O Contributo Do Mercado de Moda de
O Contributo Do Mercado de Moda de
O Contributo Do Mercado de Moda de
MARKETING
M
2023
O CONTRIBUTO DO MERCADO DE MODA DE LUXO EM SEGUN-
DA MÃO PARA UM CONSUMO MAIS SUSTENTÁVEL
Dissertação
Mestrado em Marketing
Orientado por
Prof.ª Doutora Helena Nobre
Prof.ª Doutora Raquel Meneses
2023
ii
Nota biográfica
Tânia Cláudia Vieira Eiras Alves nasceu a 4 de novembro de 1994. É, desde 2015, licenciada
em Ciências da Comunicação, pela Universidade Fernando Pessoa e pós-graduada em Jor-
nalismo, desde 2016. Ingressa no mestrado em Marketing da Faculdade de Economia do
Porto em 2020. Atualmente, trabalha na CESPU – Cooperativa de Ensino Superior Politéc-
nico e Universitário, CRL.
ii
Agradecimentos
Aos longo do percurso para alcançar este desafio, pude contar com o contributo de diversas
pessoas, às quais estou profundamente grata.
Em primeiro lugar, quero agradecer aos meus pais pela estabilidade que me proporcionaram
em todas as fases da minha vida, que foi crucial para que eu conseguisse completar mais
uma etapa.
Às orientadoras, Prof.ª Doutora Helena Nobre e Prof.ª Doutora Raquel Meneses, por toda
a paciência e acompanhamento incansável. Agradeço o apoio, a sabedoria e o profissiona-
lismo, que sem os quais este trabalho não teria sido possível.
Aos meus amigos, em especial à Rita, por todas as conversas e por me inspirar a querer ser
melhor. Ao meu querido namorado, Pedro, pela alegria, pela tranquilidade e por todas as
palavras de ânimo que me fizeram continuar.
A todas as entrevistadas, pela partilha de experiências, que foram essenciais para a concreti-
zação deste estudo. Muito obrigada pela disponibilidade e simpatia.
O meu profundo agradecimento a todos os que contribuíram para esta dissertação.
iii
Resumo
Os modelos de negócios lineares da indústria da moda levantam problemas ambientais,
climáticos e sociais. As preocupações ambientais dos consumidores, a procura por um con-
sumo mais sustentável e o desenvolvimento do comércio online impulsionaram o cresci-
mento do mercado de moda em segunda mão. O setor de luxo não é exceção. As platafor-
mas online de venda de artigos de moda luxo em segunda mão ampliaram as possibilidades
de adquirir produtos de luxo, enquanto permitem que os consumidores sejam também ven-
dedores.
Este estudo tem por objetivo principal questionar em que medida as preocupações de or-
dem ambiental podem motivar e influenciar o consumo de produtos de luxo em segunda
mão por parte das consumidoras portuguesas. A investigação explora ainda outras motiva-
ções para comprar e (re)vender os artigos de luxo em segunda mão.
Por se tratar de um fenómeno recente no mercado português, optou-se por uma abordagem
de investigação exploratória, de natureza qualitativa, com base em 11 entrevistas em pro-
fundidade a consumidoras de moda de luxo em segunda mão. A análise de conteúdo das
entrevistas indicou que existe um gap entre o que as consumidoras parecem valorizar e a
realidade do seu consumo, sendo que a sustentabilidade ambiental, apesar de evidenciada
nas preocupações destas consumidoras, não assumiu um papel importante como motivação
de compra. O preço foi a motivação mais vezes identificada para a compra, seguido dos pro-
dutos vintage, descontinuados e exclusivos, a marca e o estado do produto. As principais motivações
identificadas para (re)venda dos artigos são: uso do produto, compra de novos produtos e reaver in-
vestimentos.
O estudo também contribuiu para explorar e identificar formas e meios utilizados para as
compra e (re)venda por parte das consumidoras. O Online é o canal de eleição, ficando evi-
dente a importância do comércio online para o consumo de moda de luxo em segunda mão.
iv
Abstract
The fashion industry's linear business models raise environmental, climate and social issues.
The consumers' environmental concerns, the search for more sustainable consumption and
the development of online commerce have driven the growth of the second-hand fashion
market. The luxury sector is no exception. Online platforms for the sale of second-hand
luxury fashion items have expanded the possibilities of purchasing luxury products, while
allowing consumers to also become sellers.
The purpose of this study is to evaluate the ways in which environmental concerns may
motivate and influence the use of secondhand luxury goods by Portuguese consumers. Fur-
thermore, the motivations for buying and (re)selling luxury products were also explored.
As this is a recent phenomenon in the Portuguese market, we opted for an exploratory re-
search approach, of a qualitative nature, based on 11 in-depth interviews. The content anal-
ysis of the interviews indicates that there is a gap between what consumers seem to value
and the reality of their consumption, the environmental sustainability has not yet played a
significant role as a driving factor for purchases, despite being evident in these consumers'
concerns. With regard to purchase, price was the most frequently identified motivation, fol-
lowed by vintage, discontinued and exclusive products, the brand and the condition of the product. The
main motivations identified for the (re)sale of the items are: use of the product, purchase of new
products and recovering investments.
Moreover, the study contributed to further explore and identify ways and means used for
purchases and (re)sales by consumers. The channel of choice is Online, in which the im-
portance of online commerce for the consumption of second-hand luxury fashion became
evident.
v
Índice
1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Fatores influenciadores do comportamento de compra do consumidor de bens
de luxo................................................................................................................................. 4
vi
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Temas e subtemas iniciais............................................................................................. 17
Tabela 2 - Racionalidade subjacente a cada pergunta................................................................. 19
Tabela 3 - Informação sobre as entrevistadas ............................................................................. 23
Tabela 4 - Resultados da codificação ............................................................................................ 24
Tabela 5 - Relação entre comércio online e motivações de compra e (re)venda ................... 39
Tabela 6 - Preposições de estudo .................................................................................................. 41
vii
1 – INTRODUÇÃO
1 Processo de transformar materiais que seriam descartados em novos produtos, com a mesma ou nova fun-
1
mão alteraram o comportamento de compra dos consumidores (Turunen e Pöyry, 2019).
Os consumidores estão a adotar novos papéis: além de compradores, agora, também são
vendedores de produtos de marcas de luxo. Os consumidores de luxo contemporâneos não
se consideram necessariamente clientes finais, mas sim proprietários durante uma parte do
ciclo de vida do produto (Turunen et al., 2020).
Na medida em que o consumo sustentável e o mercado em segunda mão assumem particu-
lar importância no comércio atual de moda de luxo, a compreensão das motivações que
levam os consumidores a comprar produtos em segunda mão torna-se cada vez mais impor-
tante. Esta investigação visa, fundamentalmente, explorar em que medida questões de or-
dem ambiental podem motivar o consumo de produtos de luxo em segunda mão por parte
dos consumidores portugueses e qual poderá ser o papel das marcas de luxo nesta equação.
Neste sentido, a principal pergunta de investigação é “Quais são as principais motivações
das consumidoras portuguesas de moda de luxo em segunda mão e de que forma as preo-
cupações ambientais poderão influenciar as suas decisões de compra e (re)venda deste tipo
de artigos?”. O estudo orienta-se por dois objetivos principais:
- Identificar as principais motivações dos consumidores portugueses de moda de luxo em
segunda mão;
- Explorar a apetência e identificar motivações dos consumidores portugueses de moda de
luxo para (re)vender os produtos de marcas de luxo que adquirem no mercado em segunda
mão.
O estudo visa ainda responder a um segundo nível de objetivos. A saber:
- Identificar formas e meios utilizados para as compras de moda de luxo em segunda mão
pelas consumidoras portuguesas;
- Explorar a importância do comércio online para o consumo de moda de luxo em segunda
mão.
Este trabalho divide-se em quatro secções. Na primeira secção é apresentada a revisão da
literatura que sustenta a investigação e as hipóteses de investigação. O Design e Planeamen-
to de Estudo é a segunda secção, em que se apresenta a metodologia utilizada e o desenho
do estudo e respetivo instrumento de recolha de dados. Segue-se a análise e discussão dos
resultados e, por fim, no último capítulo, é apresentada a conclusão, que inclui a resposta à
questão de investigação, os contributos teóricos e práticos do estudo, bem como as suas
limitações e sugestões para pesquisas futuras.
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2 – REVISÃO DA LITERATURA
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Figura 1
Fatores influenciadores do comportamento de compra do consumidor de bens de luxo.
4
comprador. De acordo com Heine e Phan (2011), existem seis fatores que os consumidores
podem utilizar para distinguir produtos de luxo: preço, qualidade, aspeto/estética, extras,
raridade e significado simbólico.
O simples uso ou posse de produtos de luxo proporciona estima ao consumidor (Wied-
mann et al., 2007). Indivíduos menos especialistas no consumo de luxo, normalmente com
níveis socioeconómicos mais baixos, preferem produtos de luxo com a identificação da
marca mais evidente, por exemplo com logótipos notórios; ao contrário dos consumidores
com maior experiência que optam por produtos de luxo com identificadores menos proe-
minentes (Han et al. 2010). Isto acontece porque os primeiros tentam obter status, enquanto
os outros procuram afastar-se do mainstream (Dubois et al., 2021).
Por outro lado, a literatura mostra consequências potencialmente negativas de consumir e
exibir bens de luxo, a nível psicológico, social e até económico. Goor et al. (2019) afirmam
que o consumo de luxo faz com que os consumidores se sintam mal porque pode ser visto
como um privilégio indevido, desencadeando emoções negativas, como vergonha e culpa,
independentemente do nível económico do consumidor.
