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http://dx.doi.org/10.36810/rde.v3i47.

7047

ECONOMIA COMPARTILHADA NO BRASIL E O PERFIL DO


CONSUMIDOR: UMA PESQUISA COM OS USUÁRIOS DO
FACEBOOK
Walter Duarte Barreto Júnior1
Thiago Henrique Carneiro Rios Lopes2

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo definir o perfil dos usuários do Facebook com maior
probabilidade de participar da Economia Compartilhada. Para tanto, realizou-se um estudo
empírico com 2.357 usuários do Facebook, em todos os 26 estados do Brasil e no Distrito
Federal. Eles responderam a uma série de questões que dizem respeito ao
compartilhamento de automóvel e habitação, além de questões sobre valores. Vale ressaltar
que há séculos as pessoas já compartilhavam, embora que numa escala pequena e
localizada. Porém, este movimento se expandiu no século XXI devido ao avanço da
tecnologia e do mundo globalizado. Ao longo do artigo são descritos os conceitos de
Economia Compartilhada, as formas de compartilhamento e as tendências deste
movimento. Através da utilização de duas técnicas estatísticas, a análise fatorial e a
análise de regressão, pôde-se perceber que da nossa amostra de usuários do Facebook,
aqueles com maior probabilidade de compartilhar automóvel e habitação são: i) homens; ii)
de qualquer faixa etária; iii) viúvo ou solteiro; iv) com menor nível de renda e escolaridade;
v) que não fazem questão de ser dono de um determinado produto; vi) que estão
dispostos a mudar o seu estilo de vida para colaborar com o meio ambiente; e vii) que
consideram a maioria das pessoas de confiança.

Palavras-chave: Economia Compartilhada; Consumidor; Facebook.

SHARED ECONOMY IN BRAZIL AND THE CONSUMER PROFILE: A RESEARCH WITH


FACEBOOK USERS

ABSTRACT
This work aimed to define the profile of Facebook users most likely to participate in the
Sharing Economy. To this end, an empirical study was carried out with since 2,357 Facebook
users, in all 26 states of Brazil and in the Federal District. They had responded to a series of
issues relating to car and housing sharing, as well as questions about values. It is noteworthy
that people have shared for centuries, although on a small and localized scale. However, this
movement expanded in the 21st century due to the advance of technology and the globalized
world. Throughout the article, the concepts of Sharing Economy, sharing types, and the
trends of this movement are described. Through the use of two statistical techniques, factor
analysis and regression analysis, it was possible to notice that from our sample of Facebook
users, those most likely to share a car and housing are: i) men; ii) of any age group; iii)
widowed or single; iv) with a lower level of income and education; v) who do not insist on
owning a certain product; vi) that they are willing to change their lifestyle to collaborate with
the environment; and vii) who consider most people to be trustworthy.

Keywords: Sharing Economy; Consumer; Facebook.

1
Arquiteto e mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano (UNIFACS)
2
Doutor em Economia e professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e
Urbano (UNIFACS)
Revista de Desenvolvimento Econômico – RDE - Ano XXII – V. 3 - N. 47 – Dezembro de 2020 -
Salvador, BA – p. 352 – 377.
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JEL: C35; D10; D16.

1 INTRODUÇÃO
No início do século XXI, nos Estados Unidos, especificamente na região
conhecida como Vale do Silício, na Califórnia, um grupo de jovens, por conta de
estarem com pouco recursos para consumir devido à crise financeira internacional
de 2007-2008, e querendo manter o consumo em alta, teve a ideia de consumir
produtos e serviços de forma compartilhada através dos seus smartphones
conectados pela internet, e assim o movimento econômico e social denominado
Economia Compartilhada começou a ganhar dimensão mundial.
Economia Compartilhada se refere ao “as the act and process of distributing
what is ours to others for their use” (BELK, 2007, p.126); Segundo Hamari, Sjoklint e
Ukkonen (2016) trata-se do uso da propriedade do outro por meio da comunicação
tecnológica, decorrente da cultura de tecnologia do Vale do Silício. Esse conceito
“inclui a criação, produção, distribuição, o comércio e consumo compartilhado de
bens e serviços por pessoas e organizações” (VILLANOVA, 2015, p. 8).
Mesmo sendo a Economia Compartilhada um movimento recente, já
congrega empresas com grande valor de mercado, muitas delas líderes do seu
setor: Uber, Airbnb, Spotify, Facebook, Amazon, Netflix, dentre outras.
A vontade de compartilhar em sociedade é um assunto antigo, que sempre
existiu na história e foi tema de interesse de livros clássicos que descreveram
sociedades onde as pessoas viviam compartilhando: “Utopia” de Thomas Morus
(1516) e “Notícias de lugar nenhum” de William Morris (1891); além dos pensadores
Darcy Ribeiro (1957) e Sérgio Buarque de Holanda (1936), mostrando a forma como
os índios brasileiros da mesma tribo viviam compartilhando.
Na crise financeira internacional de 2007-2008, o jornalista Thomas Friedman
deu a seguinte declaração que retrata bem o momento: “Tanto a mãe natureza
quanto o mercado chegaram a um limite e declararam que o modelo
hiperconsumista em vigência não era mais sustentável” (SILVA et al., 2019, p.01).
Esse cenário de crise financeira, com necessidade de redução no custo do
consumo, levou parte da sociedade para uma “mudança da política sociocultural de
consumo” (FREITAS; PETRINI; SILVEIRA, 2016, p. 13), onde o mais importante
passou a ser a aproximação de “pessoas com necessidades ou interesses
semelhantes que se unem para partilhar e trocar ativos menos tangíveis, tais como
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tempo, espaço, habilidades e dinheiro” (FREITAS; PETRINI; SILVEIRA, 2016, p.


