O Caminho 3T 2a
O Caminho 3T 2a
O Caminho 3T 2a
astro espiritual da internet. Este livro sistemático e eloquente provê um valioso guia
para aqueles que buscam um progresso espiritual sério”.
– Howard J. Resnick (Hridayananda Das Goswami), PhD em Sânscrito e Estudos
Indianos pela Harvard, líder espiritual –
“Posso dizer que gostei de cada palavra e cada instrução nesta obra maravilhosa”.
– Enéas Guerriero (Iswara Das), escritor e terapeuta –
1ª Edição © 2017 Giridhari Das. 1a. reimpressão.
Ilustrações: pedroluiss
Ilustração "Visualização Grá ca do Caminho 3T" : Bruna Lima
Tradução: Bhagavān Dāsa (iago Costa Braga)
Projeto Grá co por © Coletivo Editorial
Capa: Nārada Muni (Mateus Dias)
Editor: Bhagavān Dāsa (iago Costa Braga)
Revisão: Nṛsiṁhānanda Dāsa (Leopoldo Lusquino), Robson Silva
Diagramação: Jeferson Rocha
Versão e-Book: ebooks.nextmidia.com.br
2200Kb, ePub.
ISBN 978-85-69942-15-3
CDD 158.1
visite-nos na internet:
www.coletivoeditorial.com.br
PREFÁCIO
O propósito deste livro é oferecer um guia fácil de ser seguido e efetivo para
crescimento e transformação pessoal, para maximizar seu verdadeiro potencial e
permitir que você extraia o melhor de sua vida. Isso acontecerá por meio da
reapresentação e retransmissão do antigo caminho de autorrealização em yoga.
Quero lhe apresentar um conhecimento simples, porém poderoso, bem como
práticas e ferramentas para tornar sua vida cada vez mais feliz, dando-lhe mais
clareza, fazendo-o mais forte, mais resiliente e melhor preparado para lidar com
os altos e baixos da vida, e com suas incertezas e ansiedade.
Não se tratam de promessas vazias. Tenho seguido esse caminho já há mais
de 20 anos, e ajudei milhares de pessoas a fazerem o mesmo. Sei pessoalmente
o que ele fez por mim e testemunhei seus resultados em outros muitas e muitas
vezes. Em poucas palavras, trata-se de uma receita antiga testada e aprovada
para termos uma vida magní ca e atingirmos a iluminação.
Vou falar abertamente: no livro, eu uso aquela palavra que começa com “D”
– sim, “Deus”. Talvez esteja tudo bem para você. Se não é seu caso, eu entendo
você. Fui ateu, então sei exatamente o quanto esse assunto pode parecer
detestável. Era algo que costumava me causar grande aversão. Sei que Deus tem
sido muito mal representado e que coisas horríveis são feitas em nome dEle
ainda hoje. Porém, se você ainda não teve a oportunidade de ouvir sobre Deus
a partir desta antiga tradição do yoga devocional, há grandes chances de você se
maravilhar e se sentir aliviado com o que está prestes a aprender e
experimentar. Então, por favor, não deixe essas questões de Deus e devoção o
fazerem fechar o livro logo de começo!
Um dos pontos altos deste caminho é que ele casa a vida espiritual com sua
vida cotidiana. Acontece que maximizar seu bem-estar aqui e agora é uma
característica essencial para a iluminação. Naturalmente, então, o caminho é
muito abrangente, abarcando desde sugestões para estilo de vida, com
benefícios que são rápidos e facilmente perceptíveis, até verdades espirituais
muito esotéricas e profundas, que podem precisar de décadas de prática sincera
até serem experimentadas.
O que signi ca “3T” a nal? Minha inspiração como instrutor espiritual é
manter tudo simples. Assim, tento constantemente destilar as práticas
essenciais do que pode parecer, algumas vezes, uma tradição espiritual confusa
e desestruturada. Por m, cheguei às três (3) práticas transcendentais (T)
essenciais que garantem um processo constante de transformação – o Método
3T. Tradicionalmente, há também três campos de progresso nesse caminho
transcendental (o caminho tríplice do yoga) e três abordagens para transformar
atividades mundanas regulares em ação transcendental (karma-yoga).
A força do Caminho 3T está em sua combinação de ferramentas antigas e
poderosas: 1) mindfulness, 2) dharma, 3) paz interior, 4) jnana (conhecimento)
e 5) bhakti (devoção), junto de sugestões de estilo de vida para maximizar seu
potencial e, por último, o Método 3T para manter seu progresso estável. Cada
um desses constituintes é poderoso por si só, mas muito mais quando
combinado com outros.
Gostaria de nalizar esta introdução enfatizando a importância da prática.
Meras informações não ajudarão você. É preciso transformação. E a
transformação acontece quando a informação é praticada diariamente, o dia
inteiro. Na verdade, você deve começar imediatamente a prática do Método
3T, que você encontrará no m do livro. Você não precisa esperar a conclusão
da leitura do livro para começar a praticá-lo. Por começar com a prática diária
essencial do Método 3T, você começará a colher os benefícios do Caminho 3T
imediatamente. Eu lhe darei informações que você pode absorver, mas que
precisam ser praticadas diariamente para terem algum efeito real. Portanto,
conforme você lê este livro, esteja atento às muitas diretrizes práticas, em
especial nas seções intituladas “Conceito-Chave do Caminho 3T”. Quanto
mais você puder incorporar dessas práticas, mais transformações
experimentará.
PARTE 1 - O QUE É O YOGA
“Bem, e quanto a todas essas posturas, todos esses asanas, que vemos hoje?”,
você talvez pergunte. Qual o propósito disso? Como mencionei, nenhum asana
é descrito no Yoga-sutra, e apenas um asana é apresentado na Bhagavad-gita.
Em ambos os casos, os asanas são mencionados como parte do ato de
meditação. É de fato importante sentar-se de modo apropriado, com a coluna
ereta, para melhor meditar. Diante disso, sempre houve uma conexão entre a
postura corporal e o yoga, mas, originalmente, era com o m expresso de
meditar. A meditação é tão importante, tão central no caminho do yoga, que, a
partir disso, surge um caminho alternativo de yoga, diferente do caminho
tríplice geral, descrito anteriormente. Ele é conhecido como “o yoga da
meditação”. Na Bhagavad-gita, chama-se dhyana-yoga, sendo dhyana a palavra
sânscrita para “meditação”, e, no Yoga-sutra, utiliza-se o termo astanga-yoga
(não confundir com o dinâmico sistema de yoga moderno que tem o mesmo
nome). Em dhyana-yoga, o praticante abandonava sua vida social “normal” para
viver uma vida reclusa na natureza, dedicado exclusivamente a meditar, em
geral perto de uma caverna ou de um rio sagrado. A meta era simplesmente
imergir a mente na meditação mais atenta e precisa em Deus, a ponto de que
nada mais pudesse ser percebido ou sentido.
A intensidade do poder de meditação, de foco, que um yogi atingia é algo
simplesmente além de nossa experiência, sendo difícil entender ou conceber
apropriadamente. É provável que você já tenha se surpreendido vendo atletas
pro ssionais no auge de suas carreiras fazendo coisas que você não conseguiria
fazer nem mesmo em sonho. Imagine o que esses atletas “da mente”
conseguiram depois de se dedicarem a meditar profundamente, quem sabe, por
dezoito ou mais horas por dia, ao longo de décadas. Há muitos relatos de yogis
desse tipo vivendo por centenas de anos. Não se trata de algo tão difícil de se
acreditar. A nal, essas pessoas estavam vivendo sem nenhum estresse, à base de
uma dieta orgânica, crudívora e silvestre, reduzindo a velocidade de sua
respiração e dos seus batimentos cardíacos ao longo da maior parte do dia.
Ainda mais espantosos são os abundantes relatos dos poderes especiais que esses
meditadores conseguiam desenvolver. Levitar, tornar-se imune a fogo e veneno
e suspender a respiração por horas eram alguns dos poderes dos iniciantes.
Mudar de forma, a habilidade telecinética de pegar um objeto a qualquer
distância e a capacidade de amaldiçoar ou abençoar qualquer um também se
faziam acessíveis. Os poderes mais formidáveis incluíam produzir qualquer
coisa desejada, controlar a mente de outros, mudar de tamanho, cando
atômico ou tão grande quanto um planeta, multiplicar-se e teletransportar-se
para qualquer parte do Universo.
São descrições extravagantes, mas podemos dizer que são impossíveis?
A nal, muitas das maravilhas tecnológicas que temos como comuns nestes dias
pareceriam impossíveis a qualquer pessoa um século atrás ou menos. Estamos
falando de sujeitos que desenvolveram um controle tão intenso da própria
mente que puderam acessar o próprio sistema de funcionamento da natureza
material. Gosto de pensar nisso como uma forma de tecnologia muito
avançada.
Algo interessante é que, sempre que tais poderes são mencionados nos
textos sagrados, acompanha-se um alerta de que são tentações perigosas, que
farão caírem os yogis que façam mau uso deles ou se tornem orgulhosos por
causa dos mesmos. Isso acontece porque essa divergência da atenção para a
realidade externa e para metas materiais egoístas, junto da agitação mental
produzida pelo orgulho e pelo poder, destrói a pureza do foco e da
determinação do yogi.
Em resumo, o caminho de dhyana-yoga é muito difícil e muito intenso.
Felizmente, não é o mais recomendado, nem o mais e ciente, o que explica por
que é praticamente inexistente na atualidade.
Mas voltemos aos asanas e ao foco nas posturas físicas. Não é difícil
imaginar que, com o passar dos séculos, e não nos esqueçamos de que estamos
falando de milhares de anos, essa pequena comunidade de meditadores tenha
se interessado pelos efeitos que as posturas tinham sobre o corpo. Independente
do motivo, desenvolveram gradualmente um grande “acervo” de posturas e
estudos sobre seus efeitos em órgãos, na espinha, na mente, etc. Trata-se de um
grande subproduto de uma tradição que tem muito mais a oferecer. A meta
deste livro é transmitir esse bem ainda maior.
PARTE 2 - OS CINCO CAMPOS DA
PERFEIÇÃO DO CAMINHO 3T
Nunca é demais enfatizar este ponto: toda a sua experiência de vida é 100%
dependente da sua mente. Sei que isso pode ser muito duro de aceitar a princípio,
mas quanto mais você investigue e invista neste caminho de transformação interior,
mais você experimentará esse fato. Em uma ponta do espectro, está o materialista
crasso que pensa que toda felicidade é uma realidade de base completamente
externa. Em outras palavras, onde ele está, quem ele é, com quem está, que coisas
possui, seu status social, conta bancária, aparência, etc., são a única base de sua
felicidade e bem-estar. No outro extremo do espectro, está a descrição clássica do yogi
autorrealizado, descrição repetidamente presente na literatura sagrada do yoga, que
o apresenta como alguém em bem-aventurança constante e profunda, independente
de sua situação externa. A diferença? A mente. A questão não é qual é a realidade
externa, mas como você a interpreta.
É claro que é uma longa estrada de uma ponta do espectro até a outra. A boa
notícia é que você experimentará resultados a cada passo. A notícia ainda melhor é
que isso é real. A humanidade tem feito isso desde antes das pirâmides do Egito.
Não temos apenas esse imenso testemunho de gerações após gerações de praticantes de
yoga, senão que, agora, temos a neurociência para con rmar. E você pode
experimentar isso pessoalmente, desde o começo, seguindo o Caminho 3T.
O cerne da questão é sua habilidade em focar sua mente, e no que você foca sua
mente. O sábio Patanjali, em seu Yoga-sutra, composto há 2000 anos, apresenta
isso com perfeição: “Yoga signi ca controlar as funções da própria mente”. Os cinco
campos de perfeição do Caminho 3T se centram nisso, explicados de tal modo que
sejam acessíveis a qualquer um neste dia e era.
Mindfulness
Mindfulness é um termo moderno para um dos aspectos
dessa antiga prática de yoga. Em poucas palavras, signi ca
estar ciente, estar consciente de sua consciência e ser capaz de
experimentar um pensamento, uma sensação ou uma ação
externa por completo, com absoluta atenção. Isso exige muita
prática porque a maioria das pessoas simplesmente se perde
em pensamentos – a todo momento. Pesquisas mostram que
temos aproximadamente setenta mil pensamentos por dia![1]
Você se senta para o desjejum, mas sua mente dá pouca ou
nenhuma atenção para o alimento que você está comendo.
Em vez disso, diferentes enredos se desenrolam em sua mente;
uma conversa ininterrupta está acontecendo dentro de sua
cabeça, “prós” e “contras” disso e daquilo estão sendo colocados em uma
balança, você está revendo e resenhando um lme que viu na noite anterior,
etc. Em questão de segundos, seus pensamentos podem sair de um encontro
que você teve no dia anterior e rumar para planos do que fazer hoje à noite, ou
para um sentimento de ansiedade por conta de uma reunião ou apresentação
no trabalho por vir. E isso tem acontecido por toda a sua vida, e continuará
assim, a menos que comece a fazer algo quanto a isso.
Má Companhia
Imagine ser obrigado a car com alguém do tipo que fala muito, e apenas
coisas negativas. Alguém que não para de falar hora nenhuma, nem mesmo por
um segundo. E o que a pessoa fala está longe de ser divertido, útil ou
necessário. São, em sua maior parte, bobagens e coisas que fazem você se sentir
mal consigo mesmo. Isso seria muito desagradável, não seria? Mas isso não
parece muito familiar? Parece, porque é mesmo. Estou falando da sua mente
descontrolada.