A conotação negativa associada ao termo “segunda mão” acaba por levar muitas marcas a
substituir o termo por expressões mais apelativas como pre-loved ou resale (Choufan & Tila-
Cohen, 2023). Plataformas online como Vestiaire Collective e The RealReal, com website
modernos e luxuosos, oferecem uma grande seleção de marcas, produtos, preços, serviços
de entrega, autenticação de produtos e possibilidade de pagamento em prestações (Abtan et
al., 2019). A The RealReal é um dos casos que exclui o termo “segunda mão” de toda a co-
municação (Choufan & Tila-Cohen, 2023).
5
te, incluindo produtos de mulher, homem e criança. Os produtos são colocados à
venda pelo vendedor, em que todo o processo de venda (fotografias, descrição e ne-
gociações) é realizado e controlado pelo próprio. O vendedor envia gratuitamente o
produto e ganha até 85% do valor do artigo. O comprador tem a possibilidade de
optar pelo serviço pago de autenticação e controlo de qualidade disponibilizado pela
plataforma (Vestiaire Collective, 2023).
The RealReal: fundado em 2011 com o objetivo de estender o ciclo de vida dos
produtos de luxo e criar um futuro mais sustentável e democratizado para a moda, é
uma plataforma online com serviço de consignação. O vendedor envia o produto
para o The RealReal, que é responsável pela autenticação e colocação do produto no
website com as respetivas fotografias e descrição do produto. Todos os produtos
são verificados e autenticados através de especialistas e serviços de Inteligência Arti-
ficial. (The RealReal, 2023).
O crescimento do mercado de luxo em segunda mão também está relacionado com a oferta
de produtos. Uma grande quantidade de artigos que se encontram nas plataformas de venda
de artigos de luxo são de elevada qualidade, com 62% a nunca terem sido usados ou usados,
em média, entre três a dez vezes (Abtan et al., 2019). O relatório Luxury Consignment Report
da The RealReal (2023) indica que desde que começaram a aceitar peças em fair condidion
(peças com marcas de uso) o número de compradores que procuram especificamente arti-
gos com um pouco de desgaste quase duplicou, sendo que 58% são novos compradores no
The RealReal.
Um dos artigos mais procurados são os artigos vintage (The RealReal, 2023). Segundo Ama-
tulli et al. (2018) existem oito atributos dos produtos vintage de luxo: durabilidade, qualidade
superior, baixo custo relativo, sustentabilidade ambiental, herança, design elegante, alterna-
tividade e exclusividade. A maioria das plataformas de segunda mão identifica como produ-
tos vintage, produtos com mais de dez anos e em que o preço está diretamente associado à
sua raridade no mercado de segunda mão (Amatulli et al., 2018; Turunen et al., 2020). Estes
produtos, podem, por vezes, ser até ser mais caros do que comprados em primeira mão
(Abtan et al., 2019).
Para além dos produtos vintage, existem outros dois tipos de produtos extremamente procu-
rados: artigos icónicos e de edições limitadas e artigos de colaborações entre marcas e artis-
tas (Abtan et al., 2019).
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Para além do crescimento de compra de artigos de luxo em segunda mão, o estudo True-
Luxury Global Consumer Insight (2019) verificou um aumento da percentagem de consumido-
res que vendem em segunda mão de 35%. Em termos geracionais, a geração Z (54%) e os
Millennial (48%) são quem mais compra e vende artigos de luxo, seguindo-se a geração X e
os Baby Boomer (38%).
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social (Amatulli et al., 2018; Carrigan et al., 2013; Kessous e Valette-Florence, 2019). A ne-
cessidade de adquirir artigos de luxo exclusivos pode ser resultado do efeito snob (Turunen
et al., 2020) que se traduz numa necessidade acima da média de singularidade pela via do
consumo de linhas de produto únicas ou raras (Nobre et al., 2022).
A procura e consumo por produtos em segunda mão está também relacionada com a rari-
dade, autenticidade e exclusividade dos produtos (Guiot e Roux, 2010), muitas vezes classi-
ficados como produtos vintage. Os clientes interessados em peças vintage procuram peças
raras com herança (Cervellon et al., 2012). Há também quem procure este mercado porque
encontra uma grande variedade de produtos e marcas, inclusive, produtos esgotados e de
edições anteriores (Abtan et al., 2019).
O consumo em segunda mão pode ainda ser conceitualmente ligado a comportamentos de
coleção. Colecionar é definido por Belk (1995) como o processo de aquisição e posse ativa,
seletiva e apaixonada de coisas removidas do uso comum e percebidas como parte de um
conjunto de objetos não idênticos ou experiências. Normalmente, os colecionadores valori-
zam e apreciam tanto os produtos que desapegarem-se dos objetos envolve muitos senti-
mentos e preocupações contraditórios (Price et al., 2000). Turunen e Hanna Leipämaa-
Leskinen (2015) admitem que adquirir e possuir um objeto para aumentar a coleção ou ad-
quirir um bem de luxo de segunda mão pode ter significados inter-relacionados e sobrepos-
tos. Isto é especialmente importante, na medida que o presente estudo também analisa a
(re)venda (venda efetuada por parte de compradoras em segunda mão).
Quanto às questões ambientais, a compra em segunda mão permite também que os consu-
midores expressem preocupações ambientais, com práticas de consumo sustentáveis e
conscientes (Carrigan et al., 2013), dissociando-se de grandes cadeias de fast fashion (Ferraro
et al., 2016). Os resultados do estudo True-luxury Global Consumer Insights (2019) revelam que
59% dos clientes de artigos de luxo, do mercado primário e secundário, mencionam que o
fator “sustentabilidade” influencia o comportamento de compra. Realça ainda que 17% dos
clientes do mercado de segunda mão afirmam que um dos motivos que os leva a comprar
artigos de luxo em segunda mão é por consideram ser um comportamento “verdadeiramen-
te sustentável”. O mesmo se verificou no mais recente estudo que a Vestaire Collective rea-
lizou com a consultora BCG. O relatório indica que a sustentabilidade impulsionou 40%
das compras em segunda mão (Estripeau et al., 2022).
8
2.3. A vertente da sustentabilidade do comércio de moda de luxo
2.3.1. A indústria da moda e o impacto ambiental
Manshoven et al (2019) referem que o consumo e a produção de têxteis envolve milhões de
produtores e biliões de consumidores em cadeias de produção linear. A indústria da moda
gera mais de 1,5 biliões de euros por ano (The Fashion Pact, 2020). Só na Europa, o setor
emprega 1,7 milhões de pessoas e em média cada europeu consome 26 kg de têxteis por
ano (Kessous & Valette-Florence, 2019). Nos últimos anos, a sustentabilidade tornou-se
uma das maiores preocupações da indústria da moda (The Fashion Pact, 2020). A cadeia de
abastecimento dos modelos de negócios lineares implica custos ambientais, climáticos e
sociais. No que respeita ao uso do solo, a indústria têxtil é considerada a segunda indústria
com mais impacto (93%), a quarta mais mal classificada no uso de matérias-primas (85%) e
água (92%) e a quinta para emissões de gases efeito estufa (76%). Quanto aos efeitos soci-
ais, destacam-se os salários baixos e as condições precárias de trabalho (Manshoven et al.,
2019).
Uma das mudanças a implementar para reduzir estes impactos é abraçar a circularidade
(Manshoven et al., 2019). A Agência Europeia do Ambiente (2019) defende que optar por
uma economia circular traz benefícios económicos e ambientais. A economia circular tem
como objetivo reduzir o uso de recursos por meio da reciclagem de materiais e reutilização,
prolongando a vida útil dos produtos ao mesmo tempo que preserva o valor económico.
Mas para isso são necessárias mudanças na cadeia de valor: design de produto, novos mode-
los de negócio, novas formas de preservar os recursos utilizados para aumentar o tempo de
uso dos produtos, processos de reciclagem e alterações no comportamento do consumidor
(European Environment Agency, 2019).
Enquanto o impacto de uma peça de roupa nova advém, principalmente, da produção das
fibras e da confeção da peça, o impacto da reutilização de artigos de moda está apenas rela-
cionado com o transporte até o ponto de venda (Trzepacz et al. 2023). O relatório LCA-
based assessment of the management of European used textiles da EuRIC sustenta que o impacto
ambiental da reutilização de roupas é 70 vezes menor do que a produção de vestuário novo,
mesmo quando equacionado o impacto das exportações para reutilização, incluindo as
emissões de CO2 geradas pelo transporte.
Mesmo assim, a Vestiaire Collective, numa tentativa de minimizar o impacto dos transpor-
tes, dá a possibilidade de os consumidores optarem por Direct Shipping, mencionando ser a
opção mais “Sustentável”. O envio Direct Shipping significa que o vendedor envia o item
9
diretamente ao comprador sem ter que passar pela Vestiaire Collective para verificações de
controlo de qualidade e autenticação. No “Manifesto de Sustentabilidade” no website da
Vestiaire Collective é mencionado que mais de 50% dos pedidos são comprados localmen-
te, ou seja, no mesmo país, ou enviados em Direct Shipping, tendo já poupado mais de 1.167
toneladas de CO2, desde o lançamento da plataforma em 2009 (Vestiaire Collective, 2023).
O mesmo não se verifica nas marcas de luxo, que apesar dos esforços para implementar
práticas mais sustentáveis, como a utilização de materiais mais ecológicos, apostar no mer-
cado em segunda mão e no aluguer de produtos (Willersdorf et al., 2020), continuam a apre-
sentar um baixo desempenho ao nível da sustentabilidade. Perante este cenário, em 2020, 32
empresas têxteis, incluindo marcas de luxo como Burberry, Chanel, Hermès e os grupos de
fast fashion H&M Group e Inditex, anunciaram a assinatura do "Fashion Pact", um pacto que
une a indústria e os líderes do G7 num compromisso global contra as alterações climáticas,
a perda da biodiversidade e o impacto negativo nos oceanos (The Fashion Pact, 2020).
