O Caminho 3T 2a

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Este impressionante livro de Giridhari Das deixa claro a razão para ele ser um

astro espiritual da internet. Este livro sistemático e eloquente provê um valioso guia
para aqueles que buscam um progresso espiritual sério”.
– Howard J. Resnick (Hridayananda Das Goswami), PhD em Sânscrito e Estudos
Indianos pela Harvard, líder espiritual –

“Neste livro, Giridhari Das oferece um presente de inestimável valor para a


humanidade. Obras como esta que está em suas mãos são verdadeiros tesou- ros –
são manifestações da compaixão divina a serviço do dharma, o propósito maior.
Diria também que O Caminho 3T é um guia prático de sobrevivência e elevação
em tempos de crise”.
– Sri Prem Baba, psicólogo, líder espiritual –

“Um grande feito”.


– Joshua M. Greene (Yogesvara Das), escritor, pesquisador e palestrante –

“O Caminho 3T é uma obra de leitura obrigatória. Simplesmente por lê-lo, sua


vida se tornará melhor e mais feliz!”
– David Roberts (Mahavira Das), vice-presidente da Bixolon/Samsung –

“Posso dizer que gostei de cada palavra e cada instrução nesta obra maravilhosa”.
– Enéas Guerriero (Iswara Das), escritor e terapeuta –
1ª Edição © 2017 Giridhari Das. 1a. reimpressão.

Ilustrações: pedroluiss
Ilustração "Visualização Grá ca do Caminho 3T" : Bruna Lima
Tradução: Bhagavān Dāsa (iago Costa Braga)
Projeto Grá co por © Coletivo Editorial
Capa: Nārada Muni (Mateus Dias)
Editor: Bhagavān Dāsa (iago Costa Braga)
Revisão: Nṛsiṁhānanda Dāsa (Leopoldo Lusquino), Robson Silva
Diagramação: Jeferson Rocha
Versão e-Book: ebooks.nextmidia.com.br

Dados da Catalogação Internacional na Publicação (CIP)

D229c Das, Giridhari

O Caminho 3T: Autoaprimoramento e Autorrealização em Yoga / Giridhari Das;

Tradução de Bhagavan Dasa (iago Costa Braga / Giridhari Das)

Pindamonhangaba: Coletivo Editorial/Relighare, 2017.

2200Kb, ePub.

ISBN 978-85-69942-15-3

Tradução: e 3T Path: Self-improvement and Self-realization in Yoga

1.Auto Ajuda 2. Yoga 3. Poder da Mente I. Dasa, Bhagavan II; Título

CDD 158.1

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução parcial ou total deste ebook.


Para mais informações sobre o Caminho 3T e Giridhari Das, visite: www.giridhari.com.br

