Manual de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida de Espécies Exóticas Invasoras
Manual de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida de Espécies Exóticas Invasoras
Manual de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida de Espécies Exóticas Invasoras
Vice-Presidente
GERALDO ALCKMIN
Secretaria-Executiva
Secretário-Executivo
JOÃO PAULO CAPOBIANCO
Brasília/DF
MMA
2024
© 2024 Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
Permitida a reprodução sem fins lucrativos, parcial ou total, por qualquer meio, se citados a fonte
do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima ou sítio da Internet no qual podem ser
encontrados os originais em https://www.gov.br/mma/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/
manual_invasoras_terrestre_24.pdf
Equipe Técnica:
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Diagrama da fase de preparo de programas de detecção
precoce e resposta rápida................................................................................ 26
Figura 2 – Protocolo de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida
para Espécies Exóticas Invasoras.............................................................................37
Figura 3 – Detecção precoce de gramínea exótica em UC estadual.....................................90
Figura 4 – Detecção precoce de ave exótica em ambiente terrestre....................................92
LISTA DE ABREVIATURAS
CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica
EEI – espécie exótica invasora
EPI – equipamento de proteção individual
FUNBIO – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
GAT – Grupo de Assessoramento Técnico ao Programa Nacional de Alerta, Detecção Pre-
coce e Resposta Rápida para Espécies Exóticas Invasoras
GEF – Global Environment Facility Trust Fund (Fundo Global para o Meio Ambiente)
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
MMA – Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
PAN – Plano de Ação Nacional
PAT – Plano de Ação Territorial
PELD – Pesquisa Ecológica de Longa Duração
PNADPRR – Programa Nacional de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida para
Espécies Exóticas Invasoras
UC – unidade de conservação
Salix caprea
©Ola Jennersten - WWF-Sweden
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SUMÁRIO
Apresentação......................................................................................................................11
1 Informações básicas........................................................................................................13
1.1 Ecossistemas e grupos biológicos contemplados..............................................................13
1.1.1 Os ecossistemas terrestres no Brasil.........................................................................13
1.1.2 Os grupos biológicos contemplados neste manual.................................................15
1.2 Vias/vetores de introdução e dispersão..............................................................................17
1.3 Definição de áreas de relevância para detecção precoce.................................................18
1.3.1 Áreas sob proteção legal.............................................................................................18
1.3.2 Ocorrência de espécies ameaçadas de extinção, raras ou endêmicas..................19
1.3.3 Suscetibilidade à chegada de propágulos de espécies exóticas invasoras (EEIs)....... 19
1.3.4 Ocorrência de iniciativas de produção, cultivo ou criação......................................21
2 Detecção precoce e resposta rápida para espécies exóticas invasoras....................23
2.1 Fase de preparo......................................................................................................................23
2.2 Etapas do processo de detecção precoce e resposta rápida............................................24
2.2.1 Vigilância e monitoramento........................................................................................27
2.2.1.1 Tipos de vigilância e monitoramento...............................................................28
Vigilância e monitoramento passivos...............................................................28
Vigilância e monitoramento ativos...................................................................29
2.2.1.2 Métodos de vigilância e monitoramento.........................................................30
Plantas..................................................................................................................30
Monitoramento e vigilância em áreas naturais, incluindo
unidades de conservação (UCs)........................................................................31
Animais.................................................................................................................33
Invertebrados......................................................................................................33
Anfíbios e répteis................................................................................................34
Aves.......................................................................................................................34
Mamíferos............................................................................................................34
2.3 Interpretação do Protocolo...................................................................................................36
2.3.1 Notificação.....................................................................................................................36
2.3.2 Identificação e triagem.................................................................................................37
2.3.2.1 Processo de identificação...................................................................................38
2.3.2.2 Avaliação de risco rápida....................................................................................40
2.3.3 Alerta..............................................................................................................................42
2.3.4 Vistoria, caracterização da invasão e erradicação imediata....................................42
2.3.5 Avaliação de risco.........................................................................................................46
2.3.6 Planos de resposta rápida...........................................................................................49
2.3.6.1 Análise de viabilidade.........................................................................................51
2.3.7 Execução de ações de resposta rápida......................................................................52
2.3.7.1 Estratégias e métodos de erradicação e controle...........................................52
Plantas..................................................................................................................53
Controle mecânico..............................................................................................53
Queima prescrita................................................................................................54
Controle químico.................................................................................................55
Controle biológico...............................................................................................56
Animais.................................................................................................................57
Captura.................................................................................................................57
Abate com arpão.................................................................................................57
Abate com arma de fogo....................................................................................58
Uso de iscas de veneno......................................................................................58
Métodos contraceptivos.....................................................................................58
Cercas para isolamento.....................................................................................58
2.3.8 Monitoramento posterior e repasse..........................................................................60
2.3.8.1 Avaliação de eficácia das ações de resposta....................................................60
Plantas..................................................................................................................61
Animais.................................................................................................................62
3 Considerações finais........................................................................................................65
Referências..........................................................................................................................66
Glossário..............................................................................................................................69
Apêndice..............................................................................................................................71
Apêndice 1 – Vias e vetores de introdução e dispersão..........................................................71
Apêndice 2 – Diretório de fontes de informação e contatos...................................................80
Apêndice 2.1 – Potenciais colaboradores e contatos de especialistas..................................80
Apêndice 2.2 – Fontes de informação sobre manejo e espécies............................................82
Apêndice 2.3 – Listas de espécies exóticas invasoras (EEIs)....................................................82
Apêndice 2.4 – Protocolos de análise de risco..........................................................................82
Apêndice 3 – Exemplos de plano de resposta rápida no ambiente terrestre.......................83
Apêndice 3.1 – Detecção precoce de gramínea exótica invasora em UC estadual..............83
Apêndice 3.2 – Detecção precoce de ave em ambiente terrestre..........................................85
Apêndice 4 – Materiais e equipamentos para monitoramento e controle...........................87
Apêndice 4.1 – Plantas.................................................................................................................87
Apêndice 4.2 – Animais................................................................................................................88
Apêndice 5 – Exemplos de aplicação do Protocolo..................................................................89
Apêndice 5.1 – Detecção precoce de gramínea em Unidade de Conservação Estadual.....89
Apêndice 5.2 – Detecção precoce de ave em ambiente terrestre..........................................91
Anolis carolinensis
©Kenny Onufrock - WWF-US
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APRESENTAÇÃO
Um dos principais objetivos da Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras (Reso-
lução CONABIO nº 7, de 29 de maio de 2018) e do respectivo Plano de Implementação (Por-
taria MMA nº 3, de 16 de agosto de 2018) diz respeito ao estabelecimento de um Programa
Nacional de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida para Espécies Exóticas Invasoras
(PNADPRR). Este manual é um dos itens que integra o conjunto de documentos deste Pro-
grama Nacional, elaborado no âmbito do projeto Estratégia Nacional para Conservação de
Espécies Ameaçadas de Extinção (Pró-Espécies), financiado pelo Fundo Global para o Meio
Ambiente (GEF, sigla em inglês), tendo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
(MMA) como coordenador, o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) como agên-
cia implementadora e o WWF-Brasil como agência executora.
Neste documento apresentamos o manual de orientação para o uso do Protocolo de Aler-
ta, Detecção Precoce e Resposta Rápida, com vistas à implementação de ações práticas de
erradicação e controle de EEIs em ambientes terrestres. O Protocolo se fundamenta no
modelo do Protocolo Geral, elaborado como produto anterior desta consultoria (Produto
5.1), porém este manual inclui informações mais detalhadas sobre diversos aspectos do
Protocolo, com o intuito de facilitar sua aplicação prática no âmbito do PNADPRR.
O público-alvo é, porém, mais amplo, no sentido de que o manual pode ser útil para pro-
gramas de detecção precoce e resposta rápida estabelecidos em outras escalas, seja em
nível estadual, seja em uma área particular, como uma unidade de conservação (UC). O
objetivo principal é facilitar a compreensão do processo de detecção precoce e das alterna-
tivas disponíveis para cada etapa de aplicação do Protocolo, a fim de permitir que as ações
decorrentes de uma notificação de ocorrência de espécie exótica tenham agilidade e foco
em maximizar as oportunidades de erradicação, contenção ou controle efetivo de novos
casos de invasão.
Este manual foi submetido a consulta pública juntamente com os demais protocolos para
ambientes dulcícolas e marinhos. Foram convidados diversos profissionais vinculados à
área ambiental e à temática de invasões biológicas, com experiência na gestão pública, no
manejo, em restauração ambiental e em atividades de ensino e pesquisa, entre outros, a
fim de oferecer contribuições para o aprimoramento do manual e do PNADPRR.
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Streptopelia decaocto
©Ola Jennersten - WWF-Sweden
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1 INFORMAÇÕES BÁSICAS
Este manual para uso do Protocolo de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida contem-
pla o grupo de espécies terrestres e visa prover orientação detalhada sobre a aplicação das
distintas etapas do processo de detecção precoce e resposta rápida. Contempla a indica-
ção das vias e vetores de introdução e dispersão de espécies terrestres, uma proposta de
critérios para priorização de áreas de relevância para vigilância e monitoramento focados
na detecção precoce, a estrutura básica para a elaboração de planos de resposta rápida,
orientação para a avaliação da eficácia de ações de resposta e uma explicação sobre o pas-
so a passo do Protocolo que deverá guiar a tomada de decisão, além de sugestões de mé-
todos de monitoramento e controle para distintos grupos biológicos. Os apêndices trazem
indicações de fontes complementares de informação e exemplos de planos de resposta
rápida e de aplicação do Protocolo.
O estabelecimento de parcerias com instituições que mantêm coleções zoológicas e her-
bários é de alta relevância para viabilizar a identificação de espécies detectadas, com apoio
de taxonomistas, assim como para envolver profissionais na emissão de notificações de
ocorrência. Alguns exemplos providos no decorrer do texto são ilustrativos e se referem
a espécies amplamente disseminadas no território nacional às quais a abordagem de de-
tecção precoce e resposta rápida é aplicável quando chegam a novas áreas de ocorrência,
como pode ser o caso do caracol-gigante-africano (Achatina fulica) no estado do Rio Grande
do Sul. De forma análoga, espécies nativas do Brasil, como alguns saguis (Callithrix spp.),
foram levados para fora de sua área de distribuição natural e são exóticos invasores em
diversos estados no bioma Mata Atlântica. A dispersão dessas populações em novas áreas
igualmente deve ser foco de detecção precoce e de ações de resposta rápida a fim de evitar
a expansão da invasão no território nacional.
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degradadas, a jaqueira (Artocarpus heterophyllus) e o dendê (Elaeis guineenses) na
Floresta Atlântica, especialmente na região Nordeste, a uva-do-japão (Hovenia dulcis) e
alfeneiros (Ligustrum spp.) na região Sul. Em termos de animais, várias áreas de Floresta
Atlântica estão invadidas por saguis (Callithrix spp.) nativos na região Nordeste, assim
como pela rã-touro (Aquarana catesbeiana) e pelo javali (Sus scrofa), sendo também
comum a predação de espécies nativas por animais domésticos, especialmente cães
(Canis familiaris) e gatos (Felis catus).
b) Savana: vegetação com dominância compartilhada de estratos arbóreos e herbáceos,
sendo as árvores relativamente pequenas (3-10 m de altura), em geral espaçadas e com
copas amplas. A vegetação herbácea é praticamente contínua, formando um tapete
entre as árvores e os arbustos. A savana compreende quatro subformações: savana
florestada ou cerradão, savana arborizada ou campo cerrado, savana parque e savana
gramíneo-lenhosa. O principal problema de invasão biológica nesses ambientes está
relacionado à introdução de gramíneas forrageiras, em geral de origem africana, como
braquiária (Urochloa spp.), capim-de-rhodes (Andropogon gayanus), capim-colonião
(Megathyrsus maximus) e capim-gordura (Melinis minutiflora), além da cana-do-reino
(Arundo donax). Entre as espécies animais, podemos citar o javali (Sus scrofa), sendo
também comum a predação de espécies nativas por animais domésticos como cães
(Canis familiaris) e gatos (Felis catus).
c) Savana-Estépica: refere-se à formação de Caatinga nas áreas áridas interplanálticas
nordestinas (Sertão), no Alto Surumu em Roraima, na Depressão Mato-Grossense-do-
Sul entre a Serra da Bodoquena e o Rio Paraguai (Chaco) e na interface da Barra do Rio
Quaraí com o Rio Uruguai, no Rio Grande do Sul. As invasões biológicas mais expressivas
nessas formações são representadas por algaroba (Prosopis spp.) e nim (Azadirachta
indica) na Caatinga nordestina. Na Barra do Quaraí observa-se invasão do veado-axis
(Axis axis) e do javali (Sus scrofa).
d) Estepe: áreas de relevo plano ou suave ondulado recobertas por vegetação herbácea
contínua, como a Campanha Gaúcha e os Campos Gerais na região Sul do Brasil.
Subdivide-se em Estepe Arborizada ou Arbórea Aberta, Estepe Parque ou Campo Sujo
e Estepe Gramíneo-Lenhosa ou Campo Limpo entremeado por florestas de galeria
ao longo de cursos d’água. Nesses ambientes, ocorre invasão por pínus (Pinus spp.)
sobre ecossistemas campestres e áreas degradadas, tojo (Ulex europaeus) e gramíneas
africanas como braquiária (Urochloa spp.) e capim-gordura (Melinis minutiflora). Estes
ambientes se encontram invadidos pelo javali (Sus scrofa).
e) Campinarana: termo regionalista brasileiro aplicado à área do alto Rio Negro,
denominando áreas planas e alagadas de fisionomia variada, desde formações
campestres até florestais de árvores finas, sobre Espodossolos. Não há registros
específicos de invasão biológica nesses ambientes até o presente momento.
f) Formações Pioneiras: referem-se a áreas caracterizadas pelo primeiro processo
de ocupação por vegetação, sendo subdivididas em restingas, comunidades
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aluviais e manguezais e campos salinos. As restingas são suscetíveis à invasão
por pínus (Pinus spp.), acácias (Acacia mangium, A. longifolia), casuarina (Casuarina
equisetifolia), castanheira (Terminalia catappa), aspargos ornamentais (Asparagus
spp.) e gramíneas como braquiária (Urochloa spp.). As comunidades aluviais
são invadidas por gramíneas como braquiárias aquáticas (Urochloa plantaginea,
U. ruziziensis) e lírio-do-brejo (Hedychium coronarium). Os manguezais e campos
salinos são invadidos pela castanheira (Terminalia catappa), especialmente nos
fundos de áreas de mangue.
g) Refúgios Vegetacionais: áreas condicionadas por parâmetros ambientais muito
específicos, como áreas de solo turfoso e cumes de serras, configurando relictos
vegetacionais. Podem ser dominados por espécies herbáceas e arbustivas, como os
campos de altitude, ou arbórea, como as matas nebulares em altitudes elevadas na
borda leste do Planalto Meridional, caracterizadas por alta precipitação e presença
de nuvens devido à condensação da umidade do mar. Esses ambientes são de
alta fragilidade, sendo frequente a ocorrência de espécies endêmicas em função
do grau de isolamento e das peculiaridades do ambiente. Os campos de altitude
são especialmente suscetíveis à invasão por pínus (Pinus spp.), cujas sementes são
carreadas pelo vento a partir de áreas mais baixas, assim como por gramíneas
africanas como braquiárias (Urochloa spp.), capim-colonião (Megathyrsus maximus) e
capim-elefante (Pennisetum spp.), entre outras.
A área de contato entre formações distintas, onde ocorre a mistura de duas ou mais floras,
é denominada de ecótono. Cada um dos ecossistemas pode ser caracterizado, atualmen-
te, por vegetação primária ou secundária em diferentes estágios sucessionais. Ambientes
convertidos para uso agrícola, florestal ou urbanizados são considerados como parte dos
ecossistemas acima listados, ainda que as prioridades de gestão e manejo desta iniciativa
tenham foco em ambientes naturais. Ressaltamos que a degradação dos ambientes faci-
lita a invasão por espécies exóticas, mesmo porque nem ecossistemas conservados estão
imunes à invasão.