7).
Esse trabalho busca, em especial, responder ao seguinte questionamento:
Qual o perfil do consumidor, dentre os usuários do Facebook, com maior
probabilidade de participar da Economia Compartilhada no Brasil?
Com esse objetivo fez-se uma Pesquisa empírica sobre Economia
Compartilhada, onde foram aplicados 2.357 questionários pelo Facebook,
distribuídos em todo o território brasileiro, mantendo-se a relação entre o sexo e a
população de cada um dos 26 estados e o Distrito Federal, tendo como base os
dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Registra-se que o universo pesquisado da Pesquisa está restrito aos usuários
do Facebook. Essa rede social possui aproximadamente 130 milhões de usuários no
Brasil (TECMUNDO, 2019), representando mais de 60% da população brasileira.
O questionário da Pesquisa possui perguntas sociodemográficas – sexo, nível
de escolaridade, idade, estado civil, renda familiar mensal e estado onde mora –
foram abordadas questões específicas sobre o compartilhamento de automóvel e
habitação. Ademais, foram investigados os potenciais valores latentes nos
indivíduos, tais como: a importância ou não da propriedade do produto no ato do
consumo; se a pessoa está disposta a mudar o seu estilo de vida para colaborar
com o meio ambiente; se viver em uma sociedade solidária e justa é importante para
a pessoa; e se a pessoa considera a outra confiável.
Algumas razões justificam este trabalho: em primeiro lugar, a Economia
Compartilhada é um fenômeno mundial contemporâneo, com grandes possibilidades
de crescimento. Contudo, ainda são poucos os estudos na Academia brasileira em
relação à importância do tema. Em segundo lugar, não se conhece nenhum estudo
brasileiro sobre o tema com a dimensão dos dados que foram obtidos a partir da
Pesquisa empírica sobre Economia Compartilhada aqui apresentada. Em terceiro, o
mercado brasileiro está sendo ocupado por uma grande maioria de empresas
estrangeiras, precisando do maior aprofundamento dos estudos das oportunidades
de negócios por parte dos empresários brasileiros. E, por fim, entende-se que a
identificação do perfil dos usuários do Facebook com maior probabilidade de
participar da Economia Compartilhada pode fornecer insights para trabalhos futuros
que queiram fazer investigações mais profundas para toda a população.

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2 REVISÃO DE LITERATURA
Belk (2007) definiu o “consumo compartilhado” como “the act and process of
distributing what is ours to others for their use and/or the act and process of receiving
or taking something from others for our use” (BELK, 2007, p. 126).
Segundo Algar (2007), o conceito de Economia Compartilhada é a prática da
divisão dos produtos, os empréstimos comerciais, aluguel e trocas em ações
realizadas no século XXI.
É necessário registrar a diferença entre “compartilhamento” e “Economia
Compartilhada”. O compartilhamento, como define o próprio significado da palavra
na língua portuguesa, consiste na utilização de produtos e serviços entre as pessoas
de uma forma mais ampla, comportamento que sempre existiu em nossa sociedade
e já foi fruto de muitos estudos, enquanto a Economia Compartilhada consiste no
compartilhamento de produtos e serviços com a utilização da tecnologia, com os
smartphones e a internet conectando as pessoas de forma mais prática, rápida,
eficiente, e em maior escala (MAURER et al., 2015, p.68).
Com o avanço da internet, que conecta pessoas desconhecidas na rede
mundial, surgiram novos modelos de negócios baseados no compartilhamento de
bens e serviços com grande escala, fato que no passado não era possível.
Segundo Hamari, Sjoklint e Ukkonen (2016), a Economia Compartilhada é “to be
based on access over ownership, the use of online services, as well as monetary and
nonmonetary transactions such as sharing, swapping, trading, and renting”. Os
autores afirmam que ela está gerando uma grande revolução no consumo, e que
só está acontecendo graças aos avanços decorrentes da cultura de tecnologia do
Vale do Silício.
A vontade e a prática de compartilhar sempre fez parte do consumo das
pessoas, experiências que remontam há séculos. A Economia Compartilhada,
conforme exposto anteriormente, depende da tecnologia e é produto que tomou
dimensão global no início do século XXI.
Vários pensadores teorizaram sobre sociedades que tinham como base o
compartilhamento de produtos e serviços. Dentre eles destaca-se o filósofo e escritor
inglês Thomas Morus (1478-1535) com o seu livro “Utopia”, escrito em 1516, uma
ficção em que ele relatou a vida em sociedade, todos em uma ilha de mesmo nome,

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onde viviam compartilhando produtos e serviços sem a existência do dinheiro.


Destaca-se também o escritor britânico William Morris, autor do livro “Notícias de
lugar nenhum”, de 1891, em que também escreveu sobre uma sociedade justa, sem
diferenças sociais, também sem o dinheiro e com o compartilhamento dos bens e
serviços.
Charles Fourier (1772-1837) foi um francês e socialista utópico que idealizou
os “falanstérios”, palácios onde as pessoas morariam e dividiriam as tarefas, com
base na habilidade pessoal e vocação de cada um, e partilhariam os resultados dos
produtos e serviços através do consumo compartilhado, sem a necessidade do
dinheiro (BORGES, 2017, p. 262). A ideia de Fourier foi posta em prática por Jean
Baptiste André Godin (1817-1888) que implantou o “Familistério de Guise”, na
cidade do mesmo nome, na França. Godin adquiriu em 1859 uma propriedade
agrícola de 18 hectares, onde construiu um falanstério, com projeto inspirado no
Palácio de Versalhes (FREITAG, 2006, p. 54). Tendo funcionado por
aproximadamente 110 anos, onde as pessoas viveram compartilhando produtos e
serviços sem o dinheiro, hoje o “Familistério de Guise” é um museu vivo
administrado pela Comunidade Europeia.
E, dessa forma, fica registrado que vários são os casos de ideias, estudos,
experiências e fatos de convivência social baseada no compartilhamento de
produtos e serviços que não podem ser considerados Economia Compartilhada,
porque, para ter a denominação de Economia Compartilhada é condição sine qua
non que as pessoas estejam compartilhando conectadas em rede, pela internet, nos
seus aparelhos eletrônicos.
Com a chegada do século XXI, o compartilhamento passou a ganhar outra
conotação, pois houve mudanças importantes nas relações de consumo que
provocaram o surgimento da Economia Compartilhada. Essa, por sua vez, só foi
viabilizada graças ao avanço tecnológico ocorrido no século anterior, com destaque
para o desenvolvimento da internet e dos smartphones. Segundo o sociólogo
Manuel Castells (1999), a Internet viabilizou a criação, por exemplo, de redes de
fornecedores, de produtores, e de clientes.
O século XXI tem sido marcado também por mudanças nas relações de
trabalho, cuja instabilidade nos empregos aumenta a insegurança das famílias com
relação à renda. Quando a restrição ao consumo se impõe por alguma razão, os