visite-nos na internet:
www.coletivoeditorial.com.br
PREFÁCIO

Neste livro, Giridhari Das oferece um presente de inestimável valor para a


humanidade. Ele consegue sintetizar e colocar de maneira bastante acessível a
profunda sabedoria védica e faz do yoga um instrumento simples que pode ser
integrado ao dia a dia.
O yoga é um sistema cientí co ancestral que possibilita ao praticante
transcender a matéria e ter a experiência da unidade. São técnicas de
harmonização energética e de estabilização mental e emocional que foram
testadas e validadas ao longo de milênios por muitos seres iluminados. É um
poderoso instrumento, não somente para a elevação da consciência, mas
também para manter a saúde e desenvolver a atenção plena, que é a capacidade
de colocar foco total naquilo que precisa ser feito, com clareza e lucidez.
Em momentos como este em que vivemos, no qual a crise é generalizada,
estamos constantemente sendo desa ados a nos reinventar e a ultrapassar
velhos condicionamentos e limitações mentais. Estamos sendo convidados a
acordar do sonho no qual acreditamos ser apenas um corpo e a viver uma vida
espiritual. Precisamos reestabelecer o contato com a nossa verdadeira essência,
pois somente isso poderá nos salvar do colapso. E para que isso seja possível,
precisamos de métodos simples e acessíveis, que nos ajudem a ampliar a
consciência e a superar os desa os diários.
A espiritualidade não deve mais se restringir aos templos, monastérios e
ashrams. Ela deve estar presente no cotidiano, nos ajudando a ser pessoas
melhores, nos levando a assumir responsabilidade pela situação na qual nos
colocamos e a tomar as rédeas do nosso destino. Isso é o que tenho chamado de
“espiritualidade prática”, aquela que pode ser praticada em qualquer lugar, de
modo que os desa os cotidianos se transformem em práticas espirituais.
Obras como esta que está em suas mãos são verdadeiros tesouros – são
manifestações da compaixão divina a serviço do dharma, o propósito maior.
Diria também que O Caminho 3T é um guia prático de sobrevivência e
elevação em tempos de crise. Em um texto simplesmente delicioso de ler, são
oferecidas dicas simples, porém absolutamente e cientes para o despertar
espiritual.
Giridhari é gentil e compassivo ao oferecer seu dom de comunicação para
facilitar o acesso a esse elevado conhecimento espiritual.
Desejo uma boa leitura e rezo para que você coloque em prática os
ensinamentos aqui transmitidos, pois assim você será guiado de onde está para
onde pode e merece chegar.
Com amor e bênçãos,
Prem Baba
INTRODUÇÃO

O propósito deste livro é oferecer um guia fácil de ser seguido e efetivo para
crescimento e transformação pessoal, para maximizar seu verdadeiro potencial e
permitir que você extraia o melhor de sua vida. Isso acontecerá por meio da
reapresentação e retransmissão do antigo caminho de autorrealização em yoga.
Quero lhe apresentar um conhecimento simples, porém poderoso, bem como
práticas e ferramentas para tornar sua vida cada vez mais feliz, dando-lhe mais
clareza, fazendo-o mais forte, mais resiliente e melhor preparado para lidar com
os altos e baixos da vida, e com suas incertezas e ansiedade.
Não se tratam de promessas vazias. Tenho seguido esse caminho já há mais
de 20 anos, e ajudei milhares de pessoas a fazerem o mesmo. Sei pessoalmente
o que ele fez por mim e testemunhei seus resultados em outros muitas e muitas
vezes. Em poucas palavras, trata-se de uma receita antiga testada e aprovada
para termos uma vida magní ca e atingirmos a iluminação.
Vou falar abertamente: no livro, eu uso aquela palavra que começa com “D”
– sim, “Deus”. Talvez esteja tudo bem para você. Se não é seu caso, eu entendo
você. Fui ateu, então sei exatamente o quanto esse assunto pode parecer
detestável. Era algo que costumava me causar grande aversão. Sei que Deus tem
sido muito mal representado e que coisas horríveis são feitas em nome dEle
ainda hoje. Porém, se você ainda não teve a oportunidade de ouvir sobre Deus
a partir desta antiga tradição do yoga devocional, há grandes chances de você se
maravilhar e se sentir aliviado com o que está prestes a aprender e
experimentar. Então, por favor, não deixe essas questões de Deus e devoção o
fazerem fechar o livro logo de começo!
Um dos pontos altos deste caminho é que ele casa a vida espiritual com sua
vida cotidiana. Acontece que maximizar seu bem-estar aqui e agora é uma
característica essencial para a iluminação. Naturalmente, então, o caminho é
muito abrangente, abarcando desde sugestões para estilo de vida, com
benefícios que são rápidos e facilmente perceptíveis, até verdades espirituais
muito esotéricas e profundas, que podem precisar de décadas de prática sincera
até serem experimentadas.
O que signi ca “3T” a nal? Minha inspiração como instrutor espiritual é
manter tudo simples. Assim, tento constantemente destilar as práticas
essenciais do que pode parecer, algumas vezes, uma tradição espiritual confusa
e desestruturada. Por m, cheguei às três (3) práticas transcendentais (T)
essenciais que garantem um processo constante de transformação – o Método
3T. Tradicionalmente, há também três campos de progresso nesse caminho
transcendental (o caminho tríplice do yoga) e três abordagens para transformar
atividades mundanas regulares em ação transcendental (karma-yoga).
A força do Caminho 3T está em sua combinação de ferramentas antigas e
poderosas: 1) mindfulness, 2) dharma, 3) paz interior, 4) jnana (conhecimento)
e 5) bhakti (devoção), junto de sugestões de estilo de vida para maximizar seu
potencial e, por último, o Método 3T para manter seu progresso estável. Cada
um desses constituintes é poderoso por si só, mas muito mais quando
combinado com outros.
Gostaria de nalizar esta introdução enfatizando a importância da prática.
Meras informações não ajudarão você. É preciso transformação. E a
transformação acontece quando a informação é praticada diariamente, o dia
inteiro. Na verdade, você deve começar imediatamente a prática do Método
3T, que você encontrará no m do livro. Você não precisa esperar a conclusão
da leitura do livro para começar a praticá-lo. Por começar com a prática diária
essencial do Método 3T, você começará a colher os benefícios do Caminho 3T
imediatamente. Eu lhe darei informações que você pode absorver, mas que
precisam ser praticadas diariamente para terem algum efeito real. Portanto,
conforme você lê este livro, esteja atento às muitas diretrizes práticas, em
especial nas seções intituladas “Conceito-Chave do Caminho 3T”. Quanto
mais você puder incorporar dessas práticas, mais transformações
experimentará.
PARTE 1 - O QUE É O YOGA