Este manual faz referência aos seguintes grupos biológicos de ambientes terrestres, para
os quais estão citados alguns exemplos de EEIs:
a) Plantas: este grupo contempla todos os tipos de plantas terrestres, como
árvores, arbustos, palmeiras, ervas, gramíneas, trepadeiras, cactos, samambaias,
briófitas (musgos) e suculentas. Mais da metade das plantas exóticas invasoras
presentes no Brasil foi introduzida para uso ornamental, a exemplo da trapoeraba-
roxa (Tradescantia zebrina), beijinho (Impatiens walleriana), aspargo-ornamental
(Asparagus spp.), jiboia (Epipremnum pinnatum), singônio (Syngonium spp.), comigo-
ninguém-pode (Dieffenbachia spp.), cheflera (Schefflera spp.), piteira (Furcraea
foetida), trepadeiras como madressilva (Lonicera japonica) e amarelinha (Thunbergia
15
alata), plantas arbóreas como ipê-de-jardim (Tecoma stans), castanheira (Terminalia
catappa) e jambo (Syzygium jambos) e palmeiras como rabo-de-peixe (Caryota
urens), palmeira--leque-da-china (Livistona chinensis), palmeira-real-da-austrália
(Archontophoenix cunnighamiana) e palmeira-imperial (Roystonea oleracea), entre
outras. Entre as árvores cultivadas para fins alimentares e para sombra destacam-se
jaqueira (Artocarpus heterophyllus), dendê (Elaeis guineensis), goiabeira (Psidium guajava),
nêspera (Eriobotrya japonica) e uva-do-japão (Hovenia dulcis). Árvores empregadas
na produção florestal incluem os gêneros Pinus, Eucalyptus e Acacia, assim como nim
(Azadirachta indica) e munguba (Pachira aquatica) para fins agroflorestais. Entre as
plantas forrageiras, estão amplamente disseminadas braquiárias (Urochloa spp.), capim-
-colonião (Megathyrsus maximus), capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa), capim-andropogon
(Andropogon gayanus), capim-gordura (Melinis minutiflora), capim-annoni (Eragrostis
plana) e grama-bermuda (Cynodon dactylon), assim como espécies arbóreas como a
leucena (Leucaena leucocephala) e a algaroba (Prosopis spp.).
b) Invertebrados: neste grupo está incluída uma diversidade de espécies, como
aranhas, centopeias, escorpiões, crustáceos, insetos, isópodas, minhocas, moluscos,
nematoides e outros. São exemplos de invertebrados exóticos invasores no Brasil
a abelha-africanizada Apis mellifera, o mosquito-da-dengue (Aedes aegypti e Aedes
albopictus), o caracol-gigante-africano (Achatina fulica), o besouro-rola-bosta-africano
(Digitonthophagus gazela), a joaninha (Harmonia axyridis), a formiga-cabeçuda (Pheidole
megacephala) e a minhoca-vermelha-da-califórnia (Eisenia fetida).
c) Vertebrados: este grupo está subdividido em quatro classes de animais terrestres, a
saber:
d) anfíbios (sapos, rãs, pererecas, cobras-cegas, salamandras, jias), como rã-touro
(Aquarana catesbeiana), perereca-das-bromélias (Phyllodites luteolus), perereca-
assobiadora (Eleutherodactylus johnstonei), perereca-de-banheiro (Scinax x-signatus) e rã-
pimenta (Leptodactylus labyrinthicus);
• répteis (serpentes, lagartos, jacarés, tartarugas, cágados, jabutis) como tigre-d´água-
-americano (Trachemys scripta) e tigre-d’água (T. dorbigni), nativo no Rio Grande do Sul,
comercializados como animais de companhia;
• aves, como estorninho (Sturnus vulgaris), corvo (Corvus albus), pombo-doméstico (Columba
livia), caturrita (Myiopsitta monachus), periquito-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri), peri-
quito-rico (Brotogeris tirica), bico-de-lacre (Estrilda astrild), pardal (Passer domesticus) e garça-
-vaqueira (Bubulcus íbis); e
• mamíferos (roedores, coelhos, lebres, primatas, felinos, canídeos, mustelídeos
etc.), como javali (Sus scrofa), lebre-europeia (Lepus europaeus), cervo-axis (Axis
axis) e algumas espécies de primatas deslocados de seus ambientes de origem
dentro do território brasileiro, como sagui (Callithrix spp.), mico-leão-de-cara-
16
-dourada (Leontopithecus chrysomelas) e mico-de-cheiro (Saimiri sciureus), cão do-
méstico (Canis familiaris), gato doméstico (Felis catus), rato (Rattus rattus, Rattus
norvegicus) e camundongo (Mus musculus).
Listagens de EEIs de risco iminente de introdução (denominadas de contidas ou ausentes)
e de espécies presentes no Brasil estão disponíveis para referência no Apêndice 2.
17
por um número menor de espécies, estão amplamente disseminadas no país, como no caso
de braquiárias (Urochloa spp.), pínus (Pinus spp.) e acácias (Acacia mangium, A. mearnsii), assim
como espécies usadas em sistemas agroflorestais, como nim (Azadirachta indica), munguba
(Pachira aquatica), seringueira (Hevea brasiliensis) e frutíferas exóticas (Base de Dados Nacional
de Espécies Exóticas Invasoras 2022).
Para a fauna de vertebrados, a principal via/vetor de introdução em termos globais é o comér-
cio de animais de estimação e de animais para terrários, assim como de animais de criação e
introduzidos para fins de caça. No caso dos invertebrados, observa-se uma mudança ao longo
do tempo, pois até o final do século XX o volume de introduções não intencionais era dominante
para artrópodos, especialmente como contaminantes em mercadorias, passando para segundo
lugar em função de outros interesses (Essl et al., 2015), como fins alimentares para pessoas e ani-
mais de criação, produção de seda, uso em laboratório, reabilitação de solos, terrários, exibição
de animais vivos, polinização, relocação para fins de conservação, processamento de resíduos,
produção de tinturas, animais de companhia, comida para animais de companhia, uso ornamen-
tal, isca viva para pesca, uso medicinal e armas biológicas (Kumshick et al., 2015).
Áreas legalmente destinadas à conservação ambiental, como UCs nas esferas federal, estadu-
al e municipal, assim como Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais, devem ser
priorizadas em função de sua relevância para a conservação de espécies nativas, de serviços
ecossistêmicos e da paisagem natural. Como essas últimas categorias são amplamente disper-
sas em todo o território nacional, seria importante priorizar aquelas onde existe algum tipo de
monitoramento ou de estrutura para tal, como, por exemplo, propriedades de empresas flo-
restais e outros empreendimentos privados que viabilizem a aplicação das medidas propostas.
18
A ocorrência de espécies ameaçadas de extinção, raras ou endêmicas que podem ser im-
pactadas por invasões biológicas é um critério adicional importante para a seleção de UCs
prioritárias.
A formação de guarda-parques e gestores e a provisão de materiais e equipamentos são
imprescindíveis para viabilizar a implementação de ações de resposta rápida.
Em função do trânsito de pessoas, áreas onde há transporte ou atividades produtivas que in-
cluem EEIs tendem a sofrer maior pressão de propágulos (chegada de propágulos com alta fre-
quência ou intensidade), criando oportunidades para a invasão biológica. Essas áreas incluem
pontos de fronteira ou de entrada no país como aeroportos e portos, pela chegada de pessoas
e cargas, assim como atividades comerciais que utilizem EEIs ou usem meios de transporte que
dispersam propágulos através de veículos, mercadorias ou material ambiental, entre outros.
A partir do conhecimento da presença de EEIs em países vizinhos, podem ser identi-
ficados pontos de fronteira onde é mais importante estabelecer medidas de vigilân-
cia e monitoramento para prevenir a entrada de plantas ou animais exóticos. Esta
19
abordagem tem ligação com o tráfico de animais silvestres, caso em que poderia se
encaixar o javali (Sus scrofa), trazido para o Brasil a partir do Uruguai pelo interesse
de criação e caça (Deberdt; Scherer, 2007; Desbiez et al., 2011). Também se refere ao
trânsito de animais exóticos introduzidos em países vizinhos que vêm expandindo
sua área de ocorrência, como cervo-axis (Axis axis), que entrou no Brasil a partir do
Uruguai (Sponchiado et al., 2011), a lebre-europeia (Lepus europaeus), que entrou no
país a partir da Argentina (Grigera; Rapoport, 1983), e o estorninho (Sturnus vulgaris),
que também entrou a partir da Argentina, onde foi introduzido na década de 1980
(Silva et al., 2019).
Ainda, serviços postais e de encomendas são considerados uma via de entrada importante,
especialmente para a chegada de sementes de plantas ornamentais ou de uso agrícola ad-
quiridas por comércio via internet. A partir da chegada, viveiros de plantas ornamentais e
para fins de agricultura são fontes potenciais de dispersão de EEIs, a exemplo da introdução
de capim-annoni (Eragrostis plana) no Rio Grande do Sul por contaminação de sementes de
gramíneas forrageiras na década de 1950.
20
1.3.4 Ocorrência de iniciativas de produção, cultivo ou criação
21
Arundo donax
©Nicole Franco - WWF-US
22
2 DETECÇÃO PRECOCE E RESPOSTA RÁPIDA
PARA ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS
A estratégia de detecção precoce e resposta rápida é fundamental para maximizar as opor-
tunidades de eliminação de invasões biológicas enquanto estão na fase inicial, não houve
dispersão a áreas amplas, a reprodução ainda não ocorreu ou as espécies estão recém-es-
tabelecidas. Essa etapa inicial representa as melhores oportunidades de erradicação de po-
pulações ou EEIs, com melhor custo-benefício em relação ao controle em longo prazo. Essa
estratégia funciona de forma complementar a medidas preventivas estabelecidas para im-
pedir a introdução de espécies, ou a sua chegada a um novo ambiente. Quando a preven-
ção não é eficiente, a detecção precoce é a melhor alternativa de manejo, pois maximiza as
oportunidades de erradicação da espécie ou do foco de invasão em questão. A estratégia
da detecção precoce parte da formação de uma ampla rede de vigilância e monitoramento
para a identificação de novos focos, que notifica as autoridades competentes. A partir des-
se momento, são colocadas em prática ações de resposta rápida para erradicar, sempre
que possível, os focos de invasão. As ações são seguidas de monitoramento para verifica-
ção de resultados, podendo ser necessárias novas ações de controle até que a erradicação
seja atingida. Essa abordagem implica evitar que esses focos de invasão biológica se tor-
nem problemas de grande magnitude que passam a gerar custos contínuos, seja porque
causam prejuízos econômicos, uma vez que, ao crescerem, exigem controle continuado,
seja porque impactam a diversidade biológica e os serviços ecossistêmicos.
23
• estabelecimento de programas de vigilância ou monitoramento, seja pela inclusão de EEIs
como alvo de programas já existentes, pela criação de rotinas, ou seja pela participação
de cidadãos interessados em realizar detecções ocasionais. Essa abordagem potencializa
a capacidade de detecção de focos de invasão biológica e maximiza as oportunidades de
erradicação antes que possam causar danos significativos ou dispersar-se amplamente;
• definição de mecanismos de financiamento para as ações a serem realizadas.
Identificação de áreas
Melhoria da base legal
suscetíveis em ambientes
existente para viabilizar
marinhos, dulcícolas
ações de manejo
e terrestres
Elaboração de materiais de
Formação continuada de
referência: listas de espécies,
pessoas para detecção
protocolos de avaliação
precoce e resposta rápida
de risco
24
a) Vigilância e monitoramento: esta etapa é a chave para que a estratégia de detecção
precoce e resposta rápida funcione. Pode partir de programas de monitoramento e
vigilância já existentes ou estabelecidos para esse fim, levantamentos da fauna e da
flora relacionados a atividades de pesquisa ou de licenciamento ambiental, assim como
de detecção ocasional. Deve envolver setores diversos e especialistas em conservação
ambiental, taxonomia e gestão de áreas naturais, assim como cidadãos interessados em
contribuir com o PNADPRR através de detecções ocasionais. Uma rede é gradativamente
construída para abranger o território de interesse, iniciando por áreas definidas como
prioritárias e expandindo para melhorar o alcance e a efetividade das ações. Os riscos ao
desenvolvimento desta etapa se referem à falta de investimento na gestão do Programa
Nacional, pois a articulação, a comunicação constante e a busca de colaboradores são
essenciais para que o trabalho seja efetivo.
b) Notificação: esta etapa indica as informações essenciais para análise da ocorrência
informada. Para que as pessoas envolvidas no monitoramento possam notificar o
órgão competente, é preciso implementar um sistema de fácil acesso e utilização
que permita o envio e o recebimento de informações de forma imediata para
viabilizar a execução de ações de resposta rápida. Os riscos envolvidos nesta etapa
dizem respeito à falha no desenvolvimento desse sistema e à falta de conhecimento
de potenciais usuários que, após a detecção, não realizam a notificação. Para
assegurar que esse contato funcione, a comunicação contínua com as redes
estabelecidas é essencial.
c) Identificação e triagem: abrange o processo de identificação e a avaliação de risco
rápida. Esta etapa fundamenta toda a ação posterior, pois a identificação do táxon é
imprescindível para a tomada de decisão seguinte, ou seja, se o Protocolo deve ser
seguido ou encerrado, assim como para fundamentar as ações de resposta. Nem
sempre será necessário identificar um táxon a nível específico, por exemplo se o gênero
não ocorre no país e compreende EEIs, como Pinus, Ligustrum ou Urochloa. Nesta fase,
há risco de que o táxon não seja identificado, o que pode impedir a execução de ações
subsequentes.
d) Alerta: trata-se da emissão de aviso a instituições e pessoas interessadas que devem
ser envolvidas nas ações de resposta. A partir deste momento tem início o processo
de definição da resposta rápida à notificação do foco de invasão. Esta etapa inclui a
mobilização de instituições e pessoas das redes vinculadas que devem receber o alerta
para cooperar no processo de tomada de decisão e execução das ações. Há risco de que
as instituições e pessoas não tenham condições de contribuir, por motivos diversos.
Como cada nova tentativa de buscar apoio toma tempo e reduz a velocidade de
resposta, a comunicação contínua é fundamental para que as ações de fato possam ser
desencadeadas com rapidez.
e) Vistoria e erradicação imediata: esta etapa se refere à vistoria em campo para obtenção
de mais detalhes sobre o foco de invasão, incluindo orientação para a delimitação
da invasão e a execução de ações de erradicação imediata, sempre que factível, e
indicações para a avaliação de eficácia das ações de resposta. A vistoria é importante
25
para fundamentar o planejamento das ações de resposta e para evitar que qualquer
oportunidade de realizar uma ação imediata, em situações de baixa complexidade, não
seja perdida ou deixada para depois. Há risco de que o táxon não seja encontrado na
vistoria de campo, o que pode impedir a execução de ações subsequentes.
f) Avaliação de risco: explica as avaliações que fazem parte do Protocolo e quando realizar
avaliação de risco completa. As avaliações de risco visam corroborar a necessidade de
realizar intervenções de controle, partindo de uma versão simplificada que verifica a
existência de histórico de invasão para o táxon, usado como preditor da capacidade de
invasão, até uma avaliação completa que, demandando mais tempo e especialização, é
realizada na falta de alternativas. Também são considerados a opinião de especialistas
nesse processo e fatores complementares como histórico de invasão por outras espécies
do gênero. Os riscos inerentes envolvem demoras no processo até identificar pessoa
habilitada para conduzir avaliações de risco completas, assim como a possibilidade de
avaliações resultarem inválidas por falta de dados sobre o táxon em questão.
g) Planos de resposta rápida: esta etapa inclui a estrutura dos planos a serem elaborados
e a análise de viabilidade de execução das ações, assim como a possibilidade de utilizar
planos de contingência já existentes. Os planos devem ser objetivos, concisos e passíveis de
elaboração rapidamente após a identificação do táxon e a análise da situação, contemplando
materiais, ferramentas, pessoal, deslocamento e custos envolvidos. Aqui pode haver risco
de demora para a elaboração do plano por falta de experiência ou conhecimento, assim
como da estruturação de um plano inexequível. Nesse caso, será preciso revisar o plano e,
possivelmente, buscar parcerias para sua execução, gerando risco de demora no processo.
h) Execução de ações de resposta: provê orientação sobre métodos de controle utilizados
para os distintos grupos biológicos. Uma vez aprovado o plano e comprovada sua
viabilidade, a execução deve ocorrer no menor tempo possível. O maior risco envolvido
é a possibilidade de haver condições perigosas para as pessoas responsáveis pela
execução, em função da área de ocorrência ou de condições ambientais, o que deve ser
considerado cuidadosamente no desenho de cada plano a fim de evitar a necessidade
de retroceder para a etapa de planejamento.
i) Monitoramento e repasse: contempla a necessidade de monitoramento e verificação
de resultados após as ações de resposta, incluindo a avaliação de eficácia, nos moldes
da etapa de vistoria e erradicação imediata. Esta etapa é essencial para assegurar a
eficácia da estratégia de detecção precoce e resposta rápida, pois uma intervenção única
costuma não ser suficiente para se chegar à erradicação de uma espécie. Quando isso
se mostra possível, de modo geral o foco de invasão terá sido eliminado já na etapa da
vistoria de campo. Os riscos inerentes a esta etapa estão na dificuldade de estabelecer
processos de monitoramento em áreas isoladas ou onde não existem instituições ou
pessoas que possam colaborar no processo, seja por falta de recursos, de interesse ou
de capacidade técnica. O risco de não manter um processo de monitoramento está em
perder o investimento realizado no controle, pois, se o foco de invasão se mantiver ou
se recuperar, volta-se ao estágio inicial.
