journal of the Medical Library Association, v.107, n.1, p.1- 6,
2019.Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6300237/. Acesso
em 26 de Março de 2020.
APPLE, M.W. A luta pela democracia na educação crítica. Revista e-Curriculum, São
Paulo, v.15, n.4, p. 894 – 926 out./dez. 2017. Disponível em
http://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum. Acesso em 08 de Setembro de 2018.
AZZI, R.G. Introdução á Teoria Social Cognitiva. Série teoria social cognitiva em
contexto educativo. 1ª ed, Casa do Psicólogo, São Paulo-SP, 2014.
241
BAXTER, P.; JACK, S. Qualitative Case Study Methodology: Study Design and
Implementation for Novice Researchers. The Qualitative Report, v. 13, n.4, p. 544-
559, 2008.
242
BEAMER, J.A; YUN, J. Physical Educators’ Beliefs and Self- Reported Behaviors
Toward Including Students With Autism Spectrum Disorder. Adapted Physical
Activity Quarterly, v.31, p.362-376, 2014.
BELÉM, J.B. et al. Acessibilidade atitudinal dos alunos com deficiência: Analisando
as ações dos professores de Educação Física. SILVA, J.B.L; ASSUMPÇÃO,
L.O.T.(Org.) In: Educação Física: Esportes e Lazer em perspectiva sociocultural e
inclusiva. v.1. Ed. ArtLetras, Brasília, p. 182-199, 2017.
BLOCK, M.E. et al. Creation and Validation of the Self-Efficacy Instrument for
Physical Education Teacher Education Majors Toward Inclusion. Adapted Physical
Activity Quarterly, v. 29, p. 184-205, 2013.
BLOCK, M. et al. Preparing Future Physical Educators for Inclusion: Changing the
Physical Education Teacher Training Program. Revista da Sobama, Marília, v. 17, n. 1,
p. 9-12, Jan./Jun., 2016.
CASEBOLT, K. M.; HODGE, S.R. High School Physical Education Teachers' Beliefs
about Teaching Students with Mild to Severe Disabilities. Physical Educator Fall,
v. 67, Issue3, p.140 – 156, 2010.
CORRÊA, E.A.et al. A constituição dos cursos de formação inicial em Educação Física
no Brasil. Revista brasileira de Ciência e Movimento, n. 24,v.1, p. 27-42, 2016.
ELLIOT, S. The effect of teachers’ attitude toward inclusion on the practice and success
levels of children with and without disabilities in physical education. International
Journal of Special Education, v. 23, n. 3, 2008.
HOW, AW, SPERO RB. Changes in teacher efficacy during the early years of teaching:
A comparison of four measures. Teaching and Teacher Education, v. 21, n.4, p. 343 -
356, 2005. https://doi.org/ 10.1016/j.tate.2005.01.007.
HUTZLER, Y.S. et al. Physical education students’ attitudes and self-efficacy towards
the participation of children with special needs in regular classes. European Journal of
Special Needs Education, v. 20, n. 3,p. 309–327, August, 2005.
IAOCHITE, R.T. Crenças de eficácia docente e suas origens. Psicologia: Ensino &
Formação, v. 5, n. 2, p. 81-102, 2014.
251
MORAIS, M.P. et al. (c) Formação contínua de professores de Educação Física face à
perspectiva inclusiva: Impacto nas Percepções de Competência e Qualidade da
Experiência. Revista da Associação Brasileira de Atividade Motora Adaptada.,
Marília, v.20, n.2, p. 153-160, Jul./Dez., 2019.
NETO, C. A criação dos Institutos Superiores de Educação Física (Dec. Lei 675/75).
Revista Portuguesa de Ciências dos Desportos, n.16, Suplemento 1, p.01 -07, 2015.
PERES, Z.R. Quando não é quase a mesma coisa Análise de traduções de Lev
Semionovitch Vigotski no Brasil Repercussões no campo educacional. Tese de
Doutorado apresentada na Faculdade de Educação na Universidade de Brasília em
Fevereiro de 2010.
PORTUGAL. Decreto - Lei n.º 115/97. Alteração à Lei n.º 46/86, de 14 de Outubro
(Lei de Bases do Sistema Educativo). MINISTRÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA,
Diário da República n.º 217/1997, Série I-A de 1997-09-19, p. 5082 – 5083. Disponível
em: https://dre.pt/web/guest/pesquisa/. Acesso em 12 de Setembro de 2018.
RODRIGUES, G.M. et al. Para além dos eventos na formação inicial: experiências
que podem ressignificar o fazer pedagógico. In: CHICON, J.F.; RODRIGUES, G.M.
(Org.). Ação profissional e inclusão: implicações nas práticas pedagógicas em Educação
Física. Ed. EDUFES, Vitória, ES, p.231-249, 2017.
SIEGEL, S.; CASTELLAN JR., N.J. Estatística Não Paramétrica para Ciências do
Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2006.
258
SILVA, L.O. et al. Como se aprende e como se ensina em Educação Física Escolar:
O que dizem estudantes e docentes do ensino fundamental. BOSSLE, F.;
WITTIZORECKI, E. S. (Org.). In: Didática (s) da Educação Física: formação docente e
cotidiano escolar. v.3. Editora CRV, Curitiba, p. 13-28, 2016.
STF. Supremo Tribunal Federal. ADI 6590, processo eletrônico público, Número único:
0106743-47.2020.1.00.0000, Ação Direta de inconstitucionalidade. Origem: DF-
Distrito Federal. Relator: Ministro Dias Toffoli. Protocolo: 26/10/2020. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6036507 Acesso em 12 de
Janeiro de 2021.