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indivíduos buscam alternativas para viabilizá-lo. Uma dessas alternativas é o


compartilhamento de produtos e serviços, que permite o cidadão consumir, porém,
pagando um valor inferior ao que pagaria no consumo convencional. Em outras
palavras, é possível se deslocar de automóvel pelas cidades sem ser proprietário de
um carro: basta usar o aplicativo da empresa Uber. Mais ainda, é possível viajar e
pagar um custo menor de hospedagem através do aplicativo de compartilhamento
de habitação Airbnb.
A sociedade, então, passa a conhecer uma nova forma de consumo,
procurando por uma solução mais prazerosa, mais barata, com melhor comodidade
e praticidade e, segundo Gilles Lipovetsky (2007), o mais importante, muitas vezes,
é a experiência do consumo, intensificar o presente vivido, a convivência em
comunidades, afirmar a sua identidade, e não acumular coisas.
Em alguns casos, por conta da própria condição de uso e da necessidade, o
compartilhamento está ampliando o seu uso de forma mais rápida. Segundo Bardhi
e Eckhardt (2012), quem mora nas áreas centrais das grandes metrópoles e que
possui automóvel pode optar por vendê-lo, devido às limitações de espaço para
estacionamento, e quando precisarem do automóvel, utilizarão de forma
compartilhada. Os autores Mendes e Ceroy (2015) estudaram a mobilidade urbana
na cidade de São Francisco, na Califórnia, e constatou-se que o compartilhamento
dos automóveis colaborava com a redução dos problemas de tráfego, criando uma
“opção de mobilidade aos moradores da cidade, particularmente em cidades
grandes e densas como São Francisco, onde o estacionamento é restrito e o
transporte público incompleto” (CEVERO et al., 2014, p.18 apud MENDES;
CEROY, 2015, p. 14). Esse problema mundial, de falta de espaço para os
automóveis nos grandes centros urbanos, foi o fator principal do rápido sucesso
das empresas de compartilhamento de automóvel.
Sobre esse aspecto, destaca-se o trabalho realizado pela
PricewaterhouseCoopers3, em que se conclui que os aplicativos de transporte
individual “têm promovido uma espécie de reforma cultural”, deixando de ser
“imprescindível a aquisição de um automóvel próprio para se obter conforto e
comodidade no transporte pelas grandes cidades”, pois o transporte individual de

3
É uma das maiores prestadoras de serviços profissionais do mundo nas áreas de auditoria,
consultoria e outros serviços acessórios para todo tipo de empresas, no mundo inteiro.
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compartilhamento pode ser de “boa qualidade, [possuir] preço moderado e de


patente segurança” (MENDES; CEROY, 2015, p.14).
Existem relações de compartilhamento com características diferentes.
Analisa-se a seguir quatro formas que devem ser consideradas a partir da
existência de uma empresa ou o compartilhamento somente entre pessoas, e se
há ou não o pagamento em dinheiro na transação. Dessa forma temos as
seguintes divisões desses tipos de compartilhamento: a) de pessoa para pessoa
sem dinheiro; b) de empresa para pessoa sem dinheiro; c) de pessoa para pessoa
com dinheiro; e d) de empresa para pessoa com dinheiro.
A primeira delas, de pessoa para pessoa sem dinheiro, o compartilhamento
acontece quando existe uma vontade maior das pessoas em cooperar com o meio
ambiente, reduzir as desigualdades sociais, difundir a cultura e o conhecimento e
cooperar com a sociedade. Neste caso, pode-se citar o exemplo da brasileira
Lorrana Scarpioni que idealizou em 2012 o aplicativo Bliive. Nele, as pessoas
trocam experiências e habilidades sem a necessidade de pagamento: um professor
de violão dá aula sem cobrar para uma médica e a médica atende a uma terceira
pessoa que está doente; o pedreiro realiza um serviço na casa do dono da padaria
que, por sua vez, ensina as suas receitas para todos os vizinhos que se
interessarem. Dessa forma, as pessoas vão tendo experiências em uma forma de
consumo saudável, sem a necessidade do pagamento em dinheiro.
Vale registrar que não é a troca direta, o escambo, onde uma pessoa serve
a outra que o serviu. No Bliive todos registram o que fizeram e se creditam na
moeda TimeMoney, podendo consumir o seu crédito com uma terceira pessoa.
Logo, as horas trabalhadas da médica e do pedreiro têm o mesmo valor. Esses
movimentos que estão acontecendo na Economia Compartilhada são chamados
por Botsman e Rogers (2011) de reciprocidade indireta.
No segundo caso, de empresa para pessoa sem dinheiro, existem empresas
prestando serviços e entregando produtos sem a cobrança em dinheiro do
respectivo cliente. A Wikipédia talvez seja o exemplo mais contundente e, segundo
Murilo Corrêa (2008), a Wikipédia é um “novo modelo de enciclopédia”, “que
apresenta a informação sendo compartilhada de forma colaborativa, organizada e
em tempo real através da Internet”, “de livre acesso a todos”. A Wikipédia “é uma
rede de páginas web contendo as mais diversas informações, que podem ser

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modificadas e ampliadas por qualquer pessoa” (CORRÊA, 2008, p. 1), ou seja, um


espaço aberto para todos compartilharem informações.
O terceiro tipo, de pessoa para pessoa com dinheiro, acontece quando de
um lado está o consumidor, e do outro se tem um fornecedor do produto ou serviço
que deseja compartilhar. Nesse caso, há uma empresa intermediando as duas
partes. É possível citar duas grandes empresas multinacionais que se enquadram
nessa categoria: a Uber e o Airbnb. A Uber é uma empresa de transporte individual
que não é proprietária de um único automóvel utilizado nesse serviço, e o Airbnb é
a maior rede mundial de quartos disponíveis para locação sem ser proprietária de
nenhum imóvel para essa finalidade.
Os sistemas de informação dessas empresas unem as pessoas que querem
compartilhar os produtos ou serviços, fazendo a gestão dessa negociação entre as
partes. Elas são remuneradas com um percentual do dinheiro da transação
comercial entre as pessoas.
A quarta categoria é a de empresa para pessoa com dinheiro. Agora quem
fornece o serviço é uma empresa proprietária do produto a ser compartilhado.
Temos o caso da Yellow Bike – uma empresa de compartilhamento de bicicletas e
patinetes, que é a proprietária destes bens. As bicicletas e os patinetes ficam
espalhados pela cidade e são localizados pelos consumidores através dos seus
smartphones, pois possuem um chip conectado à internet, onde o consumidor
pode desbloqueá-lo para o uso e fazer o pagamento do tempo utilizado no
compartilhamento.
É importante ressaltar que o trabalho aqui proposto investiga o perfil do
consumidor, dentre os usuários do Facebook, com maior probabilidade de participar
da Economia Compartilhada no Brasil, com foco no compartilhamento de automóvel
e habitação e também nas questões de valores. Conforme alertado anteriormente,
este Artigo é o ponto de partida para o fornecimento de subsídios aos trabalhos
futuros que queiram explorar o tema inclusive com representatividade nacional.

3 DADOS E MÉTODO
Para a realização da Pesquisa empírica sobre Economia Compartilhada foi
lançado um questionário – que se encontra no Apêndice B – através do Facebook,
visando atingir todo o território brasileiro entre os dias 20 a 26 de novembro de 2018.

