Eu Gabi
Eu Gabi
Eu Gabi
Vivemos num tempo que demanda que a Educação oriente seus esforços na
construção de uma sociedade mais pacífica e inclusiva (ODS 16), um tempo em que as
novas gerações necessitam de educadores que tornem o ambiente escolar mais
envolvente para construir seus projetos de vida.
Provavelmente, frente a tais questões, você pensou nos quatro pilares da educação do
futuro que foram elaborados na virada do século XX para o XXI pelos pesquisadores da
UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura),
presentes na obra que ficou conhecida como Educação: um tesouro a descobrir:
● aprender a conhecer,
● aprender a fazer,
● aprender a conviver e
● aprender a ser.
Referência
Se quiser retomar o tema dos quatro pilares da educação do futuro, leia o capítulo 4: Os
quatro pilares da Educação, página 89. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2.
ed. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: MEC/ UNESCO, 2003. Disponível em
<https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000109590_por>. Acesso em: 17 novembro
2021.
De fato, falamos de uma educação formadora das pessoas, que não transmite
conhecimentos engessados ou definitivos, até porque o conhecimento é vivo e mutável.
Falamos da educação que desenvolve habilidades para que crianças e jovens
descubram caminhos para chegar aos conhecimentos de que precisam ao longo da
vida. Desta forma eles aprendem a ser protagonistas no seu processo de construção de
conhecimento, se tornando mais autônomos, curiosos, criativos e automotivados. Esta
é a educação necessária para um mundo que está em constante transformação, para
um mundo cujo processo de aceleração da informação e conectividade cresceu de
forma exponencial.
“Repensar as formas como a educação nos permite chegar a ser aquilo que queremos
ser, para nós e para os demais”. UNESCO, Futuros da Educação.
Porém, para nos relacionarmos de forma saudável e efetiva conosco, com os outros
seres e com o meio no qual vivemos, para tomarmos decisões individuais e coletivas
responsáveis para o bem comum e para que possamos compreender e autorregular
nossas emoções antes, durante e depois das nossas interações efetivas, é preciso
recuar um passo e aprender sobre autoconhecimento. Durante nosso dia nós nos
perguntamos: “Onde deixei meus óculos ou minhas chaves?”, “O que preciso colocar na
lista do supermercado?”, “Qual é mesmo o horário daquela consulta?”, “Onde vamos
passar nossas férias?”, mas quantas vezes nos perguntamos “Como estou me sentindo
agora?”. Olhamos demais para fora e muito pouco para dentro de nós mesmos e assim
vamos ignorando nosso mundo interno. Não olhar para dentro de si mesmo, não estudar
seu próprio mundo interno, é considerado analfabetismo emocional1.
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1O termo “analfabetismo emocional” foi criado pelo psicoterapeuta Claude Steiner, na
década de 1970, para designar indivíduos incapazes de reconhecer e compreender suas
próprias emoções e de ouvir ativamente e ter empatia.
Vamos focar em três aspectos para pensar no desenvolvimento de um ser humano integral:
A consciência sobre si, sobre sua própria existência deve ser desenvolvida e desdobrada
com o autoconhecimento e na autorregulação;
O cientista norte-americano Howard Gardner trouxe uma grande contribuição para a área
da educação e causou um forte impacto em toda a comunidade científica quando, no início
da década de 1980, apresentou sua teoria das “Inteligências Múltiplas”. Segundo ele, a
manifestação das inteligências e da genialidade humana é muito mais específica do que
generalista, indo muito além da inteligência lógico-matemática.
A inteligência é responsável por nossas habilidades para criar, resolver problemas e fazer
projetos. Cada pessoa possui alguns tipos diferentes de aptidões, que caracterizam sua
inteligência. Em sua teoria, Gardner mapeou, inicialmente, sete tipos de inteligência,
adicionando outras duas posteriormente. São elas: Lógico-Matemática, Linguística,
Espacial, Físico-Cinestésica, Interpessoal, Intrapessoal, Musical, Natural e Existencial.