Desde o primeiro segundo depois que você acorda, sua mente começa a
vagar disso para aquilo. Requentando acontecimentos antigos, murmurando
coisas sem sentido e pressionando você a buscar pelos itens na lista de
felicidade condicional. E o que é pior: sua mente gosta de contar histórias de
terror. Ela gosta de contar as muitas maneiras como você fracassará e as
terríveis consequências que decorrerão disso. Por exemplo, se hoje você tem
uma prova na faculdade, ou uma apresentação na empresa, ela apresentará
argumentos em relação a como é provável que você fracassará. E se você
fracassar de fato, que tipo de futuro lhe aguarda? A mente é tão boa nisso que
convence seu cérebro a ativar as respostas “combater ou correr”: elevação da
pressão sanguínea, batimento cardíaco acelerado, adrenalina e respiração curta.
E talvez você ainda não tenha nem mesmo saído da cama.
É por isso que a ansiedade é um fenômeno amplamente difundido. Você
não se estressa pelo que tem a fazer, mas pelo que sua mente está lhe dizendo
sobre o que você tem a fazer. Você se permite se tornar vítima da falação
ininterrupta da sua mente, bem como de sua negatividade e incessante
fornecimento de medo.
Você tem que aprender a mudar essa rotina gradualmente, dia após dia.
Acontece que você tem o poder de redirecionar a mente, paci cá-la e, pouco a
pouco, superar a habilidade que ela tem de arruinar sua vida.
Não se trata de “tudo ou nada”. Trata-se de uma prática. Você perderá sua
mente em ansiedades futuras, remorsos passados ou falação mental inútil; nesse
momento, então, você trará a mente de volta para o aqui e agora e
experimentará paz. Quando a perder, traga-a de volta. Vezes e mais vezes. O
dia todo. Pelo resto de sua vida. Você cará cada vez melhor nisso e será cada
vez menos vitimado pelos artifícios de sua mente. Isso se tornará uma segunda
natureza para você. Há uma famosa seção na Bhagavad-gita em que Krishna diz
que, para quem controlou a mente, a mente é o melhor dos amigos, e para
quem não a controlou, a mente é o maior dos inimigos. Mindfulness é um
componente-chave para tornar sua mente o seu melhor amigo.
Dharma
Dharma é um conceito muito rico, e a palavra tem muitos signi cados, mas
meu foco será no dharma como aquilo que precisa ser feito – essência e dever.
O dever pode ser algo imposto. A essência não pode ser imposta. Dharma,
portanto, é aquele dever que nasce de quem você realmente é, que nasce de sua
natureza. Não é uma imposição externa ou social. É o que você precisa fazer,
em qualquer dado momento, para ser a melhor pessoa que você pode ser. É
fazer a coisa certa na hora certa. Ser dhármico é mais do que simplesmente fazer
o que é bom ou evitar uma conduta danosa ou violenta, embora isso
certamente esteja incluído no conceito, e pode-se reduzir isso a uma lista do
que se deve evitar. O dharma é uídico, vivo e sensível aos diferentes aspectos
de sua vida. Grandes mudanças no seu dharma podem ocorrer, literalmente, de
um segundo para o outro. Uma maneira de entender o dharma é refrasear os
clássicos dizeres: “Não pergunte o que o mundo pode fazer por você, mas
pergunte o que você pode fazer pelo mundo”.
Dharma é o princípio orientador da vida, a cada momento lhe
demonstrando o que você deve fazer, respondendo suas dúvidas em relação a
que curso seguir e simpli cando as ações da vida. Dharma é sua integridade na
ação e a verdadeira expressão do seu ser. Você encontrará seu lugar no mundo
uma vez que você se a ne com seu dharma.
O dharma é uma parte integral da natureza. Não é uma construção
psicológica ou um conceito religioso. O nível de delidade que você tem ao seu
dharma afetará diretamente como você se sente diariamente. Ser el a si
mesmo signi ca agir de acordo com seu dharma. Assim, quanto mais você
pode se a nar com seu dharma, mais você pode agir com base no seu dharma e
mais você se sentirá satisfeito, completo, real e feliz. Quanto mais dhármico for
o seu comportamento, mais você se sentirá satisfeito com quem você é agora.
Por m, quanto mais dhármica for a sua vida, mais você poderá recapitulá-la
com alegria e com um sentimento de realização.
Estar na Zona
Mindfulness e dharma andam lado a lado. Dharma é algo tão natural que o
que você precisa para estar cada vez mais a nado com ele é remover o que não
é natural, em especial egoísmo, medo e cobiça. Outra maneira de dizer o
mesmo é que, se você for vítima de sua lista de felicidades condicionais, ou
simplesmente carecer de consciência su ciente de suas ações, você não
conseguirá ver o seu dharma. O foco perfeito no aqui e agora é centrar-se no
seu dharma e colocar toda a sua atenção em realizar seu dharma no máximo de
sua capacidade. Isso, por si só, trará uma felicidade imediata e sustentável. Você
já experimentou isso muitas e muitas vezes. Você talvez se lembre de muitos
momentos em que você se focou totalmente em fazer algo que era seu dever,
sem qualquer consideração em relação a si mesmo ou a recompensas futuras ou
mesmo a perigos. Pais, em especial mães com bebês, experimentam isso com
frequência. Essa experiência é chamada de “estar na zona”. A psicologia positiva
(o ramo da psicologia que estuda o que torna as pessoas felizes) aponta “estar
na zona” como um dos pilares primários de uma vida feliz. Estar focado na
ação implica, necessariamente, não estar focado nos sacrifícios ou benefícios
materiais que a ação possa suscitar no futuro. Estes dois são diretamente
opostos: focar-se no seu dharma aqui e agora, e ansiar por resultados futuros.
Este ponto é tão importante que Krishna não o menciona menos do que dez
vezes na Bhagavad-gita. Esta mudança de paradigma é a chave para um grande
salto de bem-estar.
CONCEITO-CHAVE DO MÉTODO 3T
A Mudança de Paradigma: Vida vs. Fantasia
É
fantasia. A vida está acontecendo a todo momento. É um uxo, uma constante
corrente de eventos. O desa o é estar completamente presente conforme acontece. A
felicidade surge de cumprir o seu dharma bem, aqui e agora, indo de um dharma a
outro, ao longo do seu dia. Sendo a melhor pessoa que você pode ser hoje, neste
exato momento, sincero consigo. É simples assim. Não há necessidade (e,
francamente, pouquíssima utilidade) em car sonhando acordado com um futuro.
A realidade é mais bela do que qualquer sonho, se você simplesmente aprender a
acessar isso por completo. Eventos futuros se descortinarão sob a força todo-poderosa
do tempo. A vida, em sua maior parte, acontece de maneira muito diferente do que
qualquer coisa que você imaginou anteriormente. E isso não é algo ruim, nem algo
bom. Apenas é. Trata-se da realidade. Quanto mais conseguimos nos sintonizar
com a realidade, mais felizes camos. Em vez de imaginar que certa combinação de
coisas, pessoas e situações trará paz e felicidade para você no futuro, você deve
buscar paz e felicidade na vida como ela é, na bênção maravilhosa de estar ativo
em seu dharma, de estar vivo, agora mesmo.
Os Sete Dharmas
1. Dharma Vocacional
O primeiro dharma, eu costumo dizer, é o mais difícil de todos, pelo menos
para a maior parte das pessoas. O primeiro dharma é o chamado de sua vida,
sua vocação. Nasce de sua natureza psicofísica. Algumas pessoas têm a bênção
de conhecer sua vocação ainda com pouca idade. Já vi isso pessoalmente no
caso de alguns dançarinos, artistas plásticos e atores com que me encontrei. São
comuns histórias de atletas que se destacaram tanto que seus parentes e
professores naturalmente os orientaram para se tornarem pro ssionais do
esporte. Há outros que têm um QI tão aguçado que naturalmente gravitam em
torno de trabalhos acadêmicos e cientí cos. Para a maioria, isso pode ser uma
batalha.
A razão para isso ser uma batalha é que a sociedade ensina às pessoas desde
tenra idade que o que elas realmente precisam é dinheiro, com metas
secundárias de estabilidade e respeito. Em outras palavras, quase todos
aprendem, desde o nascimento, a escolher o paradigma da fantasia. Em vez de
ensinarem as pessoas a fazerem aquilo em que são boas e ajudarem-nas a
desenvolverem suas inclinações e talentos únicos, o mais frequente é que os
pais, a cultura e o sistema escolar tratem as pessoas como folhas em branco,
dando-lhes uma educação que supostamente serve para todos e as encorajando
a fazer tanto dinheiro quanto possível.
Então, aqui estão algumas dicas para ajudar você a encontrar sua vocação.
Lembre-se de que nunca é tarde demais.
1) Quando estiver meditando sobre o que você gostaria de fazer, remova de
sua equação qualquer fator externo. A questão é quem você é, e não
preocupações práticas.
2) Esqueça o dinheiro. Não pense: “Ah! Não posso trabalhar com arte
porque isso não pagará minhas contas”, “Não posso cursar Filoso a porque que
tipo de emprego eu conseguiria?” Remova tais considerações da mente. Uma
maneira de fazer isso é pensar: “Se eu ganhasse na loteria, eu gostaria de
trabalhar com...”
3) Esqueça a pressão social e o orgulho. Não se trata do que seus pais
querem que você faça. Se você não se atrai pela vida militar, não faz diferença
se existem cinco gerações contínuas de militares na sua família. Não se trata de
status social também. Talvez a sociedade não aprecie um porteiro ou garçom,
mas são pro ssões perfeitamente nobres. Quem possui a natureza psicofísica
para o ofício de porteiro e está fazendo isso está muito melhor situado do que
alguém exercendo a pro ssão de advogado apesar de ter a natureza psicofísica,
na verdade, para a ocupação de musicista. O porteiro pode facilmente
encontrar paz e felicidade em seu trabalho, enquanto o advogado sempre se
sentirá frustrado e não realizado.
4) Não pense apenas no que você gostaria de fazer. Você talvez goste de fazer
muitas coisas. Em vez disso, pense no que é aquela atividade especí ca que
você não consegue car sem. Tente pensar qual é o tipo dominante de
atividade para a qual você é naturalmente atraído.
5) Uma nota para professores: professores têm uma vocação dupla.
Primeiramente, têm de aceitar que nasceram para ensinar e, em seguida, têm
que encontrar a temática de ensino para a qual têm maior inclinação.
Encontrar sua vocação envolve quem você é agora e é algo que está ali para
ser descoberto, de modo que há ferramentas e processos que você pode usar
para ajudá-lo quanto a isso, incluindo: testes vocacionais, conversar com
pessoas que são próximas a você e até mesmo astrologia védica. O melhor a
fazer é apenas olhar seriamente para dentro do próprio coração e sentir sua
natureza. Passe algum tempo sozinho, em silêncio, e re ita demoradamente.
Seja corajoso e esteja disposto a aceitar sua verdadeira natureza. Não se traia.
Não deixe o medo do futuro parar você.
Encontrar sua natureza é essencial. Passar suas horas de trabalho fazendo
algo não adequado à sua natureza psicofísica desgastará suas chances de
felicidade. É uma ofensa à sua pessoa. É como manter seu verdadeiro eu
trancado em algum lugar distante.
2. Dharma Natural
Krishna explica na Bhagavad-gita que, entre outras coisas, um yogi tem que
satisfazer três necessidades naturais: 1) dormir, 2) comer e 3) recrear. Chamo
isso de nosso dharma natural, porque se tratam de necessidades naturais
centrais do corpo e da mente. Krishna enfatiza que não se deve comer ou
dormir em excesso nem comer ou dormir menos do que o necessário. Quanto
é “em excesso”? Bem, o que seja em excesso para você. Somos todos diferentes.
E, em diferentes momentos de sua vida, o que é demais ou insu ciente para
você irá variar. Portanto, você tem que encontrar o seu equilíbrio. Viver o seu
dharma é, precisamente, ter equilíbrio, sabendo quando mudar de um dharma
para outro, em seu limitado dia de 24 horas. O dharma natural signi ca que
você tem que levar a sério, como um dever, como parte de sua essência, os atos
simples de comer, dormir e recrear.
Você tem que reservar um tempo para comer, para valorizar esse momento.
Comer não deve ser empurrar comida para dentro da boca enquanto se faz um
milhão de outras coisas. Não deve ser algo corrido. É algo que deve ser tratado
como um dever sagrado. Um tempo para pensar sobre suas escolhas
É
alimentares, sobre o que você está colocando em sua boca. É o momento
crucial do dia em que você está reabastecendo o seu corpo. “Esta refeição é
compatível com quem eu sou? É realmente boa para mim? É boa para o
planeta?” São escolhas sérias, com consequências sérias. Em um mundo onde
as pessoas estão se matando e destruindo o planeta com más escolhas
alimentares, é fácil ver como tomarmos o ato de comer como um dos dharmas
fundamentais pode ser muito importante.
