Artigo Final - PSICOLOGIA - 2022 - FINALIZADO

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 23

AUTOACEITAÇÃO DA HOMOAFETIVIDADE: uma perspectiva psicanálitica

Gabriel Honorio Ribeiro dos Santos


Luis Gustavo Rodrigues dos Santos
Orientadora: Prof.ª Me.ª Camila Ambrósio Nogueira de Sá

RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo investigar de que modo os indivíduos realizaram
a elaboração de questões a respeito de sua própria sexualidade e aceitação da mesma. À luz de
conceitos psicanalíticos, busca-se a ampliação da discussão sobre o tema, em conjunto com a
elucidação das problemáticas que dificultam – a nível pessoal e a nível de sociedade – uma boa
relação com sua própria sexualidade. O presente estudo configura-se como pesquisa bibliográfica
seguida de estudo de campo, de abordagem qualitativa. A partir dela, espera-se identificar
diferentes meios de se lidar com a angústia que o tema pode gerar, ao mesmo tempo em que se
amplia o conhecimento dos pesquisadores e dos futuros leitores deste artigo.

Palavras-chave: homoafetividade, sexualidade, sociedade, pesquisa, psicologia.

ABSTRACT

The present research aims to investigate how individuals performed the elaboration of
questions regarding their own sexuality and acceptance of it. Through psychoanalytic concepts,
it seeks to expand the discussion on the theme, in addition to elucidating the problems that make
it difficult - at a personal level and at the level of society - to have a good relationship with their
own sexuality. The present study is configured as a bibliographic research followed by a field
study, with a qualitative approach. From it, it is expected to identify different ways of dealing
with the affliction that the theme may create, while expanding the knowledge of researchers and
future readers of this article.

Key-words: homoaffectivity, sexuality, society, research, psychology.


INTRODUÇÃO

A presente pesquisa, intitulada “Autoaceitação da Homoafetividade: uma perspectiva


psicanálitca” contempla um estudo de campo, qualitativo quanto à abordagem do problema e
exploratório quanto aos seus objetivos. Espera-se que através de toda reflexão proporcionada por
este artigo e em consequência da análise das respostas obtidas e do levantamento da discussão
dos dados acerca do tema na contemporaneidade, norteada assim pelo referencial psicanalítico,
seja uma possível referência para construção desse processo de autoaceitação biopsicossocial,
reelaboração das emoções, externalização de anseios e angústias e ressignificação do sofrimento
de cada sujeito.
Desta forma, acredita-se que com o entendimento dos fatores correlacionados ao processo
de autoaceitação da homoafetividade na comtemporaneidade, pode-se contribuir com
desenvolvimento da promoção de saúde mental e o bem estar, a partir do delineamento social e
cultural dessa população. O Brasil, mesmo que diante de política públicas dirigidas a população
LGBTQIA+, ao fazer o exercício de observar os casos individuais verifica-se dificuldades quanto
à autoaceitação, situado por questões culturais socioeconômicas dentro do ambiente
biopsicosocial de cada individuo inserido na sociedade.
O artigo ainda tem como objetivo proporcionar que, a partir do material produzido, seja
possível contribuir para análises clínicas futuras e possíveis projetos de autoaceitação de
indivíduos no ambiente social e da qualidade de vida proporcionada, Severino (2014) pontua que
a pesquisa de caráter exploratório se caracteriza como delimitada em um campo de trabalho
específico. Este método de pesquisa é pautado na coleta de informações sobre o tema que foi
escolhido, de modo que facilita nas etapas seguintes do trabalho.
Posteriormente, os dados serão analisados de maneira qualitativa, através da triangulação
de dados norteando o processo, utilizando-se do material advindo das entrevistas, em conjunto
com as teorias e o contexto da pesquisa. Através da proposta, espera-se identificar a percepção
dos participantes a respeito ao enfrentamento das consequências sociais, psíquicas e emocionais
advindas da vida em sociedade.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Através de um breve olhar sobre o contexto sócio-histórico da homossexualidade,


adentrando a antiguidade grega, observa-se como costume social as relações entre os filósofos
dos sexos masculinos na forma de pederastia, sendo uma forma elevada através desses
relacionamentos voltados para educação e transmissão de valores aristocráticos. Segundo Quinet
e Jorge (2013) não se tratava de uma perversão, mas sim de uma instituição, sancionada e
santificada pelo costume, o culto e o Estado, porém, com a expansão da Igreja e seus costumes, a
homossexualidade se tornou uma prática abominável e perversa. De acordo com os textos
bíblicos, esta era considerada como um estigma negativo do prazer.
Com a patologização da homossexualidade, toda prática sexual que fugia dessa
normatização e da moralidade sexual se tornou um tabu nos meios sociais e culturais, como
traçado durante toda história da humanidade, pois de acordo com Wundt (1906 apud FREUD
1913-1914) descreve o tabu como o código de leis não escrito mais antigo do homem (p. 27). É
suposição geral que o tabu é mais antigo que os deuses e remonta a um período anterior à
existência de qualquer espécie de religião, sendo assim, durante o decorrer da história, esse
processo de autoaceitação se tornou incomum e mal-visto, tornando as orientações sexuais
“erradas”. Ainda segundo Freud (1913-1914) os tabus visam proteger pessoas, instituições e leis
que exprimem o processo de fobia contra a minoria, essa que nos dias de hoje são em maior parte
representativas em espaços públicos, porém, essa fobia, exercida desde os tempos anteriores, visa
através do tabu se prevenir contra esses atos, que fogem dessa “naturalização” heterogênea e,
assim, quando ocorre o próprio tabu violado, se vinga em sua autonomia através da homofobia
em ações sociais, culturais e institucionais. (p. 28)
Diante do exposto nesta chamada “naturalização” de macho e fêmea pela sociedade,
representada pela patologização através de uma estrutura patriarcal e heteronormativa, Freud
(1905 apud QUINET e JORGE, 2013) em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” afirma
que não existe uma sexualidade determinada, na qual muitos seguiram os exemplos de procriação
dos animais. Para o autor, a sexualidade é polimorfa e a homossexualidade é uma de suas nuances,
como também o heterossexual ou bissexual (p. 35), assim, quando procurado por uma mãe, em
1935, sobre a homossexualidade de seu filho, Freud, à frente de seu tempo, responde:

A homossexualidade não é certamente nenhuma vantagem, mas não é nada de que


tenha de se envergonhar, não é um vício, nenhuma degradação, não pode ser classificada
como doença, nós consideramos como uma variação da função sexual. (ibidem).