26
Estão indicadas no Apêndice 2 diversas fontes de informação e contatos de especialistas
para apoio ao longo do processo de detecção precoce e resposta rápida, incluindo listas
estaduais de espécies.
27
biologia da espécie, caso haja uma espécie-alvo; não havendo, pode ser definida com base
nas estações do ano ou no tempo mínimo de reprodução de espécies que podem ocorrer.
Essa definição depende também de fatores externos, como recursos para deslocamento e
disponibilidade de pessoal, devendo ser ajustada a cada situação.
O apoio de pessoas externas no âmbito da ciência cidadã, de profissionais que exercem
atividades em locais de interesse, ou de voluntários convocados para ações coordenadas
é uma alternativa importante a ser considerada. Para tanto, pode ser necessário produzir
materiais de referência sobre espécies que podem ocorrer na região por tipo de ambiente.
A definição de métodos precisa ser realizada com base no contexto local, tanto em fun-
ção da espécie e do ambiente, como pelos mesmos fatores externos já citados. O obje-
tivo é sempre maximizar as oportunidades de detecção precoce e de erradicação dos
focos iniciais de invasão biológica. Também é preciso definir a forma de notificação das
ocorrências e o conteúdo mínimo a ser fornecido, assim como as pessoas responsáveis
pelo recebimento das notificações e providências consequentes. A formação de pessoas
envolvidas nas atividades, seja para o monitoramento apenas, seja preferencialmente
também para ações de controle e erradicação, é fundamental para que sejam alcançados
os resultados desejados.
A vigilância e o monitoramento ativos referem-se a atividades especificamente voltadas
à detecção de EEIs, enquanto o monitoramento passivo implica a inclusão de observa-
ções sobre EEIs em atividades com outros objetivos. Adicionalmente, pode haver detecção
ocasional, ou seja, independentemente de qualquer programa existente ou formalidade,
pessoas interessadas podem observar a presença de espécies exóticas durante atividades
diversas, inclusive de lazer.
Na sequência, estão indicadas técnicas tanto para a vigilância quanto para monitoramento
com fins de detecção precoce de EEIs, conforme os grupos biológicos tratados neste manual.
28
região em questão, em técnicas e equipamentos a serem utilizados, assim como em um
processo predefinido para informação de ocorrências detectadas. A produção de mate-
riais informativos e de listas regionais de espécies, assim como o uso de listas estaduais
oficiais, são importantes para subsidiar essas atividades.
A vigilância e o monitoramento passivos contemplam também a detecção ocasional,
seja por parte de profissionais da área ambiental e afins, seja por cidadãos interessa-
dos na conservação ambiental e informados sobre como realizar uma notificação de
ocorrência. Este modo é importante para não limitar a detecção a programas formais
e permitir que a observação ocasional de EEIs também seja considerada, ampliando a
capacidade do programa.
Vigilância e monitoramento ativos
Programas de vigilância e monitoramento ativos devem ser desenvolvidos para áreas de-
finidas como relevantes no âmbito de programas de detecção precoce e resposta rápida.
Eles são chave para a proteção da diversidade biológica no país em UCs, por exemplo.
Em pontos de entrada no país, portos e aeroportos, a intercepção de bagagens e cargas é
essencial para reduzir a pressão de introdução de espécies no país por vias ilegais e não
intencionais. Nesses pontos onde a prevenção é chave, a vigilância precisa incluir a preo-
cupação com a entrada de espécies que possam impactar a diversidade biológica. Áreas
adjacentes a pontos de entrada também devem ser consideradas para detecção precoce
quando houver possibilidade de escape ou soltura.
A avaliação de vias/vetores de introdução e dispersão de EEIs no contexto em questão é
importante para fundamentar as estratégias de prevenção, detecção precoce, erradicação
e controle necessárias, especialmente a fim de evitar esforços repetidos sobre focos de
invasão recorrentes que continuamente se estabelecem a partir de fontes de propágulos
localizadas fora da área sob manejo. O conhecimento das principais vias/vetores em áreas
de fronteira, por exemplo, é chave para otimizar a vigilância e a inspeção de bagagens e
cargas, seja em função das áreas de origem, cujas condições climáticas e ambientais favo-
recem o estabelecimento de espécies no país, seja em função de espécies que são frequen-
temente trazidas por passageiros ou que chegam como contaminantes em cargas e merca-
dorias (Faulkner et al., 2016; Essl et al., 2015). Em áreas naturais como UCs, a compreensão
das vias/vetores de chegada de propágulos ou de indivíduos permite traçar estratégias de
controle que incluam a área de origem, através tanto do uso de legislação vigente quanto
de cooperação direta para estancar o processo de dispersão. De forma complementar,
esse reconhecimento facilita a identificação de áreas de maior suscetibilidade à invasão ou
ao estabelecimento inicial de novos focos, como trilhas, caminhos e estradas que cortam
essas áreas, pontos de visitação ou de atividades de lazer onde as pessoas deixam resídu-
os orgânicos ou entram com materiais contaminados, como sementes aderidas ao solado
dos calçados de caminhada.
Em outras instâncias, como a vigilância de fronteiras, a seleção de mercadorias, bagagens
e pessoas fundamentada numa análise de vias/vetores de introdução relevantes permite
otimizar os esforços de inspeção com base nas áreas de origem dos viajantes e produtos.
29
Essa abordagem deve incluir o comércio via internet em função da facilidade de envio de
sementes de plantas e outros propágulos que entram no país sem autorização do IBAMA.
30
Cock, 2001). A periodicidade de verificação se fundamenta no tempo necessário para
que as plantas atinjam a idade reprodutiva, devendo ser menor para o caso de gramí-
neas e outras plantas herbáceas e maior para plantas arbóreas (Ziller et al., 2020). Ide-
almente, a detecção deve ser realizada antes que haja estabelecimento de um banco
de sementes no solo. A fim de maximizar as possibilidades de detecção precoce, devem
ser disponibilizados listagens e outros materiais de referência sobre plantas exóticas
invasoras ocorrentes na região, assim como realizados eventos de treinamento para
reconhecimento de plantas exóticas invasoras já conhecidas na região (McGeoch; Squi-
res, 2015). Independentemente das técnicas de monitoramento empregadas, o estabe-
lecimento de cooperação com instituições de pesquisa científica, profissionais, espe-
cialistas e voluntários, no âmbito da ciência cidadã, é importante para potencializar a
detecção de novas espécies e de novas ocorrências de espécies já introduzidas.
As ações de monitoramento ou vigilância podem ser realizadas por observação direta, por
exemplo ao longo do percurso realizado rotineiramente por guarda-parques em UCs, ou com
base em amostragem periódica, no caso de haver oportunidade de parceria com instituições
de pesquisa, organizações da sociedade civil ou outros interessados. Esse procedimento pode
ser necessário para determinados tipos de ambiente onde a ocorrência de EEIs seria pouco evi-
dente nos estágios iniciais, como plantas herbáceas ou gramíneas em formações campestres.
A dificuldade desses processos é que eles requerem conhecimento especializado e treinamen-
to de pessoal para o reconhecimento de espécies (Wittenberg; Cock, 2001).
Monitoramento e vigilância em áreas naturais, incluindo UCs
Quanto mais frágeis as áreas, mais difícil a restauração do ambiente ou, havendo ocorrência
de espécies ameaçadas de extinção, raras ou endêmicas, maior a relevância para detecção
precoce a fim de evitar o estabelecimento de EEIs. Por exemplo, formações campestres e de
restinga são compostas por espécies herbáceas e arbustivas que não costumam ser produ-
zidas em viveiros, ao mesmo tempo que são altamente suscetíveis à invasão por gramíneas
exóticas ou árvores que invadem ecossistemas abertos (ex.: pínus Pinus spp., acácia Acacia
mangium, leucena Leucaena leucocephala). Além disso, muitas dessas áreas são pouco acessí-
veis por veículos, requerendo horas de caminhada, por vezes em altas altitudes.
As trilhas de travessia de montanha em campos de altitude, por exemplo, atualmente ofe-
recidas em algumas UCs, requerem monitoramento constante para evitar o estabeleci-
mento de focos de invasão biológica. A limpeza de calçados, mochilas e equipamentos de
visitantes e guias, antes do acesso às trilhas, é essencial para prevenir o aporte de semen-
tes e outros propágulos a partir de áreas com EEIs. A limpeza de materiais e equipamentos
deve ser feita de forma constante, inclusive após o uso de trilhas ou acesso a áreas remo-
tas, para evitar a dispersão de propágulos. Ainda assim, o monitoramento periódico é fun-
damental para maximizar as oportunidades de erradicação de focos de invasão biológica e
assegurar a proteção desses ambientes.
Uma verificação deve ser realizada pelo menos a cada 2-3 meses em trilhas de caminhada
e pontos de visitação e acesso público, assim como em áreas onde seja realizado qualquer
tipo de trabalho interno ou externo. A periodicidade precisa ser adaptada às condições
31
climáticas locais, por exemplo, em função de haver estação seca ou inverno pronunciado
em que as plantas secam ou entram em dormência, ou a condições de alta fragilidade
ambiental ou ocorrência de espécies ameaçadas de extinção. A vistoria a pé é importante
para a identificação e eliminação imediata de focos de gramíneas exóticas, por exemplo,
que comumente se instalam ao longo de vias de passagem. Guias de visitantes podem
ser treinados para realizar essas vistorias e assegurar que não sejam deixados propágu-
los levados por visitantes, ou que focos iniciais de invasão sejam erradicados na primeira
oportunidade. Em estradas e caminhos onde transitam veículos, o monitoramento pode
ser realizado com uso de veículo, em baixa velocidade, vistoriando um lado de uma estrada
no percurso de ida e o outro lado no percurso de retorno. A marcação com GPS de pontos
de ocorrência dessas espécies facilita a produção de mapas para a identificação de vias de
dispersão e o planejamento posterior para fins de erradicação ou controle.
No caso de gramíneas e plantas herbáceas de pequeno porte, o monitoramento em curtos
espaços de tempo, mensalmente ou até menos a depender da espécie, ao menos nas esta-
ções favoráveis ao crescimento, é importante no intuito de prevenir a produção de semen-
tes e o estabelecimento de banco de sementes no solo. Gramíneas como braquiárias po-
dem atingir a idade reprodutiva em menos de 30 dias sob condições climáticas favoráveis.
A rotina de observação em ambientes florestais, quando focada apenas em plantas arbóreas ou
arbustivas de maior porte, pode ser semestral ou mesmo anual, pois o tempo necessário para
que essas espécies atinjam a maturidade tende a ser superior a um ou dois anos, pelo menos.
De toda forma, a periodicidade de monitoramento deve ser ajustada a cada condição e grupo de
espécies-alvo, quando definido.
Também se recomenda percorrer, ao menos uma ou duas vezes ao ano, ou com maior fre-
quência quando houver fluxo de pessoas e veículos, áreas com presença de espécies raras,
endêmicas ou ameaçadas de extinção, a fim de assegurar que haja proteção delas contra inva-
são biológica. Nessas áreas, o cuidado com a limpeza prévia de calçados, roupas, materiais e
equipamentos é ainda mais importante.
O uso de drones pode ser de grande utilidade em ecossistemas abertos para detectar a
distribuição de EEIs que se destacam da vegetação natural, como no caso de invasão por
árvores de Pinus spp. ou Acacia mangium em áreas de campo, cerrado ou restinga. Esses
equipamentos podem servir como apoio à delimitação de focos de invasão em ecossiste-
mas abertos (Lehmann et al., 2017).
A elaboração de listas de espécies de potencial ocorrência local ou regional é um apoio
importante para definir, nos determinados contextos, os tempos ideais de monitoramen-
to com base nas características reprodutivas das espécies de ciclo mais curto em cada
ambiente, levando em conta as condições climáticas e outras particularidades locais. De
forma complementar, a análise das vias/vetores de introdução e dispersão facilita a identi-
ficação de áreas mais suscetíveis à chegada de propágulos e contribui para a definição de
áreas de relevância para monitoramento.
O monitoramento deve ser realizado com equipamentos e materiais à mão que viabilizem
a aplicação imediata de ações de controle voltadas à erradicação, especialmente em áreas
32
remotas ou de difícil acesso. Após a execução de ações de controle, cabe também o moni-
toramento, nesses casos, voltado à verificação da eficácia das ações de controle e reaplica-
ção quando necessário (repasse), até que sejam alcançados os resultados desejados.
Animais
Ações de vigilância e monitoramento focadas em animais se fundamentam igualmente na
avaliação de áreas de maior suscetibilidade à chegada de propágulos, por exemplo, a partir
de atividades de criação ou presença de espécies animais invasoras nas proximidades ou
na região, assim como de animais domésticos, como cães e gatos, em áreas periurbanas
ou rurais. De forma complementar, deve-se considerar a proteção de espécies raras, endê-
micas e ameaçadas de extinção que possam ser impactadas em caso de invasão biológica.
Algumas técnicas que podem ser de auxílio na detecção são indicadas a seguir. Indepen-
dentemente das técnicas empregadas, reiteramos que o estabelecimento de cooperação
com instituições de pesquisa científica e amantes da natureza que realizam atividades ao
ar livre é importante para potencializar a detecção de novas espécies e de novas ocorrên-
cias. Somam-se a isso a disponibilização de listagens e outros materiais de referência sobre
animais exóticos que ocorrem na região e a realização de eventos de treinamento para
reconhecimento, notificação e manejo de espécies ocorrentes em nível regional.
O envolvimento de instituições que mantêm animais exóticos como zoológicos, criadores
e Centros de Triagem de Animais Silvestres pode ajudar a melhorar o nível de segurança
para evitar escapes ou solturas indevidas, assim como gerar informação para detecção
precoce quando da apreensão ou recolhimento de animais soltos ou abandonados.
Invertebrados
O monitoramento para a detecção de invertebrados exóticos, em especial de novas espé-
cies ou de espécies de pequeno porte, requer conhecimentos mais especializados do que
para animais maiores, cujo reconhecimento é mais fácil. As atividades devem ser focadas
em espécies particulares, desenhadas para haver repetição em distintas estações do ano,
devem considerar hábitats específicos e costumam requerer alta frequência para serem
eficazes (Wittenberg; Cock, 2001).
O estabelecimento de cooperação com instituições de pesquisa é altamente relevante neste
caso, em especial porque pode haver necessidade de realização de amostragens para que a
detecção seja factível. Algumas espécies, como o caracol-gigante-africano (Achatina fulica) ou a
abelha-africanizada (Apis mellifera), são amplamente conhecidas e de mais fácil reconhecimen-
to, permitindo que pessoas locais sejam treinadas para fazer a detecção. No caso de organis-
mos menores e pouco conhecidos, é difícil a detecção por pessoas sem treinamento científico.
O método de diagnóstico depende de cada grupo, envolvendo coleta de solo, uso de redes
de coleta para lepidópteros e insetos ou uso de armadilhas luminosas. Para qualquer dos
grupos, podem ser definidos transectos para observação ou amostragem periódica. A ma-
nutenção de esforços de amostragem pode ser bastante complexa e tende a ser melhor
justificada no caso de haver espécies-alvo definidas, ou seja, haver iminência de invasão
biológica por espécies reconhecidas como ameaça numa área ou região.