Vamos nos deter em analisar dois tipos de inteligência fundamentais para desenvolvermos
as habilidades socioemocionais, que são o nosso foco neste curso: a Intrapessoal e a
Interpessoal.
Embora distintas, elas são inseparáveis e complementares. Assim como para resolver um
problema de matemática mobilizamos as inteligências linguística e espacial junto com a
lógico-matemática, assim também, perante os desafios da convivência, as inteligências intra
e interpessoal trabalham juntas.
A teoria de Gardner favorece uma visão integral de cada ser humano, que estamos
buscando retomar na Educação.
Atenção!
Referência
Pois bem, por aqui começamos a repensar tanto o projeto educativo da escola quanto a
convivialidade que nela existe e o currículo explícito e implícito que se realiza todos os dias.
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2MARQUES, Júlia. Empatia deve ser ensinada pelo exemplo: entrevista com Howard
Gardner. O Estado de S.Paulo. Ago. 2012.
Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta e vai se fazendo.
“Não nascemos prontos (...) é absurdo acreditar na ideia de que uma pessoa,
quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse, mais velho
ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando... Isso não ocorre com gente,
mas com fogão, sapato, geladeira. Eu, no ano 2000, sou a minha mais nova edição
(revista e, às vezes, um pouco ampliada)”3.
Pois é, gente se desenvolve, se reedita sempre, não importa a idade que cada um tenha.
Principalmente quando se trata de aprendizagem social e emocional, existencial e
afetiva, estudantes ou educadores, crianças ou adultos, estamos sempre cheios de
novidades.
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A escola é o espaço social que oferece oportunidades para que as crianças e os jovens
aprendam a ser atores sociais comprometidos com a formação de uma sociedade mais
solidária. É nela que modelam seus comportamentos, atitudes e ações em interações
que vão além dos membros da família.
Ali precisam interagir com pessoas que têm hábitos, pensamentos, costumes e culturas
diferentes das que elas vivenciam em suas casas. Esta riqueza de diversidade que o
ambiente escolar oferece é a porta de entrada para o desenvolvimento das
competências e habilidades que são a base para relacionamentos mais respeitosos,
saudáveis e pacíficos.
Na perspectiva das correntes humanistas, que têm uma visão positiva do ser humano,
todos nós nos desenvolvemos e aprendemos mais e melhor quando encontramos
significado naquilo que estamos aprendendo. Isto acontece quando nos envolvemos em
nossa totalidade, incluindo nossos processos afetivos e cognitivos, quando se abre
espaço de participação do aluno na aula e quando são mobilizados seus próprios
saberes e habilidades para aprender. Isto torna o aprendizado mais prazeroso e produz
maior sensação de completude e felicidade.
Esta perspectiva traz conceitos-chave muito importantes que você, professor, deverá
contemplar e interiorizar para aprofundar sua compreensão acerca da educação
socioemocional. Assim você passará a vivenciar e manifestar estas habilidades
naturalmente no seu cotidiano pessoal e profissional, e esta será a melhor forma de
desenvolver a educação socioemocional com seus alunos. Estes conceitos são como
premissas, como pontos de reflexão pessoal, que amadurecem a nossa visão e nos
preparam para trabalhar com as competências socioemocionais.
Observe a inter-relação dos âmbitos da Educação Socioemocional e dos planos de
interação individual e social proposta no diagrama:
Uma criança que adora piscina e brincar na água supostamente gostaria de fazer
natação, porém a atividade com hora marcada e totalmente direcionada pode virar um
motivo de estresse. Outra causa muito comum de estresse infantil e juvenil é a
impossibilidade da criança ou do adolescente de reconhecer ou expressar claramente o
que está sentindo.
Muitas crianças e até mesmo adultos, quando têm reações desse tipo, acabam sendo
rotulados como malcriados ou birrentos, quando na verdade estão apenas sofrendo sob
a influência das reações primitivas desencadeadas pelo estresse.