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Foram respondidos 2.357 questionários, mantendo a proporção dos entrevistados no


que diz respeito ao sexo e à população de cada um dos 26 estados e o Distrito
Federal, tendo como base os dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
Importante registrar que, provavelmente, até o momento, esta é a única
pesquisa sobre Economia Compartilhada de abrangência nacional disponível ao
público.
Pesquisas pelo Facebook já são uma realidade na Academia. Um dos
principais motivos é a facilidade e o baixo custo em acessar uma grande quantidade
de pessoas em um espaço territorial extenso. Como sugerido por Samuels e Zucco
(2013).

We consider the use of Facebook to recruit participants for online survey-


experimental studies of public opinion. Based on two such studies we
recently conducted, we discuss sample composition, attention to the task,
and the possibility of rewarding participants through a lottery. We show that
Facebook can be a cost-effective tool for rapidly recruiting large samples of
participants anywhere in the world (SAMUELS; ZUCCO, 2013, p. 1).

O Brasil é um país com 209 milhões de habitantes (IBGE, 2019), distribuídos


de forma desequilibrada no que diz respeito à densidade, e com locais de difícil
acesso. Portanto, o Facebook, que no Brasil tem aproximadamente 130 milhões de
usuários (TECMUNDO, 2019), mais de 60% da população brasileira, se torna uma
importante ferramenta para a realização de pesquisas de abrangência nacional.
Outros autores também destacam a relevância da utilização do Facebook
como instrumento para a aplicação de questionários, tais como Rife et al. (2016) e
Kosinski et al (2015). Esses últimos apontam que:

Facebook is rapidly gaining recognition as a powerful research tool for the


social sciences. It constitutes a large and diverse pool of participants, who
can be selectively recruited for both online and offline studies. Additionally, it
facilitates data collection by storing detailed records of its users’
demographic profiles, social interactions, and behaviors. With participants’
consent, these data can be recorded retrospectively in a convenient,
accurate, and inexpensive way (KOSINSKI; MATZ; GOSLING; POPOV;
STILLWELL, 2015, p. 3).

Visando identificar o padrão das respostas dos 2.357 entrevistados,


especialmente para observar sua coerência, tentou-se verificar se existem fatores

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comuns que refletem algum conjunto de valores. Para tanto, fez-se uso de Análise
Fatorial.
Segundo Fávero (2009), a Análise Fatorial é uma técnica de interdependência
que tem como principais objetivos o resumo e a redução dos dados, buscando
identificar fatores comuns. Nessa ótica, ela pode auxiliar na criação de novas
variáveis como substituídas dos dados originais. Através das correlações
observadas dos dados, esta técnica estima os fatores comuns4, ou dimensões
latentes, que irão permitir a simplificação ou a redução do número de variáveis.
Fávero (2009) também afirma que para melhores resultados é desejável haver um
pouco de multicolinearidade, e a inspeção visual da matriz de correlação deve
apresentar um número razoável de correlações superiores a 0,30, e que há dois
modelos fatoriais básicos. O primeiro é conhecido como análise de componentes
principais, e o segundo consiste na análise fatorial comum. O primeiro procedimento
utiliza três tipos de variância para derivar soluções fatoriais 5. O segundo, por sua
vez, baseia-se somente na variância comum. O presente trabalho se utiliza do
método de componentes principais, pois ele é mais apropriado quando a
preocupação principal é a previsão ou o número mínimo de fatores para explicar a
parte máxima da variância dos dados originais.
Existem alguns critérios que ajudam o pesquisador a definir o número de
fatores a extrair. No mais utilizado, o da raiz latente, somente os fatores que
possuem raiz latente ou autovalores maiores que um, são considerados
significativos. O critério do gráfico Scree servirá de auxílio à raiz latente. Segundo
Hair (2005), esse método é utilizado para identificar o número ótimo de fatores que
podem ser extraídos antes que a variância única comece a dominar a estrutura da
variância comum.
É importante destacar que o estudo de Análise Fatorial sugere que, em um
determinado momento, os fatores sejam rotacionados para redistribuir a variância e,
assim, oferecer ao pesquisador a oportunidade de ter uma visão diferenciada dos
fatores.

4
Segundo Hair (2005), um fator é a combinação linear das variáveis originais. Os fatores também
representam as dimensões latentes que resumem ou explicam o conjunto original das variáveis
observadas.
5
De acordo com Hair (2005), existem três tipos de variância em análise estatística. A variância
comum, que é a poção da variância para qual todas as variáveis covariam juntas; a variância
única, a parte da variância que é específica para somente uma variável e, por fim, a variância de
erro que é a parte da variância decorrente do erro na coleta de dados, por exemplo.
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Além de verificar a coerência das respostas, pretende-se com a Análise


Fatorial construir uma espécie de “Indicador do Compartilhamento” para em seguida
estudar os seus determinantes através de uma Análise de Regressão. É importante
lembrar que os resultados estão restritos à amostra considerada, a qual tem natural
problema de viés, pois a amostra foi coletada pelo Facebook conforme procedimento
já exposto. Contudo, acredita-se que este trabalho fornece insights importantes para
trabalhos futuros.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a realização da Análise Fatorial, cujo objetivo inicial é verificar a
coerência das respostas, o primeiro passo foi construir uma matriz de correlação
policórica, pois a maioria das respostas dos dados são ordinais. Nesse sentido, a
matriz, que pode ser verificada em anexo, foi construída a partir das respostas para
as seguintes questões:
1 – (automóvel_terceiros) Você prefere, sempre que precisar, usar um
automóvel compartilhado a ter um automóvel próprio. Opções de resposta: concordo
plenamente; concordo parcialmente; não concordo nem discordo; discordo
parcialmente; discordo plenamente.
2 – (automóvel_próprio) Tendo um automóvel com ociosidade de uso, você
estaria disposto a compartilhá-lo? Opções de resposta: sim; talvez; não.
3 – (habitação_ociosa) Sendo proprietário de um imóvel ocioso, você estaria
disposto a compartilhá-lo. Opções de resposta: concordo plenamente; concordo
parcialmente; não concordo nem discordo; discordo parcialmente; discordo
plenamente.
4 – (habitação_casa) Você compartilharia um quarto de sua casa/apartamento
para um turista? Opções de resposta: sim; não.
5 – (habitação_turista) Na condição de turista, qual opção você preferiria?
Opções de resposta: fico no quarto compartilhado até pelo mesmo preço do hotel; só
fico no quarto compartilhado se for mais barato; sempre prefiro ficar hospedado em
um hotel.
6 – (propriedade) Você não faz questão de ser o dono de um determinado
produto, desde que você possa utilizá-lo. Opções de resposta: concordo
plenamente; concordo parcialmente; não concordo nem discordo; discordo
parcialmente; discordo plenamente.
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7 – (meio_ambiente) Você está disposto a mudar o seu estilo de vida para


colaborar com o meio ambiente? Opções de resposta: extremamente disposto; muito
disposto; mais ou menos disposto; pouco disposto; nada disposto.
8 – (solidariedade) Uma sociedade mais solidária e justa é importante para
você. Opções de resposta: concordo plenamente; concordo parcialmente; não
concordo nem discordo; discordo parcialmente; discordo plenamente.
9 – (tecnologia) Você se adapta bem aos avanços da tecnologia. Opções de
resposta: concordo plenamente; concordo parcialmente; não concordo nem
discordo; discordo parcialmente; discordo plenamente.
Antes de prosseguir, é importante demonstrar se esta técnica é ou não
factível. Para isso, fez-se o teste KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) apresentado na Tabela
1. De acordo com Fávero (2009), este teste, que varia entre 0 e 1, compara as
correlações simples com as parciais observadas entre as variáveis. Quanto mais
próxima de um, maior será a qualidade da Análise Fatorial.