Dormir não é uma perda de tempo. É um componente essencial para sua
saúde mental e física. Falta de sono pode ter um impacto negativo tremendo
em sua saúde, e até mesmo matar, no caso de dormir ao volante ou em outra
situação similar. É seu dever fazer todos os arranjos necessários para dormir
bem e dormir o bastante. Dormir não deve ser algo que você faz quando não é
mais capaz de car de pé e algo que você interrompe porque é forçado a se
levantar para trabalhar. Como dormir o bastante é seu dharma, é seu dever,
você tem que organizar sua vida de forma que essa necessidade mental e
corpórea crucial seja acomodada. Ver o sono como seu dharma signi ca
também que, quando você vai para a cama, não deve estar pensando em outros
dharmas, como o trabalho. Você deve simplesmente dormir. Limpe sua mente e
esteja no aqui e agora de simplesmente dormir.
Ver a recreação como um dos seus dharmas signi ca que você pode dispersar
todo sentimento de culpa quando você consegue tempo para se divertir ou sair
de férias. Isso também signi ca que você deve reservar um tempo para se
divertir e sair de férias. Alguém que trabalha demais e não se diverte nada acaba
se tornando alguém muito carrancudo... e pouco dhármico também. Eu,
pessoalmente, acho fascinante e confortador que um texto clássico como a
Bhagavad-gita, descrevendo o que é preciso para se iluminar, mencione a
importância da recreação.
3. Dharma Ocupacional
Independente de se você encontrou sua verdadeira natureza, quando você
aceita um emprego, gerencia seu próprio negócio ou se matricula em um
programa de estudo de horário integral, você aceitou um grande dharma.
Chamo isso de dharma ocupacional. É, em geral, o que mais exige horas do seu
dia, em virtude do que é muito importante que você veja seu trabalho ou
estudo como um dharma, e não como um fardo ou imposição externa.
Porque é um dharma, você não deve aceitar um trabalho que cause dor e
destruição desumana. A expressão de sua vida, por exemplo, não pode ser
ajudar a causar câncer e vícios em milhões de pessoas, roubar ou utilizar
indevidamente recursos públicos, destruir a economia, tirar o dinheiro de
outras pessoas através de mentiras, matar animais inocentes ou contribuir para
a destruição do planeta. Não pode haver felicidade nisso, e nenhum argumento
deve conseguir convencer você da necessidade de aceitar uma ocupação tão
degradante como essas exempli cadas.
Ver seu trabalho como dharma signi ca aplicar o mesmo princípio de
mindfulness para as muitas ações que o circundam. Isso quer dizer que você
jamais deve ver seu trabalho ou estudo como um meio para um m. O
trabalho jamais deve se destinar a ganhar dinheiro, e seus estudos jamais devem
ter por nalidade conseguir um diploma para conseguir um emprego. Esse tipo
de pensamento torturará você e tornará seus dias longos e sofridos. Em vez
disso, cada atividade para a qual você é convocado deve ser feita tão bem
quanto você seja capaz, com tanto de sua atenção dedicada a isso quanto
possível. O foco deve ser a ação em si, não o dia como um todo, nem a
carreira, nem o salário ou outra meta no futuro.
Se você está se sentindo estressado no seu trabalho, é um sinal bem claro de
que sua mente está fora de controle. Estresse é um indicador de que você ou
está ansiando por algum futuro positivo ou está temendo algum acontecimento
negativo. Em outras palavras, sua mente o está arrastando para o futuro e o
enlouquecendo. Então, traga seu foco de volta para uma ação por vez. Se é
hora de se sentar em uma reunião ou sala de aula, esteja ali, presente, sendo a
melhor pessoa que você pode ser naquele momento. Se é hora de preparar uma
apresentação, para vender papel ou qualquer outra coisa, então faça isso
somente, faça o melhor que pode fazer e não que se desgastando com
pensamentos do que virá depois, não que percorrendo as postagens de redes
sociais ou respondendo a e-mails. Mantenha sua completa atenção em uma
coisa de cada vez.
Seu dharma ocupacional é um excelente teste para seu desenvolvimento
pessoal e amadurecimento no mindfulness. As múltiplas demandas de dirigir
um negócio, manter um emprego ou obter um diploma testarão suas
habilidades de manter sua mente focada no aqui e agora, em fazer o que é
necessário com sua atenção plena e presença igualmente plena. Você será
constantemente testado em sua habilidade de distinguir entre planejar e
fantasiar. Quando se acostumar a isso, porém, você adorará. Chega um lindo
momento em que você nalmente compreende a diferença entre tentar uma
venda por causa de uma boni cação, e tentar uma venda porque isso é a
expressão de quem você é naquele momento. A diferença é entre dar o seu
melhor porque você acha que terá alguma recompensa futura, e dar o seu
melhor porque isso é como você pode maximizar sua experiência aqui e agora.
Quando você está fazendo isso por alguma recompensa futura, você
experimentará ansiedade ao longo de todo o processo, ira caso fracasse,
frustração caso haja obstáculos ou seja menos do que o esperado, e você não
estará completamente presente. Quando você está dando o seu melhor como
expressão do seu dharma, de quem você é, você se sente maravilhoso do
começo ao m, você está completamente presente na ação e você aceita o
resultado que venha com naturalidade, independente de qual seja.
Excesso de Trabalho?
4. Dharma Pessoal
Toda relação pessoal cria uma demanda dhármica. A qualidade e o tipo de
relação determina “o peso” das demandas dhármicas ou, em outras palavras,
quanto do seu tempo você tem que investir na relação e o quanto de
responsabilidade existe no seu papel nesse relacionamento. Mães e pais têm a
maior demanda de todas. O dharma de criar os lhos é seríssimo. Donos de
animais de estimação também assumem um dharma similar ao de maternidade
e paternidade em relação aos seus companheiros animais. O dharma de ser
lho ou lha é o segundo mais importante, mas não se compara ao de ser mãe
e pai. Amigos muito próximos também criam laços dhármicos. Existem
variados níveis de responsabilidade com outros membros familiares, irmãos,
vizinhos, colegas de trabalho, etc.
Ver toda relação pessoal como dharma, como parte de uma de nição de
quem somos, como um dever sagrado, signi ca que você tem que ir além do
egoísmo e da preguiça. Você tem que estar ciente dessa relação e sentir o que é
preciso para honrá-la, para apreciá-la. Também signi ca que você quer estar
completamente presente quando lida com a pessoa. Se é o momento de dar um
telefonema para exercitar seu dharma pessoal com sua esposa, esteja
completamente presente, exercendo tanta conexão e tanto amor quanto você
seja capaz. Se é hora de passar algum tempo brincando e educando seus lhos,
esteja ali por completo. Se entregue a isso. Não deixe sua mente arrastar você
para pensamentos referentes ao trabalho. Não dê atenção para sua mente lhe
dizendo que, em vez de brincar com um barquinho barulhento, ela preferiria
estar malhando na academia ou lendo um livro em um ambiente tranquilo.
O dharma pessoal possui uma importância enorme. Como vimos na
história de Mohamed El-Erian, se você não der tempo e energia su cientes
para seus relacionamentos pessoais, você está fadado a sofrer, independente do
que mais você acredite estar obtendo. Você tem que ter a sensibilidade de
perceber o que cada relacionamento exige de você e estar pronto para cumprir
essa responsabilidade com plena atenção, dando o seu melhor.
5. Dharma Comunitário
Você é parte de uma comunidade, residente de uma cidade e estado, e
cidadão de um país. Isso signi ca que você tem benefícios e responsabilidades
compartilhados. Espera-se que o governo providencie estradas, iluminação
pública, eletricidade, água, proteção contra criminosos e invasores estrangeiros,
etc., e, em troca, pelo menos, você tem que pagar seus impostos e obedecer às
leis. Ainda melhor, você deve ver seu dharma comunitário como um chamado
para tornar sua vida melhor para aqueles que vivem em seu entorno. Você pode
ajudar com ideias ou com serviço voluntário? Você pode se engajar na exigência
de melhores direitos civis, melhores serviços públicos? Você pode ajudar
aprimorando a escola dos seus lhos? Não podemos, todos nós, pensar que isso
é problema dos outros. Onde há um crescimento dessa tendência de pensar
que outra pessoa deveria se preocupar com o bem público, ali encontraremos
políticos corruptos e péssimos serviços governamentais. Assim, de um lado,
devemos ser ao menos membros conscientes de nossa comunidade, pagando
nossos tributos e seguindo as leis, e, por outro lado, devemos participar
ativamente no aprimoramento da sociedade.
6. Dharma Universal
O dharma comunitário possui um foco mais imediato na comunidade e no
país em que você vive. Contudo, estamos todos interconectados. Não apenas
compartilhamos de uma conexão natural com aqueles da nossa espécie, mas
também uma conexão com todos os habitantes do planeta Terra. Essa conexão
nos de ne, é parte de quem somos, diante do que é parte do nosso dharma
como um todo. Chamo isso de nosso “dharma universal”. Conforme você
evolui, naturalmente você se torna mais e mais a nado com o mundo ao seu
redor, sensível ao que está acontecendo. Uma pessoa espiritualmente madura
não é indiferente à destruição do planeta e ao sofrimento de outros, e assume a
parte que lhe cabe para tornar o mundo um lugar melhor. Isso se chama
compaixão.
Alguns exemplos de prática desse dharma universal são: 1) fazer o melhor
para ser ecológico, 2) ser um consumidor consciente, 3) fazer sua parte em
uma emergência, acidente ou desastre natural e 4) buscar saber se você pode
ajudar quando há sofrimento em grande escala em nações distantes.
7. Dharma Espiritual
Por último, mas certamente não menos importante, está a categoria do
dharma espiritual. Seu eu espiritual é a de nição última de quem você é, sua
essência no sentido último da palavra. Mesmo se, neste ponto, você não “assina
embaixo” da ideia de ser mais do que este corpo, você ainda pode compreender
o dharma espiritual como seu dever de ser a melhor pessoa possível, de ser
completamente justo consigo mesmo. Com o tempo, uma vez que você
entenda que você só pode se de nir perfeitamente quando entenda sua relação
com Deus, então, como parte de sua essência mais íntima, como a de nição
central de si mesmo, você gozará alegremente dessa conexão, chamada devoção,
como a parte mais profunda do seu dharma espiritual. Exercitar seu dharma
espiritual é assumir seriamente a responsabilidade de aprimorar-se e de
conhecer-se. É dedicar tempo a praticar o Método 3T todos os dias e se
esforçar para sempre praticar os cinco campos de perfeição do Caminho 3T.
O Dia Dhármico
Paz Interior
À medida que você avança, você pode começar a assumir cada vez mais o
controle. Você pode se tornar o jardineiro do jardim de sua psicologia. Você
pode lentamente podar emoções, desejos e motivações que sejam negativos e
destrutivos. Você pode encorajar o crescimento de pensamentos positivos e
emoções amorosas. Você pode reforçar seu foco e apreciação por agir em sua
verdadeira natureza, no seu dharma.
E por que você deveria fazer isso? Pela simples razão de que o verdadeiro
você não tem nenhuma ligação com egoísmo, cobiça, luxúria, cólera, ciúmes,
inveja, loucura e temor. Tais coisas são as ervas daninhas. Elas trazem
sofrimento para você e sofrimento para o próximo. Neste caminho, você está
procurando pelo verdadeiro você, e você quer viver a vida como uma expressão
divina do verdadeiro eu. Na tradição do yoga, é dito que essas são as coberturas
da alma. Usamos o termo “anartha nivritti”, que, traduzido literalmente,
signi ca: “pegar o caminho que dá as costas para o imprestável”.
Quanto mais você é auto-observador, mais você consegue se encarregar
dessas in uências indesejáveis antes que afetem suas palavras ou ações, assim
como um bom jardineiro removerá as ervas daninhas antes que mudem a
aparência do jardim.
À proporção que você experimente a alegria de reduzir ou bloquear essas
emoções negativas, dando espaço para o seu verdadeiro eu, estados mentais
recompensadores e positivos surgirão e você se sentirá cada vez mais em
harmonia e em paz.
Uma vez que você consiga um nível de domínio sobre suas emoções, desejos
e motivações atuais, você pode, pouco a pouco, buscar antigas experiências e
velhos sentimentos que estão pedindo por sua atenção, os quais estejam
afetando negativamente quem você é e como você se comporta hoje. A vida é
uma bagunça, e tendemos a acumular lixo emocional em nosso inconsciente.
Infelizmente, esse lixo não vai embora por conta própria. Ele permanecerá lá,
apodrecendo bem dentro de você. Se for algo signi cativo o bastante, pode
afetar seriamente a maneira como você se comporta no momento. Pode estar
afetando sua relação com sua esposa ou com seus lhos, ou com seus pais. Pode
estar afetando o seu trabalho. Muitas pessoas estão convencidas de que
questões emocionais antigas podem causar doenças e se curaram de doenças
graves ao se libertarem das emoções em questão. E do ponto de vista da
autorrealização, se você se mantém apegado a algum trauma emocional antigo,
parte de sua identidade cará presa a essa versão traumatizada de si mesmo, e
você não conseguirá crescer.
Aprendi que, por simplesmente ser sincero comigo e por observar minhas
emoções, posso encontrar questões emocionais antigas e arraigadas, com as
quais preciso lidar. Essas questões deixam rastros que você pode seguir. Por
exemplo, você pode car ansioso ou experimentar outros sentimentos negativos
quando lida com determinado membro familiar ou em certas situações
especí cas. E você nota que isso vem à tona repetidamente, de tempos em
tempos. Considere que isso é a primeira pista em sua investigação do mistério.
