12 Assistencia em Enfermagem A Mulher

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ASSISTENCIA EM ENFERMAGEM A MULHER

Assistência em Enfermagem a Mulher

Atuação do enfermeiro diante da importância da assistência à saúde da mulher no climatério

O climatério é a fase da vida da mulher em que ocorre a transição do período reprodutivo - menacme
- ao não reprodutivo - senectude (senescência ou senilidade).1 A Organização Mundial de Saúde
(OMS) estabelece como limite etário para o climatério o período entre 40 e 65 anos de idade.

A Sociedade Internacional de Menopausa divide esse período em: pré-menopausa - inicia-se, em ge-
ral, após os 40 anos, com a diminuição da fertilidade em mulheres com ciclos menstruais regulares ou
com padrão menstrual similar ao ocorrido durante a vida reprodutiva; perimenopausa - inicia-se dois
anos antes da última menstruação e vai até um ano depois (com ciclos menstruais irregulares e alte-
rações endócrinas); pós-menopausa - começa um ano após o último período menstrual e é subdivi-
dida em precoce - quando ocorre em até cinco anos da última menstruação - ou tardia - mais de cinco
anos.1

As modificações existentes nessa fase ocorrem por causa das variadas alterações na estrutura e na
função ovariana, com gradativa diminuição da produção estrogênica. O hipoestrogenismo é o princi-
pal responsável pelo surgimento de modificações físicas e psíquicas características do climatério. Os
sintomas típicos do climatério mais frequentes são instabilidade vasomotora, distúrbios menstruais,
sintomas psicológicos, atrofia geniturinária e, em longo prazo, osteoporose e alterações cardiocircula-
tórias.1 A intensidade dessas modificações recebe influência do ambiente sociocultural, das condi-
ções de vida da mulher e do grau de privação estrogênica.

De acordo com Murata e Schirmer, é possível que os sintomas que surgem no período do climatério
tenham relação com a qualidade da vida sexual, social e psicológica pregressa da mulher, assim
como com as formas apreendidas para viver esse período.

O climatério é, portanto, um processo de mudanças físicas e emocionais para a mulher, que ainda
recebe a influência de múltiplos fatores: sua história de vida pessoal e familiar, seu ambiente, cultura,
costumes, as particularidades pessoais, psiquismo, dentre outros. Assim, o climatério afeta cada uma
das mulheres de modo diferente, repercutindo nos seus sentimentos e na sua qualidade de vida.4

Portanto, o problema central deste estudo é: como os enfermeiros percebem a assistência à mulher
nessa fase e quais as ações que realizam nesse sentido?

O atual índice de mulheres que se encontram no climatério é muito alto. Isso faz com que aumente
ainda mais a preocupação quanto à necessidade de atenção à saúde delas. Segundo Oliveira,5 até
2020, o Brasil terá entre 40 e 50 milhões de mulheres ingressando na segunda metade da vida.

Atualmente, o Ministério da Saúde está dando atenção específica à saúde da mulher no climatério
com a criação do Manual de Atenção Integral à Saúde da Mulher no Climatério/Menopausa, que é um
dos objetivos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher de qualificar a atenção às
mulheres nessa fase da vida.

O enfermeiro tem contato regular com as mulheres ao longo da vida e, portanto, é relevante que se
aproprie de fonte de informação sobre sua saúde e o manejo do climatério.7

A assistência à saúde da mulher sempre esteve mais relacionada ao seu ciclo reprodutivo. As consul-
tas de enfermagem, desde que começaram a ser implantadas, sempre foram direcionadas às gestan-
tes.8 Vargens e Hood9 expressam preocupação com a mulher não grávida, afirmando que, muito em-
bora os problemas obstétricos sejam graves em nosso meio, o ciclo gravídico-puerperal ocupa um
curto espaço de tempo na vida da mulher.

Nesse sentido, são fundamentais as iniciativas que contemplem a atenção à saúde, incluindo a possi-
bilidade de troca de experiências, acesso a informações em uma assistência holística, para que a mu-
lher climatérica alcance a autovalorização e a autoestima, fundamentais ao bem-estar e à longevi-
dade com saúde e dignidade.

No climatério, por incluir na vida das mulheres aspectos que abrangem modificações fisiológicas, cul-
turais e sociais - relações familiares e extrafamiliares -, acredita-se que a abordagem intradisciplinar
seria a alternativa mais completa para o atendimento à mulher climatérica.2

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Nesse contexto, o profissional enfermeiro, na condição de agente transformador, principalmente por


se ocupar da educação para a saúde, poderá ser um elemento de grande valia no momento em que
se tenta construir, junto com as mulheres climatéricas, um futuro com mais qualidade e poder de deci-
são sobre o período em que se encontra, mediante escolhas com conhecimentos obtidos não so-
mente no seu meio social, mas principalmente instrumentalizados com outras fontes de saber, atual-
mente ao alcance somente daqueles que circulam no meio científico.2

A motivação para este estudo decorre da necessidade existente em manter as condições de saúde e
a melhora na qualidade de vida das mulheres no período climatérico, visto que, nos dias atuais, a mu-
lher de meia-idade está numa fase de franca produção, tendo muito a oferecer ao mundo que a cerca
e em condições de usufruir muitos prazeres da vida. Por essas razões, não se deve deixar que as se-
quelas do climatério impeçam a mulher moderna de viver a plenitude de sua maturidade.

Acredita-se que uma assistência de enfermagem adequada à saúde da mulher nesse período possa
ser fundamental para a diminuição dos impactos gerados por esse processo de inúmeras alterações
físicas e psíquicas.

Assim, com este estudo teve-se como objetivos verificar o conhecimento dos enfermeiros diante defi-
nição de climatério, descrever o planejamento específico de enfermeiros para a assistência à mulher
nessa fase e, também, a importância que enfermeiros conferem à atenção para a mulher climatérica.

Metodologia

Esta pesquisa é de natureza qualitativa, entendida por Minayo11 como aquela capaz de incorporar a
questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às estruturas so-
ciais, sendo estas últimas tomadas, tanto no seu advento quanto na sua transformação, como cons-
truções humanas significativas.

Nesse tipo de pesquisa, a preocupação é com um nível de realidade que não pode ser quantificado,
isto é, trabalha-se com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes
que correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que
não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.12

O cenário do estudo foi um hospital de médio porte do interior de São Paulo cuja finalidade é prestar
assistência à população. Para evitar a identificação dos sujeitos, optou-se por não divulgar o municí-
pio nem o nome do hospital participante. Os sujeitos foram todos os profissionais enfermeiros desse
hospital, o qual tem em seu quadro de colaboradores cinco enfermeiros, totalizando, assim, cinco su-
jeitos de pesquisa.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas áudio gravado, as quais foram realizadas no local
de atuação dos sujeitos, durante o turno de trabalho. Quanto ao horário, todas as entrevistas foram
pré-agendadas de acordo com a disponibilidade dos enfermeiros, gravadas com cada uma das parti-
cipantes e transcritas após seu término.

Realizou-se uma entrevista semiestruturada com roteiro direcionado aos tópicos de estudo, a qual se
baseou em questões para a caracterização pessoal dos enfermeiros e três questões norteadoras: a)
Como você define climatério?

b) Como é seu planejamento específico para a assistência à mulher climatérica?; e c) Qual a impor-
tância da atenção à mulher nessa fase da vida?

A técnica de entrevista semiestruturada é uma comunicação interativa natural que permite receber e
dar informações a respeito dos dados de análise e interpretação. É aquela que, embora originária de
questionamentos básicos que interessam à pesquisa, oferece amplo campo de interrogativas que sur-
gem à medida que se recebem as respostas do informante.

A coleta de dados foi realizada após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
instituição à qual as pesquisadoras são filiadas, atendendo aos preceitos éticos da Resolução nº
196/96 do Conselho Nacional de Saúde de 1996 sobre pesquisas envolvendo seres humanos, e me-
diante o consentimento dos sujeitos, confirmando sua participação na pesquisa com a assinatura do
Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

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Vale ressaltar que a escolha por enfermeiros hospitalares não teve correlação com a escolha do tema
em estudo, visto que a análise proposta está de acordo com a opinião pessoal dos sujeitos como en-
fermeiros, sendo esta independente do seu local de atuação, já que todos devem estar munidos de
conhecimentos sobre o assunto, pois, seja qual for sua área de atuação, a qualquer momento, seja
frequente ou raramente, pode estar diante da prestação de assistência à mulher nessa fase.

Para a análise das informações e interpretação optou-se por seguir o caminho da análise de conte-
údo do tipo temática, a qual se desdobra em três etapas:

a) Pré-análise: consistiu na organização das informações a serem analisadas, seguida de leitura flutu-
ante, tornandose contato exaustivo com o material e determinando-se as unidades de registro, os re-
cortes e a modalidade de codificação;

b) Exploração do material: recorte no texto das unidades de registro selecionadas, com a devida
agregação das informações e escolha das categorias que contribuíram para a especificação dos te-
mas;

c) Tratamento dos resultados e interpretação: essa etapa foi realizada com base no método indutivo e
mediado pelas informações teóricas acerca do tema11.

Resultados e Discussões

As cinco enfermeiras que participaram do estudo eram do sexo feminino e tinham entre 22 e 51 anos
de idade. O tempo de formação variou de 2 a 30 anos. Todas confirmaram a presença da disciplina
de Saúde da Mulher durante sua graduação. Dentre as entrevistadas, apenas 4 possuem alguma es-
pecialização, sendo uma em Especialização em Formação Docente na Educação Profissional Enfer-
magem; uma em Saúde Pública e Obstetrícia; uma em Saúde Pública, Administração Hospitalar e
Habilitação em Pedagogia em Enfermagem; e uma em Enfermagem do Trabalho. O tempo de traba-
lho na instituição na qual atuam variou de 9 meses a 9 anos. Quanto à carga horária semanal, todas
cumprem carga horária de 36 horas.

Os resultados apresentados na análise das informações foram dividido sem categorias para melhor
compreensão: definição, sinais e sintomas, fases, planejamento da assistência, importância da assis-
tência.

Definição

Na análise das respostas das enfermeiras quanto à sua definição para climatério, percebeu-se que
todas definiram o que é climatério de acordo com seu conhecimento sobre o assunto e do ponto de
vista biológico.

Notou-se um vago conhecimento a respeito da definição de climatério quando co-relacionado à me-


nopausa, pois a maioria afirmou que o climatério a antecede:

É a fase que antecede a menopausa. (E1)

É aquela fase que antecede a menopausa. (E2)

É a fase que antecede a menopausa (E3)

Fase que antecede o período da menopausa. (E4)

Isso vai contra o que diz Murata e Schirmer,3 os quais esclarecem que a menopausa é considerada o
evento mais importante no climatério e é definida como o último fluxo menstrual espontâneo e, se-
gundo Brasil,6 somente reconhecida depois de passados 12 meses da sua ocorrência. A menopausa
é, portanto, de acordo com Lima,14 um evento durante o climatério.

A perda da fertilidade também foi incluída na definição. Duas das entrevistadas definiram o climatério
como a fase em que a mulher passa do período fértil para o não fértil:

Fase em que a mulher passa do período fértil para o período não fértil. (E3)

É onde a mulher passa do período fértil para o período não-fértil. (E4)

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Como marco biológico, para Bossemeyer, o climatério representa a transição entre a fase reprodutiva
e a não reprodutiva, ou seja, do menacne para a senilidade, confirmando, assim, que o climatério é
uma fase repleta da ocorrência de eventos biológicos que culminam com a perda da fertilidade.

