Manual de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida de Espécies Exóticas Invasoras

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Manual de alerta, detecção precoce e resposta

rápida de espécies exóticas invasoras para


o ambiente terrestre no Brasil, incluindo
protocolo específico

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA DO CLIMA


REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidente
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Vice-Presidente
GERALDO ALCKMIN

Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima


Ministra
MARINA SILVA

Secretaria-Executiva
Secretário-Executivo
JOÃO PAULO CAPOBIANCO

Secretaria Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais


Secretária
RITA DE CÁSSIA MESQUITA

Departamento de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade


Diretor
BRAULIO FERREIRA DE SOUZA DIAS

Departamento de Áreas Protegidas


Diretor
PEDRO DE CASTRO DA CUNHA E MENEZES

Departamento de Proteção, Defesa e Direitos Animais


Diretora
VANESSA NEGRINI
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E MUDANÇA DO CLIMA
SECRETARIA NACIONAL DE BIODIVERSIDADE, FLORESTAS E DIREITOS ANIMAIS

Manual de alerta, detecção precoce e resposta


rápida de espécies exóticas invasoras para
o ambiente terrestre no Brasil, incluindo
protocolo específico

Brasília/DF
MMA
2024
© 2024 Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
Permitida a reprodução sem fins lucrativos, parcial ou total, por qualquer meio, se citados a fonte
do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima ou sítio da Internet no qual podem ser
encontrados os originais em https://www.gov.br/mma/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/
manual_invasoras_terrestre_24.pdf

Equipe Técnica:

Texto Equipe técnica MMA

Sziller Planejamento e Consultoria Ambiental: Carlos Targino


Sílvia Renate Ziller José Renato Legracie
Thiago Correia Couto Rodrigo Braga
Lucas Jarduli Ronaldo Morato
Diego Azevedo Zoccal Garcia Tatiani Chapla

Equipe técnica WWF-Brasil


Anderson Ignácio Fernanda Leite Luana Lopes
Anna Carolina Lins Gabriela Moreira Mariana Gutiérrez
Antonio Barbosa Gabriela Marangon Moisés Muálem
Bruna Piazera João Marcelo Lemos Rabeshe Quintino
Eduarda Miranda Kelly Martins

Projeto gráfico e diagramação


Eduardo Guimarães - AG2 Comunicação

Foto das capas


FICHA-MANUAL
Callithrix jacchus DE Tan
©Humberto ALERTA…
- WWF TERRESTRE – VERSÃO DIGITAL
A elaboração e parte da implementação do Sumário executivo sobre a proposta de programa nacional de alerta, detec-
ção precoce e resposta rápida de espécies exóticas invasoras e a estrutura organizacional e funcionamento da rede de
colaboradores de apoio para monitoramento, identificação taxonômica de espécies e ações de manejo foram financia-
das com recursos do Global Environment Facility (GEF) por meio do Projeto 029840 - Estratégia Nacional para a Conser-
vação de Espécies Ameaçadas - Pró-Espécies: Todos contra a extinção.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP


B823m Brasil. Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Manual de alerta, detecção precoce e resposta rápida de espécies exóticas invasoras
para o ambiente terrestre no Brasil, incluindo protocolo específico [recurso eletrônico]
/ Departamento de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade – Brasília, DF:
MMA, 2024.
92 p. : il.

Modo de acesso: World Wide Web


ISBN 978-65-88265-67-3 (on-line)

1. Ecossistemas terrestres. 2. Espécies exóticas invasoras. 3. Monitoramento. 4.


Táxon. I. Programa Nacional de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida para
Espécies Exóticas Invasoras (PNADPRR). II. Título.
CDU 574
Biblioteca Nacional do Meio Ambiente
Ana Lúcia C. Alves – CRB1/2017
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Campos recomendados para o registro de notificações de ocorrência
de espécies exóticas........................................................................................ 40
Tabela 2 – Fontes de informação para verificação de antecedentes de invasão de espécies
exóticas..................................................................................................................................... 44
Tabela 3 – Respostas a níveis de risco para invasões biológicas, conforme resultados da
avaliação de risco.....................................................................................................51
Tabela 4 – Estrutura básica dos planos de resposta rápida para EEIs com base no Guia
de Orientação para o Manejo de Espécies Exóticas Invasoras em Unidades
de Conservação Federais (ICMBio 2019), com adaptação para o contexto de
detecção precoce e resposta rápida......................................................................52
Tabela 5 – Checklist da análise de viabilidade para ações de resposta rápida.....................54
Tabela 6 – Técnicas de controle de plantas exóticas invasoras.............................................57
Tabela 7 – Métodos de controle de fauna exótica invasora...................................................61

LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Diagrama da fase de preparo de programas de detecção
precoce e resposta rápida................................................................................ 26
Figura 2 – Protocolo de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida
para Espécies Exóticas Invasoras.............................................................................37
Figura 3 – Detecção precoce de gramínea exótica em UC estadual.....................................90
Figura 4 – Detecção precoce de ave exótica em ambiente terrestre....................................92
LISTA DE ABREVIATURAS
CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica
EEI – espécie exótica invasora
EPI – equipamento de proteção individual
FUNBIO – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
GAT – Grupo de Assessoramento Técnico ao Programa Nacional de Alerta, Detecção Pre-
coce e Resposta Rápida para Espécies Exóticas Invasoras
GEF – Global Environment Facility Trust Fund (Fundo Global para o Meio Ambiente)
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
MMA – Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
PAN – Plano de Ação Nacional
PAT – Plano de Ação Territorial
PELD – Pesquisa Ecológica de Longa Duração
PNADPRR – Programa Nacional de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida para
Espécies Exóticas Invasoras
UC – unidade de conservação
Salix caprea
©Ola Jennersten - WWF-Sweden

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SUMÁRIO
Apresentação......................................................................................................................11
1 Informações básicas........................................................................................................13
1.1 Ecossistemas e grupos biológicos contemplados..............................................................13
1.1.1 Os ecossistemas terrestres no Brasil.........................................................................13
1.1.2 Os grupos biológicos contemplados neste manual.................................................15
1.2 Vias/vetores de introdução e dispersão..............................................................................17
1.3 Definição de áreas de relevância para detecção precoce.................................................18
1.3.1 Áreas sob proteção legal.............................................................................................18
1.3.2 Ocorrência de espécies ameaçadas de extinção, raras ou endêmicas..................19
1.3.3 Suscetibilidade à chegada de propágulos de espécies exóticas invasoras (EEIs)....... 19
1.3.4 Ocorrência de iniciativas de produção, cultivo ou criação......................................21
2 Detecção precoce e resposta rápida para espécies exóticas invasoras....................23
2.1 Fase de preparo......................................................................................................................23
2.2 Etapas do processo de detecção precoce e resposta rápida............................................24
2.2.1 Vigilância e monitoramento........................................................................................27
2.2.1.1 Tipos de vigilância e monitoramento...............................................................28
Vigilância e monitoramento passivos...............................................................28
Vigilância e monitoramento ativos...................................................................29
2.2.1.2 Métodos de vigilância e monitoramento.........................................................30
Plantas..................................................................................................................30
Monitoramento e vigilância em áreas naturais, incluindo
unidades de conservação (UCs)........................................................................31
Animais.................................................................................................................33
Invertebrados......................................................................................................33
Anfíbios e répteis................................................................................................34
Aves.......................................................................................................................34
Mamíferos............................................................................................................34
2.3 Interpretação do Protocolo...................................................................................................36
2.3.1 Notificação.....................................................................................................................36
2.3.2 Identificação e triagem.................................................................................................37
2.3.2.1 Processo de identificação...................................................................................38
2.3.2.2 Avaliação de risco rápida....................................................................................40
2.3.3 Alerta..............................................................................................................................42
2.3.4 Vistoria, caracterização da invasão e erradicação imediata....................................42
2.3.5 Avaliação de risco.........................................................................................................46
2.3.6 Planos de resposta rápida...........................................................................................49
2.3.6.1 Análise de viabilidade.........................................................................................51
2.3.7 Execução de ações de resposta rápida......................................................................52
2.3.7.1 Estratégias e métodos de erradicação e controle...........................................52
Plantas..................................................................................................................53
Controle mecânico..............................................................................................53
Queima prescrita................................................................................................54
Controle químico.................................................................................................55
Controle biológico...............................................................................................56
Animais.................................................................................................................57
Captura.................................................................................................................57
Abate com arpão.................................................................................................57
Abate com arma de fogo....................................................................................58
Uso de iscas de veneno......................................................................................58
Métodos contraceptivos.....................................................................................58
Cercas para isolamento.....................................................................................58
2.3.8 Monitoramento posterior e repasse..........................................................................60
2.3.8.1 Avaliação de eficácia das ações de resposta....................................................60
Plantas..................................................................................................................61
Animais.................................................................................................................62
3 Considerações finais........................................................................................................65
Referências..........................................................................................................................66
Glossário..............................................................................................................................69
Apêndice..............................................................................................................................71
Apêndice 1 – Vias e vetores de introdução e dispersão..........................................................71
Apêndice 2 – Diretório de fontes de informação e contatos...................................................80
Apêndice 2.1 – Potenciais colaboradores e contatos de especialistas..................................80
Apêndice 2.2 – Fontes de informação sobre manejo e espécies............................................82
Apêndice 2.3 – Listas de espécies exóticas invasoras (EEIs)....................................................82
Apêndice 2.4 – Protocolos de análise de risco..........................................................................82
Apêndice 3 – Exemplos de plano de resposta rápida no ambiente terrestre.......................83
Apêndice 3.1 – Detecção precoce de gramínea exótica invasora em UC estadual..............83
Apêndice 3.2 – Detecção precoce de ave em ambiente terrestre..........................................85
Apêndice 4 – Materiais e equipamentos para monitoramento e controle...........................87
Apêndice 4.1 – Plantas.................................................................................................................87
Apêndice 4.2 – Animais................................................................................................................88
Apêndice 5 – Exemplos de aplicação do Protocolo..................................................................89
Apêndice 5.1 – Detecção precoce de gramínea em Unidade de Conservação Estadual.....89
Apêndice 5.2 – Detecção precoce de ave em ambiente terrestre..........................................91
Anolis carolinensis
©Kenny Onufrock - WWF-US

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APRESENTAÇÃO
Um dos principais objetivos da Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras (Reso-
lução CONABIO nº 7, de 29 de maio de 2018) e do respectivo Plano de Implementação (Por-
taria MMA nº 3, de 16 de agosto de 2018) diz respeito ao estabelecimento de um Programa
Nacional de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida para Espécies Exóticas Invasoras
(PNADPRR). Este manual é um dos itens que integra o conjunto de documentos deste Pro-
grama Nacional, elaborado no âmbito do projeto Estratégia Nacional para Conservação de
Espécies Ameaçadas de Extinção (Pró-Espécies), financiado pelo Fundo Global para o Meio
Ambiente (GEF, sigla em inglês), tendo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
(MMA) como coordenador, o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) como agên-
cia implementadora e o WWF-Brasil como agência executora.
Neste documento apresentamos o manual de orientação para o uso do Protocolo de Aler-
ta, Detecção Precoce e Resposta Rápida, com vistas à implementação de ações práticas de
erradicação e controle de EEIs em ambientes terrestres. O Protocolo se fundamenta no
modelo do Protocolo Geral, elaborado como produto anterior desta consultoria (Produto
5.1), porém este manual inclui informações mais detalhadas sobre diversos aspectos do
Protocolo, com o intuito de facilitar sua aplicação prática no âmbito do PNADPRR.
O público-alvo é, porém, mais amplo, no sentido de que o manual pode ser útil para pro-
gramas de detecção precoce e resposta rápida estabelecidos em outras escalas, seja em
nível estadual, seja em uma área particular, como uma unidade de conservação (UC). O
objetivo principal é facilitar a compreensão do processo de detecção precoce e das alterna-
tivas disponíveis para cada etapa de aplicação do Protocolo, a fim de permitir que as ações
decorrentes de uma notificação de ocorrência de espécie exótica tenham agilidade e foco
em maximizar as oportunidades de erradicação, contenção ou controle efetivo de novos
casos de invasão.
Este manual foi submetido a consulta pública juntamente com os demais protocolos para
ambientes dulcícolas e marinhos. Foram convidados diversos profissionais vinculados à
área ambiental e à temática de invasões biológicas, com experiência na gestão pública, no
manejo, em restauração ambiental e em atividades de ensino e pesquisa, entre outros, a
fim de oferecer contribuições para o aprimoramento do manual e do PNADPRR.

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Streptopelia decaocto
©Ola Jennersten - WWF-Sweden

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1 INFORMAÇÕES BÁSICAS
Este manual para uso do Protocolo de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida contem-
pla o grupo de espécies terrestres e visa prover orientação detalhada sobre a aplicação das
distintas etapas do processo de detecção precoce e resposta rápida. Contempla a indica-
ção das vias e vetores de introdução e dispersão de espécies terrestres, uma proposta de
critérios para priorização de áreas de relevância para vigilância e monitoramento focados
na detecção precoce, a estrutura básica para a elaboração de planos de resposta rápida,
orientação para a avaliação da eficácia de ações de resposta e uma explicação sobre o pas-
so a passo do Protocolo que deverá guiar a tomada de decisão, além de sugestões de mé-
todos de monitoramento e controle para distintos grupos biológicos. Os apêndices trazem
indicações de fontes complementares de informação e exemplos de planos de resposta
rápida e de aplicação do Protocolo.
O estabelecimento de parcerias com instituições que mantêm coleções zoológicas e her-
bários é de alta relevância para viabilizar a identificação de espécies detectadas, com apoio
de taxonomistas, assim como para envolver profissionais na emissão de notificações de
ocorrência. Alguns exemplos providos no decorrer do texto são ilustrativos e se referem
a espécies amplamente disseminadas no território nacional às quais a abordagem de de-
tecção precoce e resposta rápida é aplicável quando chegam a novas áreas de ocorrência,
como pode ser o caso do caracol-gigante-africano (Achatina fulica) no estado do Rio Grande
do Sul. De forma análoga, espécies nativas do Brasil, como alguns saguis (Callithrix spp.),
foram levados para fora de sua área de distribuição natural e são exóticos invasores em
diversos estados no bioma Mata Atlântica. A dispersão dessas populações em novas áreas
igualmente deve ser foco de detecção precoce e de ações de resposta rápida a fim de evitar
a expansão da invasão no território nacional.

1.1 ECOSSISTEMAS E GRUPOS BIOLÓGICOS CONTEMPLADOS

1.1.1 Os ecossistemas terrestres no Brasil

Os ecossistemas terrestres brasileiros estão classificados em formações vegetacionais com


subdivisões para cada tipo (IBGE, 2012):
a) Floresta: vegetação dominada por árvores de alto porte, chegando a quatro
estratos bem definidos (herbáceo, arbustivo, arvoreta/arbóreo baixo e arbóreo).
As subformações florestais compreendem a Floresta Ombrófila Aberta, Floresta
Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Estacional Sempre Verde, Floresta
Estacional Semidecidual e Floresta Estacional Decidual, estas também subdivididas
de acordo com variações altitudinais ou edáficas, entre outros fatores ambientais.
São exemplos de EEIs nesses ambientes a leucena (Leucaena leucocephala) em áreas

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degradadas, a jaqueira (Artocarpus heterophyllus) e o dendê (Elaeis guineenses) na
Floresta Atlântica, especialmente na região Nordeste, a uva-do-japão (Hovenia dulcis) e
alfeneiros (Ligustrum spp.) na região Sul. Em termos de animais, várias áreas de Floresta
Atlântica estão invadidas por saguis (Callithrix spp.) nativos na região Nordeste, assim
como pela rã-touro (Aquarana catesbeiana) e pelo javali (Sus scrofa), sendo também
comum a predação de espécies nativas por animais domésticos, especialmente cães
(Canis familiaris) e gatos (Felis catus).
b) Savana: vegetação com dominância compartilhada de estratos arbóreos e herbáceos,
sendo as árvores relativamente pequenas (3-10 m de altura), em geral espaçadas e com
copas amplas. A vegetação herbácea é praticamente contínua, formando um tapete
entre as árvores e os arbustos. A savana compreende quatro subformações: savana
florestada ou cerradão, savana arborizada ou campo cerrado, savana parque e savana
gramíneo-lenhosa. O principal problema de invasão biológica nesses ambientes está
relacionado à introdução de gramíneas forrageiras, em geral de origem africana, como
braquiária (Urochloa spp.), capim-de-rhodes (Andropogon gayanus), capim-colonião
(Megathyrsus maximus) e capim-gordura (Melinis minutiflora), além da cana-do-reino
(Arundo donax). Entre as espécies animais, podemos citar o javali (Sus scrofa), sendo
também comum a predação de espécies nativas por animais domésticos como cães
(Canis familiaris) e gatos (Felis catus).
c) Savana-Estépica: refere-se à formação de Caatinga nas áreas áridas interplanálticas
nordestinas (Sertão), no Alto Surumu em Roraima, na Depressão Mato-Grossense-do-
Sul entre a Serra da Bodoquena e o Rio Paraguai (Chaco) e na interface da Barra do Rio
Quaraí com o Rio Uruguai, no Rio Grande do Sul. As invasões biológicas mais expressivas
nessas formações são representadas por algaroba (Prosopis spp.) e nim (Azadirachta
indica) na Caatinga nordestina. Na Barra do Quaraí observa-se invasão do veado-axis
(Axis axis) e do javali (Sus scrofa).
d) Estepe: áreas de relevo plano ou suave ondulado recobertas por vegetação herbácea
contínua, como a Campanha Gaúcha e os Campos Gerais na região Sul do Brasil.
Subdivide-se em Estepe Arborizada ou Arbórea Aberta, Estepe Parque ou Campo Sujo
e Estepe Gramíneo-Lenhosa ou Campo Limpo entremeado por florestas de galeria
ao longo de cursos d’água. Nesses ambientes, ocorre invasão por pínus (Pinus spp.)
sobre ecossistemas campestres e áreas degradadas, tojo (Ulex europaeus) e gramíneas
africanas como braquiária (Urochloa spp.) e capim-gordura (Melinis minutiflora). Estes
ambientes se encontram invadidos pelo javali (Sus scrofa).
e) Campinarana: termo regionalista brasileiro aplicado à área do alto Rio Negro,
denominando áreas planas e alagadas de fisionomia variada, desde formações
campestres até florestais de árvores finas, sobre Espodossolos. Não há registros
específicos de invasão biológica nesses ambientes até o presente momento.
f) Formações Pioneiras: referem-se a áreas caracterizadas pelo primeiro processo
de ocupação por vegetação, sendo subdivididas em restingas, comunidades

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aluviais e manguezais e campos salinos. As restingas são suscetíveis à invasão
por pínus (Pinus spp.), acácias (Acacia mangium, A. longifolia), casuarina (Casuarina
equisetifolia), castanheira (Terminalia catappa), aspargos ornamentais (Asparagus
spp.) e gramíneas como braquiária (Urochloa spp.). As comunidades aluviais
são invadidas por gramíneas como braquiárias aquáticas (Urochloa plantaginea,
U. ruziziensis) e lírio-do-brejo (Hedychium coronarium). Os manguezais e campos
salinos são invadidos pela castanheira (Terminalia catappa), especialmente nos
fundos de áreas de mangue.
g) Refúgios Vegetacionais: áreas condicionadas por parâmetros ambientais muito
específicos, como áreas de solo turfoso e cumes de serras, configurando relictos
vegetacionais. Podem ser dominados por espécies herbáceas e arbustivas, como os
campos de altitude, ou arbórea, como as matas nebulares em altitudes elevadas na
borda leste do Planalto Meridional, caracterizadas por alta precipitação e presença
de nuvens devido à condensação da umidade do mar. Esses ambientes são de
alta fragilidade, sendo frequente a ocorrência de espécies endêmicas em função
do grau de isolamento e das peculiaridades do ambiente. Os campos de altitude
são especialmente suscetíveis à invasão por pínus (Pinus spp.), cujas sementes são
carreadas pelo vento a partir de áreas mais baixas, assim como por gramíneas
africanas como braquiárias (Urochloa spp.), capim-colonião (Megathyrsus maximus) e
capim-elefante (Pennisetum spp.), entre outras.
A área de contato entre formações distintas, onde ocorre a mistura de duas ou mais floras,
é denominada de ecótono. Cada um dos ecossistemas pode ser caracterizado, atualmen-
te, por vegetação primária ou secundária em diferentes estágios sucessionais. Ambientes
convertidos para uso agrícola, florestal ou urbanizados são considerados como parte dos
ecossistemas acima listados, ainda que as prioridades de gestão e manejo desta iniciativa
tenham foco em ambientes naturais. Ressaltamos que a degradação dos ambientes faci-
lita a invasão por espécies exóticas, mesmo porque nem ecossistemas conservados estão
imunes à invasão.

1.1.2 Os grupos biológicos contemplados

Este manual faz referência aos seguintes grupos biológicos de ambientes terrestres, para
os quais estão citados alguns exemplos de EEIs:
a) Plantas: este grupo contempla todos os tipos de plantas terrestres, como
árvores, arbustos, palmeiras, ervas, gramíneas, trepadeiras, cactos, samambaias,
briófitas (musgos) e suculentas. Mais da metade das plantas exóticas invasoras
presentes no Brasil foi introduzida para uso ornamental, a exemplo da trapoeraba-
roxa (Tradescantia zebrina), beijinho (Impatiens walleriana), aspargo-ornamental
(Asparagus spp.), jiboia (Epipremnum pinnatum), singônio (Syngonium spp.), comigo-
ninguém-pode (Dieffenbachia spp.), cheflera (Schefflera spp.), piteira (Furcraea
foetida), trepadeiras como madressilva (Lonicera japonica) e amarelinha (Thunbergia

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alata), plantas arbóreas como ipê-de-jardim (Tecoma stans), castanheira (Terminalia
catappa) e jambo (Syzygium jambos) e palmeiras como rabo-de-peixe (Caryota
urens), palmeira--leque-da-china (Livistona chinensis), palmeira-real-da-austrália
(Archontophoenix cunnighamiana) e palmeira-imperial (Roystonea oleracea), entre
outras. Entre as árvores cultivadas para fins alimentares e para sombra destacam-se
jaqueira (Artocarpus heterophyllus), dendê (Elaeis guineensis), goiabeira (Psidium guajava),
nêspera (Eriobotrya japonica) e uva-do-japão (Hovenia dulcis). Árvores empregadas
na produção florestal incluem os gêneros Pinus, Eucalyptus e Acacia, assim como nim
(Azadirachta indica) e munguba (Pachira aquatica) para fins agroflorestais. Entre as
plantas forrageiras, estão amplamente disseminadas braquiárias (Urochloa spp.), capim-
-colonião (Megathyrsus maximus), capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa), capim-andropogon
(Andropogon gayanus), capim-gordura (Melinis minutiflora), capim-annoni (Eragrostis
plana) e grama-bermuda (Cynodon dactylon), assim como espécies arbóreas como a
leucena (Leucaena leucocephala) e a algaroba (Prosopis spp.).
b) Invertebrados: neste grupo está incluída uma diversidade de espécies, como
aranhas, centopeias, escorpiões, crustáceos, insetos, isópodas, minhocas, moluscos,
nematoides e outros. São exemplos de invertebrados exóticos invasores no Brasil
a abelha-africanizada Apis mellifera, o mosquito-da-dengue (Aedes aegypti e Aedes
albopictus), o caracol-gigante-africano (Achatina fulica), o besouro-rola-bosta-africano
(Digitonthophagus gazela), a joaninha (Harmonia axyridis), a formiga-cabeçuda (Pheidole
megacephala) e a minhoca-vermelha-da-califórnia (Eisenia fetida).
c) Vertebrados: este grupo está subdividido em quatro classes de animais terrestres, a
saber:
d) anfíbios (sapos, rãs, pererecas, cobras-cegas, salamandras, jias), como rã-touro
(Aquarana catesbeiana), perereca-das-bromélias (Phyllodites luteolus), perereca-
assobiadora (Eleutherodactylus johnstonei), perereca-de-banheiro (Scinax x-signatus) e rã-
pimenta (Leptodactylus labyrinthicus);
• répteis (serpentes, lagartos, jacarés, tartarugas, cágados, jabutis) como tigre-d´água-
-americano (Trachemys scripta) e tigre-d’água (T. dorbigni), nativo no Rio Grande do Sul,
comercializados como animais de companhia;
• aves, como estorninho (Sturnus vulgaris), corvo (Corvus albus), pombo-doméstico (Columba
livia), caturrita (Myiopsitta monachus), periquito-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri), peri-
quito-rico (Brotogeris tirica), bico-de-lacre (Estrilda astrild), pardal (Passer domesticus) e garça-
-vaqueira (Bubulcus íbis); e
• mamíferos (roedores, coelhos, lebres, primatas, felinos, canídeos, mustelídeos
etc.), como javali (Sus scrofa), lebre-europeia (Lepus europaeus), cervo-axis (Axis
axis) e algumas espécies de primatas deslocados de seus ambientes de origem
dentro do território brasileiro, como sagui (Callithrix spp.), mico-leão-de-cara-

16
-dourada (Leontopithecus chrysomelas) e mico-de-cheiro (Saimiri sciureus), cão do-
méstico (Canis familiaris), gato doméstico (Felis catus), rato (Rattus rattus, Rattus
norvegicus) e camundongo (Mus musculus).
Listagens de EEIs de risco iminente de introdução (denominadas de contidas ou ausentes)
e de espécies presentes no Brasil estão disponíveis para referência no Apêndice 2.