Dito isso, embora Freud nomeasse, de acordo com o conhecimento de seu tempo, a
homossexualidade como uma inversão sexual, pois para o autor tal inversão seria apenas uma
variação sexual.
Mesmo com a despatologização da homossexualidade ainda é explícito o preconceito
diante da aceitação da própria orientação sexual. Ainda nos dias de hoje muitos expoentes levaram
adiante a homossexualidade como doença, segundo Lacan (1950, apud ibidem, 2013) “qualquer
teoria que generaliza a homossexualidade é falsa, qualquer etiologia única que se diz ‘como se
faz um homossexual’ é preconceituosa e toda patologização da homossexualidade é racista” (p.
90), sendo assim, como Freud (1905) já dizia, contraria a consideração do homossexual como o
ser perverso ao Outro.
Já em junho de 1969, na cidade de Nova York, EUA, acontecia o primeiro movimento
ativista contra homofobia em Stonewall, no qual 2 mil pessoas LGBTQIA+, cansadas das
represálias dos movimentos contrário, entoaram bandeiras com as escritas “gays power” e
“equality of homossexuals” com a premissa de libertar os homossexuais da opressão e
conscientizar a população referente aos direitos ali exigidos. Com todas as mudanças
acontecendo, após a segunda guerra mundial, segundo Paoliello (2019) somente em 15 de
dezembro de 1973 que a APA (American Psychological Association) retirou de seus textos o
termo “homossexualidade” como sendo patológico, e em 1974 aprovou, por maior votação, que
a homossexualidade não era considerada mais doença, porém, apenas em 17 de maio de 1990 o
CID (Classificação Internacional de Doenças) desclassificou a homossexualidade como doença,
e tal data foi assim classificada como o dia que se comemora o dia internacional da luta contra a
homofobia, visto toda luta histórica, a autoaceitação no paradigma social ainda é apresentada
socialmente como tabu.
De acordo com o DSM-I (1952), a homossexualidade estava integrada na sessão de
desvios sexuais, estando no mesmo local que a pedofilia e sadismo. Era chamado de
“homossexualismo”, com o prefixo que comumente se encontra em patologias, contudo, com a
revolução da ciência médica e novos estudos, a APA, em 1973, retirou a homossexualidade do
rol de patologias contidos no DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental), configurando,
assim, mais uma das vitórias obtidas em resposta dos movimentos civis da época.
Para argumentar a respeito da autoaceitação de um determinado tema deve-se considerar,
como início de discussão, a influência do meio externo nas perspectivas de cada indivíduo. Quanto
a temática Homossexualidade, Ceccarelli (2000) cita a influência do imaginário judaico-cristão
na concepção cristalizada de que a sexualidade é algo sólido e não diversificado. Foi criado um
modelo para que fosse considerado o padrão a ser seguido e aceito, e qualquer outro
comportamento que não fosse de encontro com o que fora padronizado, tinha em si um rótulo de
desviante ou patológico (ibidem).
O autor segue tecendo considerações sobre a influência da civilização no que diz respeito
à transformação de vivências e desejos em categorias que definem a identidade. A criação de
categorias corrobora para a existência de um indivíduo que se sente aprisionado e ao mesmo
tempo errado por querer vivenciar a sexualidade como sente que deve. (CECCARELLI, 2000).
Em seu texto "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", Freud (1905) afirma que, no
ser humano, a pulsão sexual não abriga em si um objeto fixo, não podendo ser atrelada somente
a questões instintivas. O autor classifica o objeto da pulsão como diversificado e parcial,
contribuindo desta forma para tirar a discussão sobre a sexualidade do campo restrito aos órgãos
sexuais, e sim com a ideia de que o prazer é a finalidade principal da sexualidade. Completa o
raciocínio, ainda, quando fala que a sexualidade é, em essência, perversa. Freud a considera como
uma variação da função sexual, em que esta escapa das tentativas de normalização. De acordo
com Ceccarelli (2000), a adolescência também é inundada pelos traços culturais que contribuem
para a patologização da homossexualidade e a inserção de um comportamento tido como padrão.
O autor cita a adolescência como sendo uma fase de reinvestimentos libidinais e, portanto, o
adolescente pode vir a sentir um desejo pulsional cujo objeto é uma pessoa do mesmo sexo. Os
ideais culturais transformarão essa pulsão em uma fonte de dúvidas a respeito de si e de angústias.
Neste mesmo sentido, o autor versa sobre a vida adulta e como essa fase também sofre das
marcas culturais. Nos homens, não raramente acontece da masculinidade ser questionada com
base em comportamentos que escapam da ideia hegemônica dominante. A sexualidade é única de
cada indivíduo e, portanto, tem seu destino particular, não havendo uma maneira "certa" para que
seja vivenciada. (CECCARELLI, 2000).
Grande parte das pessoas lésbicas e gays, descobrem-se ainda na infância, no contexto de
conhecimento ainda heterogêneo (feminino e masculino) apresentado por uma cultura patriarcal
e heteronormativa, na qual é apresentado pelas etapas escolares, vinculadas pela educação no
ambiente estudantil, através dos aspectos éticos, sociais e culturais da vida. Contudo, é nesse
período e na adolescência que surge a dificuldade em elaborar a própria identidade sexual através
dos primeiros contatos e desejos sexuais. É nesta maturação que, segundo COSTA (1986 apud
GUIMARÃES, 2016), estão diante de tanta pressão que tais adolescentes homossexuais acabam
enfrentando conflitos internos e com dificuldade de elaborar e aceitar sua própria orientação
sexual. Desta forma, surge a repressão, como mecanismo de defesa, por meio de atitudes e falas
homofóbicas, em conjunto com a reclusão de grupos sociais por medo de desapontar familiares
ou fugir às regras construídas pela humanidade e que se perpetuam há séculos. (p. 2).
Diante da discriminação e exclusão, a autoaceitação em determinados contextos culturais
e sociais não se torna ainda viável. Segundo ALBUQUERQUE, GARCIA, ALVES, QUEIROZ
e ADAMI (2013) “as formas de expressar a sexualidade são determinadas por uma complexa
interação de fatores e que podem ser afetadas pelos relacionamentos, por circunstâncias de sua
vida ou pela cultura em que vive”. Dito isso, em complemento, observa-se que é através do modo
de expressão da sexualidade que surge a construção gradual, por meio do crescimento e do
desenvolvimento biopsicossocial de cada indivíduo, que tem suas raízes em experiências
evolutivas do ser humano durante o seu ciclo vital, que comumente se caracteriza como
performance da identidade de gênero. (ABDO; GUARIGLIAFILHO, 2004, apud,
ALBUQUERQUE, et al, 2013, p. 517).

As circunstâncias que levam parte dos adolescentes homossexuais a terem dificuldade


de se auto aceitarem, são oriundas de diversas exposições de uma sociedade
preconceituosa, onde durante toda a sua vida, vem interferindo de forma a inibir
expressões comportamentais, dificultando seu modo de agir e até mesmo de pensar.
Desta forma, boa parte dos adolescentes tende a se adaptar à sociedade que pertence, e
se enquadrar ao parâmetro pré-estabelecidos pela mesma, gerando assim repressão,
sofrimento, baixa autoestima, entre diversos fatores (ibidem).

Em complemento, as experiências sobre autoaceitação vivenciadas pela população


LGBTQIA+ se dão pelo indivíduo atravessado pelo sofrimento internalizado e na maioria das
vezes mal elaborado, pelo não acolhimento dentro do ambiente familiar, como também o
enfrentamento diante uma sociedade heteronormativa e perante à aspectos religiosos. Entretanto,
o Ministério da Saúde (2011) instituído pela Portaria n° 2.836, tem o objetivo de promover a saúde
integral da população LGBTQIA+ de forma integral, a garantir o enfrentamento das iniquidades
para o pleno exercício da democracia e do controle social, acolhendo e respeitando suas
demandas. Isto posto, é por meio dessas políticas públicas e grupos de apoios que o sujeito
LGBTQIA+, mesmo diante do exposto pelo Relatório Anual de mortes violentas de LGBT+ no
Brasil pelo Grupo Gay da Bahia (2021), a homossexualidade não é considerada mais de ordem
patológica, e como citado por Santos (2013, apud Guimarães, 2016) está havendo uma
transformação sociocultural importante ao nível de contextos de vivência homossexual, ainda que
de forma lenta (p.9).

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada após a aprovação do Comitê de Ética do Centro Universitário


Salesiano de São Paulo sob o número do parecer: 62043822.4.0000.5695, e seguiu as
recomendações éticas da Resolução 466/12 (BRASIL, 2012).
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica seguida de estudo de campo, de abordagem
qualitativa. De acordo com Gil (2008), a pesquisa descritiva visa descrever fenômenos ou
características de uma população selecionada por quem a aplica. Utiliza-se de técnicas
padronizadas de coleta de dados, e dentre tais pesquisas destacam-se aquelas que objetivam
elencar as características de um grupo, outras utilizam de levantamentos para estudo do nível de
atendimento de instituições públicas em uma determinada região. Severino (2014) pontua que a
pesquisa de caráter exploratório se caracteriza como delimitada em um campo de trabalho
específico. Este método de pesquisa é pautado na coleta de informações sobre o tema que foi
escolhido, de modo que facilita nas etapas seguintes do trabalho.