33
Anfíbios e répteis
O número de EEIs de anfíbios e répteis no país é muito pequeno. A rã-touro (Aquarana
catesbeiana) está amplamente distribuída, especialmente na Floresta Atlântica, porém
pode ser levada para outros ecossistemas e ampliar sua área de invasão. A maioria dos
anfíbios demanda rotinas de observação noturna e conhecimento especializado para lo-
calização de indivíduos e reconhecimento pela vocalização. O mesmo se aplica a répteis,
cujas introduções através do comércio de animais de companhia têm aumentado, ainda
que observações diurnas sejam mais factíveis com base nas áreas de descanso e re-
produção. Para tanto, é preciso definir áreas específicas e visitá-las rotineiramente, por
exemplo ao longo de transectos predefinidos, registrando as observações com base na
vocalização ou na observação direta. Há referências sobre o uso de armadilhas não letais
que utilizam camundongos como isca viva para captura de ofídios (Wittenberg; Cock,
2001). Buscar parcerias com instituições de ensino e pesquisa que possam contribuir
com levantamentos de espécies e verificações periódicas é uma ótima alternativa para
somar esforços.
Aves
Ainda que possa ser realizado monitoramento com uso de binóculos, por exemplo ao lon-
go de transectos definidos nas áreas de interesse, a melhor solução é o estabelecimento
de parcerias com observadores de aves e pesquisadores, pois o reconhecimento de es-
pécies requer conhecimento especializado. O uso de armadilhas fotográficas e de grava-
dores autônomos (AudioMoths) também é interessante. A verificação de informações em
websites como WikiAves pode prover informações valiosas, especialmente se for possível
comunicar-se com observadores de aves e solicitar que, em caso de avistamento de aves
exóticas, a informação seja veiculada ao órgão interessado. O primeiro registro de ocorrên-
cia do estorninho-europeu (Sturnus vulgaris) no Brasil, por exemplo, foi feito no WikiAves.
O mapeamento de árvores frutíferas atrativas para aves em determinada estação do ano
também pode facilitar esse tipo de monitoramento. Ainda assim, o número de espécies de
aves exóticas invasoras no país é muito pequeno, e estabelecer monitoramento sem ter
evidências ou alvos definidos pode, nesse caso, não gerar resultados interessantes.
Mamíferos
De forma simples, a instalação de caixas de pegadas em trilhas, pontos de disponibilidade
de água ou de alimento, como árvores frutíferas, ou mesmo cevas instaladas com esse ob-
jetivo, pode facilitar a detecção de EEIs, em especial de animais de maior porte (Wittenberg;
Cock, 2001). Instalar armadilhas fotográficas nesses pontos é também uma alternativa im-
portante. No uso de armadilhas de captura, devem ser usadas aquelas não letais a fim de
evitar impacto a espécies não alvo, a não ser que se justifique a necessidade em situações
específicas com base em evidências e análise técnica anterior. Animais de pequeno porte
tendem a requerer maior intensidade de observações ou amostragem, que são facilitados
quando há espécies-alvo definidas e a busca é realizada em hábitats particulares e em dis-
tintas estações do ano (Wittenberg; Cock, 2001).
34
Figura 2 – Protocolo de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida para Espécies Exóticas Invasoras
(a numeração não é sequencial porque as alternativas do Protocolo não são lineares; as caixas com o
mesmo número indicam etapas equivalentes que podem ocorrer em diferentes momentos)
1
Notificação
2 3
Análise das informações Necessidade de identificação
7 4
Táxon identificado Processo de identificação
8 5
O táxon é não Táxon não identificado
exótico?
sim
O táxon tem 9 6
não -> Risco baixo
registro de
invasão?
sim encerramento
10
Alerta
A invasão
é extensa?
18 11 12 sim
Táxon não encontrado Vistoria
não
não 13 sim 14
Ações de erradicação /
contenção
20 16
Risco desconhecido Monitoramento e repasse
21
Consulta a especialistas 17
Erradicação
sim 22
As ações de controle
são urgentes?
não
26 23 24 25 6
Risco alto Risco moderado Monitoramento
Análise de risco completa
ou análise inválida recomendado
encerramento
Há plano de
contingência As ações de resposta
para o táxon? 27 sim são viáveis? 29 sim 30 17
Realizar ações de resposta Erradicação
não
não
28
Planejar ações de resposta
não 15 sim 16
Monitoramento e rapasse
As ações de resposta
foram eficazes?
35
Todas as alternativas requerem revisão contínua e organização dos dados de observação,
servindo ao mesmo tempo para registro de fauna nativa. Novamente, a disponibilidade
de listas de referência de espécies exóticas que podem ocorrer numa região é importante
para facilitar a detecção precoce, assim como o preparo técnico das pessoas que serão
responsáveis pela tarefa e o uso de guias de pegadas e de identificação de fauna. Também
é importante estabelecer parcerias com especialistas em diversos grupos para confirmar a
identificação de espécies observadas e buscar referências sobre a ocorrência de espécies
e os ambientes que preferencialmente ocupam.
2.3.1 Notificação
36
P1 – Notificação. Indica a comunicação da detecção de um táxon e/ou foco de invasão
biológica ao órgão competente ou ponto focal designado pelos meios digitais e outros
meios disponíveis, incluindo notificação presencial. Quanto mais completo e detalha-
do o preenchimento do formulário de envio de informações pela pessoa que fez a
observação em campo, mais fácil será a tomada de decisão pelas pessoas ou equipes
responsáveis pela execução da resposta rápida. A indicação da localização exata do
foco de invasão, preferencialmente através de fotografias e/ou coordenadas geográ-
ficas, é fundamental para que o foco de invasão possa ser encontrado nas etapas
posteriores para a execução de ações de controle. Igualmente, a indicação da espécie
ou outro nível taxonômico, assim como o nome popular, quando conhecido, facilitam
a identificação e agilizam o processo de tomada de decisão e a execução de ações de
resposta. Os campos de informação considerados essenciais estão indicados na Ta-
bela 1, mas quando houver outros dados é importante que sejam enviados também.
Segue-se para P2.
Esta etapa se refere aos quadros 2 a 9 do Protocolo (Figura 2). A notificação enviada ao ór-
gão competente ou ponto focal designado é analisada, inicialmente para identificar o táxon
detectado. A identificação é fundamental para a tomada de decisão nas etapas subsequen-
tes. Ainda que a identificação a nível específico nem sempre seja necessária, especialmente
no caso de gêneros ou famílias que não ocorrem naturalmente no país, ela deve ao menos
assegurar que não haja confusão com espécies nativas. É importante que contenha as in-
formações necessárias para que se dê prosseguimento à identificação da espécie exótica
detectada, caso não tenha sido identificada no momento da observação em campo, como
fotografias, assim como a localização e a descrição do local para embasar a vistoria de
campo (P11). Caso a notificação já contenha a identificação, o processo é mais ágil; caso ne-
gativo, é preciso realizar uma etapa de identificação. A identificação correta do organismo
detectado é imprescindível, visto que algumas espécies exóticas podem ser parecidas com
espécies nativas e podem ser confundidas na hora da resposta rápida.
P2 – Análise das informações recebidas na notificação. O principal objetivo nesta etapa
é verificar se a notificação inclui a identificação do táxon, dados suficientes sobre o
local da ocorrência, a localização do foco de invasão e dados sobre o observador. O
resultado da análise leva a dois caminhos no Protocolo, que vai depender se o táxon
está ou não identificado. Se o táxon não foi identificado, segue-se para P3; se foi iden-
tificado, segue-se para P7.
P3 – Necessidade de identificação. Ocorre quando resultado da análise das informações
recebidas na notificação não inclui a identificação do táxon, ou a identificação não
parece correta, ou há incerteza. Pode não haver imagens, ou as imagens e informa-
ções recebidas não permitem que o táxon seja identificado diretamente, ou uma ve-
rificação em campo é necessária para a complementação das informações recebidas.
Depois, seguir para P4.
37
2.3.2.1 Processo de identificação
Caso a espécie possivelmente exótica não tenha sido identificada no momento da detec-
ção pelo observador, nesta etapa procura-se realizar a identificação, solicitando o auxílio
de taxonomistas que sejam especialistas no grupo de organismos em questão.
Tabela 1 – Campos recomendados para o registro de notificações de ocorrência de espécies exóticas
Profissão Obrigatório
38
DADOS PARA ENVIO DE NOTIFICAÇÃO À AUTORIDADE NACIONAL
A espécie tem histórico de invasão Opcional, mas desejável, em especial se a fonte tem formação técnica e
em algum lugar do mundo? pode fazer essa indicação
39
P7 – Táxon identificado. A identificação do táxon faz parte das informações recebidas
na notificação, ou ocorre após um processo de verificação e complementação de in-
formações que identifica o táxon com sucesso. Se a identificação é feita por partici-
pantes da Rede de Colaboradores, deve-se também indicar o grupo de organismos a
que o táxon pertence, para facilitar a tomada de decisão na sequência do Protocolo
e, especialmente, para facilitar a busca de alternativas de controle e monitoramento.
Segue-se para P8.
P8 – O táxon é exótico? Realiza-se a verificação da área de distribuição natural do táxon
em comparação com a área de ocorrência. Se o táxon não é exótico ao local de ocor-
rência, o Protocolo é encerrado (segue para P6). Se o táxon é exótico ao local de ocor-
rência, segue-se para P9.
40
A etapa P23 apresenta todos os detalhes do processo de avaliação de risco.
P9 – O táxon tem registro de invasão? Esta etapa é muito importante no seguimento
do Protocolo, pois separa os táxons de acordo com a probabilidade de estabeleci-
mento e invasão. A capacidade de atender toda e qualquer notificação de ocorrên-
cia tende a ser limitada se o volume for significativo e crescer ao longo do tempo. A
aplicação desta pergunta neste ponto do Protocolo visa assegurar que a execução
de ações de resposta tenha foco em táxons que de fato apresentam risco alto de
invasão biológica, ou seja, que já têm histórico de invasão em outros lugares. Nes-
ses casos, é possível que o táxon já conste em listas oficiais de EEIs no país – seja
de espécies presentes, seja daquelas com risco iminente de introdução – ou em
bases de dados nacionais ou globais (Tabela 2), o que facilita a tomada de decisão
e indica a necessidade e a urgência do controle. Informações sobre antecedentes
de invasão podem também ser buscadas em artigos técnicos e científicos utiliza-
dos especialmente na avaliação de risco completa. Esta etapa P9 representa uma
avaliação de risco rápida, pois se fundamenta no preditor de maior eficácia para
indicação do potencial de invasão biológica, que é o histórico de invasão do tá-
xon. Critérios adicionais devem ser considerados, como o histórico de invasão de
espécies congêneres, que pode indicar o potencial de invasão de todo um táxon
de hierarquia superior ao nível específico; a ausência de registro de invasão para
espécies amplamente distribuídas, que tende a indicar risco baixo; e sua ocorrên-
cia junto a espécies endêmicas, raras ou ameaçadas de extinção, que pode ser
considerada um fator de incremento do risco que indica maior urgência nas ações
de resposta. Havendo agilidade, pode-se recorrer ainda à consulta a especialistas
no táxon. Nesta etapa do Protocolosão separados os táxons cujo risco de invasão
é considerado baixo a fim de permitir que as ações tenham foco naqueles com
maior potencial de dano. A menos que haja evidência em contrário, os táxons
avaliados como de risco baixo não serão objeto de ações de erradicação, conten-
ção ou controle, a não ser que haja capacidade instalada para tanto. Sempre que
possível, tais táxons devem ser incluídos em programas de monitoramento ou de
vigilância existentes, e, caso se observe mudança na situação, o órgão competente
ou o ponto focal designado deve ser notificado para que acione novamente o Pro-
tocolo. Se o táxon não tiver registro de invasão, o Protocolo é encerrado (P6). Caso
haja registro de invasão, segue-se para P10.
A separação entre táxons de risco moderado e alto é realizada mais adiante no Protocolo
(P19 a P26).
41
Tabela 2 – Fontes de informação para verificação de antecedentes de invasão de espécies
exóticas
Nome Descrição
CABI
Compêndio global de EEIs
https://www.cabi.org/isc
Google Acadêmico: nome científico + invasive / Busca de artigos científicos e técnicos sobre eventos de
nome científico + invasor invasão pela espécie
2.3.3 Alerta
Nesta etapa, o órgão competente ou o ponto focal designado emite um alerta para solicitar
apoio das instituições responsáveis ou interessadas, pois chegou-se à conclusão de que a
espécie detectada é exótica ao local de ocorrência e que o risco de invasão já não é baixo,
pois essa análise foi feita antes de se chegar a este ponto (P9). Aqui o risco de invasão pode
ser moderado ou alto.
P10 – Alerta. Neste ponto, o táxon foi identificado, é exótico ao local de ocorrência e há evi-
dências suficientes de risco ao ambiente em questão. Um alerta é emitido, pelo órgão
competente ou ponto focal designado, para as instituições responsáveis ou interes-
sadas, bem como para a Rede de Colaboradores. A decisão sobre as instituições que
devem receber o alerta se fundamenta na jurisdição de atuação na área geográfica, no
grupo biológico ou no táxon em questão. Especialistas da Rede de Colaboradores po-
dem receber o alerta a fim de agilizar a confirmação da identificação da espécie ou, em
outros casos, realizar vistorias, especialmente em áreas onde ocorre monitoramento
contínuo ou há pesquisas em andamento. Depois segue-se para P11.
Neste momento, uma pessoa ou equipe, geralmente integrante de instituições das Redes de
Apoio e Colaboradores vinculadas ao Programa, é solicitada a fazer uma vistoria no local de
detecção da EEI. Também deverá ser realizada a delimitação da invasão, de forma simples e
conforme o contexto. Sempre que possível, será realizada uma ação imediata com vistas à
42
erradicação para evitar que o foco detectado siga em desenvolvimento e amplie sua área de
distribuição. Essa estratégia de erradicação/controle é crucial, dado que as oportunidades
de erradicação são limitadas no tempo, no espaço e em função de fatores materiais como
recursos financeiros, equipamentos e pessoal para a execução das ações de resposta rápida.
Assim, a inserção da possibilidade de ação imediata já na fase de vistoria é uma estratégia
fundamental para maximizar a eficácia da abordagem de detecção precoce e resposta rápi-
da, também evitando demora no seguimento do processo completo.
P11 – Vistoria. Neste momento devem ser coletados dados sobre a distribuição do táxon,
o estágio de invasão, evidências de que a espécie chegou ou não à idade reprodutiva
e a área estimada de invasão pelo táxon, dentro do possível, para cada grupo biológi-
co e para cada caso. O avanço de tecnologias de inteligência artificial deverá facilitar,
futuramente, o uso de aplicativos para a identificação de espécies, principalmente a
partir de listagens pré-elaboradas.
Além de verificar o local indicado, deverão também ser vistoriados os arredores do
local da detecção para verificar se existem outros focos de invasão e sua extensão.
A área a ser observada para realizar a delimitação da invasão depende do tipo de
organismo e da viabilidade de detecção, que é mais baixa para espécies animais do
que para plantas. Especialistas no grupo em questão podem ajudar a dar indicações
sobre a extensão da busca, porém isso também depende de cada área, do tempo
necessário e dos recursos disponíveis, já que pode se tratar de áreas de grande ex-
tensão. Além da observação de indivíduos, deve-se buscar também observar indícios
de presença de animais, como pegadas e fezes. Já no caso de organismos como in-
vertebrados, o monitoramento de mais longo prazo e a realização de amostragens
poderão ser necessários para auferir a extensão da invasão.
Segue-se para P12. As etapas P12 a P15 fazem parte do processo de vistoria, po-
dendo levar ao encerramento do Protocolo quando existir possibilidade e sucesso
de erradicação imediata do foco de invasão. Caso o táxon não seja encontrado na
vistoria, segue-se para P18.
P12 – A invasão é extensa? Esta avaliação deve ser realizada por pessoal qualificado du-
rante a vistoria de campo. Ao constatar que a invasão é ampla, ou seja, que há diver-
sos focos de invasão esparsos e que já existe processo de reprodução comprovado
pela observação de descendência, a pessoa responsável pode indicar que o foco de
invasão já passou do estágio inicial e precisa de manejo em médio ou longo prazos.