Uma Excursão pelo Tempo

Para melhor compreendermos o que é o yoga, temos que excursionar pelo


tempo. Comecemos pelo conceito atual do yoga. O entendimento de yoga da
maioria das pessoas se baseia na prática cada vez mais popular de diferentes
posturas, combinada com relaxamento e exercícios respiratórios.
Essa prática moderna do yoga tem como seu pai fundador Tirumalai
Krishnamacharya (1888-1989). Então, nossa primeira parada em nossa
excursão de volta no tempo é há cerca de cem anos atrás. Foi nessa época que
Krishnamacharya se interessou em entender a prática de hatha-yoga, o termo
utilizado para esse aspecto do yoga que recorre ao uso de posturas físicas.
Krishnamacharya teve de viajar a uma caverna no Himalaia tibetano para
encontrar as instruções de um guru de hatha-yoga, Ramamohan Brahmachari,
que já tinha, segundo relatos, 150 anos de idade. Lá, viveu com esse guru por
sete anos, estudando diferentes posturas e o Yoga-sutra de Patanjali, um tratado
losó co de yoga, composto há dois mil anos, sobre o qual falarei mais adiante
ainda nesta seção. Seu guru, é dito, dominava sete mil posturas, ou asanas,
como são chamadas em sânscrito. Krishnamacharya, acredita-se, dominou três
mil asanas. Mais tarde, conseguiu transmitir apenas 640.
Ao retornar à civilização, por volta de 1931, Krishnamacharya usou seu
conhecimento de asanas como uma técnica de cura e um caminho para
promover bem-estar físico entre o público em geral. Esta foi sua inovação:
utilizar asanas de yoga como uma técnica facilmente disponível e facilmente
ensinável para a saúde física. Asanas não eram mais uma ferramenta para
místicos no caminho da iluminação. Vale a pena mencionar que
Krishnamacharya, pessoalmente, era praticante do caminho devocional do yoga
e sabia muito bem o signi cado completo do yoga, muito embora tenha se
tornado famoso por ensinar esse estilo mais físico. Krishnamacharya se tornou
popular rapidamente, viajando pela Índia ensinando esse estilo de prática de
yoga. Dois de seus discípulos mais famosos foram B.K.S. Iyengar e K. Pattabhi
Jois, ambos os quais, mais tarde, tiveram um importante papel em levar essa
prática para o restante do mundo. Então, o que a maioria das pessoas entende
como yoga é, na verdade, uma prática muito moderna, que não tem nem
mesmo cem anos. É por isso que os acadêmicos a chamam de “yoga moderno”.
Agora, voltemos ainda mais no tempo, até o século 14. Essa é a data
estimada para o texto fundamental do hatha-yoga, de nome Hatha Yoga
Pradipika. A forma original do hatha-yoga se vale de asanas, técnicas
respiratórias e outras práticas físicas, incluindo limpeza intestinal, com o
propósito expresso de buscar a iluminação, e não mero bem-estar físico. Um
ponto interessante é que o Hatha Yoga Pradipika ensina apenas onze asanas.
Hatha-yoga, à época, era uma prática para místicos, geralmente místicos do
sexo masculino que viviam isolados na natureza, perto de cavernas ou rios
sagrados.
Nossa próxima parada é nos tempos de Jesus, há dois mil anos. Essa é a data
estimada para a compilação do Yoga-sutra, composto pelo sábio Patanjali.
Nessa obra, quase não encontramos um foco nas práticas físicas, e nem mesmo
um único asana é mencionado. O foco é inteiramente no aspecto espiritual
interno do yoga, tal como a estrutura mental para o yoga, a atenção para
controle e observação da mente, o estudo de como ela funciona, meditação e a
meta nal, que é a libertação. É um tratado muito bonito, apesar de bastante
técnico, sobre o funcionamento de nossa consciência, e é recomendado como
leitura àqueles que decidirem seguir o Caminho 3T.
Nossa última parada no tempo será na época de Krishna, para quem os
acadêmicos não têm uma data estabelecida, mas que, segundo a tradição e
cálculos baseados em eventos astronômicos mencionados nas histórias, estima-
se ser por volta de 5200 anos atrás. Krishna é quem fala o texto de yoga mais
difundido e famoso, a Bhagavad-gita, uma joia de 700 versos repletos de
sabedoria espiritual. Uma das alegações da Bhagavad-gita é que esse
conhecimento do yoga havia se perdido, e Krishna o estava trazendo ao mundo
mais uma vez. A Bhagavad-gita, portanto, é o texto primordial sobre a essência
do yoga, e, para entender o yoga verdadeiramente, é compulsório entender a
Bhagavad-gita. Ali, podemos ver o yoga como uma loso a de vida, um guia
para se viver feliz e como uma prática espiritual de devoção, destinado a
conectar a alma ao Divino e a fazê-la transcender o sofrimento material. Há
menção de apenas um asana, uma simples postura sentada para meditação. É
no contexto da Bhagavad-gita que faz sentido a de nição de yoga “conectar”, a
qual encontramos em dicionários. Yoga signi ca conectar-se, ou, em outras
palavras, ser realmente você, e conectar-se à fonte de tudo, através da
observação e direcionamento da própria mente.

