Clínicas Do Trabalho 2oGQ

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 3

Clínicas do trabalho

Dupla: Antônio Veloso e Pedro Henrique Menezes

A Psicologia Organizacional é um campo de estudo que busca compreender e


intervir nos processos psicológicos relacionados ao trabalho e às organizações. Nesse
contexto, as Clínicas do Trabalho têm se destacado como uma abordagem promissora para
a compreensão e promoção da saúde mental e do bem-estar dos trabalhadores.
As Clínicas do Trabalho surgiram como uma alternativa às práticas tradicionais de saúde
ocupacional, que muitas vezes focam apenas nos aspectos físicos e ergonômicos do
trabalho. Essa abordagem se propõe a ir além dos sintomas e doenças relacionados ao
trabalho, buscando compreender os processos subjetivos e organizacionais que impactam a
saúde dos trabalhadores.

As clínicas se constituem de um conjunto de perspectivas teóricas que enxergam os


diversos adoecimentos decorrentes da atividade laboral a partir de pontos de vistas
específicos de cada área da saúde. Algumas dessas principais perspectivas teóricas são a
Psicodinâmica do trabalho, Clínicas da atividade, Psicossociologia e a Ergologia.

A Psicodinâmica do Trabalho procura entender como as dimensões psíquicas e


emocionais dos trabalhadores influenciam sua relação com o trabalho e como, por sua vez,
o trabalho pode influenciar a subjetividade e a saúde mental dos trabalhadores. A
psicodinâmica do trabalho se concentra nas interações sociais e nas relações de poder
dentro do ambiente de trabalho, bem como na relação entre o trabalhador e seu trabalho.
Essa abordagem também considera o papel das emoções no trabalho, como a ansiedade, a
frustração e a satisfação. (BENDASSOLLI, SOBOLL, 2011).

No que se diz respeito às atividades que as pessoas realizam em seu trabalho,


encontra-se a Clínica da Atividade que procura entender como a organização dessas
atividades afeta a saúde mental e física dos trabalhadores. A Clínica da Atividade procura
compreender como as atividades de trabalho são organizadas, como são realizadas e como
elas se relacionam com a saúde e a subjetividade dos trabalhadores. A abordagem também
enfatiza a importância do contexto social e das relações de poder no ambiente de trabalho.

Já a Psicossociologia se concentra nas interações sociais e nas relações entre os


trabalhadores e a organização do trabalho. A psicossociologia procura entender como a
cultura e a organização do trabalho afetam a saúde mental e a subjetividade dos
trabalhadores, bem como a forma como eles interagem uns com os outros e com a
organização. A abordagem enfatiza a importância do diálogo e da negociação entre os
trabalhadores e a organização do trabalho para a construção de um ambiente de trabalho
saudável e produtivo.(BENDASSOLLI, SOBOLL, 2011).

Por fim, a ergologia se concentra na relação entre os trabalhadores e as


ferramentas, equipamentos e tecnologias utilizadas em seu trabalho. A Ergologia procura
entender como os trabalhadores interagem com essas ferramentas e tecnologias, como
eles as adaptam às suas necessidades e como elas afetam a saúde e a subjetividade dos
trabalhadores. A abordagem também enfatiza a importância da participação dos
trabalhadores na concepção e no desenvolvimento das ferramentas e tecnologias utilizadas
em seu trabalho.

Outro aspecto importante nas Clínicas do Trabalho são as psicopatologias do


trabalho que são divididas em quatro grupos. O primeiro grupo envolve as patologias da
atividade ou das “sobrecargas”, que se caracteriza por fadigas, burnout, estresse e
dissociações psicológicas. Neste grupo o bloqueio das atividades desempenhadas pelo
trabalhador afeta diretamente o seu processo de subjetivação, que ao ser impedido de
trabalhar, o trabalhador acaba adoecendo. Já o segundo grupo, reúne as patologias da
Solidão, que diz respeito a quando o coletivo é enfraquecido e o indivíduo fica fragilizado
pela perda de laços; e da Indeterminação no trabalho que é quando os trabalhadores não
conseguem compreender os meios e os fins de suas atividades, comprometendo seu
processo de apropriação subjetiva. O terceiro grupo está relacionado com o adoecimento
devido aos maus-tratos e à violência no ambiente de trabalho, por exemplo: os diferentes
tipos de assédio, exposição dos indivíduos a situações humilhantes, bullying,
discriminações nos campos religioso, racial, de deficiências, sexual e etc. O quarto e último
grupo, diz respeito aos fatores mais graves, como: depressão, suicídios (ou tentativas de) e
abalos mentais decorrentes de tais males. (SOLDERA, 2017).