No que diz respeito à entrevista, Severino (2014) a define como um tipo de pesquisa que
acontece a interação direta entre o pesquisador e o pesquisado relacionado ao tema. A partir da
contribuição do pesquisado, o pesquisador colhe opiniões e argumentações que contribuem para
o trabalho além das fundamentações teóricas. Também se caracteriza como uma forma de diálogo
entre um indivíduo que busca informações e outro que pode fornecer as informações que são
buscadas (GIL, 2008). Optou-se por utilizar da entrevista semi-dirigida por esta estar mais
condizente com os objetivos do trabalho realizado. Este tipo é definido no sentido de que a
entrevista busca ser “guiada por relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando
ao longo de seu curso” (GIL, 2002, p. 117).
Foram convidados a participar da pesquisa pessoas interessadas no estudo, para melhor
análise dos dados levantados, com faixa etária entre 18 a 35 anos, sendo eles do gênero
masculino e/ou feminino que se consideram homossexuais e que estejam dispostos a
compartilhar vivências pessoais, ideologias e relações homoafetivas. Os/as participantes foram
contatados atravésde uma carta de apresentação sobre a proposta da pesquisa, disponibilizada
em redes sociais (como o Instagram e Whatsapp) dos integrantes do estudo.
Os/as interessados/as pela temática entraram em contato com os autores, o qual foi
agendado a entrevista posteriormente de acordo com os critérios éticos estabelecidos pelo
Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2012). É destacado, ainda, que as entrevistas foram
realizadas individualmente, no formato online via plataforma GoogleMeet, em dia e horário
pré-agendado, mediante o preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) por parte dos/as participantes.
O instrumento de entrevista utilizado na entrevista conta com 4 eixos temáticos, a fim
de compreender a percepção desses/as participantes a respeito do processo particular e
individual de autoaceitação da homoafetividade e a ampliação do conhecimento mais amplo no
qual se refere ao processo vivenciados pela população homossexual e o crescimento dos
participantes envolvidos.
Na sequência das entrevista, os dados foram gravados e transcritos de maneira fidedigna,
preservando a confidencialidade e o sigilo das informações, como exposto aos participantes.
Em seguida, foi iniciado o processo de Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2000), que
aparece como um conjunto de técnicas de analise das comunicações que utiliza procedimentos
sistematicos e objetivos de descrição das mensagensque consiste em um conjunto de técnicas
de análise das comunicações, (p. 22). Com relação aos sujeitos da pesquisa, participaram 4
pessoas que para confidencialidade foram codificadas porabreviações (S1, S2, S3, S4), com o
intuito de manter a identidade das mesmas.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 4 participantes, com idades entre 21 e 37 anos, sendo 3 do
gênero masculino e 1 do feminino. A partir da aplicação da entrevista através dos eixos
temáticos, foi possibilitado a sistematização das narrativas em 6 categorias de análise: (I)
Internalização e mal elaboração; (II) O poder do contexto religioso e a validação das pessoas;
(III) O tempo e o desenvolvimento das questões presentes; (IV) Atos obsessivos e a moral
religiosa; (V) A identificação com a comunidade LGBTQIA+ e o processo de fortalecimento
emocional; (VI) O mal-estar nas instituições; conforme elucidado na tabela abaixo:

Tabela 01 – Eixos temáticos e as Categorias de análise

Eixos Temáticos – Categorias de Análise


1- Como foi seu processo de perceber-se homossexual?
I - da infância á adolescencia, a elaboração da sexualidade e a meta
sexual;
II - O poder do contexto religioso e a validação das pessoas;
III - O tempo e o desenvolvimento das questões presentes;
2- Sentiu alguma dificuldade(s) em se auto aceitar? Se sim, quais?
IV - Atos obsessivos e a moral religiosa;
3-Durante esse processo de assumir, você teve alguma rede de
apoio? Alguma inspiração e/ou figura de representatividade?
Quais?
V - A identificação com a comunidade LGBTQIA+ e o processo
subjetivo de cada indivíduo;
4- O que considera que possa ter influenciado negativamente e/ou
positivamente neste processo?
VI – O mal-estar nas instituições;

Fonte: Tabela elaborada pelos/as autores/as.


DISCUSSÃO

1- Questão 1: “Como foi seu processo de perceber-se homossexual?”

I - da infância á adolescencia, a elaboração da sexualidade e a meta sexual .

O sujeito que se encaixa dentro do processo de perceber-se homossexual é ensinado cedo


através de uma prática “normativa”, ou denominado a partir de um outro conceito
“heteronormativo” que viver uma sexualidade (homossexual) diferente desta regra é julgado
“anormal”, não natural e errado, conforme os relatos a seguir: “Foi assim, uma coisa não muito
natural, até porque venho de uma família tradicionalmente religiosa nível de tradição muito
pesado” (S3, 34 anos); várias vezes na minha vida eu lembro até da minha infância, mas eu não
alimentava, até porque eu sempre fui muito certinha na igreja, eu era um exemplo. (S1, 25 anos).
Segundo Quinet (2013), a maneira que cada um vive sua sexualidade é, sem dúvidas, parte
importante de sua identidade subjetiva, ou, se preferirmos, de sua personalidade, mas não a define.
O que somos, o que cada um é, vai muito além da sua prática sexual. (p. 161). Contudo, levando
em consideração as cobranças dessa prática heteronormativa, S2 (21 anos) elucida que:“no ensino
fundamental, quando eu tinha, sei lá, uns 12 anos, zombavam de mim, naquela zueira que era um
bullying desagradável, como a homofobia, e eu não aceitava que aquilo fazia parte de mim, eu
ia na diretoria, fazia um escândalo, falava que eles estavam me chamando de coisas que eu não
era, e naquele momento me forcei muito”, logo percebe-se que a disseminação de um ideal, de
uma via apenas correta, é culturalmente associada a essa normatividade e também pré destinada
até antes do nascer.
“Os elementos constitutivos dessa história começam bem antes do nascimento da criança,
e estão intimamente relacionados com o lugar que esta ocupa no imaginário dos pais, no desejo
destes, assim como na economia libidinal do casal”, Ibidem (p. 86), em complemento, observa-se
na fala de S3: “sempre fui obrigado a ir para a religião, com eles pra missa, na catequese, onde
tudo era pecado, muito mais forte dentro da renovação crismática [...] quando eu fui crescendo
eu tive que ir me adequando”. Esta forma de se adequar exprime de maneira internalizada perante
a sociedade uma forma “normal” de agir, e tudo que foge desta via se encontra no não natural, no
anormal, com isto o sujeito que de alguma maneira gostaria de investir em um objeto de desejo,
agora se encontra encurralado diante de práticas não aceitas pelo ambiente e o contexto que
vivencia.
No texto de referência sobre o tema, “Três ensaios sobre a sexualidade”, Freud, 1905,
afirma que o instinto sexual, que era predominantemente autoerótico¹, encontra agora um objeto
sexual. Ele operava a partir de diferentes instintos e zonas erógenas, que buscavam, cada qual de
forma independente, determinado prazer como única meta sexual. (p. 121), nesta mesma linha de
pensamento do autor, percebe-se na fala, que o processo de se entender como homossexual para
o sujeito ocorre desde cedo, quando S4 (22 anos) afirma que: “Foi muito cedo, com 11 anos já
percebi que as coisas que gostava de ver na internet, como pornografia, nunca eram com o gênero
oposto, sempre me interessei mais por pornografia com homens, quando me imaginava objeto de
desejo, era de outro homem.” Freud (1905) elucida que, a partir do seu contexto e a frente do seu
tempo, que o sujeito desejante busca investir em um objeto, a fim de atingir essa meta sexual, na
qual lança diante de vários objetos de desejos que de alguma maneira conseguirá escolher e sair
desse autoerótico, que resultará na expressão da sexualidade adulta, afim de atingir sua meta.
Contudo, precedendo 1a infância, a criança em sua essência se encontra atravessada pelo
imaginário sexual do ambiente, da cultura e da sociedade que nasceu e está inserida, podendo não
atingir essa meta sexual e assim inibir o investimento no objeto de desejo.
Freud, 1905 explica “[...] que a fase a ele relacionada, que corresponde a esse período,
deve ser vista como importante precursora da organização sexual definitiva, apesar da síntese
imperfeita dos componentes instintuais”. (p. 159) e complementa “Nisso as excitações
correspondentes são geradas como antes, mas, por obstrução psíquica, são impedidas de alcançar
sua meta e empurradas para muitas outras vias, até se expressarem como sintomas. O resultado
pode ser uma vida sexual aproximadamente normal-em geral restrita-, mas com o complemento
de uma doença psiconeurótica. (p. 164), isto posto, como expressada na fala de S3 “não permitia
nem me tocar em me conhecer, nem me masturbar porque tudo era pra mim um pecado grave e
foi me afundando cada vez mais nessa questão religiosa”, tudo levado na questão que Lacan
nomeia como Nome do Pai, no Seminário 1 de 1953-1954, onde através de renunciar a satisfação
e/ou a busca pela meta sexual, o sujeito segue por uma regra reguladora e simbólica disposta na
sociedade para não se autorizar a obter tal investimento, da via que o autor propõe através de um
“certo significante que é tradicional, herdado, transmitido” (LACAN, 1955-56/2002, p. 283).

