Moraes Epigramahistricoe 1993
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EPIGRAMA: HISTÓRICO E TRADIÇÕES
■ RESUMO: Este trabalho é um apanhado feito com base em diversas histórias da literatura grega e
latina, por meio das quais buscamos traçar a trajetória do epigrama através dos séculos. Trata-se de
uma pequena história do género epigramático desde as suas origens, quando ocupava o lugar de uma
simples inscrição, até o período moderno, no qual esta composição desenvolveu-se sob dois modelos:
um da tradição das composições líricas da antiga poesia grega e outro, o mais conhecido, o da
composição satírica, surgido após Marcial.
O epigrama na Grécia
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século VI a.C, aproximadamente, os primeiros registros de composições do gènero
epigramático marcadas pelas características acima descritas.
É preciso destacar, porém, que a literatura grega, nessa época, caracterizou-se
por sofrer uma profunda revolução intelectual e política. O surgimento dos tiranos,
invasores e migrantes modificou o quadro político e social e, ao mesmo tempo, foi
responsável pela mudança de enfoque das manifestações literárias. Os cantos coleti-
vos das epopeias começaram a ceder lugar aos cantores individuais, que passaram a
refletir sobre problemas cotidianos, na tentativa de responder a esse golpe espiritual
sofrido. Com esse novo propósito, multiplicaram-se as ocasiões para as suas manifes-
tações: os jogos, os concursos organizados ora pelos sacerdotes ora pelos tiranos nas
cidades. Essa multiplicidade de opções para composição foi responsável direta pelo
intercâmbio de músicos, os quais, no seu movimento de ir e vir veiculando suas
produções, concorreram também para que a literatura grega culminasse numa
variação de emoções que acabou por resultar na proliferação de novas formas poéticas.
O hexámetro, metro próprio da epopeia, já não bastava por si; o mito, objeto dos
grandes poemas homéricos, sofria uma reformulação. Todavia, a poesia épica não
poderia, de forma alguma, sair totalmente de cena, pois continuaria a contribuir, mais
do que nunca, com a literatura grega, sob nova ótica. A atuação da epopeia para a
nova produção poética grega estava na formação de músicos e rapsodos. Esses
músicos, impregnados da tradição homérica, reproduziam esses cantos, bebiam da
fonte dessa tradição para a sua expressão atualizada.
Era um momento de transformação, para toda a poesia lírica grega, em uma
manifestação de cunho mais racional, cuja preocupação começava a se centrar nos
aspectos literários, suplantando, assim, as manifestações primitivas (Croiset & Croiset,
1887-1890) que se faziam presentes, isoladamente, nesse ou naquele poema épico.
A poesia elegíaca, nesse quadro, toma também outros rumos. Interessa-nos,
pois, essa modalidade de poesia, que é uma das principais propulsoras do género
epigramático.
A elegia propriamente dita é a inserção das novidades advindas com produção
lírica racional no verso épico. O dístico elegíaco, composto de um verso épico (6 pés)
mais um verso de 5 pés provoca a sensação de reflexão graças à ausência de 1 pé no
final. Enquanto estruturação estrófica, cada dístico constitui uma estrofe e a forma
final do poema se faz em três, quatro ou até cinco destas estrofes, normalmente
terminadas por uma pontuação mais forte. O enjambement, ligação entre essas
estrofes, é forte e confere características de unidade à elegia.
É a modalidade do género poético lírico na qual a pessoa do poeta se faz mais
presente: lamenta, moraliza, louva, exorta, substituindo o orador no aspecto político
e popular. É a forma poética da oratória, em improvisações efémeras sob forma artística
e durável. Relaciona-se com os provérbios por ser o elemento moralizante apresentado
individualmente, no lugar do coletivo. O mito, nessa modalidade, não é cantado, é
exortado e serve apenas de fundamentação religiosa da moral, não se desenvolvendo
como na epopeia: é direto, simples e livre.
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As máximas e os conselhos surgiam continuamente na elegia, através do
encadeamento de ideias, num progresso lógico onde não havia estreita ligação com
o acompanhamento musical. Os próprios poetas não se acompanhavam com instru-
mentos e, quando não houve mais o acompanhamento dos citaristas, esses poetas
passaram simplesmente a recitar. Isso teve seu início no século VI e o género
epigramático foi um documento resultante dessa cisão entre música instrumental e
poesia, tornando-se uma ramificação da poesia elegíaca.
