Processo Penal Teoria Geral Dos Recursos

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Processo Penal

Teoria Geral dos Recursos


EXTENSIVO MPE
RUMO AO MP
PROCESSO PENAL

Atualizado em 20/04/24

SUMÁRIO
PROCESSO PENAL ................................................................................................................................................................................. 3
1. DOS RECURSOS EM GERAL ............................................................................................................................................................... 3
2. PRINCÍPIOS RELATIVOS AOS RECURSOS .......................................................................................................................................... 3
3. TAXATIVIDADE................................................................................................................................................................................... 3
4. UNIRRECORRIBILIDADE DAS DECISÕES............................................................................................................................................ 3

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
5. FUNGIBILIDADE RECURSAL............................................................................................................................................................... 4
6. PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS E A PERMISSÃO DA REFORMATIO IN MELLIUS ............................................................... 5
7. DISPONIBILIDADE .............................................................................................................................................................................. 8
8. PRINCÍPIO DO NON REFORMATIO IN PEJUS DIRETA E INDIRETA ................................................................................................. 14

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PROCESSO PENAL

DOS RECURSOS EM GERAL

Agora vamos falar sobre recursos. Não quero perder tempo falando dos mesmos efeitos tratados nos
recursos cíveis (ex.: efeito suspensivo, interruptivo, etc.). Portanto, tratarei aqui apenas de assuntos que não
sejam idênticos aos do processo civil, para não haver “bis in idem” de conteúdo e perda de tempo, já que o

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
seu tempo é muito valioso e precisamos saber utilizá-lo bem.

OBS: Sobre recursos, atenção especial à Lei nº 14.836 2024, que alterou a Lei 8.038/1990 e o Código de
Processo Penal - CPP, para prever nova consequência relativa ao resultado de julgamento em matéria penal ou
processual penal em órgãos colegiados e dispor sobre a concessão de habeas corpus de ofício. Além disso,
com a Lei 14.836/2024, o habeas corpus coletivo passa a ter previsão legal no ordenamento jurídico brasileiro.

PRINCÍPIOS RELATIVOS AOS RECURSOS

TAXATIVIDADE

Segundo Gustavo Badaró (2015, Processo Penal, p. 803), o princípio da taxatividade determina que
somente podem ser utilizados os recursos expressamente previstos em lei e nos casos em que a lei os admite.
Assim, a lei deve estabelecer:

(1) o rol dos recursos utilizáveis e

(2) as hipóteses de cabimento dos recursos. Embora o rol de recursos e as hipóteses de recorribilidade
sejam taxativamente previstos em lei, é possível o emprego da INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA (CPP, art. 3º)
quanto às hipóteses de cabimento.

UNIRRECORRIBILIDADE DAS DECISÕES

Lembra Badaró que “cada decisão corresponde a um único recurso. Uma única decisão não poderá ser
impugnada por mais de um recurso. Consequência de tal princípio é o art. 593, § 4º, do CPP, que veda a
utilização do recurso em sentido estrito, se da decisão couber apelação. No caso de decisões objetivamente
complexas, com capítulos distintos, pode ser cabível um recurso para cada capítulo. Assim, por exemplo, se o
acórdão unânime do Tribunal de justiça contiver uma parte que violou a lei federal e outra que contrariou a
Constituição, contra a primeira deverá ser interposto o recurso especial, enquanto a segunda será impugnada
por meio de recurso extraordinário” (Badaró, 2015, p. 803).

De início, é de se destacar que a sucumbência recíproca, ou seja, quando há interesse recursal tanto
para a acusação como para a defesa, não representa exceção ao princípio da unirrecorribilidade. Isso porque
a unirrecorribilidade só se configura quando a decisão é desafiada por uma única espécie recursal, o que não
significa um único recurso. Por isso, o fato de a acusação e a defesa poderem recorrer de uma mesma decisão,

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através de apelação por exemplo, não excepciona o princípio, já que temos uma única espécie recursal –
apelação.

Além da exceção apresentada por BADARÓ, concernente à possibilidade de interposição


contemporânea de recurso especial e recurso extraordinário, ainda podemos apontar a possibilidade de
interposição de embargos infringentes e RESP/RE. Os embargos infringentes e de nulidade estão previstos no
CPP (artigo 609 e seguintes) e são admissíveis apenas contra acórdãos não unânimes. Todavia, um mesmo

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
acórdão pode ser unanime em relação a um determinado capítulo (autoria, por exemplo) e não unanime em
relação a outro capítulo (materialidade ou dosimetria, por exemplo). Nesse caso, contra o capítulo unânime,
não caberiam embargos, mas, havendo vício de legalidade e/ou de constitucionalidade, caberia RESP e/ou RE.
Por sua vez, contra o capítulo não unânime do acórdão, cabem embargos infringentes e de nulidade. A par
disso, o recorrente pode interpor embargos contra a parte não unânime do acórdão e RESP ou RE contra a
parte unânime.

CAIU NO MPE-SP-2023-VUNESP: Por princípio da variabilidade recursal entende-se que a parte poderá, dentro
do prazo legal, interpor sucessivos recursos, impugnando tópicos diversos da sentença.1

CAIU NO MPE-RR-2023-AOCP: O princípio da variabilidade recursal não vigora no processo penal brasileiro.2

CAIU NO MPDFT-2021-Banca Própria: Em nome dos princípios da unirrecorribilidade e da preclusão lógica,


quando houver a interposição de dois recursos pela mesma parte contra a mesma decisão, será conhecido o
recurso apresentado em segundo lugar.3

FUNGIBILIDADE RECURSAL

O professor Aury Lopes Jr (2018, p. 619) ensina que (...) fungibilidade significa que o sistema recursal
permite que um recurso (errado) seja conhecido no lugar de outro (correto), a partir de uma noção de
substitutividade de um recurso por outro. Mas esse princípio não legitima o conhecimento de qualquer recurso
(errado) no lugar de outro, correto. Para isso, o art. 579 prevê que um recurso poderá ser conhecido por outro,
desde que afastada a má-fé do recorrente. O conceito de má-fé é aberto, indeterminado, permitindo ampla
manipulação conceitual. Tampouco soluciona o problema invocar o “erro grosseiro” para caracterizar a má-fé,
ou mesmo o “pacífico entendimento jurisprudencial” sobre o cabimento de determinado recurso. Porém, em
geral, é com base nesses dois fatores (erro grosseiro e ausência de divergência jurisprudencial) que os tribunais
pautam a aplicação da fungibilidade. Em geral, tem-se admitido a fungibilidade entre Apelação e Recurso em
Sentido Estrito, porque nem sempre os casos de interposição de um e outro permitem, sem sombra de dúvida,
a escolha do recurso correto, mas, principalmente, porque é possível a interposição do recurso “errado”, mas
dentro do prazo de interposição do correto.