O Caminho Tríplice do Yoga na Bhagavad-gita

Como mencionei ao começo, uma das referências em “3T” são os três


campos de progresso do caminho do yoga. São eles: conduta, jnana
(conhecimento) e bhakti (devoção). Cada um desses tem seu próprio capítulo
na Bhagavad-gita e forma a base da apresentação do yoga por parte de Krishna.
“Conduta” abrange um amplo espectro de ideais e práticas. Karma signi ca
“ação” em sânscrito, mas estou usando o termo “conduta” porque, como o
caminho do yoga nos dá insights incríveis para muitos diferentes aspectos
práticos de nossa vida, esse termo me parece se encaixar melhor. O mais básico
são as escolhas de estilo de vida, o que abordaremos em uma seção posterior
deste livro. Há, então, princípios éticos e morais, alguns dos quais abordaremos
também. Um aspecto destacado é o conceito de dharma, que será explicado em
maiores detalhes, e, então, a aplicação desse conceito de dharma em nossa
atividade cotidiana. Isso nos conduz até o terceiro signi cado de “3T”, onde
estudaremos as três abordagens para transformarmos atividades mundanas
comuns em ação transcendental (karma-yoga). Isso será descrito em uma seção
própria, dado que tem grande importância e possui um efeito incalculável para
o seu bem-estar e percepção da vida.
Em seguida, temos jnana (conhecimento). Jnana, pronunciado “guiana”, se
refere ao conhecimento em dois níveis: prático e metafísico. Isso se refere a
conhecimento para ajudar você a lidar com este mundo e conhecimento para
moldar seu caminho espiritual. Gosto de usar a palavra “sabedoria” em relação
a isso, para enfatizar que esse é o tipo de conhecimento que mudará
positivamente como você reage e como lida com a vida. Há uma grande seção
deste livro dedicada a transmitir alguns desses conceitos-chaves, e você verá
como podem desencadear imensas mudanças em sua vida e em como você
de ne suas prioridades e sua identidade. Conforme o conhecimento fortalece
sua inteligência, conforme você se torna mais sábio, sua vida pode ser cada vez
mais baseada em decisões racionais, bem deliberadas e sólidas.
Por m, há bhakti (devoção). Como mencionei na introdução, posso me
solidarizar com aqueles para quem a questão da devoção é detestável neste
ponto em sua vida, como um dia foi para mim. Contudo, a beleza do
Caminho 3T é que não é “tudo ou nada”. Você pode pegar o que for aceitável
para você agora e car com isso. Todo aspecto do Caminho 3T ajudará você
em sua transformação. Conforme somos transformados, nossa visão de mundo,
de nós mesmos, do que consideramos importante, etc., também se transforma.
É tal como crescer. As coisas que adorávamos fazer quando tínhamos cinco
anos de idade são di cilmente as mesmas coisas que gostamos de fazer como
adultos. E, em termos de transformar sua mente, apenas chegar na vida adulta
faz pouca diferença. A idade não importa mais. Tudo depende de você,
depende do esforço que você faz para se tornar melhor, mais sábio. Deste
modo, sua visão de Deus e de devoção pode mudar por completo, dependendo
das novas informações e novas experiências que você ganhe. Essa tradição
ancestral é a tradição mais antiga no mundo a buscar por um Deus único,
transcendente e supremo, e traz informações sobre Deus e devoção a Deus que,
em muitos pontos importantes, é muito diferente daquilo a que a maioria de