Quanto à produção de hormônios pelos ovários, encontrou-se em três respostas a relação entre a
produção de hormônios e o climatério. Em algumas das falas, observou-se a relação entre a falta de
hormônios e o aparecimento dos sintomas e, em outra, a definição de climatério como fase de transi-
ção entre o pleno funcionamento dos ovários e a cessação deles:

Fase essa cercada de vários sintomas devido à falta de hormônios antes produzidos pelos ová-
rios. (E3)

Isto pode acarretar vários sintomas né?, pois há a falta de hormônios que antes eram produzidos pelo
ovário. (E4)

Fase de transição entre o período de funcionamento plenos dos ovários e a parada da produção dos
hormônios. (E5)

O surgimento dos sintomas característicos desse período está intimamente ligado ao hipoestroge-
nismo, ou seja, à deficiência ou ausência de estrogênio, hormônio produzido pelos ovários. A maioria
dos sinais e sintomas típicos do climatério resulta da diminuição dos níveis de estrogênios circulan-
tes.1

Hurd, Amesse e Randolph afirmam que a perda da função ovariana, geralmente, é um processo gra-
dual que ocorre durante vários anos e culmina na menopausa. Durante essa transição, ocorrem alte-
rações na produção de hormônios e no metabolismo, os ovários reduzem sua produção de estrogênio
e, finalmente, cessam qualquer atividade cíclica.

Apenas uma das entrevistadas citou a faixa etária em que as mulheres vivenciam o climatério, refe-
rindo-se que ele dura vários anos, com início por volta dos 40 anos e término em torno de 60-65
anos: Dura muitos anos, iniciando-se por volta dos 40 anos e encerrando-se entre 60 e 65 anos. (E5)

Condiz com a delimitação da faixa etária para o climatério descrita por Murata e Schirmer,3 os quais
afirmam que ele se inicia entre 35-40 anos de idade e termina aos 55-60 anos, com variações indivi-
duais.

Observa-se que as entrevistadas, quando questionadas a respeito de como definem o climatério, não
hesitaram em responder, porém é nítido que houve confusão de conhecimentos quando expressaram
que o climatério é o período que antecede a menopausa. Isso pode estar relacionado ao fato de se
limitarem às definições individuais de cada expressão de forma superficial e restritamente biológica.
Segundo George,17 o climatério é descrito como uma multiplicidade de significados e a menopausa
como evento biológico, mas o significado social é que determina de que modo a mulher percebe e in-
terpreta a realidade desse evento.

Talvez seja necessário "desconstruir" o conceito de climatério como síndrome da falência ovariana e
"reconstruí-lo" como sinônimo de um processo complexo de vivências, no qual a mulher passa por
transformações que abrangem aspectos fisiológicos, mas também psíquicos, sociais e culturais, bem
como seus valores.

Sinais e Sintomas

Nessa categoria estão descritos os sinais e sintomas citados pelas enfermeiras durante a entrevista.
Dentre elas, apenas duas citaram exemplos de sinais e sintomas durante a entrevista como: ondas
de calor (fogachos), ressecamento da mucosa vaginal, enfraquecimento dos ossos (osteoporose),
mudança de humor e dor no ato sexual:

Sintomas causados nesta fase, como ondas de calor, ressecamento da mucosa vaginal, enfraqueci-
mento dos ossos, é.… a mudança do humor. (E3)

Elas vão ter o enfraquecimento dos ossos, podendo acarretar até a osteoporose, é.… elas vão ter
aqueles fogachos né?, que são as ondas de calor e começam a ter, no ato sexual, elas podem ter dor
e isso em virtude do ressecamento da vagina. (E4)

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Os sinais e sintomas, segundo Mori e Coelho, variam de uma mulher para outra, ocasionados pelos
distúrbios hormonais femininos "estrogênios e progesterona", e é importante saber que nem todas as
mulheres reagem igualmente a esse novo período de sua vida, definido como "mudança de vida".

Podem ser classificados em sinais e sintomas em curto e longo prazos. Dentre as manifestações inici-
ais estão a irregularidade menstrual, sintomas vasomotores (fogachos/ondasdecalor), atrofiassistema
geniturinário, prurido, dispareunia (dor durante o ato sexual), alterações da pele e alterações psíqui-
cas, que vão da fadiga à depressão. As manifestações tardias são a osteoporose e as doenças cardi-
ovasculares.

Para Berni, Luz e Kohlrausch, o ensino das mulheres em relação ao climatério e seus corpos em mo-
dificação é uma intervenção de enfermagem crítica. Portanto, considera-se importante o conheci-
mento do enfermeiro sobre os sinais e sintomas característicos do climatério para este poder estar
apto a diagnosticá-lo e prestar assistência à mulher nessa fase do ciclo vital.

Fases

Ao analisar a habilidade das enfermeiras de avaliar se a mulher está no climatério ou na menopausa,


observou-se dificuldade. Uma das entrevistadas demonstrou insegurança quanto ao diagnóstico es-
pecífico de cada fase; outra, quanto a relacionar os sintomas apresentados pela paciente e o diag-
nóstico de climatério.

A gente não consegue definir se ela está nessa fase, ou se já é, dependendo da idade da paciente,
se ela tá na fase da menopausa. (E1)

A pessoa mesmo nunca fala 'ah, eu tô no climatério', só fala daqueles sintomas e dificilmente a gente
vai se ligar, ah, tá no climatério. (E2)

Para o diagnóstico do climatério e da menopausa em específico, é necessário o conhecimento da de-


finição de cada fase para, então, diferenciar cada termo.

O termo "climatério" é comumente usados como sinônimo de menopausa.18 Porém, segundo Souza e
Aldrigui,21 ele é utilizado para definir o período da vida reprodutiva da mulher durante o qual a meno-
pausa ocorre.

Portanto, para o diagnóstico de climatério, de acordo com Aldrighi, Hueb e Aldrighi,22 basta conhecer
a idade da mulher, pois afirmam que estão no climatério todas as mulheres entre 35 e 65 anos de
idade. Para a menopausa, o diagnóstico é retrospectivo, pois pode-se dizer que uma mulher está
nessa fase após a ocorrência de doze meses consecutivos de amenorreia.

Quanto à sintomatologia, sabe-se que a do climatério pode ser dividida, segundo Reis et al.,23 basica-
mente, em alterações do comportamento (irritabilidade, ansiedade, depressão, nervosismo, insônia,
diminuição da libido, amnésia, fadiga mental e melancolia), sintomas neurovegetativos (ondas de ca-
lor, sudorese, palpitações, cefaleia, tonturas, opressão, zumbido e hipertensão arterial), metabólicas e
atróficas (atrofia urogenital, atrofia cutânea, osteoporose, arteriosclerose, artralgia, mialgia, neuralgia
e obesidade).

Desse modo, tendo conhecimento dos principais sintomas característicos do climatério, é possível o
enfermeiro relacionar as queixas da paciente associadas à idade com ela estar ou não vivenciando
esse período de vida.

Planejamento da Assistência

Nas respostas quanto ao planejamento específico para assistência à saúde da mulher no climatério,
todas relataram ao menos uma forma de atenção às mulheres nessa fase.

O climatério precisa ser entendido como transição normal de vida; a prevenção de desconfortos ou
doenças e seus sintomas podem ser abordados de diferentes maneiras.2 Partindo desse princípio, as
respostas foram analisadas de acordo com cada maneira de abordar a assistência à mulher climaté-
rica citada pelas entrevistadas.

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Observou-se que três das entrevistadas descreveram que atuam em relação às mulheres nessa fase
de vida realizando apenas a orientação quanto aos sintomas apresentados. Dessas, duas justificaram
essa maneira de atuar: uma, com a orientação do que está acontecendo nessa fase, mostrando que
não é tão grave como se pensa; a outra relata que é o enfermeiro quem deve orientar sobre o clima-
tério, a fim de evitar ou pelo menos atenuar os sintomas presentes:

É importante na hora da entrevista que o enfermeiro faz na admissão do paciente é.… poder estar
diagnosticando os sintomas pra orientar ela porque que tá acontecendo aquilo com ela, e mostrar que
não é assim tão grave como ela pensa. (E2)

São orientações a respeito dos sintomas causados nesta fase [...] eu acho que a gente é.… que de-
veria é.… ter assim orientações a respeito pra evitar esses sintomas né?, ou pelo menos melho-
rar. (E3)

Bom, eu primeiro vou orientar a respeito dos sintomas. (E4)

Esse modo de abordagem é aprovado por Berni, Luz e Kohlrausch,2 os quais afirmam que parece es-
sencial um diálogo franco e esclarecedor com a mulher, que promova esclarecimento e autoconheci-
mento, além de propiciar-lhe assistência adequada, considerando o contexto individual, tanto o orgâ-
nico quanto o emocional e o social.

Silva, Araújo e Silva concordam com os autores supracitados quando dizem que a assistência deve
ser, principalmente, preventiva, mediante a promoção do esclarecimento e autoconhecimento, e
acrescentam que essa assistência deve ter em vista a preparação dessa mulher para enfrentar e su-
perar as modificações e transtornos que possam ocorrer.

Murata e Schirmer têm a mesma opinião quanto ao fato de que o enfermeiro deve possuir tais orien-
tações, quando afirmam que ele deve estar engajado com propostas de atendimento à mulher clima-
térica de forma sólida e consistente, e para isso é necessário o profissional ter vistas ao atendimento
de qualidade, especificamente a essa fase do ciclo vital.

Notou-se que apenas uma das entrevistadas abordou outras maneiras de atenção a essas mulheres
citando atividades em grupo, orientação nutricional, quanto à atividade física e intelectual. Promover
atividades em grupos, fazer orientação nutricional, orientação quanto às atividades física e intelectual.
(E5)

Sampaio Neto et al. também relatam como proposta auxiliar na terapêutica do climatério convidar as
pacientes a participar de reuniões para discutir temas relativos a essa fase, sendo uma intervenção
educativa com o objetivo de se prepararem para a menopausa.

As atividades em grupo constituem, sim, uma proposta auxiliar na terapêutica do climatério, em que
as pacientes são convidadas a participar de reuniões para discutir temas relativos a essa fase, sendo
uma intervenção educativa com o objetivo de preparar para a menopausa.

As mulheres necessitam, além de esclarecimento sobre o que acontece com o corpo em mudança,
de oportunidades para discutir a ambiguidade entre os estereótipos culturais da mulher climatérica e
suas experiências pessoais. Uma oportunidade desse tipo poderia ser proporcionada por um grupo
de apoio, mediado pelas enfermeiras, no qual os problemas enfrentados pelas mulheres, evitados
culturalmente, pudessem ser discutidos abertamente.

Outra questão é o fato de nessa fase haver maior tendência para ganho de peso, decorrente das mu-
danças endócrinas e também de desvios alimentares, motivados, muitas vezes, pelo aumento da an-
siedade própria do período. Para manter a forma física, benéfica para o corpo e para a mente, além
dos exercícios, a dieta bem equilibrada é fundamental, a fim de fornecer energia e substâncias essen-
ciais. Lembrando que a atividade física com moderação e controle é importante para a manutenção
do peso, a prevenção da osteoporose e de doenças cardiovasculares, assim como propicia bem-estar
físico e psíquico.

Nesse contexto, cabe ressaltar que a mulher, ao vivenciar o climatério, vai adquirindo a consciência
de seu novo corpo mediante suas percepções e experiências até transformar isso em conhecimento
para, então, estabelecer prioridades e assumir novos modos de vida.18

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Entretanto, antes de a mulher ter essa consciência e almejar um nível satisfatório de saúde por meio
de atividades e hábitos de vida saudáveis, ela deve ser incentivada, e cabe aos profissionais de sa-
úde participarem desse trabalho junto com as mulheres, a fim de que possam ser motivadas a aderir
e sustentar um novo modo de se autocuidar.18

Portanto, é de grande importância a inclusão de orientações nutricionais e de atividades físicas no


planejamento da assistência à mulher climatérica.

Importância da Assistência

Nessa categoria, analisou-se a importância descrita pelas entrevistadas quanto à assistência às mu-
lheres no climatério.