1 CERTO. A questão não perguntou se o princípio era aplicável ao nosso ordenamento jurídico, mas o seu conceito.
2 CERTO.
3 ERRADO.

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Gustavo Badaró4 acrescenta que o princípio da fungibilidade recursal foi expressamente previsto no
art. 579 do CPP, cujo caput dispõe: “Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição
de um recurso por outro”. A razão de ser de tal regra é, nas palavras de Frederico Marques, “evitar o formalismo
excessivo no conhecimento dos recursos e também as consequências iníquas e injustas muitas vezes daí
advindas”.

Portanto, o princípio da fungibilidade só é aplicável se alguns requisitos forem preenchidos. Com efeito,

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não pode existir erro grosseiro; e não pode haver intempestividade. Em suma, não será admitida a
fungibilidade em caso de má-fé. É isso que estabelece o artigo 579 do CPP. Haverá má-fé e, por conseguinte,
não será aplicado o princípio da fungibilidade, quando:

a) Não for observado o prazo correto: ocorre quando o recorrente interpõe o recurso equivocado fora
do prazo legal previsto para o recurso correto;

b) Houver erro grosseiro (além da dúvida razoável): significa que só será admitido o recurso equivocado
quando houver uma polêmica quanto ao recurso adequado quanto ao caso, ou seja, há divergência doutrinária
ou jurisprudencial acerca do recurso cabível contra a decisão impugnada.

SE LIGA NA JURIS: Cabe apelação contra a sentença de absolvição sumária no procedimento no júri; se o MP
interpôs equivocadamente RESE, é possível a aplicação do princípio da fungibilidade
É possível a aplicação da fungibilidade no uso do recurso de apelação em detrimento do recurso em sentido
estrito, desde que demonstradas a ausência de má-fé e a tempestividade do instrumento processual.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2011577-GO, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/9/2022 (Info
Especial 10). 5

PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS E A PERMISSÃO DA REFORMATIO IN MELLIUS

Esse postulado estabelece a impossibilidade de que o acusado venha a piorar sua situação quando não
houver recurso da acusação, ou seja, em caso de recurso exclusivo da defesa, o acusado não pode ter sua
situação piorada quantitativa ou qualitativamente pela decisão do Tribunal. Esse princípio é amparado pelos
artigos 617 e 626 do Código de Processo Penal.

No processo penal, segundo Aury Lopes Jr (2018, p 621),

(...) está sempre permitida a reforma da decisão para melhorar a situação jurídica do
réu, inclusive com o reconhecimento de ofício e a qualquer momento, de nulidades
processuais que beneficiem o réu. Mas não pode o tribunal reconhecer nulidade
contra o réu que não tenha sido arguida no recurso da acusação (Enunciado de
Súmula nº 160 do STF). Assim, diante de um recurso do Ministério Público (sem

4 BADARÓ, Gustavo. Processo penal. 2015, p. 803.


5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Cabe apelação contra a sentença de absolvição sumária no procedimento no júri; se o MP interpôs

equivocadamente RESE, é possível a aplicação do princípio da fungibilidade. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/2e87d147292d4f2d0770cbd01562eb35>. Acesso em:
23/03/2023

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recurso da defesa), o tribunal pode acolher o pedido do MP, manter a decisão e


denegar o pedido, ou ainda, de ofício, negar provimento ao pedido do MP e melhorar
a situação jurídica do réu, ainda que ele não tenha recorrido. Por outro lado, está
vedada a reforma para pior, ou seja, diante de um recurso exclusivo da defesa, não
pode o tribunal piorar a situação jurídica do imputado. Portanto, lembra o autor, que
diante de um exclusivo recurso da defesa, o tribunal pode dar provimento no todo
ou em parte, ou manter intacta a decisão de primeiro grau. Em nenhuma hipótese

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pode piorar a situação do réu (exceto, é óbvio, se também houver recurso do
acusador).

De se notar que, em caso de recurso exclusivo da defesa, o Tribunal, sem dúvidas, pode adotar
fundamentação distinta do juízo de primeiro grau, mas o Tribunal não pode analisar fatos que não foram
apreciados na decisão atacada. Por essa razão, de acordo com o STF, em recurso exclusivo da defesa, o Tribunal
não pode complementar a sentença para acrescentar fatos que possam repercutir negativamente no âmbito
da dosimetria da pena (HC 101.380). No caso analisado, o juízo de primeiro grau considerou desfavoráveis a
culpabilidade e as circunstâncias. Por sua vez, o Tribunal afastou essas circunstâncias. Por fim, o STJ, analisando
recurso exclusivo da defesa, restabeleceu as circunstâncias desvaloradas pelo juízo de 1º grau, aumentando a
pena do recorrente, o que configura reformatio in pejus.

JURISPRUDÊNCIA: A 5ª Turma do STJ fixou a tese no sentido de que, reconhecido, em recurso exclusivo da
defesa, que a sentença condenou o réu por fatos que não estavam descritos na denúncia, cabe ao Tribunal
somente anular a sentença e absolver o réu, mas não determinar o retorno dos autos ao primeiro grau.
Processo em segredo de justiça, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
5/9/2023, DJe 12/9/2023. (STJ, Inf. 789)

Nos termos do Informativo 789:

“Nos temos do art. 384 do CPP, "encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica
do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não
contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em
virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública", ou seja, o momento para o
aditamento da denúncia é o encerramento da instrução.