A avaliação depende de cada táxon ou grupo biológico em questão, sendo mais facil-
mente observada em plantas, através da busca de plântulas, frutos ou sementes na
área ao redor, do que em animais. Uma forma de considerar esta avaliação é estimar
o tempo necessário para o controle, levando em conta, por exemplo, que, se uma
população ou foco de invasão pode ser eliminado em relativamente pouco tempo e
há recursos para as ações de controle, a invasão pode ser considerada inicial. Porém,
cada situação precisará ser analisada à luz do contexto local e do táxon específico.
Quando a invasão é percebida como generalizada nos arredores, ou amplamente
43
distribuída, não se enquadra no âmbito da detecção precoce, e o Protocolo é encer-
rado (P6). A informação deve ser veiculada, sempre que possível, a uma instituição
que possa realizar o manejo como atividade de rotina, assim como aos órgãos am-
bientais do município e do estado da ocorrência, ou estabelecida cooperação para
serem feitas ações de controle e monitoramento posterior. Se a invasão é caracteri-
zada pelo estágio inicial, ou seja, por indivíduos isolados ou pequenas populações,
dá-se prosseguimento à aplicação do Protocolo (P13). Também é preciso seguir o
Protocolo quando há incerteza com relação ao tamanho da população, sem evidên-
cias de que a invasão seja extensa e já tenha passado do estágio inicial, ao menos até
que estas informações possam ser obtidas. Segue-se para P13.
P13 – Existe a possibilidade de erradicação/contenção imediata? Focos de invasão em
estágio inicial são muitas vezes caracterizados por indivíduos isolados ou popula-
ções muito pequenas. Nesses casos, e especialmente quando não há indícios de
que o táxon já passou por um ciclo reprodutivo, configura-se uma oportunidade
de erradicação/contenção imediata. Por exemplo, caso sejam observados animais
que não ocorrem naturalmente numa área, é importante proceder à captura, tanto
para reduzir o risco de estabelecimento, como para a confirmação da identidade do
táxon. Nesse caso, não é possível saber se o foco de invasão pode ser erradicado ou
não, pois é inviável estimar rapidamente o tamanho da população ou a área invadi-
da, porém os esforços possíveis não deixam de ser realizados. Este passo, referente
à contenção ou eliminação de espécimes, portanto, deve fazer parte da vistoria sem-
pre que possível. Caso uma intervenção imediata não seja considerada factível ou
produtiva, dá-se prosseguimento ao Protocolo. Se a resposta é afirmativa, segue-se
para P14; em caso negativo, segue-se para P19.
P14 – Proceder com ações de erradicação/contenção. Uma vez que o táxon seja confir-
mado como exótico à área de ocorrência, sempre que a pessoa ou equipe responsá-
vel pela vistoria tenha preparo para proceder a ações de controle, deve executá-las
de imediato, já que tem a melhor oportunidade possível para conter ou mesmo erra-
dicar o foco de invasão. A pessoa ou equipe que vai fazer a vistoria deve estar ciente
dos materiais e equipamentos necessários para a situação e tê-los disponíveis para
realizar ações de resposta rápida. Entre os invertebrados, assim como as gramíneas
e plantas herbáceas, há táxons com ciclos reprodutivos curtos, de modo que uma
semana ou alguns dias podem implicar a perda da oportunidade de erradicação ou
contenção efetiva da invasão antes da geração e propagação de descendência ou
do estabelecimento de um banco de sementes persistente no solo. A aplicação de
medidas de controle visando a erradicação imediata tem limites em função do gru-
po biológico a que pertence o táxon e da complexidade da situação de ocorrência.
Essa alternativa existe para que as oportunidades de eliminar focos de invasão de
baixa complexidade, ou seja, por táxons já identificadas como exóticos invasores e
passíveis de eliminação, não sejam desperdiçadas, em especial com vistas a prevenir
a reprodução e a disseminação a partir do foco inicial. Esta etapa precisa, portanto,
ser integrada à vistoria sempre que possível. Em caso de incerteza sobre os métodos
44
a serem aplicados, o Protocolo é seguido para a etapa de planejamento.
O detalhamento sobre métodos de controle para os distintos grupos é apresentado
na etapa P30 (“Realizar ações de resposta”) como forma de apoio ao planejamento. Na
etapa aqui descrita, que pode levar à execução de ações de controle apenas com base
nos dados da notificação, não ocorre um planejamento de fato como na sequência do
Protocolo, em que se elabora um plano de ação de base técnica apoiado na vistoria de
campo realizada. Segue-se para P15.
P15 – As ações foram eficazes? No caso de serem realizadas ações de controle com vistas à
erradicação no momento da vistoria, o monitoramento posterior é fundamental para
verificar se as ações foram eficazes, ou seja, se a população inicialmente encontrada
diminuiu ou foi totalmente eliminada. Se houver redução significativa da população
em 80-100%, considera-se que o método foi eficaz e segue-se para P16. Se o foco de
invasão não foi afetado, não diminuiu significativamente, ou a invasão aumentou, não
foi eficaz, é preciso seguir para a fase de planejamento (P28), a fim de definir um mé-
todo de controle de maior eficácia. Nesse caso, podem ser consultados especialistas
para contribuir com a definição de métodos e níveis de eficácia aceitáveis para o táxon.
Não se espera que uma única ação de controle resolva o problema; é normal haver
mais intervenções até que seja possível decidir se vale a pena seguir até a erradicação
ou usar outra possibilidade do Protocolo. Caso não se obtenha a eficácia necessária à
eliminação do foco de invasão após diversas tentativas, pode-se concluir que o contro-
le não é viável, seja por falta de recursos, materiais e técnicas adequadas, seja porque
a invasão aumentou e escapou do âmbito da detecção precoce. As justificativas devem
ser claramente registradas ao se optar pelo encerramento do Protocolo. Quando o
tamanho da população é difícil de estimar, como no caso de invertebrados, a avaliação
da eficácia do controle só pode ser feita ao longo do tempo a partir de monitoramento
contínuo. Nesses casos, especialistas devem ser consultados para ajudar a definir téc-
nicas de manejo, de monitoramento e de avaliação da eficácia do controle. O registro
das ações realizadas é importante para otimizar esforços em situações análogas no fu-
turo. Se a resposta é afirmativa, segue-se para P16; caso negativa, segue-se para P19.
No caso desta avaliação, após a aplicação de ações de resposta, já na base da figura do
Protocolo, se a resposta é negativa, é preciso retornar à etapa de planejamento (P28).
P16 – Monitoramento e repasse. Se o controle foi eficaz, deve-se fazer o repasse do con-
trole, ou seja, repetir a aplicação do método definido até a eliminação total do foco
de invasão. Não se espera que uma ação única leve à erradicação da espécie, mas
sim que o controle seja repetido, com ajustes nos métodos à medida do necessário,
até que seja atingida a erradicação do foco de invasão. Se o controle não foi eficaz,
o Protocolo indica duas situações: quando as ações são realizadas já na vistoria de
campo, dá-se seguimento para aprofundar a análise (P19); nos demais casos, de-
ve-se voltar à etapa de planejamento (P28) para ajustar os métodos utilizados com
vistas a melhorar a eficácia do controle até que esta seja satisfatória. Deve-se apli-
car os preceitos do manejo adaptativo, ou seja, não postergar o manejo por falta
de conhecimento específico, que é obtido ao longo do processo; registrar as ações
45
e métodos empregados e aprimorá-los até alcançar o nível de eficácia desejado. A
cada operação de repasse do controle, o método pode ser ajustado em função do
resultado anterior. Se não é possível avaliar a eficácia, por se tratar, por exemplo, de
animais de difícil observação, será preciso manter o monitoramento até definir um
método que permita fazê-lo ou verificar os resultados no médio prazo. O período
de monitoramento posterior às ações de controle varia de acordo com o táxon e o
grupo biológico em que se enquadra, sendo menor para táxons de ciclo reprodutivo
curto e maior para táxons que requerem mais tempo para alcançar a idade repro-
dutiva. A definição do período de monitoramento pode ser feita com ajuda de espe-
cialistas nos respectivos grupos biológicos, integrantes da Rede de Colaboradores.
Segue-se para P17.
P17 – Erradicação. Refere-se aos casos de sucesso em que o foco de invasão é erradicado.
Uma vez que seja totalmente eliminado e que não se constate a presença de novos
indivíduos na continuidade do monitoramento, pode-se considerar que o foco foi
erradicado. O tempo de monitoramento necessário para chegar a esta conclusão
depende do táxon em questão, sendo mais longo para espécies que demoram mais
para atingir a idade reprodutiva. O Protocolo é encerrado (P6) com o registro das
informações para referência futura. Nos casos em que as tentativas de erradicação
ou contenção são repetidamente falhas e se julga que não é possível continuar com
o controle, ou que a invasão aumente a ponto de tornar o controle inviável, pode-se
chegar à conclusão de que escapa ao âmbito do PNADPRR. Nesses casos, as informa-
ções geradas devem ser repassadas a outra entidade que possa dar continuidade ao
trabalho, sempre que possível. Deve-se procurar envolver atores que trabalham na-
quela área, como agências de meio ambiente em âmbito estadual e municipal, pes-
quisadores de instituições de ensino e pesquisa, técnicos de agências de extensão
rural ou pesquisa em áreas correlatas, organizações da sociedade civil e/ou cidadãos
que têm interesse em contribuir, desde que recebam orientação específica e apoio
necessário. Segue-se para P6.
P18 – Táxon não encontrado. Este passo deriva do P11 (“Vistoria”). É importante que a
pessoa ou equipe responsável pela vistoria tenha em mãos todas as informações
disponíveis sobre a ocorrência do foco de invasão, como a identidade do táxon sem-
pre que identificado, uma descrição do local e onde fazer a busca, preferencialmente
com base em coordenadas geográficas. Se o táxon não é encontrado na vistoria, bus-
ca-se aprofundar o conhecimento sobre ele a fim de definir as ações subsequentes.
De toda forma, é desejável organizar um esforço de monitoramento com ajuda de
pessoas locais para verificar a presença do táxon e coletar dados, sempre que possí-
vel. Na falta de dados de campo, o Protocolo segue-se para P19.
46
que direcionam a avaliação de risco se fundamentam em indicadores de invasão biológi-
ca, como o histórico de invasão pela espécie em outros lugares, características biológicas
e ecológicas, similaridade climática ou de condições ambientais, facilidade de adaptação
a distúrbios causados por atividades humanas, interações ecológicas, taxa reprodutiva e
distribuição global, impactos potenciais ao meio ambiente, à economia e à sociedade, a
viabilidade de manejo, entre outros. Nesta etapa, separam-se as espécies de risco alto e
risco moderado, dando prioridade de controle às primeiras.
P19 – Existe avaliação de risco para o táxon? Quando uma espécie não é encontrada na
vistoria ou quando não houve possibilidade de eliminação imediata nas etapas iniciais,
pode ser necessário aprofundar o conhecimento sobre a espécie para decidir como agir.
Nesses casos, realiza-se uma busca por avaliações de risco existentes (P19); caso não se-
jam encontradas avaliações prontas e, mediante consulta a especialistas no grupo bio-
lógico, houver indicação de que as ações de resposta não são extremamente urgentes,
realiza-se uma avaliação de risco completa (P23). Segue-se para P20 caso não tenha sido
encontrada nenhuma avaliação de risco; para P24 caso a avaliação de risco encontrada
indique risco moderado, ou para P26 caso indique risco alto.
P20 – Risco desconhecido. Se não for encontrada nenhuma avaliação de risco válida para
o táxon, considera-se que o risco é desconhecido e que a situação requer mais aná-
lise (Tabela 3), levando à etapa seguinte. Segue-se para P21.
P21 – Consulta a especialistas. Quando não houver referência disponível sobre o nível de
risco, a alternativa mais rápida é buscar ajuda de especialistas no grupo biológico em
questão para inferir o risco. Essa alternativa pode poupar muito tempo e agilizar as
ações de resposta. Essa consulta deve ser feita, de modo geral, a integrantes das re-
des vinculadas ao programa. Os resultados desta consulta devem indicar se as ações
de controle a serem aplicadas têm ou não urgência. Segue-se para P22.
P22 – As ações de controle são urgentes? Sim. A conclusão da consulta a especialistas é
que o táxon tem tendência a invadir rapidamente, o processo de desenvolvimento é
rápido e há risco de dispersão a partir do foco de invasão detectado, ou outros indi-
cadores de que há urgência em executar as ações de resposta. Assim, considera-se
este resultado equivalente a uma indicação de risco alto. A consulta e os resultados
devem ser registrados e disponibilizados a fim de subsidiar ações futuras. Segue-se
para P26.
P22 – As ações de controle são urgentes? Não. A conclusão da consulta a especialistas
é que o táxon não tem tendência à invasão, ou a invasão é demorada, o proces-
so de desenvolvimento do táxon é lento, ou outros indicadores de que a aplicação
de ações de resposta não é urgente. Isso significa que há tempo disponível para
aprofundar a análise antes de decidir se o manejo é necessário. A consulta e os re-
sultados devem ser registrados e disponibilizados a fim de subsidiar ações futuras.
Segue-se para P23.
P23 – Avaliação de risco completa. A elaboração de uma avaliação de risco completa re-
quer tempo e disponibilidade de pessoas com maior nível de especialização, o que ten-
47
de a gerar demora nas ações de resposta. Por essa razão, ela somente será realizada na
falta de evidências suficientes que permitam a tomada de decisão através dos outros
caminhos indicados no Protocolo. O IBAMA dispõe de protocolos de avaliação de risco
para alguns grupos biológicos; o Instituto Hórus dispõe de protocolos para plantas,
vertebrados terrestres e vertebrados aquáticos e de uma compilação de resultados de
avaliações realizadas em vários países na Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas
Invasoras. Para a realização de avaliações de risco completas, a pessoa responsável
não precisa ser especialista no táxon a ser avaliado, porém deve conhecer os termos
técnicos utilizados nas análises e ter fluência na leitura e compreensão do idioma in-
glês. Uma avaliação de risco completa pode tomar alguns dias de trabalho intensivo,
a depender da prática da pessoa responsável e do táxon em questão. Pode demorar
para ser realizada por depender da disponibilidade de colaboradores e do tempo ne-
cessário para sua elaboração. Os resultados devem ser registrados e disponibilizados
para referência futura. Se o resultado da avaliação é de risco moderado ou a avaliação
é inválida, segue-se para P24. Se o resultado é de risco alto, segue-se para P26.
P24 – Risco moderado ou análise inválida. Indica o caminho do Protocolo para quando
uma avaliação de risco completa, já existente ou realizada no processo do Protocolo
resulta em risco moderado, ou quando não há informações suficientes para comple-
tar a avaliação de risco, que resulta inválida (Tabela 3). Segue-se para P25.
P25 – Monitoramento recomendado. Aplicável a táxons cujo risco de invasão é modera-
do e que, portanto, não requerem ações imediatas de resposta, pois, de modo geral,
se estabelecem apenas em condições favoráveis, ou não conseguem se estabele-
cer, ou não são invasores agressivos. A decisão de indicar monitoramento em vez
de ação de controle visa manter o foco das ações de resposta para EEIs com maior
potencial de dano ambiental. Nesses casos, recomenda-se como alternativa realizar
ações de vigilância ou monitoramento periódico, sempre que possa ser realizado
por atores locais, idealmente, integrantes das redes vinculadas ao programa. Se o
foco em questão evoluir para um processo de invasão, deve ser emitida nova notifi-
cação e o Protocolo é retomado para guiar as ações de manejo. Após esta etapa, o
Protocolo é encerrado (P6).
P26 – Risco alto. Indica o caminho do Protocolo para quando uma avaliação de risco é
encontrada com resultado de risco alto ou quando o risco alto é detectado por es-
pecialistas (Tabela 3), que indicam urgência para o controle com base nas caracte-
rísticas ecológicas e biológicas do táxon, seu histórico de invasão em outros lugares,
a viabilidade de manejo e impactos potenciais. À medida que houver inúmeras de-
mandas, poderá ser necessário montar uma matriz para facilitar o estabelecimento
de prioridades entre as espécies de alto risco, envolvendo critérios como fragilidade
ambiental, presença de espécies endêmicas, raras ou ameaçadas de extinção e via-
bilidade de controle. Segue-se para P27.