Tabela 1 – Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) – Medida de adequação da amostragem

Variável KMO
automóvel_terceiros 0,8163
automóvel_próprio 0,8009
habitação_ociosa 0,8232
habitação_casa 0,7316
habitação_turista 0,7132
propriedade 0,7670
meio_ambiente 0,6941
solidariedade 0,6836
tecnologia 0,5660
Média 0,7501
Fonte: o Autor.

O teste KMO indica se a Análise Fatorial é adequada ao conjunto de dados


em questão. Um valor total de 0,75, conforme a Tabela 1, é considerado um número
razoável, segundo Hair (2005) e Fávero (2009). Para determinar o total de fatores
que podem ser extraídos, recorreu-se ao critério convencional dos autovalores
maiores que um. Conforme o Gráfico 1 e a Tabela 2, as nove variáveis originais
poderiam ser transformadas em três fatores:

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Gráfico 1 – Scree plot of eigenvalues after factor

Scree plot of eigenvalues after factor

3
2.5
Eigenvalues

2
1.5
1
.5

0 2 4 6 8 10
Number

Fonte: o Autor.
Factor analysis/correlation Number of obs = 2,259
Method: principal-component factors Retained factors = 3
Rotation: orthogonal varimax (Kaiser off) Number of params = 24
Tabela 2 – Análise Fatorial

Factor Variance Difference Proportion Cumulative

Factor1 2.33399 0.54227 0.2593 0.2593


Factor2 1.79172 0.75148 0.1991 0.4584
Factor3 1.04024 . 0.1156 0.5740

LR test: independent vs. saturated: chi2(36) = 3594.06 Prob>chi2 = 0.0000


Fonte: o Autor.
Método: componentes principais com rotação Varimax.

Neste primeiro momento, o objetivo é apenas verificar se as respostas


dos entrevistados apresentam coerência. A princípio, dois conjuntos de informações
poderiam ser extraídos. As cargas fatoriais rotacionadas revelam que no primeiro
fator cinco variáveis são mais relevantes: automóvel_terceiros, automóvel_próprio,
habitação_ociosa, habitação_casa e habitação_turista. Todas elas estão associadas
ao desejo de participar do compartilhamento, seja enquanto consumidor ou ofertante
de algum serviço. No segundo fator, destacam-se três variáveis: propriedade,
meio_ambiente e solidariedade. Elas refletem valores dos indivíduos como a
importância dada pelo indivíduo a ser proprietário do produto no ato do consumo, a
preocupação com o meio ambiente e se consideram importante viver em uma
sociedade mais solidária e justa. Por fim, a variável associada à adaptação
tecnológica é a mais representativa do terceiro fator, fato que nos fez eliminá-la dos

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estudos. As cargas fatoriais podem ser vistas nas Tabelas que estão no Apêndice A.
O Gráfico 2 a seguir mostra como as variáveis estão associadas.

Gráfico 2 – Cargas fatoriais

Factor loadings
.8

solidaria
meio_ambie~e
ser_dono
.6
Factor 2

.4

carro_comp
imovel_oci~o
.2

carro_ocioso

tecnologia casa_turista

turista_ho~l
0

0 .2 .4 .6 .8
Factor 1

Rotation: orthogonal varimax


Method: principal-component factors

Fonte: o Autor.

Esta primeira avaliação descritiva mostra que há alguma coerência nas


respostas dos questionários. Ademais, talvez seja possível a construção de um
indicador composto apenas pelas variáveis que revelam alguma predisposição ao
compartilhamento.
O passo seguinte foi a construção desse indicador de compartilhamento.
Procedeu-se, então, uma Análise Fatorial apenas com as variáveis
automóvel_terceiros, automóvel_próprio, habitação_ociosa, habitação_casa e
“habitação_turista”. Como elas foram as mais relevantes no primeiro fator da análise
anterior, sua combinação linear refletida em uma só variável fornece um indicativo
sobre o compartilhamento. Os resultados em anexo mostram a construção, portanto,
de uma variável chamada “Compartilhar”. Esta nova variável será considerada em
um modelo de regressão linear como variável dependente conforme o Quadro 1.

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Quadro 1 – Nome e descrição das variáveis

Variável Código Descrição


Compartilhar Compartilhar Variável dependente. É um fator construído a partir
da Análise Fatorial das variáveis que indicam a
predisposição ao compartilhamento.
Sexo Sexo Uma das variáveis explicativas. O objetivo é verificar
se homens e mulheres têm predisposições diferentes
ao compartilhamento.
Nível de Escolaridade Escolaridade Nível de escolaridade indicado pelos respondentes.
As opções foram: ensino fundamental completo;
ensino médio completo; ensino superior completo; e
pós-graduação completa. Procura-se investigar a
interferência do nível de escolaridade no
compartilhamento.
Idade Idade Faixa etária dos indivíduos que responderam ao
questionário. Acredita-se que os mais jovens tendem
a estarem mais dispostos ao compartilhamento. As
opções são: até 20 anos; entre 21 e 30; de 31 a 39
anos; entre 40 e 59; e acima dos 60 anos.
Estado civil estado_civil Diz respeito ao estado civil dos respondentes.
Espera-se que os casados tenham menor
probabilidade de participar do compartilhamento que
os solteiros. As opções são: solteiro; casado;
divorciado ou separado; e viúvo.
Renda familiar mensal Renda Remete à faixa de renda familiar mensal dos
entrevistados. Espera-se que quanto menor a faixa
de renda, mais disposto o indivíduo está ao
compartilhamento. As opções são: Classe E; Classe
D; Classe C; e Classes A e B.
Região onde mora Região São dummies com o objetivo de investigar se há
alguma diferença entre a intenção do indivíduo de
compartilhar em relação à região do Brasil em que
ele mora.
Proxy para a importância da propriedade Respostas dadas à afirmação: “você não faz questão
propriedade de ser o dono de um determinado produto, desde
que você possa utilizá-lo”. Acredita-se que aqueles
que não fazem questão de ser proprietário de algo,
são os que mais tendem a compartilhar.
Proxy para a importância meio_ambiente Respostas dadas à pergunta: “você está disposto a
atribuída ao meio ambiente mudar o seu estilo de vida para colaborar com o meio
ambiente?” Acredita-se que aqueles que valorizam o
meio ambiente devem compartilhar mais.
Proxy para a solidariedade solidariedade Respostas dadas à questão: “Uma sociedade mais
solidária e justa é importante para você”. Acredita-se
que aqueles cujo valor de solidariedade é mais forte,
estão mais dispostos a compartilhar.
Proxy para a confiança confiança Dummy igual a 1. Se o indivíduo respondeu que “a
maioria das pessoas é de confiança” para a
pergunta: “Falando de um modo geral, você diria que
a maioria das pessoas é de confiança ou é preciso
ter cuidado ao lidar com elas?”. Acredita-se que
aqueles que confiam mais nos outros têm maior
probabilidade de participar da Economia
Compartilhada.
Fonte: o Autor.