1.2 VIAS/VETORES DE INTRODUÇÃO E DISPERSÃO


O processo de globalização envolve a intensificação de atividades de transporte, comércio,
viagens e turismo. Esses fatores são considerados chave na movimentação de espécies ao
redor do mundo (Hulme, 2009; Butchart et al., 2010; Essl et al., 2015). Através dessas ativi-
dades, são geradas oportunidades para que espécies cruzem barreiras biogeográficas que
naturalmente impediriam sua movimentação e dispersão. Essas oportunidades são carac-
terizadas como vetores e vias de transporte de plantas, animais e material biológico vivo.
Uma vez transportadas a uma nova região, espécies exóticas potencialmente invasoras
podem se mover, ou ser transportadas, da área de introdução para novas áreas ou regiões.
O entendimento da importância de vias/vetores específicos para EEIs é fundamental para
a gestão das ameaças que essas espécies representam (European Commission, 2011; CBD,
2014), pois gera oportunidade para interromper o fluxo contínuo de introduções indeseja-
das através da adoção de medidas de gestão e manejo.
As categorias de vias/vetores de introdução mais relevantes são: soltura na natureza (como
espécies com interesse de caça), escape de confinamento (como fuga ou soltura de animais
de estimação e dispersão de plantas ornamentais), transporte como contaminante (como
espécies transportadas junto a material de viveiro), transporte como clandestino (como es-
pécies transportadas em cargas que não são percebidas, como larvas de insetos em emba-
lagens de madeira ou larvas aquáticas em água de lastro), corredor (por passagem através
de estradas ou pontes) e sem ajuda humana (por dispersão natural após ser introduzida em
um local) (Harrower et al. 2018 in CBD/SBSTTA/22/INF/9). Uma descrição das vias/vetores
está disponível no Apêndice 1 e mais detalhes sobre as vias/vetores podem ser obtidos no
documento guia da Convenção sobre Diversidade Biológica (Harrower et al., 2018 in CBD/
SBSTTA/22/INF/9).
A maior parte das introduções de plantas e vertebrados terrestres se deve ao escape ou à sol-
tura de espécies introduzidas intencionalmente a partir de cultivo ou criação (Faulkner et al.,
2016; Hulme et al., 2008). A principal via/vetor de introdução e dispersão de plantas exóticas
invasoras em ambientes terrestres no Brasil é o comércio de plantas para fins ornamentais
(MMA, 2020; Zenni, 2013), que se destaca fortemente em relação a outras vias, como fins forra-
geiros em segundo lugar e, em menor proporção, agricultura, agrofloresta, produção florestal,
introdução acidental e recuperação de áreas degradadas – nesse último caso, quando do uso
de espécies exóticas sem conhecimento do risco de invasão (Zenni, 2013). Por outro lado, gra-
míneas forrageiras e árvores introduzidas para produção florestal, ainda que representadas

17
por um número menor de espécies, estão amplamente disseminadas no país, como no caso
de braquiárias (Urochloa spp.), pínus (Pinus spp.) e acácias (Acacia mangium, A. mearnsii), assim
como espécies usadas em sistemas agroflorestais, como nim (Azadirachta indica), munguba
(Pachira aquatica), seringueira (Hevea brasiliensis) e frutíferas exóticas (Base de Dados Nacional
de Espécies Exóticas Invasoras 2022).
Para a fauna de vertebrados, a principal via/vetor de introdução em termos globais é o comér-
cio de animais de estimação e de animais para terrários, assim como de animais de criação e
introduzidos para fins de caça. No caso dos invertebrados, observa-se uma mudança ao longo
do tempo, pois até o final do século XX o volume de introduções não intencionais era dominante
para artrópodos, especialmente como contaminantes em mercadorias, passando para segundo
lugar em função de outros interesses (Essl et al., 2015), como fins alimentares para pessoas e ani-
mais de criação, produção de seda, uso em laboratório, reabilitação de solos, terrários, exibição
de animais vivos, polinização, relocação para fins de conservação, processamento de resíduos,
produção de tinturas, animais de companhia, comida para animais de companhia, uso ornamen-
tal, isca viva para pesca, uso medicinal e armas biológicas (Kumshick et al., 2015).

1.3 DEFINIÇÃO DE ÁREAS DE RELEVÂNCIA PARA DETECÇÃO PRECOCE


A definição de áreas de relevância para monitoramento visando a detecção precoce é ne-
cessária para que se possa otimizar esforços e maximizar oportunidades de erradicação de
focos de invasão biológica em áreas importantes para a conservação da biodiversidade e a
manutenção de serviços ecossistêmicos, assim como para cobrir áreas com elevada proba-
bilidade de chegada ou de dispersão de propágulos de espécies exóticas. A fim de definir
essas áreas, entende-se que é importante, antes de tudo, definir critérios que orientem es-
sas escolhas. Para ser efetiva, a priorização deve considerar não somente as EEIs e as vias/
vetores de introdução e dispersão, mas também os ambientes e as áreas mais sensíveis e
suscetíveis à invasão (McGeoch et al., 2016).
Apresentamos a seguir uma proposta de critérios que devem ser levados em considera-
ção quando da definição de áreas de relevância para detecção precoce de EEIs. O cru-
zamento de informações entre esses critérios leva à melhor indicação possível para a
definição de prioridades. Assim sendo, esse processo é dinâmico e deve ser aperfeiçoado
e atualizado com o passar do tempo.

1.3.1 Áreas sob proteção legal

Áreas legalmente destinadas à conservação ambiental, como UCs nas esferas federal, estadu-
al e municipal, assim como Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais, devem ser
priorizadas em função de sua relevância para a conservação de espécies nativas, de serviços
ecossistêmicos e da paisagem natural. Como essas últimas categorias são amplamente disper-
sas em todo o território nacional, seria importante priorizar aquelas onde existe algum tipo de
monitoramento ou de estrutura para tal, como, por exemplo, propriedades de empresas flo-
restais e outros empreendimentos privados que viabilizem a aplicação das medidas propostas.

18
A ocorrência de espécies ameaçadas de extinção, raras ou endêmicas que podem ser im-
pactadas por invasões biológicas é um critério adicional importante para a seleção de UCs
prioritárias.
A formação de guarda-parques e gestores e a provisão de materiais e equipamentos são
imprescindíveis para viabilizar a implementação de ações de resposta rápida.

1.3.2 Ocorrência de espécies ameaçadas de extinção, raras ou endêmicas

Refere-se a áreas importantes para a conservação dessas espécies, independentemente


de receberem proteção legal. EEIs são consideradas uma das maiores causas de perda de
diversidade em nível global e constituem ameaças importantes à conservação de espécies
nativas, gerando riscos a espécies representadas por populações pequenas, endêmicas ou
raras (Millenium Ecosystem Assessment 2005).
Para selecionar áreas relevantes, podem ser utilizados mapas de ocorrência de espécies
endêmicas e ameaçadas de extinção dos Planos de Ação Nacionais para a Conservação
de Espécies Ameaçadas de Extinção (PANs), por estado, assim como os Sítios da Aliança
Brasileira para Extinção Zero (sítios BAZE) e Áreas Chave para a Conservação (em inglês,
Key Biodiversity Areas – KBA). A partir desses dados, pode-se verificar as áreas onde
existem programas de monitoramento ambiental e, em segundo lugar, onde é factível
estabelecer atividades de vigilância e monitoramento, através do engajamento tanto de
funcionários, instituições de ensino e pesquisa, quanto da sociedade civil e outros.
Os Planos de Ação Territoriais (PATs), instrumentos similares aos PANs, têm foco nas ame-
aças que incidem em espécies de diferentes grupos taxonômicos da fauna e da flora que
ocorrem em determinado território. Esses planos têm interface direta com a temática de
EEIs porque indicam áreas de ocorrência de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção
que devem ser consideradas na definição de áreas prioritárias para controle de EEIs. O
cruzamento de dados de ocorrência de espécies ameaçadas ou endêmicas com EEIs, por
exemplo no interior de UCs, assim como alguns critérios complementares como a exten-
são dos focos de invasão, podem facilitar a identificação de áreas prioritárias para detec-
ção precoce, controle ou erradicação de focos de invasão biológica.

1.3.3 Suscetibilidade à chegada de propágulos de espécies exóticas invasoras (EEIs)

Em função do trânsito de pessoas, áreas onde há transporte ou atividades produtivas que in-
cluem EEIs tendem a sofrer maior pressão de propágulos (chegada de propágulos com alta fre-
quência ou intensidade), criando oportunidades para a invasão biológica. Essas áreas incluem
pontos de fronteira ou de entrada no país como aeroportos e portos, pela chegada de pessoas
e cargas, assim como atividades comerciais que utilizem EEIs ou usem meios de transporte que
dispersam propágulos através de veículos, mercadorias ou material ambiental, entre outros.
A partir do conhecimento da presença de EEIs em países vizinhos, podem ser identi-
ficados pontos de fronteira onde é mais importante estabelecer medidas de vigilân-
cia e monitoramento para prevenir a entrada de plantas ou animais exóticos. Esta

19
abordagem tem ligação com o tráfico de animais silvestres, caso em que poderia se
encaixar o javali (Sus scrofa), trazido para o Brasil a partir do Uruguai pelo interesse
de criação e caça (Deberdt; Scherer, 2007; Desbiez et al., 2011). Também se refere ao
trânsito de animais exóticos introduzidos em países vizinhos que vêm expandindo
sua área de ocorrência, como cervo-axis (Axis axis), que entrou no Brasil a partir do
Uruguai (Sponchiado et al., 2011), a lebre-europeia (Lepus europaeus), que entrou no
país a partir da Argentina (Grigera; Rapoport, 1983), e o estorninho (Sturnus vulgaris),
que também entrou a partir da Argentina, onde foi introduzido na década de 1980
(Silva et al., 2019).

Ainda, serviços postais e de encomendas são considerados uma via de entrada importante,
especialmente para a chegada de sementes de plantas ornamentais ou de uso agrícola ad-
quiridas por comércio via internet. A partir da chegada, viveiros de plantas ornamentais e
para fins de agricultura são fontes potenciais de dispersão de EEIs, a exemplo da introdução
de capim-annoni (Eragrostis plana) no Rio Grande do Sul por contaminação de sementes de
gramíneas forrageiras na década de 1950.

20
1.3.4 Ocorrência de iniciativas de produção, cultivo ou criação

As áreas próximas a estruturas ou áreas de produção, cultivo ou criação de EEIs, especial-


mente quando localizadas em áreas importantes para a conservação da biodiversidade,
incluindo zonas de amortecimento de UCs de proteção integral, tendem a ser invadidas
primeiro em caso de escape de indivíduos. A existência de iniciativas de produção de
espécies com potencial invasor deve ser considerada como um critério adicional para
indicar prioridades para monitoramento e controle em áreas consideradas relevantes
nas proximidades. Informações disponíveis a partir de processos de licenças e cadastros
devem ser aproveitadas como base para análise e verificação da ocorrência de EEIs.
Dada a vasta distribuição de iniciativas de produção, cultivo ou criação com EEIs no país,
desde plantios florestais, cultivo de plantas ornamentais ou criação de animais, estas áreas
podem ser usadas para indicar, de duas formas, a necessidade de monitoramento ou vigi-
lância: primeiro, pela inclusão, em processos de licenças, de atividades de monitoramento
e controle contínuos; segundo, como critério adicional na escolha de áreas prioritárias,
como UCs ou áreas de ocorrência de espécies raras, endêmicas ou ameaçadas de extinção
localizadas nas proximidades.

21
Arundo donax
©Nicole Franco - WWF-US

22
2 DETECÇÃO PRECOCE E RESPOSTA RÁPIDA
PARA ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS
A estratégia de detecção precoce e resposta rápida é fundamental para maximizar as opor-
tunidades de eliminação de invasões biológicas enquanto estão na fase inicial, não houve
dispersão a áreas amplas, a reprodução ainda não ocorreu ou as espécies estão recém-es-
tabelecidas. Essa etapa inicial representa as melhores oportunidades de erradicação de po-
pulações ou EEIs, com melhor custo-benefício em relação ao controle em longo prazo. Essa
estratégia funciona de forma complementar a medidas preventivas estabelecidas para im-
pedir a introdução de espécies, ou a sua chegada a um novo ambiente. Quando a preven-
ção não é eficiente, a detecção precoce é a melhor alternativa de manejo, pois maximiza as
oportunidades de erradicação da espécie ou do foco de invasão em questão. A estratégia
da detecção precoce parte da formação de uma ampla rede de vigilância e monitoramento
para a identificação de novos focos, que notifica as autoridades competentes. A partir des-
se momento, são colocadas em prática ações de resposta rápida para erradicar, sempre
que possível, os focos de invasão. As ações são seguidas de monitoramento para verifica-
ção de resultados, podendo ser necessárias novas ações de controle até que a erradicação
seja atingida. Essa abordagem implica evitar que esses focos de invasão biológica se tor-
nem problemas de grande magnitude que passam a gerar custos contínuos, seja porque
causam prejuízos econômicos, uma vez que, ao crescerem, exigem controle continuado,
seja porque impactam a diversidade biológica e os serviços ecossistêmicos.

2.1 FASE DE PREPARO


A estruturação do processo de detecção precoce e resposta rápida requer um período de
preparo (Figura 1) que envolve ações concretas essenciais para que os programas possam
operar, como:
• estruturação e desenvolvimento de um sistema para o recebimento de notificações,
emissão de alertas e registro das ações executadas;
• identificação de áreas prioritárias em função da suscetibilidade à chegada de propágulos
ou da importância para a conservação da diversidade biológica e de serviços ecossistê-
micos;
• análise de vias e vetores de introdução e dispersão de espécies exóticas;
• formação continuada de pessoas envolvidas nos diversos âmbitos do programa;
• construção de redes para colaboração com as ações em curso;
• análise de lacunas legais e consequente elaboração de base legal necessária para a rea-
lização de ações práticas;
• elaboração de instrumentos de apoio, como listas de EEIs;

23
• estabelecimento de programas de vigilância ou monitoramento, seja pela inclusão de EEIs
como alvo de programas já existentes, pela criação de rotinas, ou seja pela participação
de cidadãos interessados em realizar detecções ocasionais. Essa abordagem potencializa
a capacidade de detecção de focos de invasão biológica e maximiza as oportunidades de
erradicação antes que possam causar danos significativos ou dispersar-se amplamente;
• definição de mecanismos de financiamento para as ações a serem realizadas.

Figura 1 – Diagrama da fase de preparo de programas de detecção precoce e resposta rápida

Sistema de informação para


envio de notificações e emissão
de alertas

Identificação de áreas
Melhoria da base legal
suscetíveis em ambientes
existente para viabilizar
marinhos, dulcícolas
ações de manejo
e terrestres

Elaboração de materiais de
Formação continuada de
referência: listas de espécies,
pessoas para detecção
protocolos de avaliação
precoce e resposta rápida
de risco

Fonte: Compilação do autor

2.2 ETAPAS DO PROCESSO DE DETECÇÃO PRECOCE E RESPOSTA RÁPIDA


Nesta subseção apresentamos uma explicação detalhada sobre cada uma das eta-
pas do processo, como subsídio à interpretação das distintas possibilidades e à to-
mada de decisão necessárias à aplicação do Protocolo de Alerta, Detecção Precoce
e Resposta Rápida (Figura 2). Cada etapa está explicada de forma independente das
demais, com vistas a facilitar a compreensão das pessoas responsáveis pela sua
aplicação prática. Enquanto a primeira etapa do processo envolve o estabelecimen-
to de ações de vigilância, monitoramento e estímulo à detecção ocasional, a aplica-
ção do Protocolo tem início com o recebimento de uma notificação de ocorrência
pelo órgão competente.
Na sequência, apresentamos o detalhamento para a interpretação do Protocolo a fim de
embasar a tomada de decisão e guiar as ações de resposta rápida. Essa descrição está or-
ganizada em etapas, da seguinte forma e em acordo com o referido Protocolo:

24
a) Vigilância e monitoramento: esta etapa é a chave para que a estratégia de detecção
precoce e resposta rápida funcione. Pode partir de programas de monitoramento e
vigilância já existentes ou estabelecidos para esse fim, levantamentos da fauna e da
flora relacionados a atividades de pesquisa ou de licenciamento ambiental, assim como
de detecção ocasional. Deve envolver setores diversos e especialistas em conservação
ambiental, taxonomia e gestão de áreas naturais, assim como cidadãos interessados em
contribuir com o PNADPRR através de detecções ocasionais. Uma rede é gradativamente
construída para abranger o território de interesse, iniciando por áreas definidas como
prioritárias e expandindo para melhorar o alcance e a efetividade das ações. Os riscos ao
desenvolvimento desta etapa se referem à falta de investimento na gestão do Programa
Nacional, pois a articulação, a comunicação constante e a busca de colaboradores são
essenciais para que o trabalho seja efetivo.
b) Notificação: esta etapa indica as informações essenciais para análise da ocorrência
informada. Para que as pessoas envolvidas no monitoramento possam notificar o
órgão competente, é preciso implementar um sistema de fácil acesso e utilização
que permita o envio e o recebimento de informações de forma imediata para
viabilizar a execução de ações de resposta rápida. Os riscos envolvidos nesta etapa
dizem respeito à falha no desenvolvimento desse sistema e à falta de conhecimento
de potenciais usuários que, após a detecção, não realizam a notificação. Para
assegurar que esse contato funcione, a comunicação contínua com as redes
estabelecidas é essencial.
c) Identificação e triagem: abrange o processo de identificação e a avaliação de risco
rápida. Esta etapa fundamenta toda a ação posterior, pois a identificação do táxon é
imprescindível para a tomada de decisão seguinte, ou seja, se o Protocolo deve ser
seguido ou encerrado, assim como para fundamentar as ações de resposta. Nem
sempre será necessário identificar um táxon a nível específico, por exemplo se o gênero
não ocorre no país e compreende EEIs, como Pinus, Ligustrum ou Urochloa. Nesta fase,
há risco de que o táxon não seja identificado, o que pode impedir a execução de ações
subsequentes.
d) Alerta: trata-se da emissão de aviso a instituições e pessoas interessadas que devem
ser envolvidas nas ações de resposta. A partir deste momento tem início o processo
de definição da resposta rápida à notificação do foco de invasão. Esta etapa inclui a
mobilização de instituições e pessoas das redes vinculadas que devem receber o alerta
para cooperar no processo de tomada de decisão e execução das ações. Há risco de que
as instituições e pessoas não tenham condições de contribuir, por motivos diversos.
Como cada nova tentativa de buscar apoio toma tempo e reduz a velocidade de
resposta, a comunicação contínua é fundamental para que as ações de fato possam ser
desencadeadas com rapidez.
e) Vistoria e erradicação imediata: esta etapa se refere à vistoria em campo para obtenção
de mais detalhes sobre o foco de invasão, incluindo orientação para a delimitação
da invasão e a execução de ações de erradicação imediata, sempre que factível, e
indicações para a avaliação de eficácia das ações de resposta. A vistoria é importante

25
para fundamentar o planejamento das ações de resposta e para evitar que qualquer
oportunidade de realizar uma ação imediata, em situações de baixa complexidade, não
seja perdida ou deixada para depois. Há risco de que o táxon não seja encontrado na
vistoria de campo, o que pode impedir a execução de ações subsequentes.
f) Avaliação de risco: explica as avaliações que fazem parte do Protocolo e quando realizar
avaliação de risco completa. As avaliações de risco visam corroborar a necessidade de
realizar intervenções de controle, partindo de uma versão simplificada que verifica a
existência de histórico de invasão para o táxon, usado como preditor da capacidade de
invasão, até uma avaliação completa que, demandando mais tempo e especialização, é
realizada na falta de alternativas. Também são considerados a opinião de especialistas
nesse processo e fatores complementares como histórico de invasão por outras espécies
do gênero. Os riscos inerentes envolvem demoras no processo até identificar pessoa
habilitada para conduzir avaliações de risco completas, assim como a possibilidade de
avaliações resultarem inválidas por falta de dados sobre o táxon em questão.
g) Planos de resposta rápida: esta etapa inclui a estrutura dos planos a serem elaborados
e a análise de viabilidade de execução das ações, assim como a possibilidade de utilizar
planos de contingência já existentes. Os planos devem ser objetivos, concisos e passíveis de
elaboração rapidamente após a identificação do táxon e a análise da situação, contemplando
materiais, ferramentas, pessoal, deslocamento e custos envolvidos. Aqui pode haver risco
de demora para a elaboração do plano por falta de experiência ou conhecimento, assim
como da estruturação de um plano inexequível. Nesse caso, será preciso revisar o plano e,
possivelmente, buscar parcerias para sua execução, gerando risco de demora no processo.
h) Execução de ações de resposta: provê orientação sobre métodos de controle utilizados
para os distintos grupos biológicos. Uma vez aprovado o plano e comprovada sua
viabilidade, a execução deve ocorrer no menor tempo possível. O maior risco envolvido
é a possibilidade de haver condições perigosas para as pessoas responsáveis pela
execução, em função da área de ocorrência ou de condições ambientais, o que deve ser
considerado cuidadosamente no desenho de cada plano a fim de evitar a necessidade
de retroceder para a etapa de planejamento.
i) Monitoramento e repasse: contempla a necessidade de monitoramento e verificação
de resultados após as ações de resposta, incluindo a avaliação de eficácia, nos moldes
da etapa de vistoria e erradicação imediata. Esta etapa é essencial para assegurar a
eficácia da estratégia de detecção precoce e resposta rápida, pois uma intervenção única
costuma não ser suficiente para se chegar à erradicação de uma espécie. Quando isso
se mostra possível, de modo geral o foco de invasão terá sido eliminado já na etapa da
vistoria de campo. Os riscos inerentes a esta etapa estão na dificuldade de estabelecer
processos de monitoramento em áreas isoladas ou onde não existem instituições ou
pessoas que possam colaborar no processo, seja por falta de recursos, de interesse ou
de capacidade técnica. O risco de não manter um processo de monitoramento está em
perder o investimento realizado no controle, pois, se o foco de invasão se mantiver ou
se recuperar, volta-se ao estágio inicial.

26
Estão indicadas no Apêndice 2 diversas fontes de informação e contatos de especialistas
para apoio ao longo do processo de detecção precoce e resposta rápida, incluindo listas
estaduais de espécies.

2.2.1 Vigilância e monitoramento

A primeira etapa do Protocolo contempla o estabelecimento de programas de vigilância e


de monitoramento, assim como a inclusão de EEIs como alvos em programas já existentes
e a detecção ocasional. Essas são as estratégias de base para o funcionamento dos progra-
mas de detecção precoce e resposta rápida, essenciais para maximizar as oportunidades
de identificar e eliminar focos iniciais de invasão. Ações de monitoramento costumam ser
realizadas para espécies ou áreas específicas, por alguma questão ambiental em atividades
de pesquisa, remediação, restauração ou ligadas a processos de licenciamento ambiental.
Podem também ter foco em vias/vetores de introdução e dispersão de espécies exóticas
com o objetivo de prevenir a expansão de processos de invasão biológica. A aplicação de
programas de monitoramento e de processos de vigilância visam identificar a origem das
fontes de propágulos para estancar o processo de invasão continuada através de medidas
complementares de gestão e manejo.
Atividades de monitoramento são caracterizadas por uma série de observações, regulares
ou não, ao longo do tempo, realizadas para mostrar o quanto se ajustam ou se desviam de
um padrão esperado (McGeoch; Squires, 2015). São frequentemente realizadas por pes-
quisadores, inclusive a partir de levantamentos de fauna e flora, instituições públicas e
não governamentais ligadas ao meio ambiente, podendo também ser realizadas pela so-
ciedade civil, como controladores de javali, amantes da natureza, turistas e outros atores
que contribuem no processo em função da natureza das atividades profissionais ou de
lazer que executam. A formação de parcerias amplia a capacidade de monitoramento e as
oportunidades de detecção de espécies exóticas na fase inicial de invasão, maximizando as
chances de serem erradicadas.
Procedimentos de vigilância, por sua vez, são processos oficiais de registro de dados com
base em levantamentos, monitoramento e outras ações. São dirigidos a situações mais
específicas, por exemplo em áreas de risco particularmente alto de introdução de espécies
e áreas onde a introdução, estabelecimento ou invasão são mais frequentes do que em ou-
tras, ou a espécies em particular que são reconhecidas como de alto risco. A vigilância ativa
pode ser cara, porém gera identificação e dados confiáveis. Já a vigilância passiva depende
de detecção ocasional e notificação por pessoas não diretamente envolvidas no processo
(McGeoch; Squires, 2015).
O estabelecimento de programas de monitoramento e vigilância requer a definição da área
de abrangência com base na suscetibilidade de ocorrência de uma espécie-alvo ou de EEIs
em geral. Se houver uma espécie-alvo, os ambientes a serem observados podem ser melhor
definidos, pois é preciso considerar a forma e o estágio de vida do táxon em questão; caso
negativo, é importante que os métodos escolhidos cubram a diversidade de microambien-
tes existentes ao máximo possível. A periodicidade de observação é definida com base na

27
biologia da espécie, caso haja uma espécie-alvo; não havendo, pode ser definida com base
nas estações do ano ou no tempo mínimo de reprodução de espécies que podem ocorrer.
Essa definição depende também de fatores externos, como recursos para deslocamento e
disponibilidade de pessoal, devendo ser ajustada a cada situação.
O apoio de pessoas externas no âmbito da ciência cidadã, de profissionais que exercem
atividades em locais de interesse, ou de voluntários convocados para ações coordenadas
é uma alternativa importante a ser considerada. Para tanto, pode ser necessário produzir
materiais de referência sobre espécies que podem ocorrer na região por tipo de ambiente.
A definição de métodos precisa ser realizada com base no contexto local, tanto em fun-
ção da espécie e do ambiente, como pelos mesmos fatores externos já citados. O obje-
tivo é sempre maximizar as oportunidades de detecção precoce e de erradicação dos
focos iniciais de invasão biológica. Também é preciso definir a forma de notificação das
ocorrências e o conteúdo mínimo a ser fornecido, assim como as pessoas responsáveis
pelo recebimento das notificações e providências consequentes. A formação de pessoas
envolvidas nas atividades, seja para o monitoramento apenas, seja preferencialmente
também para ações de controle e erradicação, é fundamental para que sejam alcançados
os resultados desejados.
A vigilância e o monitoramento ativos referem-se a atividades especificamente voltadas
à detecção de EEIs, enquanto o monitoramento passivo implica a inclusão de observa-
ções sobre EEIs em atividades com outros objetivos. Adicionalmente, pode haver detecção
ocasional, ou seja, independentemente de qualquer programa existente ou formalidade,
pessoas interessadas podem observar a presença de espécies exóticas durante atividades
diversas, inclusive de lazer.
Na sequência, estão indicadas técnicas tanto para a vigilância quanto para monitoramento
com fins de detecção precoce de EEIs, conforme os grupos biológicos tratados neste manual.