nós, criados em países predominantemente cristãos, judeus ou muçulmanos,
foi exposta. Ainda melhor, por ser uma tradição que valoriza o bom senso, a
inteligência, a loso a e a racionalidade, e rejeita sectarismo e religiosidade
coerciva, a maneira como Deus é apresentado e a maneira como a devoção é
explicada são muito compatíveis com a mentalidade moderna. Mesmo se você
nunca sentiu devoção por Deus, você provavelmente cultivou devoção por uma
causa ou projeto, de modo que experimentou ou testemunhou o quanto a
devoção é uma força muito poderosa. A devoção é poderosa porque é uma
expressão de sua habilidade de amar. A devoção motivará você como nada
mais. Ajudará você a superar obstáculos aparentemente intransponíveis,
encorajará você quando estiver abatido e fará vir à tona o melhor que você tem
a oferecer. A devoção é a ferramenta mais poderosa que você tem para
transformação. No caminho do yoga, recebe a mais alta importância e é
repetidamente exposta como necessária para maximizar seu completo
potencial. Em última instância, quando chegamos aos tópicos de libertação
espiritual e iluminação, não há sentido em falar de yoga, ou conexão, sem
fazermos menção ao amor do indivíduo por Deus, pois nenhuma “conexão” é
mais importante do que o amor.
Note que progresso em um campo fortalece sua capacidade de avançar em
outro. Conforme aprimoramos a qualidade de nossas escolhas e hábitos, nossa
mente se torna mais clara, mais focada. Uma mente mais clara e mais focada
obtém conhecimento com mais facilidade. Ela se torna mais e ciente em
compreender e em perceber tudo dentro de um contexto mais amplo. Mais
conhecimento, por sua vez, ajuda você a se tornar mais sábio, aprimorando
suas reações e escolhas na vida. Mais conhecimento também lhe proporcionará
mais informações sobre Deus e a alma, tornando sua devoção mais forte e
melhor fundamentada. Uma conduta melhor também se torna um meio para
se desenvolver e fortalecer sua vida espiritual. Ao mesmo tempo, a devoção o
inspirará a agir melhor, a ser uma pessoa melhor, aperfeiçoando seu
comportamento. A devoção também lhe traz uma intuição natural, tornando-o
mais sábio. E assim por diante. O resultado é claro: qualquer esforço da sua
parte para avançar em qualquer um desses campos acarretará um bem-estar
crescente e facilitará mais avanço no caminho como um todo. Empenhar-se em
todos os três, todos os dias, causará grandes mudanças positivas em sua vida.
Também considero que uma representação grá ca dos três campos de
perfeição pode ser útil. Nesta ilustração, seu estado de consciência é
representado pelo triângulo ao centro. O triângulo é formado pelo grau de
avanço em cada um dos três campos. Quanto mais alto o estado de
consciência, melhor você se sente. Falando em termos práticos, a felicidade é a
medida do avanço. Quanto mais você se trabalha, mais você experimenta bem-
aventurança, que, em sânscrito, se chama “ananda”. Quanto mais perturbada e
trevosa for sua consciência, mais você experimenta sofrimento, que, em
sânscrito, se chama “klesha”. Note que, no grá co, os três campos se encontram
no topo. Essencialmente, o conhecimento perfeito exige conduta perfeita, que
exige devoção amorosa perfeita. A palavra no topo é “prema”, uma palavra
especial em sânscrito utilizada para denotar amor espiritual puro, que é o
estado de existência nal e completamente perfeito.
O Yoga da Meditação