Os resultados da estimação pelo método dos mínimos quadrados


ordinários (MQO) são reportados na Tabela 3. Uma ressalva importante é que os
resultados são restritos à amostra coletada para este trabalho, a qual, tal como
alertado, tem problema de viés por conta de ter sido obtida através dos usuários do
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Facebook. Porém, este é um exercício que deve fornecer insights para o


desenvolvimento de trabalhos futuros.

Tabela 3 - Análise de Regressão: Método dos mínimos quadrados ordinários (MQO)

Variável explicativa Coeficiente Erro padrão Estatística p-Valor


1 – Sexo: feminino -0,108*** 0,031 -3,520 0,000

2 – Nível de escolaridade:
ensino médio completo 0,126*** 0,041 3,070 0,002
ensino superior completo 0,049 0,056 0,880 0,381
pós-graduação completa 0,033 0,061 0,540 0,588

3 – Idade: de 21 a 30 anos 0,062 0,040 1,540 0,124


de 31 a 39 anos 0,025 0,062 0,400 0,690
de 40 a 59 anos 0,008 0,055 0,140 0,887
acima de 60 anos 0,018 0,077 0,240 0,811

4 – Estado civil: casado -0,163*** 0,037 -4,410 0,000


divorciado e separado -0,028 0,068 -0,410 0,682
viúvo 0,277* 0,150 1,850 0,065

5 – Renda familiar mensal:


Classe D 0,000 0,034 0,000 0,999
Classe C -0,092** 0,043 -2,130 0,033
Classes A e B -0,133** 0,052 -2,570 0,010

6 – Região em que mora:


Nordeste 0,026 0,035 0,760 0,448
Centro-Oeste 0,051 0,049 1,050 0,295
Sudeste 0,034 0,058 0,580 0,562
Sul 0,063 0,042 1,500 0,133

7 – Propriedade: + 0,209*** 0,054 3,870 0,000


+/- 0,233*** 0,052 4,480 0,000
- 0,421*** 0,048 8,740 0,000
não faz questão de ser dono 0,544*** 0,053 10,290 0,000

8 – Meio ambiente: - 0,156 0,110 1,420 0,156


+/- 0,255** 0,100 2,550 0,011
+ 0,373*** 0,101 3,700 0,000
muda o estilo de vida 0,407*** 0,105 3,870 0,000
9 – Solidariedade: - -0,002 0,133 -0,010 0,989
+/- -0,019 0,115 -0,160 0,872
+ -0,021 0,104 -0,200 0,841
mais importante 0,103 0,102 1,000 0,316
10 – Confiança: confia nas pessoas 0,226*** 0,046 4,900 0,000
Constante 1,450*** 1,134 10,830 0,000
Referência: (***) Significativo a 1%, nível de significância alto.
(**) Significativo a 5%, nível de significância médio.
(*) Significativo a 10%, nível de significância baixo.
Fonte: o Autor.

Conforme pode ser visto na Tabela 3, quando todas as variáveis são


consideradas conjuntamente, nota-se que as mulheres parecem estar menos
propensas ao compartilhamento que os homens. Esse resultado talvez possa ser
explicado pelo fato do compartilhamento aproximar pessoas desconhecidas e com o
alto nível de insegurança social do Brasil, onde certamente as mulheres correm mais
risco na aproximação entre pessoas desconhecidas.

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Os indivíduos que concluíram o ensino médio estão mais dispostos a


compartilhar do que aqueles que concluíram o ensino fundamental; contudo, aqueles
com níveis de escolaridade mais elevado (com graduação e pós-graduação) não
tendem a compartilhar mais que os menos escolarizados.
Foi possível notar que os casados têm menor predisposição a participar do
compartilhamento do que os solteiros. Percebeu-se, também, que os viúvos
parecem ter mais disposição a compartilhar que os solteiros. Esse resultado talvez
tenha uma lógica social que requer uma análise posterior específica. As pessoas
solteiras e viúvas teriam mais interesse em compartilhar por conta da aproximação
entre pessoas propiciada pelo compartilhamento.
Vale ressaltar que, ao contrário do que se pensava inicialmente, a idade não
apresentou resultados significativos. Ou seja, a estimação revela que não existem
diferenças estatisticamente significativa na propensão a compartilhar entre as faixas
etárias. Embora os jovens estejam mais familiarizados com a tecnologia e, portanto,
têm mais contatos com o mundo virtual, o compartilhamento de automóveis e
habitação – que é abordado neste artigo – parece ser um serviço consumido pelas
mais diversas faixas de idade.
Tal como era esperado, a predisposição ao compartilhamento parece ser uma
característica daqueles com menor faixa de renda. De acordo com os resultados, as
classes mais altas têm menor interesse em participar da Economia Compartilhada
do que aqueles que recebem menos. Isto tem coerência com a teoria da Economia
Compartilhada, cuja ampliação ocorreu com crise econômica internacional em 2007-
2008, pois para economizar recursos as pessoas passaram a compartilhar produtos
e serviços.
Registra-se que não foi possível identificar diferenças regionais. O Brasil é um
país com dimensão continental e alta desigualdade social; ademais, a população
tem culturas e hábitos diferentes. Contudo, não foi possível observar que tais
distinções tenham efeitos sobre a propensão ao compartilhamento. Como o estudo
foi realizado para um público específico, os usuários de Facebook, é possível que a
eventual diferença regional tenha sido ocultada.
Por fim, é válido analisar quatro variáveis que remetem, de alguma forma, a
um conjunto de valores pertencentes aos indivíduos. Por exemplo, aqueles que
responderam que “a maioria das pessoas é de confiança” têm mais predisposição a