É exatamente nessa fase, sob a influência da proliferação dos géneros poéticos,
que o epigrama tende a se difundir, por estar abrigando em si características bastante
próprias e responsáveis por alguns aspectos particulares no âmbito de toda a produção
lírica grega.
Na produção epigramática, via de regra, não há noção de continuidade de temas,
a imitação e a repetição destes são mais frequentes. Os epigramas, dessa maneira,
prestam-se à função de documento de vida de uma época, pois se renovam - ainda
que repetindo e imitando - com as cores, sentimentos e índole próprias do local e da
época da (re)composição.
Com relação às características do epigrama, a mais marcante, nesse momento,
continua sendo a concisão, entendendo-se por tal todo o impacto relativo à emissão
de juízo do autor, condensado no verso final, após os primeiros versos que lhe servem
de preparação.
Outro aspecto importante na caracterização do epigrama é a própria emissão de
um juízo - laudatòrio, reprovador, moralizante, zombeteiro -, por parte do autor,
aspecto que também não mais abandonou o género. Os epigramas homéricos,
Arquíloco, Safo e Simônides de Ceo refletiam esses traços, diferenciando o modelo
epigramático do modelo épico.
Ainda com relação às grandes características do epigrama na Grécia Antiga,
observamos que essa produção, diferentemente dos demais géneros da lírica, não se
apresenta exclusivamente em determinada região ou dialeto, isto é, a produção
epigramática ocorrera em todas as polis irradiadoras da poesia grega, convivendo lado
a lado com a produção lírica própria de cada dialeto, assimilando destes dialetos os
seus traços locais e adaptando-os às características do género.
Essa fase de transformação do epigrama, na qual a inscrição tumular ou votiva
vira poesia, será o material do qual os autores gregos se servirão, então, para compor
poesias do género no período seguinte, o alexandrino, no qual os epigramas passaram
a ter como objeto o lamento, o lamento amoroso, o sorriso, a ironia, a polémica literária
- tudo que pudesse resultar literatura - aliado às características permanentes do
género.
Como a vida tivesse sofrido alterações de fundo social, político e religioso, a
poesia lírica da época alexandrina opera também transformações significativas de
fundo exclusivamente conteudístico.
A poesia alexandrina, por não estar subordinada a fins práticos, assemelha-se
ao conceito moderno de poesia como atividadepura e disinteressada, já que não mais
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se dirige ao povo ou à cidade, mas à corte e aos centros literários, sendo vista apenas
como exercício estético destinado à leitura ou ao canto. As consequências da prática
da poesia nessas novas condições são a falta de fontes de inspiração, o desapareci-
mento de alguns géneros e a modificação radical de outros. Tal situação precipitou o
processo de aburguesamento, tirando o objeto da poesia do espaço da praça pública
e encenando-o entre as quatro paredes de um salão.
Apesar da abertura ao se passar a considerar mais amplamente o que fosse
literatura, mudou a concepção do cidadão, além do objeto da poesia, e, com isso, a
produção epigramática na Grécia teve por guia, principalmente, nesse período, a
erudição, tal qual os demais géneros da lírica. A nova visão de mundo ocasionou, de
certa forma, o surgimento de uma outra fase do epigrama na literatura grega, a fase
da imitação, na qual o género mergulhou e cristalizou-se. A novidade da época ficou
por conta da composição para ocasiões fictícias e da maior variação de temas,
baseados nessa abertura.
A produção do género epigramático tendeu, naturalmente, a se transformar em
uma produção com traços tradicionalistas e retóricos. Do ponto de vista da s
estrutura, passou a colher elementos do diálogo e a conferir aos seus assuntos
descrições mais ou menos ágeis; adquiriu, também, traços de narratividade além de
elementos dramáticos.
Entretanto, o epigrama helenístico evoluiu em outras civilizações tendo, na
efervescência da época alexandrina, exaurido o seu objeto e sua melhor produção na
Grécia.
O epigrama em Roma
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romano, foi o início de uma nova literatura. Todavia, esse início aparentemente
semelhante àquele da literatura grega, apresenta uma série de particularidades.