Observou-se que apenas uma das entrevistadas afirmou que não há uma atenção específica à mu-
lher nessa fase e relacionou isso à falta de conhecimento profissional a respeito dessa área, tratando
somente do que a paciente está apresentando sem saber a causa, porém reconheceu a importância
dessa assistência:

Por falta um pouco de conhecimento, de aprofundar mais nessa área falta um pouco mais de atenção
a isso pra mulher né?, e a gente sempre vê que muitas vezes atende o que tá apresentando, mas
não sabe a causa, então não dá pra fazer um... não tem essa atenção específica, mas é impor-
tante. (E1)

Berni, Luz e Kohlrausch concordam dizendo que, mesmo com as proporções crescentes de mulheres
entrando na meia-idade, ainda parece haver pouca informação sólida sobre os conhecimentos, per-
cepções e necessidades de atendimento de saúde a essas mulheres no climatério.

No atendimento de saúde da mulher, porém, é preciso o trabalho em conjunto de uma equipe inter-
disciplinar oferecendo informações detalhadas sobre o estado de saúde e sobre o que está ocorrendo
na vida das mulheres nessa etapa, considerando-as na posição de agentes ativos, desenvolvendo a
capacidade de refletir e falar sobre suas percepções e procedimentos recomendados.2

A enfermagem constitui um elo fundamental na composição da equipe profissional que presta assis-
tência à saúde da mulher climatérica. Para isso, faz-se necessário buscar aperfeiçoamento técnico-
científico, elaborar e implementar projetos e protocolos em nível de atendimento primário e secundá-
rio à saúde da mulher nessa fase.

Percebeu-se que quatro das entrevistadas justificaram a importância da assistência descrevendo a


necessidade de a mulher se conhecer e entender por que está acontecendo essas mudanças com
ela para que tenha uma vida normal e encontre um novo equilíbrio em seu comportamento.

É importante é... porque ela vai poder tá se conhecendo e saber por que que tá ocorrendo essas mu-
danças com ela. (E2)

É muito importante que essas mulheres sejam orientadas sobre esses sintomas. (E3)

A gente precisa tá orientando essas mulheres pra que elas tenham uma vida normal. (E4)

A mulher deve receber todo o apoio, orientação e tratamento adequado para que entenda melhor o
que está acontecendo com seu organismo e encontre um novo equilíbrio em seu comporta-
mento. (E5)

Para Berni, Luz e Kohlrausch, é muito importante essa transmissão de conhecimentos, pois há ne-
cessidade de discutir sobre o assunto com as mulheres, permitindolhes manifestar suas percepções
em relação a essa etapa da vida, conhecer o próprio corpo e os aspectos culturais que envolvem o
tema, revelar suas necessidades de saúde e buscar caminhos que possibilitem satisfazê-las.

Desse modo, é possível que as mulheres possam desmistificar a realidade socialmente construída -
de conotação negativa do climatério -, lidando melhor com as mudanças físicas e emocionais e vi-
vendo plenamente esse período de transformação.2

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Apenas duas das entrevistadas, além de abordarem a importância da assistência discutida acima,
acrescentaram a questão da melhora na qualidade de vida dessas mulheres, incluindo vida pessoal,
amorosa e familiar como consequência dessa atenção específica:

Pra melhorar mesmo a qualidade de vida delas né?, a qualidade de vida pessoal, amorosa [...] e fami-
liar também, pra melhorar essa qualidade, essa relação pessoal mesmo, interpessoal com esse
grupo. (E3)

Então a gente orienta pra que elas tenham uma vida melhor, tanto a vida pessoal quanto amorosa,
familiar. (E4)

Reis et al. ressaltam que os problemas psíquicos, pessoais e os distúrbios sócio familiares frequente-
mente se sobrepõem nessa fase de vida e, aliados à deficiência estrogênica, podem levar à piora da
qualidade de vida de tal forma a precipitar quadros depressivos angustiantes com um grau inaceitável
de insatisfação com a própria vida.

Dessa forma, o principal objetivo na assistência, fundamentalmente, consiste na manutenção das


condições de saúde e na melhora na qualidade de vida das mulheres no período climatérico.27 Enco-
rajando as mulheres climatéricas a refletir e questionar criticamente, os profissionais de saúde podem
auxiliá-las nesse sentido.

Portanto, o enfermeiro deve atuar, como membro de uma equipe multidisciplinar, de forma a estabe-
lecer uma relação mais autêntica, para que, sendo-com-o-outro, possa compartilhar saberes, anseios,
dúvidas, sentimentos e emoções, num processo de coexistência que se dá numa relação horizontal
em que o indivíduo é valorizado e motivado a refletir sobre seu modo de vida e seus limites, permi-
tindo, assim, que as mulheres reflitam sobre as alternativas de novos caminhos em busca de uma
convivência melhor consigo mesmas e com seus pares.18

Outra questão abordada por uma das entrevistadas foi o fato de a assistência à saúde da mulher no
climatério não ser rotina de trabalho e ser pouco discutida:

É incomum é... a gente vê dentro do ambiente de trabalho, é difícil a gente vê pessoas falando disso
[...] porque não é rotina, é uma coisa pouco falada. (E2)

Essa questão é confirmada por Berni, Luz e Kohlrausch,2 quando afirmam que as pesquisas de pro-
fissionais da saúde que abordam a mulher climatérica de forma holística são, numericamente, tímidas
ou pouco divulgadas, e o modelo de assistência à saúde dessas mulheres segue o mesmo caminho.
A informação e a educação para a saúde, tão necessárias ao autocuidado, e a participação ativa da
mulher nas decisões sobre o cuidado com seu corpo não são práticas presentes no cotidiano dos ser-
viços de saúde.2

Uma das entrevistadas relata que é importante a orientação à mulher nessa fase para a melhora na
assistência e, assim, evitar que ela procure o médico sem necessidade, já que orientações a respeito
dessa fase da vida podem evitar-lhes transtornos na vida.

É pra melhor assistência porque às vezes ela tá indo procurar o médico por isso e às vezes nem pre-
cisaria, né?, sendo que é uma coisa que ela podia tá sendo orientada e evitar transtornos na vida
dela. (E2)

É necessário que o profissional da saúde tenha disponibilidade para prestar esclarecimentos e acabar
com a crença de que só o médico entende de saúde.

A enfermeira tempapel importante e autônomo na interface com a saúde reprodutiva e na saúde cole-
tiva, sendo que na atenção básica o domínio da enfermeira inclui tanto o cuidado à mulher durante
seus anos reprodutivos quanto o cuidado no período do climatério e pós-menopausa.2 Com uma as-
sistência adequada, a enfermeira encaminha a mulher ao especialista ginecologista, sem necessi-
dade de consulta prévia ao clínico.

Algumas das entrevistadas acrescentaram no seu relato sobre a importância da atenção a mulheres
climatéricas o fato de muitas serem leigas, não sabendo o que está se passando com elas e se es-
conderem, não procurando ajuda, às vezes, em virtude de medo:

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Pois muitas são leigas e elas não procuram ajuda. (E3)

Muitas não sabem o que tá se passando com elas, se escondem né?, é... às vezes em virtude de
medo. (E4)

Isso está de acordo com a opinião de Berni, Luz e Kohlrausch.2 os quais afirmam que a maioria das
mulheres vive, ainda hoje, o climatério em silêncio, com poucas informações a respeito dessa etapa
da vida. Para Mendonça, a beleza vinculada à juventude e à fertilidade continuam intensamente valo-
rizadas, interferindo na identidade da mulher e afetando de forma negativa a construção da sua auto-
estima.

Quanto a não buscarem ajuda, em estudo sobre a procura de serviço de saúde por mulheres climaté-
ricas brasileiras, os autores Costa e Guimarães afirmam que a principal razão para a não procura
desses serviços é a concepção de que essa fase é natural e não merece atenção médica.

As mudanças físicas e emocionais que marcam o climatério são parte do desenvolvimento feminino,
mas esse período gera medo e desconfiança nas mulheres que dele se aproximam. Parte dos temo-
res das mulheres se relaciona ao desconhecimento do presente e do futuro dos eventos do climaté-
rio.2

O profissional enfermeiro está em uma posição excelente, com sua interação, para ajudar a desmisti-
ficar as atitudes e as crenças da sociedade sobre essa etapa da vida de transição das mulheres,
agindo como facilitador do processo de ressignificação e direcionando-as.

A questão de o período climatérico ocupar cerca de um terço da vida da mulher é o suficiente para
que se reconheça a extrema importância de uma atenção adequada e específica às mulheres nessa
etapa da vida.

Este estudo permitiu a abordagem do assunto climatério de forma que se possa refletir sobre a ques-
tão da definição biológica dessa fase repleta de acontecimentos físicos e a questão psíquica que en-
globa essa etapa da vida em que eventos biológicos refletem diretamente mudanças, que, se não en-
caradas da forma correta, podem acarretar inúmeros prejuízos à vida de mulheres que simplesmente
deveriam estar desfrutando uma fase em que ocorrem não somente perdas, mas ganhos importantís-
simos.

A associação do climatério pela maioria das enfermeiras entrevistadas como o período que antecede
a menopausa leva à conclusão de que há, entre os profissionais de saúde, uma escassez de informa-
ções a respeito do assunto. Durante a definição expressa pelas participantes, notou-se a apreensão
do assunto somente do ponto de vista biológico; no entanto, o climatério vai muito além do biológico,
sendo uma etapa com inúmeras alterações psíquicas, tornando-se, assim, um período de vivências
que reflete diretamente na qualidade de vida.

Quanto à sintomatologia do climatério, poucas entrevistadas citaram exemplos de sintomas presentes


nesse período e algumas demonstraram dificuldade em associar as queixas da paciente ao fato de
ela estar ou não nesse período ou na menopausa, notando-se, assim, a não habilidade na diferencia-
ção de climatério e menopausa.

Talvez isso se justifique pelo fato de durante a graduação, na disciplina de Saúde da Mulher, não ser
abordado o climatério de forma que seja ressaltada sua devida importância para formar profissionais
que reconheçam a necessidade de uma assistência específica à mulher nessa fase.

A maioria das participantes limitou o planejamento de sua assistência à mulher climatérica com orien-
tações quanto à sintomatologia e apenas uma descreveu um planejamento contendo atividades em
grupo, orientações nutricionais, quanto à atividade física e intelectual, levando à conclusão de que a
maioria não está preparada para planejar uma assistência adequada para mulheres no climatério.

A respeito da importância da assistência, foram abordados pelas entrevistadas pontos importantes de


análise, como a justificativa dessa importância, dada a necessidade de a mulher se conhecer e enten-
der por que está acontecendo essas mudanças para que, assim, tenha uma vida normal e encontre
um novo equilíbrio em seu comportamento; a questão da melhora na qualidade de vida como conse-
quência dessa atenção específica; a melhora na assistência, evitando, assim, que elas procurem o

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médico sem necessidade, já que orientações a respeito dessa fase da vida podem evitar-lhes trans-
tornos; o fato de muitas serem leigas, não sabendo o que está se passando com elas e se esconde-
rem, não procurando ajuda muitas vezes em virtude de medo. Conclui-se, assim, que as participantes
reconhecem a necessidade da assistência à mulher nessa fase e a importância dessa atenção.

Em contrapartida, uma das entrevistadas reconheceu que não é rotina de trabalho a assistência à
mulher climatérica e outra afirmou que não existe essa atenção, por causa da falta de conhecimento
profissional a respeito do assunto. Isso leva à conclusão de que poucos profissionais de saúde assu-
mem que não é dada a devida importância à assistência à mulher climatérica, enquanto a maioria
mascara essa deficiência reconhecendo essa necessidade, porém não pratica a assistência que julga
importante.

Apesar de limitado este estudo, dada a reduzida quantidade de enfermeiros participantes na pes-
quisa, considera-se que seja de real valia para chamar atenção sobre o fato de que o climatério é um
período de extrema relevância a ser abordado no cotidiano da assistência de enfermagem.