Assim, correto o entendimento do Tribunal a quo, pois, em sede de apelação defensiva, tendo sido reconhecido
que a sentença condenou o réu por fatos que não estavam descritos na denúncia, cabe ao Tribunal, somente,
anular a sentença e absolver o réu, mas não determinar o retorno dos autos ao primeiro grau, como pretende
o Parquet. Nesse sentido, frise-se que, "No julgamento de apelação interposta pela defesa, constatada a ofensa
ao princípio da correlação, não cabe reconhecer a nulidade da sentença e devolver o processo ao primeiro
grau para que então se observe o art. 384 do CPP, uma vez que implicaria prejuízo para o réu e violaria o
princípio da non reformatio in pejus." (AgRg no HC 559.214/SP, relator Ministro João Otávio de Noronha, Quinta
Turma, DJe de 13/5/2022).”

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Por outro lado, imagine a situação em que o juízo considerou desfavorável uma das circunstâncias do
artigo 59 do CP, com base em um determinado fato. Por sua vez, o Tribunal, em recurso exclusivo da defesa,
manteve a pena, mas apenas utilizou o mesmo fato para fundamentar outra circunstância do art. 59, CP. Em
outras palavras, o Tribunal entendeu que esse fato se enquadrava melhor como outra circunstância, por
exemplo, culpabilidade, e não consequência do crime. Nesse caso, o STF entendeu que não há que se cogitar
da reformatio in pejus, pois não houve análise de fatos novos, e sim somente adoção de fundamentação
diversa (RHC 119.149, STF).

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Se um juízo absolutamente incompetente profere decisão, e essa decisão é anulada pelo Tribunal em
recurso exclusivo da defesa, com a consequente remessa dos autos para o juízo competente, este juízo
(competente) deve observar o limite máximo da decisão original, prolatada pelo juízo incompetente?

Uma corrente minoritária, capitaneada por PACELLI, sustenta que o juízo competente não precisa
observar a decisão do juízo incompetente, em respeito ao princípio do juízo natural, que teria preponderância
sobre o princípio da non reformatio in pejus indireta. No entanto, a corrente majoritária na doutrina e a
jurisprudência consolidada defendem que a reformatio in pejus indireta tem como fundamento a ampla defesa,
de modo que tem prevalência sobre o princípio do juízo natural. Por isso, a decisão prolatada pelo juízo
incompetente funcionará como teto para a decisão do juízo competente.

Obs.: Non Reformatio in Pejus Indireta x Soberania dos Veredictos - A decisão final dos jurados é
protegida pela soberania dos veredictos, razão pela qual o Tribunal não pode reformar o veredicto dos jurados,
em recurso da defesa ou da acusação. O máximo que o Tribunal pode fazer é anular o julgamento e determinar
a realização de novo júri. Se os jurados decidem pela condenação do acusado e o juiz presidente fixa uma pena
de 10 anos, mas esse julgamento é anulado pelo Tribunal, em recurso exclusivo da defesa, o novo Conselho de
Sentença fica limitado à sentença proferida no primeiro júri (pena de 10 anos)?

A questão basicamente discute se o princípio da non reformatio in pejus indireta prevalece sobre a
soberania dos veredictos. Sobre esse debate, temos três correntes. Uma primeira corrente defende que não
há falar em non reformatio in pejus no procedimento do júri, em respeito à soberania dos veredictos.

Por sua vez, uma segunda corrente sustenta que a non reformatio in pejus indireta é perfeitamente
aplicável ao procedimento do júri, de maneira que o juiz presidente deve observar a pena fixada na primeira
sentença, que foi anulada, como teto para sua sentença. Além disso, não importa se no segundo julgamento
os jurados decidem que o crime doloso contra a vida foi mais gravoso que o considerado no primeiro
julgamento. Por exemplo, no segundo julgamento, os jurados decidiram que se trata de homicídio qualificado,
ao passo que, no primeiro, consideraram que era apenas homicídio simples. Mesmo assim, o juiz presidente
deve observar a pena imposta na primeira sentença como teto. Há um julgado isolado do STF que se ampara
justamente nessa segunda corrente. Trata-se do HC 89.544/RN

Por fim, uma terceira corrente, sustentada por BADARÓ e MADEIRA, advoga que, se a resposta aos
quesitos submetidos aos jurados for idêntica ao primeiro julgamento, anulado em recurso exclusivo da defesa,
a pena fixada na primeira sentença funciona como limite máximo para a segunda sentença. Dessa forma, não
há ofensa à soberania dos veredictos pelo princípio da non reformatio in pejus indireta. Por outro lado, se no

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segundo julgamento, os quesitos submetidos aos jurados forem diversos, por exemplo, com a decisão pela
inclusão de uma qualificadora não votada no primeiro julgamento, a nova sentença pode ser mais gravosa que
a primeira. Em outras palavras, nesse caso, a segunda sentença não precisa observar o limite de pena imposta
na primeira sentença. Essa é a corrente que vem encontrando maior guarida na jurisprudência dos Tribunais
Superiores.

DISPONIBILIDADE

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
A interposição ou não do recurso é deixada à livre escolha da parte. Lembra Badaró (p. 808, 2015) “que
os recursos são meios voluntários de impugnação das decisões, razão pela qual a parte é livre para recorrer ou
não. As partes não têm um dever de recorrer. Ao contrário, os recursos configuram verdadeiro ônus processual
das partes, isto é, uma faculdade que, se não for exercida, poderá acarretar consequências desfavoráveis ou
impedir a obtenção de uma condição mais favorável”.