10
2023). A indústria da moda alinhou-se com os governos e empresas internacionais e tenta
seguir as recomendações definidas, através da economia circular (ODS 8 e ODS 12), mate-
riais de última geração (ODS 9, 11 e 12), consumo responsável e produção sustentável
(ODS 3, 6, 7, 8, 9 e 12) e transparência (ODS 4, 8, 10, 12 e 16) (López et al., 2023).
Nos últimos anos, são visíveis esforços por parte das marcas de luxo para reduzir o impacto
ambiental (Angelis et al., 2017). As marcas de luxo utilizam matérias-primas superiores que
proporcionam aos clientes maior qualidade percebida. O foco das marcas de luxo na quali-
dade, no "feito à mão" e em peças “intemporais” prolonga o ciclo de vida dos produtos em
comparação ao fast fashion e evita o desperdício de recursos (Guercini & Ranfagni, 2013).
Pode ser estabelecida uma ligação entre a qualidade e longevidade dos produtos de luxo e a
sustentabilidade que daí resulta (Janssen et al. 2014).
Atualmente, muitas marcas de luxo têm optado por materiais que vão ao encontro das ex-
pectativas sustentáveis dos consumidores e/ou têm mudado o sistema de produção para
lógicas mais sustentáveis, adotando práticas circulares, nas quais as peças conseguem circu-
lar com o máximo valor e por mais tempo antes de reentrarem no sistema através de reutili-
zação ou reciclagem (Blasi et al., 2020). Adıgüzel e Donato (2021) sugerem que as marcas de
luxo podem optar por estratégias sustentáveis, como o uso de embalagens ecológicas, a
utilização de matérias-primas inovadoras (como Mylo - uma alternativa sustentável ao cou-
ro), ou processos de produção de reciclagem ou upcycling. A par disto, o mercado em segun-
da mão torna a indústria de luxo mais sustentável, uma vez que estende a vida útil dos pro-
dutos de luxo e contribui para uma economia mais circular (Abtan et al., 2019).
11
associada à compra de novos produtos (Estripeau et al., 2022; Ferraro et al., 2016; Turunen
& Leipämaa-Leskinen, 2015).
As marcas de luxo começam a reconhecer este novo perfil de clientes e proporcionam-lhes
experiências de compra, enquanto se associam ao mercado em segunda mão e à sustentabi-
lidade. Como é o caso da Stella McCartney e da Burberry. Em 2017, a Stella McCartney
realizou uma parceria com a plataforma de artigos de luxo em segunda mão, The RealReal,
que pretendeu promover os valores partilhados pelas marcas: a sustentabilidade e a econo-
mia circular na moda de luxo (The RealReal, 2021). Por cada produto Stella McCartney co-
locado à venda na The RealReall, os vendedores recebiam um código promocional de 100
dólares para descontar numa próxima compra nas lojas físicas Stella McCartney dos Estados
Unidos da América ou online.
mia circular. Acreditamos no que a The RealReal está a fazer e estamos entusiasma-
dos por ser a primeira marca de luxo a montar um programa de iniciativas para a
sustentabilidade.
Em 2019, a Burberry também se aliou à The RealReal. Os clientes americanos que colocas-
sem produtos Burberry à venda na plataforma, poderiam usufruir de uma experiência de
compra pessoal: um serviço de styling gratuito numa das 18 lojas americanas Burberry, en-
quanto bebiam chá (The RealReal, 2019).
prolongar o uso das roupas. Sabemos que a qualidade e durabilidade dos artigos
Burberry é o que os torna tão atraentes e o que lhes confere um valor eterno ou vi-
talício Através desta nova parceria, esperamos não apenas defender um futuro
RealReal, 2019)
12
As próprias marcas de luxo também já optaram por criar as suas próprias plataformas onli-
ne de revenda, apelando sempre à sustentabilidade e à responsabilidade social, mas com
incentivos à compra em primeira mão. Oscar de la Renta, assim como a Isabel Marant e
Valentino Garavani, são alguns desses exemplos.
Encore by Oscar de la Renta apresenta-se como uma alternativa sustentável, prolongando a vida
e a utilidade de peças com herança, ao mesmo temo que quer ser vista como “uma boa cau-
sa na comunidade” (Oscar de la Renta Encore, 2023). A plataforma revende artigos de
runway, autenticados por especialistas e recondicionado à mão nos ateliers da marca. Os clien-
tes que vendam os artigos podem optar por escolher entre pagamento em dinheiro ou cré-
dito na loja ou optar por doar o valor das vendas a um dos parceiros de caridade da marca
(Oscar de la Renta Encore, 2023).
Através da Isabel Marant Vintage, a marca sugere aos clientes que “olhem para a moda de
forma mais sustentável”, apelando ao lado ético do cliente: “Ao revender as peças que não
usa, torna-se num ator de moda mais responsável”. Em troca é fornecido ao cliente vende-
dor um voucher para depois gastar em primeira mão ou na plataforma Isabel Marant Vintage.
(Isabel Marant Vintage, 2023).
A Valentino Garavani também lançou a Valentino Vintage, com quatro lojas pop-up – Tóquio,
Nova York, Los Angeles e Milão, em que convida os clientes para um “um novo sistema
circular, no qual as peças antigas da Valentino embarcam numa nova jornada passando de
mão em mão.” (Valentino Vintage, 2023). Também aqui os clientes recebem um voucher para
novas compras.
Ou seja, quer num caso, quer no outro, continua a existir um apelo ao consumo em primie-
ra mão. Os clientes que entregarem peças destas marcas receberão em troca vouchers para
depois gastar em artigos em primeira mão.
Um dos maiores desafios que as marcas de luxo enfrentam é a falsificação de produtos (Ty-
nan et al. 2010), que muitas vezes são indistinguíveis dos produtos originais (Bendell & Kle-
anthous, 2007). Isto levanta outra questão. Apesar dos serviços de autenticação oferecidos
pelas plataformas online, há uma preocupação por parte dos consumidores quanto à auten-
ticidade dos produtos (Chen, 2018). Alguns consumidores são reticentes no que respeita à
compra online devido aos riscos financeiros e de reputação (Turunen & Leipämaa-
Leskinen, 2015), isto é, risco de se perder o valor distintivo por se adquirirem produtos em
segunda mão falsificados.
13
Embora as compras em segunda mão possam não ter uma consequência direta nas vendas
no mercado primário, estas podem promover a marca, ao mesmo tempo que apresentam a
marca a novos consumidores, que de outra forma não conseguiam aceder aos produtos
(Turunen & Leipämaa-Leskinen, 2015). Isto é visível em estudos mais recentes. 59% dos
entrevistados do estudo What an Accelerating Secondhand Market Means for Fashion Brands and
Retailers (2022) indicam ter descoberto uma marca ou comprado pela primeira vez um pro-
duto da marca no mercado em segunda mão.
2.4 Conclusão
Nem sempre o consumo de luxo é uma tentativa de ostentar riqueza e status. Alguns con-
sumidores vão à procura de benefícios intrínsecos pelo prazer, emoções e experiências enri-
quecedoras (Shahid e Paul, 2021). A motivação intrínseca implica a realização de uma ação
para satisfação pessoal que pode resultar numa experiência privada (Ryan e Deci, 2007). A
escolha, a aquisição e o consumo de marcas e produtos de luxo tornam-se cada vez mais um
processo individual baseado nas experiências e opções de cada indivíduo e são o reflexo de
opções de vida, valores, desafios, aspirações, características e ambiente social em que o con-
sumidor está inserido (Nobre, 2019).
Com consumidores cada vez mais preocupados com a sustentabilidade e com o crescimen-
to do mercado de luxo em segunda mão, as marcas veem-se obrigadas a responder a esta
nova realidade. Apesar de já terem sido vistos como contraditórios, atualmente, o luxo e a
sustentabilidade andam lado a lado, transpondo a confeção/produção dos próprios produ-
tos numa abordagem holística que engloba todo o setor (Böhnert et al., 2023).
A qualidade e a consequentemente longevidade dos produtos de luxo podem ser associadas
a um uso mais ecológico dos materiais e recursos (Amatulli et al., 2018). Além disso, as
marcas de luxo começam a aderir ao mercado em segunda mão. Algumas marcas de luxo
associaram-se a marketplaces e outras até criaram as suas próprias plataformas online de re-
venda, onde é visível um apelo à venda de artigos de luxo em segunda mão, inclusivamente,
como incentivo para a compra de novos produtos no mercado em primeira mão.
O mercado em segunda mão não traz só benefícios ao consumidor, mas também pode ser
fonte de vantagem para as marcas. Ao abraçar o mercado em segunda mão, as marcas po-
dem controlar o processo de revenda e controlar preços, evitando que estes sejam vendidos
a um custo muito baixo, o que prejudicaria a sua imagem. Pode ainda aumentar o valor da
marca no mercado de segunda mão através da autenticação de produtos, serviços de repara-
14
ção, e melhorar o relacionamento com este novo segmento de clientes, bem como con-
vertê-los em clientes do mercado primário (Abtan et al., 2019).
15
3 – DESIGN E PLANEAMENTO DO ESTUDO
O setor dos produtos de luxo em segunda mão, em particular o mercado online, por se tra-
tar de uma área de negócio relativamente recente no mercado português, ainda carece de
atenção por parte da literatura na área. Com as preocupações de sustentabilidade, tem sido
dada atenção aos produtos de prestígio em segunda mão e à sua ligação à sustentabilidade
das marcas de luxo. Assim, este estudo procura abrir caminho com vista a investigação futu-
ra.