2.2.1.1 Tipos de vigilância e monitoramento


Vigilância e monitoramento passivos
A vigilância e o monitoramento passivos se caracterizam pela observação e posterior no-
tificação de espécies exóticas com potencial invasor feitas em programas ou atividades
que têm outro foco principal. Por exemplo, pessoas que realizam o acompanhamento de
projetos de restauração ambiental podem reportar a ocorrência de espécies exóticas se
tiverem informação acerca de quais espécies podem ocorrer na região. Da mesma forma,
levantamentos realizados no âmbito de projetos de Pesquisa Ecológica de Longa Duração
(PELD) e do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) podem informar a ocorrência
de espécies exóticas, quando encontradas.
Para tanto, devem ser buscadas alianças com instituições de ensino, pesquisa e extensão
rural, e programas já existentes em áreas naturais. No processo de estabelecimento de
parcerias com programas de monitoramento que têm outros objetivos, é importante que
as pessoas envolvidas recebam formação em EEIs com probabilidade de ocorrência na

28
região em questão, em técnicas e equipamentos a serem utilizados, assim como em um
processo predefinido para informação de ocorrências detectadas. A produção de mate-
riais informativos e de listas regionais de espécies, assim como o uso de listas estaduais
oficiais, são importantes para subsidiar essas atividades.
A vigilância e o monitoramento passivos contemplam também a detecção ocasional,
seja por parte de profissionais da área ambiental e afins, seja por cidadãos interessa-
dos na conservação ambiental e informados sobre como realizar uma notificação de
ocorrência. Este modo é importante para não limitar a detecção a programas formais
e permitir que a observação ocasional de EEIs também seja considerada, ampliando a
capacidade do programa.
Vigilância e monitoramento ativos
Programas de vigilância e monitoramento ativos devem ser desenvolvidos para áreas de-
finidas como relevantes no âmbito de programas de detecção precoce e resposta rápida.
Eles são chave para a proteção da diversidade biológica no país em UCs, por exemplo.
Em pontos de entrada no país, portos e aeroportos, a intercepção de bagagens e cargas é
essencial para reduzir a pressão de introdução de espécies no país por vias ilegais e não
intencionais. Nesses pontos onde a prevenção é chave, a vigilância precisa incluir a preo-
cupação com a entrada de espécies que possam impactar a diversidade biológica. Áreas
adjacentes a pontos de entrada também devem ser consideradas para detecção precoce
quando houver possibilidade de escape ou soltura.
A avaliação de vias/vetores de introdução e dispersão de EEIs no contexto em questão é
importante para fundamentar as estratégias de prevenção, detecção precoce, erradicação
e controle necessárias, especialmente a fim de evitar esforços repetidos sobre focos de
invasão recorrentes que continuamente se estabelecem a partir de fontes de propágulos
localizadas fora da área sob manejo. O conhecimento das principais vias/vetores em áreas
de fronteira, por exemplo, é chave para otimizar a vigilância e a inspeção de bagagens e
cargas, seja em função das áreas de origem, cujas condições climáticas e ambientais favo-
recem o estabelecimento de espécies no país, seja em função de espécies que são frequen-
temente trazidas por passageiros ou que chegam como contaminantes em cargas e merca-
dorias (Faulkner et al., 2016; Essl et al., 2015). Em áreas naturais como UCs, a compreensão
das vias/vetores de chegada de propágulos ou de indivíduos permite traçar estratégias de
controle que incluam a área de origem, através tanto do uso de legislação vigente quanto
de cooperação direta para estancar o processo de dispersão. De forma complementar,
esse reconhecimento facilita a identificação de áreas de maior suscetibilidade à invasão ou
ao estabelecimento inicial de novos focos, como trilhas, caminhos e estradas que cortam
essas áreas, pontos de visitação ou de atividades de lazer onde as pessoas deixam resídu-
os orgânicos ou entram com materiais contaminados, como sementes aderidas ao solado
dos calçados de caminhada.
Em outras instâncias, como a vigilância de fronteiras, a seleção de mercadorias, bagagens
e pessoas fundamentada numa análise de vias/vetores de introdução relevantes permite
otimizar os esforços de inspeção com base nas áreas de origem dos viajantes e produtos.

29
Essa abordagem deve incluir o comércio via internet em função da facilidade de envio de
sementes de plantas e outros propágulos que entram no país sem autorização do IBAMA.

2.2.1.2 Métodos de vigilância e monitoramento


Nesta subseção indicamos métodos e técnicas de monitoramento utilizados para os gru-
pos biológicos contemplados no manual.
Esses métodos foram compilados a partir de referências bibliográficas, experiência profis-
sional e documentos recomendados pela CDB, sendo dirigidos a espécies nativas e exó-
ticas de diversos grupos biológicos para fins de pesquisa científica, restauração de áreas
degradadas e processos de licenciamento ambiental. Trata-se, portanto, de uma aborda-
gem ampla sobre métodos em uso, sem indicação específica, pois a escolha do método
mais adequado a cada situação depende de cada caso e de análise técnica específica. É im-
portante também atentar para novas alternativas que possam surgir em função de novas
tecnologias disponíveis e outras inovações.
Os métodos devem ser definidos especificamente para suprir os objetivos do programa de
monitoramento ou vigilância, como, por exemplo, realizar inventários em campo visando a
detecção precoce de EEIs. Os métodos devem ser claros e passíveis de repetição, portanto
documentados em detalhes, guardados e acessíveis a quem quiser aplicá-los no mesmo
ou em outros locais. A escolha de métodos deve também otimizar o custo-benefício e a
eficácia de levantamentos de EEIs através da seleção de arranjos espaciais adequados,
intensidade amostral e a marcação de parcelas permanentes ao invés de aleatórias para
áreas prioritárias (McGeoch; Squires, 2015).
Ressalta-se a relevância de estabelecer parcerias, acordos e cooperação com profissionais,
especialistas e voluntários que possam ajudar a realizar ações de vigilância e monitora-
mento após a devida orientação, sempre que possível com apoio para deslocamento, equi-
pamentos e materiais necessários para assegurar a qualidade dos dados coletados. Ainda
que, para atividades de campo, a cooperação seja limitada em termos das instituições e
profissionais que atuam em áreas próximas, o estabelecimento de redes mais amplas para
apoio à identificação de espécies, por exemplo, é factível e desejável em nível nacional ou
regional, desde que a gestão seja centralizada para a distribuição das demandas.
A verificação de informações em plataformas de observação e registro de espécies, como
iNaturalist, WikiAves e outras, pode ser interessante, embora o volume de material a ser
analisado e a incerteza na identificação por fotografias que muitas vezes não são claras
possam dificultar a utilização. O envolvimento de instituições diversas e o treinamento ou
formação técnica das pessoas envolvidas são chave para ampliar a abrangência desses
esforços e aumentar as oportunidades de detecção precoce.
Plantas
O monitoramento ativo é realizado através do estabelecimento de rotinas de vistoria
ou, sempre que possível, de amostragem, em áreas prioritárias. Podem ser levanta-
mentos por observação, genéricos ou dirigidos a espécies em particular (Wittenberg;

30
Cock, 2001). A periodicidade de verificação se fundamenta no tempo necessário para
que as plantas atinjam a idade reprodutiva, devendo ser menor para o caso de gramí-
neas e outras plantas herbáceas e maior para plantas arbóreas (Ziller et al., 2020). Ide-
almente, a detecção deve ser realizada antes que haja estabelecimento de um banco
de sementes no solo. A fim de maximizar as possibilidades de detecção precoce, devem
ser disponibilizados listagens e outros materiais de referência sobre plantas exóticas
invasoras ocorrentes na região, assim como realizados eventos de treinamento para
reconhecimento de plantas exóticas invasoras já conhecidas na região (McGeoch; Squi-
res, 2015). Independentemente das técnicas de monitoramento empregadas, o estabe-
lecimento de cooperação com instituições de pesquisa científica, profissionais, espe-
cialistas e voluntários, no âmbito da ciência cidadã, é importante para potencializar a
detecção de novas espécies e de novas ocorrências de espécies já introduzidas.
As ações de monitoramento ou vigilância podem ser realizadas por observação direta, por
exemplo ao longo do percurso realizado rotineiramente por guarda-parques em UCs, ou com
base em amostragem periódica, no caso de haver oportunidade de parceria com instituições
de pesquisa, organizações da sociedade civil ou outros interessados. Esse procedimento pode
ser necessário para determinados tipos de ambiente onde a ocorrência de EEIs seria pouco evi-
dente nos estágios iniciais, como plantas herbáceas ou gramíneas em formações campestres.
A dificuldade desses processos é que eles requerem conhecimento especializado e treinamen-
to de pessoal para o reconhecimento de espécies (Wittenberg; Cock, 2001).
Monitoramento e vigilância em áreas naturais, incluindo UCs
Quanto mais frágeis as áreas, mais difícil a restauração do ambiente ou, havendo ocorrência
de espécies ameaçadas de extinção, raras ou endêmicas, maior a relevância para detecção
precoce a fim de evitar o estabelecimento de EEIs. Por exemplo, formações campestres e de
restinga são compostas por espécies herbáceas e arbustivas que não costumam ser produ-
zidas em viveiros, ao mesmo tempo que são altamente suscetíveis à invasão por gramíneas
exóticas ou árvores que invadem ecossistemas abertos (ex.: pínus Pinus spp., acácia Acacia
mangium, leucena Leucaena leucocephala). Além disso, muitas dessas áreas são pouco acessí-
veis por veículos, requerendo horas de caminhada, por vezes em altas altitudes.
As trilhas de travessia de montanha em campos de altitude, por exemplo, atualmente ofe-
recidas em algumas UCs, requerem monitoramento constante para evitar o estabeleci-
mento de focos de invasão biológica. A limpeza de calçados, mochilas e equipamentos de
visitantes e guias, antes do acesso às trilhas, é essencial para prevenir o aporte de semen-
tes e outros propágulos a partir de áreas com EEIs. A limpeza de materiais e equipamentos
deve ser feita de forma constante, inclusive após o uso de trilhas ou acesso a áreas remo-
tas, para evitar a dispersão de propágulos. Ainda assim, o monitoramento periódico é fun-
damental para maximizar as oportunidades de erradicação de focos de invasão biológica e
assegurar a proteção desses ambientes.
Uma verificação deve ser realizada pelo menos a cada 2-3 meses em trilhas de caminhada
e pontos de visitação e acesso público, assim como em áreas onde seja realizado qualquer
tipo de trabalho interno ou externo. A periodicidade precisa ser adaptada às condições

31
climáticas locais, por exemplo, em função de haver estação seca ou inverno pronunciado
em que as plantas secam ou entram em dormência, ou a condições de alta fragilidade
ambiental ou ocorrência de espécies ameaçadas de extinção. A vistoria a pé é importante
para a identificação e eliminação imediata de focos de gramíneas exóticas, por exemplo,
que comumente se instalam ao longo de vias de passagem. Guias de visitantes podem
ser treinados para realizar essas vistorias e assegurar que não sejam deixados propágu-
los levados por visitantes, ou que focos iniciais de invasão sejam erradicados na primeira
oportunidade. Em estradas e caminhos onde transitam veículos, o monitoramento pode
ser realizado com uso de veículo, em baixa velocidade, vistoriando um lado de uma estrada
no percurso de ida e o outro lado no percurso de retorno. A marcação com GPS de pontos
de ocorrência dessas espécies facilita a produção de mapas para a identificação de vias de
dispersão e o planejamento posterior para fins de erradicação ou controle.
No caso de gramíneas e plantas herbáceas de pequeno porte, o monitoramento em curtos
espaços de tempo, mensalmente ou até menos a depender da espécie, ao menos nas esta-
ções favoráveis ao crescimento, é importante no intuito de prevenir a produção de semen-
tes e o estabelecimento de banco de sementes no solo. Gramíneas como braquiárias po-
dem atingir a idade reprodutiva em menos de 30 dias sob condições climáticas favoráveis.
A rotina de observação em ambientes florestais, quando focada apenas em plantas arbóreas ou
arbustivas de maior porte, pode ser semestral ou mesmo anual, pois o tempo necessário para
que essas espécies atinjam a maturidade tende a ser superior a um ou dois anos, pelo menos.
De toda forma, a periodicidade de monitoramento deve ser ajustada a cada condição e grupo de
espécies-alvo, quando definido.
Também se recomenda percorrer, ao menos uma ou duas vezes ao ano, ou com maior fre-
quência quando houver fluxo de pessoas e veículos, áreas com presença de espécies raras,
endêmicas ou ameaçadas de extinção, a fim de assegurar que haja proteção delas contra inva-
são biológica. Nessas áreas, o cuidado com a limpeza prévia de calçados, roupas, materiais e
equipamentos é ainda mais importante.
O uso de drones pode ser de grande utilidade em ecossistemas abertos para detectar a
distribuição de EEIs que se destacam da vegetação natural, como no caso de invasão por
árvores de Pinus spp. ou Acacia mangium em áreas de campo, cerrado ou restinga. Esses
equipamentos podem servir como apoio à delimitação de focos de invasão em ecossiste-
mas abertos (Lehmann et al., 2017).
A elaboração de listas de espécies de potencial ocorrência local ou regional é um apoio
importante para definir, nos determinados contextos, os tempos ideais de monitoramen-
to com base nas características reprodutivas das espécies de ciclo mais curto em cada
ambiente, levando em conta as condições climáticas e outras particularidades locais. De
forma complementar, a análise das vias/vetores de introdução e dispersão facilita a identi-
ficação de áreas mais suscetíveis à chegada de propágulos e contribui para a definição de
áreas de relevância para monitoramento.
O monitoramento deve ser realizado com equipamentos e materiais à mão que viabilizem
a aplicação imediata de ações de controle voltadas à erradicação, especialmente em áreas

32
remotas ou de difícil acesso. Após a execução de ações de controle, cabe também o moni-
toramento, nesses casos, voltado à verificação da eficácia das ações de controle e reaplica-
ção quando necessário (repasse), até que sejam alcançados os resultados desejados.
Animais
Ações de vigilância e monitoramento focadas em animais se fundamentam igualmente na
avaliação de áreas de maior suscetibilidade à chegada de propágulos, por exemplo, a partir
de atividades de criação ou presença de espécies animais invasoras nas proximidades ou
na região, assim como de animais domésticos, como cães e gatos, em áreas periurbanas
ou rurais. De forma complementar, deve-se considerar a proteção de espécies raras, endê-
micas e ameaçadas de extinção que possam ser impactadas em caso de invasão biológica.
Algumas técnicas que podem ser de auxílio na detecção são indicadas a seguir. Indepen-
dentemente das técnicas empregadas, reiteramos que o estabelecimento de cooperação
com instituições de pesquisa científica e amantes da natureza que realizam atividades ao
ar livre é importante para potencializar a detecção de novas espécies e de novas ocorrên-
cias. Somam-se a isso a disponibilização de listagens e outros materiais de referência sobre
animais exóticos que ocorrem na região e a realização de eventos de treinamento para
reconhecimento, notificação e manejo de espécies ocorrentes em nível regional.
O envolvimento de instituições que mantêm animais exóticos como zoológicos, criadores
e Centros de Triagem de Animais Silvestres pode ajudar a melhorar o nível de segurança
para evitar escapes ou solturas indevidas, assim como gerar informação para detecção
precoce quando da apreensão ou recolhimento de animais soltos ou abandonados.
Invertebrados
O monitoramento para a detecção de invertebrados exóticos, em especial de novas espé-
cies ou de espécies de pequeno porte, requer conhecimentos mais especializados do que
para animais maiores, cujo reconhecimento é mais fácil. As atividades devem ser focadas
em espécies particulares, desenhadas para haver repetição em distintas estações do ano,
devem considerar hábitats específicos e costumam requerer alta frequência para serem
eficazes (Wittenberg; Cock, 2001).
O estabelecimento de cooperação com instituições de pesquisa é altamente relevante neste
caso, em especial porque pode haver necessidade de realização de amostragens para que a
detecção seja factível. Algumas espécies, como o caracol-gigante-africano (Achatina fulica) ou a
abelha-africanizada (Apis mellifera), são amplamente conhecidas e de mais fácil reconhecimen-
to, permitindo que pessoas locais sejam treinadas para fazer a detecção. No caso de organis-
mos menores e pouco conhecidos, é difícil a detecção por pessoas sem treinamento científico.
O método de diagnóstico depende de cada grupo, envolvendo coleta de solo, uso de redes
de coleta para lepidópteros e insetos ou uso de armadilhas luminosas. Para qualquer dos
grupos, podem ser definidos transectos para observação ou amostragem periódica. A ma-
nutenção de esforços de amostragem pode ser bastante complexa e tende a ser melhor
justificada no caso de haver espécies-alvo definidas, ou seja, haver iminência de invasão
biológica por espécies reconhecidas como ameaça numa área ou região.

33
Anfíbios e répteis
O número de EEIs de anfíbios e répteis no país é muito pequeno. A rã-touro (Aquarana
catesbeiana) está amplamente distribuída, especialmente na Floresta Atlântica, porém
pode ser levada para outros ecossistemas e ampliar sua área de invasão. A maioria dos
anfíbios demanda rotinas de observação noturna e conhecimento especializado para lo-
calização de indivíduos e reconhecimento pela vocalização. O mesmo se aplica a répteis,
cujas introduções através do comércio de animais de companhia têm aumentado, ainda
que observações diurnas sejam mais factíveis com base nas áreas de descanso e re-
produção. Para tanto, é preciso definir áreas específicas e visitá-las rotineiramente, por
exemplo ao longo de transectos predefinidos, registrando as observações com base na
vocalização ou na observação direta. Há referências sobre o uso de armadilhas não letais
que utilizam camundongos como isca viva para captura de ofídios (Wittenberg; Cock,
2001). Buscar parcerias com instituições de ensino e pesquisa que possam contribuir
com levantamentos de espécies e verificações periódicas é uma ótima alternativa para
somar esforços.
Aves
Ainda que possa ser realizado monitoramento com uso de binóculos, por exemplo ao lon-
go de transectos definidos nas áreas de interesse, a melhor solução é o estabelecimento
de parcerias com observadores de aves e pesquisadores, pois o reconhecimento de es-
pécies requer conhecimento especializado. O uso de armadilhas fotográficas e de grava-
dores autônomos (AudioMoths) também é interessante. A verificação de informações em
websites como WikiAves pode prover informações valiosas, especialmente se for possível
comunicar-se com observadores de aves e solicitar que, em caso de avistamento de aves
exóticas, a informação seja veiculada ao órgão interessado. O primeiro registro de ocorrên-
cia do estorninho-europeu (Sturnus vulgaris) no Brasil, por exemplo, foi feito no WikiAves.
O mapeamento de árvores frutíferas atrativas para aves em determinada estação do ano
também pode facilitar esse tipo de monitoramento. Ainda assim, o número de espécies de
aves exóticas invasoras no país é muito pequeno, e estabelecer monitoramento sem ter
evidências ou alvos definidos pode, nesse caso, não gerar resultados interessantes.
Mamíferos
De forma simples, a instalação de caixas de pegadas em trilhas, pontos de disponibilidade
de água ou de alimento, como árvores frutíferas, ou mesmo cevas instaladas com esse ob-
jetivo, pode facilitar a detecção de EEIs, em especial de animais de maior porte (Wittenberg;
Cock, 2001). Instalar armadilhas fotográficas nesses pontos é também uma alternativa im-
portante. No uso de armadilhas de captura, devem ser usadas aquelas não letais a fim de
evitar impacto a espécies não alvo, a não ser que se justifique a necessidade em situações
específicas com base em evidências e análise técnica anterior. Animais de pequeno porte
tendem a requerer maior intensidade de observações ou amostragem, que são facilitados
quando há espécies-alvo definidas e a busca é realizada em hábitats particulares e em dis-
tintas estações do ano (Wittenberg; Cock, 2001).

34
Figura 2 – Protocolo de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida para Espécies Exóticas Invasoras
(a numeração não é sequencial porque as alternativas do Protocolo não são lineares; as caixas com o
mesmo número indicam etapas equivalentes que podem ocorrer em diferentes momentos)

1
Notificação

2 3
Análise das informações Necessidade de identificação

7 4
Táxon identificado Processo de identificação

8 5
O táxon é não Táxon não identificado
exótico?

sim

O táxon tem 9 6
não -> Risco baixo
registro de
invasão?

sim encerramento
10
Alerta

A invasão
é extensa?
18 11 12 sim
Táxon não encontrado Vistoria

não

não 13 sim 14
Ações de erradicação /
contenção

Existe a possibilidade de erradicação/


contenção imediata? não

sim 19 sim As ações 15


foram
Há análise de risco eficazes?
para o táxon?
não sim

20 16
Risco desconhecido Monitoramento e repasse

21
Consulta a especialistas 17
Erradicação

sim 22
As ações de controle
são urgentes?

não
26 23 24 25 6
Risco alto Risco moderado Monitoramento
Análise de risco completa
ou análise inválida recomendado

encerramento

Há plano de
contingência As ações de resposta
para o táxon? 27 sim são viáveis? 29 sim 30 17
Realizar ações de resposta Erradicação

não

não
28
Planejar ações de resposta

não 15 sim 16
Monitoramento e rapasse

As ações de resposta
foram eficazes?

Fonte: Compilação do autor

35
Todas as alternativas requerem revisão contínua e organização dos dados de observação,
servindo ao mesmo tempo para registro de fauna nativa. Novamente, a disponibilidade
de listas de referência de espécies exóticas que podem ocorrer numa região é importante
para facilitar a detecção precoce, assim como o preparo técnico das pessoas que serão
responsáveis pela tarefa e o uso de guias de pegadas e de identificação de fauna. Também
é importante estabelecer parcerias com especialistas em diversos grupos para confirmar a
identificação de espécies observadas e buscar referências sobre a ocorrência de espécies
e os ambientes que preferencialmente ocupam.

2.3 INTERPRETAÇÃO DO PROTOCOLO


Nesta subseção apresentamos o detalhamento das etapas previstas na estratégia de de-
tecção precoce e resposta rápida. As fases anteriores à emissão de notificações às autori-
dades competentes, que envolvem o planejamento e a estruturação de programas de de-
tecção precoce e resposta rápida, assim como o estabelecimento de programas e parcerias
para monitoramento e vigilância, não estão representadas no fluxograma que descreve a
sequência de etapas de detecção precoce e resposta rápida (Figura 2). O processo executi-
vo tem início, portanto, com o recebimento de notificações sobre a ocorrência de espécies,
que desencadeiam as ações de análise e resposta.
A Figura 2, referente ao Protocolo de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida, guia
o processo de tomada de decisão e execução de ações de resposta rápida. As etapas do
Protocolo, identificadas na figura por uma numeração, são explicadas abaixo em detalhes.
Elas estão indicadas pela letra P, referente a “protocolo”, junto com o número do quadro
correspondente (P1, P2 etc.). É importante ressaltar que a numeração das etapas marcada
nos quadros do Protocolo não é sequencial, pois ao longo do processo há diferentes ca-
minhos a serem seguidos, conforme a situação e as decisões tomadas. A numeração tem
por objetivo apenas referenciar as explicações providas na descrição a seguir. Quando as
etapas do Protocolo são equivalentes (por exemplo, etapa 6 = encerramento), elas rece-
bem a mesma numeração e são explicadas uma única vez na sequência do texto apesar de
estarem presentes mais de uma vez no Protocolo, compreendendo, portanto, as diversas
possibilidades conforme o caminho seguido no processo de tomada de decisão. A fim de
facilitar a compreensão do processo, a seguir são explicadas as etapas do Protocolo que
caracterizam as alternativas possíveis.

2.3.1 Notificação

A notificação configura a primeira etapa do Protocolo de Alerta, Detecção Precoce e Res-


posta Rápida (Figura 2). Uma possibilidade é utilizar o SIMAF, gerenciado pelo IBAMA
(https://simaf.ibama.gov.br/), para envio de registros ao órgão ambiental federal. Tra-
ta-se de um sistema digital que foi ampliado no ano de 2021 para receber registros de
ocorrência de EEIs, iniciando com o javali (Sus scrofa), o cervo-axis (Axis axis), o coral-sol
(Tubastraea spp.) e o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), assim como outras ocor-
rentes no país.

36
P1 – Notificação. Indica a comunicação da detecção de um táxon e/ou foco de invasão
biológica ao órgão competente ou ponto focal designado pelos meios digitais e outros
meios disponíveis, incluindo notificação presencial. Quanto mais completo e detalha-
do o preenchimento do formulário de envio de informações pela pessoa que fez a
observação em campo, mais fácil será a tomada de decisão pelas pessoas ou equipes
responsáveis pela execução da resposta rápida. A indicação da localização exata do
foco de invasão, preferencialmente através de fotografias e/ou coordenadas geográ-
ficas, é fundamental para que o foco de invasão possa ser encontrado nas etapas
posteriores para a execução de ações de controle. Igualmente, a indicação da espécie
ou outro nível taxonômico, assim como o nome popular, quando conhecido, facilitam
a identificação e agilizam o processo de tomada de decisão e a execução de ações de
resposta. Os campos de informação considerados essenciais estão indicados na Ta-
bela 1, mas quando houver outros dados é importante que sejam enviados também.
Segue-se para P2.