Anota o autor, ainda, nos seguintes termos:

(...) O Ministério Público, embora tenha o dever de propor a ação penal (CPP, art. 24),
não está obrigado a recorrer. Nada impede que, diante de uma absolvição, o
Promotor de justiça deixe de recorrer. Por outro lado, o Ministério Público não pode
desistir do recurso interposto (CPP, art. 576). Trata-se, porém, de regra que decorre
do caráter indisponível da ação penal (CPP, art. 42), não tendo qualquer relação com
eventual obrigatoriedade do recurso. Em suma, o Ministério Público pode recorrer
ou não da decisão, mas, uma vez que tenha recorrido, não poderá desistir do recurso
interposto. A defesa não está obrigada a recorrer, podendo deixar de recorrer ou
renunciar ao recurso. Pode, também, desistir do recurso interposto. (Badaró,
Processo Penal, 2015, p. 808).

Visto isso, vamos continuar!

Segundo o art. 574 do CPP, os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que
deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz:

I - da sentença que conceder habeas corpus;


II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou
isente o réu de pena, nos termos do art. 411.

Trata-se do chamado “recurso de ofício”, ou remessa necessária no processo penal. Anote-se que, nos
termos do Enunciado de Súmula 423: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex officio,
que se considera interposto ex lege.

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CAIU NO MPE-RJ-2022-Banca Própria: A voluntariedade é característica inerente aos recursos e, justamente


por isso, a menção a recurso de ofício constante do Código de Processo Penal, em realidade, é caso de reexame
necessário.6

No entanto, lembra Aury Lopes Júnior (2018, p. 615) que a esses dois casos deve-se acrescentar um
terceiro, que é o recurso de ofício da decisão que concede a reabilitação, como determina o art. 746 do CPP.
Nesses casos, enquanto não houver o reexame da decisão pelo respectivo tribunal, não há o trânsito em

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
julgado da decisão, sendo, portanto, uma condição de eficácia da sentença.

Portanto, quando o magistrado concede HC, por exemplo, caso nenhuma das partes recorra, mesmo
assim os autos deverão ser encaminhados ao Tribunal. A mesma coisa acontece quando o acusado é absolvido
com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente de pena. Percebam, no entanto,
que só há previsão de remessa necessária no processo penal quando o réu é beneficiado, o que é muito
estranho. A estranheza deve-se principalmente ao fato de que, como já falamos reiteradas vezes ao longo do
curso, o Estado não precisa do processo penal para punir. A soberania estatal em relação ao ius puniendi pode,
em tese, fazer com que qualquer pessoa seja sancionada, independentemente do motivo. No entanto, isso é
inerente aos Estados totalitários e o processo penal é a forma de limitar essa força. Portanto, o processo penal
foi, é e sempre será garantia do investigado/acusado. Por isso que dogmaticamente não tem sentido “recurso
ex officio” no processo penal, SALVO se fosse para beneficiar a situação do investigado/acusado.

No entanto, é bom esclarecer que com o advento da CF/88 houve muito debate acerca da recepção
ou não deste art. 574. É que parte da doutrina acredita(va) que o referido artigo violaria o sistema acusatório,
motivo pelo qual não estaria, portanto, recepcionado pela Constituição. Entretanto, o STF manifestou-se no
sentido de haver necessidade de mecanismos de controle da inércia ministerial, tal como ocorre, por exemplo,
na ação penal privada subsidiária de pública, entendendo pela sua recepção.

CAIU NO MPE-SP-2022-Banca Própria: Não cabe recurso de ofício (duplo grau de jurisdição obrigatório):
A) no caso de absolvição sumária no rito do júri, encerrado o sumário de culpa.
B) no caso de juiz de primeiro grau que concede o habeas corpus.
C) no caso de absolvição do réu por crime contra a economia popular (Lei no 1.521/51).
D) no caso de decisão que concede a reabilitação.
E) no caso de absolvição do réu por crime contra a saúde pública (Lei no 1.521/51).7

CAIU NO MPDFT-2021-Banca Própria: Caberá reexame necessário quando da decisão de deferimento de


reabilitação criminal, da denegação e da concessão de habeas corpus e da sentença que arquiva inquérito
policial ou absolutória por crimes contra a economia popular ou saúde pública.8

A Lei nº 14.836/2024 inseriu no CPP o art. 647-A, passando a estabelecer que no âmbito de sua com-
petência jurisdicional, qualquer autoridade judicial poderá expedir de ofício ordem de habeas corpus, indivi-
dual ou coletivo, quando, no curso de qualquer processo judicial, verificar que, por violação ao ordenamento

6 CERTO.
7 Gabarito: A.
8 ERRADO.

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jurídico, alguém sofre ou se acha ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção. No
novo parágrafo único do art. 647-A do CPP, a Lei nº 14.836/2024 passou a dispor “que a ordem de habeas
corpus poderá ser concedida de ofício pelo juiz ou pelo tribunal em processo de competência originária ou
recursal, ainda que não conhecidos a ação ou o recurso em que veiculado o pedido de cessação de coação
ilegal.”

Sobre essa mesma Lei nº 14.836/2024, é importante comentarmos sobre uma alteração muito rele-

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vante para as provas de concurso sobre o ponto “recursos”. No art. 615 do CPP foi modificado o §1º, que com
a nova redação ficou da seguinte forma:

Antes da Lei 14.836/2024 Depois da Lei 14.836/2024


Art. 615. O tribunal decidirá por maioria de votos. Art. 615. (...).
§ 1º Havendo empate de votos no julgamento de § 1º Em todos os julgamentos em matéria penal ou
recursos, se o presidente do tribunal, câmara ou processual penal em órgãos colegiados, havendo
turma, não tiver tomado parte na votação, proferirá empate, prevalecerá a decisão mais favorável ao in-
o voto de desempate; no caso contrário, prevale- divíduo imputado, proclamando-se de imediato
cerá a decisão mais favorável ao réu. esse resultado, ainda que, nas hipóteses de vaga
aberta a ser preenchida, de impedimento, de sus-
peição ou de ausência, tenha sido o julgamento to-
mado sem a totalidade dos integrantes do colegi-
ado.

Agora está expressamente no CPP: em todos os julgamentos em matéria penal ou processual penal
em órgãos colegiados, havendo empate, prevalecerá a decisão mais favorável ao réu, mesmo que não estejam
presentes todos os integrantes do colegiado!