Seja absolutamente honesto com você mesmo. É seu espaço interno pessoal –
não é preciso esconder algo. Admita todas as suas falhas e de ciências, mas
também seja corajoso o bastante para admitir falhas e de ciências naqueles
com quem você tem uma grande dívida de gratidão, como seus pais. Nossos
problemas emocionais profundos são, com frequência, com aqueles mais
próximos de nós e mais importantes em nossa vida. Os pais, os lhos, o esposo
ou esposa, ex-marido ou ex-mulher, irmãos e assim por diante. Algumas vezes,
você foi o culpado. Você se comportou de uma maneira vergonhosa e você
precisa aceitar isso e, possivelmente, reti car a situação. Algumas vezes, você foi
“a vítima”, e você tem que superar isso, perdoar, esquecer e parar de se sentir
uma vítima.
É claro que há milhares de terapeutas e terapias por aí que podem ajudar
você nesse processo também, caso você sinta que são coisas demais para você
sozinho. Recomendo que você abandone qualquer preconceito em relação a
buscar pela ajuda de pro ssionais da esfera de saúde mental. Assim como você
não se constrange ao buscar por um médico quando você tem dor no joelho,
você não deve pensar duas vezes antes de buscar aconselhamento pro ssional
para ter uma saúde emocional melhor. Não existe absolutamente vergonha
alguma em buscar por auxílio pro ssional.
É engraçado como essas emoções trabalham como armadilhas ocultas. Em
geral, tudo o que você precisa para se proteger contra elas é descobri-las.
Apenas jorre a luz de sua consciência sobre elas. Apenas aceite que estão ali e
jogue fora. Estar ciente delas é, com frequência, tudo do que se precisa. Por
fazer isso, a emoção perde o poder de afetar você em segredo, em seu
inconsciente. Algumas vezes, ela ainda pode afetar você por algum tempo, mas,
uma vez que você está ciente de seu peso, você pode compensá-lo
conscientemente. Portanto, não tenha medo da sua sombra. Vá fundo, seja
corajoso e leve o lixo para fora.
Basicamente, o segredo é sempre reconhecer a emoção e deixá-la ir. Você
não deve nem ignorá-la nem enterrá-la, tampouco se identi car com ela ou se
apegar a ela. A vida é um uxo constante. As coisas vão e vêm. Se você
consegue lidar com suas emoções dessa maneira, você permanecerá
emocionalmente saudável.
Neurociência 101
Recomendo que, sempre que você sinta uma resposta siológica a emoções,
você rapidamente re ita sobre a situação. Basicamente, se você não está em
uma situação de luta ou fuga, ou está apenas se divertindo em alguma atividade
empolgante, você não quer que seu coração dispare, que haja uma descarga de
adrenalina, etc. Lidar com um cliente difícil ou colega problemático no
trabalho? De nitivamente não é a hora de perder o controle do seu córtex e se
preparar para uma luta ou uma fuga. Exasperar-se com um comportamento
ruim do seu lho? De nitivamente, não é a hora de se preparar para uma
batalha. Aguardando pelo resultado de uma prova ou a resposta de um cliente?
De nitivamente, há não nenhuma utilidade em subir a pressão sanguínea.
Você tem problemas com irritabilidade? Alguma vez perdeu o controle da
razão, fez algo sob in uência da raiva e, depois, se arrependeu? Sua amídala
assumiu o controle do seu córtex. É por isso que você não consegue acreditar
que fez algo tão estúpido. Na verdade, você não estava mais no controle.
Isso não signi ca, entretanto, que você não é responsável ou que você não
pode fazer algo em relação a isso.
O que você pode fazer é desarmar a bomba chamada amídala antes que ela
exploda. Conforme pratica a constante observação de seu estado mental, esteja
ciente dos sinais que indicam que sua amídala assumirá o controle. Tão logo
você experimente batimentos cardíacos acelerados e um aumento da pressão
sanguínea, tome medidas imediatas para dominar sua amídala.
Como você acalma uma amídala em completa atuação? A neurociência
demonstra que duas coisas são muito efetivas: respiração regular e lenta, e
relaxamento muscular.
Recomendo que você simplesmente faça uma pausa, pare de discutir, pare
de se preocupar, ou até mesmo saia da sala onde o problema está acontecendo.
E respire. Respire profunda e lentamente. Relaxe seus músculos, se solte. Deixe
seu corpo acalmar-se, deixe sua amídala saber que você não está enfrentando
um leão, senão que você está simplesmente lidando com assuntos de família ou
trabalho. Tire sua amídala da equação. E, graças à neuroplasticidade, você tem,
sim, o poder de refazer a ação do seu cérebro, ajustar a resposta de sua
amídala.
Esta informação pode ser incrivelmente poderosa. Basicamente, você pode e
deve estar em completo controle de suas faculdades, com batimentos cardíacos,
respiração e pressão sanguínea em cadência equilibrada em todos os momentos
fora da situação muito rara de perigo físico real. Se você está em uma situação
sem risco físico verdadeiro, você tem que respirar e relaxar seus músculos para
desativar conscientemente seu cérebro animal. Essa será a chave para superar
muitos momentos de ira, medo, preocupação e ansiedade, que podem ser
estados mentais muito desprazerosos e perturbadores.
Gratidão
Psicológica:
1. Níveis superiores de emoções positivas
2. Mais alerta, vivaz e desperto
3. Mais alegria e prazer
4. Mais otimismo e felicidade
Social:
1. Mais solícito, generoso e compassivo
2. Mais perdoador
3. Mais extrovertido
4. Sente menos solidão e isolamento
Mapa Mental
Seja Filosó co
Metafísica é uma palavra so sticada para descrever coisas que não são físicas.
Na prática, todos dão grande valor a coisas não físicas, isto é, coisas metafísicas,
como amor, justiça, liberdade e igualdade. Liberdade não é algo físico. Você
não consegue ver a liberdade através de um microscópio ou pesá-la. Contudo,
para a maioria das pessoas, é algo tão real quanto árvores e rios. É praticamente
inconcebível imaginar a vida sem esses conceitos. Você talvez até tenha o
infortúnio de viver sem eles, mas, ainda assim, são reais. As pessoas, ao longo
da história, foram à guerra, dispostas a morrer e sacri car tudo que tinham por
coisas não físicas, como os mencionados amor, justiça e assim por diante.
É, portanto, completamente ingênuo esperar que seja possível entender a
vida dependendo apenas de evidências empíricas. Metafísica é algo necessário.
É preciso explorar explicações da vida que incluam fatos que não podem ser
provados empiricamente, que não podem ser submetidos a estudos
laboratoriais ou testes clínicos.
Necessitamos de uma loso a de vida que incorpore nossa experiência
humana completa, começando pela experiência do eu consciente. Semelhante
sistema de conhecimento tem que satisfazer a razão, ter compatibilidade com a
experiência da vida e ser consistente internamente.
Descobri que a combinação da ciência moderna com a ciência espiritual da
tradição ancestral do yoga resulta em uma explicação da vida completa,
inteiramente racional e internamente coerente. A ciência moderna não possui
as ferramentas para estudar e investigar a alma e Deus, karma e reencarnação,
etc., mas a tradição do yoga possui. A tradição do yoga não traz informações
detalhadas sobre a natureza física, mas a ciência moderna, sim. Os dois são
perfeitamente compatíveis. E os dois são necessários para realmente
conhecermos a experiência da vida como a conhecemos. A física e a metafísica
destinam-se a andar lado a lado.
Jnana-yoga
A Fonte
A fonte dos fatos metafísicos citados nesta seção são os Vedas. Os Vedas são
um grande corpo de textos sagrados, abarcando tópicos tão diversos quanto
saúde, música, gramática e espiritualidade. Yoga é a ciência espiritual dos Vedas,
ou, em outras palavras, a parte dos Vedas dedicada a se obter a autorrealização.
Entre os textos védicos famosos sobre espiritualidade, estão a Bhagavad-gita, o
Vedanta-sutra e o Yogasutra. Há também uma categoria de textos chamada
Puranas, as Histórias, onde encontramos um tesouro de informações acerca da
alma, de Deus, como viver bem a vida e como diferentes sábios atingiram a
iluminação. O mais famoso e importante desses Puranas é o Srimad-
Bhagavatam. Outra classe importante de texto são as Upanishads, que também
contêm ensinamentos espirituais. Na parte “Cultivando Conhecimento
Transcendental” do Método 3T, encontrada no m deste livro, você encontrará
uma lista detalhada de leituras para que você tenha acesso direto a esses textos
sagrados, que são muito fascinantes e importantes.
A Alma: Atma
Porque você é uma alma divina dentro de um corpo material, você pode
escolher que tipo de experiência terá: divina ou material. A natureza da matéria
é ser entorpecida. A matéria não vive. Quanto mais você se identi ca com seu
corpo material, mais material será sua experiência, em consequência do que
mais você experimentará torpor e falta de alegria. Quanto mais você valorize
seu eu transcendental, mais a vida se torna divina, mesmo enquanto você está
dentro de um corpo material. Outra maneira de dizer o mesmo: quanto mais
você viva como uma alma, e não um corpo, mais você experimentará a
transcendência. Viver como uma alma signi ca colocar em prática o que está
sendo apresentado neste livro: viver o aqui e o agora, estando completamente
ciente de sua consciência, focando em estar “com vida”, vivenciando sua
verdadeira natureza e essência, e em agir e experimentar a vida, em oposição a
se perder em lamentação ou em ansiedade por alguma con guração alternativa
de coisas externas. Usando a linguagem do Caminho 3T: mudar seu paradigma
da fantasia para a realidade.
O Corpo Sutil
A Lei do Karma
Deus
7. Muito pouco se fala sobre Deus. E quando algo é dito, é vago, como
“Deus é amor” ou “Deus é luz”.
8. Se diz muito pouco ou nada sobre o estado nal de existência a ser
alcançado, a meta nal em si, e frequentemente não se fala nada sobre
a morada de Deus.
O Avatara
Existem dois tipos de avataras: avataras almas e avataras Deus. Em
sânscrito, ava signi ca “baixo”, e tara, “atravessar”. Avatara, portanto, é a
pessoa que atravessou para baixo, isto é, que desceu da morada transcendental
com destino ao mundo material. Os avataras que são almas mostram o
caminho para a iluminação, com ensinamentos adequados às pessoas que
vieram ajudar. Um avatara que é Deus não apenas ensina o caminho da
perfeição espiritual, mas também Se apresenta completamente às almas do
mundo material. É assim que as almas no mundo material podem ter
conhecimento especí co de diferentes formas bhagavan de Deus.
Avataras almas são almas perfeitas, almas do reino transcendental que
aceitaram a missão de vir ao mundo material com algum propósito divino.
Tecnicamente, chama-se shakti-avesha avataras. Shakti signi ca “poder”, e
avesha signi ca “parte”. Isso indica que vêm com uma porção do poder de
Deus para cumprirem sua missão. Dois dos exemplos mais famosos desse tipo
de avatara na cultura ocidental são Jesus e Buddha. Quando um avatara alma
vem, ele tem que aceitar um corpo material, pois, sem isso, uma alma não
consegue ter nenhuma interação com alguém ou algo no mundo material. Em
geral, avataras almas vêm sozinhos, mas, por arranjo divino, obtêm a ajuda de
almas avançadas já presentes. Avataras almas não apresentam conhecimentos
novos acerca de Deus. Em vez disso, enfatizam ou ajustam saberes espirituais
ou religiosos já existentes.
Jesus, por exemplo, foi reconhecido como um rabino, um instrutor judeu.
Seus ensinamentos não se afastam muito da tradição judia. Contudo, veio com
“o poder divino” de reacondicionar a mensagem do judaísmo e enfatizar certos
pontos-chaves para que bilhões de pessoas no futuro continuassem a se
iluminar e se inspirar.
Buddha, que veio há cerca de 2500 anos, certamente teve contato com a
tradição do yoga, que existia já há milhares de anos antes de sua vinda. Ele
enfatizou dharma, mindfulness e desapego, que são todos elementos da tradição
do yoga. Até hoje, em vários ramos do budismo, os praticantes são chamados
de yogis. Buddha não ensinou nada que já não estivesse presente na tradição do
yoga. Contudo, sua “porção de poder de Deus” lhe permitiu enfatizar alguns
ensinamentos especí cos e reapresentá-los de tal modo que se tornassem
extremamente efetivos e úteis à humanidade, gerando centenas de movimentos
espirituais distintos, inspirando hoje quase meio bilhão de pessoas a viverem
uma vida mais feliz, melhor e mais compassiva.
Os avataras que são Deus são o advento direto de uma forma bhagavan de
Deus no mundo material. A primeira grande diferença é que Deus jamais
aceita um corpo material. Isso acontece porque a energia material está
completamente sob o Seu controle. É a energia dEle. Ele não precisa de um
corpo material para manipular e navegar dentro do mundo material. Ele não
precisa de um corpo material para que outros O vejam, O toquem, O ouçam,
etc. Pela simples vontade de Deus, tudo isso pode ser feito. Outra grande
diferença é que Deus vem com um séquito de avataras almas, e até mesmo com
outros avataras Deus. Algumas formas bhagavan de Deus atuam juntas, em
virtude do que vêm juntas ao mundo material. Por m, um avatara Deus vem
por razões espetaculares e faz coisas espetaculares enquanto aqui. Não há nada
de discreto em um avatara Deus. Um avatara alma pode vir e ir embora e
somente um grupo de pessoas reconhecê-lo a princípio, algumas vezes levando
séculos para a importância desse avatara se tornar amplamente reconhecida.