“Bem, e quanto a todas essas posturas, todos esses asanas, que vemos hoje?”,
você talvez pergunte. Qual o propósito disso? Como mencionei, nenhum asana
é descrito no Yoga-sutra, e apenas um asana é apresentado na Bhagavad-gita.
Em ambos os casos, os asanas são mencionados como parte do ato de
meditação. É de fato importante sentar-se de modo apropriado, com a coluna
ereta, para melhor meditar. Diante disso, sempre houve uma conexão entre a
postura corporal e o yoga, mas, originalmente, era com o m expresso de
meditar. A meditação é tão importante, tão central no caminho do yoga, que, a
partir disso, surge um caminho alternativo de yoga, diferente do caminho
tríplice geral, descrito anteriormente. Ele é conhecido como “o yoga da
meditação”. Na Bhagavad-gita, chama-se dhyana-yoga, sendo dhyana a palavra
sânscrita para “meditação”, e, no Yoga-sutra, utiliza-se o termo astanga-yoga
(não confundir com o dinâmico sistema de yoga moderno que tem o mesmo
nome). Em dhyana-yoga, o praticante abandonava sua vida social “normal” para
viver uma vida reclusa na natureza, dedicado exclusivamente a meditar, em
geral perto de uma caverna ou de um rio sagrado. A meta era simplesmente
imergir a mente na meditação mais atenta e precisa em Deus, a ponto de que
nada mais pudesse ser percebido ou sentido.
A intensidade do poder de meditação, de foco, que um yogi atingia é algo
simplesmente além de nossa experiência, sendo difícil entender ou conceber
apropriadamente. É provável que você já tenha se surpreendido vendo atletas
pro ssionais no auge de suas carreiras fazendo coisas que você não conseguiria
fazer nem mesmo em sonho. Imagine o que esses atletas “da mente”
conseguiram depois de se dedicarem a meditar profundamente, quem sabe, por
dezoito ou mais horas por dia, ao longo de décadas. Há muitos relatos de yogis
desse tipo vivendo por centenas de anos. Não se trata de algo tão difícil de se
acreditar. A nal, essas pessoas estavam vivendo sem nenhum estresse, à base de
uma dieta orgânica, crudívora e silvestre, reduzindo a velocidade de sua
respiração e dos seus batimentos cardíacos ao longo da maior parte do dia.
Ainda mais espantosos são os abundantes relatos dos poderes especiais que esses
meditadores conseguiam desenvolver. Levitar, tornar-se imune a fogo e veneno
e suspender a respiração por horas eram alguns dos poderes dos iniciantes.
Mudar de forma, a habilidade telecinética de pegar um objeto a qualquer
distância e a capacidade de amaldiçoar ou abençoar qualquer um também se
faziam acessíveis. Os poderes mais formidáveis incluíam produzir qualquer
coisa desejada, controlar a mente de outros, mudar de tamanho, cando
atômico ou tão grande quanto um planeta, multiplicar-se e teletransportar-se
para qualquer parte do Universo.
São descrições extravagantes, mas podemos dizer que são impossíveis?
A nal, muitas das maravilhas tecnológicas que temos como comuns nestes dias
pareceriam impossíveis a qualquer pessoa um século atrás ou menos. Estamos
falando de sujeitos que desenvolveram um controle tão intenso da própria
mente que puderam acessar o próprio sistema de funcionamento da natureza
material. Gosto de pensar nisso como uma forma de tecnologia muito
avançada.
Algo interessante é que, sempre que tais poderes são mencionados nos
textos sagrados, acompanha-se um alerta de que são tentações perigosas, que
farão caírem os yogis que façam mau uso deles ou se tornem orgulhosos por
causa dos mesmos. Isso acontece porque essa divergência da atenção para a
realidade externa e para metas materiais egoístas, junto da agitação mental
produzida pelo orgulho e pelo poder, destrói a pureza do foco e da
determinação do yogi.
Em resumo, o caminho de dhyana-yoga é muito difícil e muito intenso.
Felizmente, não é o mais recomendado, nem o mais e ciente, o que explica por
que é praticamente inexistente na atualidade.
Mas voltemos aos asanas e ao foco nas posturas físicas. Não é difícil
imaginar que, com o passar dos séculos, e não nos esqueçamos de que estamos
falando de milhares de anos, essa pequena comunidade de meditadores tenha
se interessado pelos efeitos que as posturas tinham sobre o corpo. Independente
do motivo, desenvolveram gradualmente um grande “acervo” de posturas e
estudos sobre seus efeitos em órgãos, na espinha, na mente, etc. Trata-se de um
grande subproduto de uma tradição que tem muito mais a oferecer. A meta
deste livro é transmitir esse bem ainda maior.
PARTE 2 - OS CINCO CAMPOS DA
PERFEIÇÃO DO CAMINHO 3T