48
Tabela 3 – Respostas a níveis de risco para invasões biológicas, conforme resultados da avaliação
de risco
Espécies que não têm antecedentes de invasão em algum lugar do mundo são consideradas
de risco baixo no Protocolo. Não serão realizadas ações de resposta. Se a espécie ocorrer
em UC, deve ser eliminada igualmente para assegurar que não se torne invasora, porém
Baixo a ação não é urgente. O monitoramento periódico para verificar se há mudança no status
da população é desejável; caso seja mais simples eliminar o foco de invasão, a ação
de erradicação deve ser realizada para não gerar custos de monitoramento e risco de
invasão futura.
Espécies que resultam em alto risco avançam sobre o ambiente ao qual foram introduzidas,
ao longo do tempo dominando o espaço, excluindo espécies nativas e/ou causando
alterações estruturais, físicas ou químicas no ambiente.
Alto Deve-se definir as ações de resposta rápida e aplicar medidas de erradicação, contenção
ou controle imediatas visando eliminar os focos de invasão biológica por completo; realizar
monitoramento posterior para avaliar a eficácia das medidas aplicadas; e ajustá-las, se
necessário, até atingir a erradicação, quando o Protocolo é encerrado.
Quando não existe informação disponível para que uma análise de risco possa ser
completada, a tomada de decisão é dificultada porque o grau de incerteza é alto. Esse
resultado pode ocorrer nos casos em que especialistas consultados considerem que
as ações de resposta não são urgentes, e se realiza uma análise de risco completa. O
monitoramento é então recomendado, dentro do possível, por questão de prevenção,
Análise inválida sendo o objetivo principal do Protocolo gerar ações de resposta rápida sobre espécies de
risco alto, de modo geral melhor conhecidas e melhor documentadas.
Da mesma forma que nos casos anteriores, em situações de indivíduos isolados ou em
pequeno número que permitam eliminar o foco de invasão, a ação de erradicação deve ser
realizada sem demora a fim de evitar os custos contínuos de monitoramento e eventuais
ações futuras em caso de invasão.
49
informações da notificação de ocorrência e os dados coletados na vistoria, assim como
dados complementares referentes ao táxon e ao local em questão. Apresentamos a seguir
uma orientação para elaboração desses planos (Tabela 4), de forma básica. A necessidade
de maior detalhamento e inclusão de outros itens dependerá de cada situação. Para fins
de orientação, alguns planos hipotéticos foram desenvolvidos e estão disponíveis no Apên-
dice 3 deste manual.
Tabela 4 – Estrutura básica dos planos de resposta rápida para EEIs com base no Guia de
Orientação para o Manejo de Espécies Exóticas Invasoras em Unidades de Conservação Fe-
derais (ICMBio 2019), com adaptação para o contexto de detecção precoce e resposta rápida
Quem é responsável pela Nome da(s) pessoa(s) envolvida(s) e função(ões); responsável(is) pela execução
coordenação e quem das ações de controle, de monitoramento posterior e repasse do controle, assim
apoia? como pelo registro do processo.
Projetar custos com base nos materiais, equipamentos (ou sua depreciação),
Estimativa de custos
transporte (combustível, pedágio etc.) e mão de obra, quando necessária.
50
P27 – Há plano de contingência para o táxon? Quando a espécie tem indicação de risco
alto de invasão biológica, requer uma ação de resposta no menor tempo possível
(Tabela 3). Então, o órgão competente ou ponto focal designado busca referências
para fundamentar o manejo, como planos de contingência ou planos de resposta
rápida já existentes. Esses planos, quando disponíveis, podem reduzir o tempo de
resposta e otimizar os resultados. Planos de contingência podem estar disponíveis
a partir de processos de licenciamento ambiental que autorizam a criação ou o
cultivo de EEIs, vinculados a atividades de transporte que funcionam como vias de
introdução de EEIs e situações análogas. Quando houver um plano disponível, será
preciso analisar a viabilidade do que está proposto (P29) antes da execução. Se não
houver um plano disponível, o Protocolo segue para o planejamento de ações de
resposta (P28).
P28 – Planejar ações de resposta. Esta etapa resulta na elaboração do plano de ação de
resposta rápida, que deve ser expedito e breve, indicando minimamente os conteú-
dos propostos na Tabela 4. Durante o processo, é importante que sejam considera-
das as condições necessárias para que a pessoa ou equipe responsável possa execu-
tar as ações com eficácia e dispor dos materiais, equipamentos e apoio necessários.
Segue-se para P29.
51
Tabela 5 – Checklist da análise de viabilidade para ações de resposta rápida
Caso alguma das respostas acima tenha sido negativa, existe a possibilidade de essa
lacuna ser suprida em poucos dias (idealmente menos de 5)?
Caso alguma das respostas acima tenha sido negativa, existe a possibilidade de
essas necessidades serem supridas através de parcerias com outras instituições/
pessoas?
Caso não haja disponibilidade dos recursos, materiais e/ou equipamentos
necessários, retornar ao planejamento de resposta e ajustar as ações para
assegurar a viabilidade de execução integral.
Esta é a etapa em que as ações de resposta rápida visando a erradicação e/ou controle
da espécie exótica detectada são iniciadas, após análise positiva de viabilidade (P15). Uma
listagem de materiais importantes para o controle de EEIs em ambientes terrestres está
disponível no Apêndice 4.
P30 – Realizar ações de resposta. Definidas as ações de resposta e confirmada a viabi-
lidade de execução, as ações devem ser implementadas o mais rápido possível em
campo e registradas em detalhes para que os resultados possam ser avaliados e
ajustados conforme necessário. As ações de resposta devem seguir os preceitos do
manejo adaptativo, realizando-se ajustes a cada etapa de controle a fim de aumen-
tar a eficácia dos métodos adotados. Subentende-se que estas ações são um ciclo
que envolve execução (P30), verificação de resultados (P15), ajustes no planejamen-
to se necessário (P28) e nova execução (repasse, P16) até atingir a eficácia desejada
para, preferencialmente, chegar à erradicação do foco de invasão (P17) e encerrar o
Protocolo (P6). Após a execução das ações de resposta, seguir para P15.
52
empregados em cada caso depende do contexto e da análise de cada situação, sendo
comum a combinação de métodos, sua adaptação ao longo do tempo, ou a substituição,
para melhorar a eficácia com base em avaliações de resultados. Além disso, com o passar
do tempo haverá novos métodos, técnicas e produtos disponíveis que devem ser con-
siderados. É preciso, ainda, ter atenção à necessidade de autorização das autoridades
competentes e buscar apoio técnico-científico, sempre que necessário, para a definição
de estratégias e métodos de controle, monitoramento posterior e avaliação da eficácia.
O cuidado para evitar impactos a espécies não alvo também deve ser considerado nos
processos de controle e erradicação.
Plantas
A estratégia visando alcançar a erradicação de plantas envolve o controle continuado até o
esgotamento do banco de sementes no solo, quando já estabelecido, o que varia grande-
mente de espécie para espécie. Por isso a intervenção imediata é tão importante no caso
da detecção de focos de plantas que ainda não atingiram a idade reprodutiva, caso em que
é possível atingir a rápida erradicação. No caso de populações em geral, a eliminação é
iniciada pelas plantas que estão espalhadas a partir de um foco principal, para então este
ser eliminado. Também é importante eliminar primeiro as plantas de menor porte, espe-
cialmente se passíveis de arranquio manual, antes das plantas maiores, pois estas, ao cair,
cobrem o solo e impedem a localização das menores. Por isso, as árvores de maior porte
são eliminadas por último. Quando há ocorrência de focos de invasão em áreas extensas
em ambientes abertos, o uso de VANT (drones) pode ser muito útil para mapear as plantas
e definir a estratégia de eliminação.
Estão apresentados a seguir, de forma genérica, os principais métodos utilizados para o con-
trole de plantas exóticas invasoras, com um resumo apresentado na Tabela 6. Detalhes téc-
nicos referentes à concentração de herbicidas para cada espécie e particularidades do con-
texto local devem ser definidos por técnicos com experiência no controle ou com base em
referências técnicas disponíveis. A Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras
contém uma seção sobre manejo que pode ser útil na definição de métodos adequados para
cada espécie. Toda ação de controle de plantas exóticas invasoras deve ser realizada com EPI
completo, tanto para operadores de motosserra como para aplicadores de herbicida e auxi-
liares de campo. As ferramentas utilizadas devem receber limpeza (para evitar a dispersão
de propágulos a novas áreas) e manutenção constantes e ser levadas ao campo após verifi-
cação de funcionamento e afiação, a fim de evitar desperdício de tempo e recursos.
Controle mecânico
As técnicas de controle mecânico envolvem o arranquio manual de plântulas e a eliminação, com
ferramentas diversas, de plantas adultas. A limpeza de plantas de pequeno porte antes da eli-
minação de plantas maiores é desejável para evitar que não sejam percebidas depois, como no
caso de corte de árvores que deixa grande quantidade de biomassa no solo. A técnica a ser utili-
zada vai depender da espécie e do ambiente, pois algumas plantas quebram facilmente na base
quando arrancadas e voltam a brotar depois, outras regeneram de partes de caules e raízes que
precisam ser removidos do local, e outras ainda voltam a enraizar se deixadas sobre o solo, seja
53
de ramos ou partes de caules. Por isso é importante verificar o método mais adequado antes de
dar início ao controle. Na grande parte dos casos, o controle mecânico é combinado ao controle
químico para melhorar a eficácia, pois permite evitar a emissão de rebrotas das plantas, otimi-
zando tempo e recursos. Ainda que possa parecer menos impactante, o controle mecânico pode
dificultar a regeneração natural porque não é seletivo, ou seja, ao roçar uma gramínea invasora,
não é viável deixar de roçar espécies nativas. Por isso é importante avaliar cada situação antes de
decidir que método tem melhores chances de produzir resultados positivos. O arranquio manual
pode também levar a impactos sobre solos frágeis e gerar processos erosivos, o que é especial-
mente preocupante em áreas de declive e margens de cursos d’água.
Queima prescrita
Essa técnica é mais adequada para ecossistemas cuja história evolutiva inclui incêndios
naturais, como é o caso do Cerrado no Brasil, e requer o apoio de profissionais especia-
lizados. A queima prescrita é, porém, mais indicada quando ocorre dominância da EEI, o
que não é o caso dos focos de invasão alvo de programas de detecção precoce e resposta
rápida, pois comprometeria também a sobrevivência de plantas nativas.
A queima prescrita pode ser utilizada como meio de controle mecânico complementar
para algumas espécies, visando eliminar o banco de sementes no solo ou reduzir a bio-
massa em ambientes abertos dominados especialmente por gramíneas. Para que possa
ser utilizada como ferramenta de controle, é preciso preparar a área através da implanta-
ção de aceiros, geralmente molhados com água ou espuma, para a contenção do fogo. A
época de realização preferencial é a reprodutiva no caso de espécies herbáceas e arbus-
tivas, antes que as plantas atinjam a fase de dispersão de sementes. No caso de plantas
arbóreas, o fogo pode ser usado para eliminar plântulas e reduzir o tamanho das popu-
lações (DiTomaso; Johnson, 2006). É fundamental realizar a queima prescrita sob con-
dições climáticas favoráveis para a queima ao mesmo tempo que o controle da queima
sejam factíveis, ou seja, em dias sem ou com pouco vento, com umidade entre 10 e 80%
e temperaturas entre 0 e 40 °C. Somente deve-se sair da área depois de não haver mais
fogo ativo, nem brasas, e aguardar uma hora até assegurar que não haja novos focos de
incêndio (Bidwell et al., 2018).
Quando a queima não é suficiente para controlar uma planta invasora, ela pode ser usada
para melhorar significativamente a eficácia de outras técnicas de controle. É utilizada como
pré-tratamento para estimular a germinação e esgotar mais rapidamente o banco de se-
mentes de plantas que se beneficiam do fogo, como tojo (Ulex europaeus), cana-do-reino
(Arundo donax), capim-annoni (Eragrostis plana) e capim-gordura (Melinis minutiflora). As
plântulas são então eliminadas com uso de controle químico (DiTomaso; Johnson, 2006).
O fogo pode também ser utilizado como pós-tratamento para aumentar a eficácia do con-
trole após a aplicação de controle químico. Uma vez que as plantas-alvo estejam secas,
procede-se à queima prescrita para eliminar os resíduos e estimular a germinação do ban-
co de sementes no solo (DiTomaso; Johnson, 2006).
54
Controle químico
O uso de herbicidas é importante no controle de grande parte das plantas exóticas inva-
soras a fim de evitar a rebrota, reduzir custos e a frequência das intervenções, aumentar
a eficácia do controle e facilitar a regeneração natural de espécies nativas. A indicação de
que produto usar, assim como a diluição, a forma de aplicação e o uso de aditivos como
surfactantes requerem conhecimentos especializados e variam entre as espécies e seu
estágio de desenvolvimento. Herbicidas são empregados para eliminar plantas inteiras ou
para estancar rebrotas de tocos de arbustos ou árvores. Entre os produtos mais utiliza-
dos em termos globais para o controle de plantas invasoras estão os herbicidas à base de
Triclopir para plantas lenhosas e à base de Glifosato para plantas herbáceas e gramíneas,
ambos com produtos registrados no Brasil para fins de uso não agrícola, que inclui a apli-
cação em áreas naturais (ICMBio, 2019).
Tabela 6 – Técnicas de controle de plantas exóticas invasoras (ICMBio, 2019; Tu et al., 2001)
No caso de gramíneas e plantas herbáceas, é comum a aplicação via aspersão foliar, en-
quanto, no caso de árvores, a aplicação de herbicida nos tocos é a técnica mais indicada
(Tu et al., 2001; Dechoum; Ziller, 2013). Já no caso de palmeiras, a injeção de herbicida no
tronco é a melhor alternativa e de mais baixo impacto (ICMBio, 2019).
O uso de herbicidas para controle de plantas exóticas invasoras deve ser realizado por
pessoas com treinamento específico, preferencialmente para aplicação em áreas natu-
rais onde evitar impacto sobre espécies não alvo é relevante. Devem ser seguidos proto-
colos de segurança do trabalho, uso de EPI completo, desde o preparo das soluções até o
55
final da aplicação, e equipamentos em bom estado de conservação, que não vazem nem
gotejem, com bom controle da aplicação das soluções. Projetos de manejo de EEIs devem
ter como objetivo maior a restauração de ambientes naturais, com responsabilidade téc-
nica definida e as devidas permissões, assim como planejamento para acompanhamento
após o tratamento e repasse, pois nem sempre o controle tem eficácia de 100%. Medidas
adicionais de segurança envolvem o uso de herbicidas com degradação ambiental rápida
(em geral, 20-45 dias), a não ser em casos excepcionais de espécies que requerem produ-
tos de maior persistência e que não sejam exsudados pelas raízes das plantas. Essas ca-
racterísticas asseguram que, aplicados sobre o toco de plantas cortadas, não haja possi-
bilidade de contaminação do solo ou da água. A aspersão foliar é feita usando herbicidas
não específicos e desenhados para uso em gramíneas e plantas herbáceas. A aplicação
não pode ser realizada em dias chuvosos ou na iminência de chuva, nem de vento forte,
e deve ser evitada nas horas mais quentes do dia em função de potencial evaporação
das soluções e perda de eficácia (Tu et al., 2001). Não há herbicidas registrados no Brasil
para controle de plantas no meio aquático, com exceções para algumas poucas espécies,
o que ressalta a importância da detecção precoce nesses ambientes para remoção me-
cânica nas fases iniciais de processos de invasão.