A Lei nº 14.836/2024 também alterou a Lei 8.038/1990 (Lei que institui normas procedimentais para
os processos que especifica, perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal), para assim
estabelecer:

Antes da Lei 14.836/2024 Depois da Lei 14.836/2024


Art. 41-A - A decisão de Turma, no Superior Tribunal Art. 41-A. A decisão de Turma, no Supremo Tribunal
de Justiça, será tomada pelo voto da maioria abso- Federal e no Superior Tribunal de Justiça, será to-
luta de seus membros. mada pelo voto da maioria absoluta de seus mem-
bros.
Parágrafo único - Em habeas corpus originário ou Parágrafo único. Em todos os julgamentos em ma-
recursal, havendo empate, prevalecerá a decisão téria penal ou processual penal em órgãos colegia-
mais favorável ao paciente. dos, havendo empate, prevalecerá a decisão mais
favorável ao indivíduo imputado, proclamando-se
de imediato esse resultado, ainda que, nas hipóte-
ses de vaga aberta a ser preenchida, de impedi-
mento, de suspeição ou de ausência, tenha sido o

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julgamento tomado sem a totalidade dos integran-


tes do colegiado.

Embora não precisasse, porque há, como sabemos, o in dubio pro reu no direito brasileiro, a Lei nº
14.836/2024 deixou claro que em todos os julgamentos em matéria penal ou processual penal em órgãos
colegiados, havendo empate, prevalecerá a decisão mais favorável ao indivíduo imputado, proclamando-se de
imediato esse resultado, ainda que, nas hipóteses de vaga aberta a ser preenchida, de impedimento, de sus-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
peição ou de ausência, tenha sido o julgamento tomado sem a totalidade dos integrantes do colegiado.

Dando continuidade, é preciso saber que quanto à fundamentação do recurso, eles (recursos) podem
ser de fundamentação livre ou vinculada. A regra, entretanto, é que todos os recursos sejam de fundamentação
livre, ou seja, o recorrente possui uma ampla liberdade no tocante às matérias que serão alegadas no recurso
(de fato ou direito). A apelação é um exemplo clássico de recurso de fundamentação livre.

Quanto aos recursos de fundamentação vinculada, o recorrente não pode alegar simplesmente o que
quiser, isso porque, como o próprio nome diz, a sua fundamentação está vinculada a algumas matérias.

Um exemplo é o recurso especial/extraordinário, tendo em vista que a sua fundamentação está


delimitada na própria Constituição, sendo incabível a análise de novas provas nesses dois recursos, nos termos
do Enunciado de Súmula 279 do STF: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário e o
Enunciado de Súmula 7 do STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.

ATENÇÃO: A apelação contra decisões emanadas no Tribunal do Júri também são exemplos de recurso com
fundamentação vinculada, isso porque o conhecimento desta apelação está condicionado ao preenchimento
de um dos fundamentos delimitados pelo inciso III do art. 593 do CPP, quais sejam: a) ocorrer nulidade posterior
à pronúncia; b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; c) houver
erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; d) for a decisão dos jurados
manifestamente contrária à prova dos autos.

Dando continuidade, é preciso lembrar que o art. 575 do CPP aduz que não serão prejudicados os
recursos que, por erro, falta ou omissão dos funcionários, não tiverem seguimento ou não forem apresentados
dentro do prazo. No mesmo sentido, o STF enunciou a Súmula 428, estabelecendo que não fica prejudicada a
apelação entregue em cartório no prazo legal, embora despachada tardiamente. Em suma, o prazo que vale
para fins de tempestividade é o da protocolização do recurso na Secretaria da Vara.

Além disso, o Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto. Trata-se do
chamado princípio da indisponibilidade. No entanto, você não pode confundir desistência com renúncia.

O MP pode renunciar o recurso, ou seja, pode optar por não recorrer.

Isso é renúncia.

Por outro lado, caso apresente o recurso, não poderá desistir.

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Portanto, lembre-se: renúncia vem antes, desistência depois.

Obs.: Se um promotor interpuser apelação de uma sentença que está em consonância com enunciado
sumulado, e chegam os autos para que outro membro do MP apresente as razões recursais, esse outro
membro pode deixar de fazê-lo? A doutrina majoritária sustenta que o novo promotor não pode deixar de
apresentar razões, mas ele também não pode ser obrigado a encampar a tese do primeiro MP, sob pena de
violação à independência funcional. Por isso, o novo promotor não é obrigado a seguir o entendimento do

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promotor originário, de modo que pode apresentar razões de acordo com seu próprio entendimento.

A defesa pode renunciar ao direito de recorrer? É possível, mas o acusado pode recorrer
autonomamente mesmo assim. É o que dispõe a Súmula 705 do STF: A renúncia do réu ao direito de apelação,
manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.

Sobre a legitimidade recursal, recorde-se que o recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público,
pelo querelante, pelo réu, seu procurador ou seu defensor. Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que
não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão.

Aqui, temos que distinguir a legitimação ampla da legitimação restrita. A primeira se dá quando a parte
pode impugnar toda e qualquer decisão de forma incondicionada. Pois bem, o artigo 577 do CPP indica quais
são os sujeitos que gozam da legitimidade ampla: MP, querelante, réu e seu defensor. Quanto à defesa, de se
notar que o acusado pode interpor o recurso autonomamente, independentemente de seu defensor. Por isso,
diz-se que, quanto à defesa, há uma legitimidade disjuntiva, pois mais de um sujeito pode recorrer. Contudo,
malgrado o acusado possa interpor autonomamente, somente a defesa técnica pode apresentar as razões
recursais, porque o acusado carece de capacidade postulatória para tanto.

Por outro lado, a legitimidade restrita ou subsidiária se dá quando o sujeito não pode recorrer de
qualquer decisão. É o que ocorre com o assistente de acusação, pois, conforme o artigo 584, §1º, do CPP, o
assistente só pode interpor RESE contra a decisão que extingue a punibilidade; apelação contra a decisão de
impronúncia; e apelação em face de sentença absolutória.