Esse não é o caso de um avatara Deus. Os avataras Deus Se fazem ver e
estabelecem abertamente Seu poder divino, atuando de maneiras sobre-
humanas ao longo de Sua “vinda” ao mundo material.
Por virem pessoalmente e permitirem serem vistos, preserva-se um registro
detalhado dessas diferentes formas bhagavan de Deus. Especi camente,
descrições de Seus corpos, Seus ensinamentos, como interagem com outros e a
natureza de Suas moradas são todas registradas. É algo exclusivo dessa mais
antiga tradição teísta ter registros de Deus vindo diretamente em pessoa, sendo
visto, interagindo com Seus devotos, passando anos visivelmente presente e
ativo e ensinando pessoalmente sobre Si e sobre o caminho espiritual.
Krishna
O mais recente advento de Deus em que Ele Se mostra explicitamente
como Deus a todos foi como Krishna. Descrições astronômicas em torno de
Suas atividades indicam Seu nascimento como tendo acontecido em 3156 a.C.,
bem mais de cinco mil anos atrás. Para ajudar você a se situar historicamente,
isso aconteceu séculos antes da primeira pirâmide ser construída no Egito. O
advento de Krishna se torna ainda mais especial pelo fato de que a tradição
informa que Krishna é a forma bhagavan mais elevada e completa de Deus. Seu
advento teve todos os elementos de um avatara Deus de uma maneira
espetacular.
A razão para o Seu advento e Seus ensinamentos são belissimamente
apresentados no primeiro livro que recomendo para leitura depois deste, na
lista de leituras do Método 3T, Guia Completo da Bhagavad-gita com Tradução
Literal, escrito por H.D. Goswami, o já mencionado mestre espiritual norte-
americano com discípulos por todo o mundo, incluindo a minha pessoa, e que
tem um título de doutor por Harvard em Sânscrito e Estudos Indianos.
Os ensinamentos centrais de Krishna estão contidos nessa famosa
Bhagavad-gita, o livro mais importante de yoga. Por causa da in uência do
hatha-yoga, a forma popular de yoga com ênfase em posturas físicas, é comum a
alegação de que Shiva é o instrutor original do yoga. Não obstante, na
Bhagavad-gita, que antecede a prática de hatha-yoga em milhares de anos,
Krishna diz que Ele vem para ensinar o yoga porque o conhecimento do yoga se
perdera. Uma vez que ninguém na tradição do yoga negará a autoridade da
Bhagavad-gita, é evidente que Krishna é o pai do yoga e que é somente por
causa de Krishna que todos nós conhecemos o yoga hoje. Na Bhagavad-gita,
Krishna também é tratado como “o mestre de todos os mestres do yoga”.
Nessa obra, Krishna ensina o caminho completo do yoga, com a meta nal
de alcançá-lO, em completa consciência dEle, ou, em outras palavras, atingir “a
consciência de Krishna”. Entre os ensinamentos mais importantes da
Bhagavad-gita, estão a natureza da alma, como agir sem acumular mais karma
(karma-yoga), o poder de cultivar conhecimento transcendental (jnana-yoga), a
supremacia da devoção (bhakti-yoga), as qualidades da natureza material
(gunas) e como melhor viver para maximizar sua força espiritual e bem-estar, e
a natureza de Deus. Na descrição de Deus que consta na Bhagavad-gita, há o
conceito fundamental de que tanto a energia material quanto a energia
espiritual são dEle – em outras palavras, a natureza material também é divina –
e que tudo que você experimenta é uma dessas energias ou a combinação de
ambas.
Outro ponto fascinante é que Deus é o tempo, o que poderia explicar por
que o tema do tempo e sua irreversibilidade continuamente escapam da
compreensão dos físicos.
Krishna veio com um grande séquito, incluindo muitas outras formas
bhagavan de Deus, sendo a mais importante o aspecto feminino mais elevado
de Deus, de nome Radha. Incluso no Seu séquito estava um avatara
escritor/biógrafo, Vyasadeva, encarregado de preservar todos os ensinamentos e
eventos mais importantes na vida de Krishna para a posteridade.
Krishna esteve presente na Terra por 125 anos. Sua vida frequentemente se
divide em duas partes: Sua infância em Vrindavana, uma maravilhosa vila de
pastoreio de vacas cercada de belos rios, orestas e colinas, que durou 11 anos e
meio, e o restante de Sua vida fora de Vrindavana; primeiro em Mathura, por
10 anos e meio, e, em seguida, em Dvaraka, pelo restante de Seu tempo na
Terra. Até hoje, esses três lugares são importantes centros de peregrinação,
sendo Vrindavana o mais importante para os devotos de Radha e Krishna.
Ele chega em uma forma de quatro braços formal, completamente vestida e
adornada de joias, mas, em seguida, assume o corpo de um bebê recém-nascido
para atuar Sua vida entre humanos. Desse momento em diante, Ele atua o
desenvolvimento de um humano, logo obtendo a forma de alguém no m da
adolescência e, então, preservando essa aparência juvenil, sem nenhum sinal de
envelhecimento, até Sua partida com a idade de 125 anos. Visto que Deus é a
fonte de tudo, Ele possui todas as qualidades em um nível in nito, sendo essa a
razão para Deus ser in nitamente atrativo. “Krishna”, em sânscrito, pode ser
traduzido como “atraindo pela bem-aventurança” ou “todo-atrativo”. Sempre se
faz menção especial à beleza inimaginável do avatara Deus, e, no caso de
Krishna, isso certamente é mais enfatizado do que em qualquer outro avatara.
Ele possui uma cor negra azulada, cachos de cabelos escuros e um corpo bem
construído. Vale lembrar que estamos nos referindo a um corpo puramente
transcendental, e não feito de energia material, e esse ponto é repetidamente
enfatizado, tanto na Bhagavad-gita quanto em outros textos sagrados
importantes.
É uma característica dos avataras que vêm em uma forma similar à humana
atuarem como um humano até certa extensão. Há um elemento de
dramatização nessas vindas, um elemento de exercer um papel. Há
de nitivamente um elemento de teatro no sentido de um roteiro divino para
suscitar o máximo de emoção possível e tornar a passagem do avatara um
acontecimento extraordinariamente memorável. Obviamente, isso funcionou,
pois aqui estamos nós falando sobre isso quase 5200 anos depois.
Desde os primeiros instantes, Krishna demonstrou esses dois papéis de ser o
Senhor supremo e todo-poderoso e, ao mesmo tempo, atuar como um ser
humano. Isso se deu pela realização de uma série de feitos impossíveis inclusive
quando ainda fazia o papel de um bebê ou de uma criancinha. Essas atividades
até mesmo recebem um termo sânscrito especial: lila. Comum entre esses feitos
impressionantes foram Suas empolgantes batalhas até a morte com inimigos
não-terrestres e extremamente poderosos enviados para matá-lO, batalhas essas
ocorridas ao longo de Seus anos em Vrindavana. Outro feito muito famoso foi
ter erguido uma montanha inteira com o dedo mínimo de Sua mão esquerda
quando tinha apenas sete anos, o que fez de modo a defender todos em
Vrindavana da fúria de Indra (o equivalente a Zeus ou or na cultura védica),
que se rebelou contra Krishna em um momento de desorientação da sua parte.
Esses atos estabeleceram Seus poderes divinos e heroicos, mas o verdadeiro
foco da tradição é Sua doçura in nita. Os habitantes de Vrindavana, já sendo
almas puras que nasceram ali para estar com Ele, demonstraram in nito amor
por Ele e desfrutavam de trocas amorosas com Ele ao longo de todo o decorrer
É
do dia. É a combinação que mencionei anteriormente de corações amorosos e
puros voltando-se para um Deus in nitamente amável. Doçura, fascínio,
humor, beleza... tudo isso e mais Krishna demonstrou em grau in nito.
Embora essa seja a natureza de Deus, é mais especi camente de Krishna em
Vrindavana: uma doçura e intimidade sem limites com as almas puras que
negligenciaram o fato de que Ele é Deus e, em vez disso, simplesmente O
amaram por Suas qualidades in nitas, por Sua natureza in nitamente atrativa.
Krishna gostava de tocar auta. Uma vez que Deus é a fonte de todo talento
musical, Seu autear encantava todos os residentes de Vrindavana. Ele também
gostava de usar trajes de seda amarela, uma pena de pavão sobre a cabeça e uma
guirlanda feita de ores silvestres. Essas relações íntimas de amor
transcendental em Vrindavana são o maior foco dos devotos na tradição de
Krishna, tecnicamente chamada de bhakti-yoga, e é um elemento destacado na
história cultural da Índia até a atualidade. A mais famosa dessas expressões de
amor, repetidamente retratada em artes plásticas, literatura, peças teatrais, etc.,
é Sua dança romântica sob a Lua cheia com as vaqueirinhas donzelas de
Vrindavana, conhecida como rasa-lila, ou a lila da dança circular.
“Eu somente acreditaria em um Deus que sabe dançar” é um dizer famoso
de Nietzsche. O grande lósofo entendeu certo. Quão desapontador seria caso
Deus Se revelasse alguém menos interessante do que alguns milhares de meros
seres humanos na Terra? Um Deus que não dança, não toca instrumentos, não
brinca e que não tem interesse em romance? Incrivelmente, essa antiga tradição
– reitero, a única que alega ter um conhecimento detalhado de Deus –
apresenta um Deus amável, inteligente, amigo, bonito e encantador, e que
dança, cuida dos animais, ama os rios, as orestas e as montanhas, e toca auta.
Fora de Vrindavana, Krishna assume o papel de um guerreiro principesco e
teve de combater uma hoste de seres malignos que vieram à Terra. Quando
fora de combate, Ele exerce o papel de um príncipe, desfrutando da vida
palaciana e, em Dvaraka, o papel de esposo e pai com muitas esposas e muitos
lhos. Nessa cultura, era aceitável ter muitas esposas (e até mesmo muitos
maridos). Para cada esposa, Krishna criou uma expansão de Si. Cada uma delas
tinha seu próprio palácio luxuoso também. Durante Sua vida adulta, Suas
qualidades opulentas, reais e heroicas são enfatizadas, e isso permeia a
disposição de Seus relacionamentos amorosos. A maioria das pessoas se atrai
por esse tipo de opulência e poder em Deus – a grande maioria, na verdade –, e
Krishna agrada essas pessoas também demonstrando esse aspecto de Sua
personalidade.
Quando terminada Sua estadia, Ele literalmente voou embora, de volta para
Sua morada transcendental, além do Universo.
Uma descrição detalhada da vida de Krishna, preenchendo centenas de
páginas, encontra-se em um texto antigo de absoluta importância, o Bhagavata
Purana, também conhecido como Srimad-Bhagavatam. Se você praticar o
Método 3T, que se encontra no m deste livro, você verá que a história de
Krishna e o Srimad-Bhagavatam constam na lista de recomendações de leitura.
A Morada de Deus
Em alguns casos, o propósito secundário do advento de um avatara Deus é
nos dar uma melhor compreensão de Suas moradas. Gosto de brincar que isso
funciona como o anúncio de um destino turístico. Você vê como os lugares são
bonitos, como as pessoas lá são atrativas, o quanto estão se divertindo e isso faz
com que você queira ir para lá.
Você deve manter seu foco no aqui e agora, na experiência de sua conexão
divina enquanto cumpre seu dharma. Ao mesmo tempo, você deve estar ciente
da realidade no sentido último e para onde você pode ir. Você deve conhecer
suas opções.
As descrições da morada de Deus têm esse propósito. Elas lhe dão um
melhor entendimento de Deus e de como a vida poderia ser. As atividades de
Krishna, realizadas há mais de 5000 anos, podem ajudar você em relação a isso,
como fazem outras descrições da morada de Deus encontradas em outros
textos sagrados da tradição de bhakti.
Goloka Vrindavana, que eu gosto de chamar de “o jardim secreto de Deus”,
é a morada de Deus mais elevada e mais raramente acessível. Krishna recriou
muitos aspectos de Goloka Vrindavana quando veio à Terra para nos dar uma
imagem dessa região transcendente mais especial. Imagine uma região da mais
deslumbrante beleza natural, com pastos de gramas bonitas como esmeraldas,
rios de água cristalina, orestas, lagos, colinas e montanhas, todos
completamente imaculados. Nos montes e colinas, há cachoeiras formosas e
É
cavernas encantadoras. É dito que as árvores são árvores que realizam todos os
desejos. Flores de todos os tipos abundam ali. Pássaros, veados, macacos e
abelhões estão por todo lugar.
Nesse cenário idílico, a vila de Vrindavana possui uma cultura pastoril
simples e intimista, focada nas vacas e na produção de manteiga, iogurte,
queijo e ghi. Os veganos, porém, não precisam se perturbar com essa descrição;
não se trata de exploração às vacas. Mesmo hoje, a cultura indiana promove o
conceito de “vaca sagrada”. Em Goloka Vrindavana, os touros e as vacas são o
foco do amor da comunidade, tratados como membros da família. As vacas e
os bezerros cam juntos. Os touros puxam carroças e participam do trabalho
agrícola, e também recebem grande respeito. As vacas são levadas diariamente
para o pasto pelos adultos, e os bezerros, pelas crianças.