Concluindo, o climatério pode ser entendido como uma oportunidade de crescimento, dependendo
das habilidades da pessoa e do profissional que lida com ele. Assim, é fundamental que o profissional
enfermeiro busque conhecimentos necessários para oferecer uma atenção de qualidade a fim de se
tornar um meio para que a família, a comunidade e a própria mulher tenham acesso a essas informa-
ções e, assim, aprendam a viver essa fase conflituosa de forma consciente de que não é uma patolo-
gia, e, sim, um evento natural pelo qual todas as mulheres passam e devem desfrutar essa plenitude
de vida com a qualidade necessária para a desmistificação do climatério como um período repleto de
transtornos, e passem a defini-lo como um período de inúmeras vivências essenciais para o amadu-
recimento da mulher.

Assistência ao Recém-Nascido Sadio

A assistência no berçário deve ser focalizada na família e concentrada no bebê. Deve-se dar atenção
especial para permitir o contato entre a mãe e o bebê e evitar sua separação, dessa forma exames
pediátricos e procedimentos de enfermagem devem ser realizados interativamente na presença dos
pais.

O recém-nascido deve ser avaliado a fim de excluir-se:


- Malformações;
- Doenças infecciosas;
- Problemas genéticos;
- Problemas metabólicos;
- Problemas neurológicos;
- Icterícia inapropriada.

Devemos nos certificar que o recém-nascido está fazendo uma boa transição da vida fetal para a ne-
onatal, especialmente através da avaliação da respiração, função cardíaca, alimentação, micção e
evacuação. A interação pai/mãe/bebê e a dinâmica da família devem ser avaliadas para analisar a
habilidade da família em cuidar do recém-nascido. No período subsequente deve-se medir o peso di-
ariamente, anotar a hora e o volume de fezes e urina, bem como frequência cardíaca, respiratória e
temperatura, pelo menos a cada 08 horas. O aleitamento materno é sempre preferível e deve ser ini-
ciado ainda durante a primeira hora de vida. A posição de dormir deve ser em decúbito lateral nos pri-
meiros dias de vida.

O bebê deve dormir em um colchão firme. Recomenda-se que os pais permitam que o bebê, quando
acordado, passe alguns períodos na posição ventral, pois permite o uso da musculatura do pescoço e
dos ombros. A assistência focalizada na família inclui a assistência do bebê e da mãe realizada pelo
mesmo membro da equipe de enfermagem. O bebê deve ser mantido em alojamento conjunto o má-
ximo possível. A avaliação de enfermagem inclui revisão do histórico materno, incluindo uma revisão
ultrassonográfica pré-natal, imunidade contra rubéola, antígeno da hepatite B, tuberculose, gonorreia,
clamídia e sífilis. Deve-se também levar em conta assistência pré-natal, histórico de aborto e história
médica e social, incluindo potencial para depressão puerperal. Indicar imunização para hepatite B no
bebê. No tratamento da dor preconiza-se oferecer 1 ml de solução de glicose via oral para o bebê su-
gar 5 minutos antes da realização de procedimentos dolorosos.

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ASSISTENCIA EM ENFERMAGEM A MULHER

No Exterior

Em meados do século XIX, as crianças eram ignoradas pelos médicos, não existiam instituições que
se dedicassem aos cuidados com as crianças, eram altas as taxas de mortalidade infantil, principal-
mente entre os recém-nascidos prematuros.

Segundo AVERY (1999, p.3):

“Esperava-se que as crianças nascidas prematuramente fossem ao êxito letal, assim como também
aquelas crianças nascidas com malformações. Havia um sentimento de que a seleção natural se en-
carregaria das crianças ‘menos adaptadas’ à sobrevivência, tal como o sugerido pelo termo ‘fracote’
atribuído as crianças prematuras”.

Diante das altas taxas de mortalidade adicionadas da queda nas taxas de natalidade, criou-se um re-
ceio na população européia de despovoamento e vulnerabilidade da defesa nacional, nesta época,
surgiu na Europa um movimento pela saúde da criança entre 1870 e 1920, que tinha como objetivo
preservar a vida de todas as crianças. Este movimento ficou registrado como um dos primeiros mo-
mentos da medicina neonatal. Com todo esse movimento social, o cuidado preventivo passou a ser
praticado, maternidades foram ampliadas e incubadoras foram fabricadas (LUSSKY, 1999).

Em 1878, um funcionário do zoológico de Paris desenvolveu a pedido do professor e obstetra parisi-


ense, Stephane Etienne Tarnier, uma incubadora semelhante a uma chocadeira de ovos de galinha.
Em 1880, o professor apresentou esta incubadora, que foi instalada na Maternidade de Paris (HARRI-
SON, 1946; SILVADO, 1903). LUSSKY (1999, p.1) destaca que: “(...) esta incubadora fez decrescer a
taxa de mortalidade de 66% para 38% entre crianças pesando menos que 2000g ao nascimento”.

A Neonatologia é considerada tendo seu início com o obstetra francês Pierre Budin, que estendeu
sua preocupação com os recém-nascidos além das salas de parto. Budin criou um ambulatório de pu-
ericultura no Hospital Charité, em Paris, no ano de 1892 (AVERY, 1978, p.1), Budin foi o responsável
pelo desenvolvimento dos princípios e métodos que passaram a formar a base da medicina neonatal
(LUSSKY, 1999).

No final do século XIX, outras evoluções ocorreram no tratamento obstétrico e neonatal. As incubado-
ras estavam sendo utilizadas no tratamento de crianças prematuras com sucesso, Martin Coney,
aluno de Budin, foi para os Estados Unidos em 1896 sendo considerado o primeiro a oferecer cuida-
dos especializados a crianças prematuras. Em Viena, o médico Carl Credé foi o responsável pela in-
trodução do uso de nitrato de prata na profilaxia da ophtalmia neonatorum, e um cirurgião ortopedista
inglês, Willian Little, correlacionou o trauma de nascimento com a paralisia cerebral. John Baleantyne,
um obstetra de Edimburgo, introduziu o tratamento pré-natal e afirmava que: “(...) doenças maternais
tal como a sífilis, tifo, tuberculose e a ingestão de toxinas adversas durante a maternidade afetavam a
saúde e o desenvolvimento do feto” (LUSSKY, 1999, p.1-2).

Os avanços médicos e tecnológicos da época propiciaram grandes transformações no cuidado neo-


natal durante e após o parto. Segundo LUSSKY (1999), as fundações que antes eram designadas
para prestar assistência a crianças abandonadas foram modificadas e transformadas em hospitais
infantis, e os pediatras assumiram um grande papel no tratamento neonatal. Na primeira década do
século XX, observa-se um aumento da contribuição dos pediatras para a ciência da medicina neona-
tal, estudos sobre a alimentação (natural e artificial) e a prematuridade foram realizados, e curvas de
crescimento eram utilizadas para estabelecer demandas de energia.

Após uma exibição, em Chicago, de lactentes prematuros em uma unidade de demonstração, organi-
zada por Coney, o pediatra Julius Hess criou um centro para assistência aos lactentes prematuros
naquela cidade (AVERY, 1978; DOWNES, 1992). HESS (1951 p.1) destaca que: “Não foi antes de
1922 que uma estação para crianças prematuras de porte foi finalmente estabelecida no Sarah Moris
Hospital do Michael Reese Hospital em Chicago”.

Ainda, no início do século XX, as taxas de mortalidade entre os recém-nascidos mantiveram-se eleva-
das, além da prematuridade as infecções hospitalares também eram as responsáveis pela maioria
dos óbitos. Neste período iniciou-se uma disputa pela assistência aos recém-nascidos entre obstetras
e pediatras. LUSSKY (1999, p.2), ressalta, em 1916, que: “a criança recém-nascida estava em uma
terra sem homens (no-mansland) entre a obstetrícia e a pediatria”.

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O pediatra Julius Hess tornou-se a autoridade americana em relação a prematuridade e através dele
o tratamento neonatal entrou na cadeira acadêmica, ele também desenvolveu a incubadora Hess. Os
hospitais Sarah Morris e Michael Reese Hospital promoveram avanços em técnicas assépticas, servi-
ços de transporte neonatal e alimentação por via nasal (LUSSKY, 1999).

Na década de 20 ocorre a consolidação e organização dos avanços tecnológicos. Em 1921, um ato


social buscou promover o bem estar materno e infantil, e em 1922, inaugura-se a primeira e única
unidade para crianças prematuras do Sarah Morris Premature Center, o pediatra Julius Hess publica
seu compêndio intitulado “Doenças de crianças prematuras e congênitas” (LUSSKY, 1999).

Outras descobertas científicas eram reveladas, e em 1924, Albrecht Peiper descreveu o desenvolvi-
mento neurológico inicial do lactente prematuro; os avanços nas técnicas também se ampliavam e
Alfreed Hart realizou, com sucesso, pela primeira vez a exosangüineotransfusão no recém-nascido
com icterícia em 1925 (DOWNES, 1992).

Com os avanços técnico-científicos na neonatologia, reduziram-se as taxas de mortalidade, a infec-


ção hospitalar foi controlada com o isolamento estrito do recém-nascido na maternidade, mas isto
ocasionou a separação entre mãe e filho, prejudicando o vínculo entre eles e o aleitamento.

O marco nos anos trinta foi a criação do “Box de Oxigênio Hess”, desenvolvido, pelo pediatra Julius
Hess em 1934 e utilizado para o tratamento de distúrbios respiratórios (LUSSKY, 1999, p.3), Faber e
Wilson descreveram a síndrome da angústia respiratória em 1932; Albrecht Peiper descreveu distúr-
bios pulmonares em 1937; em 1938, Levine e Stetson identificaram a incompatibilidade dos grupos
sanguíneos materno-fetais e Charles Chapple elaborou uma incubadora moderna conhecida como
“Isollete”, no Children’s Hospital de Filadélfia (DOWNES, 1992). Observa-se nesse período uma maior
atenção dada aos problemas respiratórios.

A enfermagem também exerceu um papel fundamental no início do desenvolvimento da neonatologia.


Um artigo escrito pelo pediatra Julius Hess nos traz a informação de que os melhores resultados obti-
dos no cuidado aos recém-nascidos prematuros eram alcançados quando enfermeiras bem treinadas
estavam à frente do serviço como supervisoras. Neste período cresceu o incentivo pela especializa-
ção da enfermagem para o cuidado a recém-nascidos prematuros, e observa-se um grande investi-
mento nessa área. No Centro para prematuros de Chicago foi criado um fundo de investimento para o
treinamento das enfermeiras na área de neonatologia (HESS, 1951).

Na década de 40, os avanços no armazenamento de sangue e nas pesquisas de patologias proporci-


onaram o desenvolvimento de novas terapias para enfermidades como a eritroblastose fetal (LUS-
SKY, 1999). Em 1946, Louis Diamond e colaboradores introduziram uma técnica para a exosanguine-
otransfusão com um cateter de polietileno com base na canulação da veia umbilical com um cateter
de polietileno (DOWNES, 1992).

Dando continuidade aos avanços alcançados na década de 30 para os problemas respiratórios, os


anos 50 também foram marcados pelas descobertas relacionadas aos distúrbios do trato respiratório.
Na época não havia meios para a respiração mecânica, e a apnéia infantil era controlada pela obser-
vação; as crianças que necessitavam de estímulo eram puxadas pelos pés por uma faixa de tecido.
Richard Pattle e Jonh Clemente’s descobriram, em 1957, as propriedades da parede interna do alvé-
olo; em 1959, Mary Ellen Avery’s e Jere Mead’s descreveram a deficiência de surfactante como etio-
logia da HMD (síndrome respiratória) sendo esta a causa de 2500 mortes por ano, e desta forma pro-
porcionou uma explicação para o distúrbio e uma base para a terapia (DOWNES, 1992; LUSSKY,
1999).