Não bastasse isso, a legitimidade do assistente é condicionada ou subsidiária, pois ele só pode recorrer
se o MP não o fizer. Nessa linha, é de se destacar que, além das hipóteses acima declinadas, o assistente pode
apresentar RESP e RE contra os acórdãos que eventualmente forem prolatados como desdobramentos de seus
recursos. Assim dispõe a Súmula 210 do STF: O assistente do MP pode recorrer, inclusive extraordinariamente,
na ação penal, nos casos dos artigos 584, §1º e 598 do CPP. Isso ecoa a tendência de ampliação da legitimidade
recursal do assistente de acusação por força da jurisprudência mais moderna.

De qualquer forma, vale reforçar que a legitimação do assistente de acusação é SUBSIDIÁRIA, de modo
que ele só poderá recorrer em caso de inércia recursal ou de recurso parcial do MP. Portanto, se o MP interpõe
recurso integral, o assistente não pode interpor recurso. Contudo, nada impede que ele apresente razões
recursais ao recurso interposto pelo MP (serão, portanto, duas razões – do MP e do assistente).

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Obs.: O assistente de acusação pode recorrer da decisão que revoga a prisão preventiva do acusado?
O STJ entendeu recentemente que o assistente de acusação não pode recorrer da decisão que revoga a prisão
preventiva do acusado. De acordo com o julgado, o rol do art. 271 do CPP seria taxativo, de modo que não
existe previsão legal no sentido de que o assistente possa recorrer da decisão que revoga a preventiva do réu
(HC 775.032/MG).

CAIU NO MPE-RS-2023-Banca Própria: O assistente da acusação tem legitimidade para interpor recurso em

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sentido estrito contra decisão que concede liberdade provisória ao réu.9

Ah, antes que eu esqueça, anotem em seus cadernos que o Ministério Público não goza de prazo em
dobro no âmbito penal.”10 A contagem do prazo em dobro no processo penal é monopólio da Defensoria
Pública, ou seja, só a DP goza da prerrogativa do prazo em dobro no processo penal. Portanto, tanto o MP
como o defensor dativo obedecerão ao prazo simples.

Nesse sentido, abro um parêntese para aprofundarmos sobre o princípio do NON REFORMATIO IN
PEJUS, também chamado de EFEITO PRODRÔMICO DA SENTENÇA.

Vamos entender.

A maioria de vocês deve saber que caso haja uma sentença condenatória e apenas o réu recorra, não
é possível que haja uma piora na sua situação. E é importante saber que não é apenas a pena que não poderá
ser agravada. Acontece às vezes de a pena ser até diminuída, mas ainda assim haver prejuízo ao réu.

Em resumo, veja o que diz Renato Brasileiro (2019, p. 1.691):

“A vedação da reformatio in pejus não está restrita à quantidade final de pena,


porquanto não se trata de mero cálculo aritmético, mas sim de efetiva valoração da
conduta levada a efeito pelo sentenciado. Portanto, a título de exemplo, haverá
reformatio in pejus se, no julgamento de um recurso exclusivo da defesa, o juízo ad
quem afastar eventual qualificadora do crime de furto tentado, acrescentando,
porém, a causa de aumento de pena do repouso noturno (CP, art. 155, §1º), ainda
que a pena final do acusado (1 ano, cinco meses e 23 dias de reclusão) fique aquém
daquela fixada na 1ª sentença (2 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão)”.

Além disso, importante lembrar que não caracteriza reformatio in pejus a decisão de Tribunal de Justiça
que, ao julgar recurso de apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo magistrado de
primeiro grau, porém com fundamentos diversos daqueles adotados na sentença. Não viola o princípio da
proibição da reformatio in pejus a reavaliação das circunstâncias judiciais em recurso de apelação penal, no
âmbito do efeito devolutivo, desde que essa não incorra em aumento de pena. Não há falar em reformatio in
pejus se os motivos expendidos pelo julgador em sede de apelação exclusiva da defesa não representaram

9ERRADO.
10 AgRg no HC 392.868/MT, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 6/2/2018, DJe 15/2/2018.” (AgInt no REsp
1.658.578/MT, 5ª Turma, DJe 02/05/2018).

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advento de situação mais gravosa para o réu. STF. 1ª Turma. RHC 119149/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
10/2/2015 (Info 774). STF. 1ª Turma. HC 126457/PA, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 6/11/2018 (Info 922). Esse é também o entendimento do STJ: STJ. 5ª Turma. HC
330.170/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/09/201611.

Ademais, conforme o posicionamento do STF é proibido que o Tribunal, em recurso exclusivo da


defesa, corrija equívoco aritmético cometido pelo juiz na sentença e aumente a pena, vejam:

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
(...). Configura inegável reformatio in pejus a correção de erro material no julgamento
da apelação ainda que para sanar evidente equívoco ocorrido na sentença
condenatória que importa em aumento das penas, sem que tenha havido recurso
do Ministério Público nesse sentido. 6. Habeas corpus não conhecido, todavia,
concedo a ordem, de ofício, para restabelecer a pena fixada na sentença
condenatória quanto ao ora paciente, tendo em vista que a correção do erro
material, da forma como operada pelo Tribunal estadual, configurou reformatio in
pejus. (HC 250.455/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
17/12/2015, DJe 05/02/2016).

SE LIGA NA JURIS: Caracteriza manifesta ilegalidade, por violação ao princípio da “non reformatio in pejus”, a
majoração da pena de multa por tribunal, na hipótese de recurso exclusivo da defesa. Isso porque, na
apreciação de recurso exclusivo da defesa, o tribunal não pode inovar na fundamentação da dosimetria da
pena, contra o condenado, ainda que a inovação não resulte em aumento da pena final.
STF. 2ª Turma. RHC 194952 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/4/2021 (Info 1013).

PRINCÍPIO DO NON REFORMATIO IN PEJUS DIRETA E INDIRETA

Já que estamos tratando sobre o tema, não é demais recordarmos dos conceitos aprofundados do non
reformatio in pejus direta e indireta. É bem simples.