No decorrer dos anos tanto de prática quanto de ensinamento do caminho


de autorrealização em yoga, tomei consciência de que eu poderia melhor
praticar e explicar esse caminho expandindo os três campos tradicionais de
comportamento, jnana (conhecimento) e bhakti (devoção) em cinco. Chamo
isso de “os cinco campos da perfeição do Caminho 3T”. São estes os cinco
campos de perfeição: mindfulness, dharma, paz interior, jnana
(conhecimento) e bhakti (devoção). Como você pode ver, reparti “conduta”
em dois campos maiores: mindfulness e dharma, e adicionei um quinto
elemento, paz interior, que é relativo a conduta e conhecimento.
Aprimoramento em cada um desses cinco traz imensas mudanças positivas em
sua vida. Dedicar-se a todos os cinco proporcionará uma transformação
inacreditável.
CONCEITO-CHAVE DO CAMINHO 3T
A Mente É a Questão

Nunca é demais enfatizar este ponto: toda a sua experiência de vida é 100%
dependente da sua mente. Sei que isso pode ser muito duro de aceitar a princípio,
mas quanto mais você investigue e invista neste caminho de transformação interior,
mais você experimentará esse fato. Em uma ponta do espectro, está o materialista
crasso que pensa que toda felicidade é uma realidade de base completamente
externa. Em outras palavras, onde ele está, quem ele é, com quem está, que coisas
possui, seu status social, conta bancária, aparência, etc., são a única base de sua
felicidade e bem-estar. No outro extremo do espectro, está a descrição clássica do yogi
autorrealizado, descrição repetidamente presente na literatura sagrada do yoga, que
o apresenta como alguém em bem-aventurança constante e profunda, independente
de sua situação externa. A diferença? A mente. A questão não é qual é a realidade
externa, mas como você a interpreta.
É claro que é uma longa estrada de uma ponta do espectro até a outra. A boa
notícia é que você experimentará resultados a cada passo. A notícia ainda melhor é
que isso é real. A humanidade tem feito isso desde antes das pirâmides do Egito.
Não temos apenas esse imenso testemunho de gerações após gerações de praticantes de
yoga, senão que, agora, temos a neurociência para con rmar. E você pode
experimentar isso pessoalmente, desde o começo, seguindo o Caminho 3T.
O cerne da questão é sua habilidade em focar sua mente, e no que você foca sua
mente. O sábio Patanjali, em seu Yoga-sutra, composto há 2000 anos, apresenta
isso com perfeição: “Yoga signi ca controlar as funções da própria mente”. Os cinco
campos de perfeição do Caminho 3T se centram nisso, explicados de tal modo que
sejam acessíveis a qualquer um neste dia e era.