Este alarme era (e ainda é) disparado por uma pequena estrutura presente no nosso
cérebro, chamada amígdala cerebral. A amígdala cerebral é conhecida como o centro das
emoções e, quando ela é disparada, praticamente desliga outras áreas do nosso cérebro,
concentrando a nossa energia, pensamentos e movimentos, em reações que,
supostamente, vão nos livrar do perigo o quanto antes e nos manter vivos. Nesta condição
nossas funções cerebrais cognitivas, de memória e, principalmente, de raciocínio lógico,
ficam inativas, e passamos a agir em um modo totalmente reativo e instintivo. É o que
chamamos de instinto de sobrevivência.
Então, quando o cérebro identifica uma situação de perigo, ele dispara a amígdala cerebral
"soando este alarme", e entramos em modo automático, reagindo somente de três formas:
lutando, fugindo ou ficando paralisados. Estas três formas de reação, conhecidas como luta,
fuga ou congelamento, são as chamadas reações primitivas (FFF – do inglês Fight, Flight or
Freeze).
O grande problema é que muitas vezes o nosso cérebro se confunde e interpreta algumas
situações do cotidiano como situações de perigo, disparando este alarme quando não
deveria. As situações de estresse da vida moderna, no geral, não colocam nossa vida em
risco diretamente, porém mobilizam neurotransmissores que confundem o nosso cérebro e
fazem com que ele ative a amígdala cerebral, provocando reações primitivas.
Vamos falar agora de duas áreas do nosso cérebro que são desligadas, ou seja, ficam
sequestradas e inativas, quando a amígdala cerebral é ativada e que são fundamentais no
processo de ensino e aprendizagem, nas relações sociais e na autorregulação emocional.
A primeira é o córtex pré-frontal. Esta área do cérebro atua, entre outras coisas:
Além disso, o córtex pré-frontal produz em nossa mente um forte teor cognitivo e também é
responsável por aquilo que chamamos de intuição ou experiência visceral, que é nossa
capacidade instintiva de perceber situações de perigo antes mesmo de acionar o
pensamento lógico.
Então, vejamos: quando a amígdala é ativada, o córtex pré-frontal tem sua atividade
bloqueada e todas essas funções ficam prejudicadas ou inativas. Por exemplo: se um aluno
está passando por uma situação de estresse, ele não consegue prestar atenção na aula,
não tem foco, fica emocionalmente desequilibrado, não consegue ter pensamento crítico e
não controla seus impulsos; portanto, não adianta dizer: Fique calmo! Pare de chorar!
Preste atenção!
Não vai resolver. Pelo contrário, diante da impossibilidade de atender a estes comandos, a
criança só ficará mais estressada, retroalimentando o descontrole.
Outra área fundamental para nós é o hipocampo. Ele é responsável pela memória, pela
capacidade de armazenar e recrutar as informações aprendidas (especialmente a longo
prazo). Esta área também tem papel ativo no processo de regular as emoções e inibir o
estresse. Uma vez que a amígdala tenha sido disparada, todas essas funções serão
prejudicadas ou inativadas. Por exemplo: quando os pais dizem para uma criança que se
ela não tirar nota mínima nas provas não vai ganhar o presente de aniversário ou aquela
viagem esperada nas férias, eles, na verdade, podem estar levando a criança para o
fracasso. Nem todas as crianças lidam bem com a pressão do sistema recompensa-castigo,
nem todas conseguem usar isso como fator motivador, algumas crianças podem sentir-se
pressionadas e ficar estressadas, disparando o sinal de alarme do medo na hora da prova,
ou seja, a amígdala é ativada e o hipocampo é sequestrado, ela tem o famoso branco e não
lembra nada do que estudou. O mesmo acontece com um adulto pressionado a dizer o que
aconteceu em “tal dia ou tal hora”: a pressão dispara o medo, que dispara a amígdala, que
sequestra o hipocampo, e a pessoa não consegue lembrar do que aconteceu com clareza,
pode misturar informações e a confusão está armada!