As mulheres jovens se extasiam e desmaiam diante da visão de Krishna,
enquanto as mulheres mais velhas O amam como uma mãe ama seu lho. Os
garotos amam Krishna como o melhor amigo, alguns O veem como um irmão
mais velho; outros, como um colega; outros ainda, como um irmão mais novo
a ser cuidado.
A morada de Deus tem a característica especial de que nada é matéria
inerte. Isso é um pouco difícil de ser concebido, mas levemos em conta que a
matéria é algo exclusivo do mundo material. Lá, tudo é feito de brahman,
transcendência consciente. Assim, tudo é consciente. Não apenas consciente,
mas perfeitamente consciente: transcendentalmente perfeito e completamente
esclarecido. Por exemplo, em Goloka Vrindavana, a natureza de seu amor pode
diferir, mas todos, sejam pedras, grama, vaca, pássaro ou habitantes parecidos
com humanos, amam Krishna por completo e, consequentemente, amam
todos os demais habitantes também. Pedras derretem de êxtase ao ouvirem a
auta de Krishna tocar, pássaros e veados se deleitam e participam das
atividades diárias de todos, e até mesmo os rios e lagos se aprazem ao
proporcionarem brincadeiras aquáticas e alívio do calor para os outros
habitantes.
Ainda mais difícil de conceber, porém essencial para o entendimento, é que
a morada de Deus é livre dos efeitos do tempo. O tempo no reino
transcendental está a serviço das expressões de amor. Ele apenas cria a sensação
apropriada de mudança para aprimorar os sentimentos amorosos. Contudo, o
tempo não marcha destruindo e envelhecendo tudo e todos implacavelmente
como faz aqui no mundo material. O tempo não provoca deterioração nem
torna os eventos tediosos. No reino transcendental, tudo e todos são
eternamente novos, tudo parece novo e empolgante. Todos os dias, você tem o
melhor dia de sua vida, o dia mais empolgante, o mais romântico, o mais
divertido e simplesmente o melhor momento que você já teve. Todos vivem em
perfeita harmonia, sendo exatamente quem gostariam de ser, e se relacionam
especialmente com Krishna, embora também com todos em geral, com amor
puro e irrestrito.
Vaikuntha, que signi ca literalmente “sem ansiedade”, é o termo geral
utilizado para o restante do reino transcendental. Não um lugar, mas inúmeros
lugares, cada um com suas próprias características para atender precisamente os
sentimentos e as inclinações dos devotos, com uma forma bhagavan de Deus
em particular, a forma pela qual o devoto se atraia mais. Em Vaikuntha, o
humor é mais formal. Há mais opulência e reverências em relação a Deus, sem
a intimidade de Goloka Vrindavana. Vaikuntha parece se aproximar mais do
conceito de Paraíso das tradições abraâmicas. Deus como o Senhor todo-
poderoso, amado por Seus devotos. Opulência palaciana abunda. Joias, seda,
ornamentos de ouro estão por toda parte. A contraparte feminina de Deus em
Vaikuntha é Lakshmi, a Deusa da Fortuna. Todos são extraordinariamente
belos ali. É dito que, em Vaikuntha, os habitantes se transportam em veículos
voadores, cantando as glórias de Deus e se deleitando com Sua presença. Tais
são as descrições das moradas de Deus na literatura sagrada de bhakti.
O Nome de Deus
Percebo frequentemente a falsa noção de que as religiões são todas
diferentes, de que fazem declarações muitíssimo diferentes. Alguns ateístas
utilizam isso como parte de sua motivação para rejeitar todos os caminhos
espirituais. A maioria das religiões do mundo, entretanto, são notavelmente
similares. E um ponto em particular é idêntico em todas as grandes religiões
teístas: a importância dada ao nome de Deus, também chamado simplesmente
de “santo nome”.
No Velho Testamento, na tradição judaica, temos como um dos maiores
eventos a construção do Templo de Salomão. No santuário interno do templo,
havia o santo nome. Era um templo para o santo nome. Como uma
curiosidade à parte, é interessante saber que esse templo foi o primeiro templo
de Deus fora do sudoeste da Ásia.
Então, Jesus vem muitos séculos mais tarde. Seu Sermão do Monte é
considerado uma das passagens mais importantes do Novo Testamento. Ali, ele
ensina uma única oração, o famoso “Pai Nosso”. Ao começo, se diz: “Pai nosso
que estais no céu, santi cado seja o vosso nome”, na versão de Mateus, e
apenas “Pai, santi cado seja o Vosso nome”, na versão de Lucas.
Na tradição islâmica, imagens de Deus, e até mesmo de Maomé, são
estritamente proibidas. Dentro das mesquitas, portanto, um dos principais
aspectos decorativos são os santos nomes de Deus, Alá, em gra as muito
artísticas.
Na tradição do yoga, isso não é diferente. Com efeito, se algo tem grande
ênfase na tradição é a importância do santo nome. Essa é a base da tradição dos
mantras, um aspecto essencial da espiritualidade do yoga. Mantra é uma
combinação sagrada de santos nomes, palavras ou sílabas destinadas a elevar e
dirigir a mente de quem quer que o entoe ou cante. Se você já começou a
praticar o Método 3T apresentado ao m deste livro, você sabe que uma das
práticas centrais é a meditação mântrica, chamada de japa em sânscrito, que é
o processo de focar a mente através do canto de um mantra.
Os nomes de Deus são tão poderosos quanto o próprio Deus. O conceito
básico é que não há diferença entre Deus e Seu santo nome. O nome de Deus
tem o poder de remover sua identi cação equivocada com a matéria e
reconectá-lo a Deus, tal como se estivesse na presença pessoal dEle. Assim, pelo
canto do nome de Deus, você entra em direta comunhão com Deus na
proporção em que seu cantar seja puro e focado. Essa maneira tão simples de
entrar em contato com Deus traz grandes bênçãos e auspiciosidade para sua
vida.
Bhakti - Devoção
O foco nal do yoga é amor a Deus. O amor é a expressão mais elevada e
pura da pessoa individual eterna, a alma. E amar a Deus é a perfeição da
habilidade de amar. Yoga signi ca “conexão”, e nada cria uma conexão mais
forte do que o amor. Conectar-se com Deus em amor se chama bhakti-yoga, ou
apenas bhakti. Não é de se espantar que Krishna diga na Bhagavad-gita que, de
todos os tipos de yogis, aquele que se conecta com Ele em bhakti é o mais
elevado de todos. Capítulo após capítulo, Krishna enfatiza que bhakti é o
ingrediente essencial e último para a perfeição, sem o que não é possível ter
sucesso completo em yoga. O sábio Patanjali também escreve no Yoga-sutra que
“a perfeição da perfeição do yoga” é atingida mediante “isvara pranidhana”, que
signi ca dedicar-se a Deus.
Algo curioso quanto à devoção é que não é apenas o objetivo nal, mas
também a chave para o sucesso em yoga. É uma chave para o sucesso porque,
como diz o ditado, o amor tudo supera. Com devoção, você se sentirá
inspirado a ir adiante em seu autoaperfeiçoamento e autorrealização. Com
devoção, você experimentará cada vez mais bem-aventurança no aqui e agora e
exercitará mais facilmente seu dharma, sabendo que isso é seu meio para
expressar seu amor em ação e serviço. Com devoção, você terá mais coragem
para enfrentar seus demônios internos, encontrará a força extra necessária para
superar os grandes desa os da vida e se tornará mais sábio. E, por mais
estranho que possa parecer, é com devoção que você pode se tornar mais
devotado.
Outros aspectos da prática de yoga têm um escopo limitado de utilidade.
Por exemplo, é preciso um pouco de tempo e energia para você entender seu
dharma e viver em conformidade com ele. Contudo, uma vez que você o tenha
conhecido, isso é tudo. Você não pode continuar se tornando cada vez mais
dhármico para sempre. Depois de algum tempo, você consegue chegar a um
padrão muito respeitável de conduta dhármica. O mesmo se aplica à paz
interior. Isso leva tempo, bastante tempo em muitos casos, mas, uma vez que
você tenha conseguido dominar sua saúde emocional e se livrar do efeito de
traumas passados sobre seu bem-estar atual, não se trata mais de algo que exija
sua atenção ou um impedimento para uma vida melhor. E mesmo jnana possui
suas limitações. Há muito a aprender, muita sabedoria para obter, mas, com o
tempo, você conhecerá o bastante para entender a vida, fazer as escolhas certas,
estabelecer apropriadamente suas prioridades e agir com inteligência. Então,
você basicamente já sabe o bastante. Com bhakti, porém, é diferente. A
devoção não tem barreiras. Você pode amar mais e mais e mais, e para sempre.
A devoção acontece enquanto você está aqui no mundo material, mas, então,
continua lindamente até mesmo quando você alcança o reino transcendental.
Não há m ou limite para sua atuação. É uma fonte de bem-aventurança
in ndável e crescente.
Proteção Divina
Amar É Servir
É
bom salário e prestígio social. É isso, então? Também não. Você queria isso
para poder ter acesso à meta quatro: casar-se e manter uma família. E depois?
Casar-se e ter lhos é o propósito último de sua vida? Isso não funcionará
também. Você tem que ter uma vida além do seu casamento, e seus lhos
crescerão. Depois, o que virá? Meta cinco: aposentar-se? Você pegou a ideia.
Essas metas não são propósitos. Elas não de nem sua essência ou o signi cado
da sua vida.
Um propósito será algo especí co da sua vocação, a primeira categoria de
dharma, como mencionado anteriormente. Digamos que sua vocação seja de
professor. Seu propósito na vida, então, pode ser algo como: “Transformar o
mundo ensinando crianças a descobrirem sua essência e praticarem a
compaixão”. Se você se atrai por política e direitos humanos, pode ser algo
nesta linha: “Dar voz aos oprimidos, lutar por igualdade e colocar m ao
sofrimento causado por governos ruins”. Um empresário pode ter isto como
propósito: “Criar algo que melhorará a vida dos meus clientes”. Tudo isso são
propósitos que duram por toda a vida. Um propósito que seja harmônico com
sua essência tirará você da cama pela manhã e o encherá de entusiasmo, dia
após dia, ano após ano, pelo resto de sua vida. Não existe aposentadoria
quando você encontrou seu propósito. É uma tarefa prazerosa, o maior
exemplo de amor, mesmo com todos os problemas, contratempos e dúvidas
que você experimentará ao longo do caminho.
Embora seja realmente incrível encontrar seu propósito na vida, você, como
yogi, pode se perguntar qual é o propósito último na vida. A nal, sua vocação é
apenas parte do seu karma atual. É parte do que você é nesta vida somente. E
uma vez que você vai morrer, qualquer meta que você tenha para esta vida
estará acabada. Como yogi, você pode adicionar um propósito derradeiro para
sua vida, algo como: “Tornar-me completamente iluminado, obter bem-
aventurança sem m e me encontrar com Deus face a face”. Agora sim temos
um propósito realmente espiritual e eterno para a alma.
A nal, se você vai morrer e tudo será destruído no devido tempo, qual é o
verdadeiro benefício de um objetivo material? Se você não for capaz de
encontrar um propósito que transcenda não apenas a sua morte, mas a morte
inevitável de todos, e até mesmo o m do Universo, então, em um sentido
nal, você não atingiu seu potencial completo. Portanto, é essencial ir ainda
mais a fundo e abraçar a meta última da vida: a autorrealização, completa
consciência da realidade e do amor puro.
Ter um propósito último e transcendental para sua vida fará você ir adiante,
dará signi cado à sua vida, conferirá foco à sua determinação, ajudará você nos
momentos de trevas e deixará tudo em sua vida muito claro. Você saberá
estabelecer suas prioridades, o que é útil e o que não é, e o que realmente é
sucesso.
No caso de estar se perguntando, meu propósito na vida é: “Aprimorar a
vida do máximo de pessoas possível transmitindo os ensinamentos do
Caminho 3T e viver em completa comunhão com Krishna em serviço amoroso
íntimo”. Esse é meu propósito há mais de vinte anos já. Posso lhe dizer que é
maravilhoso ter um propósito tão claro e transcendental na minha vida. Nem
mesmo um dia se passa sem eu estar ciente dessa meta, e quase todos os dias
essa é minha prioridade, o que me move e meu foco principal. Isso me dá
grande entusiasmo e me enche de alegria.
Karma-yoga é o yoga da ação. É a técnica ensinada por Krishna para viver uma
vida em que toda ação seja um trampolim para a iluminação. É essencial entender
isso bem, porque é como você pode viver em yoga. Karma-yoga tornará sua vida
realmente espiritual, em contraste com apenas ter um pouco de espiritualidade em
sua vida.
A aposta é de alto risco, pois ou sua ação gera mais karma, seja positivo, seja
negativo, atando você por mais tempo no mundo material, ou sua ação é livre de
karma e levará você para mais perto de seu estado de espírito bem-aventurado, puro
e divino. O Yoga-sutra explica que não há meio termo. Sua ação ou lhe está
proporcionando iluminação ou mais enredamento. Karma é ação mundana.