Se o pai era antes tomado como imago, aqui ele passa a ser símbolo, um símbolo que
libera o sujeito da clausura imaginária. Note-se que, ao mesmo tempo em que abre para
o sujeito um leque de significações novas, o simbólico também o obriga a se sujeitar a
uma regra compartilhada, impondo-lhe uma perda de satisfação. O símbolo como morte
da coisa pode ser lido retroativamente em termos do sacrifício do gozo que ele impõe:

1
*Autoerotismo: É satisfação no próprio corpo, para usar uma denominação feliz, introduzida por Havelock Ellis, não está dirigida
para outras pessoas, se tornando evidente na atividade sexual (FREUD, 1905, p. 84).
ao aceitar colocar-se sob a autoridade do símbolo, a criança renuncia à satisfação do
narcisismo primário. (LUSTOZA, 2018. pag. 327)

Isto posto, segundo Ceccarelli, 2002, a heterossexualidade considerada como normal, ou


seja, a heteronormatividade transforma em fonte de angústia a inibição do objeto de desejo, que
pode chegar ao desespero, a atingir essa vicissitude pulsional do sujeito em busca da sua meta
sexual pois o sujeito se sente estigmatizado em relação ao discurso dominante, podendo até
mesmo se forçar a uma “escolha sexual”, que de forma alguma corresponda a sua verdade
pulsional. (pag. 88), como exemplificado perante a fala de S1: “mas eu não alimentava, até porque
eu sempre fui muito certinha na igreja, eu era um exemplo. “Ah, tem que ser que nem a S1, a S1
é um exemplo, olha que belezinha”, ou na fala do S2: “Eu não queria trazer isso à tona para o
meus pais, porque eu ia trazer uma decepção muito grande, e forcei bastante pra não viver isso”.
É diante dessas falas que se observa uma sociedade que segue somente uma regra, como
reguladora de todo processo de desenvolvimento humano, mesmo a psicanálise afirmando que a
sexualidade escapa a toda e qualquer tentativa de normalização.
Segundo Freud (1907) pode se dizer que aquele que sofre de compulsões e proibições
comporta-se como se estivesse dominado por um sentimento de culpa, do qual, entretanto, nada
sabe, de modo que podemos denominá-lo de sentimento inconsciente de culpa, apesar da aparente
contradição dos termos. (pag. 69), dito isto, como ilustrado nas falas de S1: “tinha um grande
peso em cima de mim, nunca que eu ia decepcionar meus pais desse jeito” ou na fala de S2: “que
eu sentia mais por viver muito na igreja e reprimir sentimentos, dizendo ‘não posso viver isso’
estou aqui mas eu vou reprimir, pois chegava a ser um pecado”, como também na fala de S3: “eu
fui me adequando a aquilo e tentando dizer que eu era homem, que gostava de mulher, eu tinha
que namorar mulher.”, S3: “então o meu foi sublimando isso dentro de mim muitas vezes até
chegar um ponto onde eu comecei a sentir um grande monstro e sentir que eu não tinha condições
de ser feliz porque eu não conseguia ser aquilo”, e por fim na fala de S4: “me afeiçoava a
meninas, admirava elas, formas afetivas de laços, bem no começo, mas isso caiu por terra, porque
em termos de sexo, desejo, sexualidade, não era o meu objeto de desejo”.
Para Mielle, 2012, a sexualidade humana não é biologicamente determinada, assim como
o próprio conceito de pulsão sexual, e a escolha de objeto sexual individual é independente da
distinção biológica de gêneros e complementa, que portanto, as pulsões que poderiam ser
qualificadas como ‘perversas’ se revelam como uma inevitável parte do processo que fundamenta
a estrutura da própria organização psicossexual (pag. 92). É nesta linha de raciocínio que se torna
perceptível o sentimento de culpa, em negar seu objeto de desejo, e que se não elaborado, não
formará uma estrutura sexual adulta saudável.
II - O poder do contexto religioso e a validação das pessoas;

Em 1903, Freud responde que a homossexualidade não é algo a ser tratado nos tribunais
“(...) Eu tenho a firme convicção de que os homossexuais não devem ser tratados como doentes,
pois uma tal orientação não é uma doença. Isto nos obrigaria a qualificar como doentes um grande
número de pensadores que admiramos justamente em razão de sua saúde mental (...) Os
homossexuais não são pessoas doentes” (FREUD, 1903 apud QUINET, 2013. Pag. 156.).
Em contrapartida, instituições ligadas ao cristianismo, desde seus fundamentos baseados
nas escritas bíblicas, abominavam a homossexualidade, comparando-a como uma “perversão”
diante da cultura que vivenciavam, e isto, mesmo diante das ondas de luta dos movimentos gays,
na atualidade vários são os preceitos dogmáticos, de uma hierarquia patriarcal, ainda utilizados
para o preconceito. Na bíblia, tanto em Levitico quanto em Deutoronômio, considera a
homossexualidade como prática abominável, chamado de estigma negativo do prazer, como
também nos estudos de São Tomaz de Aquino. Contudo, qualquer legiferação sobre a normalidade
ou não da sexualidade e dos comportamentos sexuais é uma postura perversa, que pretende dizer
o que é certo e o que é bom para o outro. (QUINET, 2013. pag. 27).
Os relatos coletados explicitam o contexto religioso nas seguintes falas. S1: “eu era bem
do jeito que a igreja quer, foi quando eu fui embora (para outro país, no intercâmbio) que
realmente eu me libertei e foi quando eu comecei a me dar mais ouvido e escutar mais.” E na fala
de S3 “para deixar mais explícito, minha família são das fundadoras de uma comunidade
católica, (conhecida nacionalmente) então a religiosidade é muito forte em todas as partes tanto
materno, quanto paterno”
De acordo, com o Caderno Temático 11, do Conselho Regional de Psicologia de São
Paulo, elaborado em 2011, o autor Fernando Silva Teixeira Filho elucida sobre preceitos que
legitimam a prática homofóbica:

“Outros estudiosos contemporâneos irão repensar a homofobia. Não só por força da


pobreza conceitual que a cunhou, mas também por conta das mudanças sociais que vão
legitimando a existência do direito a existir de diversas pessoas independentemente de
suas orientações sexuais e/ou identidades de gênero, o que, no nosso campo, se traduz
na possibilidade de se firmarem enquanto pessoas não portadoras de uma condição
patológica.” (CRPSP, 2011. Pag. 50)

Dito isto, mesmo diante a Portaria n° 2.836, (Ministério da Saúde, 2011) que tem como o
objetivo de promover a saúde integral da população LGBTQIA+ de forma integral, afim de
garantir o enfrentamento das iniquidades para o pleno exercício da democracia e do controle
social, acolhendo e respeitando suas demandas, contudo, surgem preconceitos diante o que a
população heteronormativa nomeadas então como “minorias”, população esta que foge do
comportamento padrão e normal, ditado pela sociedade e pela religião, afirmando sua
superioridade, como afirma Filho, 2011:

Para que esse modelo desse certo foi necessário convencer a sociedade de que a
heterossexualidade fosse o padrão de comportamento sexual não apenas desejado, mas
normal e superior a todas as outras formas de manifestação da sexualidade. Chamamos
a isso de heterossexismo. É ele que vai justificar a heterossexualidade como causa de
normalidade e, portanto, superioridade (CRPSP, 2011. pag. 52).

Segundo Ceccarelli, 2002, na sociedade ocidental, dominado pela tradição judaico-cristã,


esse simbólico é marcado por uma visão negativa da sexualidade, cujas origens devem ser
buscadas no relato bíblico do pecado original. O autor ainda completa que estabeleceram-se
“critérios de normalidade”, os quais foram dogmatizados e transformados em revelações a serem
seguidas sem questionamento (pag. 87). Como explicitado na fala de S3: “não era alguma coisa
fácil pra mim porque eu levava isso como um pecado grave e eu conversava toda semana, eu ia
até o padre e ele dizia que eu estava errado, só que em vez de haver acolhimento havia uma certa
tortura psicológica dizendo, isso é pecado mesmo” ou na fala de S2: “não posso viver isso, estou
aqui mas eu vou reprimir, pois chegava a ser um pecado, até eu sair da igreja eu vivia esse
dilema, eu cheguei a conversar, chegar pro padre falar a respeito disso e o padre falou que eu
devia reprimir, e aquilo ficou na minha cabeça”, ambos do sexo masculino, na qual em muitos
momentos se coloca em questão sobre a masculinidade e sexualidade do sujeito.
Na psicanálise, o que o contexto religioso condena como perversão, Lacan, 1953-1954,
lança dizendo que a perversão não é simplesmente aberração em relação a critérios sociais,
anomalia contrária aos bons costumes, ou atipia em relação a critérios naturais, isto é, que ela
derroga mais ou menos a finalidade reprodutora da conjugação sexual. Ela é outra coisa na sua
estrutura mesma (pag. 252). Já Quinet (2013) expressa que a homossexualidade não é uma
perversão, porque a noção de perversão implica antes de mais nada, que haja uma versão correta.
Homossexualidade é na verdade a revelação da subversão inerente à sexualidade humana, que
não se subordina a nenhum ideal (pag. 346).
Ademais, o contexto religioso e a validação das pessoas não deve ser pertinente ou
contraditório à orientação sexual, tão pouco a homoafetividade, pois toda sexualidade, seja ela
homo, bi, trans, pan, pertencentes ao movimento de pessoas LGBTQIA+ é igualmente legítima e
ninguém tem o direito de autorizar ou desautorizar a sexualidade do outro, como expressado na
fala de S3: “isso é uma fase que eu precisava pensar, que eu precisava refletir que eu precisava
me encontrar, então me mandaram pra psicóloga, onde foi dito que isso era muito natural, mas
que era só um momento, uma fase”. Para Quinet, 2013, homossexualidade é por si só uma
subversão, ela não é uma inversão – ideia que supõe que haja uma versão correta da sexualidade
- nem uma perversão – Ela é subversiva, pois manifesta, em ato, a existencia no ser falante de
uma liberdade absoluta em relação ao natural (pag. 24). E toda ou qualquer forma de ditar, sobre
preceitos de contexto religioso e/ou social, cultural, deve ser então considerado uma falácia, como
expressado:

A psicanálise se opõe à pedagogia do desejo, pois esta é uma falácia. Não se


pode educar a pulsão sexual. Não se pode desviá-las para acomodá-las aos ideais
da sociedade. A pulsão segue os caminhos traçados pelo inconsciente, que é
individual e singular. A pulsão não é louca, ela obedece a uma lógica
determinada pelos avatares do Nome do pai, a lei simbólica a que todos estamos
submetidos (QUINET, 2013. pag. 343).

Dito isto, não existe uma via correta, uma norma reguladora a se seguir, que possa
diminuir ou extirpar todo ou qualquer tipo de sexualidade e/ou afetividade.

III – Aceitação da homoafetividade;

Entende-se que, mesmo diante de ameaças de uma instância reguladora, o Nome do pai,
dita que uma das coisas mais difíceis de suportar é a diferença, sem que seja vivenciado como
algum perigo eminente, e dizer que algum sujeito pode ser diferente ou fugir dessa norma abala a
verdade expressada pela sociedade e cultura, isto revela que nossos referenciais são construções
com tempo de vida limitado. Com isto cada sujeito terá propriamente seu tempo de
desenvolvimento e aceitação, como explicitado por S2: “em algum momento eles vão precisar
saber e eu não quero mais esconder e se eu fui lá e contei, eu achava que seria um caos total que
eles iam me bater, real, e na realidade os dois ficaram muito calados tanto meu pai quanto minha
mãe. Meu pai chorou muito, muito, e eles não me responderam absolutamente nada, contei eles
viraram as costas e foram pro quarto começar a chorar e foi essa resposta que eu tive desde
então” e complementa: “minha relação com a família teve altos e baixos, quando me assumi foi
bem ruim, eles sempre se negaram a enxergar”.
Segundo a teoria da Etiologia, existem três teorias que de alguma forma definem o
fenômeno da homoafetividade, sendo elas, a teoria da variação normal que tratam a
homossexualidade como um fenômeno que ocorre naturalmente, indivíduos homossexuais
nascem diferentes, mas naturais como pessoas canhotas. Na cultura contemporânea, essa teoria
sustenta a crença de que as pessoas nascem gays. Enquanto teoria da patologia trata a
homossexualidade como doença, que desvia do normal e a teoria da imaturidade, como se fosse
algo normal, só que passageiro a ser superada em determinada fase da vida adulta (QUINET,
2013, pag. 48).
Seguindo essa linha de raciocínio, a psicanálise se direciona a partir da variação normal,
na qual segundo Freud 1905, a pesquisa psicanalítica se opõe, decididamente a qualquer tentativa
de separar os homossexuais do resto da humanidade como um grupo de caráter especial. Freud
denominava a escolha do objeto para esclarecer a orientação sexual, na qual propôs o conceito de
bissexualidade para todo ser humano, por isso se toma o termo de homossexualidades, pois existe
a homossexualidade tanto na prática quanto na latente e subliminada (QUINET, 2013, pag. 343).
Como exemplificado na fala de S2 que demonstra como seu processo de se perceber homossexual
ocorreu: “quando eu entrei lá no ensino médio, onde eu tive acesso à informação de verdade, de
outras pessoas como eu, que eram extremamente bem resolvidas e eu decidi que quero viver essa
verdade pra mim.” E também na fala do S3: “eu não tive que contar para minha família e eu
nunca tive, até hoje contar pra ninguém, de chegar pra minha família e dizer “eu sou gay” eu
simplesmente cheguei e com eles foi um processo natural”. Dito isto, Nascimento, 1998 crítica
sobre a necessidade social e cultura, onde existe o desejo do outro em colocar a orientação sexual
na frente do sujeito lançado no mundo social, cultural e profissional:

A clínica tem me feito pensar que a homossexualidade é um hífen. Meus pacientes


se narram professores-homossexuais, vendedores-homossexuais, amigos-homossexuais,
filhos-homossexuais, ou seja, sua definição do Eu obedece a função F(S) = x - h, onde
lê-se a função de um sujeito {F(S)} é definida por qualquer atributo ou representação do
eu (x) que estará sempre colada ao discurso hegemônico sobre a homossexualidade. Este
discurso será sempre justificado defensivamente pelo sujeito como aprendido
socialmente e fruto do preconceito. Mas o que considero digno de análise é que há
nitidamente uma internalização desta forma de ver o mundo. Quando se internaliza o
hífen, parece que o mais importante é “saber quem é...” e “saber quem não é
homossexual”, “quem me apoia” e ‘’quem me persegue”, e qual a fórmula mais eficaz
de lidar com a perseguição e como criar máscaras sociais. (pag. 115)

Para o autor, essa forma de criar máscaras sociais adentra na fala de Freud, quando o
mesmo cita sobre as homossexualidades latentes e subliminadas de diversos sujeitos. (ibidem)
Logo, pode-se evidenciar o processo desenvolvimental biopsicossocial de cada sujeito de forma
subjetiva, pois não se encaixam nos padrões heteronormativos e, com isso, de alguma maneira
consegue elaborar tais internalizações sobre a homoafetividade e sobre esse olhar e aceite do
outro.
2- Sentiu alguma dificuldade(s) em se auto aceitar? Se sim, quais?

IV – Atos obsessivos e a moral religiosa;

É compreendido, como visualizado na análise supracitada, que o contexto sociocultural e


religioso onde o sujeito se encontra, não deve de forma alguma ser contra a qualquer tipo de
orientação sexual, tampouco a forma que o sujeito expressa sua homoafetividade, contudo, surge
em contrapartida uma moral religiosa existente no âmago do indivíduo, como expressado na fala
de S3: “No começ,o eu acho que por essa questão moral, eu trouxe essa moralidade religiosa
comigo muito forte” e na fala de S1, quando questionada sobre se a mesma sentiu alguma
dificuldade no processo de autoaceitação: “Sim, senti por causa da religião, [...] eu tinha muitas
coisas que faziam parte da minha raiz”, dito isto, perante este contexto religioso, Freud, 1907
elabora o texto base sobre Atos obsessivos e a prática religiosa e cita que o sujeito, através de
uma série de leis não escritas, habitadas no inconsciente, logo executará o que ele denomina como
cerimonial que consiste em pequenos acréscimos, restrições, medidas, arranjos, que são realizados
em certas ações cotidianas de forma sempre igual ou com variações metódicas (grifo nosso, pag.
210), como referenciado nas falas dos entrevistados, sendo as ações contra a expressão da
homoafetividade e sua autoaceitação, consideradas como ato pecaminoso, proibido.
Digno de nota, é o fato de que obsessões e proibições (ter de fazer uma coisa e não poder
fazer outra) atingem, de início, apenas às atividades solitárias dos indivíduos, deixando intacta,
durante muito tempo, a sua conduta social. (FREUD, 1907. pag. 211), neste sentido, S3 diz: “eu
estou pecando o tempo todo, eu estou fazendo errado tempo todo, acho que esse foi o momento
da autoaceitação que mais me deu trabalho, lidar com esse auto julgamento que eu tinha” e na
fala de S4: “a primeira coisa foi a culpa, uma tentativa insistente de mediar o que sentia, tentar
mudar isso de alguma forma, pensava que era uma fase, mas esse sofrimento foi pontual, não
demorou muito, logo percebi que não era muito possível”. Essa culpa existente, Freud, (1907)
elucida:

Tal sentimento de culpa tem sua fonte em determinados processos psíquicos da


infância, mas é continuamente reavivado na tentação que se repete a cada novo ensejo,
e, por outro lado, faz surgir uma angústia expectante que sempre fica à espreita, uma
expectativa de desgraça que, mediante a noção de castigo, acha-se ligada à percepção
interna da tentação (ibidem, pag, 214)

É possível entender, que este sentimento de culpa internalizado pelo sujeito, visto como
uma forma de executar a lei da heteronormatividade, como via única, é nomeado como sentimento
de culpa, de não se encaixar nos paradigmas imposto pela relação sociocultural, como observado
na fala de S2: “eu acho que o meu problema maior hoje é o medo de não se encaixar, de não
conseguir se inserir por ser homossexual” e na fala de S4: “primeiro uma culpa, me dei conta de
que estava vendo pornografia de homens gays e me senti culpado, comecei a tentar ver
pornografia com mulheres, mas meu olhar focava em homens.”
Segundo Freud (1907) pode-se dizer que quem sofre de compulsões e proibições age como
se fosse dominado por um sentimento de culpa, do qual nada sabe, porém; de um sentimento de
culpa inconsciente. (pag. 214), como expressado nas frases acima dos entrevistados, contudo,
surge a partir destas as proibições da igreja, com sua moralidade, expressado por S1: “então foi
bem difícil, assim, a autoaceitação. Eu pensava que eu ia pro inferno, eu falava pra minha ex
assim: ‘é isso e eu vou pro inferno, mas eu vou escolher o inferno desse jeito então'', com isto,
surge diante desta lei inconsciente, seguida pelas práticas religiosas que esta tentação levava o
sujeito a vivenciar como pecado e ser julgado por uma instância reguladora, pelo eu ideal exigido
pela sociedade, como citado por Freud (1907) os atos cerimoniais e obsessivos surgem, em parte,
como defesa contra a tentação e, em parte, como proteção contra o infortúnio esperado. Logo que
as ações protetoras não bastam contra a tentação, aparecem as proibições, afim de manter afastada
a situação que gera a tentação. (pag. 215) e complementa sobre as práticas religiosas que:

Na base da formação da religião também parece estar a supressão, a renúncia a


determinados impulsos instintuais; mas estes não são, como na neurose, exclusivamente
componentes sexuais, mas instintos egoístas, socialmente danosos, aos quais não falta
geralmente, por outro lado, um aporte sexual., (ibidem, pag. 216)

Isto posto, sobre a influência do instinto reprimido, que inviabiliza atingir sua meta do
objeto de desejo, é sentida como uma tentação, no processo mesmo da repressão surge a angústia,
que se assenhora do futuro como angústia expectante (ibidem, pag. 215).
Todavia, o desenvolvimento biopsicossocial é subjetivo, em complemento, diante dos atos
obsessivos e a moral religiosa, é observado o processo do sentimento de culpa presente e em sua
maioria não elaborada e até mesmo recalcado, como exemplificado na fala de S4, diante a situação
de aceitação dos pais: “foi apenas um elefante na sala que ninguém quis lidar com isso”, em
complemento com a fala de S1: “mas os pais nunca querem enxergar os defeitos, entre aspas,
dos filhos, eu acho que não querem enxergar para não sofrerem, não sei, eu acho que talvez seja
uma autoproteção, não sei, ou enxergam e não querem acreditar”, ou quando se trata da
validação do outro, fora a família nuclear, como na fala de S2: “E eu não sentia essa identificação
lá dentro do projeto (projeto social) e é muito louco isso, sentir que as pessoas te olham e te
percebem e assim antes mesmo de você falar qualquer coisa, e às vezes eu tenho até esse medo
de chegar e a minha sexualidade vir antes e criar um conceito na cabeça deles”. Obtém-se então
uma compreensão mais profunda dos mecanismos da neurose obsessiva quando se leva em
consideração o primeiro fato em que ela se baseia, que é sempre a repressão de um impulso
instintual (de um componente do instinto sexual) que se achava na constituição da pessoa, pôde
expressar-se momentaneamente e sucumbiu depois à supressão, (ibidem, pag. 215). Perante tal
citação, é evidenciado que o processo é atravessado por uma via complexa, se tratando da
autoaceitação e da validação do outro, mas partindo destes paradigmas, é necessário elaborar e
entender que não é uma fase, apenas vivenciando naquele momento, e sim um processo, como na
fala de S4: “a primeira coisa foi a culpa, uma tentativa insistente de mediar o que sentia, tentar
mudar isso de alguma forma, pensava que era uma fase, mas esse sofrimento foi pontual, não
demorou muito, logo percebi que não era muito possível”.