No tangente a prática das Clínicas do Trabalho, uma de suas principais


características decorrente desta ampla gama de perspectivas na fundamentação é a
compreensão de que o trabalho não se limita apenas às tarefas e responsabilidades
realizadas pelo indivíduo, mas também inclui as relações sociais, as dinâmicas
organizacionais e os aspectos subjetivos envolvidos. Nesse sentido, a abordagem busca
compreender como esses diferentes elementos interagem e influenciam a saúde mental dos
trabalhadores.

Ao adotar uma perspectiva clínica, as Clínicas do Trabalho buscam ir além da


simples identificação de problemas e sintomas, buscando compreender as significações e
os sentidos atribuídos pelos trabalhadores às suas vivências laborais. Essa compreensão
profunda permite que sejam realizadas intervenções mais efetivas e que levem em
consideração as singularidades de cada indivíduo e contexto de trabalho. Dessa forma,
para abarcar a perspectiva sistêmica que propõe, as Clínicas do Trabalho funcionam de
maneira multidisciplinar, unindo diversas áreas da saúde de modo a otimizar as
intervenções em saúde na vida do trabalhador.

De modo a ter acesso à real situação do ambiente de trabalho, uma das


metodologias frequentemente utilizadas é a entrevista clínica, que permite uma escuta
atenta e um diálogo reflexivo com os trabalhadores. Essas entrevistas são conduzidas de
forma não diretiva, proporcionando um espaço seguro e acolhedor para que os indivíduos
expressem suas vivências, emoções, frustrações e expectativas em relação ao trabalho. A
partir dessas narrativas, é possível identificar elementos que contribuem para o
adoecimento ou para a promoção da saúde mental. Ao oferecer um espaço para que os
indivíduos expressem suas angústias, insatisfações e dificuldades, essas entrevistas
proporcionam um ambiente propício para a reflexão e o posterior desenvolvimento de
estratégias de enfrentamento por meio das próprias clínicas do trabalho e do profissional de
saúde mental atuante. Não obstante, as Clínicas do Trabalho buscam promover a
participação ativa dos trabalhadores na identificação e solução dos problemas relacionados
ao trabalho, fortalecendo o protagonismo e a autonomia dos indivíduos, gerando uma
cultura pertinente para os colaboradores do ambiente.

É importante tratar também do caráter preventivo e de manutenção da atuação das


clínicas. Ao identificar precocemente situações de risco e sinais de adoecimento, é possível
intervir de forma proativa, evitando o agravamento dos problemas e promovendo a saúde e
o bem-estar dos trabalhadores. A prevenção é realizada por meio da análise dos processos
de trabalho, da promoção de mudanças organizacionais e da implementação de programas
de intervenção que visam melhorar as condições laborais. Por meio dos grupos de
discussão, análise de processos e dinâmicas da organização, é possível compreender as
relações de poder, as demandas psicossociais e os fatores que influenciam o bem-estar
coletivo. Essa metodologia coletiva permite uma visão mais macroestrutural e desse modo
proporciona a identificação de padrões e tendências que podem afetar a saúde mental de
diversos trabalhadores.
.
É importante ressaltar que as Clínicas do Trabalho não substituem a atuação da
saúde ocupacional e dos serviços de saúde mental. Pelo contrário, elas complementam e
ampliam as possibilidades de intervenção, trazendo uma abordagem mais abrangente e
contextualizada. Ao considerar as dimensões subjetivas e sociais do trabalho, as Clínicas
do Trabalho contribuem para uma compreensão mais completa dos fatores que influenciam
a saúde mental dos trabalhadores e para o desenvolvimento de práticas mais efetivas de
promoção da saúde e prevenção dos adoecimentos no contexto organizacional

Referências bibliográficas

Bendassolli, P. F. e Soboll. L. A. P. (2011). Clínicas do trabalho: filiações, premissas e


desafios.

Soldera, L. M. (2017). Clínicas do Trabalho: Concepção histórica e desenvolvimento de uma


proposta heterogênea.

Você também pode gostar