2.3.2 Identificação e triagem

Esta etapa se refere aos quadros 2 a 9 do Protocolo (Figura 2). A notificação enviada ao ór-
gão competente ou ponto focal designado é analisada, inicialmente para identificar o táxon
detectado. A identificação é fundamental para a tomada de decisão nas etapas subsequen-
tes. Ainda que a identificação a nível específico nem sempre seja necessária, especialmente
no caso de gêneros ou famílias que não ocorrem naturalmente no país, ela deve ao menos
assegurar que não haja confusão com espécies nativas. É importante que contenha as in-
formações necessárias para que se dê prosseguimento à identificação da espécie exótica
detectada, caso não tenha sido identificada no momento da observação em campo, como
fotografias, assim como a localização e a descrição do local para embasar a vistoria de
campo (P11). Caso a notificação já contenha a identificação, o processo é mais ágil; caso ne-
gativo, é preciso realizar uma etapa de identificação. A identificação correta do organismo
detectado é imprescindível, visto que algumas espécies exóticas podem ser parecidas com
espécies nativas e podem ser confundidas na hora da resposta rápida.
P2 – Análise das informações recebidas na notificação. O principal objetivo nesta etapa
é verificar se a notificação inclui a identificação do táxon, dados suficientes sobre o
local da ocorrência, a localização do foco de invasão e dados sobre o observador. O
resultado da análise leva a dois caminhos no Protocolo, que vai depender se o táxon
está ou não identificado. Se o táxon não foi identificado, segue-se para P3; se foi iden-
tificado, segue-se para P7.
P3 – Necessidade de identificação. Ocorre quando resultado da análise das informações
recebidas na notificação não inclui a identificação do táxon, ou a identificação não
parece correta, ou há incerteza. Pode não haver imagens, ou as imagens e informa-
ções recebidas não permitem que o táxon seja identificado diretamente, ou uma ve-
rificação em campo é necessária para a complementação das informações recebidas.
Depois, seguir para P4.

37
2.3.2.1 Processo de identificação
Caso a espécie possivelmente exótica não tenha sido identificada no momento da detec-
ção pelo observador, nesta etapa procura-se realizar a identificação, solicitando o auxílio
de taxonomistas que sejam especialistas no grupo de organismos em questão.
Tabela 1 – Campos recomendados para o registro de notificações de ocorrência de espécies exóticas

DADOS PARA ENVIO DE NOTIFICAÇÃO À AUTORIDADE NACIONAL

Nome do campo Tipo de campo / orientação de preenchimento

Nome do observador Obrigatório

Profissão Obrigatório

Telefone Obrigatório; incluir DDD

Correio eletrônico Opcional

Data da observação Obrigatório

Hora da observação Obrigatório

Obrigatório: Floresta, Estepe, Savana, Savana-Estépica, Campinarana,


Formações Pioneiras, Refúgios Vegetacionais ou floresta, campo,
Ambiente
cerrado, caatinga, área úmida, manguezal, restinga, campo de altitude,
outro (definir)

Opcional: Plantas: arbusto, árvore, cacto, erva, gramínea/capim, palmeira,


samambaia, suculenta, trepadeira; Animais: anfíbio/sapo/rã/perereca,
réptil/lagartixa/lagarto/tartaruga/
Organismo observado
cágado, ave, mamífero/roedor/lebre/felino/canídeo/primata/
ungulado, invertebrado, aranha, centopeia, escorpião, crustáceo, inseto,
isópoda, minhoca, molusco, nematóide (criar vocabulário controlado).

Nome popular (lista de nomes


Opcional; Nomes populares + opção “Outro” a preencher
populares)
Espécie observada (lista de nomes
Opcional; Nomes científicos + opção “Outra” a preencher
científicos)
Número de indivíduos observados Opcional; Indicação aproximada
Área de cobertura (plantas) em
Opcional; Indicação aproximada
m² ou hectares
Referência do local para facilitar Obrigatório; incluir exemplos, como “Fazenda das Almas”, “BR-363 na
a verificação ponte do Rio Jaú”, “sede do Parque Nacional do Itatiaia” etc.
Descrição do local e da invasão
e indicação de evidências de Opcional, mas desejável
impacto se houver
Coordenadas geográficas (indicar
Opcional; explicar que, se a pessoa mandar foto tirada com o
o sistema utilizado: UTM, graus,
telefone celular com o GPS ligado, as coordenadas serão enviadas
minutos e segundos, graus
automaticamente
decimais)
Houve coleta ou eliminação de
Obrigatório; resposta sim/não
exemplares?
Se houve coleta, quantos
Opcional; Número de exemplares coletados
exemplares?
Se houve coleta, onde estão os
Opcional
exemplares?
Os indivíduos da espécie
Opcional
encontrados foram eliminados?

38
DADOS PARA ENVIO DE NOTIFICAÇÃO À AUTORIDADE NACIONAL

A espécie tem histórico de invasão Opcional, mas desejável, em especial se a fonte tem formação técnica e
em algum lugar do mundo? pode fazer essa indicação

Comentários adicionais Opcional

Opcional, mas desejável: anexar imagens, instruir para que a pessoa


tire fotografia(s) usando o telefone celular com o GPS ligado para que as
Imagens
coordenadas sejam automaticamente enviadas. Se possível, utilizar para a
foto uma barra de escala, uma caneta ou outra referência de tamanho.

Fonte: Compilação do autor

P4 – Identificação do táxon. Nesta etapa, deverão ser esgotadas as possibilidades dis-


poníveis para identificar o táxon, que incluem o contato com a pessoa que emitiu a
notificação, consultas a colaboradores locais ou residentes, consultas a especialistas
cadastrados no PNADPRR ou que trabalham no local da ocorrência, ou através do en-
vio de imagens recebidas na notificação, consulta a fontes bibliográficas e trabalhos
técnicos realizados na área de ocorrência e, caso estes sejam insuficientes, solicitação
às redes vinculadas ao Programa que realizem uma verificação em campo sob orien-
tação do órgão competente ou da instituição encarregada de coordenar o processo
de resposta rápida.
A coleta de material biológico e/ou de registros fotográficos é importante para viabi-
lizar a identificação. A pessoa responsável pela verificação em campo pode ser orien-
tada pelo órgão responsável a enviar o material biológico coletado diretamente a ta-
xonomistas vinculados ao programa no Brasil ou em outros países a fim de agilizar
a identificação do táxon ao nível necessário e dar sequência ao Protocolo. Se, após
esgotadas as possibilidades, o táxon não tiver sido identificado, seguir para P5. Se foi
identificado, seguir para P7.
P5 – Táxon não identificado. Esgotadas todas as possibilidades, conclui-se que a identifica-
ção do táxon não é viável. Nesses casos, será importante tentar estabelecer parcerias
locais a fim de manter algum nível de vigilância ou monitoramento, ativo ou passivo, no
local da ocorrência, na expectativa de que o táxon possa ser novamente observado. Se
isso ocorrer, dá-se início novamente ao Protocolo com uma nova notificação de ocor-
rência. Sendo assim, segue-se para P6.
P6 – Encerramento. As ações anteriores levam ao encerramento do Protocolo. Isso pode
ocorrer nas seguintes situações: (a) não foi possível identificar o táxon; (b) o táxon não
é exótico à área de ocorrência; (c) o táxon não tem histórico de invasão; (d) a invasão
reportada é extensa, ou seja, passou do estágio inicial e já não se encaixa no âmbito
da detecção precoce e resposta rápida; (e) a análise de risco do táxon indica risco mo-
derado ou a análise é inválida; (f) o foco de invasão é erradicado. Para algumas dessas
situações, é desejável o monitoramento em busca de nova observação de ocorrência
(a) ou para verificação de mudança de status da presença de espécies exóticas (c, e).

39
P7 – Táxon identificado. A identificação do táxon faz parte das informações recebidas
na notificação, ou ocorre após um processo de verificação e complementação de in-
formações que identifica o táxon com sucesso. Se a identificação é feita por partici-
pantes da Rede de Colaboradores, deve-se também indicar o grupo de organismos a
que o táxon pertence, para facilitar a tomada de decisão na sequência do Protocolo
e, especialmente, para facilitar a busca de alternativas de controle e monitoramento.
Segue-se para P8.
P8 – O táxon é exótico? Realiza-se a verificação da área de distribuição natural do táxon
em comparação com a área de ocorrência. Se o táxon não é exótico ao local de ocor-
rência, o Protocolo é encerrado (segue para P6). Se o táxon é exótico ao local de ocor-
rência, segue-se para P9.

2.3.2.2 Avaliação de risco rápida


A avaliação de risco é basicamente um questionário que visa verificar o potencial de inva-
são por uma espécie exótica. Trata-se de uma ferramenta importante para separar espé-
cies exóticas cujo risco de invasão é baixo, de espécies que, sendo de alto risco, demandam
intervenções imediatas. As avaliações podem também subsidiar a tomada de decisão em
áreas complementares, por exemplo, ao corroborar a definição de prioridades para gestão
e manejo. Nesses casos, o uso de avaliações já existentes é importante, dado que a reali-
zação de avaliações de risco completas é trabalhosa, requer apoio de pessoas com maior
nível de especialização, implica revisões bibliográficas extensas e torna-se onerosa quando
é necessário contemplar diversas espécies. Além disso, pode ocorrer que não haja infor-
mação suficiente sobre espécies pouco estudadas para concluir a avaliação, que resulta in-
válida, ou que o resultado seja de risco moderado, o que cria certo grau de incerteza sobre
as ações a serem desencadeadas, já que a espécie pode tender a um nível de risco mais
alto ou mais baixo em função, especialmente, de condições ambientais locais.
A fim de evitar demora na tomada de decisão, no Protocolo essa ferramenta foi incluída em
duas etapas distintas. Nesta etapa de identificação e triagem, realiza-se uma verificação rápida
com base no principal preditor de invasão biológica, o histórico de invasão pela espécie em ou-
tros locais (P9). Essa avaliação precisa levar em conta a distribuição global da espécie: espécies
com ampla distribuição geográfica com nenhum ou escassos registros de invasão tendem a
se comportar como invasoras apenas sob condições ambientais particulares; por outro lado,
espécies com consistente histórico de invasão nos locais onde foram introduzidas tendem a
apresentar risco alto. Os protocolos de avaliação de risco completos consideram indicadores
de risco com base na ecologia e na biologia das espécies, no histórico de invasão para a área
geográfica ou condições climáticas do local de introdução, no potencial de impacto ambiental,
econômico e social, na facilidade de estabelecimento e dispersão e na viabilidade de manejo.

40
A etapa P23 apresenta todos os detalhes do processo de avaliação de risco.
P9 – O táxon tem registro de invasão? Esta etapa é muito importante no seguimento
do Protocolo, pois separa os táxons de acordo com a probabilidade de estabeleci-
mento e invasão. A capacidade de atender toda e qualquer notificação de ocorrên-
cia tende a ser limitada se o volume for significativo e crescer ao longo do tempo. A
aplicação desta pergunta neste ponto do Protocolo visa assegurar que a execução
de ações de resposta tenha foco em táxons que de fato apresentam risco alto de
invasão biológica, ou seja, que já têm histórico de invasão em outros lugares. Nes-
ses casos, é possível que o táxon já conste em listas oficiais de EEIs no país – seja
de espécies presentes, seja daquelas com risco iminente de introdução – ou em
bases de dados nacionais ou globais (Tabela 2), o que facilita a tomada de decisão
e indica a necessidade e a urgência do controle. Informações sobre antecedentes
de invasão podem também ser buscadas em artigos técnicos e científicos utiliza-
dos especialmente na avaliação de risco completa. Esta etapa P9 representa uma
avaliação de risco rápida, pois se fundamenta no preditor de maior eficácia para
indicação do potencial de invasão biológica, que é o histórico de invasão do tá-
xon. Critérios adicionais devem ser considerados, como o histórico de invasão de
espécies congêneres, que pode indicar o potencial de invasão de todo um táxon
de hierarquia superior ao nível específico; a ausência de registro de invasão para
espécies amplamente distribuídas, que tende a indicar risco baixo; e sua ocorrên-
cia junto a espécies endêmicas, raras ou ameaçadas de extinção, que pode ser
considerada um fator de incremento do risco que indica maior urgência nas ações
de resposta. Havendo agilidade, pode-se recorrer ainda à consulta a especialistas
no táxon. Nesta etapa do Protocolosão separados os táxons cujo risco de invasão
é considerado baixo a fim de permitir que as ações tenham foco naqueles com
maior potencial de dano. A menos que haja evidência em contrário, os táxons
avaliados como de risco baixo não serão objeto de ações de erradicação, conten-
ção ou controle, a não ser que haja capacidade instalada para tanto. Sempre que
possível, tais táxons devem ser incluídos em programas de monitoramento ou de
vigilância existentes, e, caso se observe mudança na situação, o órgão competente
ou o ponto focal designado deve ser notificado para que acione novamente o Pro-
tocolo. Se o táxon não tiver registro de invasão, o Protocolo é encerrado (P6). Caso
haja registro de invasão, segue-se para P10.
A separação entre táxons de risco moderado e alto é realizada mais adiante no Protocolo
(P19 a P26).

41
Tabela 2 – Fontes de informação para verificação de antecedentes de invasão de espécies
exóticas

Nome Descrição

Ministério do Meio Ambiente Listagens de EEIs em elaboração, Projeto Pró-Espécies

Instituto Hórus de Desenvolvimento e


Conservação Ambiental Base de dados de EEIs no Brasil
https://bd.institutohorus.org.br

Plataforma Brasileira de Bioinvasão


Base de dados de EEIs marinhas no Brasil
https://bioinvasaobrasil.org.br

Global Invasive Species Database (GISD)


Base de dados global de EEIs
https://www.issg.org/database

CABI
Compêndio global de EEIs
https://www.cabi.org/isc

Google Acadêmico: nome científico + invasive / Busca de artigos científicos e técnicos sobre eventos de
nome científico + invasor invasão pela espécie

Fonte: Compilação do autor

2.3.3 Alerta

Nesta etapa, o órgão competente ou o ponto focal designado emite um alerta para solicitar
apoio das instituições responsáveis ou interessadas, pois chegou-se à conclusão de que a
espécie detectada é exótica ao local de ocorrência e que o risco de invasão já não é baixo,
pois essa análise foi feita antes de se chegar a este ponto (P9). Aqui o risco de invasão pode
ser moderado ou alto.
P10 – Alerta. Neste ponto, o táxon foi identificado, é exótico ao local de ocorrência e há evi-
dências suficientes de risco ao ambiente em questão. Um alerta é emitido, pelo órgão
competente ou ponto focal designado, para as instituições responsáveis ou interes-
sadas, bem como para a Rede de Colaboradores. A decisão sobre as instituições que
devem receber o alerta se fundamenta na jurisdição de atuação na área geográfica, no
grupo biológico ou no táxon em questão. Especialistas da Rede de Colaboradores po-
dem receber o alerta a fim de agilizar a confirmação da identificação da espécie ou, em
outros casos, realizar vistorias, especialmente em áreas onde ocorre monitoramento
contínuo ou há pesquisas em andamento. Depois segue-se para P11.

2.3.4 Vistoria, caracterização da invasão e erradicação imediata

Neste momento, uma pessoa ou equipe, geralmente integrante de instituições das Redes de
Apoio e Colaboradores vinculadas ao Programa, é solicitada a fazer uma vistoria no local de
detecção da EEI. Também deverá ser realizada a delimitação da invasão, de forma simples e
conforme o contexto. Sempre que possível, será realizada uma ação imediata com vistas à

42
erradicação para evitar que o foco detectado siga em desenvolvimento e amplie sua área de
distribuição. Essa estratégia de erradicação/controle é crucial, dado que as oportunidades
de erradicação são limitadas no tempo, no espaço e em função de fatores materiais como
recursos financeiros, equipamentos e pessoal para a execução das ações de resposta rápida.
Assim, a inserção da possibilidade de ação imediata já na fase de vistoria é uma estratégia
fundamental para maximizar a eficácia da abordagem de detecção precoce e resposta rápi-
da, também evitando demora no seguimento do processo completo.
P11 – Vistoria. Neste momento devem ser coletados dados sobre a distribuição do táxon,
o estágio de invasão, evidências de que a espécie chegou ou não à idade reprodutiva
e a área estimada de invasão pelo táxon, dentro do possível, para cada grupo biológi-
co e para cada caso. O avanço de tecnologias de inteligência artificial deverá facilitar,
futuramente, o uso de aplicativos para a identificação de espécies, principalmente a
partir de listagens pré-elaboradas.
Além de verificar o local indicado, deverão também ser vistoriados os arredores do
local da detecção para verificar se existem outros focos de invasão e sua extensão.
A área a ser observada para realizar a delimitação da invasão depende do tipo de
organismo e da viabilidade de detecção, que é mais baixa para espécies animais do
que para plantas. Especialistas no grupo em questão podem ajudar a dar indicações
sobre a extensão da busca, porém isso também depende de cada área, do tempo
necessário e dos recursos disponíveis, já que pode se tratar de áreas de grande ex-
tensão. Além da observação de indivíduos, deve-se buscar também observar indícios
de presença de animais, como pegadas e fezes. Já no caso de organismos como in-
vertebrados, o monitoramento de mais longo prazo e a realização de amostragens
poderão ser necessários para auferir a extensão da invasão.
Segue-se para P12. As etapas P12 a P15 fazem parte do processo de vistoria, po-
dendo levar ao encerramento do Protocolo quando existir possibilidade e sucesso
de erradicação imediata do foco de invasão. Caso o táxon não seja encontrado na
vistoria, segue-se para P18.
P12 – A invasão é extensa? Esta avaliação deve ser realizada por pessoal qualificado du-
rante a vistoria de campo. Ao constatar que a invasão é ampla, ou seja, que há diver-
sos focos de invasão esparsos e que já existe processo de reprodução comprovado
pela observação de descendência, a pessoa responsável pode indicar que o foco de
invasão já passou do estágio inicial e precisa de manejo em médio ou longo prazos.
A avaliação depende de cada táxon ou grupo biológico em questão, sendo mais facil-
mente observada em plantas, através da busca de plântulas, frutos ou sementes na
área ao redor, do que em animais. Uma forma de considerar esta avaliação é estimar
o tempo necessário para o controle, levando em conta, por exemplo, que, se uma
população ou foco de invasão pode ser eliminado em relativamente pouco tempo e
há recursos para as ações de controle, a invasão pode ser considerada inicial. Porém,
cada situação precisará ser analisada à luz do contexto local e do táxon específico.
Quando a invasão é percebida como generalizada nos arredores, ou amplamente

43
distribuída, não se enquadra no âmbito da detecção precoce, e o Protocolo é encer-
rado (P6). A informação deve ser veiculada, sempre que possível, a uma instituição
que possa realizar o manejo como atividade de rotina, assim como aos órgãos am-
bientais do município e do estado da ocorrência, ou estabelecida cooperação para
serem feitas ações de controle e monitoramento posterior. Se a invasão é caracteri-
zada pelo estágio inicial, ou seja, por indivíduos isolados ou pequenas populações,
dá-se prosseguimento à aplicação do Protocolo (P13). Também é preciso seguir o
Protocolo quando há incerteza com relação ao tamanho da população, sem evidên-
cias de que a invasão seja extensa e já tenha passado do estágio inicial, ao menos até
que estas informações possam ser obtidas. Segue-se para P13.
P13 – Existe a possibilidade de erradicação/contenção imediata? Focos de invasão em
estágio inicial são muitas vezes caracterizados por indivíduos isolados ou popula-
ções muito pequenas. Nesses casos, e especialmente quando não há indícios de
que o táxon já passou por um ciclo reprodutivo, configura-se uma oportunidade
de erradicação/contenção imediata. Por exemplo, caso sejam observados animais
que não ocorrem naturalmente numa área, é importante proceder à captura, tanto
para reduzir o risco de estabelecimento, como para a confirmação da identidade do
táxon. Nesse caso, não é possível saber se o foco de invasão pode ser erradicado ou
não, pois é inviável estimar rapidamente o tamanho da população ou a área invadi-
da, porém os esforços possíveis não deixam de ser realizados. Este passo, referente
à contenção ou eliminação de espécimes, portanto, deve fazer parte da vistoria sem-
pre que possível. Caso uma intervenção imediata não seja considerada factível ou
produtiva, dá-se prosseguimento ao Protocolo. Se a resposta é afirmativa, segue-se
para P14; em caso negativo, segue-se para P19.
P14 – Proceder com ações de erradicação/contenção. Uma vez que o táxon seja confir-
mado como exótico à área de ocorrência, sempre que a pessoa ou equipe responsá-
vel pela vistoria tenha preparo para proceder a ações de controle, deve executá-las
de imediato, já que tem a melhor oportunidade possível para conter ou mesmo erra-
dicar o foco de invasão. A pessoa ou equipe que vai fazer a vistoria deve estar ciente
dos materiais e equipamentos necessários para a situação e tê-los disponíveis para
realizar ações de resposta rápida. Entre os invertebrados, assim como as gramíneas
e plantas herbáceas, há táxons com ciclos reprodutivos curtos, de modo que uma
semana ou alguns dias podem implicar a perda da oportunidade de erradicação ou
contenção efetiva da invasão antes da geração e propagação de descendência ou
do estabelecimento de um banco de sementes persistente no solo. A aplicação de
medidas de controle visando a erradicação imediata tem limites em função do gru-
po biológico a que pertence o táxon e da complexidade da situação de ocorrência.
Essa alternativa existe para que as oportunidades de eliminar focos de invasão de
baixa complexidade, ou seja, por táxons já identificadas como exóticos invasores e
passíveis de eliminação, não sejam desperdiçadas, em especial com vistas a prevenir
a reprodução e a disseminação a partir do foco inicial. Esta etapa precisa, portanto,
ser integrada à vistoria sempre que possível. Em caso de incerteza sobre os métodos

44
a serem aplicados, o Protocolo é seguido para a etapa de planejamento.
O detalhamento sobre métodos de controle para os distintos grupos é apresentado
na etapa P30 (“Realizar ações de resposta”) como forma de apoio ao planejamento. Na
etapa aqui descrita, que pode levar à execução de ações de controle apenas com base
nos dados da notificação, não ocorre um planejamento de fato como na sequência do
Protocolo, em que se elabora um plano de ação de base técnica apoiado na vistoria de
campo realizada. Segue-se para P15.
P15 – As ações foram eficazes? No caso de serem realizadas ações de controle com vistas à
erradicação no momento da vistoria, o monitoramento posterior é fundamental para
verificar se as ações foram eficazes, ou seja, se a população inicialmente encontrada
diminuiu ou foi totalmente eliminada. Se houver redução significativa da população
em 80-100%, considera-se que o método foi eficaz e segue-se para P16. Se o foco de
invasão não foi afetado, não diminuiu significativamente, ou a invasão aumentou, não
foi eficaz, é preciso seguir para a fase de planejamento (P28), a fim de definir um mé-
todo de controle de maior eficácia. Nesse caso, podem ser consultados especialistas
para contribuir com a definição de métodos e níveis de eficácia aceitáveis para o táxon.
Não se espera que uma única ação de controle resolva o problema; é normal haver
mais intervenções até que seja possível decidir se vale a pena seguir até a erradicação
ou usar outra possibilidade do Protocolo. Caso não se obtenha a eficácia necessária à
eliminação do foco de invasão após diversas tentativas, pode-se concluir que o contro-
le não é viável, seja por falta de recursos, materiais e técnicas adequadas, seja porque
a invasão aumentou e escapou do âmbito da detecção precoce. As justificativas devem
ser claramente registradas ao se optar pelo encerramento do Protocolo. Quando o
tamanho da população é difícil de estimar, como no caso de invertebrados, a avaliação
da eficácia do controle só pode ser feita ao longo do tempo a partir de monitoramento
contínuo. Nesses casos, especialistas devem ser consultados para ajudar a definir téc-
nicas de manejo, de monitoramento e de avaliação da eficácia do controle. O registro
das ações realizadas é importante para otimizar esforços em situações análogas no fu-
turo. Se a resposta é afirmativa, segue-se para P16; caso negativa, segue-se para P19.
No caso desta avaliação, após a aplicação de ações de resposta, já na base da figura do
Protocolo, se a resposta é negativa, é preciso retornar à etapa de planejamento (P28).
P16 – Monitoramento e repasse. Se o controle foi eficaz, deve-se fazer o repasse do con-
trole, ou seja, repetir a aplicação do método definido até a eliminação total do foco
de invasão. Não se espera que uma ação única leve à erradicação da espécie, mas
sim que o controle seja repetido, com ajustes nos métodos à medida do necessário,
até que seja atingida a erradicação do foco de invasão. Se o controle não foi eficaz,
o Protocolo indica duas situações: quando as ações são realizadas já na vistoria de
campo, dá-se seguimento para aprofundar a análise (P19); nos demais casos, de-
ve-se voltar à etapa de planejamento (P28) para ajustar os métodos utilizados com
vistas a melhorar a eficácia do controle até que esta seja satisfatória. Deve-se apli-
car os preceitos do manejo adaptativo, ou seja, não postergar o manejo por falta
de conhecimento específico, que é obtido ao longo do processo; registrar as ações

45
e métodos empregados e aprimorá-los até alcançar o nível de eficácia desejado. A
cada operação de repasse do controle, o método pode ser ajustado em função do
resultado anterior. Se não é possível avaliar a eficácia, por se tratar, por exemplo, de
animais de difícil observação, será preciso manter o monitoramento até definir um
método que permita fazê-lo ou verificar os resultados no médio prazo. O período
de monitoramento posterior às ações de controle varia de acordo com o táxon e o
grupo biológico em que se enquadra, sendo menor para táxons de ciclo reprodutivo
curto e maior para táxons que requerem mais tempo para alcançar a idade repro-
dutiva. A definição do período de monitoramento pode ser feita com ajuda de espe-
cialistas nos respectivos grupos biológicos, integrantes da Rede de Colaboradores.
Segue-se para P17.
P17 – Erradicação. Refere-se aos casos de sucesso em que o foco de invasão é erradicado.
Uma vez que seja totalmente eliminado e que não se constate a presença de novos
indivíduos na continuidade do monitoramento, pode-se considerar que o foco foi
erradicado. O tempo de monitoramento necessário para chegar a esta conclusão
depende do táxon em questão, sendo mais longo para espécies que demoram mais
para atingir a idade reprodutiva. O Protocolo é encerrado (P6) com o registro das
informações para referência futura. Nos casos em que as tentativas de erradicação
ou contenção são repetidamente falhas e se julga que não é possível continuar com
o controle, ou que a invasão aumente a ponto de tornar o controle inviável, pode-se
chegar à conclusão de que escapa ao âmbito do PNADPRR. Nesses casos, as informa-
ções geradas devem ser repassadas a outra entidade que possa dar continuidade ao
trabalho, sempre que possível. Deve-se procurar envolver atores que trabalham na-
quela área, como agências de meio ambiente em âmbito estadual e municipal, pes-
quisadores de instituições de ensino e pesquisa, técnicos de agências de extensão
rural ou pesquisa em áreas correlatas, organizações da sociedade civil e/ou cidadãos
que têm interesse em contribuir, desde que recebam orientação específica e apoio
necessário. Segue-se para P6.
P18 – Táxon não encontrado. Este passo deriva do P11 (“Vistoria”). É importante que a
pessoa ou equipe responsável pela vistoria tenha em mãos todas as informações
disponíveis sobre a ocorrência do foco de invasão, como a identidade do táxon sem-
pre que identificado, uma descrição do local e onde fazer a busca, preferencialmente
com base em coordenadas geográficas. Se o táxon não é encontrado na vistoria, bus-
ca-se aprofundar o conhecimento sobre ele a fim de definir as ações subsequentes.
De toda forma, é desejável organizar um esforço de monitoramento com ajuda de
pessoas locais para verificar a presença do táxon e coletar dados, sempre que possí-
vel. Na falta de dados de campo, o Protocolo segue-se para P19.