YIN, R.K. Applications of case study research.3ed, Londres: Ed. SAGE, 2012.
ZAINAL, Z. Case study as a research method. Journal Kemanusiaan, v.5, n.1, p.1-6,
Jun, 2007. Disponível em:
https://jurnalkemanusiaan.utm.my/index.php/kemanusiaan/article/view/165. Acesso em
22 de Março de 2020.
APÊNDICE I
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ( Entrevista)
Eu,___________________________________________________________________,
RG:_________________________, declaro que li as informações contidas nesse
documento e fui devidamente informado pelas pesquisadoras sobre os procedimentos
que serão utilizados. Declaro que concordo por livre decisão minha participar da
pesquisa. Foi-me garantido que posso retirar o consentimento a qualquer momento, sem
que isso leve a qualquer prejuízo para mim. Declaro ainda que recebi uma cópia desse
Termo de Consentimento que será emitido em duas vias rubricadas pelos pesquisadores.
Qualquer dúvida, sei que poderei entrar em contato pelos telefones abaixo
discriminados com os pesquisadores ou com o Comitê de Ética e Pesquisa da
Universidade São Judas Tadeu (Brasil) ) pelo e-mail ([email protected]) ou telefone (
11) - 2799-1950.
_____________________ __________________
Nome por extenso Assinatura
______________________________________________________________________
APÊNDICE II
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Entrevista – versão digital )
263
APÊNDICE III
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Versão impressa do questionário)
Coimbra ___/_____/_______
____________________________________
APÊNDICE IV
Termo de Consentimento Livre Esclarecido (Questionário Digital)
266
APÊNDICE V
Roteiro de entrevista com professores licenciados
Nome do participante:
E-mail:
Endereço:
Telefone:
Tempo de formação:
Tempo de atuação na Educação Física Escolar:
Qual é a faixa etária em que atua ( ciclo de ensino):
(Quanto tempo você dispõe para o planejamento das atividades? Quantos são alunos
você atende por turma? Você atende alunos com deficiência em turmas regulares de
ensino?)
8) De que forma você acredita que a formação continuada pode contribuir com o
processo de inclusão escolar nas aulas de educação física?
APÊNDICEVI
Roteiro de entrevista com os professores Recém - Licenciados.
Nome do participante:
E-mail:
Endereço:
Telefone:
3) Como você imagina uma aula de Educação Física Escolar Inclusiva? E como você se
imagina atuando como professor nesta perspectiva inclusiva? Quais são as suas
expectativas, o que você espera?
4) Quando pensas na Inclusão Escolar de alunos com deficiência, quais são os desafios
que lhe vem a mente com relação a este processo?
7) Quais dificuldades você acredita que encontrará para realizar atividades inclusivas?
9) Com relação às disciplinas que abordam o trabalho com pessoas com deficiência ou
pessoas com necessidades especiais, você acredita que o conteúdo trabalhado pelos
professores durante a sua formação profissional no 1º ciclo atende às necessidades do
professor com relação ao trabalho com aluno com deficiência em uma perspectiva
inclusiva?
10) Quando você pensa no planeamento da aula de Educação Física Escolar, você
acredita haver diferença no processo de inclusão quando o professor desenvolve
práticas/projetos inovadores em suas aulas?
268
APÊNDICE VII
Questionário de dados sociobiográficos – Contexto de Portugal
Dados sociobiográficos
4. Habilitações Académicas
Licenciatura Pré - Bolonha[ ] Licenciatura Pós - Bolonha [ ] Mestrado [ ]
Doutoramento[ ] Outro [ ] ______________________________________________
6. Teve durante a sua formação académica, disciplinas que abordavam Educação Física Adaptada?
sim [ ] não [ ]
7. Quantas disciplinas sobre Educação Física Adaptada frequentou ao longo do curso? ( número)
Licenciatura[ ] Licenciatura/Mestrado [ ] Doutoramento [ ]
9. Frequentou alguma formação complementar na área da Educação Física Adaptada ou relacionada com
o Desporto Adaptado? sim [ ] não [ ]
10 . Qual a sua experiência, como professor (a), com alunos com deficiência na aula de EF?
Assinale o nível de experiência, comprometimento do aluno e nível de ensino
Deficiência [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] 1º [ ] 2º [ ] 3º
física [ ] Secundário
Deficiência [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] 1º [ ] 2º [ ] 3º
visual [ ] Secundário
APÊNDICE VIII
Questionário de dados sociobiográficos – Contexto do Brasil
Dados sociobiográficos
4. Habilitações Académicas
Licenciatura [ ] Mestrado [ ] Doutorado [ ]
6. Teve durante a sua formação acadêmica, disciplinas que abordavam Educação Física Adaptada e/ ou
inclusiva?
sim [ ] não [ ]
9. Frequentou alguma formação complementar na área da Educação Física Adaptada e/ou Inclusiva ou
relacionada com ao Esporte Adaptado? sim [ ] não [ ]
10 . Qual a sua experiência, como professor (a), com alunos com deficiência na aula de EF?
Assinale o nível de experiência, comprometimento do aluno e nível de ensino
ANEXO I
Escala de Autoeficácia na Educação Física Inclusiva (EAE-EFI)
(versão impressa)
271
272
273
274
ANEXO II
Escala de Autoeficácia na Educação Física Inclusiva (EAE-EFI)
(versão online)
275
276
277
278
279
280
281
282
283
284
285
ANEXO III
PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
286
287