Controle biológico
O controle biológico prescinde da liberação de organismos que atacam as plantas a serem
controladas e prejudicam, de distintas formas, o seu desenvolvimento. Podem ser preda-
dores de sementes, que ajudam a conter a dispersão, ou de brotos de crescimento, levan-
do as plantas à morte. Com maior frequência são utilizados insetos porque têm dieta alta-
mente específica, sendo selecionadas espécies que somente atacam a espécie-alvo, sem
causar dano a outras. Para alcançar este resultado, testes de especificidade são realizados
em laboratório a fim de verificar se as espécies identificadas como agentes potenciais de
controle atacam outras plantas, que são oferecidas em condições controladas. Essas ava-
liações podem levar anos, mas, uma vez identificados agentes de alta especificidade, o
controle biológico é uma ferramenta de controle de alta valia, especialmente para invasões
biológicas de grande escala ou de plantas às quais a aplicação de outros métodos é muito
difícil. Por exemplo, a invasão por lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) em brejos de solos
não consolidados, como Organossolos, de modo geral não têm solução porque não é pos-
sível acessar essas áreas caminhando e porque não há um herbicida disponível para uso
em ambientes aquáticos registrado no Brasil, que poderia ser aplicado por aspersão com
uso de drones. Ademais, em função da vasta dispersão da espécie principalmente na Flo-
resta Atlântica e do vigor de persistência, a erradicação não é considerada viável. O contro-
le biológico é ideal para esses casos e serve igualmente para conter novos focos de invasão
por espécies como essa em novas áreas, nesses casos no contexto da detecção precoce,
em função de alcançarem áreas amplas, incluindo áreas de difícil acesso, com especifidade
às plantas-alvo. A adoção de controle biológico é facilitada quando há referências de con-
trole para a espécie, ou para espécies congêneres, em outros países, com agentes já identi-
ficados. Precisa, porém, ser realizado com base científica, seguindo protocolos específicos
por instituições especializadas no assunto e a legislação vigente, incluindo análise de risco
56
anterior à introdução e as devidas autorizações concedidas pelo IBAMA.
Animais
A definição de métodos de controle para animais exóticos invasores depende diretamen-
te da espécie em questão. No caso de plantas, é mais viável definir métodos de trabalho
com base nas formas de vida das espécies, porém as espécies animais estão distribuídas
em um número infinitamente maior de grupos biológicos e formas de vida. A aplicação
da estratégia de detecção precoce através do estabelecimento de rotinas de vigilância ou
monitoramento para espécies e áreas prioritárias é chave para maximizar as oportunida-
des de erradicação. Para tanto, podem ser usadas armadilhas fotográficas e outros meios
digitais de vigilância, aproveitar programas de monitoramento ambiental existentes e en-
volver o público no âmbito da ciência cidadã. Um panorama geral de métodos de controle
é apresentado a seguir para prover base técnica, porém as distintas situações de invasão
requerem planejamento específico e não podem ser generalizadas.
O controle de animais exóticos invasores tende a incluir a necessidade de realização de ajustes
ao longo do tempo, pois os animais tendem a aprender a evitar ou se defender de técnicas em-
pregadas repetidamente. Isso significa que, com o tempo, a aplicação de um método repetitivo
perde eficácia, sendo preciso mudar de método ou de estratégia de controle. Assim, é importante
considerar, desde o início, um bom universo de opções, conforme apresentadas em materiais de
referência como o Guia de Orientação para o Manejo de Espécies Exóticas Invasoras em Unida-
des de Conservação Federais (ICMBio, 2019) e o Manual Prático para o Controle de Vertebrados
em Ilhas de Espanha e Portugal (Orueta, 2002), e aplicá-las em momentos distintos, conforme o
contexto. Um apanhado de técnicas está organizado na Tabela 7, por grupo biológico. Sempre
que possível, o apoio de pessoas com experiência em manejo e de especialistas nos distintos gru-
pos ou espécies é importante para aumentar a eficácia das ações e maximizar as oportunidades
de erradicação dos focos de invasão detectados. É comum, ainda, o uso de mais de um método
nas ações de controle, para complementação e aumento da eficácia.
Captura
A captura de animais exóticos invasores pode ser realizada através do uso de ferramentas
diversas, como armadilhas do tipo jaula, no caso de mamíferos, puçás, covos, e redes, no
caso de répteis e anfíbios que também usam o meio aquático, como a tartaruga-tigre-d’água
(Trachemys spp.) e a rã-touro (Aquarana catesbeiana). A fim de evitar impactos sobre a fauna
nativa, costuma-se utilizar armadilhas de captura não letais. Isso implica a necessidade de re-
visar as armadilhas ao amanhecer, evitando assim deixar algum animal preso que possa so-
frer estresse excessivo ou desidratação. Animais nativos capturados são liberados, e animais
exóticos, apreendidos. Animais exóticos capturados não podem ser devolvidos à natureza
(art. 33 da Instrução Normativa IBAMA nº 19, de 19 de dezembro de 2014; e arts. 21-22-23 da
Instrução Normativa IBAMA nº 23, de 31 de dezembro de 2014).
Abate com arpão
No caso da rã-touro (Aquarana catesbeiana), pode ser utilizado arpão no controle, levando
ao abate do animal. O trabalho é realizado à noite, geralmente ao redor de açudes ou lago-
57
as, com uso de lanternas para facilitar a visualização das rãs, já que os olhos delas brilham
quando atingidos pelo facho da lanterna.
Abate com arma de fogo
O abate com arma de fogo é permitido para o javali (Sus scrofa) no Brasil, regulamentado
pela Instrução Normativa IBAMA nº 3, de 31 de janeiro de 2019, e a Instrução Normativa
IBAMA nº 12, de 25 de março de 2019. O abate de outros animais exóticos invasores requer
autorização do IBAMA, porém está em processo de elaboração uma norma específica para
esse fim, em função de processos de invasão biológica por outras espécies de mamíferos
como o cervo axis (Axis axis).
Uso de iscas de veneno
O uso de iscas de veneno para controle de animais exóticos invasores é realizado em
condições controladas ou em ilhas oceânicas onde o risco de eliminação de espécies
não alvo é baixo, seja porque não ocorrem espécies nativas que podem consumir o
veneno, seja porque são criadas condições de baixo risco por confinamento, cevas
monitoradas, ou armadilhas concebidas para esse fim, como no caso de roedores.
Requer autorização específica do órgão ambiental responsável.
No Brasil, a lei de proteção à fauna silvestre (Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967) inclui,
no art. 10, a determinação de que “a utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de
espécimes da fauna silvestre são proibidas a) com visgos, atiradeiras, fundas, bodoques,
veneno, incêndio ou armadilhas que maltratem a caça”. Esta lei se aplica à fauna silvestre e
não distingue entre espécies nativas e exóticas invasoras, além de mencionar a caça.
Métodos contraceptivos
A captura de animais exóticos seguida de esterilização ou castração não é um méto-
do de alta eficiência, pois, se devolvidos à natureza, ainda que não reproduzam mais,
muitos seguem impactando a fauna nativa durante muitos anos, como no caso de sa-
guis (Callithrix spp.), que, embora nativos do Brasil, são invasores fora de suas áreas
de distribuição natural. O mesmo se aplica a cães (Canis familiaris) e gatos (Felis catus)
ferais, porém a esterilização de cães e gatos domésticos é desejável a fim de reduzir a
população desses animais e a tendência ao abandono de crias.
Cercas para isolamento
O uso de cercas pode ser de utilidade para isolar áreas que ficam livres de EEIs e ajudam
a promover a recuperação de populações de espécies nativas, como no caso de aves ma-
rinhas em ilhas oceânicas invadidas por gatos ferais, ou a restauração da vegetação, como
no caso de áreas invadidas por cabras (Capra hircus) e javalis (Sus scrofa).
58
Tabela 7 – Métodos de controle de fauna exótica invasora
59
Grupo Controle mecânico Controle químico / outros
Captura e eutanásia
Aves Doação para zoológico ou posse
responsável, se possível
Roedores Roedores
Captura com armadilha de gaiola ou Uso de iscas de veneno em condições
pitfall e eutanásia controladas, especialmente
Brodifacoum
Animais domésticos em áreas naturais
Captura e confinamento; devolução Animais domésticos em áreas naturais
Mamíferos ao dono com aviso para contenção em Uso de iscas de veneno em condições
casa controladas
Captura e doação a terceiros fora da
UC, quando não feral
Quando feral, captura e eutanásia
Esta etapa é realizada após as ações de resposta rápida para verificar a eficácia dos resul-
tados de controle, monitorar o surgimento de novos focos de invasão e, em caso positivo,
continuar com as ações de resposta. Esta etapa foi detalhada anteriormente na descrição
da vistoria, que envolve a possibilidade de erradicação imediata (P16 e P17), assim como
a repetição de esforços de controle (repasse do controle) com a aplicação dos mesmos
métodos ou de métodos ajustados para melhorar a eficácia dos resultados, com vistas a
atingir a erradicação e o encerramento do Protocolo (P6).
Dois exemplos de aplicação do Protocolo para o ambiente terrestre estão disponíveis no
Apêndice 5.
61
No uso de controle químico, a eficácia desejada é de 100% de mortandade. Ao eliminar 70 ou
80% das plantas-alvo, pode-se aumentar a concentração de um herbicida na solução aplicada ou
agregar aditivos como surfactantes, emulsionantes e outros para melhorar a absorção. Essa de-
cisão depende das características das plantas-alvo, por exemplo, folhas pilosas, cutícula grossa,
folhas transformadas em espinhos e outras características que dificultam a absorção do herbi-
cida. Em geral, se a eficácia é muito baixa, o princípio ativo pode não ser adequado à espécie e é
preciso buscar informação sobre outros princípios ativos, ou mesclar diferentes produtos. Para
tanto, recomenda-se buscar apoio técnico de pessoas com experiência no manejo de plantas
exóticas invasoras em ambientes naturais. O apoio de pessoas com experiência no controle de
plantas daninhas em ambientes agrícolas é também importante, devendo-se sempre verificar
as características de produtos indicados, em especial a persistência ambiental, a exsudação pelo
sistema radicular e o potencial de contaminação de solo e água e de impacto a espécies não alvo.
Quando, apesar de mudanças de métodos e múltiplas tentativas de erradicação, a in-
vasão não é controlada e aumenta, fugindo do controle, ou ainda quando os recursos
disponíveis são exauridos, não há pessoal disponível nem oportunidades para estabe-
lecer parcerias, pode-se chegar à conclusão de que a erradicação é inviável e encerrar o
Protocolo. Nesses casos, é importante que o problema seja comunicado às pessoas res-
ponsáveis pela área em questão, devendo-se buscar formas de manter o controle para
tentar evitar a expansão do processo de invasão.
O tempo de monitoramento posterior às ações de controle depende, basicamente, da via-
bilidade do banco de sementes da espécie no solo, que também define o período em que
é preciso manter ações de controle de forma contínua. Na falta dessas informações (pois
nem sempre estão disponíveis), é importante estabelecer rotinas de monitoramento perió-
dico para avaliação da eficácia de métodos já aplicados, ao mesmo tempo que se mantêm
em curso ações de eliminação de novas plântulas ou rebrotas.
Animais
A lógica de fazer inferências sobre a eficácia do controle se fundamenta na redução da
população-alvo ao longo do tempo. A eficácia de 100% é a meta, ou seja, busca-se acima
de tudo a erradicação da espécie ou do foco de invasão no local em questão. A eficácia
é estimada a partir da redução gradativa da população, com a eliminação de espécimes
superior à geração de novos indivíduos, até atingir o extermínio. A fim de mensurar o
progresso com populações animais, é preciso realizar amostragens ou observações sis-
temáticas. Esse processo envolve alguns desafios, como encontrar indivíduos que, ao
se deslocarem em função de ações de controle, podem dar a impressão de terem sido
eliminados, ou ainda desenvolver comportamento fugidio, dificultando sua localização e
interferindo nos resultados.
O uso de métodos utilizados para fins de diagnóstico, envolvendo armadilhas fotográfi-
cas, caixas de pegadas e rotinas de monitoramento em campo, é acessório à definição da
eficácia de controle. Podem ser estabelecidos transectos fixos para monitoramento peri-
ódico, fazendo-se a contagem de indivíduos ou a verificação de pegadas. No caso de in-
vertebrados, é preciso realizar coleta. Recomenda-se realizar o monitoramento ao menos
62
a cada três meses, porém o tempo deve ser ajustado de acordo com o ciclo reprodutivo
das espécies. Animais que têm ciclos reprodutivos curtos e podem compensar a redução
populacional devida ao controle pela intensificação da reprodução precisam ser monitora-
dos e controlados com frequência maior, sempre com vistas a evitar que atinjam a idade
reprodutiva. Em áreas onde não existe informação prévia, pode ser preciso realizar um
inventário inicial para estabelecer uma linha de base para o monitoramento.
Estimativas de taxa reprodutiva e geração de descendentes ajudam a definir a eficácia do contro-
le (Berry; Kirkwood, 2010), portanto caracterizam processos prolongados e não ações isoladas.
Técnicas mais recentes incluem análises com marcadores de DNA para verificar a chegada de
indivíduos de outras áreas ou populações em uma população de animais invasores. Além disso,
a supressão de indivíduos adultos pode levar ao aumento da taxa reprodutiva como mecanismo
de compensação da população (Berry; Kirkwood, 2010), sendo importante avaliar que indivíduos
devem ser eliminados com maior prioridade.
Recomenda-se buscar parcerias com especialistas em distintos grupos biológicos, con-
forme o caso, para apoiar a avaliação de eficácia do controle. Isso é especialmente impor-
tante porque haverá necessidade, em algumas situações, da realização de amostragem
e coleta de material biológico, assim como de apoio especializado para confirmar a iden-
tidade de espécies.
63
Axis axis
©Ola Jennersten - WWF-Sweden
64 64
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversos desafios precisam ser vencidos para que a implementação de programas de de-
tecção precoce e resposta rápida possa ser realizada com sucesso, o que inclui a formação
de pessoas para que o processo seja compreendido e posto em prática de forma eficaz,
com base no estabelecimento das Redes de Apoio e de Colaboradores. Para tanto, é tam-
bém essencial prover segurança jurídica para as pessoas envolvidas, com processos ágeis
de concessão de autorizações para coleta de espécimes e realização de ações de controle.
A integração e a comunicação entre as instituições e pessoas envolvidas nas ações de
resposta rápida são essenciais para o funcionamento e a efetividade dessas ações. A
participação de especialistas na escolha de métodos de monitoramento e controle para
diferentes grupos de organismos pode ser de grande valia, pois sua definição envolve
múltiplos fatores e condições ambientais que precisam ser levados em conta.
Considerando que, uma vez em funcionamento, o órgão ambiental competente pode
receber um número de notificações que extrapola a capacidade de resposta das organi-
zações envolvidas, a análise dos casos é fundamental para que os recursos disponíveis
sejam aplicados a situações com maior viabilidade de erradicação de EEIs e/ou focos de
invasão biológica. Em função dessa realidade, o Protocolo foi ajustado para focar em
espécies de alto risco, buscando-se soluções paralelas para espécies de risco moderado
e de risco baixo, que requerem monitoramento, na medida do possível. As ações de res-
posta devem ter foco em situações viáveis e os resultados devem ser amplamente divul-
gados a fim de estimular a replicação das iniciativas no território nacional.
Ainda que o Protocolo possa ser aplicado a organismos de qualquer grupo biológico, o con-
trole de espécies em alguns grupos é mais factível do que em outros. Esses são os grupos
que devem receber atenção prioritária. Por exemplo, espécies microscópicas ou até mesmo
de pequeno porte são de difícil detecção, assim como sua identificação, fatores que dificul-
tam o controle efetivo. Dado que a capacidade de atuação é limitada em função da dimensão
continental do país, a menos que no futuro venham a surgir métodos que no momento não
estão disponíveis para controlar esse tipo de organismo, o foco da detecção precoce deve ser
voltado para casos de detecção que possam ter resultados positivos, com efetiva ação de er-
radicação ou controle eficaz. Espera-se que, ao longo do tempo e com experiência acumulada,
planos de resposta rápida disponíveis e uma série de ações executadas, as iniciativas possam
gradativamente contemplar também espécies consideradas de risco moderado ou baixo.
A veiculação de informações em campanhas públicas constitui uma estratégia comple-
mentar importante, tanto para facilitar a detecção de espécies como para viabilizar o
controle. Isso se aplica principalmente a espécies que podem ter impacto à saúde ou ao
bem-estar humano por serem agressivas ou vetores de doenças.
Pessoas interessadas em contribuir com programas de detecção precoce e resposta rápida de-
vem compreender o escopo de cada programa, os objetivos principais e os preceitos utilizados.
É importante que profissionais vinculados a esses programas se atualizem continuamente sobre
métodos de detecção precoce e alternativas de erradicação e controle. Além disso, o apoio à
formação de novos colaboradores é extremamente necessário e de alto valor para qualificar a
atuação dos agentes e melhorar a eficácia da detecção precoce e das ações de resposta rápida.