2.3.5 Avaliação de risco

A avaliação de risco completa é um procedimento padronizado com base num questio-


nário que visa verificar a probabilidade de que uma espécie exótica, ao ser introduzida
num ambiente fora de sua área de distribuição natural, se torne invasora. As perguntas

46
que direcionam a avaliação de risco se fundamentam em indicadores de invasão biológi-
ca, como o histórico de invasão pela espécie em outros lugares, características biológicas
e ecológicas, similaridade climática ou de condições ambientais, facilidade de adaptação
a distúrbios causados por atividades humanas, interações ecológicas, taxa reprodutiva e
distribuição global, impactos potenciais ao meio ambiente, à economia e à sociedade, a
viabilidade de manejo, entre outros. Nesta etapa, separam-se as espécies de risco alto e
risco moderado, dando prioridade de controle às primeiras.
P19 – Existe avaliação de risco para o táxon? Quando uma espécie não é encontrada na
vistoria ou quando não houve possibilidade de eliminação imediata nas etapas iniciais,
pode ser necessário aprofundar o conhecimento sobre a espécie para decidir como agir.
Nesses casos, realiza-se uma busca por avaliações de risco existentes (P19); caso não se-
jam encontradas avaliações prontas e, mediante consulta a especialistas no grupo bio-
lógico, houver indicação de que as ações de resposta não são extremamente urgentes,
realiza-se uma avaliação de risco completa (P23). Segue-se para P20 caso não tenha sido
encontrada nenhuma avaliação de risco; para P24 caso a avaliação de risco encontrada
indique risco moderado, ou para P26 caso indique risco alto.
P20 – Risco desconhecido. Se não for encontrada nenhuma avaliação de risco válida para
o táxon, considera-se que o risco é desconhecido e que a situação requer mais aná-
lise (Tabela 3), levando à etapa seguinte. Segue-se para P21.
P21 – Consulta a especialistas. Quando não houver referência disponível sobre o nível de
risco, a alternativa mais rápida é buscar ajuda de especialistas no grupo biológico em
questão para inferir o risco. Essa alternativa pode poupar muito tempo e agilizar as
ações de resposta. Essa consulta deve ser feita, de modo geral, a integrantes das re-
des vinculadas ao programa. Os resultados desta consulta devem indicar se as ações
de controle a serem aplicadas têm ou não urgência. Segue-se para P22.
P22 – As ações de controle são urgentes? Sim. A conclusão da consulta a especialistas é
que o táxon tem tendência a invadir rapidamente, o processo de desenvolvimento é
rápido e há risco de dispersão a partir do foco de invasão detectado, ou outros indi-
cadores de que há urgência em executar as ações de resposta. Assim, considera-se
este resultado equivalente a uma indicação de risco alto. A consulta e os resultados
devem ser registrados e disponibilizados a fim de subsidiar ações futuras. Segue-se
para P26.
P22 – As ações de controle são urgentes? Não. A conclusão da consulta a especialistas
é que o táxon não tem tendência à invasão, ou a invasão é demorada, o proces-
so de desenvolvimento do táxon é lento, ou outros indicadores de que a aplicação
de ações de resposta não é urgente. Isso significa que há tempo disponível para
aprofundar a análise antes de decidir se o manejo é necessário. A consulta e os re-
sultados devem ser registrados e disponibilizados a fim de subsidiar ações futuras.
Segue-se para P23.
P23 – Avaliação de risco completa. A elaboração de uma avaliação de risco completa re-
quer tempo e disponibilidade de pessoas com maior nível de especialização, o que ten-

47
de a gerar demora nas ações de resposta. Por essa razão, ela somente será realizada na
falta de evidências suficientes que permitam a tomada de decisão através dos outros
caminhos indicados no Protocolo. O IBAMA dispõe de protocolos de avaliação de risco
para alguns grupos biológicos; o Instituto Hórus dispõe de protocolos para plantas,
vertebrados terrestres e vertebrados aquáticos e de uma compilação de resultados de
avaliações realizadas em vários países na Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas
Invasoras. Para a realização de avaliações de risco completas, a pessoa responsável
não precisa ser especialista no táxon a ser avaliado, porém deve conhecer os termos
técnicos utilizados nas análises e ter fluência na leitura e compreensão do idioma in-
glês. Uma avaliação de risco completa pode tomar alguns dias de trabalho intensivo,
a depender da prática da pessoa responsável e do táxon em questão. Pode demorar
para ser realizada por depender da disponibilidade de colaboradores e do tempo ne-
cessário para sua elaboração. Os resultados devem ser registrados e disponibilizados
para referência futura. Se o resultado da avaliação é de risco moderado ou a avaliação
é inválida, segue-se para P24. Se o resultado é de risco alto, segue-se para P26.
P24 – Risco moderado ou análise inválida. Indica o caminho do Protocolo para quando
uma avaliação de risco completa, já existente ou realizada no processo do Protocolo
resulta em risco moderado, ou quando não há informações suficientes para comple-
tar a avaliação de risco, que resulta inválida (Tabela 3). Segue-se para P25.
P25 – Monitoramento recomendado. Aplicável a táxons cujo risco de invasão é modera-
do e que, portanto, não requerem ações imediatas de resposta, pois, de modo geral,
se estabelecem apenas em condições favoráveis, ou não conseguem se estabele-
cer, ou não são invasores agressivos. A decisão de indicar monitoramento em vez
de ação de controle visa manter o foco das ações de resposta para EEIs com maior
potencial de dano ambiental. Nesses casos, recomenda-se como alternativa realizar
ações de vigilância ou monitoramento periódico, sempre que possa ser realizado
por atores locais, idealmente, integrantes das redes vinculadas ao programa. Se o
foco em questão evoluir para um processo de invasão, deve ser emitida nova notifi-
cação e o Protocolo é retomado para guiar as ações de manejo. Após esta etapa, o
Protocolo é encerrado (P6).
P26 – Risco alto. Indica o caminho do Protocolo para quando uma avaliação de risco é
encontrada com resultado de risco alto ou quando o risco alto é detectado por es-
pecialistas (Tabela 3), que indicam urgência para o controle com base nas caracte-
rísticas ecológicas e biológicas do táxon, seu histórico de invasão em outros lugares,
a viabilidade de manejo e impactos potenciais. À medida que houver inúmeras de-
mandas, poderá ser necessário montar uma matriz para facilitar o estabelecimento
de prioridades entre as espécies de alto risco, envolvendo critérios como fragilidade
ambiental, presença de espécies endêmicas, raras ou ameaçadas de extinção e via-
bilidade de controle. Segue-se para P27.

48
Tabela 3 – Respostas a níveis de risco para invasões biológicas, conforme resultados da avaliação
de risco

Nível de risco Ações recomendadas

Espécies que não têm antecedentes de invasão em algum lugar do mundo são consideradas
de risco baixo no Protocolo. Não serão realizadas ações de resposta. Se a espécie ocorrer
em UC, deve ser eliminada igualmente para assegurar que não se torne invasora, porém
Baixo a ação não é urgente. O monitoramento periódico para verificar se há mudança no status
da população é desejável; caso seja mais simples eliminar o foco de invasão, a ação
de erradicação deve ser realizada para não gerar custos de monitoramento e risco de
invasão futura.

Espécies de risco moderado são, caracteristicamente, plantas com comportamento ruderal,


ou seja, que ocorrem em áreas sujeitas a distúrbios, como margens de caminhos e estradas,
pastagens abandonadas etc. No caso de animais, não desenvolvem populações numerosas
e somente se estabelecem e se dispersam em algumas situações mais favoráveis, ocorrendo
também em áreas onde não conseguem propagar-se, e não chegam a caracterizar
processos agressivos de invasão biológica. Assim, as ações são menos urgentes e podem
ser colocadas em menor nível de prioridade do que ocorrências de risco alto.
Moderado Se o resultado da análise for inválido devido a lacunas de informação, deve-se procurar
complementar os dados e revisar a análise de risco. Se não for encontrada informação
complementar para melhorar a precisão da resposta, as ações de controle podem, sempre
que possível, ser realizadas por precaução, ainda que consideradas menos urgentes.
O monitoramento periódico para verificar se há mudança no status da população é
desejável; em casos de indivíduos isolados ou em pequeno número que permitam eliminar
o foco de invasão, a ação de erradicação deve ser realizada sem demora a fim de evitar os
custos contínuos de monitoramento e eventuais ações futuras em caso de invasão.

Espécies que resultam em alto risco avançam sobre o ambiente ao qual foram introduzidas,
ao longo do tempo dominando o espaço, excluindo espécies nativas e/ou causando
alterações estruturais, físicas ou químicas no ambiente.
Alto Deve-se definir as ações de resposta rápida e aplicar medidas de erradicação, contenção
ou controle imediatas visando eliminar os focos de invasão biológica por completo; realizar
monitoramento posterior para avaliar a eficácia das medidas aplicadas; e ajustá-las, se
necessário, até atingir a erradicação, quando o Protocolo é encerrado.

Quando não existe informação disponível para que uma análise de risco possa ser
completada, a tomada de decisão é dificultada porque o grau de incerteza é alto. Esse
resultado pode ocorrer nos casos em que especialistas consultados considerem que
as ações de resposta não são urgentes, e se realiza uma análise de risco completa. O
monitoramento é então recomendado, dentro do possível, por questão de prevenção,
Análise inválida sendo o objetivo principal do Protocolo gerar ações de resposta rápida sobre espécies de
risco alto, de modo geral melhor conhecidas e melhor documentadas.
Da mesma forma que nos casos anteriores, em situações de indivíduos isolados ou em
pequeno número que permitam eliminar o foco de invasão, a ação de erradicação deve ser
realizada sem demora a fim de evitar os custos contínuos de monitoramento e eventuais
ações futuras em caso de invasão.

Fonte: Compilação do autor

2.3.6 Planos de resposta rápida

A fim de otimizar o tempo para a execução de ações de erradicação ou controle, os planos


de resposta rápida (elaborados na etapa P28) precisam ser concisos e objetivos, basica-
mente delineando com clareza a estratégia a ser seguida, os métodos a serem aplicados
nas ações de controle e monitoramento, os materiais e equipamentos necessários e, pre-
ferencialmente, uma estimativa de custos. A base para a elaboração desses planos são as

49
informações da notificação de ocorrência e os dados coletados na vistoria, assim como
dados complementares referentes ao táxon e ao local em questão. Apresentamos a seguir
uma orientação para elaboração desses planos (Tabela 4), de forma básica. A necessidade
de maior detalhamento e inclusão de outros itens dependerá de cada situação. Para fins
de orientação, alguns planos hipotéticos foram desenvolvidos e estão disponíveis no Apên-
dice 3 deste manual.
Tabela 4 – Estrutura básica dos planos de resposta rápida para EEIs com base no Guia de
Orientação para o Manejo de Espécies Exóticas Invasoras em Unidades de Conservação Fe-
derais (ICMBio 2019), com adaptação para o contexto de detecção precoce e resposta rápida

Item do plano Descrição

Nome científico e família (incluir hierarquia superior caso seja necessário) e


Táxon
nomes comuns

Breve descrição do local, incluindo o acesso e o tipo de ambiente e quaisquer


Caracterização do local obstáculos ou dificuldades que a equipe executora possa encontrar para que haja
preparação adequada. Sempre que possível, inserir as coordenadas geográficas.

Quem é responsável pela Nome da(s) pessoa(s) envolvida(s) e função(ões); responsável(is) pela execução
coordenação e quem das ações de controle, de monitoramento posterior e repasse do controle, assim
apoia? como pelo registro do processo.

Indicação do(s) método(s) de controle a ser(em) utilizado(s), preferencialmente


Método
considerando métodos adicionais em caso de incerteza sobre a eficácia.

Indicação de quando deve ser realizado o monitoramento de resultados das


ações de controle e o que a pessoa ou equipe responsável deve fazer conforme a
Monitoramento eficácia verificada; pode repetir o método já empregado ou utilizar novo método
predefinido. Prover informações sobre o monitoramento posterior ao controle,
conforme estimativas possíveis.
Indicação de como deve ser avaliada a eficácia, conforme o grupo biológico e o
táxon em questão. De forma geral, a eficácia pode ser considerada “boa” se a
Comprovação da eficácia
população alvo do controle diminuiu, “baixa” se não aumentou e “não eficaz” se
cresceu.

Listar os materiais e equipamentos necessários para a realização das ações de


controle em campo, de modo que a pessoa ou equipe responsável facilmente
verifique se tem tudo à mão antes de sair a campo e se os equipamentos estão
Materiais, equipamentos
em ordem e funcionais. Prever, se possível ou se consideradas necessárias, 2-3
ações de repasse. Deve-se prever o uso de Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs) para as diversas atividades que os requeiram.

Projetar custos com base nos materiais, equipamentos (ou sua depreciação),
Estimativa de custos
transporte (combustível, pedágio etc.) e mão de obra, quando necessária.

Verificar e escolher a melhor forma possível e local para enviar os


Destinação
organismos coletados.

Com base na disponibilidade de pessoas, materiais, equipamentos e recursos de


custeio para as ações planejadas, explicar por que o plano de ação é considerado
Análise de viabilidade viável ou não, levando também em consideração a viabilidade dos métodos que
poderão ser empregados. Caso negativo, buscar apoio de parcerias externas
para viabilizar a aplicação ou alterar o plano até chegar a uma alternativa viável.

Fonte: Adaptado de ICMBio, 2019

50
P27 – Há plano de contingência para o táxon? Quando a espécie tem indicação de risco
alto de invasão biológica, requer uma ação de resposta no menor tempo possível
(Tabela 3). Então, o órgão competente ou ponto focal designado busca referências
para fundamentar o manejo, como planos de contingência ou planos de resposta
rápida já existentes. Esses planos, quando disponíveis, podem reduzir o tempo de
resposta e otimizar os resultados. Planos de contingência podem estar disponíveis
a partir de processos de licenciamento ambiental que autorizam a criação ou o
cultivo de EEIs, vinculados a atividades de transporte que funcionam como vias de
introdução de EEIs e situações análogas. Quando houver um plano disponível, será
preciso analisar a viabilidade do que está proposto (P29) antes da execução. Se não
houver um plano disponível, o Protocolo segue para o planejamento de ações de
resposta (P28).
P28 – Planejar ações de resposta. Esta etapa resulta na elaboração do plano de ação de
resposta rápida, que deve ser expedito e breve, indicando minimamente os conteú-
dos propostos na Tabela 4. Durante o processo, é importante que sejam considera-
das as condições necessárias para que a pessoa ou equipe responsável possa execu-
tar as ações com eficácia e dispor dos materiais, equipamentos e apoio necessários.
Segue-se para P29.

2.3.6.1 Análise de viabilidade


Nesta etapa é realizada a verificação de viabilidade de aplicação do plano elaborado
para as ações de resposta rápida. Caso o plano não seja viável, deve-se voltar ao pla-
nejamento das ações de resposta, ajustando estas ações e/ou buscando parcerias para
viabilizar sua execução.
P29 – As ações de resposta são viáveis? As ações propostas em planos de contingência,
em planos de resposta rápida ou na etapa do Protocolo referente ao planejamento
devem passar por uma análise de viabilidade (Tabela 5) antes da execução. Caso
faltem recursos, materiais, equipamentos ou pessoas com o conhecimento neces-
sário, o órgão competente pode solicitar ajuda às redes vinculadas ao Programa,
ou a atores locais indicados através das redes, para apoiar a execução das ações de
resposta. Se ainda assim elas não forem viáveis, é preciso retornar ao planejamento
(P28) para fazer ajustes e encontrar outra solução. Em casos de alta complexidade
que requerem investimentos significativos ou a mobilização de equipamentos como
embarcações e outros de alto custo ou de difícil obtenção, ou que haja risco de vida,
pode-se chegar à conclusão de que a ação de resposta não é viável. Em caso extre-
mo, o Protocolo pode ser encerrado por falta de alternativas. Se as ações de respos-
tas forem viáveis, segue-se para P30. Caso negativo, volta-se à fase de planejamento
(P28) para realizar ajustes no plano.

51
Tabela 5 – Checklist da análise de viabilidade para ações de resposta rápida

Questão da análise de viabilidade Sim Não

Os recursos financeiros necessários estão disponíveis?


Os materiais e equipamentos necessários para realizar a ação de resposta estão
disponíveis? (caso negativo, se podem ser comprados imediatamente, responder
“sim”)
Existe transporte disponível para o deslocamento? (caso o deslocamento não
requeira transporte, responder “sim”)

Existe pessoal preparado para realizar as ações de resposta?

Caso alguma das respostas acima tenha sido negativa, existe a possibilidade de essa
lacuna ser suprida em poucos dias (idealmente menos de 5)?
Caso alguma das respostas acima tenha sido negativa, existe a possibilidade de
essas necessidades serem supridas através de parcerias com outras instituições/
pessoas?
Caso não haja disponibilidade dos recursos, materiais e/ou equipamentos
necessários, retornar ao planejamento de resposta e ajustar as ações para
assegurar a viabilidade de execução integral.

Registro de materiais e custos referentes à ação de controle.

Fonte: Compilação do autor

2.3.7 Execução de ações de resposta rápida

Esta é a etapa em que as ações de resposta rápida visando a erradicação e/ou controle
da espécie exótica detectada são iniciadas, após análise positiva de viabilidade (P15). Uma
listagem de materiais importantes para o controle de EEIs em ambientes terrestres está
disponível no Apêndice 4.
P30 – Realizar ações de resposta. Definidas as ações de resposta e confirmada a viabi-
lidade de execução, as ações devem ser implementadas o mais rápido possível em
campo e registradas em detalhes para que os resultados possam ser avaliados e
ajustados conforme necessário. As ações de resposta devem seguir os preceitos do
manejo adaptativo, realizando-se ajustes a cada etapa de controle a fim de aumen-
tar a eficácia dos métodos adotados. Subentende-se que estas ações são um ciclo
que envolve execução (P30), verificação de resultados (P15), ajustes no planejamen-
to se necessário (P28) e nova execução (repasse, P16) até atingir a eficácia desejada
para, preferencialmente, chegar à erradicação do foco de invasão (P17) e encerrar o
Protocolo (P6). Após a execução das ações de resposta, seguir para P15.

2.3.7.1 Estratégias e métodos de erradicação e controle


Esta subseção cobre estratégias e métodos de controle aplicados aos grupos biológi-
cos tratados neste manual. Referências complementares sobre fontes de informação
estão indicadas no Apêndice 2. Apresentamos aqui uma abordagem ampla sobre méto-
dos existentes, sem indicação de métodos específicos. A decisão pelos métodos a serem

52
empregados em cada caso depende do contexto e da análise de cada situação, sendo
comum a combinação de métodos, sua adaptação ao longo do tempo, ou a substituição,
para melhorar a eficácia com base em avaliações de resultados. Além disso, com o passar
do tempo haverá novos métodos, técnicas e produtos disponíveis que devem ser con-
siderados. É preciso, ainda, ter atenção à necessidade de autorização das autoridades
competentes e buscar apoio técnico-científico, sempre que necessário, para a definição
de estratégias e métodos de controle, monitoramento posterior e avaliação da eficácia.
O cuidado para evitar impactos a espécies não alvo também deve ser considerado nos
processos de controle e erradicação.
Plantas
A estratégia visando alcançar a erradicação de plantas envolve o controle continuado até o
esgotamento do banco de sementes no solo, quando já estabelecido, o que varia grande-
mente de espécie para espécie. Por isso a intervenção imediata é tão importante no caso
da detecção de focos de plantas que ainda não atingiram a idade reprodutiva, caso em que
é possível atingir a rápida erradicação. No caso de populações em geral, a eliminação é
iniciada pelas plantas que estão espalhadas a partir de um foco principal, para então este
ser eliminado. Também é importante eliminar primeiro as plantas de menor porte, espe-
cialmente se passíveis de arranquio manual, antes das plantas maiores, pois estas, ao cair,
cobrem o solo e impedem a localização das menores. Por isso, as árvores de maior porte
são eliminadas por último. Quando há ocorrência de focos de invasão em áreas extensas
em ambientes abertos, o uso de VANT (drones) pode ser muito útil para mapear as plantas
e definir a estratégia de eliminação.
Estão apresentados a seguir, de forma genérica, os principais métodos utilizados para o con-
trole de plantas exóticas invasoras, com um resumo apresentado na Tabela 6. Detalhes téc-
nicos referentes à concentração de herbicidas para cada espécie e particularidades do con-
texto local devem ser definidos por técnicos com experiência no controle ou com base em
referências técnicas disponíveis. A Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras
contém uma seção sobre manejo que pode ser útil na definição de métodos adequados para
cada espécie. Toda ação de controle de plantas exóticas invasoras deve ser realizada com EPI
completo, tanto para operadores de motosserra como para aplicadores de herbicida e auxi-
liares de campo. As ferramentas utilizadas devem receber limpeza (para evitar a dispersão
de propágulos a novas áreas) e manutenção constantes e ser levadas ao campo após verifi-
cação de funcionamento e afiação, a fim de evitar desperdício de tempo e recursos.
Controle mecânico
As técnicas de controle mecânico envolvem o arranquio manual de plântulas e a eliminação, com
ferramentas diversas, de plantas adultas. A limpeza de plantas de pequeno porte antes da eli-
minação de plantas maiores é desejável para evitar que não sejam percebidas depois, como no
caso de corte de árvores que deixa grande quantidade de biomassa no solo. A técnica a ser utili-
zada vai depender da espécie e do ambiente, pois algumas plantas quebram facilmente na base
quando arrancadas e voltam a brotar depois, outras regeneram de partes de caules e raízes que
precisam ser removidos do local, e outras ainda voltam a enraizar se deixadas sobre o solo, seja

53
de ramos ou partes de caules. Por isso é importante verificar o método mais adequado antes de
dar início ao controle. Na grande parte dos casos, o controle mecânico é combinado ao controle
químico para melhorar a eficácia, pois permite evitar a emissão de rebrotas das plantas, otimi-
zando tempo e recursos. Ainda que possa parecer menos impactante, o controle mecânico pode
dificultar a regeneração natural porque não é seletivo, ou seja, ao roçar uma gramínea invasora,
não é viável deixar de roçar espécies nativas. Por isso é importante avaliar cada situação antes de
decidir que método tem melhores chances de produzir resultados positivos. O arranquio manual
pode também levar a impactos sobre solos frágeis e gerar processos erosivos, o que é especial-
mente preocupante em áreas de declive e margens de cursos d’água.
Queima prescrita
Essa técnica é mais adequada para ecossistemas cuja história evolutiva inclui incêndios
naturais, como é o caso do Cerrado no Brasil, e requer o apoio de profissionais especia-
lizados. A queima prescrita é, porém, mais indicada quando ocorre dominância da EEI, o
que não é o caso dos focos de invasão alvo de programas de detecção precoce e resposta
rápida, pois comprometeria também a sobrevivência de plantas nativas.
A queima prescrita pode ser utilizada como meio de controle mecânico complementar
para algumas espécies, visando eliminar o banco de sementes no solo ou reduzir a bio-
massa em ambientes abertos dominados especialmente por gramíneas. Para que possa
ser utilizada como ferramenta de controle, é preciso preparar a área através da implanta-
ção de aceiros, geralmente molhados com água ou espuma, para a contenção do fogo. A
época de realização preferencial é a reprodutiva no caso de espécies herbáceas e arbus-
tivas, antes que as plantas atinjam a fase de dispersão de sementes. No caso de plantas
arbóreas, o fogo pode ser usado para eliminar plântulas e reduzir o tamanho das popu-
lações (DiTomaso; Johnson, 2006). É fundamental realizar a queima prescrita sob con-
dições climáticas favoráveis para a queima ao mesmo tempo que o controle da queima
sejam factíveis, ou seja, em dias sem ou com pouco vento, com umidade entre 10 e 80%
e temperaturas entre 0 e 40 °C. Somente deve-se sair da área depois de não haver mais
fogo ativo, nem brasas, e aguardar uma hora até assegurar que não haja novos focos de
incêndio (Bidwell et al., 2018).
Quando a queima não é suficiente para controlar uma planta invasora, ela pode ser usada
para melhorar significativamente a eficácia de outras técnicas de controle. É utilizada como
pré-tratamento para estimular a germinação e esgotar mais rapidamente o banco de se-
mentes de plantas que se beneficiam do fogo, como tojo (Ulex europaeus), cana-do-reino
(Arundo donax), capim-annoni (Eragrostis plana) e capim-gordura (Melinis minutiflora). As
plântulas são então eliminadas com uso de controle químico (DiTomaso; Johnson, 2006).
O fogo pode também ser utilizado como pós-tratamento para aumentar a eficácia do con-
trole após a aplicação de controle químico. Uma vez que as plantas-alvo estejam secas,
procede-se à queima prescrita para eliminar os resíduos e estimular a germinação do ban-
co de sementes no solo (DiTomaso; Johnson, 2006).