Resumindo: situações de estresse disparam a ativação da amígdala cerebral que, por sua
vez, inibe outras regiões do cérebro, dentre elas o córtex pré-frontal e o hipocampo, ou seja,
a criança estressada vai reagir, instintivamente, lutando, fugindo ou congelando!
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Mas como traduzimos estas três reações primitivas para o nosso cotidiano moderno?
Vejamos: em uma reação de luta a pessoa pode apresentar agitação, agressividade (física
ou verbal) ou até mesmo autoagressão (automutilação, ideação suicida). Em situações com
reação de fuga, a pessoa tende a sair correndo, buscar isolamento (fuga do contexto) ou
ficar indiferente (fuga emocional). Já nas reações de congelamento a pessoa tende a
apresentar bloqueios físicos ou mentais (os famosos “fiquei paralisado(a)” ou “tive um
branco”) e bloqueios respiratórios (falta de ar).
Atenção!
Nem sempre os desequilíbrios emocionais estão ligados às reações primitivas. Eles podem
resultar de padrões repetidos de comportamento que foram estabelecidos e validados em
algum momento.
Vamos agora assistir a uma aula sobre as reações primitivas e, logo em seguida, vamos
conhecer estratégias práticas para lidar com estas reações, utilizando situações do
cotidiano para promover e praticar o autoconhecimento e a autorregulação emocional, duas
das habilidades socioemocionais mais importantes.
MÓDULO 1 | UNIDADE 2: O que se entende
por Educação Socioemocional
A vídeo-aula com Daniel Goleman está disponível no canal do YouTube The Ripple Effect
Int.
Referência
THE RIPPLE EFFECT INT. Daniel Goleman's explanation of "amygdala hijacks". YouTube.
Dez. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GHnuyJFGVng>. Acesso
em: 09 dezembro 2021.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é hoje o principal documento norteador
dos processos de ensino e aprendizagem no Brasil, busca garantir as aprendizagens
essenciais que o aluno deve ter ao longo da Educação Básica. A aprendizagem de
competências socioemocionais faz parte das dez competências gerais que orientam as
propostas curriculares da Educação Infantil ao Ensino Médio. Trata-se de uma inclusão
necessária para garantir a formação integral do aluno.
Repare em cada uma das competências, lendo-as com atenção. Em todas você poderá
identificar habilidades socioemocionais associadas, como, por exemplo, o respeito e a
inclusão na Competência Geral 1.
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC,
2018. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.
pdf>. Acesso em: 15 novembro 2021.
Um exemplo concreto
Um problema atual que muito preocupa na escola é o bullying, termo inglês que pode
ser traduzido como provocação, implicância, assédio moral, coação, perseguição,
intimidação. Com esse termo, denominamos um conjunto de ações violentas e
intencionais, geralmente repetidas, de uma pessoa contra outra. Lembramos que há
agressões silenciosas também, mediante gestos e atitudes de indiferença. O bullying
deixa marcas que vão da ordem física à psicológica em quem foi alvo desta violência e
que podem afetá-lo não apenas no momento da agressão, mas ao longo da vida. No
combate ao bullying, autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidade de
relacionamento e tomada de decisão responsável devem ser trabalhadas ao longo de
toda a escolaridade.
MÓDULO 2 | UNIDADE 1: Aprendizagem
socioemocional e currículo
Você deve ter ouvido siglas como ASE – Aprendizagem Socioemocional e várias outras que
identificam modelos para apresentar este novo núcleo de saberes. Alguns deles
apresentam competências e habilidades.
Atenção!
CASEL e Big Five (ou Modelo dos Cinco Grandes Fatores) são metodologias distintas. O
modelo Big Five, que, como o nome anuncia, também tem a sustentação de cinco domínios,
surgiu como um recurso para a realização de testes de personalidade, muito utilizado pelos
setores de Recursos Humanos, e posteriormente passou a ser adotado como referência
para identificar as personalidades dos alunos.