O estudo é de natureza exploratória com base na análise qualitativa de entrevistas em pro-
fundidade, semiestruturadas, a consumidoras de moda de luxo, que têm por hábito comprar
e/ou (re)vender artigos em segunda mão. Através da análise das opiniões pessoais de 11
consumidoras de luxo em segunda mão, pretende-se compreender de que forma é que as
preocupações ambientais dos consumidores portugueses influenciam as suas decisões de
compra e (re)venda de artigos de moda de luxo em segunda mão.
O propósito da pesquisa qualitativa é explorar e descrever áreas ainda pouco exploradas e
desenvolver teoria (Morse, 1991), sendo possível detetar-se novos fenómenos (Leung,
2015). Bettis et al (2014) referem que um método qualitativo pode proporcionar um melhor
entendimento de um fenómeno, seja através da análise de novos contextos ou de pesquisas
anteriores, respondendo a perguntas de “porquê” e “como” (Marshall, 1996).
A escolha desta abordagem prende-se com o facto de a metodologia qualitativa lidar com
informações não numéricas e de interpretação, que se ligam à subjetividade e aos sentidos
humanos (Leung, 2015). É por isso um método eficaz na compreensão das motivações e
sentimentos dos intervenientes (McDaniel & Gates 2003). Desta forma, ao analisar-se as
narrativas das entrevistadas, pretende-se apurar em que medida é que as preocupações a
nível ambiental influenciam as decisões de compra e venda (re)venda de artigos de luxo em
segunda mão das consumidoras. Tenciona-se ainda identificar outras motivações para estes
comportamentos.
Para a recolha de dados primários, foram realizadas entrevistas semiestruturadas em pro-
fundidade. As entrevistas podem ser utilizadas para fins de análises de marketing e pesquisas
académicas, sendo uma boa forma de entender um indivíduo ou uma perspetiva de grupo
(Fontana & Frey, 1995). As entrevistas semiestruturadas são o formato mais utilizado em
estudos qualitativos e têm por base um conjunto de perguntas abertas pré-determinadas,
16
que no decorrer do diálogo entre o entrevistado e entrevistador podem originar novas per-
guntas (DiCicco-Bloom & Crabtree, 2006).
Foi seguida uma abordagem dedutivo-indutivo (DePoy & Gitlin, 2019), em que a revisão da
literatura permitiu formular um conjunto de temas e subtemas aos quais foram adicionados
novos de acordo com a experiência da investigadora (Tabela 1) que estiveram na base da
construção do guião das entrevistas (em anexo).
Após o processo de transcrição, foi analisado o conteúdo das narrativas das entrevistas. O
processo de codificação é baseado numa codificação mista. Inicialmente, foram criadas ca-
tegorias teóricas, que surgiram da revisão da literatura e da experiência da investigadora
(Tabela 1) e, seguidamente, na fase indutiva, foi utilizada uma codificação in vivo, em que
foram admitidas novas categorias e novas subcategorias que, através de uma codificação
axial, foram associadas às categorias teóricas (Creswell & Creswell, 2017) (ver Tabela 4).
Tabela 1
Temas e subtemas iniciais
Temas Subtemas
Motivações para com- 1) Preço
prar 2) Sustentabilidade
3) Marca
4) Artigos Vintage e Exclusivos/Descontinuados
4.1) Raridade e Intemporalidade
4.2) Exclusividade
5) Estado do produto
5.1) Artigos como novos
6) Qualidade e Durabilidade
7) Benefícios psicológicos
7.1) Status
7.2) Identificação com o grupo de referência
7.3) Prazer retirado da utilização do produto
7.4) Autoidentificação no sentido da self-connection
com o produto ou marca
17
8) Valor do produto no mercado
Motivações para 1) Sustentabilidade
(re)vender 2) Compra de novos produtos
3) Reaver investimentos
4) Incentivos das marcas de luxo
5) Valor do produto no mercado em segunda mão
6) Benefícios psicológicos
6.1) Identificação com o grupo de referência
Canais de compra 1) Online
1.1) Plataformas online
1.2) Pequenos negócios
2) Loja física
3) Plataforma/loja da marca à revenda
Canais de (re)venda 1) Online
1.1) Grandes plataformas online
1.2) Pequenos negócios
2) Loja física
3) Plataforma/loja da marca à revenda
Comércio online 1) Contrafação
1.1) País de origem
2) Serviços de Autenticação
3) Atendimento ao Cliente
3.1) Confiança
3.2) Trocas e devoluções
4) Formas de pagamento
4.1) Facilidades de pagamento
5) Marcas disponíveis
18
tas, que apenas foram introduzidas quando o entrevistado não mencionou a informação
pretendida anteriormente.
Tabela 2
Racionalidade subjacente a cada pergunta.
Temas Perguntas Informação pretendida
Motivações para com- - No seu entender considera pre- Perceber se as consumi-
prar ocupante o impacto da indústria doras têm consciência e se
da moda no ambiente? demostram preocupação
com o impacto da indús-
tria da moda.
- O que mais valoriza nos produ- Identificar as motivações
tos de luxo em segunda mão? de compra de artigos de
moda de luxo em segunda
mão.
- No seu entender, a compra em Apurar se as consumido-
segunda mão de um artigo de ras consideram a compra
luxo é uma prática de consumo de artigos de moda de
consciente e sustentável? luxo em segunda mão um
comportamento sustentá-
vel.
- Os materiais usados na confeção Entender o impacto dos
do artigo comprado em segunda materiais na compra de
mão importam ou o facto de já determinado produto,
estar a comprar em segunda mão nomeadamente, a nível da
é suficiente para responder às sustentabilidade.
suas preocupações ambientais e
sociais?
Motivações para ven- - Tem por hábito (re)vender os Verificar se as consumido-
der produtos de luxo que compra em ras têm o hábito de
segunda mão? (re)vender artigos de mo-
da de luxo
19
- Quando o (re)vende, quais são Identificar as motivações
os principais motivos? de (re)venda das consu-
- Quando compra um artigo de midoras.
luxo em segunda mão pensa no
valor que o mesmo possui no
mercado para que depois o possa
vender mais facilmente?
- Sente orgulho em com- Identificar a existência de
prar/(re)vender em segunda mão? possíveis sentimentos
Fala abertamente sobre o assunto negativos associados à
ou evita mencionar? compra, (re)venda dos
artigos de luxo em segun-
da mão.
Comércio online - Quando compra/(re)vende um Identificar os canais de
artigo de luxo em segunda mão, compra e (re)venda dos
dá preferência às lojas físicas ou artigos em segunda mão.
online?
- Prefere comprar/vender um
artigo de luxo em segunda mão
numa plataforma online reconhe-
cida ou num projeto pequeno
com curadoria?
20
Nas plataformas online, como Compreender como a
controla a autenticidade dos arti- autenticidade dos produ-
gos? E o estado de conservação tos e o estado de conser-
da peça? vação da peça afeta a deci-
são de compra.
Nas plataformas online, o país de Perceber se a origem do
origem do produto influencia a bem em segunda mão
tomada de decisão da compra? influencia a decisão de
compra. Por exemplo, se a
decisão de compra é in-
fluenciada por preocupa-
ções de ordem ambiental
(e.g. emissões CO2 provo-
cadas pelo transporte dos
itens), ou por falta de veri-
ficação da autenticidade
do produto.
De que forma as ações das mar- Apurar se as consumido-
cas podem incentivar a (re)venda ras têm conhecimento das
de produtos? iniciativas das marcas de
luxo para um consumo
mais sustentável e qual a
sua opinião face a estas
ações.
Nota: Adaptado a partir de Guerra, 2006
21
duas restantes foram respondidas por email devido à incompatibilidade de horários por as
respondentes se encontrarem ausentes de Portugal. Os dados foram recolhidos entre no-
vembro e dezembro de 2022.
22
Tabela 3
Informação sobre as entrevistadas.