Karma-yoga é ação espiritual. É simples assim.
Para uma ação ser quali cada como karma-yoga, há três exigências:
1) Mindfulness: você estar vivendo de acordo com o paradigma de realidade, e
não o paradigma da fantasia. Em outras palavras, você estar completamente
presente no momento, no que você está fazendo, sem desejar ou temer os resultados
futuros dessa ação. Sua mente está aqui e agora.
2) Dharma: sua ação ser el à sua natureza. Ser o melhor que você tem a dar.
Ser o que deve ser feito e você fazê-lo com tanto amor quanto possa reunir.
3) Yoga: você fazer isso como uma oferenda a Deus. Você estar ciente de Deus e
conectado com Ele enquanto em ação. Ser o seu serviço amoroso a Deus.
Os dois primeiros itens tornam sua ação materialmente perfeita. O terceiro a
torna transcendental. Dar o seu melhor e oferecer isso a Deus: essa é uma maneira
simples de entender a espiritualidade, e o segredo de uma vida magní ca.
Essa é a técnica para se parar de acumular karma. Você acumula karma
quando seus atos são motivados pelo resultado. Você está pedindo por um resultado,
então você o obtém. Infelizmente, vem com várias questões anexas. Você talvez
tenha decidido que pode satisfazer sua fome simplesmente por comer um
hambúrguer. Então, você comeu e matou sua fome, mas, com isso, vem toda sorte de
implicações cármicas. Por exemplo, o bife era de origem animal? Algum animal
morreu para satisfazer seu desejo? Grande dívida cármica. Qual foi o impacto
ambiental dessa refeição? Você comprou o hambúrguer, mas a quem tudo pertence
de fato? Se Deus existe, e, por de nição, tudo Lhe pertence, você acabou de roubar
ao comer algo sem reconhecer seu verdadeiro proprietário. Como o trigo do pão foi
produzido? Foram usados pesticidas? E quanto às condições dos trabalhadores
envolvidos em toda a cadeia de produção até esse hambúrguer chegar a você? E
assim por diante, em muitos e muitos detalhes! Muitíssimas implicações cármicas no
ato tão simples de comer. Pela prática de karma-yoga, porém, você opta por não
participar das reações cármicas. Primeiramente, porque você não deseja os
resultados futuros, senão que mantém sua mente no aqui e agora. Segundo, porque
você está agindo com compaixão e sabedoria, de acordo com o dharma, que já
inclui, entre outras coisas, não causar dor e sofrimento, como ao matar um animal
ou destratar uma pessoa. E, por m, porque você ofereceu o ato à fonte de tudo e de
todos. É assim que você pode “estar no mundo, sem ser do mundo”.
A Diferença entre
Conexão Espiritual Verdadeira e uma Vida Nobre
Existem muitas boas maneiras de tornar sua vida melhor agora por se tornar
mais sáttvico. Essas mudanças fazem você se sentir e agir melhor. Isso é tão forte
que noto que muitas pessoas confundem espiritualidade com simplesmente ter
uma vida nobre e sáttvica.
Ser um vizinho amigável, vegetariano, gentil com os mais velhos, ecológico,
compassivo e simplesmente, de modo geral, uma pessoa verdadeiramente boa
não signi ca que você é espiritual. Ainda assim, para ser realmente espiritual,
você tem que ser isso e muito mais. Espiritual signi ca ter uma conexão com a
transcendência; com Deus, mais especi camente. Lembre-se de que yoga
signi ca conexão – a conexão da alma com Deus ou, pelo menos, com Sua luz
brahman. Viver uma vida em sattva é o meio para maximizar seu potencial
espiritual, mas isso não é, por si só, espiritual. Uma vida nobre é necessária,
porém insu ciente, para ser um verdadeiro yogi.
No Caminho 3T, considere que jnana e bhakti, os dois últimos dos cinco
campos de perfeição, são os componentes realmente espirituais. Os três
primeiros campos de perfeição são elementos poderosos e necessários para
sermos capazes de vivenciar jnana e bhakti. E, nesta seção, há mais dicas
importantes para tornar você mais quali cado e apto a praticar os cinco
campos de perfeição em geral. O ponto mais relevante é que cada um destes
campos de perfeição e cada uma dessas dicas torna sua vida melhor e faz você
se sentir melhor. Há benefícios para cada passo que você dê, independente de
por qual deles você comece.
Drogas e Álcool
Vegetarianismo
Ética
O Meio-ambiente
Sua Saúde
Seu Corpo
Consciência
Karma
Veganismo
Consumo Cultural
Toda canção que você ouve, texto que você lê, imagem que você vê, lme
ou peça teatral que você assiste – o que eu chamo de “consumo cultural” –
afeta você, positiva ou negativamente. Você, de alguma forma, tem que
processar essa in uência. Ela pode afetar o seu comportamento. Por exemplo,
música heavy metal pode fazer com que você se sinta irritado ou sicamente
agitado. Músicas e lmes românticos podem fazer com que você sinta a
necessidade de encontrar um parceiro romântico idílico. Documentários
podem fazer com que você pense mais detidamente sobre um assunto. Se você
ouvir música barroca, poderá se sentir mais calmo. Caso ouça a entoação de
mantras, você talvez se sinta mais espiritualizado ou relaxado. E se você ouvir
músicas devocionais, é provável que se sinta em paz e se lembre de Deus. Tudo
isso afeta você e molda quem você é e como você pensa.
Sabendo disso, você deve ser cuidadoso em relação ao seu consumo cultural.
Isso deve ser um meio para tornar sua vida melhor, uma ferramenta para
lapidar uma versão melhor de si mesmo, e não uma âncora para a versão de si
mesmo que você está tentando transformar. Você tem que estar ciente de quais
aspectos de sua natureza seu consumo cultural está estimulando. Está
estimulando seu desejo pelo paradigma da fantasia, ou o está estimulando a ser
mais egoísta, violento ou ganancioso? Ou está ajudando você a se tornar uma
pessoa melhor?
Nos termos do yoga, qual é o guna predominante de sua dieta cultural?
Assim como um consumo cultural em sattva faz você se sentir melhor, mais
saudável, mais em paz e por inteiro capaz de crescer espiritualmente, um
consumo cultural em rajas, e especialmente em tamas, terá um impacto
negativo no seu bem-estar como um todo.
Certamente, temos que nos divertir; é parte do nosso dharma natural.
Contudo, o tipo de entretenimento que você escolhe terá um impacto sobre
você. É como comer. De vez em quando, você talvez queira comer algum tipo
de junk food. Contudo, seu corpo terá que processar isso por muito tempo
depois que a diversão acabe. O mesmo acontece com o que você consome com
seus olhos ou com seus ouvidos. Quanto mais sáttvico for seu consumo
cultural, melhor você será.
Limpeza e Ordem
Duas das maiores qualidades de sattva são limpeza e ordem. Tenho certeza
de que você já sentiu o impacto que limpeza e ordem têm sobre sua mente.
Quando você se banha após acordar ou ao chegar em casa depois do trabalho,
você se sente mais leve. Quando você limpa e organiza o local onde ca, você
se sente melhor. Quando você veste roupas limpas ou até mesmo quando
simplesmente troca sua roupa de cama, você consegue sentir um impacto
positivo. E o oposto também é verdade. Você talvez já tenha entrado em uma
casa particularmente suja e desorganizada e tenha sentido uma sensação
negativa e, de alguma forma, deprimente. Você talvez já tenha entrado em um
bar ou clube noturno em estado precário ou sujo e tenha experimentado um
ambiente pesado e sem vida.
Limpeza é algo frequentemente recomendado na literatura sagrada do yoga.
Menciona-se essa qualidade no Yoga-sutra como a primeira recomendação para
quem deseja avançar no yoga. Na Bhagavad-gita, Krishna enumera diversas
qualidades “divinas” necessárias para a elevação pessoal, entre as quais consta a
limpeza. Entre os cristãos, encontramos a famosa instrução: “A limpeza está
perto de Deus”.
Uma consequência relevante disso pode ser sentida na prática
absolutamente importante da meditação. Você meditará melhor com um corpo
limpo, em um ambiente limpo e com pouca informação visual (ou na
natureza), e usando roupas limpas.
Quando você dorme, você transpira e baba. A medicina indiana antiga, o
ayurveda, ensina que, durante o sono, seu corpo se livra de toxinas por meio da
pele. Assim, um banho diário pela manhã é fundamental para preservar a
limpeza em sua vida. Mais um banho após um longo dia fora de casa também é
de bom auxílio. Outro hábito importante é se descalçar antes de entrar em
casa. Dr. Charles Gerba, da Universidade do Arizona, identi cou 440 mil
germes perigosos em um calçado utilizado por apenas duas semanas. O chão de
um banheiro público tem quase 1 milhão de bactérias por centímetro
quadrado. Isso não é o tipo de coisa que você gostaria de levar para sua casa.
Tenha cuidado também ao compartilhar touchscreens, uma vez que abrigam
uma surpreendente quantidade de germes. A cozinha, em especial, deve ser um
lugar de limpeza estrita, apesar de se ter descoberto que é o lugar que tem mais
germes em toda a casa.
Em relação à ordem, pesquisadores do Instituto de Neurociência da
Universidade de Princeton demonstraram que desorganização reduz sua
capacidade de se focar e de processar informações – a capacidade de organizar
seus pensamentos. Um estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles
demonstrou que excesso de informação visual sobrecarrega seus sentidos e faz
com que você se sinta estressado. Desordem também pode estar presente em
nossa vida em formato digital – e-mails, mensagens e arquivos de computador
mal organizados podem afetar nossa consciência.
Simplicidade
Mens sana in corpore sano – um corpo saudável ajudará você a ter uma
mente saudável. O corpo é uma máquina complexa e precisa de manutenção
apropriada. Exercícios fazem você se sentir melhor. Você pode eliminar o tamas
(letargia, tédio, peso) enquanto transpira na academia, na quadra ou sobre o
tapete de yoga. Exercícios têm muitos benefícios:
• Ajudam no controle do peso
• Reduzem o risco de doenças cardíacas
• Podem baixar a pressão sanguínea
• Aprimoram seus níveis de colesterol
Se você se considera alguém com pouco tempo para esse dharma natural e
essencial, procure por “Treinamento de Alta Intensidade com Intervalos”. Algo
tão curto quanto dez minutos de exercício pode proporcionar benefícios
signi cativos. Também recomendo calistenia e treinamento suspenso, que
usam apenas movimentos, cordas, barras e o peso do próprio corpo. Esses
exercícios são mais naturais e proporcionam um trabalho corporal mais amplo
do que os exercícios que se valem de pesos e aparelhos.
Hatha-yoga ou qualquer yoga de asanas é um excelente exercício geral, mas
manterá você em forma somente caso você pratique uma ampla variedade de
asanas várias vezes por semana, de preferência todos os dias. De outro modo, é
melhor complementar sua prática com outras formas de exercício. Tai Chi é
uma bela forma de se exercitar que, fora da China, não tem a atração e a
atenção que merece.
E há também caminhadas. Fazer caminhadas é uma forma de exercício
subestimada, mas que tem benefícios enormes para a saúde e um risco muito
baixo de contusão. Tente fazer meditação mântrica (ensinada no m deste
livro, no Método 3T) enquanto caminha. É um exercício excelente para o
corpo e para o espírito.
Essas são apenas algumas sugestões. Há muitas opções de exercícios para se
manter em forma e saudável. Escolha o que funcione para você!
Dormir pode parecer um luxo ou, para alguns, uma perda de tempo.
Contudo, é essencial para o seu bem-estar. Como mencionado anteriormente,
dormir é parte de seu dharma natural. Krishna diz na Bhagavad-gita que um
yogi não deve dormir nem pouco demais nem mais do que o necessário. Nestes
dias, o perigo para a maioria das pessoas é dormir menos do que o su ciente.
Há simplesmente distrações demais, trabalho demais e agitação mental demais.
Mais de um terço dos brasileiros sofre de privação de sono. Aqui estão alguns
dos males causados por sono insu ciente:
1. Acidentes: Milhares de mortes ao ano acontecem em decorrência de
acidentes de trânsito. Outros tipos de acidentes também, incluindo o
acidente nuclear de 1979, no ree Mile Island, o grande
derramamento de petróleo de 1989 do navio Exxon Valdez, no
Alasca, e o acidente nuclear de Chernobil, em 1986, tiveram privação
de sono como um fator.
Recorrer a power-naps também pode ser bené co, especialmente se você não
consegue dormir o bastante à noite. Um cochilo de dez a vinte minutos no
meio do dia pode ajudar você a recobrar energia, ter melhor memória e
aumentar seu poder de alerta.
Perigos da Língua
O Silêncio
A maior in uência dos gunas sobre você vem através das companhias que
você tem. Você é profundamente in uenciado por aqueles que você mantém
perto de si. Isso pode se tornar um problema caso você esteja buscando por
transformação. As pessoas mais próximas de você talvez não gostem de ver você
mudar, e, se esse é o caso, você não mudará sem antes fazer ajustes em relação
às suas companhias e em relação aos hábitos e às con gurações mentais que
representam.
Como George Washington disse: “Antes só do que mal acompanhado”.
Solidão é algo poderoso porque liberta você da in uência de outras pessoas.