54
Controle químico
O uso de herbicidas é importante no controle de grande parte das plantas exóticas inva-
soras a fim de evitar a rebrota, reduzir custos e a frequência das intervenções, aumentar
a eficácia do controle e facilitar a regeneração natural de espécies nativas. A indicação de
que produto usar, assim como a diluição, a forma de aplicação e o uso de aditivos como
surfactantes requerem conhecimentos especializados e variam entre as espécies e seu
estágio de desenvolvimento. Herbicidas são empregados para eliminar plantas inteiras ou
para estancar rebrotas de tocos de arbustos ou árvores. Entre os produtos mais utiliza-
dos em termos globais para o controle de plantas invasoras estão os herbicidas à base de
Triclopir para plantas lenhosas e à base de Glifosato para plantas herbáceas e gramíneas,
ambos com produtos registrados no Brasil para fins de uso não agrícola, que inclui a apli-
cação em áreas naturais (ICMBio, 2019).
Tabela 6 – Técnicas de controle de plantas exóticas invasoras (ICMBio, 2019; Tu et al., 2001)

Grupo Controle mecânico Controle químico

Aspersão foliar com herbicida,


Arranquio com ferramenta tipo
Gramíneas e empregando corante na mistura para
enxada ou manual, quando for
herbáceas facilitar a visualização e melhorar a
possível remover com as raízes.
eficácia.

Corte na base do tronco e aplicação


imediata de herbicida no toco,
Árvores e Arranquio de plântulas sempre que
empregando corante na mistura para
arbustos possível.
facilitar a visualização e melhorar a
eficácia.

Injeção de herbicida no tronco,


Arranquio de plântulas sempre que em média 10 mL/furo, com furos
Palmeiras
possível. espaçados 15-20 cm a depender do
diâmetro da planta.

Remoção manual ou por arraste com A aspersão com herbicida somente


Macrófitas
apoio de embarcações ou outros pode ser feita com produtos
aquáticas
equipamentos. registrados para uso aquático.

Fonte: Compilação do autor

No caso de gramíneas e plantas herbáceas, é comum a aplicação via aspersão foliar, en-
quanto, no caso de árvores, a aplicação de herbicida nos tocos é a técnica mais indicada
(Tu et al., 2001; Dechoum; Ziller, 2013). Já no caso de palmeiras, a injeção de herbicida no
tronco é a melhor alternativa e de mais baixo impacto (ICMBio, 2019).
O uso de herbicidas para controle de plantas exóticas invasoras deve ser realizado por
pessoas com treinamento específico, preferencialmente para aplicação em áreas natu-
rais onde evitar impacto sobre espécies não alvo é relevante. Devem ser seguidos proto-
colos de segurança do trabalho, uso de EPI completo, desde o preparo das soluções até o

55
final da aplicação, e equipamentos em bom estado de conservação, que não vazem nem
gotejem, com bom controle da aplicação das soluções. Projetos de manejo de EEIs devem
ter como objetivo maior a restauração de ambientes naturais, com responsabilidade téc-
nica definida e as devidas permissões, assim como planejamento para acompanhamento
após o tratamento e repasse, pois nem sempre o controle tem eficácia de 100%. Medidas
adicionais de segurança envolvem o uso de herbicidas com degradação ambiental rápida
(em geral, 20-45 dias), a não ser em casos excepcionais de espécies que requerem produ-
tos de maior persistência e que não sejam exsudados pelas raízes das plantas. Essas ca-
racterísticas asseguram que, aplicados sobre o toco de plantas cortadas, não haja possi-
bilidade de contaminação do solo ou da água. A aspersão foliar é feita usando herbicidas
não específicos e desenhados para uso em gramíneas e plantas herbáceas. A aplicação
não pode ser realizada em dias chuvosos ou na iminência de chuva, nem de vento forte,
e deve ser evitada nas horas mais quentes do dia em função de potencial evaporação
das soluções e perda de eficácia (Tu et al., 2001). Não há herbicidas registrados no Brasil
para controle de plantas no meio aquático, com exceções para algumas poucas espécies,
o que ressalta a importância da detecção precoce nesses ambientes para remoção me-
cânica nas fases iniciais de processos de invasão.
Controle biológico
O controle biológico prescinde da liberação de organismos que atacam as plantas a serem
controladas e prejudicam, de distintas formas, o seu desenvolvimento. Podem ser preda-
dores de sementes, que ajudam a conter a dispersão, ou de brotos de crescimento, levan-
do as plantas à morte. Com maior frequência são utilizados insetos porque têm dieta alta-
mente específica, sendo selecionadas espécies que somente atacam a espécie-alvo, sem
causar dano a outras. Para alcançar este resultado, testes de especificidade são realizados
em laboratório a fim de verificar se as espécies identificadas como agentes potenciais de
controle atacam outras plantas, que são oferecidas em condições controladas. Essas ava-
liações podem levar anos, mas, uma vez identificados agentes de alta especificidade, o
controle biológico é uma ferramenta de controle de alta valia, especialmente para invasões
biológicas de grande escala ou de plantas às quais a aplicação de outros métodos é muito
difícil. Por exemplo, a invasão por lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) em brejos de solos
não consolidados, como Organossolos, de modo geral não têm solução porque não é pos-
sível acessar essas áreas caminhando e porque não há um herbicida disponível para uso
em ambientes aquáticos registrado no Brasil, que poderia ser aplicado por aspersão com
uso de drones. Ademais, em função da vasta dispersão da espécie principalmente na Flo-
resta Atlântica e do vigor de persistência, a erradicação não é considerada viável. O contro-
le biológico é ideal para esses casos e serve igualmente para conter novos focos de invasão
por espécies como essa em novas áreas, nesses casos no contexto da detecção precoce,
em função de alcançarem áreas amplas, incluindo áreas de difícil acesso, com especifidade
às plantas-alvo. A adoção de controle biológico é facilitada quando há referências de con-
trole para a espécie, ou para espécies congêneres, em outros países, com agentes já identi-
ficados. Precisa, porém, ser realizado com base científica, seguindo protocolos específicos
por instituições especializadas no assunto e a legislação vigente, incluindo análise de risco

56
anterior à introdução e as devidas autorizações concedidas pelo IBAMA.
Animais
A definição de métodos de controle para animais exóticos invasores depende diretamen-
te da espécie em questão. No caso de plantas, é mais viável definir métodos de trabalho
com base nas formas de vida das espécies, porém as espécies animais estão distribuídas
em um número infinitamente maior de grupos biológicos e formas de vida. A aplicação
da estratégia de detecção precoce através do estabelecimento de rotinas de vigilância ou
monitoramento para espécies e áreas prioritárias é chave para maximizar as oportunida-
des de erradicação. Para tanto, podem ser usadas armadilhas fotográficas e outros meios
digitais de vigilância, aproveitar programas de monitoramento ambiental existentes e en-
volver o público no âmbito da ciência cidadã. Um panorama geral de métodos de controle
é apresentado a seguir para prover base técnica, porém as distintas situações de invasão
requerem planejamento específico e não podem ser generalizadas.
O controle de animais exóticos invasores tende a incluir a necessidade de realização de ajustes
ao longo do tempo, pois os animais tendem a aprender a evitar ou se defender de técnicas em-
pregadas repetidamente. Isso significa que, com o tempo, a aplicação de um método repetitivo
perde eficácia, sendo preciso mudar de método ou de estratégia de controle. Assim, é importante
considerar, desde o início, um bom universo de opções, conforme apresentadas em materiais de
referência como o Guia de Orientação para o Manejo de Espécies Exóticas Invasoras em Unida-
des de Conservação Federais (ICMBio, 2019) e o Manual Prático para o Controle de Vertebrados
em Ilhas de Espanha e Portugal (Orueta, 2002), e aplicá-las em momentos distintos, conforme o
contexto. Um apanhado de técnicas está organizado na Tabela 7, por grupo biológico. Sempre
que possível, o apoio de pessoas com experiência em manejo e de especialistas nos distintos gru-
pos ou espécies é importante para aumentar a eficácia das ações e maximizar as oportunidades
de erradicação dos focos de invasão detectados. É comum, ainda, o uso de mais de um método
nas ações de controle, para complementação e aumento da eficácia.
Captura
A captura de animais exóticos invasores pode ser realizada através do uso de ferramentas
diversas, como armadilhas do tipo jaula, no caso de mamíferos, puçás, covos, e redes, no
caso de répteis e anfíbios que também usam o meio aquático, como a tartaruga-tigre-d’água
(Trachemys spp.) e a rã-touro (Aquarana catesbeiana). A fim de evitar impactos sobre a fauna
nativa, costuma-se utilizar armadilhas de captura não letais. Isso implica a necessidade de re-
visar as armadilhas ao amanhecer, evitando assim deixar algum animal preso que possa so-
frer estresse excessivo ou desidratação. Animais nativos capturados são liberados, e animais
exóticos, apreendidos. Animais exóticos capturados não podem ser devolvidos à natureza
(art. 33 da Instrução Normativa IBAMA nº 19, de 19 de dezembro de 2014; e arts. 21-22-23 da
Instrução Normativa IBAMA nº 23, de 31 de dezembro de 2014).
Abate com arpão
No caso da rã-touro (Aquarana catesbeiana), pode ser utilizado arpão no controle, levando
ao abate do animal. O trabalho é realizado à noite, geralmente ao redor de açudes ou lago-

57
as, com uso de lanternas para facilitar a visualização das rãs, já que os olhos delas brilham
quando atingidos pelo facho da lanterna.
Abate com arma de fogo
O abate com arma de fogo é permitido para o javali (Sus scrofa) no Brasil, regulamentado
pela Instrução Normativa IBAMA nº 3, de 31 de janeiro de 2019, e a Instrução Normativa
IBAMA nº 12, de 25 de março de 2019. O abate de outros animais exóticos invasores requer
autorização do IBAMA, porém está em processo de elaboração uma norma específica para
esse fim, em função de processos de invasão biológica por outras espécies de mamíferos
como o cervo axis (Axis axis).
Uso de iscas de veneno
O uso de iscas de veneno para controle de animais exóticos invasores é realizado em
condições controladas ou em ilhas oceânicas onde o risco de eliminação de espécies
não alvo é baixo, seja porque não ocorrem espécies nativas que podem consumir o
veneno, seja porque são criadas condições de baixo risco por confinamento, cevas
monitoradas, ou armadilhas concebidas para esse fim, como no caso de roedores.
Requer autorização específica do órgão ambiental responsável.
No Brasil, a lei de proteção à fauna silvestre (Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967) inclui,
no art. 10, a determinação de que “a utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de
espécimes da fauna silvestre são proibidas a) com visgos, atiradeiras, fundas, bodoques,
veneno, incêndio ou armadilhas que maltratem a caça”. Esta lei se aplica à fauna silvestre e
não distingue entre espécies nativas e exóticas invasoras, além de mencionar a caça.
Métodos contraceptivos
A captura de animais exóticos seguida de esterilização ou castração não é um méto-
do de alta eficiência, pois, se devolvidos à natureza, ainda que não reproduzam mais,
muitos seguem impactando a fauna nativa durante muitos anos, como no caso de sa-
guis (Callithrix spp.), que, embora nativos do Brasil, são invasores fora de suas áreas
de distribuição natural. O mesmo se aplica a cães (Canis familiaris) e gatos (Felis catus)
ferais, porém a esterilização de cães e gatos domésticos é desejável a fim de reduzir a
população desses animais e a tendência ao abandono de crias.
Cercas para isolamento
O uso de cercas pode ser de utilidade para isolar áreas que ficam livres de EEIs e ajudam
a promover a recuperação de populações de espécies nativas, como no caso de aves ma-
rinhas em ilhas oceânicas invadidas por gatos ferais, ou a restauração da vegetação, como
no caso de áreas invadidas por cabras (Capra hircus) e javalis (Sus scrofa).

58
Tabela 7 – Métodos de controle de fauna exótica invasora

Grupo Controle mecânico Controle químico / outros

Coleta manual com uso de luvas


Captura com uso de puçá
Uso de iscas como atrativos químicos
Coleta e incineração
Uso de iscas de veneno (ex.: formigas)
Invertebrados Eliminação de estruturas com água
parada para evitar a proliferação de Aplicação de inseticidas e pesticidas
mosquitos em situações controladas
Remoção manual de colmeias de
abelhas e insetos análogos

Coleta de ovas na época reprodutiva


Captura com puçá ou rede
Abate com arma de pressão
(preferencialmente arma com refil de
gás, calibre 5,5 mm) ou arpão
Captura com rede de arrasto
(tipo ‘picaré’ com mínimo 10 m de
comprimento, malha inferior a 20
mm e 2 m de altura) para remoção
de indivíduos adultos, durante a fase
clara do dia
Anfíbios
Captura de indivíduos em estágio
larval e jovens com o uso de redes de
arrasto e puçás (preferencialmente
malha fina – tela de mosquiteiro)
Realização de eutanásia com o uso de
solução formada por álcool absoluto
(100%) e água, na proporção de um
para um (1:1), em recipiente próprio
para esta função (vasilha com tampa)
Incineração ou enterro dos indivíduos
capturados

Répteis Captura e abate/eutanásia

59
Grupo Controle mecânico Controle químico / outros

Captura e eutanásia
Aves Doação para zoológico ou posse
responsável, se possível

Métodos aplicados a vários grupos


Abate com arma de fogo
Captura e abate/eutanásia

Roedores Roedores
Captura com armadilha de gaiola ou Uso de iscas de veneno em condições
pitfall e eutanásia controladas, especialmente
Brodifacoum
Animais domésticos em áreas naturais
Captura e confinamento; devolução Animais domésticos em áreas naturais
Mamíferos ao dono com aviso para contenção em Uso de iscas de veneno em condições
casa controladas
Captura e doação a terceiros fora da
UC, quando não feral
Quando feral, captura e eutanásia

Espécies nativas de outra região do


Brasil
Captura e repatriação, quando viável
Captura e eutanásia, quando a
repatriação não é viável

Fonte: Compilação do autor

2.3.8 Monitoramento posterior e repasse

Esta etapa é realizada após as ações de resposta rápida para verificar a eficácia dos resul-
tados de controle, monitorar o surgimento de novos focos de invasão e, em caso positivo,
continuar com as ações de resposta. Esta etapa foi detalhada anteriormente na descrição
da vistoria, que envolve a possibilidade de erradicação imediata (P16 e P17), assim como
a repetição de esforços de controle (repasse do controle) com a aplicação dos mesmos
métodos ou de métodos ajustados para melhorar a eficácia dos resultados, com vistas a
atingir a erradicação e o encerramento do Protocolo (P6).
Dois exemplos de aplicação do Protocolo para o ambiente terrestre estão disponíveis no
Apêndice 5.

2.3.8.1 Avaliação de eficácia das ações de resposta


A avaliação de eficácia das ações de resposta (P15) precisa ser realizada a fim de:
a) verificar se os métodos de controle aplicados estão funcionando ou não (P15), caso
em que precisam ser revistos e ajustados para ganharem eficácia (voltar à etapa P28);
b) fundamentar a tomada de decisão quanto à continuidade ou não das ações de
controle com vistas à erradicação (P17).
60
O objetivo de implementar medidas de controle é, idealmente, a erradicação da EEI. A
maior parte dos métodos empregados são mecânicos e a sua eficácia depende do nível da
invasão e da resposta rápida. Sendo assim, quanto mais rápido ocorrer a detecção, maior
será a eficácia do método empregado, pois menores serão as chances de que a espécie-al-
vo tenha se reproduzido, e, presumivelmente, ainda ocupará uma área pequena.
As avaliações de eficácia de uma ação de resposta devem ser baseadas na verificação da
redução ou não da população da espécie-alvo, obtida através de atividades de monito-
ramento. A técnica de monitoramento a ser empregada deve ser ajustada à espécie e ao
local. Especialistas da Rede de Colaboradores podem apoiar essas definições quando ne-
cessário. Por exemplo: foi realizado monitoramento da população de um anfíbio exótico
invasor através de transectos para estimar o tamanho da área de invasão; após as ações
de resposta rápida, na etapa de monitoramento seguinte, a população, ou o número de
registros do táxon, deverá ser menor.
Podemos considerar que, se a população da EEI diminuiu ou foi erradicada após as pri-
meiras ações de resposta rápida, o controle teve boa eficácia; se continuou do mesmo ta-
manho, a eficácia foi baixa; e, se a população aumentou, não foi eficaz. Nesse último caso,
será necessário retornar às ações de planejamento para definir outro método ou ajustar o
utilizado, para que o controle possa ser mais eficaz. Se, depois de todas as tentativas pos-
síveis (métodos, parcerias, recursos etc.), a população da EEI não for reduzida, será preciso
discutir se as ações devem continuar no âmbito da detecção precoce ou ser transferidas
para outro programa, levando ao encerramento do Protocolo, já que possivelmente passa-
rá a ser um caso de controle continuado.
Caso a erradicação não seja possível logo nas primeiras ações de resposta, espera-se que
se elimine pelo menos 80% da população invasora para que o método utilizado demons-
tre boa eficácia e para que diminua o esforço em cada repasse realizado, aumentando as
chances de erradicação.
Plantas
De modo geral, avalia-se a eficácia do controle com base na mortandade das plantas-alvo
após a ação de controle. O tempo de avaliação é menor para gramíneas e plantas herbá-
ceas, entre 15 e 40 dias, e mais longo para arbustos e, especialmente, para árvores, que
podem reagir em até seis meses ou mais, dependendo da espécie, do contexto ambiental e
do método empregado. Sabendo-se que o ideal é atingir 100% de mortandade, resultados
na casa de 70 a 80% são aceitáveis, devendo ser ajustados para ganhar eficácia sempre que
factível. Resultados inferiores a essas proporções, porém, indicam que os métodos devem
ser revistos.
A avaliação de eficácia do controle mecânico de plantas é bastante simples, pois o indicador de
resultado é a produção ou não de novos brotos. Se a planta tem capacidade de brotação após o
corte e não pode ser eliminada por arranquio, é preciso usar métodos de controle químico para
estancar a brotação. A quase totalidade das plantas rebrota quando cortada; portanto, é fun-
damental verificar essa característica na etapa de planejamento a fim de evitar perda de tempo
com métodos previsivelmente ineficazes.

61
No uso de controle químico, a eficácia desejada é de 100% de mortandade. Ao eliminar 70 ou
80% das plantas-alvo, pode-se aumentar a concentração de um herbicida na solução aplicada ou
agregar aditivos como surfactantes, emulsionantes e outros para melhorar a absorção. Essa de-
cisão depende das características das plantas-alvo, por exemplo, folhas pilosas, cutícula grossa,
folhas transformadas em espinhos e outras características que dificultam a absorção do herbi-
cida. Em geral, se a eficácia é muito baixa, o princípio ativo pode não ser adequado à espécie e é
preciso buscar informação sobre outros princípios ativos, ou mesclar diferentes produtos. Para
tanto, recomenda-se buscar apoio técnico de pessoas com experiência no manejo de plantas
exóticas invasoras em ambientes naturais. O apoio de pessoas com experiência no controle de
plantas daninhas em ambientes agrícolas é também importante, devendo-se sempre verificar
as características de produtos indicados, em especial a persistência ambiental, a exsudação pelo
sistema radicular e o potencial de contaminação de solo e água e de impacto a espécies não alvo.
Quando, apesar de mudanças de métodos e múltiplas tentativas de erradicação, a in-
vasão não é controlada e aumenta, fugindo do controle, ou ainda quando os recursos
disponíveis são exauridos, não há pessoal disponível nem oportunidades para estabe-
lecer parcerias, pode-se chegar à conclusão de que a erradicação é inviável e encerrar o
Protocolo. Nesses casos, é importante que o problema seja comunicado às pessoas res-
ponsáveis pela área em questão, devendo-se buscar formas de manter o controle para
tentar evitar a expansão do processo de invasão.
O tempo de monitoramento posterior às ações de controle depende, basicamente, da via-
bilidade do banco de sementes da espécie no solo, que também define o período em que
é preciso manter ações de controle de forma contínua. Na falta dessas informações (pois
nem sempre estão disponíveis), é importante estabelecer rotinas de monitoramento perió-
dico para avaliação da eficácia de métodos já aplicados, ao mesmo tempo que se mantêm
em curso ações de eliminação de novas plântulas ou rebrotas.
Animais
A lógica de fazer inferências sobre a eficácia do controle se fundamenta na redução da
população-alvo ao longo do tempo. A eficácia de 100% é a meta, ou seja, busca-se acima
de tudo a erradicação da espécie ou do foco de invasão no local em questão. A eficácia
é estimada a partir da redução gradativa da população, com a eliminação de espécimes
superior à geração de novos indivíduos, até atingir o extermínio. A fim de mensurar o
progresso com populações animais, é preciso realizar amostragens ou observações sis-
temáticas. Esse processo envolve alguns desafios, como encontrar indivíduos que, ao
se deslocarem em função de ações de controle, podem dar a impressão de terem sido
eliminados, ou ainda desenvolver comportamento fugidio, dificultando sua localização e
interferindo nos resultados.
O uso de métodos utilizados para fins de diagnóstico, envolvendo armadilhas fotográfi-
cas, caixas de pegadas e rotinas de monitoramento em campo, é acessório à definição da
eficácia de controle. Podem ser estabelecidos transectos fixos para monitoramento peri-
ódico, fazendo-se a contagem de indivíduos ou a verificação de pegadas. No caso de in-
vertebrados, é preciso realizar coleta. Recomenda-se realizar o monitoramento ao menos

62
a cada três meses, porém o tempo deve ser ajustado de acordo com o ciclo reprodutivo
das espécies. Animais que têm ciclos reprodutivos curtos e podem compensar a redução
populacional devida ao controle pela intensificação da reprodução precisam ser monitora-
dos e controlados com frequência maior, sempre com vistas a evitar que atinjam a idade
reprodutiva. Em áreas onde não existe informação prévia, pode ser preciso realizar um
inventário inicial para estabelecer uma linha de base para o monitoramento.
Estimativas de taxa reprodutiva e geração de descendentes ajudam a definir a eficácia do contro-
le (Berry; Kirkwood, 2010), portanto caracterizam processos prolongados e não ações isoladas.
Técnicas mais recentes incluem análises com marcadores de DNA para verificar a chegada de
indivíduos de outras áreas ou populações em uma população de animais invasores. Além disso,
a supressão de indivíduos adultos pode levar ao aumento da taxa reprodutiva como mecanismo
de compensação da população (Berry; Kirkwood, 2010), sendo importante avaliar que indivíduos
devem ser eliminados com maior prioridade.
Recomenda-se buscar parcerias com especialistas em distintos grupos biológicos, con-
forme o caso, para apoiar a avaliação de eficácia do controle. Isso é especialmente impor-
tante porque haverá necessidade, em algumas situações, da realização de amostragem
e coleta de material biológico, assim como de apoio especializado para confirmar a iden-
tidade de espécies.

63
Axis axis
©Ola Jennersten - WWF-Sweden

64 64
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversos desafios precisam ser vencidos para que a implementação de programas de de-
tecção precoce e resposta rápida possa ser realizada com sucesso, o que inclui a formação
de pessoas para que o processo seja compreendido e posto em prática de forma eficaz,
com base no estabelecimento das Redes de Apoio e de Colaboradores. Para tanto, é tam-
bém essencial prover segurança jurídica para as pessoas envolvidas, com processos ágeis
de concessão de autorizações para coleta de espécimes e realização de ações de controle.
A integração e a comunicação entre as instituições e pessoas envolvidas nas ações de
resposta rápida são essenciais para o funcionamento e a efetividade dessas ações. A
participação de especialistas na escolha de métodos de monitoramento e controle para
diferentes grupos de organismos pode ser de grande valia, pois sua definição envolve
múltiplos fatores e condições ambientais que precisam ser levados em conta.
Considerando que, uma vez em funcionamento, o órgão ambiental competente pode
receber um número de notificações que extrapola a capacidade de resposta das organi-
zações envolvidas, a análise dos casos é fundamental para que os recursos disponíveis
sejam aplicados a situações com maior viabilidade de erradicação de EEIs e/ou focos de
invasão biológica. Em função dessa realidade, o Protocolo foi ajustado para focar em
espécies de alto risco, buscando-se soluções paralelas para espécies de risco moderado
e de risco baixo, que requerem monitoramento, na medida do possível. As ações de res-
posta devem ter foco em situações viáveis e os resultados devem ser amplamente divul-
gados a fim de estimular a replicação das iniciativas no território nacional.
Ainda que o Protocolo possa ser aplicado a organismos de qualquer grupo biológico, o con-
trole de espécies em alguns grupos é mais factível do que em outros. Esses são os grupos
que devem receber atenção prioritária. Por exemplo, espécies microscópicas ou até mesmo
de pequeno porte são de difícil detecção, assim como sua identificação, fatores que dificul-
tam o controle efetivo. Dado que a capacidade de atuação é limitada em função da dimensão
continental do país, a menos que no futuro venham a surgir métodos que no momento não
estão disponíveis para controlar esse tipo de organismo, o foco da detecção precoce deve ser
voltado para casos de detecção que possam ter resultados positivos, com efetiva ação de er-
radicação ou controle eficaz. Espera-se que, ao longo do tempo e com experiência acumulada,
planos de resposta rápida disponíveis e uma série de ações executadas, as iniciativas possam
gradativamente contemplar também espécies consideradas de risco moderado ou baixo.
A veiculação de informações em campanhas públicas constitui uma estratégia comple-
mentar importante, tanto para facilitar a detecção de espécies como para viabilizar o
controle. Isso se aplica principalmente a espécies que podem ter impacto à saúde ou ao
bem-estar humano por serem agressivas ou vetores de doenças.
Pessoas interessadas em contribuir com programas de detecção precoce e resposta rápida de-
vem compreender o escopo de cada programa, os objetivos principais e os preceitos utilizados.
É importante que profissionais vinculados a esses programas se atualizem continuamente sobre
métodos de detecção precoce e alternativas de erradicação e controle. Além disso, o apoio à
formação de novos colaboradores é extremamente necessário e de alto valor para qualificar a
atuação dos agentes e melhorar a eficácia da detecção precoce e das ações de resposta rápida.