Não limite estes conteúdos ao tempo real de aula, tampouco à sala de aula. A educação
socioemocional pode e deve assumir uma posição de transdisciplinaridade, ela deve
acontecer em todas as aulas e em todos os ambientes da escola.
Aproveite uma aula de ciências sobre recursos hídricos, por exemplo, para falar sobre
consciência social e empatia com as comunidades que sofrem com a seca. Fale
também sobre nossa responsabilidade com os recursos naturais do nosso planeta, que
são esgotáveis.
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O equilíbrio natural das coisas está na diversidade, é preciso compreender isto. Também
precisamos abandonar a ideia de que uma sala de aula boa é uma sala homogênea, isto
não existe!
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“No meu livro Tranquilizando a sala de aula, eu comparo a sala a uma orquestra. Uma
orquestra não se faz com um único instrumento, o som poderia até sair, mas seria
monótono, sem graça. A beleza de uma orquestra está na diversidade de sons, na
alternância entre eles e na habilidade do maestro em extrair e harmonizar o melhor de
cada um. Assim é com a sala de aula: você é o maestro e sua tarefa agora é harmonizar
todos os seus alunos e extrair o melhor de cada um deles. Tranquilidade não significa
passividade. Uma sala de aula tranquila é uma sala de aula pacífica e não passiva, é
uma sala viva!”. - Patricia Franco FRANCO, Patricia; JANIAKE, Etienne. Tranquilizando a
Sala de Aula. São Paulo: Rima Editora, 2019.
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Então diga: você acha que é possível desarmar essas reações de forma simples e
eficaz? A resposta é, em grande parte das vezes, sim! Assim como fortes emoções
provocam estresse e disparam a amígdala, o simples ato de reconhecer e nomear as
emoções é uma estratégia eficaz para desarmá-las e desativá-las!
Estratégia número 1
Segundo Brackett (2021), no livro Permissão para sentir, que trata desse assunto, pedir
que a criança dê nome ao que está sentindo faz com que ela identifique e reconheça
suas emoções, sentimentos e sensações.
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● Faça contato visual (olhe nos olhos, se for uma criança, você deve se
abaixar até a altura dela) e físico (toque suavemente seus braços com as
mãos, sem apertar ou segurar, apenas toque).
● Em seguida pergunte: “O que você está sentindo?”. Se a pessoa começar
a explicar o que aconteceu (e é bem provável que faça isso), você
gentilmente retoma a pergunta: “Tudo bem, mas me diga: o que você está
sentindo?” “Como você se sente?”. Faça isso quantas vezes forem
necessárias até que a pessoa consiga nomear como se sente.
● Se a pessoa não conseguir nomear o que sente, não “sugira” nenhum
sentimento (por exemplo: “você está com raiva, não está?” ou “eu sei por
que você está assim, é porque está com sono”). Tenha paciência e
aguarde que a pessoa treine o reconhecimento dos seus sentimentos. Se
após algum tempo ela ainda apresentar dificuldades para nomear você
pode dizer “você acha que o que você está sentindo é ciúme?” ou “você
acredita que pode estar irritado porque ainda não tomou seu lanche?”.
● Quando ela finalmente conseguir nomear (por exemplo: estou triste, estou
com raiva ou estou frustrado e com medo), demonstre empatia dizendo
“eu entendo, é natural que se sinta assim”. Não julgue, não emita opiniões,
apenas faça o acolhimento emocional, escutando e dizendo que
compreende e que está tudo bem se sentir assim.
● Observe e perceba que, rapidamente, a pessoa vai se acalmando e
relaxando. Tenha paciência e não se apresse. Quando a pessoa
finalmente estiver calma, aí sim você pode perguntar o que aconteceu e
mediar o conflito ou manejar a situação.