65
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68
GLOSSÁRIO
Análise de risco – Análise da probabilidade de introdução, estabelecimento e invasão de
uma espécie exótica e da magnitude das consequências, usando informação de base
científica e identificação de medidas que podem ser implementadas para reduzir ou
gerenciar esses riscos, levando em consideração questões socioeconômicas e culturais
(CDB, Decisão VI-23). O procedimento completo inclui identificação dos perigos, avalia-
ção, caracterização, gestão e comunicação dos riscos.
Controle – Medidas de manejo que, por meio de métodos mecânicos, químicos ou biológi-
cos, reduzem a abundância e/ou densidade de uma EEI para minimizar seu crescimento
populacional, dispersão e impactos.
Detecção precoce e resposta rápida – Conjunto de ações coordenadas que visam encon-
trar e erradicar espécies com potencial de invasão antes que se disseminem e causem
danos (United States Department of the Interior, 2016).
Erradicação – Medidas de manejo que levam à remoção total da população de uma EEI em
determinada área.
Espécie nativa – Espécie, subespécie ou táxon de hierarquia inferior ocorrendo dentro de
sua área de distribuição natural (passada ou presente), incluindo a área que pode alcan-
çar e ocupar através de seus sistemas naturais de dispersão (CDB).
Espécie exótica – Espécie, subespécie ou táxon de hierarquia inferior ocorrendo fora de
sua área de distribuição natural passada ou presente, incluindo qualquer parte, como
gametas, sementes, ovos ou propágulos, que possa sobreviver e subsequentemente
reproduzir-se (CDB, Decisão VI-23).
Espécie exótica invasora (EEI) – Espécie exótica cuja introdução e/ou dispersão ameaçam
a diversidade biológica (CDB, Decisão VI-23).
Estabelecimento – Processo de reprodução de uma EEI num ambiente novo, com descen-
dentes viáveis e probabilidade de sobrevivência contínua (CDB, Decisão VI-23).
Introdução de espécies – Movimento por ação humana, direta ou indireta, de uma espé-
cie exótica para fora de sua área de distribuição natural (passada ou presente). Esse mo-
vimento pode ocorrer dentro de um país, entre países ou em áreas além da jurisdição
nacional (CDB, Decisão VI-23).
Invasão biológica – Processo pelo qual uma espécie ou população é transportada para fora
de sua área de distribuição natural e introduzida em um novo ambiente onde se reproduz
gerando descendentes viáveis e se dissemina ampliando a distribuição geográfica e amea-
çando a diversidade biológica, com potenciais impactos à sociedade, à economia e à saúde.
Monitoramento – Série de observações regulares ou irregulares no tempo feitas para
mostrar o grau de conformidade com um padrão ou o grau de desvio das observações
esperadas.
69
Prevenção – Estratégias e medidas de gestão e manejo para evitar ou minimizar a chegada
ou a introdução de espécies exóticas em um dado ambiente ou local.
Princípio da precaução – Preceito que estabelece que quando existir ameaça de sensí-
vel redução ou perda de diversidade biológica, a falta de plena certeza científica não
deve ser usada como razão para postergar medidas que evitam ou minimizam essa
ameaça (CDB, Decreto Legislativo nº 2, de 5 de junho de 1992). Estratégia para lidar
com as incertezas científicas na avaliação e gestão de riscos (UNESCO, 2005).
Repasse do controle – Ações subsequentes à primeira ação de controle para nova aplicação
dos métodos já utilizados ou modificados a fim de melhorar a eficácia dos resultados.
Serviços ecossistêmicos – São os benefícios da natureza para as pessoas, vitais para
o bem-estar humano e para as atividades econômicas. A Avaliação Ecossistêmica do
Milênio (AEM), publicada em 2005, classifica os serviços ecossistêmicos em quatro
categorias: de provisão, de regulação, culturais e de suporte, também chamados de
apoio ou hábitat.
Vetor de introdução ou dispersão (vector) – Meio de introdução, como, por exemplo, navio,
contêiner de carga, materiais de embalagem, equipamentos ou veículos de transporte.
Via de introdução ou dispersão (pathway) – Processo que resulta na introdução de uma
espécie exótica de uma área geográfica para outra.
Vigilância – Processo oficial em que dados de ocorrência de espécies são coletados e
registrados por meio de pesquisas, monitoramento ou outros procedimentos.
70
APÊNDICE
APÊNDICE 1 – VIAS E VETORES DE INTRODUÇÃO E DISPERSÃO
Apresentamos a seguir um resumo das definições de vias/vetores de introdução e dis-
persão de EEIs, conforme o Guia de Interpretação elaborado por Harrower et al. (2018) e
adotado pela CDB. As categorias são: soltura na natureza, escape de confinamento, trans-
porte como contaminante, transporte como clandestino, corredores e sem ajuda humana.
Dentro de cada categoria há subcategorias que são detalhadas a seguir.
1 Soltura na natureza
As espécies são transportadas intencionalmente e liberadas em ambiente natural para ser-
vir a um propósito específico (mesmo que isso possa implicar que a espécie seja mantida
por um período em cativeiro ou em condições controladas antes da liberação).
71
o propósito de criar estoques na natureza a fim de ser caçada para consumo humano
(Harrower et al., 2017).
1.6 Soltura na natureza para uso (outros fins além dos citados acima)
Espécies soltas no ambiente natural para serem usadas por humanos para outros fins que
não caça, pesca, controle/barreiras ambientais ou conservação, e não introduzidas apenas
por razões estéticas, por exemplo, introdução para fins alimentares, mercado de pele, bior-
remediação, fauna polinizadora.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são considerados nesta subcategoria.
2 Escape de confinamento
Espécies que escaparam de ambientes confinados e controlados onde foram mantidas para
uma série de objetivos. Incluem-se aqui a liberação acidental ou o despejo/soltura por criado-
res irresponsáveis.
72
Plantas terrestres são incluídas nesta subcategoria. Por exemplo, a cana-do-reino (Arundo
donax) é cultivada por ter crescimento rápido e usada para produção de combustível, fibras
e celulose. Ameaça, principalmente, hábitats ribeirinhos. No Brasil, há registro de invasão
pela espécie em Brasília (Simões, 2013).
2.3 Espécie de aquário / terrário / pet (inclusive comida viva para essas espécies)
Espécies que escaparam do confinamento ou de ambientes controlados onde foram man-
tidas por colecionadores particulares ou amadores para recreação, diversão, companhia e/
ou comércio. Essa via não inclui os parasitas transportados junto com as espécies e inclui
a soltura irresponsável de espécies no ambiente.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria. Por
exemplo, a tartaruga Trachemys scripta é nativa da América do Norte e foi introduzida em
muitas regiões do mundo. Esta espécie é um dos répteis mais comumente comercializados
no comércio de animais de estimação, e em muitas regiões as introduções são por meio da
fuga ou liberação de animais de estimação (Harrower et al., 2017).
73
2.7 Fazendas de peles de animais
Espécies que escaparam do cativeiro ou de ambientes controlados onde foram criadas
para produzir pele. Esta via inclui a soltura irresponsável ou “fuga facilitada” de espécies no
ambiente.
Vertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.
74
2.12 Outro escape de confinamento
Espécies que escaparam de ambientes confinados ou controlados onde foram introduzi-
das por quaisquer razões diferentes das cobertas pelas outras categorias, como, por exem-
plo, circos, lojas de animais, fuga de animais usados para práticas e cerimônias religiosas.
Vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.
75
ao homem. Inclui o material/meio usado para seu transporte. Incluem-se aqui o material
do solo em cascos ou pés, sementes de plantas, invertebrados e outros contaminantes no
corpo e pelagem de animais, ou sementes transportadas no trato digestório.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.
76
3.10 Transporte de material natural (solo, vegetação etc.)
Espécies introduzidas involuntariamente como contaminantes do material do hábitat que
inclui solo, vegetação, produtos de madeira, como lascas e cobertura morta, palha etc.,
quando esses produtos são o foco do comércio e não simplesmente transportados com
plantas.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.
4.1 Contêiner/volume
Espécies introduzidas como passageiros clandestinos acidentais em contêineres, frete a gra-
nel, frete aéreo, frete ferroviário etc. (por exemplo, contêineres de transporte, outra carga
em caixas).
Os passageiros clandestinos acidentais (incluindo insetos, répteis, mamíferos e até pás-
saros) escondidos em ou sobre contêineres de transporte podem ser transportados
entre locais e países por terra, mar ou ar e introduzidos em novos ambientes.
Vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.
4.4 Maquinário/equipamento
Espécies que foram introduzidas involuntariamente por ser um carona em ou sobre má-
quinas ou equipamentos, como veículos, equipamento militar e qualquer outro material
77
transportado entre locais, por exemplo no caso de missões de socorro e resgate, sendo
transportados entre locais.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.
5 Corredores
Espécies se espalhando para novas regiões ao longo de corredores de infraestrutura cria-
dos artificialmente, como pontes, túneis e canais.
78
5.1 Túneis e passagens terrestres
Espécies que se espalham para novas regiões por dispersão através de túneis ou pontes
terrestres, ou outras infraestruturas, como estradas e ferrovias.
Túneis e pontes podem ter uma função semelhante para a flora ou a fauna, pois permitem
que as espécies se espalhem para novas regiões. Portanto, eles têm o potencial de ser um
caminho para a disseminação de espécies exóticas.
Plantas, vertebrados e invertebrados terrestres são incluídos nesta subcategoria.
79
APÊNDICE 2 – DIRETÓRIO DE FONTES DE INFORMAÇÃO E CONTATOS
Associações de pescadores
e piscicultores, criadores
de animais, produtores de
A definir conforme áreas de atuação prioritárias do PNADPRR
plantas e outras
Ações: monitoramento,
ações de manejo
80
Exemplos de instituições ou setores que já atuam
Área de atuação
na área de EEIs / Taxonomistas
Organizações da sociedade
civil com atuação na área Instituto Brasileiro de Biodiversidade (BrBio), Rio de Janeiro
ambiental e/ou outras Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental,
relacionadas ao tema
Santa Catarina
Ações: manutenção
Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA) – São Paulo
de bases de dados de
informações ambientais, Conservação Internacional
geração de notificações, WWF Brasil
monitoramento, vistorias Instituto Tríade
técnicas, ações de manejo
Empresas públicas e/
ou privadas que atuam
em áreas naturais e/ou
educação ambiental, como
operadoras de mergulho,
concessionárias de parques CCR Brasil, Rio Grande do Norte Pro Diver Centro de Mergulho,
nacionais, agências de Porto Rico – PR
ecoturismo e educadores
ambientais
Ações: monitoramento,
ações de manejo
Cidadãos interessados em
contribuir com ações de
conservação ambiental,
como pessoas cadastradas
para realizar o abate
de javali (Sus scrofa)
conforme regulamentação
legal, pesquisadores e
profissionais autônomos, A definir conforme áreas de atuação prioritárias do PNADPRR e
moradores em áreas de indicações de integrantes do GAT e da Rede de Apoio ao PNADPRR
interesse com apreço pela
natureza
Ações: monitoramento,
ações de manejo com
orientação da coordenação
do processo de alerta
82
APÊNDICE 3 – EXEMPLOS DE PLANO DE RESPOSTA RÁPIDA NO AMBIENTE TERRESTRE
A seguir apresentamos dois planos de detecção precoce e resposta rápida elaborados com
base em dados e situações fictícias, com o objetivo de prover modelos de utilização.
83
Item do plano Descrição
85
Item do plano Descrição
86
APÊNDICE 4 – MATERIAIS E EQUIPAMENTOS PARA MONITORAMENTO E CONTROLE
Apresentamos a seguir uma lista de materiais básicos para controle.
Material de consumo
88
APÊNDICE 5 – EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DO PROTOCOLO
89
Figura 3 – Detecção precoce de gramínea exótica em UC estadual (as etapas do Protocolo destacadas
indicam o caminho seguido no exemplo)
1
Notificação
2 3
Análise das informações Necessidade de identificação
7 4
Táxon identificado Processo de identificação
8 5
O táxon é não Táxon não identificado
exótico?
sim
O táxon tem 9 6
não -> Risco baixo
registro de
invasão?
sim encerramento
10
Alerta
A invasão
é extensa?
18 11 12 sim
Táxon não encontrado Vistoria
não
não 13 sim 14
Ações de erradicação /
contenção
20 16
Risco desconhecido Monitoramento e repasse
21
Consulta a especialistas 17
Erradicação
sim 22
As ações de controle
são urgentes?
não
26 23 24 25 6
Risco alto Risco moderado Monitoramento
Análise de risco completa
ou análise inválida recomendado
encerramento
Há plano de
contingência As ações de resposta
para o táxon? 27 sim são viáveis? 29 sim 30 17
Realizar ações de resposta Erradicação
não
não
28
Planejar ações de resposta
não 15 sim 16
Monitoramento e rapasse
As ações de resposta
foram eficazes?
90
Apêndice 5.2 – Detecção precoce de ave em ambiente terrestre
Indivíduos de uma espécie de ave desconhecida foram avistados em ambiente florestal no
meio rural. A pessoa que fez a detecção desconhece o táxon (3). Uma notificação é enviada
ao órgão competente (1) incluindo fotografias e a localização da ocorrência. O órgão com-
petente solicita ajuda a taxonomistas especializados em aves da Rede de Colaboradores
para a identificação da espécie (4) e da sua área de distribuição natural. O táxon é identifi-
cado (7) a nível de espécie e confirmado como exótico ao local de ocorrência (8). Verifica-se
se tem antecedentes de invasão (9) e encontram referências positivas. O órgão competen-
te emite um alerta (10). Uma pessoa com formação técnica da Rede de Apoio lotada nas
redondezas está disponível para fazer uma vistoria (11). Verifica a existência de duas po-
pulações aparentemente pequenas da ave (12) nas proximidades de uma fazenda. Nesse
caso, não há possibilidade de eliminação imediata (13), pois é preciso definir a estratégia
de controle e providenciar materiais e equipamentos. Essas informações são enviadas ao
órgão competente, que então faz uma busca por análises de risco (19) disponíveis para a
espécie, sem sucesso. Com o risco desconhecido (20), o órgão competente revisa o cadas-
tro da Rede de Colaboradores em busca de profissionais (21) que possam inferir a urgência
do controle ou realizar uma análise de risco completa para a espécie, considerando fatores
biológicos e ecológicos, a área de distribuição natural, o histórico de introdução e de inva-
são em outros locais e o potencial de impacto ambiental, econômico e/ou à saúde humana.
Não sendo urgente a ação de controle (22), o especialista consultado responde que pode
fazer a análise de risco completa (23) em poucos dias. O resultado da análise indica risco
alto (26). Na falta de um plano de contingência (27), o órgão competente, com ajuda do
GAT, faz o planejamento da ação de resposta (28) e a respectiva análise de viabilidade (29).
Uma autorização de controle é providenciada. Com os meios necessários disponíveis, as
ações de manejo são iniciadas (30). Seis meses depois, registra-se que as ações de controle
foram eficazes (15) porque as duas populações foram capturadas e já não se observam
indivíduos da ave exótica no local da detecção. O monitoramento (16) é mantido durante
outros seis meses para assegurar que não haja novos focos de invasão ou novos eventos
de introdução da espécie (17). O Protocolo é encerrado (6). As informações são registradas
para referência futura. O caminho seguido nesse exemplo é demonstrado na Figura 4.
91
Figura 4 – Detecção precoce de ave exótica em ambiente terrestre (as etapas do Protocolo destacadas
indicam o caminho seguido no exemplo)
1
Notificação
2 3
Análise das informações Necessidade de identificação
7 4
Táxon identificado Processo de identificação
8 5
O táxon é não Táxon não identificado
exótico?
sim
O táxon tem 9 6
não -> Risco baixo
registro de
invasão?
sim encerramento
10
Alerta
A invasão
é extensa?
18 11 12 sim
Táxon não encontrado Vistoria
não
não 13 sim 14
Ações de erradicação /
contenção
20 16
Risco desconhecido Monitoramento e repasse
21
Consulta a especialistas 17
Erradicação
sim 22
As ações de controle
são urgentes?
não
26 23 24 25 6
Risco alto Risco moderado Monitoramento
Análise de risco completa
ou análise inválida recomendado
encerramento
Há plano de
contingência As ações de resposta
para o táxon? 27 sim são viáveis? 29 sim 30 17
Realizar ações de resposta Erradicação
não
não
28
Planejar ações de resposta
não 15 sim 16
Monitoramento e rapasse
As ações de resposta
foram eficazes?
92