Você tem que ser você mesmo, por você mesmo, com você mesmo. É
importante criar esses momentos na vida para conseguir se conhecer melhor.
Não podemos viver em completo isolamento, mas tais momentos podem
auxiliar a fortalecer sua determinação de buscar por melhores companhias.
Quase todo espiritualista sério tem que lidar com esse problema de ajustar
seu círculo social à sua nova realidade. Exige paciência e coragem, mas é
realmente essencial. Você começa rejeitando convites para situações que não
são mais atrativas para você, como programas em lugares aonde as pessoas vão
para se embebedar ou falar bobagens, e você, pouco a pouco, busca por outra
comunidade, mais alinhada com seus princípios recém-descobertos de
transformação e espiritualidade. Gradualmente, você tem que encontrar sua
“nova tribo”.
Pode ser útil buscar encontros ou eventos com aqueles que compartilham de
suas metas e práticas espirituais, car na companhia de praticantes sérios de
igual mentalidade. Há festivais, kirtanas (shows de mantra ou cantos em grupo),
aulas e templos que você pode visitar. Tenha o cuidado de evitar fanatismo e
comportamento sectário. Há sempre potencial para abuso em organizações
espirituais, em virtude do que mantenha sua inteligência e preserve sua
independência.
Respeite, sirva e seja legal com todos, mas escolha cuidadosamente com
quem você quer ter grande proximidade. A mentalidade dessa pessoa afetará
sua mentalidade, e vice-versa; você compartilhará seu estado de consciência. A
maneira mais rápida de se transformar é buscando a companhia de quem tem
as qualidades que você quer assimilar.
Qual É o Problema?
Nunca É Demais
Você nunca receberá mais do que é aquilo com que você pode lidar, mas
você precisará reunir todo o seu potencial para lidar com desa os épicos, e isso
inclui sua força espiritual. Alguns desa os são tão grandes que você não
conseguirá superá-los sem sabedoria espiritual e sem uma relação madura com
Deus.
Conforme você avance espiritualmente, também desenvolverá desapego.
Você se aborrecerá menos com adversidades e cará menos eufórico diante de
bons resultados. Você entenderá que não é o corpo e que todas as entidades
vivas são almas eternas, imunes a qualquer situação material e seguras sob o
olhar de nosso Pai amoroso. Você entenderá que nada pertence a você, que
tudo que você tem é mero empréstimo. Em última instância, você entenderá
que, como uma alma, você não precisa de nada deste mundo, uma vez que
você não carece de nada. Você é integral e completo como você está – um fato
eterno e imutável da existência. Você não tem absolutamente nada a perder,
nada a temer.
Quando tudo car realmente muito árduo, lembre-se de quem você
realmente é e o que realmente está acontecendo. Isso exige prática e avanço
espiritual, mas lhe está disponível na proporção do seu avanço e caso você
trabalhe para isso. Essa simples lembrança reduzirá o impacto e o sofrimento
de todos os desa os com que você lide.
Suicídio
Perdão
Equanimidade
Para que aconteça uma transformação é preciso que haja esforço estável. Na
tradição do yoga há o conceito de sadhana: uma prática diária para a elevação
espiritual. Boas intenções não são o bastante, é preciso haver esforço. Boas
intenções não são o bastante, é preciso que haja empenho. E, por detrás de um
esforço geral para se avançar e aprimorar em vários aspectos, é preciso que haja
uma disciplina diária especí ca levando adiante suas transformações, dia após
dia. O Método 3T é exatamente isto: um regime diário de transcendência e
fortalecimento de sua mente e de sua inteligência para ajudá-lo a enfrentar o
desa o de progredir nos cinco campos de perfeição do Caminho 3T. Eu não
seria capaz de enfatizar o su ciente a importância desta prática diária se você
tem a esperança de alimentar o fogo da sua transformação.
Os 3Ts
Comer Prasada
Das muitas técnicas para introduzir novos hábitos e mudanças na vida, vou
explicar aqui uma combinação de três que por si só já são incríveis, mas, juntas,
tornam-se imbatíveis: o Começo Bebê, os Círculos de Zorro e o Princípio
Kaizen.
Começo Bebê
Círculos de Zorro
Princípio Kaizen
Com a ajuda de minha amiga e aluna Bruna Lima, criei uma visualização
grá ca do Caminho 3T, que podemos usar para entender como os diferentes
elementos do caminho se encaixam. Veja abaixo:
O processo todo começa com a transmissão de conhecimento, ou seja,
aquilo que intitulamos como: jnana. O conhecimento muda a vida. O
princípio básico é que se estamos errando na vida, é por não sabermos. Se
sofremos, é porque zemos errado e, também, porque não estamos entendendo
como fazer direito. Desse modo, se estivermos munidos de conhecimento,
vamos fazer o que é certo e, consequentemente, vamos ser felizes.
Essencialmente, por meio do yoga, teremos acesso à dimensão espiritual do
mapa mental. Logo, munidos deste conhecimento transcendental,
conseguiremos despertar nossos sentidos espirituais e enxergar a natureza
divina da realidade.
Quando compreendemos corretamente o campo de jnana, naturalmente
desenvolvemos bhakti – que é a devoção amorosa a Deus. E, se levarmos nossa
pesquisa sobre Deus a fundo, vamos concentrar nosso foco em Krishna, que é a
expressão pessoal mais doce e íntima do Senhor.
Jnana e bhakti formam a parte de autorrealização do caminho e são os dois
campos mais avançados e que mais profundamente afetam a nossa vida.
Exatamente por serem os aspectos mais elevados, são também os mais
difíceis de acessar. De fato, os mais difíceis de sequer despertar o interesse das
pessoas. Jnana e bhakti necessitam de dedicação sistemática para que se
obtenha avanço. Por isso, eu apresento o Método 3T, a prática diária, o
sadhana, para conceder acesso a estes níveis mais elevados do Caminho 3T.
Sem um sadhana, é impossível penetrar no campo da autorrealização autêntica.
Ao redor da parte de autorrealização, encontramos os outros três campos de
perfeição do Caminho 3T, a saber mindfulness, dharma e paz interior. Estes
formam a parte de autoaprimoramento do caminho. Eles não necessitam
qualquer aceitação espiritual ou, sequer, de profunda contemplação sobre a
vida. São conhecimentos e práticas com impacto imediato e inegável. Basta
ouvir falar deles que qualquer pessoa pode reconhecer sua verdade e a
necessidade de colocá-los em prática na vida. Os três campos de
autoaprimoramento trazem alívio imediato e soluções para o cotidiano. Isso é o
que todos nós estamos buscando, não importa a idade, raça, sexo,
nacionalidade ou religião.
O botão-chave é a mente no aqui e agora, vivendo o paradigma da realidade.
Tudo gira em torno disto. Sua habilidade em manter a mente cada vez mais no
aqui e agora, interagindo com a realidade ao seu redor. E, sua habilidade em
conseguir manter o foco em sua ação nobre, seu dharma, determina sua
felicidade. Não há como contornar isso. Sem isso, a vida é essa que você já
conhece: um estado quase constante de ansiedade, frustração e confusão,
intercalado pela felicidade ilusória de sonhar com uma vida melhor ou o
refúgio “raso” oferecido pelo entretenimento ou, pior ainda, o uso de
entorpecentes. Por outro lado, os sentimentos cada vez mais profundos de
bem-estar, felicidade, paz, harmonia e amor vão surgir do paradigma da
realidade, com a mente no aqui e agora, na medida em que se consegue colocar
em prática os demais elementos do Caminho 3T.
Mesmo para quem está interessado em praticar autorrealização, é necessário
viver a vida seguindo os três campos de autoaprimoramento. Por exemplo, não
haverá uma experiência real espiritual, um sentimento de comunhão com
Deus, enquanto a mente estiver no paradigma da fantasia e distante do aqui e
agora. Não somente a realidade corriqueira mas também a realidade divina
acontecem apenas neste momento. Tampouco é possível viver uma vida
espiritual sem estar seguindo o dharma. O dharma é a ponte entre a matéria e o
espírito. Viver o dharma é viver o nosso propósito aqui na Terra, a cada
momento. Precisamos primeiro estar conectados a nossa essência prática, ou
seja física, emocional e social, para garantir uma rme conexão com a nossa
natureza transcendental.
Assim, devemos praticar o caminho completo. Este é um dos focos da
mensagem que quero sempre transmitir. Se você é um espiritualista, não ignore
a necessidade de praticar mindfulness, viver seu dharma e cuidar de suas
emoções. Se você está aí já praticando o autoaprimoramento, querendo viver
melhor, não ignore a importância de ir fundo no caminho espiritual e,
verdadeiramente, colocar em prática um sadhana como o Método 3T, para
penetrar a autorrealização completa.
Ao redor de tudo temos o estilo de vida. É o estilo de vida que determina
sua habilidade de até mesmo se interessar pelo autoaprimoramento e pela
autorrealização. E, uma vez interessado, o estilo de vida determina seu
potencial para colocar em prática as técnicas e absorver o conhecimento dos
cinco campos de perfeição do Caminho 3T. Assim, este é o pano de fundo que
in uencia a experiência de vida como um todo.
Agora, vamos avaliar um último detalhe curioso revelado pela apresentação
grá ca. Toda parte externa, ou seja, a que se situa além dos círculos de jnana e
bhakti, é totalmente con rmada pela ciência moderna. Só de mindfulness já
existem em 2017 mais de 10 mil pesquisas cientí cas con rmando sua e cácia.
A parte de paz interior é uma expressão dos campos cientí cos de Psicologia e
Neurociência. E o campo de dharma – da importância de viver seus valores,
buscar objetivos intrínsecos e viver sua natureza – também está sendo cada vez
mais indicado pela ciência e utilizado, até mesmo, no mundo corporativo.
Jnana, por sua vez, pode ser provado pela razão. É aplicando sua razão e
usando o pensamento crítico, que você poderá con rmar como os fatos
relacionados com o conhecimento transcendental tornam a sua vida mais fácil
de entender. Estas informações lhe proporcionarão a habilidade de entender
muitas experiências da vida de maneira racional. Em poucas palavras, elas
oferecem uma resposta àquelas perguntas que a ciência moderna não conseguiu
responder.
Por último, bhakti, o aspecto mais elevado do yoga, só pode ser con rmado
pela experiência direta. O processo leva você a ter esta vivência direta da
comunhão com Deus. Não tem como provar para outra pessoa, somente
oferecer o testemunho. Testemunhos é o que não faltam! A nal, são bilhões de
pessoas que, ao longo de toda a história da humanidade e em todos os cantos
do planeta, oferecem seu testemunho da realidade divina. Sim, há pesquisas
cientí cas que mostram os benefícios da devoção e há argumentos lógicos e
losó cos que apontam para a existência de Deus. Mas nada disso pode
“provar” a realidade de bhakti para um outro que ainda não ativou a sua
espiritualidade. A experiência do contato com Deus em devoção, bhakti,
precisa ser vivida pessoalmente.
Tudo oferecido no Caminho 3T é verdadeiro e e caz. Basta comprovar, seja
pela razão ou, melhor ainda, pela prática pessoal. O processo é completo e
contém inúmeras partes, e cada qual lhe trará vantagens e o ajudará a melhor
praticar a outra parte. Essa visualização grá ca do processo como um todo
pode colaborar para que você veja como tudo se encaixa e lhe inspirar a colocar
tudo em prática, passo a passo, como descrito neste livro.
Conclusão
“A leitura está tendo uma ressonância muito grande em minha vida. Super
recomendo!!!”
– Márcia Uehara –
“Um livro incrível e que transforma a vida, cheio de bons conselhos e sabedoria
atemporal losó ca! Eu altamente recomendo este livro!”
– Radha Krishna –
“Um salva-vidas!”
– Ivan Llobet –
“Você tem uma linguagem bem didática e objetiva, explicita tudo com nitidez.
Muito agradável para ler.”
– Carmen Moreno –
“Excelente roteiro para o caminho de Bhakti. Este livro tem um processo passo a
passo limpo e claro para alguém que quer se envolver na prática autêntica de
Bhakti-yoga. O formato prático, organizado e simpli cado foi um contraste bem-
vindo a alguns livros que são muito complexos para iniciantes”
– Billy Kubina Jr. –
1.
Laboratory of Neuro Imaging do website da Universidade da Carolina do
Sul. [voltar]
2.
Rewire Your Anxious Brain: How to Use the Neuroscience of Fear to End
Anxiety, Panic, and Worry [voltar]
3.
Wall Street Journal, March 30, 2014, “Why You Need a Purpose in Life”
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4.
UK Government Chief Medical Officers Guidelines for Alcohol Consumption
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5.
“Caffeine: How much is too much?”, www.mayoclinic.org. [voltar]
6.
“e Real Age Diet: Make Yourself Younger with What You Eat”, Dr.
Michael F. Roizen, MD. [voltar]
7.
“Meat Consumption and Cancer Risk,” Physicians Committee. [voltar]
8.
“Breathing Exercises: 4-7-8 Breath”, www.drweil.com [voltar]
9.
“Unintended Pregnancy Prevention”, www.cdc.gov [voltar]
10.
Guia Completo da Bhagavad-gita com Tradução Literal, de H.D. Goswami,
Capítulo 6, Verso 29. [voltar]
11.
Uma entrevista publicada no PsychReport. [voltar]