O que costumamos fazer quando vemos uma situação de conflito na escola, em que um
aluno ou alguém está apresentando sinais de descontrole emocional (chorando,
gritando, batendo, correndo, ironizando, debochando, etc.), é perguntar “O que
aconteceu?”, e isto não ajuda, pois, ao descrever o fato, a pessoa “reafirma” a situação
que disparou o estresse e o descontrole. Muitas vezes este tipo de pergunta tende a
piorar a situação. O que precisamos é perguntar “Como você está se sentindo?”!
Estratégia número 2
● Faça contato visual (olhe nos olhos, se for uma criança, você deve se
abaixar até a altura dela) e físico (toque suavemente seus braços com as
mãos, sem apertar ou segurar, apenas toque).
● Dê o seguinte comando verbal, com voz firme, porém amorosa: “X (nome
da pessoa), respire junto comigo por cinco vezes!”. Se for uma criança,
vocês podem colocar as mãos na barriga um do outro para sentir a
respiração e manter o foco nela, ou você pode abraçá-la gentilmente para
que se sinta acolhida e sincronize a respiração com a sua. Nesse caso, dê
o comando “Sinta a minha respiração e respire junto comigo”.
● Não converse neste momento, apenas fique ali, e aguarde que a pessoa
se reequilibre emocionalmente.
● Se a pessoa tentar falar enquanto ainda estiver desequilibrada (e é
provável que ela tente), apenas diga “Tudo bem, eu entendo, mas agora
vamos apenas respirar um pouquinho. Assim que você estiver mais
confortável, você me conta o que aconteceu. Agora apenas respire junto
comigo”. Lembre-se: se ela começar a contar enquanto estiver
desequilibrada, isso só vai reforçar o estresse e piorar a situação.
Uma alternativa para o exercício de respiração é construir, junto com seus alunos, um
“Pote da calma”. O pote da calma é um bom recurso para utilizar com as crianças
menores. Cada aluno pode preparar o seu ou você pode preparar um que será usado por
todos da sala. Para fazer o pote da calma, encha uma garrafa pet transparente com
água e purpurina de várias cores. Você também pode usar glitter ou pedacinhos de
plástico. Não recomendamos o uso de vidro, porque pode cair e quebrar. Explique para
as crianças que a garrafa representa o nosso cérebro, e a água é a nossa mente calma e
equilibrada: conseguimos ver tudo com clareza através dela. A purpurina (glitter ou
plástico picado) representa nossos pensamentos. Depois agite a garrafa com vigor e
mostre que, assim como quando a purpurina está agitada e suspensa na água, não
conseguimos enxergar bem do outro lado, quando os pensamentos estão agitados,
nossa mente também não fica clara.
Na sequência coloque a garrafa em cima da mesa e peça que fiquem observando. Aos
poucos a purpurina vai decantando e a água volta a ficar transparente e limpa. O mesmo
acontece com a nossa mente: se os pensamentos estão agitados e ficamos parados e
quietinhos, respirando, os pensamentos se acalmam e vão se assentando na nossa
mente, e então voltamos a ter clareza das coisas.
Deixe os potes da calma disponíveis e diga que as crianças podem usá-los sempre que
se sentirem agitadas ou precisando de um pouco mais de calma.
Estratégia número 3
Educador, pense no ambiente escolar. Pense nas inúmeras situações que surgem no
cotidiano escolar em que podemos praticar as habilidades sociais (questões referentes
aos relacionamentos saudáveis) e habilidades emocionais (questões referentes a como
eu lido com as minhas emoções). Como você poderia criar condições para que as
crianças lidem de forma saudável com suas emoções?
É possível desenvolver estratégias que diminuam o seu nível de estresse, que melhorem
a sua capacidade de foco e o seu rendimento.
Assista ao vídeo Estratégias para cultivo de uma mente mais equilibrada, de autoria e
apresentação de Patricia Franco, e aproveite as inúmeras possibilidades de interação
oferecidas.