O material da lírica grega aproveitado pela lírica romana passa pelo filtro da
adaptação ao espírito desta, vindo a diferir, primeiramente, no âmbito do florescimento
dos géneros. Apesar da repetição, na literatura latina, de praticamente todos os
géneros eclodidos na literatura grega, ainda assim não há coincidência na preferência
por determinados géneros entre este e aquele povo e, em segundo lugar, não há entre
eles coincidência na concepção do que seja literatura: a manifestação literária helénica
se pautava na cidadania e na religião e, em seguida, durante a época alexandrina, na
tentativa de retorno a esse mundo antigo, para os romanos, todavia, o material
transmitido pela cultura alexandrina fora adquirido visando à formação humana, ou ao
humanismo, herdado das ideias helénicas de aprendizado (paidéia) e sentimento de
humanidade (filantropia), aplicáveis à educação e cultura.
Os temas herdados da tradição alexandrina deveriam obviamente passar pela
adaptação ao espírito do povo romano. Apesar da tradição do género estabelecida e
fixada, a nova seiva do epigrama encontrou-se, sem dúvida, no espírito materialista,
utilitarista e prático desse povo.
O lirismo romano é o ato da interiorização do resultado dessa nova produção, o
subjetivismo, por sua vez, é a marca principal dessa nova ótica do lirismo: pela própria
visão utilitária da qual se reveste o povo romano, ambos, lirismo e subjetivismo, foram
os guias na opção pelos géneros, modelos, temas e objetos passíveis de uma produção
literária na concepção alexandrina. Desta feita, a opção pelos temas satíricos e
eróticos, temas cuja produção não vingara na Grécia, representou a fusão do resultado
do género epigramático no período alexandrino à visão romana de mundo.
Havia, porém, anteriormente a esse período, manifestações através do género
epigramático em Roma. No contato com a civilização etrusca, o epigrama grego com
características de simples inscrição já se encontrava lá documentado. Bickel (1982,
p. 351) situa temporalmente essa produção epigramática primitiva, normalmente
composta em versos saturninos, como sendo anterior à influência alexandrina,
demonstrando a sua abrangência, apesar das limitações, na relação entre homens e
circunstâncias, a qual,
...creó una serie de tópicos o lugares comunes (...) se convertió en património de todo un pueblo
en todas sus capas sociales. Con ella era posible contentar bien que mal a los escasos prohombres
encerrando sus nombres y las circunstancias particulares de $u vida en las pulidas fórmulas
tradicionales de la época dominada por la retórica...
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Quando a corrupção e o Estado somente tinham voz, o epigrama se fazia presente
agindo como um segredo mal mantido, um boato disseminado.
As tradições
Epigrama NQ 2
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ás religiosas que em uma festividade, que celebraram, lançaram a voar vários passarinhos
Décima
ao inspirado retiro que fez para Lisboa o Padre Bartolomeu (da Paróquia do Rosário)
Epigrama
Exemplo 2:
2. Tradução: Às vezes o tolo se cala, desejando ocultar a culpa da mente, / que muitas vezes as palavras tornam
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Considerações finais
conhecida. / Se é de tal rriodo que o insensato se sobressai, recuso-me a sobressair; / há muito amor em ser
vencido, porque vencer não é amor.
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3) O epigrama enquanto poema intelectual: essas composições permitiam, quando
não exigiam, que o conteúdo estivesse ligado à engenhosidade do autor, fosse
discursiva ou humorística.
Mantiveram-se, sempre, traços da concisão, do desfecho picante, da emissão
de um juízo por parte do poeta, que, associados à progressão do conteúdo e das formas
do género epigramático, não impediram a sua evolução de simples inscrição primitiva
para instrumento de expressão poética cujos efeitos inusitados tanto devem aos seus
inovadores.
MORAES, C. E. M. de. Epigram: history and tradition. Rev. Let., São Paulo, v. 33, p. 249-258,
1993.
■ ABSTRACT: This paper is a survey based on several history books of Greek and Latin literatures which
helped us to describe the development of epigram along the centuries. It is a short account of the
epigramatic genre from its origins, when it was meant as simple inscription; to modern times, when
such composition developed into twofonns: one which followed the tradition of the lyrical compositions
of the old Greek poetry and the other, better known, linked to the satirical compositions developed after
Martial.
Referências bibliográfica
BICKEL, E. História dela literatura romana. 2. ed. Versión española de José M. Diaz-Regañon
Lopez. Madrid: Editorial Gredos, 1982.
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Bibliografía consultada
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