3 - Durante esse processo de assumir, você teve alguma rede de apoio? Alguma inspiração
e/ou figura de representatividade? Quais?

V - A identificação com a comunidade LGBTQIA+ e o processo subjetivo de cada indivíduo;

No quesito da identificação, Albuquerque (2013) esclarece que a sociedade tem papel


avesso ao que seria uma autoaceitação saudável, e a sociedade tem hábitos que contribuem para
inibir expressões comportamentais e dificultando o desenvolvimento de si próprio em meio a isso.
Frente a esta problemática, o indivíduo encontra subterfúgios para sustentar essa angústia advinda
do meio social ao qual pertence. Como citado pelo S2, “para mim, uma outra pessoa que também
admiro é a Rita von Hunty. Comecei a acompanhar depois. ” e S4 “Primeiramente meus amigos,
meus pares, sem eles teria sido um processo muito mais doloroso, são todos queers, pessoas
bissexuais, trans, homens gays, é uma galera que eu penso que o caminho que fizemos juntos,
acabamos construindo a personalidade um do outro. ” A fala dos indivíduos valida a questão que
o autor, anteriormente, citou como formas de lidar com a opressão da sociedade. Uma
movimentação em prol da própria saúde e da própria existência enquanto comunidade. Também
exemplificado por S1: “Aí teve uma cena específica de discussão entre os dois, ele falou muitas
verdades para o pai dele, que o pai dele era um bosta, e o pai dele é um lixo, que só humilhava
ele, aí foi nessa briga dele que eu falei: chega! Vou falar com a minha mãe, aí eu escrevi um
textão. ”Corroborando com a temática da figura paterna proposta por Lustoza (2018), o S4 diz
que “Em algum momento meus pais se tornaram essa rede de apoio, principalmente meu pai. Ele
fala umas coisas engraçadas como “eu não quero que você seja macho, eu quero que você seja
um homem” e isso é algo dentro do aporte dele, eu entendo o que ele quer dizer com esse “ser
homem”, ele quer que eu seja uma pessoa boa, uma pessoa íntegra, alguém do bem. Só de ele
não ter um discurso avesso, eu já me senti uma pessoa muito mais possível. Posso ser como eu
sou, ainda sendo um homem íntegro." Tal fala reforça ainda mais a importância da figura paterna
de se abrir possibilidades em um psiquismo em desenvolvimento, na medida que se observa, no
caso do S4, uma mãe mais fechada e tradicional em seus pensamentos, e a figura do pai como
uma possibilidade para além das próprias, tendo este solicitado do filho algo possível em qualquer
realidade que seja a direção tida como certa para o filho.
Ainda neste sentido de definir o processo rumo à autoaceitação, encontra-se respaldo nas
falas que virão a seguir quando se busca refúgio nos saberes de Freud (1905), que cita a pulsão
sexual como não detentora de um objeto fixo, mas sim diverso, fora do campo apenas das questões
instintivas. Na fala do S4 “Com a puberdade, passei por um processo de me entender primeiro
como bissexual, me afeiçoava a meninas, admirava elas, formas afetivas de laços, bem no
começo, mas isso caiu por terra, porque em termos de sexo, desejo, sexualidade, não era o meu
objeto de desejo. “ Observa-se que no mesmo sentido que o desenvolvimento se guia por um ideal
pessoal e subjetivo, as identificações acontecem de forma semelhante. O indivíduo se vê como
não pertencente aos conceitos heteronormativos vigentes na sociedade e parte em busca do local
em que se sente mais pertencente, em uma movimentação em prol do desenvolvimento da psique
e do próprio ideal de Eu. Este movimento de evolução pessoal fica evidente na fala do S4: “aí eu
fui pra análise, descobri a psicanálise, descobri que eu não preciso ser esse objeto pra minha
mãe, que complementa essas fantasias dela, ela que vai ter que se avir com isso, e essas idas e
vindas com a minha mãe foram obstáculos que atrapalharam muito ao longo do caminho. E hoje,
após 8 anos de análise, surtiram muitos efeitos, eu já consigo responder de outros lugares e vejo
o esforço dela de também falar de outros lugares. “

4- O que considera que possa ter influenciado negativamente e/ou positivamente neste
processo?

VI – O mal-estar das instituições;

No que tange às influências negativas e/ou positivas, procura-se entender primeiramente


as bases psicossociais, sociodinâmicas e institucionais, elaboradas a partir da Teoria do Vínculo
de Pichon-Rivière (2007). Para o autor, esta base institucional, que analisa a sociedade e/ou
instituições que fazem parte da vida do sujeito, envolve a transversalidade, que abarca conteúdos
latentes e manifestos das instituições que atravessam e determinam a subjetividade do sujeito
(PICHON-RIVIÈRE, 2007). Em complemento aos conteúdos que atravessam o sujeito, Silva
(2009 apud MORETTO e TERZIS 2010) afirma que um indivíduo só se constitui pela presença
de alguém que reconhece e, portanto, humaniza sua existência. [...] Assim, podemos questionar
até que ponto é possível, dentro de uma instituição, propiciar ao indivíduo com intenso sofrimento
psíquico um espaço suficientemente bom para que ele possa, através dessa relação, descongelar
situações de fracasso e adquirir uma abordagem mais criativa da vida (MORETTO. Grifo Nosso.
p. 45, 2010).
Neste sentido, a instituição, nomeada como família e religião, acabam que, por
determinarem a subjetividade do sujeito, sem uma liberdade de se expressar diante do sofrimento
individual, pois segundo O Mal-Estar na Civilização de Freud, 1930, o elemento cultural se
apresentaria com a primeira tentativa de regulamentar essas relações (p. 40), como visualizado
na fala de S3 sobre as influências negativas “ negativamente também, porque eu acredito que em
um ambiente de formação primeiro, seja ela familiar, e que eu inserido sempre sofria, era
esperado que a gente correspondesse, meu pai falava assim, você não pode fazer isso que os
outros vão pensar e o que vão falar de nós, o que eles vão pensar da gente, não pode, tem que
respeitar os avós, [...] essa repressão já acontecia desde a infância, nos trabalhos escolares,
grupinhos, na educação familiar”. e na fala de S2 sobre a relação negativa com a igreja: “pior
experiência foi a igreja, disparado, foi muito triste a relação lá dentro [...] aí quando eu estava
vivendo todo esse processo a galera criou um grupinho no WhatsApp pra falar mal de mim”.
Segundo COSTA, MACHADO e WAGNER (2015) tais instituições impõem à família a
responsabilidade única da procriação e desconsideram o relacionamento entre pessoas do mesmo
sexo, como se elas fossem incapazes de constituir uma família, ter filhos e levar uma vida digna.
(COSTA, 2015, p. 780), porém, para os autores, em contrapartida, o indivíduo homossexual
aceitaria então, nessa construção social, continuar invisível aos olhos da sociedade e construindo
uma realidade paralela (p. 779), como exemplificado na fala de S1, que acredita que a influência
positiva foi vivenciada quando a mesma estava em intercâmbio, longe da mãe: “Eu acho que
positivamente foi a distância nessa questão de se assumir, ‘o que os olhos não vê o coração não
sente, entendeu?’, sabia que minha mãe estava sofrendo, minha irmã falou que parecia que eu
tinha morrido, ela ficou em luto” e no sentido de não estar no lugar certo como na fala de S4: “me
posicionar nesse sentido, me retraiu, retornou uma certa culpa, um sentimento de inadequação,
porque querendo ou não, pelo menos na minha família, a minha mãe é uma figura muito
importante e isso afeta muito na minha autoestima”.
Todavia, são muitas as redes de apoios existentes neste processo, como exemplificado na
vivência escolar de S2: “eu fico me questionando então, sobre uma influência positiva, no colégio
que eu estava durante meu processo, tinha os professores que sempre sentavam comigo pra me
ouvir, a psicóloga do colégio, e ela falava muito comigo porque eu tinha muito medo de trabalhar
isso na escola e com minha família, e ela que falou em um momento ‘se você ver tanto problema
nessa questão de se conhecer, segue o seu coração, naquilo que você acredita que seja melhor
pra você’ eu falei ‘eu estou sentindo que tem que ser agora’”, que de acordo com Costa (2015),
pode-se compreender que, nas relações de amizade, quanto mais significativo o grau de
intimidade, mais abertura para tratar de temas de cunho privado e agir com espontaneidade; (p.
782), por fim, foi observado que diante de todo este processo vivenciado pelo sujeito LGBTQIA+,
atravessado pela dimensão sócio-histórica patriarcal e conservadora, que as redes de apoios e
instituições menos conservadoras proporcionam ao indivíduo uma elaboração saudável de seu
sofrimento interno e de sua aceitação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa realizada e dos dados analisados, destaca-se que o estudo sobre o
processo de autoaceitação da homossexualidade é, contudo, subjetivo de cada sujeito atravessado
por uma estrutura socio-histórica patriarcal e heteronormativa, impossibilitando, assim, expressar
a homoafetividade por consequências de atos de repugnação com o sujeito homossexual. Entende-
se, diante da elucidação do contexto vivenciado pelos entrevistados, que instituições e/ou pessoas,
não devem, de maneira alguma, impossibilitar a vivência do sujeito homossexual, porém, mesmo
diante de estudos e pesquisas, a comunidade LGBTQIA+, em conjunto de políticas públicas,
deverá trilhar um longo caminho, a fim de proporcionar novas vitórias contra o preconceito
estrutural e a homofobia cultural.
Considera-se, portanto, que os objetivos previamente estipulados foram alcançados e a
questão norteadora respondida, uma vez que se identificou que o processo de autoaceitação da
homoafetividade é subjetivo e que a comunidade LGBTQIA+ não é apenas uma minoria, mas sim
uma comunidade que consegue gritar para todos entenderem. Por consequência, foi possível
propor, de maneira significativa, a ampliação de novos estudos sobre a temática.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE. G. A; et al. Homossexualidade e o direito à saúde: um desafio para as políticas