Atenção
Os exercícios ao longo do vídeo não têm teor avaliativo: são pequenas práticas para
apoiar a compreensão. Ao concluir a visualização, é fundamental a realização do
QUESTIONÁRIO – Atividade avaliativa.
Não esqueça:
Referências bibliográficas
BRACKETT, Marc. Permissão para sentir: como compreender nossas emoções e usá-las
com sabedoria para viver com equilíbrio e bem-estar. Rio de Janeiro: Sextante, 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.
Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.
pdf>. Acesso em: 15 novembro 2021.
COLL, César; POZO, Juan Ignacio; SARABIA, Bernabé; VALLS, Enric. Os conteúdos na
reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1998. p. 162.
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 2. ed. São Paulo: Cortez, Brasília,
DF: MEC/ UNESCO, 2003. Disponível em:
<https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000109590_por>. Acesso em: 17 novembro
2021.
FRANCO, Patricia; JANIAKE, Etienne. Tranquilizando a Sala de Aula. São Paulo: Rima
Editora, 2019.
GIROTTO, Paula. Estresse infantil: causas, como identificar, tratamento e prevenção. Dra.
Paula Girotto Neuropediatria. Ago. 2020. Disponível em:
<https://drapaulagirotto.com.br/stress-infantil/>. Acesso em: 20 dezembro 2021.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser
inteligente. 2. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
LIPP, Marilda et al. Como enfrentar o stress infantil. São Paulo: Ed. Ícone, 1991.
MORIN, Edgar. Ensinar a viver: manifesto para mudar a educação. Porto Alegre: Sulina,
2015.
Bibliografia complementar
ANDREWS, Susan. Stress a seu favor: como gerenciar a sua vida em tempos de crise. São
Paulo: Editora Ágora, 2003.
DONALDSON, Henry. The Growth of the Brain: a Study of the Nervous System in Relation
to Education. Lenox: HardPress Publishing, 2012.
GREENLAND, Susan. The mindful child: how to help your kid manage stress and become
happier, kinder and more compassionate. Nova Iorque: Atria Books, 2010.
PAGLIARONE, Ana; SFORCIN, José. Estresse: revisão sobre seus efeitos no sistema
imunológico. Disponível em:
<http://www.uel.br/ccb/patologia/portal/pages/arquivos/Biosaude%20v%2011%202009
/BS_v11_n1_DF_57.pdf>. Acesso em: 18 dezembro 2021.
PEREIRA, Cristina; VALCÁRCEL, Rafael. Emocionário: diga o que você sente. Rio de
Janeiro: Sextante, 2018.
SANTOS, Elisama. Educação não violenta. São Paulo: Paz e Terra, 2019.
SIEGEL, Daniel; BRYSON, Tina. Disciplina sem drama: guia prático para ajudar na
educação, desenvolvimento e comportamento dos seus filhos. Tradução Cássia Zanon.
São Paulo: nVersos, 2016.
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Questão 1
Marcar questão
III. O modelo oferecido pelo CASEL – Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning
substitui as competências gerais da BNCC da perspectiva da educação socioemocional.
É (são) correta(s):
a.
Todas as afirmações.
b.
Apenas II.
c.
Apenas I.
d.
Apenas III.
e.
Questão 2
Marcar questão
a.
b.
c.
Somente a sentença III está correta.
d.
e.
Questão 3
Marcar questão
De acordo com o que você aprendeu sobre reações primitivas, assinale a alternativa incorreta:
a.
O córtex pré-frontal é uma das áreas que ficam “sequestradas” ou “inativas” durante a ativação
da amígdala. Esta área é responsável, entre outras coisas, pela atenção consciente e focada;
sendo assim, a pessoa estressada terá dificuldade de reter informação.
b.
Na condição de vida moderna, muitas vezes o nosso cérebro se confunde e interpreta algumas
situações do cotidiano como situações de perigo, disparando este alarme quando não deveria.
c.
d.