A direta está relacionada à proibição do Tribunal proferir decisão mais desfavorável ao acusado em
recurso exclusivo da defesa. Nesse sentido, importante é o Enunciado de Súmula 160 do STF, segundo a qual
“é nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação,
ressalvados os casos de recurso de ofício”.

Enunciado 160, STF. É nula a decisão do Tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da
acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.

No entanto, na vedação à reformatio in pejus INDIRETA, se a sentença impugnada for anulada em


recurso exclusivo da defesa (ou em Habeas Corpus), o magistrado que vier a proferir a nova decisão (que

11CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inexistência de reformatio in pejus na manutenção da condenação, mas com base em funda-
mentos diversos da sentença. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurispru-
dencia/detalhes/310614fca8fb8e5491295336298c340f. Acesso em: 30/08/2021.

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substituirá a anterior) ficará vinculado ao máximo de pena imposta na primeira decisão, daí porque o nome
“indireta”.

NON REFORMATIO IN PEJUS DIRETA NON REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA


Proibição do Tribunal proferir decisão mais desfavo- Se a sentença impugnada for anulada em recurso ex-
rável ao acusado em recurso exclusivo da defesa. clusivo da defesa (ou em Habeas Corpus), o magis-
trado que vier a proferir a nova decisão (que substi-

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
tuirá a anterior) ficará vinculado ao máximo de pena
imposta na primeira decisão.

CAIU NO MPE-MS-2022-AOCP: Conforme o posicionamento mais recente do STF, não caracteriza violação ao
princípio da non reformatio in pejus a majoração unicamente da pena de multa por tribunal, na hipótese de
recurso exclusivo da defesa.12

O princípio da non reformatio in pejus, consagrado tanto na doutrina quanto na jurisprudência, con-
siste em um limitador à amplitude do julgamento, impossibilitando o agravamento da situação penal do réu
na hipótese de recurso exclusivo da defesa.

Assim, em havendo recurso somente da defesa, sua reprimenda não poderá ser de qualquer modo
piorada, em detrimento do réu, evitando assim a intimidação ou o embaraço do condenado ao exercício da
ampla defesa. Vale dizer, o réu não pode ser tolhido no seu direito de ampla defesa por receio de ter sua
situação penal agravada no caso de julgamento de recurso somente por ele provocado. Da referida regra de-
corre o igualmente célebre enunciado da vedação à reformatio in pejus indireta, segundo o qual deve se con-
ferir à decisão cassada o efeito de vedar o agravamento da reprimenda nas posteriores decisões proferidas na
mesma ação penal, quando a nulidade for reconhecida a partir de recurso defensivo exclusivo (ou em habeas
corpus).

Em um caso submetido à apreciação do STJ, no Inf. 663, publicado em 14.02.2020, após a sentença
condenatória, houve recurso de apelação pela defesa, tendo o Tribunal de Justiça reduzido a pena para 5 anos
e 10 meses de reclusão, em regime inicial semiaberto. Referida decisão transitou em julgado para ambas as
partes, sendo impetrado habeas corpus pelo réu junto a este Superior Tribunal de Justiça, cuja ordem foi
concedida para cassar o decisório.

Com o novo julgamento da a apelação, o Tribunal de origem novamente reduziu a reprimenda para o
mesmo patamar (5 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicial semiaberto). Contra este segundo acórdão
o Ministério Público interpôs recurso especial, o qual foi provido para o efeito de majorar a pena do réu para
o patamar da sentença (8 anos e 4 meses de reclusão, em regime inicial fechado). Nesse diapasão, restou
demonstrado que o julgado proferido no recurso especial violou o enunciado que veda a reformatio in pejus
indireta, ao colocar o sentenciado em situação mais desfavorável do que aquela anterior à impetração do
habeas corpus. O STJ, portanto, fixou a seguinte tese:

12 ERRADO.

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TESE FIXADA: Ofende o enunciado do non reformatio in pejus indireta o aumento da pena através de decisão
em recurso especial interposto pelo Ministério Público contra rejulgamento de apelação que não alterou re-
primenda do acórdão anterior, que havia transitado em julgado para a acusação e que veio a ser anulado por
iniciativa exclusiva da defesa. RvCr 4.853-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convo-
cado do TJ/PE), Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 27/11/2019, DJe 17/12/2019.

CAIU NO MPE-RJ-2024-VUNESP: Sônia sempre manteve uma vida correta. Contudo, em virtude da perda do

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
emprego, no período da crise sanitária de covid-19, se viu em uma situação econômica bastante delicada,
razão pela qual decidiu se aventurar e adquirir, para revenda, milhares de cigarros estrangeiros, sem registro
na ANVISA. Para seu azar, quando estava voltando do Paraguai, já no Brasil, é instada a parar em uma Blitz da
Polícia Militar do Estado do Paraná. Desesperada, com medo de ser presa, não atende à ordem, arrancando
para cima da polícia, atropelando e matando um deles. Embora presa em flagrante delito, é solta, na audiência
de custódia, sendo-lhe concedida liberdade provisória, com condições. Pelos fatos acima, é acusada da prática
de homicídio duplamente qualificado (art. 121, § 2o , incisos V e VII, CP), além de contrabando (334-a, II, CP)
e resistência, perante o Tribunal do Júri, na esfera federal. Ao final da primeira fase do procedimento, é
pronunciada pelos três crimes. Perante o Plenário, é absolvida pelo Júri, com base na negativa ao quesito da
autoria (2o quesito), sendo os demais delitos, contudo, diante da absolvição do crime doloso contra a vida,
analisados e julgados pelo Juiz Presidente, que condenou a ré à pena de 2 meses, pela resistência, além de 2
anos, pelo contrabando. A acusação recorre apenas sob a alegação de que a absolvição foi manifestamente
contrária à prova dos autos. A defesa, por seu turno, apela das condenações, alegando que o Júri popular
deveria apreciar também os demais crimes, e não o Juiz Presidente. O tribunal dá provimento a ambos os
apelos, anulando tudo. Em novo julgamento, a acusada é condenada pelos três crimes, no Júri popular, sendo
aplicadas as penas de 13 anos e 10 meses, pelo homicídio duplamente qualificado, além de 3 anos, pelo
contrabando, e de 4 meses, pela resistência, tendo a sua prisão sido decretada, no ato, por força da
condenação final à pena igual ou superior a 15 anos.
Acerca do caso, assinale a alternativa correta.
A) Ainda que tenha havido novo julgamento, as penas anteriormente fixadas para os crimes de resistência e
contrabando, considerando a inexistência de recurso ministerial para majorá-las, não poderiam ter sido
exasperadas, sob pena de reformatio in pejus indireta.
B) Ainda que a absolvição, pela negativa da autoria, fosse manifestamente contrária à prova dos autos, incabível
o recurso para anular o julgamento, dada a soberania dos veredictos e a decisão mais favorável ao réu,
conforme julgados do Supremo Tribunal Federal, que, inclusive, reconheceu a repercussão geral da matéria.
C) Dada a inexistência de interesse da União, sendo o homicídio praticado contra um policial militar da esfera
estadual, bem como a falta de conexão entre os crimes, a competência para apurar o crime doloso contra a
vida, além da resistência, deveria tramitar no Tribunal do Júri, na esfera estadual, havendo desmembramento
quanto ao contrabando, cuja apuração deve tramitar perante a Justiça Federal.
D) Havendo absolvição do crime doloso contra a vida, a competência dos jurados cessa para julgar os demais
crimes, sendo a anulação do julgamento equivocada.
E) A decretação da prisão imediata não observou a lei infraconstitucional, pois a condenação, para fins de
execução, apenas leva em consideração a condenação pelo crime doloso contra a vida, que foi inferior a 15
anos.13