Entrevistada Profissão Compradora (Re)Vendedora
Inês Araújo Copywriter de moda Sim Sim
Patrícia Pereira Stylist e Influenciadora de moda Sim Sim
Sofia Silva E-Commerce Manager Sim Não
Tânia Silva CEO de uma marca de Joias Sim Sim
Ana Nabais Advogada e Influenciadora de Sim Sim
moda
Carla Azevedo Advogada Sim Não
Leandra Pardal Empresária Sim Sim
Ana Sousa Key Account Manager Sim Sim
CR Assistente de Bordo Sim Sim
Marta Abreu Educadora de Infância Sim Sim
Joana Vasconcelos Psicóloga Sim Sim
23
4 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Tabela 4
Resultados da codificação
Temas Subtemas Número de vezes
mencionada
Motivações para com- 1) Preço 10
prar 2) Sustentabilidade 3
3) Marca 8
4) Artigos Vintage e Exclusi- 9
vos/descontinuados;
4.3) Raridade e Intempora- 7
lidade
4.4) Exclusividade 4
5) Estado do produto 8
5.1) Artigos como novos 1
6) Qualidade e Durabilidade 6
7) Benefícios psicológicos 1
7.5) Identificação com o 1
grupo de referência
7.6) Prazer retirado da utili- 3
zação do produto
7.7) Autoidentificação no 3
sentido da self-
connection, com o pro-
duto ou marca
8) Valor do produto no merca- 4
do
24
8.1) Comprar para (re)vender 1
9) Impossibilidade de compra em
primeira mão 2
9.1) Escassez de stock / artigo es-
gotado 1
9.2) Escape às regras de exclusivi-
dade associadas ao mercado em pri- 1
meira mão
Motivações para 1) Sustentabilidade 3
(re)vender 2) Compra de novos produtos 5
3) Reaver investimentos 5
4) Valor do produto no merca- 4
do em segunda mão
5) Benefícios psicológicos
5.1) Identificação com o 1
grupo de referência
6) Uso do produto 7
Canais de compra 1) Online 8
1.1) Plataformas online 5
1.2) Pequenos negócios on- 5
line
2) Loja física 5
3) Pessoas particulares 1
Canais de (re)venda 1) Online 9
1.1) Grandes plataformas 4
online
1.2) Pequenos negócios on- 6
line
2) Loja física 2
3) Pessoas particulares 3
Comércio online 1) Contrafação 7
1.1) País de origem 5
25
2) Serviços de Autenticação 8
3) Atendimento ao Cliente 2
3.3) Confiança 6
3.4) Serviço pós-venda 3
3.5) Trocas e devoluções 1
4) Formas de pagamento
4.1) Facilidades de paga- 1
mento
5) Comissões 1
5.1) Comissões plataformas 2
5.2) Regime de consignação 1
6) Apresentação do produto 5
7) Marcas disponíveis 8
Os resultados da análise temática indicam que apenas o Status não foi mencionado como
motivação de compra e que a Impossibilidade de compra em primeira mão: escassez de stock / artigo
esgotado; Escape às regras de exclusividade associadas ao mercado em primeira mão e Comprar para
(re)vender surgem nas entrevistas como motivações novas (não mencionadas anteriormente
na revisão de literatura). Das motivações para vender/(re)vender, resulta apenas uma nova:
Uso do produto. As restantes motivações vão ao encontro dos temas inicialmente deduzidos
da literatura.
As Pessoas particulares surge, por via indutiva, como um subtema subordinado ao tema Canais
de compra e Canais de venda. Já a compra ou a (re)venda numa Plataforma/loja oficial da marca de
luxo não mereceu a atenção de nenhuma das entrevistadas.
O Comércio online foi o tema que induziu mais novos subtemas: Apresentação do estado do produ-
to, Comissões: Comissões das plataformas e Regime de consignação, e Serviços Pós-venda. O subtema
Distribuição não foi mencionado em nenhuma entrevista.
26
mo o The V.O.G. Closet, apresentam a mesma importância. As Lojas físicas (4) e Pessoas par-
ticulares (1) são também canais de compra utilizados.
Apesar de nem sempre ser a principal motivação, o Preço (10) foi a motivação identificada o
maior número de vezes. Ana Sousa confessa que o mercado em segunda mão é a primeira
opção quando equaciona comprar um produto de luxo porque “na maioria dos casos, os
artigos assumem um valor mais acessível do que em primeira mão.”. Para Leandra Pardal “o
preço é o principal motivo, poupamos dinheiro”. Patrícia Pereira vê também como uma
oportunidade de “poupar um bocadinho a conta bancária”.
Carla Azevedo tem uma opinião distinta, mas que vai no mesmo sentido ao considerar que:
“O mercado em segunda mão de luxo falseia porque dá a ideia de que o luxo é acessível a
toda a gente”. Por outro lado, Inês Araújo explica que nem sempre se encontram preços
mais baixos: “O mercado em segunda não é mais barato, até pode ser mais caro.” e Ana
Nabais descreve como este mercado pode funcionar como um Escape às regras de exclusividade
associadas ao mercado em primeira mão (1), tornando-o mais caro: “Há malas que em segunda
mão são mais caras pela dificuldade em conseguir comprá-las. Por exemplo, artigos especí-
ficos da Hèrmes e da Goyard. Quando comprei a minha Goyard, pesquisei bastante em
segunda mão e comprei em primeira mão por menos 300 euros do que em segunda mão.
Porque eles não faziam envios (depois com a pandemia de covid19 mudaram isso), era só
venda presencial e só podes comprar quatro malas por número de contribuinte por ano.
Têm várias regras e a segunda mão acaba por ser um escape.”. No mesmo sentido de ‘esca-
pe’, Marta Abreu menciona a Impossibilidade de compra em primeira mão associado à Escassez de
stock/Produto Esgotado (1): “Comprei na Vestiaire Collective um top Celine porque estava
esgotado no website. O preço é importante, mas não é a minha principal questão. Até por-
que se existissem em primeira mão eu se calhar iria comprar.”. CR também menciona o
Preço como um fator importante, mas “não o principal” e explica o porquê: “Eu gosto de
procurar coisas que já existiram há muito tempo, artigos que já têm 10 ou 12 anos (...) é a
qualidade, a intemporalidade e algumas coisas é por interesse específico por coleções anti-
gas. Coisas que já não existem e já não consegues encontrar de outra forma.”.
Os Artigos exclusivos/descontinuados e artigos vintage é a segunda maior motivação identificada
(9), que tal como a revisão da bibliografia indica, está muitas vezes está associada à Raridade
e Intemporalidade (7) e Exclusividade (4) das peças, tal como explica Sofia Silva: “Consigo ad-
quirir peças intemporais que já não se encontram.”. Da mesma forma, Inês Araújo indica
que dentro da raridade o que mais procura “são produtos descontinuados ou vintage porque
27
é uma forma de obter uma certa exclusividade.”. Patrícia Pereira corrobora e exemplifica:
“Para comprar em segunda mão tem que ser uma peça muito especial, como a minha Alma
da Louis Vuitton [modelo de uma mala], que é numa cor que só existem seis no mundo. É
de runway e sei que estou a comprar um produto exclusivo que a marca já mais irá relançar e
é uma oportunidade. Gosto de produtos que são exclusivos e que sei que já não há na cole-
ção corrente.”. Carla Azevedo explica o fascínio por este tipo de produto: “Eu acho mais
piada ao vintage do que propriamente ter uma mala igual a todas as outras. Por exemplo,
tenho uma Louis Vuitton Metis [modelo de uma mala], e toda a gente tem uma Metis, mas
esta é uma edição limitada de 1854 e, por isso, simplesmente não há, e foi comprada em
segunda mão.”. Marta Abreu menciona ainda as alterações nas coleções: “Há marcas como
a Burberry que mudaram completamente a estrutura e visual nos últimos anos e aquilo que
gostava da Burberry é o de antigamente. Neste caso procuro artigos vintage e em segunda
mão.”.
A Marca é também das motivações mais vezes identificadas (8), que acaba por ter implica-
ções na categoria Comércio online. Verificou-se que as Marcas Disponíveis (8) nas plataformas de
venda podem influenciar a compra, como afirma Sofia Silva: “A minha marca de eleição é
Louis Vuitton. Se pelo menos não tiver esta marca, nem desperta o meu interesse.”. O
mesmo acontece na subcategoria Confiança (6), visível na opinião de CR: “A Vestiaire Collec-
tive baniu as marcas de fast fashion. Isto para mim dá-me mais confiança. Se me confrontares
em fazer a compra na Vinted ou Vestiaire Collective eu escolho a Vestiaire Collective.”.
A quarta motivação mais identificada foi o Estado do Produto (7), diretamente relacionado
com Artigos como novos (1) e Apresentação do produto (4). Inês Araújo explica a sua relevância e
associa-a ao tipo de peça: “O estado do produto é muito importante. Primeiro por causa do
valor real da peça. Se estiver à procura de uma mala, por exemplo, uma Speedy da Louis
Vuitton [modelo de uma mala], se tiver um valor muito baixo, mas se tiver em muito mau
estado eu sei que não é uma compra boa, mesmo com a possibilidade de reparações.”. No
momento da compra, Sofia Silva é muito seletiva: “Essencialmente, compro artigos sem
qualquer uso, com ou sem etiqueta (...) se o produto não tiver o número de fotografias sufi-
cientes que me permitam perceber bem o estado dele nem considero a compra”, conclui.
No caso de quem Compra para (re)vender (1), como Ana Nabais, este aspeto também é valori-
zado: “O facto de estar em bom estado é importante para que depois, lá na frente, eu o
consiga vender.”, assim como o Valor do produto no mercado (4): “Neste momento, a Chanel
28
está melhor do que qualquer ação que eu tenha na bolsa. (...) Tenho aqui três malas Chanel
para revender.”.
Apesar de todas as entrevistadas considerarem a compra e venda de artigos de luxo em se-
gunda mão um comportamento de prática de consumo consciente e sustentável, apenas três
mencionaram a Sustentabilidade (3) como uma motivação de compra. Patrícia Pereira é uma
dessas participantes: “Valorizo, em primeiro lugar, poupar o planeta Terra.”, opinião apoia-
da por Leandra Pardal: “Podemos ter o que foi de outra pessoa e, em vez de estar a com-
prar novo e a poluir mais, vamos rentabilizando dessa forma.”. Inês Araújo considera que:
“Dentro das opções acaba por ser a mais sustentável. Ao comprar uma peça que já foi pro-
duzida e que já teve uma vida, eu estou a prolongar o seu uso, acabo por não estar a impul-
sionar a produção de um novo.”. Ana Nabais parte do mesmo pressuposto e expõe: “Ao
não comprar em primeira mão, não estou a acabar com aquele stock. Por isso, sem dúvida
que é uma compra muito mais sustentável.”. No entanto, confessa: “Tenho alguma dificul-
dade em entender que se compra uma Chanel por uma questão ambiental. Eu acho que as
pessoas viram oportunidade de comprar mais barato e não por uma questão ambiental. Ou
seja, viram a oportunidade de ter uma Chanel que antes não podiam ter porque vão pagar
2000€ em vez de 8000€.”.