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compartilhar que aqueles que disseram que “é preciso ter cuidado” ao lidar com os
outros. Isto significa que a Economia Compartilhada deve ter maior probabilidade de
sucesso num ambiente em que as pessoas confiam umas nas outras. Porém, a
confiança é um valor relativamente escasso no Brasil, pois que apenas cerca de
7,1% dos brasileiros confiam nas pessoas em geral, tal como apresentado por
Inglehart et al. (2014) através da World Values Survey.
Vale frisar que Botsman e Rogers (2011) defendem que a confiança nas
relações sociais, organizações e instituições tende a influenciar significativamente
o consumo compartilhado (MAURER et al., 2015, p.68) e, segundo Kiyonari,
Yamagishi, Cook e Cheshire (2006), a maioria dos estudiosos, assim como os
cidadãos comuns, acreditam que a confiança é um importante lubrificante das
relações sociais.
A preocupação com o meio ambiente, bem como a pouca importância dada
ao “ter” são características dos que tendem a compartilhar. Aqueles que
responderam “extremamente disposto” ou “muito disposto” a pergunta: “você está
disposto a mudar o seu estilo de vida para colaborar com o meio ambiente?”
mostram-se mais propícios ao compartilhamento. A preocupação com relação à
questão ambiental no momento do consumo faz parte de um pensamento mais
amplo que está ligado a ética do consumo, onde uma parcela da sociedade
condiciona a compra de um determinado produto ou a utilização de um serviço a
questões éticas, tais como: respeito ao meio ambiente, ausência de trabalho
escravo, respeito às minorias e diversidade na contratação da mão de obra,
preferência por utilização das forças de produção locais, não agressão aos
animais.
Sob este aspecto, vale registrar o trabalho de Coelho et al (2015). Os
autores elaboraram uma pesquisa pelo suporte digital Google Drive com 308
pessoas residentes no Brasil e todas com mais de 18 anos, para “analisar os
principais determinantes do comportamento do consumidor no contexto brasileiro,
face ao consumo ético”. Eles analisaram as variáveis que remeteram ao
“individualismo, egoísmo e orientação comunitária”, “sensibilidade ao preço” e
“satisfação com a vida e na compra compulsiva”. Concluiu-se que o cliente mais
propenso a ter um consumo ético é aquele “com alto nível escolar, [alta] renda
familiar, [e o que está] ocupado”. Na referida pesquisa também se concluiu que

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existe uma “correlação negativa entre o individualismo, o egoísmo e o consumo


ético, bem como uma correlação positiva entre o consumo ético e a orientação
comunitária”. Os resultados ainda indicaram que “parece existir” uma relação
“negativa” do consumo ético com a “sensibilidade ao preço, satisfação de vida e
compra compulsiva” (COELHO, 2015, p.22).
Notou-se, também, que os indivíduos que mais concordaram com a seguinte
afirmação “Eu não faço questão de ser o dono de um determinado produto, desde
que eu posso utilizá-lo” tendem a participar mais do compartilhamento de
automóveis e habitação. Este é um resultado que parece intuitivo, pois compartilhar
pressupõe renunciar ao uso exclusivo de um bem. Por outro lado, não há diferença
estatisticamente significativa entre aqueles que mais concordaram com a seguinte
frase: “Uma sociedade mais solidária e justa é importante para mim”.
Em suma, os resultados da análise multivariada se assemelham com algumas
impressões iniciais. Em grandes linhas, este primeiro estudo, que deverá servir de
base para trabalhos posteriores, sugere que o perfil daqueles mais pré-dispostos a
participar do compartilhamento de automóvel e habitação são homens, solteiros e
viúvos, com menor nível de renda e escolaridade. Além do mais, quem mais está
disposto a participar da Economia Compartilhada são aqueles que confiam nas
pessoas em geral. Isto parece ser o principal gargalo para o desenvolvimento desta
atividade no Brasil. Destaca-se, ainda, que a preocupação ambiental é um valor
daqueles que desejam compartilhar.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme exposto neste trabalho, o compartilhamento sempre existiu na
sociedade. No entanto, ele ganhou dimensão global no século XXI com o
desenvolvimento da internet e dos smartphones. Especialmente após a crise
financeira internacional de 2007-2008, momento em que as pessoas queriam manter
o consumo em alta, mas precisavam economizar recursos financeiros no ato do
consumo.
Este trabalho demonstrou os vários tipos de compartilhamento: i) de pessoa
para pessoa sem dinheiro; ii) de empresa para pessoa sem dinheiro; iii) de pessoa
para pessoa com dinheiro; e iv) de empresa para pessoa com dinheiro. Ademais,

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foi possível perceber que grandes empresas internacionais como Uber e Airbnb,
por exemplo, estão inseridas dentro do que se chama de Economia Compartilhada.
Do ponto de vista empírico, o artigo apresentou dados sobre a percepção dos
usuários do Facebook a respeito do compartilhamento de automóveis e habitação.
Foi lançado um questionário através do Facebook, visando atingir todo o território
nacional entre os dias 20 e 26 de novembro de 2018. A divulgação do post com o
questionário foi feita com publicidade paga e 2.357 usuários responderam.
É importante registrar ao leitor sobre as limitações da amostra desta
pesquisa. A despeito de muitos estudos acadêmicos utilizarem a ferramenta do
Facebook para coletar dados primários, é preciso ter cautela em relação aos
resultados. Há um viés na amostra que deve ser registrado. Estudos posteriores
podem ser realizados a fim de obter amostras com representatividade estatística em
todo o território nacional.
Para se chegar ao perfil do consumidor com maior probabilidade de
compartilhar automóvel e habitação fez-se a Análise Fatorial e a Análise de
Regressão com os dados dos 2.357 questionários e se chegou ao seguinte perfil
deste consumidor: homem, cuja faixa etária e a região em que mora no Brasil não é
muito relevante, viúvo ou solteiro, com menor nível de renda e escolaridade, que
não faz questão de ser dono de um determinado produto e está disposto a mudar o
seu estilo de vida para colaborar com o meio ambiente; ademais, este consumidor
típico considera a maioria das pessoas de confiança.
Sobre esta última questão, o trabalho demonstrou um resultado que pode
limitar o potencial de desenvolvimento desta atividade. Quando foi feita a seguinte
pergunta aos entrevistados: “Falando de um modo geral, você diria que a maioria
das pessoas é de confiança ou é preciso ter cuidado ao lidar com elas?”, somente
11% dos entrevistados responderam: “a maioria das pessoas é de confiança”. A
confiança é um elemento importante para o compartilhamento, mas este parece ser
um valor escasso no Brasil, especialmente quando comparando com outros países.