A amígdala cerebral é conhecida como o “centro das emoções”, e, quando ela é disparada,
praticamente “desliga” todas as outras áreas do nosso cérebro, concentrando a nossa energia,
os pensamentos e movimentos, em reações que, supostamente, vão nos livrar do perigo o
quanto antes e nos manter vivos.
e.
Questão 4
Marcar questão
a.
Quando o estresse é prolongado, ele aumenta nossa resistência e nossa resiliência, nos
tornamos menos vulneráveis.
b.
c.
A criança estressada tende a se tornar agressiva, desobediente, apática, porém isto não afeta o
desempenho escolar.
d.
e.
O estresse é uma reação do organismo frente a situações muito difíceis ou muito excitantes e,
justamente por ser uma reação natural frente a um estímulo, ele pode ocorrer em crianças e
adolescentes de qualquer idade, independentemente do sexo, e se manifestar através de
sintomas físicos, psicológicos ou ambos.
Questão 5
Marcar questão
a.
É a capacidade que a pessoa desenvolve para gerenciar seus sentimentos, de modo que sejam
expressos de maneira apropriada e eficaz.
b.
c.
d.
Por constituir um processo natural, não demanda tematização e abordagem nas escolas.
e.
Questão 6
Ainda não respondida
Marcar questão
a.
O CASEL é formado por uma comunidade de pais preocupados com o índice de violência e
evasão escolar e trabalha promovendo a Aprendizagem Socioemocional ou SEL em inglês
(Social and Emotional Learning) nas escolas em parceria com outros membros das famílias.
b.
A BNCC é um documento norteador e normativo que tem por objetivo padronizar os currículos
escolares e garantir as aprendizagens essenciais durante a educação básica. Ela estabelece dez
competências que devem se tornar disciplinas curriculares, entre elas quatro de ordem
socioemocional.
c.
A metodologia CASEL é também chamada de Big Five (ou Modelo dos Cinco Grandes Fatores).
Os cinco domínios que abarca são extroversão, amabilidade, abertura a novas experiências,
conscienciosidade e neuroticismo.
d.
Os Valores Universais são os pilares para a convivência pacífica, sadia e tranquila consigo
mesmo e entre cidadãos de todo o mundo. Somam um total de 20 valores e não guardam
qualquer relação com a educação socioemocional.
e.
Questão 7
Marcar questão
a.
b.
c.
A inteligência é responsável por nossas habilidades para criar, resolver problemas e fazer
projetos.
e.
Questão 8
Marcar questão
Sobre o papel da escola na educação socioemocional dos alunos, assinale a alternativa
incorreta:
a.
b.
O pensamento crítico, lógico e racional sempre foi o foco principal do currículo escolar, porém,
de acordo com os estudos contemporâneos, a escola precisa também desenvolver de forma
intencional as competências socioemocionais como o autoconhecimento e as habilidades de
relacionamento.
c.
d.
As competências e habilidades socioemocionais devem ser desenvolvidas e praticadas na sala
de aula, no pátio da escola, na hora do intervalo e em todos os momentos de convivência. Elas
devem ultrapassar os muros da escola e se fazer presentes nas relações em casa, nos lugares
públicos, nos transportes, elas devem permear todas as relações e todos os espaços.
e.
Questão 9
Marcar questão
Qual das descrições a seguir corresponde ao fenômeno do bullying?
a.
Apenas agressões silenciosas, raramente identificadas por outras pessoas (além da vítima e do
agressor).
b.
c.
d.
e.
Conjunto de ações violentas e intencionais, geralmente repetidas, de uma pessoa contra outra.
Questão 10
Marcar questão
a.
A educação socioemocional é uma demanda das escolas, embora deva ser trabalhada apenas a
partir do Ensino Fundamental.
b.
c.
d.
As escolas vivem o dilema da escolha pela ênfase no pensamento crítico ou pela prioridade ao
desenvolvimento socioemocional, uma vez que são processos antagônicos.
e.