Ainda que pouco representada, a Sustentabilidade aparece associada à Qualidade e Durabilidade
(6), diretamente relacionada com os materiais dos produtos de luxo, tal como referido na
revisão da literatura. Ana Nabais afirma: “Quando eu compro artigos de luxo eu sei que
estamos a falar de artigos extremamente resistentes. Eu tive uma Neverfull [modelo de uma
mala da Louis Vuitton] que me durou 12 anos e eu vendi-a destruída por mais de metade do
preço que eu a comprei e ela ainda hoje dura. Nesse ponto, eu concordo que é sustentável,
porque estamos a falar de um artigo que vai durar muito tempo. É um artigo sustentável
porque se vai sustentar ao longo do tempo.”. Carla Azevedo partilha da mesma opinião:
“Tenho uma Metis [modelo de uma mala da Louis Vuitton] de uma edição limitada de 1854
que foi comprada em segunda mão. Estava nova em folha e eu já a utilizei várias vezes e
continua nova. Portanto, é uma carteira que tem uma resistência bestial.”. Questionada so-
bre a importância da sustentabilidade dos materiais dos artigos comprados em segunda
mão, Inês Araújo defende: “Eu sou da opinião de que a compra de uma mala em pele ver-
dadeira é mais sustentável. Não estou a falar de peles exóticas, mas cow leather e calf leather.
São mais sustentáveis do que uma peça em poliuretano que acaba por ser mais poluente e
que não vai ter a mesma durabilidade.”.
29
Por outro lado, CR afirma que considera um comportamento sustentável se estiver associa-
do “à forma como se consome moda. Se continuamos a comprar desenfreadamente talvez
não seja a forma mais consciente. (...) Eu posso dizer que comprei muitos artigos em se-
gunda mão Pangaia e é uma marca que gosto justamente pela questão ambiental.”. Carla
Azevedo ainda vai mais longe afirmando que: “O mercado em segunda mão nem sempre
anda de mãos dadas com a sustentabilidade. A pessoa não compra porque precisa, compra
porque tem um apelo ao consumo. No meu caso tenho um pouco de dificuldade em con-
trolar o meu impulso consumista.”. Neste contexto, e fazendo uma ponte com a categoria
de Comércio Online, Leandra Pardal refere os incentivos das plataformas online: “Há plata-
formas que já dão facilidades de pagamento (1). Isto é um convite à compra.”.
Os Benefícios Psicológicos, como a Identificação com o grupo de referência (1), o Prazer retirado da utili-
zação do produto (3) e a Autoidentificação com a marca/produto (3) são também mencionados pelas
consumidoras. Joana Vasconcelos é um dos exemplos: “As marcas para mim falam-me ao
coração. Toda a sua história tem importância para mim e daí eu valorizar mais umas que
outras.”. O mesmo acontece nas motivações de (re)venda na subcategoria Identificação com o
grupo de referência (1), como refere CR: “Eu gosto mesmo de fazer parte deste movimento, do
circuito de compra e venda. Estás inserido numa comunidade. Adoro os pequenos negócios
que faço. E gosto efetivamente de fazer parte de um movimento que é maior do que eu,
com pessoas que também têm as mesmas preocupações e os mesmos interesses. (...) Acho
que quanto mais interesse tens em moda, mais entusiasmada ficas com o reseller”.
O medo da Contrafação (7) é algo muito presente no momento da compra que acaba por ser
contornado através de Serviços de Autenticação (9) e pelo Atendimento ao Cliente (2), nomeada-
mente pela Confiança (6) depositada na pessoa e no canal de compra. Marta Abreu explica:
“Sou incapaz de comprar na Vinted ou numa loja que não tenha confiança. Já comprei na
Vestiaire Collective e nesse caso paguei a taxa de verificação e só comprei porque li que
muita gente já tinha comprado lá.”. Joana Vasconcelos prefere os pequenos negócios:
“Confio em quem está por trás dos projetos, como é o caso do The V.O.G. Closet, Closet
Uup e La Petite Coquette.”. O mesmo acontece com Carla Azevedo e esclarece o motivo:
“Eu compro tudo na The V.O.G Closet. Essencialmente pelos produtos que vende, o cui-
dado que tem com os produtos, a maneira como mostra os produtos. Só tem produtos de
excelência, em muito bom estado ou excelente estado e depois pela certificação e autentica-
ção.”, referindo ainda a importância da experiência de compra, como os Serviços pós-venda (4):
“Se não corre bem à primeira, já ninguém arrisca uma segunda. (...) tem de existir um ótimo
30
tratamento, os artigos estão em ótimo estado, o envio é rápido e cuidado, personalizado, há
um follow up da venda e da compra.”. Ana Nabais levanta problemas no Direito do Consu-
midor em Portugal, mencionando as Trocas e Devoluções (1): “O problema da Vinted é as tro-
cas. Eu já fiz compras na Vinted maravilhosas, mas já tive seguidoras que disseram que en-
viaram artigos de luxo e que depois a compradora diz que não recebeu. A Vestiaire Collecti-
ve desapareceu com um Hèrmes de uma amiga minha. Estamos a falar de uma Hèrmes
Croco [modelo de uma mala] de 20 mil euros. Enviou para o Japão e o comprador diz que
quando a embalagem chegou, estava vazia. O direito do consumidor em Portugal tem que
ser revisto porque é uma bagunça. É muito cruel com o consumidor.”.
Ao nível da sustentabilidade, o País de Origem (5) não tem relevância para as consumidoras,
no entanto tem implicações no que respeita à autenticidade dos artigos, tal como é visível
no discurso de Marta Abreu: “Eu confesso que o comprei [Top Celine] num país da União
Europeia, até mais caro e não consigo explicar porquê, mas achei que eventualmente era
mais credível”. Assim como Inês Araújo: “Comprar do Japão é sempre uma experiência
diferente. Primeiro porque dá mais segurança, porque é um país que sempre teve regras
muito rígidas contra a contrafação e depois é um país em que a cultura de estima dos obje-
tos é muito diferente. Eu sei que quando compro artigos do Japão já estou à espera de rece-
ber um artigo em excelente estado com muita estima, quase sem marcas de uso, nota-se que
o artigo foi cuidado.”. Assim como há certos países que acabam por ser evitados, como no
caso de CR: “Eu tento não comprar desses países [Turquia]”.
Das 11 consumidoras entrevistadas, apenas duas, Carla Azevedo e Sofia Silva, de faixas etá-
rias distintas, não (re)vendem os seus produtos. O online (9) continua a ser o canal preferido,
com as a Grandes plataformas online (4) e Pequenos Negócios online (6) a serem novamente menci-
onadas. A Lojas físicas (2) e a venda a Pessoas Particulares (3) também são opções escolhidas.
Para Carla Azevedo a razão pela qual não (re)vende os artigos de luxo é simples e relaciona-
se com o valor sentimental: “Tudo tem um significado na minha vida. Todas as carteiras
que comprei sei perfeitamente porque as comprei. Algumas têm valor sentimental. Por
exemplo, se for comprar com os meus filhos e se eles disserem que gostam mais de uma do
que outra, isso para mim é importante e sou incapaz de vender uma carteira que até possa
ter usado pouco, mas que tenha sido um dos meus filhos ou marido a dar-me ou a escolher
comigo. É impensável!”. O mesmo acontece com Sofia Silva: “O que compro adoro e ge-
ralmente são peças intemporais, pretendo ficar com elas e talvez até deixar para as minhas
filhas. Tenho a ideia que herdar peças de luxo é um “luxo”. Por exemplo, não deixo a mi-
31
nha mãe vender nada. Faço questão que as guarde para mim.”. E mesmo com possíveis
incentivos das marcas de luxo, a resposta de Sofia mantem-se firme: “Não, porque o meu
racional é mais emotivo do que lógico. Um desconto não me iria tentar a vender as coisas
que tanto gosto. E uma marca de luxo fazer um desconto seria estranhíssimo!”
As principais motivações para a (re)venda dos artigos de luxo em segunda mão prendem-se
com a Usabilidade do Produto (7) e por ser uma forma de Reaver investimento (5). Estas duas
motivações acabam por se relacionar com o Valorização do produto (4) e com a Compra de novos
produtos (5). Tânia Santos Silva estabelece um prazo: Tenho por hábito vender todos os pro-
dutos que não utilizo há mais de 6 meses. (...) depois posso comprar outra coisa que queira
com esse valor.”.
As consumidoras mencionam como certos produtos se podem transforma em “investimen-
tos”, devido ao Valor do produto no mercado em segunda mão (4), como é o caso de Inês Araújo:
“Há peças que têm uma valorização anual que pode chegar até aos 10%-12% e não há mui-
tos investimentos monetários que prometam essa segurança! As peças que retêm o valor e
marcas que estão constantemente a aumentar o preço em primeira mão, no mercado em
segunda mão esses artigos também vão aumentar. Por isso, eu sei que se eu comprei por X
e se passado um ano se vende por mais Y em primeira mão, eu sei que a peça que eu tenho
também vai aumentar de valor”. Patrícia Pereira fala em “estratégia” que se pode adotar:
“Em vez de termos o dinheiro no banco é ter a peça. Às vezes é preferível. (...) se eu tivesse
mais qualidade de vida monetária, tenho a certeza que investiria muito mais nestes produtos
do que propriamente na minha conta bancária” e ainda refere que em Portugal o mercado
de luxo em segunda mão é “mais barato”: “As lojas em Amesterdão são as minhas preferi-
da. O produto consoante a exclusividade pode custar até duas vezes mais do que quando é
novo. E isso é muito frequente lá fora. Em breve, vou a Amesterdão e vou levar duas peças
e se me derem o valor que tenho em mente, que vão dar, porque valorizam muito mais, eu
vendo-as.”. Ana Nabais confidencia: “Aqui entramos em outro requisito que nada tem a ver
com a questão ambiental, mas sim um negócio: compras para revender. (…) Tive uma Cha-
nel preta que até usava, mas a partir do momento que soube que a podia vender por um
lucro de quase 400% não pensei duas vezes e despachei. Com o lucro dessa comprei umas
quatro.”.