65
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68
GLOSSÁRIO
Análise de risco – Análise da probabilidade de introdução, estabelecimento e invasão de
uma espécie exótica e da magnitude das consequências, usando informação de base
científica e identificação de medidas que podem ser implementadas para reduzir ou
gerenciar esses riscos, levando em consideração questões socioeconômicas e culturais
(CDB, Decisão VI-23). O procedimento completo inclui identificação dos perigos, avalia-
ção, caracterização, gestão e comunicação dos riscos.
Controle – Medidas de manejo que, por meio de métodos mecânicos, químicos ou biológi-
cos, reduzem a abundância e/ou densidade de uma EEI para minimizar seu crescimento
populacional, dispersão e impactos.
Detecção precoce e resposta rápida – Conjunto de ações coordenadas que visam encon-
trar e erradicar espécies com potencial de invasão antes que se disseminem e causem
danos (United States Department of the Interior, 2016).
Erradicação – Medidas de manejo que levam à remoção total da população de uma EEI em
determinada área.
Espécie nativa – Espécie, subespécie ou táxon de hierarquia inferior ocorrendo dentro de
sua área de distribuição natural (passada ou presente), incluindo a área que pode alcan-
çar e ocupar através de seus sistemas naturais de dispersão (CDB).
Espécie exótica – Espécie, subespécie ou táxon de hierarquia inferior ocorrendo fora de
sua área de distribuição natural passada ou presente, incluindo qualquer parte, como
gametas, sementes, ovos ou propágulos, que possa sobreviver e subsequentemente
reproduzir-se (CDB, Decisão VI-23).
Espécie exótica invasora (EEI) – Espécie exótica cuja introdução e/ou dispersão ameaçam
a diversidade biológica (CDB, Decisão VI-23).
Estabelecimento – Processo de reprodução de uma EEI num ambiente novo, com descen-
dentes viáveis e probabilidade de sobrevivência contínua (CDB, Decisão VI-23).
Introdução de espécies – Movimento por ação humana, direta ou indireta, de uma espé-
cie exótica para fora de sua área de distribuição natural (passada ou presente). Esse mo-
vimento pode ocorrer dentro de um país, entre países ou em áreas além da jurisdição
nacional (CDB, Decisão VI-23).
Invasão biológica – Processo pelo qual uma espécie ou população é transportada para fora
de sua área de distribuição natural e introduzida em um novo ambiente onde se reproduz
gerando descendentes viáveis e se dissemina ampliando a distribuição geográfica e amea-
çando a diversidade biológica, com potenciais impactos à sociedade, à economia e à saúde.
Monitoramento – Série de observações regulares ou irregulares no tempo feitas para
mostrar o grau de conformidade com um padrão ou o grau de desvio das observações
esperadas.

69
Prevenção – Estratégias e medidas de gestão e manejo para evitar ou minimizar a chegada
ou a introdução de espécies exóticas em um dado ambiente ou local.
Princípio da precaução – Preceito que estabelece que quando existir ameaça de sensí-
vel redução ou perda de diversidade biológica, a falta de plena certeza científica não
deve ser usada como razão para postergar medidas que evitam ou minimizam essa
ameaça (CDB, Decreto Legislativo nº 2, de 5 de junho de 1992). Estratégia para lidar
com as incertezas científicas na avaliação e gestão de riscos (UNESCO, 2005).
Repasse do controle – Ações subsequentes à primeira ação de controle para nova aplicação
dos métodos já utilizados ou modificados a fim de melhorar a eficácia dos resultados.
Serviços ecossistêmicos – São os benefícios da natureza para as pessoas, vitais para
o bem-estar humano e para as atividades econômicas. A Avaliação Ecossistêmica do
Milênio (AEM), publicada em 2005, classifica os serviços ecossistêmicos em quatro
categorias: de provisão, de regulação, culturais e de suporte, também chamados de
apoio ou hábitat.
Vetor de introdução ou dispersão (vector) – Meio de introdução, como, por exemplo, navio,
contêiner de carga, materiais de embalagem, equipamentos ou veículos de transporte.
Via de introdução ou dispersão (pathway) – Processo que resulta na introdução de uma
espécie exótica de uma área geográfica para outra.
Vigilância – Processo oficial em que dados de ocorrência de espécies são coletados e
registrados por meio de pesquisas, monitoramento ou outros procedimentos.

70
APÊNDICE
APÊNDICE 1 – VIAS E VETORES DE INTRODUÇÃO E DISPERSÃO
Apresentamos a seguir um resumo das definições de vias/vetores de introdução e dis-
persão de EEIs, conforme o Guia de Interpretação elaborado por Harrower et al. (2018) e
adotado pela CDB. As categorias são: soltura na natureza, escape de confinamento, trans-
porte como contaminante, transporte como clandestino, corredores e sem ajuda humana.
Dentro de cada categoria há subcategorias que são detalhadas a seguir.

1 Soltura na natureza
As espécies são transportadas intencionalmente e liberadas em ambiente natural para ser-
vir a um propósito específico (mesmo que isso possa implicar que a espécie seja mantida
por um período em cativeiro ou em condições controladas antes da liberação).

1.1 Controle biológico


Espécies soltas no ambiente natural com a finalidade de controlar populações de um ou
mais organismos, como pragas e/ou patógenos, em sistemas agrícolas, florestais; controlar
espécies que representam uma ameaça direta à saúde humana; ou controlar EEIs.
Vertebrados e invertebrados terrestres são introduzidos para controle biológico. Por exem-
plo, a espécie de anfíbio Rhinella jimi sapo-cururu foi introduzida em Fernando de Noronha
entre as décadas de 1890 e 1970 com o objetivo de controlar insetos-praga (Forti et al., 2017).
O caramujo-da-malásia (Melanoides tuberculatus) foi introduzido em vários lugares do Brasil
para controle biológico de caramujos do gênero Biomphalaria, hospedeiros intermediários
de Schistosoma mansoni, agente causador da esquistossomose (Bógea et al., 2005).

1.2 Controle de erosão/estabilização de dunas (quebra-vento, cerca viva…)


Espécies soltas no ambiente natural para controlar o meio ambiente ou atuar como bar-
reiras físicas (por exemplo, estabilizar o substrato, controlar o movimento de animais ou
controlar a ação do vento, água ou fogo).
Plantas terrestres são introduzidas para controle de erosão e estabilização de dunas. O
sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), por exemplo, é originário da Caatinga, mas foi introduzido
como cerca viva em áreas de Mata Atlântica. Essa planta se expande rapidamente na Mata
Atlântica e impede que as espécies nativas se estabeleçam (Pessato; Dechoum, 2010).

1.3 Caça na natureza


Animais soltos no ambiente natural para serem caçados para alimentação e/ou para forne-
cer oportunidades de caça recreativa (incluindo coleta de troféus de caça).
Vertebrados terrestres são introduzidos para caça na natureza. A rã-touro (Aquarana
catesbeiana), por exemplo, é uma espécie introduzida em muitas regiões do mundo com

71
o propósito de criar estoques na natureza a fim de ser caçada para consumo humano
(Harrower et al., 2017).

1.4 Melhoramento de paisagem / flora / fauna na natureza


Espécies soltas no ambiente natural apenas por razões estéticas (incluindo os colonizado-
res no passado) para “melhorar” a flora ou fauna e/ou tornar novas regiões mais familiares.
Foi comum na colonização europeia; hoje podem ser introduzidas também na construção
de infraestruturas verdes em obras de engenharia.
Plantas e vertebrados terrestres são introduzidos para melhoramento de paisagem.

1.5 ntrodução para fins de conservação


Espécies soltas no ambiente natural para auxiliar na sua conservação ou manejo da vida
selvagem. Introdução, reintrodução ou translocação de espécies a novas áreas para ma-
nutenção de uma espécie, ou soltura de espécies que sirvam de alimento ou moradia para
espécies nativas. O objetivo principal da soltura de espécies nessa via é a de conservação
de alguma espécie nativa ou de um ambiente.
Plantas e vertebrados terrestres são introduzidos para fins de conservação.

1.6 Soltura na natureza para uso (outros fins além dos citados acima)
Espécies soltas no ambiente natural para serem usadas por humanos para outros fins que
não caça, pesca, controle/barreiras ambientais ou conservação, e não introduzidas apenas
por razões estéticas, por exemplo, introdução para fins alimentares, mercado de pele, bior-
remediação, fauna polinizadora.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são considerados nesta subcategoria.

1.7 Outra soltura intencional


Espécies soltas no ambiente natural por razões diferentes das opções anteriores, como
soltura de animais em celebrações religiosas.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são considerados nesta subcategoria.

2 Escape de confinamento
Espécies que escaparam de ambientes confinados e controlados onde foram mantidas para
uma série de objetivos. Incluem-se aqui a liberação acidental ou o despejo/soltura por criado-
res irresponsáveis.

2.1 Agricultura (inclusive biocombustíveis a partir de biomassa)


Espécies que escaparam do confinamento ou ambientes controlados onde foram culti-
vadas por razões agrícolas, incluindo a produção de bioenergia de culturas/commodities
agrícolas e excluindo animais e espécies aquáticas que são cultivadas.

72
Plantas terrestres são incluídas nesta subcategoria. Por exemplo, a cana-do-reino (Arundo
donax) é cultivada por ter crescimento rápido e usada para produção de combustível, fibras
e celulose. Ameaça, principalmente, hábitats ribeirinhos. No Brasil, há registro de invasão
pela espécie em Brasília (Simões, 2013).

2.2 Jardim botânico / zoológico / aquário (exceto aquários domésticos)


Espécies que escaparam do confinamento e que foram mantidas para exibição, educação
ambiental ou programas de reprodução de conservação em jardins botânicos, zoológicos
ou aquários.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

2.3 Espécie de aquário / terrário / pet (inclusive comida viva para essas espécies)
Espécies que escaparam do confinamento ou de ambientes controlados onde foram man-
tidas por colecionadores particulares ou amadores para recreação, diversão, companhia e/
ou comércio. Essa via não inclui os parasitas transportados junto com as espécies e inclui
a soltura irresponsável de espécies no ambiente.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria. Por
exemplo, a tartaruga Trachemys scripta é nativa da América do Norte e foi introduzida em
muitas regiões do mundo. Esta espécie é um dos répteis mais comumente comercializados
no comércio de animais de estimação, e em muitas regiões as introduções são por meio da
fuga ou liberação de animais de estimação (Harrower et al., 2017).

2.4 Animais domésticos (inclusive animais de criação sob controle limitado)


Espécies que escaparam do confinamento, em ambiente terrestre, onde foram mantidas
com o objetivo principal de fornecer alimentos, recursos (como lã, couro) e/ou como ani-
mais de trabalho, inclusive usados para produção de bioenergia. São excluídas espécies
aquáticas e usadas para o mercado de pele.
Vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

2.5 Animais domésticos (inclusive animais de criação sob controle limitado)


Espécies que escaparam de ambientes controlados ou confinados onde são cultivadas e
manejadas para silvicultura e/ou produção de madeira ou lenha.
Plantas terrestres são incluídas nesta subcategoria.

2.6 Produção florestal (inclusive reflorestamento)


Espécies que escaparam de ambientes controlados ou confinados onde são cultivadas e
manejadas para silvicultura e/ou produção de madeira ou lenha.
Plantas terrestres são incluídas nesta categoria. Por exemplo, espécies do gênero Pinus
são cultivadas no Brasil para silvicultura e invadem ambientes campestres e restingas nas
regiões Sul e Sudeste do Brasil (Miashike, 2015).

73
2.7 Fazendas de peles de animais
Espécies que escaparam do cativeiro ou de ambientes controlados onde foram criadas
para produzir pele. Esta via inclui a soltura irresponsável ou “fuga facilitada” de espécies no
ambiente.
Vertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

2.8 Plantas cultivadas


Espécies de plantas terrestres que escaparam de ambientes confinados ou controlados
onde foram cultivadas comercialmente para outros fins que não agricultura, silvicultura ou
aquicultura/maricultura. Espécies de plantas mantidas para fins medicinais, de decoração,
em viveiros, estufas, de onde podem escapar, ou durante o transporte.
Não se inclui a flora do aquário e do terrário, bem como outras espécies (inclusive algas,
fungos etc.) mantidas em relação ao comércio de aquários e terrários, que devem ser con-
sideradas em “Espécie de aquário / terrário / pet (inclusive comida viva para essas espé-
cies)”, a não ser que o escape se dê nas instalações de cultivo.
Plantas terrestres são incluídas nesta subcategoria.

2.9 Fins ornamentais (exceto produção alimentar)


Espécies da flora que escaparam de ambientes confinados ou controlados onde foram in-
troduzidas por razões decorativas ou ornamentais, excluindo a horticultura comercial. Re-
fere-se a escape de coleções particulares/ambientes paisagísticos mantidos por amadores.
Abrange apenas a flora, e não a fauna, que nesse caso entra na via de “Espécie de aquário
/ terrário / pet (inclusive comida viva para essas espécies)”.
Plantas terrestres são incluídas nesta subcategoria. Por exemplo, a trepadeira madressilva
(Lonicera japonica) é nativa do Japão e amplamente cultivada para fins ornamentais. Invade
ambientes de Floresta Ombrófila Mista, onde pode sufocar a floresta nativa por formar
tapete contínuo sobre a vegetação (Fatma, 2016).

2.10 Pesquisa e criação ex situ (em instituições)


Espécies que escaparam do confinamento ou ambientes controlados onde foram man-
tidas e/ou criadas para uso em pesquisas. Essa via inclui a soltura irresponsável ou “fuga
facilitada” de espécies no ambiente.
Vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

2.11 Comida viva e isca viva


Espécies que escaparam do confinamento ou ambientes controlados onde foram manti-
das e/ou transportadas como alimento vivo (para consumo de humanos ou animais), ou
isca viva (exceto alimentos vivos dados a espécies de animais de estimação).
Vertebrados e invertebrados terrestres foram incluídos nesta subcategoria.

74
2.12 Outro escape de confinamento
Espécies que escaparam de ambientes confinados ou controlados onde foram introduzi-
das por quaisquer razões diferentes das cobertas pelas outras categorias, como, por exem-
plo, circos, lojas de animais, fuga de animais usados para práticas e cerimônias religiosas.
Vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

3 Transporte como contaminante


Espécies introduzidas de forma não intencional ou acidental por meio do movimento de
outros organismos ou materiais e produtos orgânicos.

3.1 Contaminação em material para viveiros


Espécies como propágulos de plantas, animais e fungos, liberadas involuntariamente como
contaminantes em plantas ou material vegetal associado ao comércio de viveiros comerciais,
excluindo contaminantes transportados por sementes ou contaminantes que são parasitas.
Contaminantes incluídos em materiais associados a plantas cultivadas ou transportadas
(solo, turfa, cobertura morta, serrapilheira, vasos) apenas para a manutenção da planta
devem ser considerados nesta subcategoria.
Plantas e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

3.2 Isca contaminada


Espécies introduzidas involuntariamente como contaminantes em iscas usadas para con-
sumo animal. Iscas vivas, congeladas ou preservadas, como peixes, vermes e outros tá-
xons (por exemplo, larvas de insetos), são importados e transportados com a finalidade
de alimentar ou pegar peixes ou invertebrados. Esses táxons podem abrigar contami-
nantes, patógenos e parasitas, e, portanto, o armazenamento, uso ou descarte de isca
podem ser uma via de introdução para essas espécies contaminantes.
Invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

3.3 Contaminação de comida (inclusive comida viva)


Espécies introduzidas involuntariamente como contaminantes de alimentos, incluindo ali-
mentos vivos. Esporos, fungos, insetos, parasitas, propágulos transportados com produtos
agrícolas ou comida viva (comidos ou cozidos vivos).
Plantas e invertebrados terrestres foram incluídos nesta subcategoria.

3.4 Contaminantes em animais (exceto parasitas, espécies transportadas pelo


hospedeiro / vetor)
Espécies introduzidas acidentalmente como contaminantes em animais (vivos ou não) para
criação (além do uso para alimentação) transportados por meio de atividades relacionadas

75
ao homem. Inclui o material/meio usado para seu transporte. Incluem-se aqui o material
do solo em cascos ou pés, sementes de plantas, invertebrados e outros contaminantes no
corpo e pelagem de animais, ou sementes transportadas no trato digestório.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

3.5 Parasitas em animais (inclusive espécies transportadas pelo hospedeiro e vetor)


Espécies de parasitas transportadas acidentalmente por um animal hospedeiro ou um ani-
mal que atua como vetor. Incluem-se também organismos patogênicos.
Invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

3.6 Contaminantes em plantas (exceto parasitas, espécies transportadas pelo


hospedeiro / vetor)
Espécies introduzidas acidentalmente como contaminantes em plantas ou produtos vege-
tais transportados por meio de atividades relacionadas ao homem (excluindo parasitas,
sementes e espécies associadas a comércio de viveiro).
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

3.7 Parasitas em plantas (inclusive espécies transportadas pelo hospedeiro e vetor)


Introdução não intencional de organismos parasitas transportados por uma planta hospe-
deira ou por uma planta que atua como vetor..
Invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

3.8 Contaminação em sementes


Espécies introduzidas como contaminantes de sementes, com exceção das sementes utili-
zadas para consumo humano.
Plantas e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

3.9 Comércio de madeira


Espécies introduzidas acidentalmente como contaminantes na madeira ou produtos deri-
vados da madeira, como patógenos, fungos ou sementes de outras espécies. Essa via se
refere ao comércio de madeira não processada.
Plantas e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

76
3.10 Transporte de material natural (solo, vegetação etc.)
Espécies introduzidas involuntariamente como contaminantes do material do hábitat que
inclui solo, vegetação, produtos de madeira, como lascas e cobertura morta, palha etc.,
quando esses produtos são o foco do comércio e não simplesmente transportados com
plantas.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

4 Transporte como clandestino


Espécies introduzidas em ambientes naturais como passageiros clandestinos acidentais
ou por caronas em uma variedade de vetores.

4.1 Contêiner/volume
Espécies introduzidas como passageiros clandestinos acidentais em contêineres, frete a gra-
nel, frete aéreo, frete ferroviário etc. (por exemplo, contêineres de transporte, outra carga
em caixas).
Os passageiros clandestinos acidentais (incluindo insetos, répteis, mamíferos e até pás-
saros) escondidos em ou sobre contêineres de transporte podem ser transportados
entre locais e países por terra, mar ou ar e introduzidos em novos ambientes.
Vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

4.2 Presença clandestina sobre/dentro de avião


Espécies que foram introduzidas acidentalmente por ser um carona em ou sobre aviões e
outras aeronaves (por exemplo, helicópteros, planadores).
Vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

4.3 Presença clandestina em navio/embarcação (exceto água de lastro


e bioincrustação)
Espécies que foram introduzidas involuntariamente por carona em navios, barcos ou ou-
tras embarcações (por exemplo, submarinos), mas excluindo espécies transportadas em
água de lastro ou via incrustação do casco. Esta subcategoria não inclui espécies contami-
nantes de outras espécies transportadas (intencionalmente ou não) por navios ou barcos,
nem espécies associadas a qualquer carga, contêineres, embalagens, pessoas ou bagagem
transportada pelo navio ou barco.
Vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

4.4 Maquinário/equipamento
Espécies que foram introduzidas involuntariamente por ser um carona em ou sobre má-
quinas ou equipamentos, como veículos, equipamento militar e qualquer outro material

77
transportado entre locais, por exemplo no caso de missões de socorro e resgate, sendo
transportados entre locais.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

4.5 Pessoas e bagagens/equipamento (especialmente turismo)


Espécies que foram introduzidas involuntariamente por serem clandestinos em ou so-
bre pessoas e suas bagagens ou equipamentos pessoais entre locais (em escala local,
nacional, regional ou internacional) para fins de lazer, recreação, pesquisa, turismo. A ca-
tegoria é voltada especialmente para turistas, mas abrange todas as pessoas que viajam
entre as regiões.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

4.6 Material de embalagem orgânico, em especial de madeira


Espécies que foram introduzidas involuntariamente por serem clandestinos em ou sobre
materiais de embalagem, como paletes, caixas, sacos, cestos, embalagens, tubos, engrada-
dos, carretéis, estrume etc., provenientes de material orgânico, como madeira não proces-
sada, cana, produtos vegetais etc., usados para transportar mercadorias e cargas.
Plantas e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

4.7 Veículos (carro, trem etc.)


Espécies que foram introduzidas acidentalmente por andar de carona em ou sobre veícu-
los como carros, vans, caminhões, caminhões, trens etc., que não são cobertos por outras
vias clandestinas. Essa via inclui qualquer espécie transportada como clandestina em qual-
quer veículo que não seja coberto pelas outras vias clandestinas.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

4.8 Outro meio de transporte


Espécies que foram introduzidas involuntariamente por andarem de carona em ou sobre
outros meios de transporte que não aqueles já cobertos por outras vias.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

5 Corredores
Espécies se espalhando para novas regiões ao longo de corredores de infraestrutura cria-
dos artificialmente, como pontes, túneis e canais.

78
5.1 Túneis e passagens terrestres
Espécies que se espalham para novas regiões por dispersão através de túneis ou pontes
terrestres, ou outras infraestruturas, como estradas e ferrovias.
Túneis e pontes podem ter uma função semelhante para a flora ou a fauna, pois permitem
que as espécies se espalhem para novas regiões. Portanto, eles têm o potencial de ser um
caminho para a disseminação de espécies exóticas.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

6 Sem ajuda humana


Espécies que se espalham para novas regiões por dispersão natural, sem ação ou ajuda
humana, de regiões onde eram exóticas e foram introduzidas por uma ou outra categoria
de via anterior.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.

79
APÊNDICE 2 – DIRETÓRIO DE FONTES DE INFORMAÇÃO E CONTATOS

Apêndice 2.1 – Potenciais colaboradores e contatos de especialistas


Abaixo apresentamos uma relação de instituições, setores e pessoas com potencial para
integração à Rede de Colaboradores, relacionados ao ambiente terrestre.
Exemplos de instituições ou setores que já atuam
Área de atuação
na área de EEIs / Taxonomistas

Departamento de Fitotecnia (UFRR) – Prof. José Beethoven


Figueiredo Barbosa
Laboratório de Ecologia de Invasões, Manejo e Conservação (LEIMAC
– UFSC), Prof. Michele de Sá Dechoum
Laboratório de Ecologia de Invasões e Conservação da
Biodiversidade (UFLA), Prof. Rafael D. Zenni
Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC – UFPR), Prof. Jean
Vitule
Laboratório de Ecologia e Conservação (LAEC – USP)
Laboratório de Ecologia e Conservação da Biodiversidade (LECoB –
Instituições de ensino e
UFS)
pesquisa, com foco em
Laboratório de Hidrologia e Ecologia Florestal, Floresta Estadual de
profissionais da área
ambiental e afins que Assis, Instituto Florestal – SP
trabalham na área de Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação, Instituto de
invasões biológicas Biociências (LEPAC - USP)
Laboratório de Ecologia de Peixes e Invasões Biológicas
Ações: monitoramento, (Universidade Estadual de Londrina – UEL)
vistorias técnicas, ações de Laboratório de Herpetologia (UFSM)
manejo e identificação de Laboratório de Botânica, Museu de Ciências (UNIVATES – RS)
espécies Laboratório de Restauração Ambiental (UFAC), Prof. Marcus
Athaydes
Núcleo de Apoio Integrado à Pesquisa, Faculdade Adventista da
Bahia, Cachoeira-BA, Prof. Luiz Francisco Rocha e Silva
Coordenação dos Planos de Ação Nacional para Conservação de
Espécies Ameaçadas de Extinção (PAN Espécies Ameaçadas)
Coordenação do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa
Duração (PELD)
Coordenação do Programa Monitora – Unidades de Conservação
Federais ICMBio

Plantas terrestres, Marcelo Leandro Brotto (Museu Botânico


Taxonomia Municipal de Curitiba – MBM – PR)
Plantas terrestres, Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio
de Janeiro (JBRJ) – diversos especialistas

Associações de pescadores
e piscicultores, criadores
de animais, produtores de
A definir conforme áreas de atuação prioritárias do PNADPRR
plantas e outras
Ações: monitoramento,
ações de manejo

80
Exemplos de instituições ou setores que já atuam
Área de atuação
na área de EEIs / Taxonomistas

Organizações da sociedade
civil com atuação na área Instituto Brasileiro de Biodiversidade (BrBio), Rio de Janeiro
ambiental e/ou outras Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental,
relacionadas ao tema
Santa Catarina
Ações: manutenção
Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA) – São Paulo
de bases de dados de
informações ambientais, Conservação Internacional
geração de notificações, WWF Brasil
monitoramento, vistorias Instituto Tríade
técnicas, ações de manejo

Empresas públicas e/
ou privadas que atuam
em áreas naturais e/ou
educação ambiental, como
operadoras de mergulho,
concessionárias de parques CCR Brasil, Rio Grande do Norte Pro Diver Centro de Mergulho,
nacionais, agências de Porto Rico – PR
ecoturismo e educadores
ambientais
Ações: monitoramento,
ações de manejo

Conselhos Profissionais Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Conselho Federal


afetos à área de interesse de Biologia (CFBio), Conselho Federal de Engenharia e Agronomia
Ações: disseminação de (CONFEA) e Conselho Nacional de Controle de Experimentação
informações aos associados Animal (CONCEA)

Cidadãos interessados em
contribuir com ações de
conservação ambiental,
como pessoas cadastradas
para realizar o abate
de javali (Sus scrofa)
conforme regulamentação
legal, pesquisadores e
profissionais autônomos, A definir conforme áreas de atuação prioritárias do PNADPRR e
moradores em áreas de indicações de integrantes do GAT e da Rede de Apoio ao PNADPRR
interesse com apreço pela
natureza

Ações: monitoramento,
ações de manejo com
orientação da coordenação
do processo de alerta

Fonte: Compilação do autor


81
Apêndice 2.2 – Fontes de informação sobre manejo e espécies
Base de Dados Global sobre Espécies Exóticas Invasoras. Invasive Species Specialist Group
(ISSG), Nova Zelândia.
Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras. Instituto Hórus de Desenvolvimen-
to e Conservação Ambiental. Florianópolis – SC.
Compêndio sobre Espécies Exóticas Invasoras. CABI, Reino Unido.
Global Biodiversity Information Facility (GBIF).
IBAMA. 2020. Manual de boas práticas para o controle do javali. Brasília, DF.
ICMBio. 2019. Guia de Orientação para o Controle de Espécies Exóticas Invasoras em Uni-
dades de Conservação Federais. Brasília – DF: ICMBio. 135p.
Orueta, J.F. 2002. Manual prático para o controle de vertebrados em ilhas de Portugal e
Espanha. Madrid, Espanha: Gestión y Estudio de Espacios Naturales - Projeto Life. 195p.
Specieslink: rede colaborativa que envolve coleções biológicas do país e do exterior.
INcluri o INCT Virtual da Flora e dos Fungos. Campinas SP: CRIA (Centro de Referência
em Informação Ambiental).
Tu, M.; Hurd, C.; Randall. J.M. Weed control methods handbook: tools and techniques for
use in natural areas. Davis, California: The Nature Conservancy. 219p.