Ainda em 1957, na Cidade do Cabo-África do Sul, o pediatra Patrick Smythi e o anestesiologista Ar-
thur Bull, cuidaram de recém-nascidos com tétano e ventilaram mecanicamente dez lactentes por até
dez dias utilizando traqueostomia e bloqueio neuromuscular. Desta forma, eles comprovaram que os
recém-nascidos poderiam ser ventilados mecanicamente com aparelhos de adultos modificados.
Nesta década, Virgínia Apgar desenvolveu um método de contagem que avaliava as condições do
recém-nato nos primeiros momentos de vida (DOWNES, 1992).

A partir da década de 70 os pediatras, cirurgiões e anestesiologistas infantis defenderam a idéia do


agrupamento de lactentes com patologias severas em unidades especiais, visando o tratamento mais

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ASSISTENCIA EM ENFERMAGEM A MULHER

eficaz. As maternidades para prematuros passam a ser denominadas maternidade de tratamento es-
pecial, e desta para unidade de tratamento intensivo para recém-nascido (DOWNES, 1992; LUSSKY,
1999).

· No Brasil:

OLIVEIRA (1999), descreve como um marco na história da pediatria brasileira a inauguração, em


1882, da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, que possuía um consultório infantil e realizava cursos
sobre doenças das crianças, ministrados pelo médico Artur Moncorvo de Figueiredo. Este por sua
vez, baseado em um estudo sobre a mortalidade infantil no Rio de Janeiro (na época capital do país),
solicitou ao governo a criação de uma cadeira de Clínica de Moléstia de Criança nas faculdades de
medicina do país, localizadas no Rio de Janeiro e Bahia.

No ano de 1899, o Instituto de Proteção e Assistência a Infância do Rio de Janeiro, foi criado pelo
médico Arthur Moncorvo Filho, tendo seu funcionamento efetivo iniciado no ano de 1901. Este era
destinado a assistência de crianças até 14 anos sem distinção de raça ou nacionalidade, desde a sua
vida intrauterina. Como parte deste Instituto criou-se o Dispensário de Moncorvo, que foi instalado em
14 de julho do ano de 1901, e a creche Senhor Alfredo Pinto, que somente foi instalada no ano de
1908, sendo considerada a primeira creche popular da cidade do Rio de janeiro, ela possuía 21 leitos
e 2 incubadoras da marca Lyon para os débeis e prematuros (ANUÁRIO DO BRASIL, 1922).

A partir dos estudos dos médicos Jaime Silvado e Antonieta Morpurgo e reflexão destes sobre os no-
táveis resultados obtidos com as incubadoras no cuidado aos prematuros no exterior, o diretor do Dis-
pensário Moncorvo recebeu uma proposta de criar um serviço de incubadoras nesta instituição que,
em 1903, já possuía 2 incubadoras da marca Lyon (BARBOSA & OLIVEIRA, 2002).

Para NOVAES (1990), os cuidados desenvolvidos para os recém-nascidos e, em especial, para os


prematuros adicionados do desenvolvimento de cuidados pré-natais específicos foram os introdutores
de uma assistência de qualidade e responsáveis pela redução da morbimortalidade peri e neonatal.

O ponto de partida para o desenvolvimento de cuidados especiais com as crianças foram as elevadas
taxas de mortalidade infantil, principalmente com os recém-nascidos. A partir do século XIX, os médi-
cos passaram a avaliar mais detalhadamente o recém-nascido. Baseados em estudos, pediatras e
obstetras entre outros, estabeleceram regras de cuidados com as crianças e desenvolveram equipa-
mentos, entre eles a incubadora. Desenvolvida na segunda metade do século XIX, a incubadora foi
considerada um equipamento revolucionário no cuidado ao recém-nascido prematuro.

O obstetra Pierre Budin é considerado, na literatura, como o pai da Neonatologia, sendo responsável
pelo desenvolvimento dos princípios e métodos que passaram a formar a base da medicina neonatal.
Constata-se que a partir do século XX os avanços médicos e tecnológicos propiciaram o aumento na
qualidade da assistência neonatal

O Brasil sofreu influências dos países mais desenvolvidos, e no início do século XX a assistência à
criança recém-nascida iniciava sua organização baseada nos métodos estrangeiros. Vale ressaltar
que os notáveis resultados obtidos com o uso das incubadoras no cuidado aos recém-nascidos pre-
maturos em Paris propiciaram a importação de incubadoras no Brasil.

No Brasil, nascem cerca de 3 milhões de crianças ao ano, das quais 98% em hospitais. Sabe-se que
a maioria delas nasce com boa vitalidade; entretanto, manobras de reanimação po- dem ser necessá-
rias de maneira inesperada. São essenciais o conhecimento e a habilidade em reanimação neonatal
para todos os profissionais que atendem RN em sala de parto, mesmo quando se esperam crianças
hígidas sem hipóxia ou asfixia ao nascer.

O risco de haver necessidade de procedimentos de reanimação é maior quanto menor a idade gesta-
cional e/ou o peso ao nascer.

O parto cesáreo, realizado entre 37 e 39 semanas de gestação, mesmo não havendo fatores de risco
antenatais para asfixia, também eleva o risco de necessidade de ventilação do RN.

Assim, estima-se que no Brasil, a cada ano, 300 mil crianças requeiram ajuda para iniciar e manter a
respiração ao nascer e cerca de 25 mil RNs prematuros de muito baixo peso pre- cisem de assistên-
cia ventilatória na sala de parto.

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As práticas atuais de reanimação em sala de parto baseiam-se nas diretrizes publicadas pelo Interna-
tional Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR),6 que são elaborados por especia- listas de vários
países, e pela Associação Americana de Cardiologia e Academia Americana de Pediatria,7 em 2010,
e adotadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria em 2011.8 A cada cinco anos, após processo de
revisão baseada nas melhores evidências cientificas disponí- veis, são elaborados consensos sobre
os assuntos controversos e recomendações referentes a diversos aspectos da reanimação neonatal.

Preparo para a Assistência

O preparo para atender o RN na sala de parto inclui necessariamente:

 Realização de anamnese materna.


 Disponibilidade do material para atendimento.
 Presença de equipe treinada em reanimação neonatal.

Anamnese Materna

As condições perinatais descritas no Quadro 2 estão associadas ao maior risco de neces- sidade de
reanimação.

Material para Atendimento

Todo material necessário para reanimação deve ser preparado, testado e estar disponível, em local
de fácil acesso, antes do nascimento. Esse material é destinado à manutenção da temperatura, aspi-
ração de vias aéreas, ventilação e administração de medicações. O Quadro 3 apresenta os materiais
apropriados para a assistência ao RN na sala de parto.

A temperatura ambiente na sala de parto deve ser, no mínimo, de 260C para que se mante- nha com
maior facilidade a temperatura corpórea normal do RN.

Equipe treinada em reanimação neonatal

Considerando-se a frequência elevada da necessidade de realização de algum procedimen- to de re-


animação no RN e a rapidez com que tais manobras devem ser iniciadas, é funda- mental que pelo
menos um profissional capaz de iniciar de forma adequada a reanimação neonatal esteja presente
durante todo o parto.

Os auxiliares atuarão junto ao médico, e este deve dedicar-se exclusivamente ao RN. No caso do
nascimento de gemelares, deve-se dispor de material e equipe próprios para cada criança.

Para a recepção do RN devem-se utilizar as precauções-padrão, que compreendem lava- gem/higie-


nização correta das mãos e uso de luvas, avental impermeável, máscara e prote- ção facial para evi-
tar contaminação do profissional com material biológico do RN.

Material necessário para assistência ao RN na sala de parto

Sala de parto e/ou de reanimação com temperatura ambiente de 26°C e:

• Mesa de reanimação com acesso por três lados


• Fonte de calor radiante
• Fontes de oxigênio umidificado e de ar comprimido, com fluxômetros
• Aspirador a vácuo com manômetro
• Relógio de parede com ponteiro de segundos
• Termômetro digital para mensuração da temperatura ambiente
Material para aspiração

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• Sondas: traqueais nos 6, 8 e 10


• Sondas gástricas curtas nos 6 e 8
• Dispositivo para aspiração de mecônio
• Seringa de 20mL
Material para ventilação

• Reanimador manual neonatal (balão autoinflável com volume máximo de 750mL, reservatório de
O2 e válvula de escape com limite de 30 – 40cm H2O e/ou manômetro)

• Ventilador mecânico manual neonatal em T


• Máscaras redondas com coxim para prematuros tamanho 00 e 0 e de termo 1
• Blender para mistura oxigênio/ar
• Oxímetro de pulso com sensor neonatal e bandagem elástica escura
Material para intubação traqueal

• Laringoscópio infantil com lâmina reta nos 00, 0 e 1


• Cânulas traqueais sem balonete, de diâmetro uniforme 2,5/ 3,0/ 3,5 e 4,0mm
• Material para fixação da cânula: tesoura, fita adesiva e algodão com SF 0,9%
• Pilhas e lâmpadas sobressalentes
• Detector colorimétrico de CO2 expirado
Medicações

• Adrenalina diluída em SF 0,9% a 1/10.000 em uma seringa de 5,0mL para administração única
endotraqueal

• Adrenalina diluída em SF 0,9% a 1/10.000 em uma seringa de 1,0mL para administração endove-
nosa

• Expansor de volume (SF 0,9% ou Ringer-lactato) em duas seringas de 20mL


• Álcool etílico 70% ou clorexidina alcoólica 0,5%
• Nitrato de prata 1% e ampola de água destilada
• Vitamina K1
Material para cateterismo umbilical

• Campo fenestrado esterilizado, cadarço de algodão e gaze


• Pinça tipo kelly reta de 14cm e cabo de bisturi com lâmina n° 21
• Porta agulha de 11cm e fio agulhado mononylon 4.0
• Sonda traqueal sem válvula n° 6 ou 8 ou cateter umbilical 5F ou 8F

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Outros

• Luvas e óculos de proteção individual


• Compressas e gazes esterilizadas
• Estetoscópio neonatal
• Saco de polietileno de 30x50cm e touca para proteção térmica do RN prematuro
• Tesoura de ponta romba e clampeador de cordão umbilical
• Seringas de 20mL, 10mL, 5mL e 1mL e agulhas
• Balança digital e antropômetro

Avaliação da Vitalidade ao Nascer

Imediatamente após o nascimento, a necessidade de reanimação depende da avaliação rápida de


quatro situações referentes à vitalidade do concepto, sendo feitas as seguintes perguntas:

• Gestação a termo?

• Ausência de mecônio?

• Respirando ou chorando?

• Tônus muscular bom?

A determinação da necessidade de reanimação e a avaliação de sua eficácia dependem da avaliação


simultânea de dois sinais:

• Respiração.

• Frequência cardíaca (FC).

A FC é o principal determinante da decisão de indicar as diversas manobras de reanimação. Logo


após o nascimento, o RN deve respirar de maneira regular e suficiente para manter a FC acima de
100bpm. A FC é avaliada por meio da ausculta do precórdio com estetoscópio, podendo eventual-
mente ser verificada pela palpação do pulso na base do cordão umbilical. Tanto a ausculta precordial
quanto a palpação do cordão podem subestimar a FC.

A avaliação da coloração da pele e das mucosas do RN não é mais utilizada para decidir procedimen-
tos na sala de parto. Estudos têm mostrado que a avaliação da cor das extremi- dades, do tronco e
das mucosas é subjetiva e não tem relação com a saturação de oxigênio ao nascimento.12 Além
disso, RN com esforço respiratório e FC adequados podem demorar alguns minutos para ficarem ro-
sados. Nos RNs que não precisam de procedimentos de re- animação ao nascer, a saturação de oxi-
gênio com um minuto de vida situa-se ao redor de 60% – 65%, só atingindo valores de 87% – 92% no
quinto minuto de vida.