Quanto à Sustentabilidade (3), Inês Araújo afirma que no seu caso: “A sustentabilidade entra
na revenda. Da mesma forma que eu comprei e evitei comprar uma peça nova, quem me
comprar vai estar a fazer o mesmo. É a economia circular no contexto mais preciso”. Ana
32
Sousa concorda e faz uma comparação com os produtos fast fashion: “Quando se trata de um
produto fast fashion, o valor é significativamente diferente e, por isso, algumas pessoas aca-
bam por deitar o produto ao lixo. No que concerne a produtos de luxo, penso que ninguém
os deitará ao lixo, e por isso, a venda deles contribui para um consumo mais sustentável.”.
As Comissões (3) requerem também atenção. CR admite: “É algo que me tira um bocadinho
do sério”. Quando o regime de venda é consignação, Marta Abreu menciona que: “Apesar
das comissões altas compensa porque tira-nos o peso de vender e a chatice de ter esse tra-
balho todo”. O único entrave equacionado é o facto de não receber o dinheiro de imediato:
“Temos de esperar que exista alguém que o queira comprar. O dinheiro fica ali empatado e
temos que confiar na pessoa a quem entregamos o artigo para venda. Até recebermos o
valor é uma situação um pouco desconfortável.”.
Questionadas sobre possíveis formas das marcas de luxo incentivarem a revenda de produ-
tos, as respostas são unanimes, mencionando o papel das marcas no combate à contrafação,
como refere Inês Araújo: “As marcas de luxo têm a oportunidade de combater o flagelo da
contrafação ao impulsionar a revenda, com programas de retoma, etc. Sei que há pessoas
que pagam centenas de euros pelas ditas super reps2 que podiam gastar esse dinheiro em ma-
las autênticas em segunda mão.” Ana Nabais corrobora e admite que: “Se a Chanel tivesse
um serviço de Authentication, quando compro uma mala Chanel em segunda mão, eu preferia
a autenticação com a Chanel em vez da Real Authentication [programa de autenticação de
inteligência artificial] mesmo que cobrassem mais.”, no entanto afirma “eles não querem.”.
Leandra Pardal concorda: “Acho que elas querem é vender em primeira mão. Mas se hou-
vesse incentivos acho que havia mais pessoas a aderirem mais ao mercado em segunda
mão.”.
Verificou-se um desconhecimento geral das consumidoras face às ações das marcas de luxo
no mercado de luxo em segunda mão. No entanto, Inês Araújo defende a presença das
marcas no mercado em segunda mão e menciona como estas podem associar-se à sustenta-
bilidade: “Há várias marcas de luxo com programas de reseller, quer a associarem-se a gran-
des plataformas quer a criar programas dentro da própria marca. A Balenciaga já tem um
programa, a Gucci também já está associada a programas de reseller e há Marketplaces, como o
MyTeresa, que também já está associado à Vestiaire Collective. Mais recentemente a Botega
Venetta decidiu dar garantias vitalícias e isso, mesmo que não seja a encorajar o reseller e a
2 Réplicas de alta qualidade e precisão estética de artigos de luxo muito idênticos aos originais que podem, ou
33
segunda mão, acaba por ter um grande impacto na consciência e sustentabilidade do com-
prador porque sabe que pode mandar o artigo reparar em vez de comprar um novo.”.
Após a análise das entrevistas, são identificados dois comportamentos das consumidoras
portuguesas de produtos de luxo em segunda mão: 1) compra e venda; 2) apenas compra.
Verificamos que as que compram e vendem não demonstram uma relação afetiva com os
produtos, principalmente, se estes sofrerem valorização no mercado, ao contrário das que
apenas compram, que têm dificuldade em desapegarem-se dos artigos. No caso das consu-
midoras que compram e vendem é visível a perda de valor emocional e experiencial do pro-
duto de luxo, tornando-se um objeto de transação financeira (Turunen et al., 2020). Princi-
palmente, quando a compra e venda dos artigos é vista como um investimento.
Apesar de serem apenas só duas consumidoras que não vendem os produtos, o discurso das
mesmas vai ao encontro do comportamento de colecionar e à dificuldade que os coleciona-
dores têm de se desapagarem dos objetos (Price et al., 2000; Turunen e Leipämaa-Leskinen,
2015), principalmente quando se trata de artigos vintage. Carla Azevedo, com um acervo de
cerca de 90 malas de luxo, é a prova disso. Isto suscita duas interpretações: o colecionismo
pode ser visto como uma motivação de compra e um possível entrave à (re)venda, porque,
tendencionalmente, quem compra influenciado por comportamentos colecionistas não tem
intenções de revender. Nestas circunstâncias o circuito da economia circular pára aqui.
As motivações de compra identificadas nas entrevistas estão, em parte, alinhadas com a
revisão da literatura. O preço foi a motivação mais vezes identificada, seguido dos produtos
vintage, descontinuados e exclusivos, a marca e o estado do produto, por esta ordem.
As consumidoras que compram artigos de luxo em segunda mão olham para este mercado
como uma forma de poupar dinheiro, mas também como um Escape às regras de exclusividade
associadas ao mercado em primeira mão, porque não se trata apenas de entraves financeiros. De-
vido a regras estabelecidas pelas marcas de luxo que proporcionam a exclusividade tão ca-
racterística destas marcas, por vezes torna-se impossível a compra em primeira mão. Assim,
o mercado em segunda mão é visto como um meio para obter os produtos que tanto dese-
jam, mas que não conseguem comprar devido a regras como os limites de compras por
consumidora e compras presencias em loja.
Todas as entrevistadas revelaram um gosto especial por produtos vintage, descontinuados e
exclusivos, que a par do preço, podem ser considerados como as principais motivações para
34
compra de artigos de luxo em segunda mão. O interesse por este tipo de produtos pode ser
influenciado pelo conhecimento sobre moda que todas as entrevistas apresentam. Tal como
os produtos que devido às regras de exclusividade da marca se tornam impossíveis de com-
prar em primeira mão, os produtos vintage, descontinuados e exclusivos podem ser mais caros do
que quando comprados novos (Abtan et al., 2019), mas os resultados indicam que o preço
não impede a compra, porque o que realmente as consumidoras procuram é a exclusividade e
intemporalidade associada ao uso dos produtos de luxo (Amatulli et al., 2018; Turunen et al.,
2020).
O estado do produto é extremamente valorizado, tanto para quem compra, como para
quem vende. Apesar de não se encontrar informação na literatura, a forma como o produto
é apresentado no canal de venda tem um peso importante para o comprador e deve ser um
aspeto a ter em conta pelo vendedor, uma vez que poderá ditar o sucesso da transação do
produto.
As três principais motivações identificadas para venda e (re)venda dos artigos são: uso do
produto, compra de novos produtos e reaver investimentos. As vendedoras, normalmente, usam a
venda para recuperar dinheiro e investir em novos produtos que, tal como é referido na
literatura (Ferraro et al., 2016; Turunen e Leipämaa-Leskinen, 2015), pode resultar em mais
poder de compra no mercado primário, beneficiando as marcas de luxo. Este comporta-
mente explica o que Turunen et al. (2020) defendem quando afirmam que as consumidoras
podem não se considerar “consumidoras finais”, mas sim “proprietárias durante o ciclo de
vida do produto de luxo”. Ou seja, usam o produto e quando pretendem, vendem-no.
35
Apenas são visíveis preocupações com a sustentabilidade quando está em causa a qualidade e
durabilidade destes produtos em comparação com os artigos fast fashion (Guercini & Ranfagni,
2013). Mas, mesmo esta dimensão não deixa de ser dissociada do preço. Ana Sousa chega a
afirmar que é mais fácil deitar fora uma peça de baixa qualidade: “Quando se trata de um
produto de fast fashion o valor é significativamente diferente e, por isso, algumas pessoas
acabam por deitar o produto ao lixo. No que concerne a produtos de luxo, penso que nin-
guém os deitará ao lixo, e por isso, a venda deles contribui para um consumo mais sustentá-
vel.”
Em síntese, no que respeita à sustentabilidade, podemos afirmar que as consumidoras por-
tuguesas de moda de luxo em segunda mão têm consciência que quando compram e/ou
(re)vendem artigos de luxo estão a contribuir para um consumo mais sustentável, tal como é
vísivel na revisão da literatura (BCG, & Altagamma, 2019). Não obstante, as preocupações
ambientais são pouco relevantes e a sustentabilidade não é a principal motivação para a
compra, venda e/ou (re)venda de artigos em segunda mão.
As plataformas online são identificadas como uma das grandes impulsionadoras do mercado
de moda de luxo em segunda mão (BCG & Altagamma, 2019), o que é corroborado pelas
consumidoras portuguesas, ao optarem pela compra e (re)venda de artigos de luxo em mar-
ketplaces como Vestiaire Collective e/ou em pequenos negócios online, como o The V.O.G Clo-
set.