Apêndice 2.3 – Listas de espécies exóticas invasoras (EEIs)


Lista oficial de EEIs do estado do Distrito Federal: Instrução Normativa nº 409/2018 – Ibram/Presi.
Lista oficial de EEIs do estado do Paraná: Portaria IAP 059/2015.
Lista oficial de EEIs do estado do Rio Grande do Sul: Portaria SEMA RS 79/2013.
Lista de EEIs do estado do Rio de Janeiro: Bergallo, H.G.; Silveira Filho, T.B.; Ziller, S.R. 2021.
Primeira lista de referência de espécies exóticas invasoras no estado do Rio de Janeiro –
Brasil: implicações para pesquisas, políticas e manejo. Bioinvasiones 8(1): 3-18.
Lista oficial de EEIs do estado de Santa Catarina: Resolução CONSEMA no 8/2012 e instru-
ções normativas complementares.

Apêndice 2.4 – Protocolos de análise de risco


O IBAMA vem desenvolvendo protocolos de análise de risco para diversos grupos biológi-
cos. Contato: Ivan Teixeira, e-mail [email protected]
Análises de risco disponíveis no website do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conser-
vação Ambiental: https://institutohorus.org.br/analise-de-risco-para-especies-exoticas/
Resultados de análises de risco por espécie disponíveis na Base de Dados Nacional de Es-
pécies Exóticas Invasoras: http://bd.institutohorus.org.br/especies

82
APÊNDICE 3 – EXEMPLOS DE PLANO DE RESPOSTA RÁPIDA NO AMBIENTE TERRESTRE
A seguir apresentamos dois planos de detecção precoce e resposta rápida elaborados com
base em dados e situações fictícias, com o objetivo de prover modelos de utilização.

Apêndice 3.1 – Detecção precoce de gramínea exótica invasora em UC estadual

Item do plano Descrição

Táxon Nome científico: Urochloa decumbens; Nome comum: braquiária

Breve descrição do local, incluindo o acesso e o tipo de ambiente e quaisquer


obstáculos ou dificuldades que a equipe executora possa encontrar para que
haja preparação adequada
O foco de invasão ocorre no alto de um morro, em área de campo rupestre.
A área é acessível a pé após 40 minutos de caminhada a partir da sede do
Caracterização Parque, por uma trilha que se encontra bem marcada. A última parte da
do local subida é bastante íngreme e pode ser escorregadia em dias de alta umidade.
A área está em ambiente de Refúgio Vegetacional Rupestre onde ocorrem
espécies raras e endêmicas, possivelmente algumas ameaçadas de extinção.
A braquiária tomou conta de cerca de 150 m² do campo, dominando o espaço
de plantas nativas, sendo que é praticamente exclusiva na área invadida. A
braquiária tem cerca de 60 cm de altura e já produziu sementes.

Nome da(s) pessoa(s) envolvida(s) e funções


Quem é responsável
pela coordenação e Renato Ribeiro, eng. florestal, M.Sc., chefe do Parque; apoio de dois guarda-
quem apoia? parques.
Autorização da gerência da UC para a execução do trabalho nº 076/2020.

Indicação do(s) método(s) de controle a ser(em) utilizado(s), preferencialmente


considerando métodos adicionais em caso de incerteza sobre a eficácia
Aspersão foliar com herbicida à base de Glifosato NA em diluição de 1% em água
limpa com corante. A aplicação será feita com pulverizador costal. O volume
aproximado de solução a ser utilizado é de 2-3 litros na primeira aplicação.
Método Aplicações subsequentes devem ser realizadas quando o capim estiver com
20-40 cm de altura, sempre antes de reproduzirem, para evitar a renovação
do banco de sementes no solo até que não se observe a germinação de novas
plantas. Quando houver poucas touceiras remanescentes e não for observada
a germinação de novas plantas, essas touceiras podem ser removidas de
forma mecânica, com uso de enxadete, desde que seja viável remover todo o
sistema radicular. O capim deve secar no prazo de 2-3 semanas.

Indicação de quando deve ser realizado o monitoramento de resultados das ações


de controle e o que a pessoa responsável deve fazer conforme a eficácia verificada;
pode repetir o método já empregado ou utilizar novo método já predefinido
O monitoramento após a primeira aplicação deve ser realizado no prazo
de 20-25 dias para verificação de eficácia. Caso não esteja 100% seco, fazer
Monitoramento nova aspersão foliar nas plantas que sobreviveram ao primeiro tratamento.
Monitorar em 30 dias, e assim sucessivamente, até que o banco de sementes
tenha sido exaurido e o foco de invasão erradicado, possivelmente no prazo
de dois anos. À medida que a população diminuir, a aspersão foliar em plantas
isoladas pode ser feita com pulverizador manual de compressão prévia com
menor volume e maior precisão de alvo. Quando, ao final do processo, houver
poucas plantas, elas podem ser removidas por controle mecânico com enxada.

83
Item do plano Descrição

Indicação de como deve ser avaliada a eficácia, conforme o grupo biológico e


o táxon em questão. Por exemplo, para plantas terrestres, a eficácia pode ser
considerada “boa” se a população alvo do controle diminuiu, “média” se não
aumentou e “baixa” se cresceu
A eficácia precisa ser avaliada com base na percentagem de plantas ou
área de plantas que secaram a partir da ação de controle. No caso de
Comprovação da gramíneas em alta densidade, é comum que uma parte das plantas não
eficácia seja atingida na primeira aplicação, pois há folhas que ficam por baixo
de outras. Por isso costuma-se realizar uma segunda aplicação 20-25
dias depois, quando o efeito do controle é claramente visível. A eficácia
deve, portanto, ser avaliada depois dessa aplicação complementar, em
que 90-100% do capim devem ter sido atingidos. As aplicações seguintes
serão realizadas em touceiras novas de capim que brotarão do banco de
sementes no solo, com eficácia esperada de 100% até atingir a erradicação.

Listar os materiais e equipamentos necessários para a realização das ações de


controle em campo, de modo que a pessoa responsável facilmente verifique se tem
tudo à mão antes de sair a campo e se os equipamentos estão em ordem e funcionais
Equipamentos e materiais:
• pulverizador costal 10-16 L;
• herbicida à base de Glifosato NA (aprox. 100 mL);
• corante para herbicida (30-50 mL);
• Equipamento de Proteção Individual (EPI) para aplicação de herbicidas
(botas de borracha, calças, túnica, gorro árabe, óculos de segurança,
Materiais, máscara com filtros e luvas de nitrila);
equipamentos • caixa plástica com tampa para transporte dos materiais de controle quí-
mico;
• 5 L de água limpa (livre de sedimentos) para preparo da solução de her-
bicida;
• água para lavar as mãos (opcional pulverizador manual de compressão
prévia 1,2 L);
• água para beber;
• veículo para deslocamento ao local;
• combustível para o veículo.
Tempo estimado de trabalho, incluindo o acesso ao local: 3-4 horas
Com base nos materiais, equipamentos e horas ou dias de trabalho necessários,
fazer uma estimativa de custos para registro
Materiais de consumo e combustível por ação de controle: R$ 15,00 a 20,00.
Estimativa de custos Equipamentos: R$ 40,00 (considerada depreciação de 10% dos respectivos
valores).
Total R$ 55,00 a R$ 60,00 por ação de controle, com redução gradual do custo
de materiais de consumo à medida que a invasão diminuir.

Com base na disponibilidade de pessoas, materiais, equipamentos e recursos de


custeio para as ações planejadas, explicar por que o plano de ação é considerado
viável ou não. Em caso negativo, buscar apoio de parcerias externas para
viabilizar a aplicação ou alterar o plano até chegar a uma alternativa viável
Análise de viabilidade Os equipamentos já estão disponíveis na UC, e os insumos serão adquiridos
para a execução. Dado que se trata de um foco de invasão de pequeno
tamanho, acesso relativamente fácil e de baixo custo e um ambiente
altamente suscetível à invasão por braquiária, o plano de ação é altamente
viável e de elevada prioridade.

Fonte: Compilação do autor


84
Apêndice 3.2 – Detecção precoce de ave em ambiente terrestre

Item do plano Descrição

Nome científico: Sturnus vulgaris; Nome comum: estorninho


Táxon
A espécie é nativa da Eurásia e extremo norte africano.
Breve descrição do local, incluindo o acesso e o tipo de ambiente e quaisquer
obstáculos ou dificuldades que a equipe executora possa encontrar para que
haja preparação adequada
Duas populações de estorninho foram observadas em uma área de campo
entremeada com áreas de floresta nas proximidades da Fazenda das Almas. As
aves fizeram ninho em buracos nas árvores, e foram observados 5 ovos num
Caracterização dos ninhos. O acesso ao local é feito pelo interior da fazenda, sendo preciso
do local obter permissão do proprietário (Sr. Diogo Fontes, tel.: 98453-7854). O caminho
de acesso leva à beira de um riacho, em cuja floresta ciliar estão as aves, e passa
por uma área úmida que pode ser intransitável após chuvas fortes. Os ninhos
observados estão nas árvores periféricas e as aves são facilmente observáveis
por terem porte relativamente grande e serem barulhentas e distintas das
demais aves da região. Os produtores locais estão preocupados com a presença
da ave em função do potencial impacto sobre cultivos agrícolas.

Nome da(s) pessoa(s) envolvida(s) e funções


Quem é responsável Sandra Rios, bióloga, M.Sc., Universidade Estadual do Rio Preto,
pela coordenação e Departamento de Ecologia ([email protected]), telefone: 99766-8932. Apoio:
quem apoia? Heitor Freitas, ornitólogo, pós-doutorando.
Autorização concedida pelo Instituto Ambiental Estadual (nº 455/2021).

Indicação do(s) método(s) de controle a ser(em) utilizado(s), preferencialmente


considerando métodos adicionais em caso de incerteza sobre a eficácia
Coleta de ovos dos ninhos e destinação a um zoológico. Captura com iscas em
Método
gaiolas instaladas nas proximidades. Poderá ser realizado abate com carabina
de pressão caso a eficácia não seja satisfatória. As ações de controle deverão ser
repetidas a cada 5-6 meses a fim de evitar que as aves possam se reproduzir.

Indicação de quando deve ser realizado o monitoramento de resultados das ações


de controle e o que a pessoa responsável deve fazer conforme a eficácia verificada;
pode repetir o método já empregado ou utilizar novo método já predefinido
O monitoramento após a primeira ação de controle deverá ser realizado
Monitoramento
a cada 60 dias. Deverá ser feita a contagem de animais para verificar se
houve redução populacional. Para tanto, serão definidos quatro pontos de
observação para cada população, de onde uma pessoa fará a contagem de
animais durante 30 minutos no horário vespertino a cada 60 dias.

Indicação de como deve ser avaliada a eficácia, conforme o grupo biológico e


o táxon em questão. Por exemplo, para plantas terrestres, a eficácia pode ser
considerada “boa” se a população alvo do controle diminuiu, “média” se não
aumentou e “baixa” se cresceu
A eficácia deve ser avaliada com base na redução populacional do estorninho.
Comprovação da
eficácia Se as populações estiverem diminuindo de tamanho em pelo menos 70-80% a
cada ação de controle, os métodos utilizados podem ser considerados eficazes.
Caso a eficácia diminua com o tempo, será importante alternar os métodos
de controle. Quando não forem mais observados indivíduos, as ações de
monitoramento devem persistir por um período mínimo de seis meses para
assegurar que as populações tenham sido eliminadas.

85
Item do plano Descrição

Listar os materiais e equipamentos necessários para a realização das ações


de controle em campo, de modo que a pessoa responsável facilmente
verifique se tem tudo à mão antes de sair a campo e se os equipamentos
estão em ordem e funcionais
Equipamentos e materiais:

Materiais, • dez (10) armadilhas para captura tamanho 40 x 40 x 30 cm;


equipamentos • iscas de carne para as armadilhas;
• carabina de pressão e chumbinhos;
• água para beber;
• veículo para deslocamento ao local;
• combustível para o veículo.
Tempo estimado de trabalho, incluindo o acesso ao local: 3-4 horas.

Com base nos materiais, equipamentos e horas ou dias de trabalho necessários,


fazer uma estimativa de custos para registro
Materiais de consumo e combustível por ação de controle: R$ 30,00.
Estimativa de custos
Equipamentos: R$ 200,00 (considerada depreciação de 10% dos respectivos
valores).
Total R$ 150,00 por ação de captura.

Com base na disponibilidade de pessoas, materiais, equipamentos e recursos de


custeio para as ações planejadas, explicar por que o plano de ação é considerado
viável ou não. Em caso negativo, buscar apoio de parcerias externas para
viabilizar a aplicação ou alterar o plano até chegar a uma alternativa viável
As armadilhas estão disponíveis na Universidade, e os insumos serão
adquiridos para a execução. Em função da preocupação com o impacto a
cultivos agrícolas, foi estabelecida parceria com um fazendeiro local, que
Análise de viabilidade
vai participar das ações de controle caso seja necessário o uso de uma
carabina de pressão. O mesmo fazendeiro vai prover hospedagem para as
ações de controle, que precisam ser realizadas ao amanhecer, e colaborar
com as ações de monitoramento porque vive nas proximidades. Foi obtida
do proprietário da Fazenda das Almas permissão de acesso ao local. As
ações devem ser realizadas em dias sem chuva prévia para assegurar que o
acesso ao local seja viável. A execução das ações é considerada viável.

Fonte: Compilação do autor

86
APÊNDICE 4 – MATERIAIS E EQUIPAMENTOS PARA MONITORAMENTO E CONTROLE
Apresentamos a seguir uma lista de materiais básicos para controle.

Apêndice 4.1 – Plantas


Material permanente Unidade Quantidade

Motosserra (com lima para afiar) unidade 2


Facão com bainha unidade uso pessoal
Foice unidade 1
EPI para motosserrista – calça de fibra unidade uso pessoal
EPI para motosserrista – bota com biqueira de aço par uso pessoal
EPI para motosserrista – capacete com abafador para os ouvidos e
unidade uso pessoal
viseira
EPI para motosserrista – luvas de couro par uso pessoal
EPI para motosserrista – óculos de segurança par uso pessoal
EPI para motosserrista – camiseta de mangas compridas unidade uso pessoal
EPI para aplicador de herbicida – túnica, calças e gorro árabe
conjunto uso pessoal
impermeabilizados, luvas de nitrila
EPI para aplicador de herbicida – óculos de proteção unidade uso pessoal
EPI para aplicador de herbicida – botas de borracha par uso pessoal
EPI para aplicador de herbicida – máscara com filtros substituíveis unidade uso pessoal
Pulverizador de compressão prévia Guarany 1,2 L unidade 2-4
Pulverizador costal Guarany 10-15 L unidade 1-2
Serrote manual dobrável Tramontina ou equivalente unidade 2
Caixa plástica com tampa para armazenamento e transporte dos
unidade 1
materiais (não menos do que 35 cm h, 48 cm compr., 33 cm largura)
Garrafão para levar água ao campo para preparo de herbicidas (5 L
unidade 1-2
ou mais)

Material de consumo

Gasolina para motosserra litro uso contínuo


Óleo 2 tempos para motosserra litro uso contínuo
Óleo lubrificante para motosserra litro uso contínuo
Herbicida à base de Glifosato NA litro uso contínuo
Herbicida à base de Triclopir (Garlon 480BR) litro uso contínuo
Vermiculita ou serragem para forrar a caixa plástica de
quilo 300g
armazenamento
Becker plástico medidor para volume de 10 em 10 mL até 100 mL ou
unidade 2-4
pouco mais

Luvas de couro para manuseio de ferramentas unidade uso pessoal


Luvas de nitrila para aplicação de herbicidas par uso pessoal
Corante para herbicida Hi Light (www.rigrantec.com.br) unidade uso contínuo

Fonte: Compilação do autor


87
Apêndice 4.2 – Animais
Descrição /
Material permanente Quant. Unidade Finalidade
tamanho
Armadilha fotográfica Monitoramento

Caixas de pegadas Monitoramento

Armadilha tipo Tomahalk 100x45x50 cm 2-3 Unid. Captura de cachorro/gato-doméstico

Armadilha tipo Tomahalk 30x9x9 cm 4-5 Unid. Captura de pequenos roedores

Laço cambão 1,5 m 1 Unid. Contenção física de cachorro/gato

Puçá para contenção 140 cabo x 40 cm 1 Unid. Captura/contenção


Caixa de contenção
A definir 1 Unid. Manutenção de animais pós-captura
animal
Puçá 100 cabo x 60 x 40 1 Unid. Captura de rã-touro / tigre-d’água

fio 210-08 malha


Rede de arrasto (Picaré) 12 mm, 2 m de
1 Unid. Captura de rã-touro / tigre-d’água
sem funil alt. e 10 m de
comprimento
malha 12 mm,
Tarrafa alt. 2,20 m e 15 m 1 Unid. Captura de rã-touro / tigre-d’água
de roda
Carabina de pressão
125 SIX 6.0 mm 1 Kit Abate de rã-touro / pequenos animais
Hatsan
uso
Chumbinho Point Nitro CBC SIX 6.0 mm Unid. Abate de rã-touro / pequenos animais
contínuo
A definir cf.
Armas de fogo Abate de javali / cervo axis / outros
espécie

Fonte: Compilação do autor

88
APÊNDICE 5 – EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO PROTOCOLO

Apêndice 5.1 – Detecção precoce de gramínea em Unidade de Conservação Estadual


Uma pequena mancha de uma espécie de gramínea é observada durante o monito-
ramento por um pesquisador especialista na família Poaceae (gramíneas) em área de
Cerrado numa UC estadual. O táxon é identificado a nível de espécie no momento da
detecção (etapas 2 e 7) e é exótico ao local (8). A notificação (1) inclui fotografias, a
identificação da espécie e o local da ocorrência, assim como uma breve descrição do
foco de invasão. O órgão competente verifica as informações, confirma que a espécie
tem antecedentes de invasão (9) e emite um alerta (10). Uma pessoa da equipe da
UC é solicitada a fazer uma vistoria no local da detecção (11) e recebe as informações
disponíveis. Na vistoria, confirma que se trata de uma mancha isolada de indivíduos,
caracterizando um processo inicial de invasão (12). A gramínea está na fase inicial de
floração, portanto entrando na fase reprodutiva, o que indica que uma demora no con-
trole tende a permitir o estabelecimento de um banco de sementes no solo. A pessoa
encarregada da vistoria julga que é possível fazer a eliminação total do foco de invasão
(13) e dispõe dos equipamentos e materiais necessários. Então procede à eliminação
da população (14) através de aspersão foliar com um herbicida sistêmico de degrada-
ção rápida e inerte no solo. Trinta dias depois, a pessoa retorna ao local para verificar
se a ação de controle foi eficaz (15). Nesse momento, a touceira está seca e não são
observados novos focos. O monitoramento (16) é repetido aos 60, 90 e 120 dias sem
que se observem novos indivíduos. O foco de invasão é considerado erradicado e o
Protocolo encerrado (etapas 17 e 6). As informações são registradas para referência
futura. O caminho seguido nesse exemplo é demonstrado na Figura 3.

89
Figura 3 – Detecção precoce de gramínea exótica em UC estadual (as etapas do Protocolo destacadas
indicam o caminho seguido no exemplo)

1
Notificação

2 3
Análise das informações Necessidade de identificação

7 4
Táxon identificado Processo de identificação

8 5
O táxon é não Táxon não identificado
exótico?

sim

O táxon tem 9 6
não -> Risco baixo
registro de
invasão?

sim encerramento
10
Alerta

A invasão
é extensa?
18 11 12 sim
Táxon não encontrado Vistoria

não

não 13 sim 14
Ações de erradicação /
contenção

Existe a possibilidade de erradicação/


contenção imediata? não

sim 19 sim As ações 15


foram
Há análise de risco eficazes?
para o táxon?
não sim

20 16
Risco desconhecido Monitoramento e repasse

21
Consulta a especialistas 17
Erradicação

sim 22
As ações de controle
são urgentes?

não
26 23 24 25 6
Risco alto Risco moderado Monitoramento
Análise de risco completa
ou análise inválida recomendado

encerramento

Há plano de
contingência As ações de resposta
para o táxon? 27 sim são viáveis? 29 sim 30 17
Realizar ações de resposta Erradicação

não

não
28
Planejar ações de resposta

não 15 sim 16
Monitoramento e rapasse

As ações de resposta
foram eficazes?

Fonte: Compilação do autor

90
Apêndice 5.2 – Detecção precoce de ave em ambiente terrestre
Indivíduos de uma espécie de ave desconhecida foram avistados em ambiente florestal no
meio rural. A pessoa que fez a detecção desconhece o táxon (3). Uma notificação é enviada
ao órgão competente (1) incluindo fotografias e a localização da ocorrência. O órgão com-
petente solicita ajuda a taxonomistas especializados em aves da Rede de Colaboradores
para a identificação da espécie (4) e da sua área de distribuição natural. O táxon é identifi-
cado (7) a nível de espécie e confirmado como exótico ao local de ocorrência (8). Verifica-se
se tem antecedentes de invasão (9) e encontram referências positivas. O órgão competen-
te emite um alerta (10). Uma pessoa com formação técnica da Rede de Apoio lotada nas
redondezas está disponível para fazer uma vistoria (11). Verifica a existência de duas po-
pulações aparentemente pequenas da ave (12) nas proximidades de uma fazenda. Nesse
caso, não há possibilidade de eliminação imediata (13), pois é preciso definir a estratégia
de controle e providenciar materiais e equipamentos. Essas informações são enviadas ao
órgão competente, que então faz uma busca por análises de risco (19) disponíveis para a
espécie, sem sucesso. Com o risco desconhecido (20), o órgão competente revisa o cadas-
tro da Rede de Colaboradores em busca de profissionais (21) que possam inferir a urgência
do controle ou realizar uma análise de risco completa para a espécie, considerando fatores
biológicos e ecológicos, a área de distribuição natural, o histórico de introdução e de inva-
são em outros locais e o potencial de impacto ambiental, econômico e/ou à saúde humana.
Não sendo urgente a ação de controle (22), o especialista consultado responde que pode
fazer a análise de risco completa (23) em poucos dias. O resultado da análise indica risco
alto (26). Na falta de um plano de contingência (27), o órgão competente, com ajuda do
GAT, faz o planejamento da ação de resposta (28) e a respectiva análise de viabilidade (29).
Uma autorização de controle é providenciada. Com os meios necessários disponíveis, as
ações de manejo são iniciadas (30). Seis meses depois, registra-se que as ações de controle
foram eficazes (15) porque as duas populações foram capturadas e já não se observam
indivíduos da ave exótica no local da detecção. O monitoramento (16) é mantido durante
outros seis meses para assegurar que não haja novos focos de invasão ou novos eventos
de introdução da espécie (17). O Protocolo é encerrado (6). As informações são registradas
para referência futura. O caminho seguido nesse exemplo é demonstrado na Figura 4.

91
Figura 4 – Detecção precoce de ave exótica em ambiente terrestre (as etapas do Protocolo destacadas
indicam o caminho seguido no exemplo)

1
Notificação

2 3
Análise das informações Necessidade de identificação

7 4
Táxon identificado Processo de identificação

8 5
O táxon é não Táxon não identificado
exótico?

sim

O táxon tem 9 6
não -> Risco baixo
registro de
invasão?

sim encerramento
10
Alerta

A invasão
é extensa?
18 11 12 sim
Táxon não encontrado Vistoria

não

não 13 sim 14
Ações de erradicação /
contenção

Existe a possibilidade de erradicação/


contenção imediata? não

sim 19 sim As ações 15


foram
Há análise de risco eficazes?
para o táxon?
não sim

20 16
Risco desconhecido Monitoramento e repasse

21
Consulta a especialistas 17
Erradicação

sim 22
As ações de controle
são urgentes?

não
26 23 24 25 6
Risco alto Risco moderado Monitoramento
Análise de risco completa
ou análise inválida recomendado

encerramento

Há plano de
contingência As ações de resposta
para o táxon? 27 sim são viáveis? 29 sim 30 17
Realizar ações de resposta Erradicação

não

não
28
Planejar ações de resposta

não 15 sim 16
Monitoramento e rapasse

As ações de resposta
foram eficazes?

Fonte: Compilação do autor

92

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