O boletim de Apgar não deve ser utilizado para determinar o início da reanimação nem as manobras
a serem instituídas no decorrer do procedimento. No entanto, sua aferição longitudinal permite avaliar
a resposta do RN às manobras realizadas e a eficácia dessas manobras. Se o escore é inferior a sete
no quinto minuto, recomenda-se sua aplicação a cada cinco minutos, até 20 minutos de vida.14 Enfa-
tiza-se que, apesar da subjetividade e da dificuldade em aplicá-lo em RN sob ventilação, o acompa-
nhamento dos escores de Apgar em uma instituição permite identificar a necessidade de implementar
programas educa- cionais e melhoria no cuidado perinatal, além de verificar o impacto das interven-
ções na qualidade do serviço. É necessário que a documentação do escore de Apgar seja conco- mi-
tante à dos procedimentos de reanimação executados, em formulário específico.

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ASSISTENCIA EM ENFERMAGEM A MULHER

Escore de Apgar ampliado

Sinal 0 1 2 1 5 10 15 20

min. min. min. min. min.

Frequên- Ausente <100bpm >100bpm


cia Cardí-
aca

Esforço Ausente Irregular Regular


Respirató-
rio

Tônus Flacidez Alguma fle- Boa movi-


Muscular total xão extre- mentação
midades

Irritabili- Ausente Alguma re- Espirros


dade Re- ação
flexa

Cianose/ Corpo ró- Corpo e ex-


palidez seo Extre- tremidades
Cor cutânea midades ci- róseos
anóticas

TOTAL

Comentários: Reanimação

Minutos 1 5 10 15 20

O2 inalatório

VPP

CPAP nasal

IOT

M Cardíaca

Adren/Expan-
sor

Assistência ao RN a Termo com boa Vitalidade ao Nascer

Se, ao nascimento, verifica-se que o RN é a termo, está respirando ou chorando e com tônus muscu-
lar em flexão, sem a presença de líquido amniótico meconial, a criança apresenta boa vitalidade e
não necessita de qualquer manobra de reanimação.

Após o clampeamento do cordão, o RN poderá ser mantido sobre o abdome e/ou tórax materno,
usando o corpo da mãe como fonte de calor, garantindo-se que o posicionamento da criança permita
movimentos respiratórios efetivos. O contato pele a pele imediatamente após o nascimento, em tem-
peratura ambiente de 260C, reduz o risco de hipotermia em RNs a termo que nascem com respiração
espontânea e que não necessitam de ventilação, desde que cobertos com campos preaquecidos.
Nesse momento, pode-se iniciar a amamentação.

Após a realização dos cuidados de rotina na sala de parto, a serem relatados ao final do texto, o RN

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em boas condições clínicas deve ser encaminhado com a mãe ao alojamento conjunto.

Assistência ao RN com Líquido Amniótico Meconial

Na presença de líquido amniótico meconial, fluido ou espesso, o obstetra não deve realizar a aspira-
ção das vias aéreas, pois esse procedimento não diminui a incidência de síndrome de aspiração de
mecônio, a necessidade de ventilação mecânica nos RNs que desenvolvem pneumonia aspirativa,
nem o tempo de oxigenoterapia ou de hospitalização.

Caso o neonato com líquido meconial fluido ou espesso apresente, logo após o nascimento, movi-
mentos respiratórios rítmicos e regulares, tônus muscular adequado e FC maior que 100bpm, a con-
duta deverá ser, nesta ordem:

Levar o RN à mesa de reanimação.

Colocá-lo sob fonte de calor radiante.

Posicionar sua cabeça com uma leve extensão do pescoço.

Aspirar o excesso de secreções da boca e do nariz com sonda de aspiração traqueal nº 10.

Secar e desprezar os campos úmidos, verificando novamente a posição da cabeça.

Avaliar a FC e a respiração.

Se a avaliação resultar normal, o RN receberá os cuidados de rotina na sala de parto. Quando o neo-
nato com líquido amniótico meconial fluido ou espesso, logo após o nasci- mento, não apresentar
ritmo respiratório regular e/ou o tônus muscular estiver flácido e/ou a FC for menor que 100bpm, o
profissional deve:

Realizar a retirada do mecônio residual da hipofaringe e da traqueia sob visualização direta e fonte de
calor radiante.

A aspiração traqueal propriamente dita deve ser feita com cânula traqueal conectada a um dispositivo
para aspiração de mecônio e ao aspirador a vácuo, com pressão máxima de 100mmHg. Recomenda-
se aspirar o excesso de mecônio uma única vez; se o RN perma- necer com FC <100bpm, respiração
irregular ou apneia, deve-se iniciar a ventilação com pressão positiva.

Assistência ao RN com Necessidade de Reanimação

Passos iniciais

Se o RN é pré-termo ou se, logo após nascer, não estiver respirando e/ou apresenta-se hipotônico,
indicam-se os passos iniciais, que consistem em:

• Prover calor.

• Posicionar a cabeça em leve extensão.

• Aspirar vias aéreas, se houver excesso de secreções.

• Secar e desprezar os campos úmidos (se RN >1.500g).

• Reposicionar a cabeça, se necessário.


Os passos iniciais devem ser executados em, no máximo, 30 segundos.

Prover Calor

O primeiro passo consiste em manter a temperatura corporal entre 36,5°C e 370C. Relatos recentes
consideram que a hipotermia na admissão à terapia intensiva neonatal, (temperatura corporal abaixo
de 36,50C) é um fator independente de risco para mortalidade e morbidade.

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A hipotermia agrava ou favorece o desequilíbrio ácido-básico, o desconforto respiratório, a enteroco-


lite necrosante e a hemorragia intraperiventricular em RN de muito baixo peso.21 Assim, para diminuir
a perda de calor nesses RNs, é importante preaquecer a sala de parto e a sala onde serão realizados
os procedimentos de reanimação, mantendo temperatura ambiente de, no mínimo, 260C.

Após o clampeamento do cordão, o RN é recepcionado em campos aquecidos e colocado sob calor


radiante.

Assim, logo depois de posicioná-lo sob fonte de calor radiante e antes de secá-lo, introduz-se o corpo
do RN pré-termo, exceto a face, dentro do saco plástico e, a seguir, rea- lizam-se as manobras ne-
cessárias. Todos os procedimentos da reanimação são executados com o RN dentro do saco plás-
tico. Tal prática pode ser suplementada pelo emprego de tou- ca para reduzir a perda de calor na re-
gião da fontanela. Cuidado especial deve ser tomado no sentido de evitar a hipertermia, pois pode
agravar a lesão cerebral em RNs asfixiados.6-8

Manter a Permeabilidade das Vias Aéreas

A fim de manter a permeabilidade das vias aéreas, posiciona-se a cabeça com leve extensão do pes-
coço. Deve-se evitar a hiperextensão ou flexão exagerada. Por vezes, é necessário co- locar um co-
xim sob os ombros do RN para facilitar o posicionamento adequado da cabeça. Na sequência, se
houver excesso de secreções nas vias aéreas, a boca e, depois, as narinas são aspiradas delicada-
mente com sonda traqueal conectada ao aspirador a vácuo, sob pressão máxima aproximada de
100mmHg.

A aspiração da hipofaringe também deve ser evitada, pois pode causar atelectasia, trauma e prejudi-
car o estabelecimento de respiração efetiva.

Uma vez executados os passos iniciais da reanimação, avalia-se a FC e a respiração. Se hou- ver
vitalidade adequada, com FC >100bpm e respiração rítmica e regular, o RN deve rece- ber os cuida-
dos de rotina na sala de parto. Se o RN, após os passos iniciais, não apresentar melhora, indica-se a
ventilação com pressão positiva, que deve ser iniciado nos primeiros 60 segundos de vida (“minuto de
ouro”).

A Criança, O Jovem, O Adulto, O Idoso

Na primeira parte buscamos traçar os aspectos históricos da Educação de Jovens e Adultos no Bra-
sil, desde o período colonial até a década de 60. Em seguida, sob um breve retrospecto apresenta-
mos os programas e campanhas que permearam a luta contra o analfabetismo. Concluindo o primeiro
capítulo, relatamos sobre a revolução em Angicos, que foi uma experiência cujo objetivo era alfabeti-
zar cerca de 300 trabalhadores jovens e adultos. A coordenação desse projeto ficou a cargo de Paulo
Freire com a utilização de sua metodologia criada no início da década de 1960. Vale ressaltar, que
essa experiência com alfabetização de adultos não foi à primeira de Freire, mas certamente foi a que
mais o destacou.

Ainda, na segunda parte buscamos mostrar os fundamentos da concepção pedagógica de Paulo


Freire, suas fases de elaboração de aplicação e, apresentando os pontos mais importantes da vida
pessoal, profissional e educacional do referido autor. Posteriormente, mencionamos o conceito de
emancipação e sua relação com a educação nas obras de Freire. Por sua vez, na terceira parte pro-
curamos apresentar a organização da Educação de Jovens e Adultos na atualidade bem como mos-
trar as características e desafios dos sujeitos que buscam esta modalidade de ensino.

O presente estudo contribuiu para uma reflexão sobre o trabalho em turmas da Educação de Jovens
e Adultos, no sentido de se pensar sobre uma prática pedagógica condizente a formação desses su-
jeitos. Através da pesquisa realizada sobre a Educação de Jovens e Adultos no Brasil, foi possível
evidenciar que a sua trajetória é marcada por muitas transformações, com importantes conquistas na
legislação.

Aspectos Históricos Da Educação De Jovens E Adultos (EJA) No Brasil

Por meio desta investigação percebemos que a história da Educação de Jovens e Adultos no Brasil
acompanha o próprio desenvolvimento da educação que, por sua vez, está relacionada aos modelos
econômicos e políticos vigentes em cada período. Desta forma, diante do movimento dessas relações

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é preciso refletir sobre os diferentes acontecimentos na história da educação para entendermos o de-
sencadeamento no processo da educação para jovens e adultos.

Adentrando na história da educação do Brasil, verificamos que no período colonial as escolas existen-
tes privilegiavam as classes mais abastadas, a classe de baixo poder aquisitivo não tinha acesso ao
ensino escolar. Neste período a educação ficou a cargo dos jesuítas, que se dedicavam a duas tare-
fas fundamentais, a pregação da fé católica e o trabalho educativo. Nesse contexto, fazia parte do
processo educacional o ensino da escrita e da leitura das crianças. Vale lembrar que os adultos indí-
genas também foram submetidos a essa ação cultural e educacional e por mais de dois séculos a
educação se desenvolveu nessa conjuntura.

Mais tarde, quando expulsos do Brasil pelo marquês de Pombal em 1759, a educação entra em con-
flito, pois ao acabar com os colégios jesuítas um enorme vazio se abriu na educação portuguesa e de
suas colônias, ou seja, a expulsão dos jesuítas significou o fim do único sistema de ensino que existia
nessa época. A mudança educacional de Pombal tirou a educação até então responsável aos jesuí-
tas e passou o compromisso para o Estado, assim no lugar das escolas jesuíticas, uma série de aulas
régias de Latim, Grego, Filosofia e Retórica foram instaladas no Brasil colônia. Essas aulas eram au-
tônomas, sem sequência e designadas especialmente aos filhos dos colonizadores portugueses, ex-
cluindo a população negra e indígena.

As primeiras iniciativas das reformas educacionais, com relação ao público adulto, ocorrem no Brasil
Império indicando a necessidade da oferta de ensino para adultos analfabetos. Em 1879, Leôncio de
Carvalho desenvolvia a função de Ministro dos Negócios do Império e foi através do Decreto n. 7.247
que ele estabeleceu uma reforma da educação com modificações nos ensinos primário, secundário e
superior. O Decreto possuía vinte e nove itens dentre eles [...] “o oferecimento de cursos para adultos
analfabetos.” [...]. (MELO; MACHADO, 2009, p. 297).

A partir da primeira Constituição Brasileira (1824) procurou-se oferecer um sentido maior para a edu-
cação, garantindo no art. 179 “a instrução primária gratuita a todos os cidadãos”. Entretanto, a lei não
se fez presente na prática, fato que ocorreu segundo Scortegagna e Oliveira (2006), por dois motivos;
primeiro porque a elite é quem possuía cidadania, ou seja, uma pequena parte da população, e se-
gundo porque a responsabilidade que coube as Províncias na proposta da educação básica não foi
colocada em ação, assim o governo imperial continuou responsável pela educação das elites, limi-
tando o ensino formal às classes mais abastadas.