Apesar de não se verificarem preocupações com emissões CO2 no shipping dos artigos, o
país de origem de onde advém o artigo em segunda mão é várias vezes relacionado com o
medo da contrafação. A literatura menciona uma preocupação por parte dos consumidores
em comprar em plataformas online devido à falsificação dos produtos (Chen, 2018). A aná-
lise do discurso das consumidoras confirma esta ideia. A Autenticidade e os Serviços de Autenti-
cação são as subcategorias mais identificadas em relação ao Comércio Online, podendo ser con-
siderados os maiores entraves do consumo de artigos de luxo em segunda mão, a par das
marcas disponíveis nas plataformas.
Resumidamente, as plataformas online que disponibilizarem serviços de autenticação, por
exemplo com base na inteligência artificial, e serviços de curadoria de excelência, que
transmitirem confiança e oferecerem uma grande variedade de produtos e marcas de luxo
irão conseguir diferenciar-se das outras.
É ainda percetível um desconhecimento das ações das marcas de luxo no mercado em se-
gunda mão, por parte das consumidoras. No entanto, as opiniões são unânimes e vão ao
36
encontro do que é mencionado na literatura: as marcas de luxo têm um papel central no
combate à contrafação de produtos e podem beneficiar ao associarem-se ao mercado em
segunda mão (Abtan et al., 2019).
37
5 – CONCLUSÕES
38
Através das conclusões retiradas da revisão de literatura e das entrevistas é possível compre-
ender o importante papel do comércio online para o consumo de moda de luxo em segunda
mão. As plataformas online foram identificadas como o principal meio de compra e venda
das consumidoras portuguesas, seja através das grandes plataformas ou através de pequenos
negócios com curadoria.
Foi criada uma tabela resumo (Tabela 5) que relaciona as principais características das pla-
taformas online com a influência que possuem nas motivações de compra e (re)venda das
consumidoras. As plataformas que facilitarem o processo de compra e venda, tendem a
diferenciarem-se e, consequentemente, a beneficiar.
Tabela 5
Relação entre comércio online e motivações de compra e (re)venda
Característica das plataformas on- Motivação de compra e (re)venda
line
Boas fotografias e descrição Informação sobre o estado do produto
Programas de Inteligência Artificial Ajuda a ultrapassar o medo da contrafação
Diversidade de oferta produtos: em Desperta o interesse e fomenta a compra.
bom estado, produtos vintage, descon-
tinuados e exclusivos
Oferta, exclusiva e diversificada, de Transmite confiança e desejo
marcas de luxo
Curadoria de produtos Transmite confiança
Atendimento ao cliente: serviços pós- Transmite confiança; aumenta a satisfação e re-
venda e troca e devoluções tenção do cliente
No mercado português de moda de luxo existe pouca comunicação das ações das marcas de
luxo ligadas à sustentabilidade, nomeadamente, ao mercado em segunda mão. Verificou-se
desconhecimento e alguma desconexão com o trabalho que as marcas de luxo têm vindo a
desenvolver no setor da sustentabilidade, por parte das consumidoras portuguesas, bem
como do papel do negócio da compra e (re)venda de bens em segunda mão como uma via
para a sustentabilidade.
39
De forma a verem os seus esforços reconhecidos, as marcas de luxo devem melhorar a co-
municação de forma a serem notadas pelas consumidoras portuguesas. Recomenda-se, as-
sim, aos gestores tanto das marcas de luxo, como de retalho de artigos em segunda mão, a
necessidade de investirem numa maior sensibilização dos consumidores para estas questões,
o que poderá passar por campanhas de comunicação de marketing, promoção de debates e
grupos de discussão através de comunidades online de marca, etc. Uma comunicação efeti-
va, por parte das marcas e empresas do setor, poderia incrementar a familiaridade dos con-
sumidores com o conceito e práticas para um consumo mais sustentável.
A preocupação com a contrafação de produtos de luxo é algo que também está muito pre-
sente no discurso das consumidoras e as marcas de luxo são vistas como uma ferramenta no
combate à contrafação.
40
Tabela 6
Preposições de estudo
Proposições de estudo
P1 A compra de artigos vintage de luxo está relacionada com o hábito de colecionar, e
constitui uma motivação importante da compra de bens de moda luxo em segunda
mão.
P2 O mercado de artigos de moda de luxo em segunda mão pode representar um
substituto a outras formas de investimento (e.g., investimentos imobiliários, finan-
ceiros ou arte) para alguns consumidores.
P3 Os consumidores sentem-se mais seguros a comprar artigos de luxo numa plata-
forma de revenda de artigos da própria marca de luxo.
P4 As ações de sustentabilidade das marcas luxo têm um efeito positivo na intenção
de compra do consumidor no mercado em segunda mão.
P5 A experiência numa plataforma online de artigos de luxo influencia positivamente
a intenção de compra.
P6 O uso de produtos de luxo comprados em segunda mão pode gerar benefícios
psicológicos para o consumidor, tal como os produtos em primeira mão.
P7 A compra de artigos de moda de luxo em segunda mão pode ser fonte de status e
benefícios sociais para os consumidores.
P1: A compra de artigos vintage de luxo está relacionada com o hábito de colecionar, e constitui uma moti-
vação importante da compra de bens de moda luxo em segunda mão.
Os artigos vintage e a prática de colecionar este tipo de itens surgiu de forma mais ou menos
consistente nas entrevistas. Seria interessante num estudo futuro clarificar melhor esta rela-
ção entre as motivações da compra de artigos de luxo em segunda mão e os determinantes
da compra de itens vintage.
P2: O mercado de artigos de moda de luxo em segunda mão pode representar um substituto a outras formas
de investimento (e.g., investimentos imobiliários, financeiros ou arte) para alguns consumidores.
Devido aos aumentos de preço que se verifica no mercado em primeira mão e à valorização
de certos produtos no mercado em segunda mão (O'connor, 2022), ao longo das entrevistas
verificou-se uma intenção das entrevistadas em investirem em produtos de luxo. Esta hipó-
tese pretende confirmar que as consumidoras consideram os artigos de luxo em segunda
41
mão investimentos rentáveis a médio e longo prazo, substituo de outras formas de investi-
mento.
P3: Os consumidores sentem-se mais seguros a comprar artigos de luxo numa plataforma de revenda de
artigos da própria marca de luxo.
Sendo as marcas de luxo vulneráveis a atividades ilegais de falsificação (Keller, 2009), e ain-
da que as plataformas online de venda de artigos de luxo em segunda mão ofereçam servi-
ços de autenticação, os consumidores demonstram medo quanto à autenticidade dos produ-
tos (Chen, 2018). Estudos futuros serão necessários para confirmar que os consumidores se
sentiriam mais seguros em comprar numa loja de resell oficial da marca de luxo.
P4: As ações de sustentabilidade das marcas luxo têm um efeito positivo na intenção de compra do consumi-
dor no mercado em segunda mão.
Das entrevistas, conclui-se que a sustentabilidade aparece por vezes associada à qualidade e
durabilidade dos produtos de luxo. Com consumidores cada vez mais conscientes e preocu-
dados com questão éticas, sociais e ambientais (Alsaad, 2021), esta preposição de estudo
pretende concluir que ações sustentáveis, como por exemplo, o uso de materiais inovadores
(Blasi et al., 2020) e adesão ao mercado em segunda mão, têm também implicações positivas
no mercado em segunda mão.
P5: A experiência numa plataforma online de artigos de luxo influencia positivamente a intenção de com-
pra.
Devido à importancia que as plataformas online ganharam no mercado em segunda mão
(Abtan et al., 2019), como comprova o presente estudo, esta proposição pretende sustentar
que a usabilidade e os serviços oferecidos afetam a compra de artigos de luxo em segunda
mão.
P6: O uso de produtos de luxo comprados em segunda mão pode gerar benefícios psicológicos para o consu-
midor, tal como os produtos em primeira mão.
Apesar do termo “segunda mão” ter uma conotação negativa e ser muitas vezes substituído
por pre-loved ou resale (Choufan & Tila-Cohen, 2023), todas as consumidoras entrevistadas
mencionaram sentir orgulho em comprar em segunda mão, o que revela que, apesar de se-
rem comprados em segunda mão, os benefícios psicológicos mantêm-se. Esta hipótese de
estudo propõe investigações para aprofundar e comprovar este aspeto.
42
P7: A compra de artigos de moda de luxo em segunda mão pode ser fonte de status e benefícios sociais para
os consumidores.
Apesar do estudo de caso não ter identificado o status como motivação de compra de arti-
gos em segunda mão, o estatuto social é identificado na literatura como uma motivação de
compra importante do consumo de artigos de luxo no mercado primário. Esta hipótese de
estudo pretende aprofundar este aspeto e confirmar que a compra em segunda mão tam-
bém está relacionada com o estatuto social.
43
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Anexos
55
2. Quando vende um artigo de luxo em segunda mão, dá preferência às lojas físicas ou
online?
a. Prefere vender um artigo de luxo em segunda mão numa plataforma online
reconhecida ou num projeto pequeno com curadoria?
b. Quais são os maiores entraves que enfrenta (ou teme enfrentar) quando está
a tentar vender um produto nessas plataformas?
3. Quando o vende/(re)vende, quais são os principais motivos?
4. Quando compra um artigo de luxo em segunda mão pensa no valor que o mesmo
possui no mercado para que depois o possa (re)vender mais facilmente?
5. De que forma as ações das marcas podem incentivar a (re)venda de produtos?
6. Considera que vender/(re)vender um produto de luxo está a contribuir para um
mercado de moda de luxo mais sustentável?
a. A venda em segunda mão de um artigo de luxo é uma prática de consumo
consciente e sustentável?
7. Sente orgulho em comprar e (re)vender em segunda mão? Fala abertamente sobre o
assunto ou evita mencionar?
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FACULDADE DE ECONOMIA