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APÊNDICE A

Tabela 1A – Matriz de correlação policórica


aut_pró aut_ter hab_cas hab_tur meio_amb tecno solid prop
aut_próprio 1
aut_terceiros 0.34 1.00
hab_casa 0.24 0.35 1.00
hab_turista 0.25 0.33 0.57 1.00
meio_ambiente 0.13 0.18 0.17 0.08 1.00
tecnologia 0.04 0.00 0.09 0.00 0.05 1.00
solidariedade 0.15 0.16 0.24 0.14 0.39 0.16 1.00
propriedade 0.29 0.21 0.18 0.17 0.20 0.03 0.38 1.00
Fonte: o Autor.

Rotated factor loadings (pattern matrix) and unique variances


Tabela 2 - A Rotated factor loadings (pattern matrix) and unique variances

Variable Factor1 Factor2 Factor3 Uniqueness

. polychoric carro_comp carro_ocioso casa_turista turista_hotel


carro_comp 0.4667 0.6228
carro_ocioso 0.6447 0.4938
Polychoric correlation matrix
casa_turista 0.7683 0.3616
turista_ho~l 0.8038 0.3509
carro_comp carro_ocioso casa_turista turista_hotel
meio_ambie~e 0.7085 0.4934
carro_comp 1
tecnologia 0.8962 0.1842
carro_ocioso .34354024 1
solidaria 0.7696 0.3302
casa_turista .23734479 .35381096 1
ser_dono 0.6730 0.4807
turista_hotel .24519196 .33122473 .57196814 1
imovel_oci~o 0.6382 0.5163
. matrixFonte: o Autor.
R = r(R)

. factormat R, pcf n(2259) blanks(0.5)


(obs=2,259) Tabela 3A – Análise Fatorial para as variáveis de compartilhamento

Factor analysis/correlation Number of obs = 2,259


Method: principal-component factors Retained factors = 1
Rotation: (unrotated) Number of params = 4

Factor Eigenvalue Difference Proportion Cumulative

Factor1 2.05700 1.17606 0.5143 0.5143


Factor2 0.88094 0.24566 0.2202 0.7345
Factor3 0.63528 0.20849 0.1588 0.8933
Factor4 0.42679 . 0.1067 1.0000

LR test: independent vs. saturated: chi2(6) = 1603.90 Prob>chi2 = 0.0000


Fonte: o Autor.
Factor loadings (pattern matrix) and unique variances

Variable Factor1 Uniqueness

carro_comp 0.5846 0.6583


carro_ocioso 0.6979 0.5129
casa_turista 0.7871 0.3805
turista_ho~l 0.7802 0.3913
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BA –represent
(blanks
Salvador, p. 352 – 377.
abs(loading)<.5)

. estat kmo
|.......................................................| Barreto Júnior, Lopes |...........................................................| 375 |

Tabela 4A – Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) Medida de adequação da amostragem

Variável KMO
automóvel_terceiros 0,7327
automóvel_próprio 0,7377
habitação_casa 0,6331
habitação_turista 0,6371
Média 0,6688
Fonte: o Autor.

APÊNDICE B

QUESTIONÁRIO

1. Qual é o seu sexo?


( ) Feminino
( ) Masculino

2. Qual o nível de escolaridade mais alto que você completou?


( ) Ensino fundamental
( ) Ensino médio
( ) Ensino superior
( ) Pós-graduação

3. Qual é a sua idade?


( ) 15 anos ou menos
( ) 16 a 20 anos
( ) 21 a 25 anos
( ) 26 a 30 anos
( ) 31 a 39 anos
( ) 40 a 49 anos
( ) 50 a 59 anos
( ) 60 anos ou mais

4. Qual das opções abaixo melhor descreve seu estado civil atual?
( ) Casado(a), em uma união estável ou casamento civil
( ) Viúvo(a)
( ) Divorciado(a); Separado(a)
( ) Solteiro(a)

5. Aproximadamente, qual é a sua renda familiar mensal?


( ) Classe E: 0 a 2 S.M.
( ) Classe D: 2 a 4 S.M.
( ) Classe C: 4 a 10 S.M.
( ) Classes A e B: acima de 10 S.M.

6. Em que estado brasileiro você mora?

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Salvador, BA – p. 352 – 377.
|............................| Economia compartilhada no Brasil e o perfil do consumidor... |.......................| 376 |

( ) Acre
( ) Alagoas
( ) Amapá
( ) Amazonas
( ) Bahia
( ) Ceará
( ) Distrito Federal
( ) Espírito Santo
( ) Goiás
( ) Maranhão
( ) Mato Grosso
( ) Mato Grosso do Sul
( ) Minas Gerais
( ) Pará
( ) Paraíba
( ) Paraná
( ) Pernambuco
( ) Piauí
( ) Rio de Janeiro
( ) Rio Grande do Norte
( ) Rio Grande do Sul
( ) Rondônia
( ) Roraima
( ) Santa Catarina
( ) São Paulo
( ) Sergipe
( ) Tocantins

7. Você prefere, sempre que precisar, usar um automóvel compartilhado a ter


um automóvel próprio.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente

8. Tendo um automóvel com ociosidade de uso, você estaria disposto a


compartilhá-lo?
( ) Sim
( ) Talvez
( ) Não

9. Sendo proprietário de um imóvel ocioso, você estaria disposto a


compartilhá-lo.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente

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Salvador, BA – p. 352 – 377.
|.......................................................| Barreto Júnior, Lopes |...........................................................| 377 |

10. Você compartilharia um quarto de sua casa/apartamento para um turista?


( ) Sim
( ) Não

11. Na condição de turista, qual opção você preferiria?


( ) Fico no quarto compartilhado até pelo mesmo preço do hotel
( ) Só fico no quarto compartilhado se for mais barato
( ) Sempre prefiro ficar hospedado em um hotel

12. Você não faz questão de ser o dono de um determinado produto, desde que
você possa utilizá-lo.
( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente

13. Você está disposto a mudar o seu estilo de vida para colaborar com o meio
ambiente?
( ) Extremamente disposto
( ) Muito disposto
( ) Mais ou menos disposto
( ) Pouco disposto
( ) Nada disposto

14. Uma sociedade mais solidária e justa é importante para você.


( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente

15. Falando de um modo geral, você diria que a maioria das pessoas é de
confiança ou é preciso ter cuidado ao lidar com elas?
( ) A maioria das pessoas é de confiança
( ) É preciso ter cuidado ao lidar com elas

16. Você se adapta bem aos avanços da tecnologia.


( ) Concordo plenamente
( ) Concordo parcialmente
( ) Não concordo nem discordo
( ) Discordo parcialmente
( ) Discordo plenamente

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