Dez anos depois, em 1834, entrou em vigor o Ato Adicional, o qual foi inserido na mesma Constitui-
ção. De acordo com a emenda tornou-se competência das Províncias “legislar e promover a instrução
pública, não compreendendo as faculdades de medicina, os cursos jurídicos e academias atualmente
existentes”. (Art. 10, § 2°). Na passagem do Império para a República, novamente a educação foi co-
locada em debate, pelo fato de ser considerado um meio importante no desenvolvimento da socie-
dade brasileira, acreditava-se na possibilidade da educação colaborar para o progresso e buscava-se
o aumento dos eleitores para responder os interesses das elites.

A educação ganhava novos impulsos sob a crença de que seria necessário educar o povo para que o
país se desenvolvesse, assim como para participar politicamente através do voto, que se daria por
meio da incorporação da enorme massa de analfabetos. (SCORTEGAGNA; OLIVEIRA, 2006, p. 4).

Percebemos no início do século XX, com o desenvolvimento industrial, que a valorização da educa-
ção de adultos passou por um processo ainda inibido, pois esse reconhecimento surge a princípio
como um sentido de preocupação com o desenvolvimento da sociedade do que com a própria educa-
ção do cidadão.

Com a falta de políticas sólidas voltadas para a educação de adultos, em 1940 começou-se a identifi-
car dados significativos de analfabetismo no país. De acordo com Scortegagna e Conceição (2006, p.
04), o país nessa época estava vivendo a agitação “política da redemocratização”. Desta forma, a cri-
ação da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)4 vem cola-
borar com clareza, nos debates e ações sobre o analfabetismo e a educação dos adultos, principal-
mente nos países em desenvolvimento. A orientação da UNESCO perante esses países era de aca-
bar com o analfabetismo através de programas de alfabetização. Diante dessa manifestação, em
1947, o governo apresenta a 1° Campanha Nacional de Educação de Adultos.

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A Campanha de Educação de Adultos pretendia-se numa primeira etapa, uma ação extensiva que
previa a alfabetização do curso primário em dois períodos de sete meses. Depois seguiria uma etapa
de “ação em profundidade” voltada à capacitação profissional e ao desenvolvimento comunitário.
(SCORTEGAGNA; CONCEIÇÃO 2006, p. 4).

Vale ressaltar que o analfabetismo na década acima citada era visto como causa do subdesenvolvi-
mento no país e o analfabeto considerado como um sujeito incapaz, excluído do direito de votar, além
disso, o trabalho de alfabetização com esses adultos era oferecido de forma infantilizada. Na década
de 1950, a Campanha de Educação de Adultos passou por algumas críticas e acabou sendo extinta.

No final da década de 50 e início de 60, as políticas públicas voltadas à educação de adultos sofre-
ram mudanças abrindo espaço a um novo olhar acerca dos problemas frente à alfabetização. A essa
nova visão, sobre o analfabetismo, foi considerada a pessoa não alfabetizada uma formadora de co-
nhecimento e, correlacionada às mesmas ideias, veio também a firmação de uma nova pedagogia de
alfabetização de adultos, tendo como referência o educador Paulo Freire.

Segundo Freire (1987), as pessoas analfabetas não deveriam ser vistas como imaturas e ignorantes,
o educador chamava a atenção de que o desenvolvimento educativo deveria acontecer conforme as
necessidades desses alunos.

É nesse sentido a afirmação de Scortegagna e Oliveira (2006).

Freire, trazendo este novo espírito da época acabou por se tornar um marco teórico na Educação de
Adultos, desenvolvendo uma metodologia própria de trabalho, que unia pela primeira vez a especifici-
dade dessa Educação em relação a quem educar, para que e como educar, a partir do princípio de
que a educação era um ato político, podendo servir tanto para a submissão como para a libertação do
povo. (SCORTEGAGNA; OLIVEIRA, 2006, p.5).

Além disso, na década de 60 houve uma grande mobilização social em torno da educação de adultos.
O período foi marcado pelos movimentos de Educação Popular, essas iniciativas contaram com o
apoio da igreja, estudantes e intelectuais. Entre alguns movimentos destacamos: o Movimento de
Cultura Popular (MCP, 1960), o Movimento de Educação de Base (MEB, 1961) e o Centro Popular de
Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE, 1961). Esses programas tiveram características pró-
prias que serão expostas a seguir.’

Educação De Jovens E Adultos E Os Programas Que Permearam A Luta Contra O Analfabe-


tismo No Brasil

Dando início ao programa no ano de 1960, o Movimento de Cultura Popular era vinculado a Prefeitura
de Recife contava com a ajuda de Paulo Freire que coordenava o Projeto de Educação de Adultos do
MCP. O mesmo tinha como objetivo a alfabetização com novos métodos de aprendizagem. As ativi-
dades segundo a autora Cristiane Costa Brasil se limitaram a cidade de Recife e ao Rio Grande do
Norte, pois havia pouco recurso financeiro para contemplar outros estados. Em 1964, o movimento foi
extinto pelo golpe militar, os militares cessaram com o movimento porque viam o mesmo como uma
ameaça aos objetivos do governo.

Por sua vez, o Movimento de Educação de Base (MEB) foi criado no ano de 1961 pela Conferência
Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). Contou com a ajuda do Governo Federal no repasse de recur-
sos para a alfabetização de adultos e sua atuação se dava principalmente pelo estado de Minas Ge-
rais e no interior das regiões Centro Oeste, Norte e Nordeste, regiões estas com alto índice de subde-
senvolvimento. O programa teve fim, em alguns estados, no ano de 1996 em razão da imposição feita
pelo governo militar.

Posteriormente, o Centro de Cultura Popular surgiu em 1961, com o objetivo de atingir as classes de
pouco recurso financeiro com a cultura letrada. O Centro foi criado pela União Nacional dos Estudan-
tes (UNE), mas em 1964, o governo militar acabou com o movimento, quando incendiou as instala-
ções da UNE5 , que ficou destruída. Do mesmo modo, a Campanha de Educação Popular teve início
em 1961 na Paraíba e utilizaram-se do método Paulo Freire na conscientização do sujeito perante
sua realidade, mas a Campanha teve fim com o golpe militar, pois consideraram o método revolucio-
nário.

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Diante desse cenário, identificamos o fim dessas mobilizações e movimentos por motivos políticos,
afinal, os programas por meio da presença da pedagogia de Paulo Freire, reconheciam o analfabe-
tismo não como uma causa da situação de pobreza, mas como consequência de uma sociedade es-
truturada em desigualdades. Logo, para “a concepção crítica, o analfabetismo nem é uma “chaga”,
nem uma “erva daninha” a ser erradicada, nem tampouco uma enfermidade, mas uma das expres-
sões concretas de uma realidade social injusta”. (FREIRE, 1981, p. 13).

Perante esse contexto, percebemos a extinção dos movimentos durante o governo militar, pelo fato
de estarem comprometidos com a conscientização das classes populares na busca de transforma-
ções e melhores condições de vida, ou seja, o governo passou a ditar as regras de forma autoritária
para o país e assim centralizou seu poder não aceitando ideias contrárias ao seu sistema político.

Diante da situação que a educação no país estava sendo encarada, Freire mudou o significado das
décadas anteriores ao trabalhar o conceito de que o adulto não era causa do subdesenvolvimento do
país. Enquanto isso, com a influência dos movimentos de alfabetização popular e o reconhecimento
por seu trabalho com a educação de adultos, o Governo pôs fim na Campanha de Educação de Adul-
tos e encarregou Freire na elaboração e desenvolvimento de um Programa Nacional de Alfabetização
junto ao Ministério da Educação. No entanto, antes mesmo de colocar em prática a proposta, o Golpe
Militar6 encerrou o programa. O governo passou a ver as propostas de Freire como ameaçadoras, os
programas que objetivavam uma transformação social foram suspensos com a confiscação de materi-
ais, detenção e exílio de seus organizadores. Por essa razão, causou-se o exílio de Freire e segundo
ele:

O golpe de Estado (1964) não só deteve todo este esforço que fizemos no campo da educação de
adultos e da cultura popular, mas também levou-me à prisão por cerca de 70 dias (com muitos outros,
comprometidos no mesmo esforço). Fui submetido durante quatro dias a interrogatórios [...] livrei-me,
refugando-me na Embaixada da Bolívia em setembro de 1964. Na maior parte dos interrogatórios a
que fui submetido, o que se queria provar, além de minha “ignorância absoluta” [...] era o perigo que
eu representava. (Freire, 1980, p. 15-16).

A configuração proposta para a Educação de Jovens e Adultos nesse período foi de retomar a priori-
dade do Estado em programas assistencialistas e conservadores no trabalho de alfabetização de
adultos. Dentro desse contexto, o governo militar criou em 1967, o Movimento Brasileiro de Alfabeti-
zação (MOBRAL). O MOBRAL foi um projeto do governo militar, que teve como objetivo erradicar o
analfabetismo. No entanto, sua ação foi a alfabetização funcional dos jovens e adultos, ou seja, en-
siná-los a ler, escrever e fazer cálculos deixando de lado a formação crítica do aluno.

O trabalho pedagógico no MOBRAL, não tinha um caráter crítico e problematizador, sua orientação,
supervisão e produção de materiais, era todo centralizado. Assim, este programa criou analfabetos
funcionais, ou seja, pessoas que muitas vezes aprenderam somente a assinar o nome, e que não
apresentam condições de participar de atividades de leitura e escrita no contexto social em que vi-
vem. (MOTA, 2009, p. 15).

Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional Lei 5692/71 o Ensino Su-
pletivo organizou-se em termos de cursos e exames. A Lei dedicou um capítulo a este ensino com
cinco artigos, o qual formalmente passou a ser reconhecido como um direito.

De início, o ensino supletivo foi anunciado como algo temporário, para aqueles que tinham a necessi-
dade de provar escolaridade no trabalho, mas logo depois, tornou-se um meio de ensino necessário
por razão do crescente procura. Com a Nova República, em 1985, o Mobral foi extinto e em seu lugar
foi criada a Fundação Educar atuando em conjunto com os municípios. A mesma deixou de lado a
realização dos programas, mas passou a apoiar de forma técnica e financeira os já existentes. A Fun-
dação Educar visava a ação de programas de alfabetização e de educação básica para o adulto, seu
atendimento dava preferência aos lugares com maior número de jovens e adultos analfabetos.

Os princípios metodológicos das ações implementadas pela Fundação Educar deveriam ser baliza-
dos na consideração do educando como sujeito do seu processo educativo, participando ativamente
das situações de aprendizagem, na realidade pessoal e social do educando [...]. (SOUZA, 2012,
p.53).

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Com a aprovação da Constituição de 1988, o dever do Estado para com a EJA torna-se maior. A
Constituição trata do assunto garantindo em seu artigo 208, inciso I, “o acesso ao ensino fundamental
gratuito, inclusive aqueles que a ele não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988). Em 1990
a Fundação Educar foi extinta e o governo federal, então, afastou-se desse campo de atuação, encar-
regando os municípios na continuidade a esse atendimento. Observamos nesse momento, a orienta-
ção da municipalização no atendimento escolar aos jovens e adultos no ensino fundamental. Ainda
em 1996, foi promulgada a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB n. 9394/96, a qual defi-
niu a educação de jovens e adultos como modalidade de ensino, determinando também o atendi-
mento a esse público segundo seus interesses e necessidades e possibilitando uma formação dife-
rente do trabalho com crianças. O conteúdo da nova Lei em relação a anterior muda pouco, tendo em
vista a exigência que se mantenham os cursos e exames supletivos. O resultado mais relevante é a
diminuição da idade antes definida em 18 e 21 anos, para 15 e 18 anos. A Educação de Jovens e
Adultos, portanto, está alicerçada no Título V dos níveis e modalidades de educação e ensino, no ca-
pítulo II da educação básica, na seção V e composta pelos artigos 37 e 38, a saber:

Art. 37°. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continui-
dade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. Art. 38°. Os sistemas de ensino
manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, ha-
bilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. (BRASIL, 1996).