públicas de saúde no Brasil. Rev. Saúde e Debate, Rio de Janeiro, v. 37, n. 98, p. 516-524, jul/set 2013.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/JhwFvPRq3LCSQTqkLgtHZ7f/?lang=pt. Acesso em: 08
jun. 2022.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders


– DSM. 1 ed.Washington D/C, 1952.
BORGES, Roberta da Costa. Pais e Mães Heterossexuais: Relatos Acerca da Homossexualidade de filhos
e filhas. Universidade de São Paulo. SP. 2009. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-20052009-
135855/publico/RobertaCostaBorges.pdf. Acesso em: 08 jun. 2022.

BRASIL. Lei nº 7.716, de 05 de Janeiro de 1989. Define os crimes resultantes de preconceito de raça
ou de cor. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Disponível em:
páginas.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%207.716%2
C%20 DE%205%20DE%20JANEIRO%20 DE%201989.&text=Define%20os%20 crimes%20
resultados%20 de,de%20 ra%C3%A7a%20ou%20 de%20cor. Acesso em: 08 jun. 2022.

BRASIL. Portaria n° 2.836, de 01 de Dezembro de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS), a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(Política Nacional de Saúde Integral LGBT). Ministério da Saúde, Brasília, DF. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2836_01_12_2011.html. Acesso em: 08 jun. 2022.

BRASIL. Resolução N° 466, de 12 de dezembro de 2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de


pesquisa envolvendo seres humanos. Conselho Nacional de Saúde. Disponível em:
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021.

CECCARELLI, Paulo Roberto, A Invenção da Homossexualidade. Rev. Bagoas. Estudo Gays, Genêro
e Sexualidade. Rio Grande do Norte. v. 2, n. 02, 2012. p. 71-93. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/bagoas/article/view/2268. Acesso em: 13 nov. 2022.

COSTA, C. B., MACHADO, M. R., WAGNER, M. F. Percepções do homossexual masculino:


Sociedade, família e amizades. Temas em Psicologia, v. 23, 2015, p.777-788. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v23n3/v23n3a20.pdf. Acesso em: 26 nov. 2022.

FREUD, S. Totem e Tabu. Contribuição à história do movimento psicanalítico e outros textos (1912-
1914) In: FREUD, S. Obras completas. v. 13. São Paulo: Companhia das Letras. 2012, p. 07-306.

FREUD. S. Neurose Obsessiva e Práticas Religiosas. (1907). In: FREUD, S. Obras completas. v. 8. São
Paulo: Companhia das Letras. 2015, p. 209–218.

FREUD. S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. (1905). In: FREUD, S. Obras completas. v. 6
São Paulo: Companhia das Letras. 2016, p. 13-154.

FREUD. S. O mal-estar na civilização. (1930). In: Sigmund Freud; 1° edição, São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.

GGB. Relatório Anual 2021: Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil. Bahia. Grupo Gay da Bahia.
Disponível em: https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2022/03/mortes-violentas-de-lgbt-2021-
versao-final.pdf. Acesso em: 08 jun. 2022.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GUIA PARA ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS. Centro Universitário


Salesiano de São Paulo. 5.ed. São Paulo: UNISAL, 2020. 89 p.

GUIMARÃES, Luigi Sturaro. Homossexualidade na Adolescência na Comtemporeinidade: Mudanças


e Desafios. Centro Univ. Jorge Amado. Bahia. jun. 2016. Disponível em:
https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0999.pdf. Acesso em: 08 jun. 2022.
JORGE, Marco Antonio Coutinho. A teoria freudiana da sexualidade 100 anos depois (1905-2005).
Rev. Psyche, São Paulo , v. 11, n. 20, p. 29-46, jun. 2007 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
11382007000100003&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 13 nov. 2022.

LACAN, J. (1953 – 54) O seminário, livro 1: Os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
3° Ed., 1979.

LUSTOZA. Rosane Zétola. A Formação do Conceito de Nome do Pai (1938-1958). Rev. Ágora, Rio de
Janeiro. v. 21 n. 3, p. 323-332. set/dez, 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-
14982018003004. acesso em 14 nov. 2022.

MIELI, Paola. Uma nota sobre a diferenciação estrutural de Freud entre neurose e perversão. Rev.
Reverso, Belo Horizonte , v. 34, n. 63, p. 91-102, jun. 2012 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
73952012000200011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 14 nov. 2022.

MORETTO, C. C.; TERZIS, A. O sofrimento nas instituições e possibilidades de intervenção grupal.


Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro, v.62, n.3, p.42-47, 2010. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
52672010000300006&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 28 nov. 2022.

NASCIMENTO, J. C. C. do. Entrevista com Vampiro. Rev. Latinoamericana


de Psicopatologia Fundamental. São Paulo. Jan-Mar, 1998. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1415-
47141998001008. Acesso em: 13 nov. 2022

QUINET. Antonio e JORGE, M. A. C. . As Homossexualidades na Psicanálise: na história de sua


despatologização. São Paulo, Segmento Farma, 2013.

SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, M. P. B. Metodologia de pesquisa. 5 ed. Porto Alegre:
Penso, 2013.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 24. ed. São Paulo: Cortez, 2017.

Você também pode gostar