13 Gabarito: A.

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Atualizado em 20/04/24

CAIU NO MPE-RS-2023-Banca Própria: Provido recurso defensivo, interposto com base no inciso III, alínea a,
do art. 593, do Código de Processo Penal, a situação do réu não poderá ser agravada no julgamento subse-
quente, salvo se o Ministério Público também houver recorrido. 14

CAIU NO MPE-MG-2023-FUNDEP: Anulada em recurso da defesa a sentença, a pena nela fixada será o limite
máximo a ser respeitado na decisão válida que a suceder, inclusive em relação ao regime prisional, mas não

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
para aferição de eventual prescrição.15

Dando continuidade ao tema, é importante anotar que o art. 578 do CPP expõe que o recurso será
interposto por petição ou por termo nos autos, assinado pelo recorrente ou por seu representante. Neste caso,
não sabendo ou não podendo o réu assinar o nome, o termo será assinado por alguém, a seu rogo, na presença
de duas testemunhas. Por fim, interposto por termo o recurso, o escrivão, sob pena de suspensão por dez a
trinta dias, fará conclusos os autos ao juiz, até o dia seguinte ao último do prazo.

Já o art. 579 traz uma importante previsão, vejamos: salvo a hipótese de má-fé, a parte não será
prejudicada pela interposição de um recurso por outro. O parágrafo único reforça que se o juiz, desde logo,
reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do
recurso cabível. Trata-se, como já vimos, do princípio da fungibilidade recursal.

Por fim, o art. 580 aduz que no caso de concurso de agentes (Código Penal, art.25), a decisão do
recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal,
aproveitará aos outros (é o chamado efeito EXTENSIVO dos recursos criminais).16

No entanto, segundo o STF, há 2 situações nas quais não se aplica a regra do art. 580 do CPP, quais
sejam: i) quando o agente que postular a extensão não participar da mesma relação jurídica processual daquele
que foi beneficiado por decisão judicial da Corte, o que, estreme de dúvidas, evidencia a ilegitimidade do
requerente; e ii) quando se invoca extensão de decisão para outros processos que não foram objeto de análise
pela Corte, vejam:

(…) São duas as hipóteses de ordem objetiva que não legitimam a invocação do art.
580 do Código de Processo Penal: i) quando o agente que postular a extensão não
participar da mesma relação jurídica processual daquele que foi beneficiado por
decisão judicial da Corte, o que, estreme de dúvidas, evidencia a ilegitimidade do
requerente; e ii) quando se invoca extensão de decisão para outros processos que
não foram objeto de análise pela Corte, o que denuncia engenhosa fórmula de
transcendência dos motivos determinantes com o propósito de promover,
diretamente pelo Supremo Tribunal Federal, análise per saltum do título processual,
expondo a risco o sistema de competências constitucionalmente estabelecido (…)
(HC 137728 Extn, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em

14 CERTO.
15 ERRADO.
16 Efeito presente também em determinadas situações em que há concessão de Habeas Corpus.

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Atualizado em 20/04/24

30/05/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 31-01-2018 PUBLIC 01-02-


2018)

Obs.: O efeito extensivo também pode ser aplicado nas ações autônomas de impugnação, sendo
costumeira sua invocação em sede habeas corpus. Tudo isso visa manter a isonomia de tratamento jurídicos
para os acusados que se encontrem na mesma situação jurídica e processual, a fim de evitar decisões
conflitantes.

Material produzido pelo Grupo Educacional RDP I Proibida a circulação não autorizada, sob pena de violação de direitos autorais.
Por fim, saibam que o posicionamento jurisprudencial do STJ é pela IMPOSSIBILIDADE de recurso
adesivo no processo penal; vejam:

(…) 3.1 O Código de Processo Penal brasileiro não prevê o instituto do recurso
adesivo, não cabendo, ao intérprete, ampliar as modalidades recursais além
daquelas previstas em lei, em respeito ao princípio da taxatividade. 3.2 A defesa
sempre pode peticionar provocando a ação do Tribunal, pela admissão da reformatio
in mellius, não podendo, todavia, admitir-se a ampliação do limite recursal após ter
perdido o prazo. (...) (REsp 1595636/RN, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 02/05/2017, DJe 30/05/2017).

CAIU NO MPE-RS-2023-Banca Própria: A interposição de recurso adesivo pelo Ministério Público, contendo
pedido contra o réu, não ofende o princípio da não reformatio in pejus. 17

No próximo material veremos os recursos em espécie.

17 ERRADO.

18

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