Tendo em vista as discussões e determinações legais em torno da educação de jovens e adultos, em


10 de maio de 2000 foram promulgadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jo-
vens e Adultos. Essas Diretrizes passaram a reconhecer o valor da EJA como um direito, superando
o conceito de ensino supletivo e substituindo a ideia de compensação e caridade pelas funções repa-
radora ·, equalizadora e qualificadora.

A Revolução Em Angicos

Com a problemática em torno do analfabetismo, ações regionais foram desenvolvidas e assumidas


pelos governos locais, assim com a participação de Paulo Freire, na década de 1960 um audacioso
programa foi colocado em prática, iniciamos a discussão situando o período.

João Goulart assumiu a Presidência da República no dia 07 de setembro de 1961, época em que o
país vivia um momento de agitação no campo político e social. Ao passo que o governo empenhava-
se com o desenvolvimento econômico, a sociedade se organizava frente às questões de desigual-
dade social e ao analfabetismo.

Por sua vez, o Estado Rio Grande do Norte governado por Aluísio Alves desenvolveu um projeto jun-
tamente com a Secretaria da Educação visando diminuir o elevado índice de analfabetismo no Es-
tado. No período, Angicos possuía um grande número de analfabetos e considerando essa situação,
a cidade foi então escolhida para ser o local da primeira fase desse projeto. Conforme Pelandré
(1998), “A Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte [...] saiu à procura de metodolo-
gias alternativas de alfabetização, cujos resultados pudessem ser obtidos nos prazos que haviam
sido comprometidos”. (PELANDRÉ, 1998, p. 31-32). Com tal característica, lembrou-se de Paulo
Freire que já vinha desenvolvendo trabalhos de alfabetização com pessoas adultas.

Vale ressaltar, pois, que “a história de Angicos tem importantes antecedentes.” (GADOTTI, 2013, p.
49). Visto que no decorrer de toda a década de 1950, Paulo Freire reuniu experiências no campo da
alfabetização de adultos em áreas urbanas e rurais próximas a Recife. Assim, percebeu que os cami-
nhos utilizados na alfabetização de adultos eram os mesmos para alfabetizar crianças e, com sua ex-
periência nos trabalhos que vinha realizando, entendeu que esse caminho de alfabetização para o
adulto era inapropriado. Diante de suas considerações Freire então criou no início dos anos 60, uma
nova proposta de alfabetização para jovens e adultos.

Neste contexto, a experiência de Angicos surge de um convite feito a Paulo Freire, no ano de 1962,
por Calazans Fernandes, na época Secretário de Educação do Rio Grande do Norte. Calazans reu-
niu-se com o educador em Recife para conversar sobre o projeto de Angicos e convidá-lo para con-
duzir a organização desse plano com base em seu novo sistema. Freire aceitou o convite, mas pediu
total liberdade na escolha de seus coordenadores e nenhuma intervenção política. Dando início aos
trabalhos em Angicos, Freire chamou Marcos Guerra estudante de Direito e líder estudantil, para for-
mar o primeiro grupo de monitores do projeto em Angicos. Em seguida, com as orientações de Freire,

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“Marcos Guerra e sua equipe instalaram-se em Angicos e deram início à experiência educacional que
marcaria não só a população angicana, mas o Nordeste e o Brasil.” (CARVALHO; BARBOSA, 2011,
p. 72). As características do grupo são consideradas abaixo:

A equipe de trabalho, além dos coordenadores, contava com monitores, também estudantes universi-
tários de Natal, [...] estudantes dos Cursos de Direito, de Serviço Social, de Engenharia, entre outros,
filhos, em sua maioria de famílias tradicionais do Estado. (CARVALHO; BARBOSA, 2011, p. 71).

Os monitores foram para Angicos durante suas férias de 1963, nesse período, “residiram na cidade e
conviveram intensamente com os alunos”. (PELANDRÉ, 1998, p. 43). O trabalho teve início com o
reconhecimento do número de analfabetos de Angicos e com a pesquisa do universo vocabular da-
quela região. Desse universo foram retiradas as palavras e temas geradores que seriam utilizados no
processo de alfabetização dos jovens e adultos. Ressalta-se que as palavras e temas eram escolhi-
dos de acordo com a importância e significado social para o grupo envolvido. É nesse sentido que
Freire (1980) esclarece:

Para ser válida, toda educação, toda ação educativa deve necessariamente estar precedida de uma
reflexão sobre o homem e de uma análise do meio de vida concreto do homem concreto a quem que-
remos educar (ou melhor dito: a quem queremos ajudar a educar-se). (FREIRE, 1980, pp. 33-34).

A celebração de inauguração do projeto ocorreu no dia 18 de janeiro de 1963, nela estava presente
Paulo Freire e o governador do Estado do Rio Grande do Norte, Aluísio Alves. Posteriormente, no dia
24 de janeiro realizou-se a primeira aula dessa experiência que tinha como propósito alfabetizar 300
trabalhadores em 40 horas. Freire (1980), pensou a alfabetização como um instrumento que tornasse
compatível a realidade do trabalhador “e o material que lhe era oferecido para a aprendizagem”.
(FREIRE, 1980, p.41). Sob o mesmo ponto de vista, com base nas palavras que mais significavam a
população angicana, utilizou na primeira aula de alfabetização a palavra geradora “belota10”. De
acordo com Pelandré (1998) o segundo encontro direcionou-se a recapitulação das famílias silábicas
trabalhadas até o momento (letras b, l e t), resultando na leitura e formação de palavras das sílabas
correspondentes. Por sua vez, na quarta hora, a aula encaminhou-se com base na palavra geradora:
sapato. A palavra foi apresentada posteriormente ao debate da cena projetada: “um sapateiro, em
uma oficina, trocando o solado de um sapato”. (PELANDRÉ, 1998, p. 41). Conforme a autora, a exibi-
ção da imagem provocou a reflexão sobre trabalho. Ressaltamos que atividades similares a essa
ocorriam nas demais aulas de alfabetização, pois cada palavra escolhida correspondia o desenho
simbólico de uma cena com determinada situação que, por meio de slides causava os debates entre
os alunos.

Os materiais eram preparados com base nas palavras geradoras e as aulas formadas por meio de
situações-problema, o adulto se educava por meio da discussão de suas experiências de vida. As
propostas de alfabetização, de Paulo Freire, não utilizavam a cartilha como material do processo edu-
cativo, o seu recurso principal eram os “círculos de cultura”, espaços onde se desenvolviam os deba-
tes que davam início ao processo de alfabetização e conscientização.

De acordo com Pelandré (1998), as aulas eram realizadas à noite e durante a manhã os monitores se
encontravam para planejar e refletir sobre o trabalho que vinham desenvolvendo. Ao assistir o vídeo
“As quarenta horas em Angicos”11, evidenciamos os encontros que aconteciam à noite. Nesses es-
paços percebemos também o encontro de idosos, jovens, adultos e crianças convivendo no mesmo
ambiente de aprendizado.

Gadotti (2013), relata que Freire em suas aulas preparatórias, perseverava na questão da articulação
entre a educação e a realidade, pois segundo ele, a pessoa tem mais facilidade em aprender a ler e
escrever quando seu aprendizado está apoiado na sua própria experiência de vida.

Para Freire (1987), o diálogo é um elemento de suma importância no processo educativo. Em Angi-
cos percebemos a presença do diálogo na busca do conteúdo a ser trabalhado e durante os encon-
tros de alfabetização. Exemplo disso são os monitores que proporcionavam um espaço aos partici-
pantes para falar sobre o seu dia, falar a respeito de suas compreensões e do que mais gostaram na-
quela aula.

As aulas eram bastante dinâmicas, “[...] além da projeção de slides, os monitores procuravam utilizar

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ASSISTENCIA EM ENFERMAGEM A MULHER

diferentes estratégias, jogos e recursos alternativos”. (PELANDRÉ, 1998, p. 44). Quando os monito-
res concluíram o trabalho das famílias silábicas, eles fizeram um jornal chamado “O pau-de-arara”
com frases feitas pelos próprios participantes no decorrer das aulas. A penúltima aula realizou-se em
torno de reflexões sobre tudo que havia acontecido, deixaram de ser analfabetos e tomaram consci-
ência do valor de suas existências e de seus trabalhos.

Ao final da experiência, a primeira turma, concluiu o curso no dia 02 de abril de 1963, com a entrega
de certificado aos trabalhadores que haviam se alfabetizado. “Os resultados obtidos – 300 trabalha-
dores alfabetizados em 45 dias – impressionaram profundamente a opinião pública”. (FREIRE, 1980,
p. 17). A cerimônia de entrega de certificados contou com a presença do Presidente da República
João Goulart e de vários governadores do Nordeste. Na ocasião, o Presidente João Goulart, recebeu
cartas que os participantes do projeto escreveram.

Segundo Gadotti (2013), a experiência de Angicos repercutiu de forma nacional e internacional. Enca-
minharam-se para Angicos, representantes de vários jornais. Luiz Lobo registrou com filmagens os
momentos em Angicos e ao término da experiência divulgou o filme “As quarenta horas de Angicos”,
mostrando seu prestígio através de um método acessível, claro e eficaz. “O sucesso dessa experiên-
cia de Angicos valeu ao Professor Paulo Freire o convite para repensar a alfabetização de adultos em
âmbito nacional” (CARVALHO; BARBOSA, 2011, p. 75). Por sua vez, o presidente João Goulart12
comprometeu-se com a ampliação dos programas de alfabetização de jovens e adultos e em 1964,
seu governo cria a Campanha Nacional de Alfabetização sob a coordenação de Paulo Freire.

No entanto, a Campanha não foi colocada em prática, as ideias foram abolidas pelo golpe militar que
considerou o método de Freire revolucionário. Em seguida, Freire passou por perseguições políticas
e ficou preso por 70 dias na cadeia de Olinda. Nesse sentido, Gadotti (2013), relata uma passagem
de Freire após sua prisão. “[...] na prisão, um dos oficiais responsáveis pelo quartel, sabendo que ele
era professor, solicitou a Paulo Freire para alfabetizar alguns recrutas. Paulo explicou-lhe que foi exa-
tamente porque queria alfabetizar, que fora preso”. (GADOTTI, 2013, p. 57).

Após a experiência, durante o período militar “[...] as pessoas tiveram muito medo. Queimaram toda a
documentação [...]” (CARVALHO; BARBOSA, 2011, p. 75) e, evitavam falar sobre o assunto de Angi-
cos.

Para Gadotti (2013, p. 60), “o Programa de alfabetização de adultos marcou a história de Angicos e a
vida daqueles que participaram”. Certamente, o segredo do bom resultado da experiência em Angicos
foi o progresso humano e a boa preparação dos coordenadores que estavam à frente dos trabalhos
de alfabetização. Desta forma, diante das considerações percebemos que o projeto de Angicos foi
uma experiência que deu certo. E assim como constatou Pelandré (1998), o tempo foi curto, mas o
convívio foi intenso.

Percebemos no contexto investigado, através deste resgate histórico, que a Educação de Jovens e
Adultos passou por um processo de desenvolvimento e transformações. Foi permeada por movimen-
tos e programas visando a erradicação do analfabetismo. Nesse percurso, evidenciamos também que
o ensino para adultos muitas vezes era desenvolvido de forma infantilizada, ou seja, reutilizando pla-
nejamentos de outra faixa etária, entrando assim, em contradição com as propostas de Paulo Freire,
ao negar as experiências de vida dos adultos-educandos na ação educativa.

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