Mindfulness
Mindfulness é um termo moderno para um dos aspectos
dessa antiga prática de yoga. Em poucas palavras, signi ca
estar ciente, estar consciente de sua consciência e ser capaz de
experimentar um pensamento, uma sensação ou uma ação
externa por completo, com absoluta atenção. Isso exige muita
prática porque a maioria das pessoas simplesmente se perde
em pensamentos – a todo momento. Pesquisas mostram que
temos aproximadamente setenta mil pensamentos por dia![1]
Você se senta para o desjejum, mas sua mente dá pouca ou
nenhuma atenção para o alimento que você está comendo.
Em vez disso, diferentes enredos se desenrolam em sua mente;
uma conversa ininterrupta está acontecendo dentro de sua
cabeça, “prós” e “contras” disso e daquilo estão sendo colocados em uma
balança, você está revendo e resenhando um lme que viu na noite anterior,
etc. Em questão de segundos, seus pensamentos podem sair de um encontro
que você teve no dia anterior e rumar para planos do que fazer hoje à noite, ou
para um sentimento de ansiedade por conta de uma reunião ou apresentação
no trabalho por vir. E isso tem acontecido por toda a sua vida, e continuará
assim, a menos que comece a fazer algo quanto a isso.

A Fonte de Todo o Nosso Sofrimento

O que há de errado em relação a ter os pensamentos tão fora de controle? O


que há de errado em relação a você não estar ciente do que está fazendo aqui e
agora? O principal problema é que você está cando louco. Ansiedade, medo,
depressão, ira, frustração e confusão são alguns dos sintomas naturais
experimentados como resultado de termos nossos pensamentos completamente
fora de controle.
O principal truque que a mente está aplicando em você é a viagem do
tempo mental. Olhamos para o passado para nos lamentarmos de coisas
ocorridas, conversas que aconteceram e escolhas feitas. Você percorre
relacionamentos fracassados, conversas que terminaram mal, más escolhas
feitas na vida, etc. Ou talvez você que pensando em como a vida era boa
naquele tempo, mas não é agora. Em qualquer um dos casos, note que, por
reviver uma experiência desprazerosa ou por focar no que você não tem mais, o
resultado nal é o mesmo: sofrimento. Você se sujeita à sensação negativa mais
uma vez, reforçando e fortalecendo a mesma.
Ainda mais comum, entretanto, é viajar para o futuro. Isso é feito através da
constante atualização de sua lista do que você precisa para ser feliz. Isso se
chama “felicidade condicional”, porque você está dizendo para si mesmo que
você só será feliz sob certas condições, todas as quais estão no futuro. Você será
feliz quando entrar na faculdade, quando conseguir um emprego, quando for
promovido, quando se casar, quando tiver lhos, quando car em forma,
comprar uma tevê ou celular novo, conseguir um carro melhor e muitas outras
coisas.
Felicidade condicional é uma armadilha. É uma situação em que ninguém
ganha. O grande problema é que você está dizendo que, agora mesmo, você é
incompleto, infeliz ou “ainda não chegou lá”. Muito embora você não tenha a
intenção de se deprimir com isso, o que acontece quando você diz que você
será feliz quando isso ou aquilo aconteça ou quando obtenha isso ou aquilo é
que você está dizendo que você não é feliz agora, que você não está satisfeito e
que você não é completo. E a situação piora, pois, no mesmo instante em que
você aposta em alguma coisa ou alguma situação externa e futura para ser feliz,
você certamente cará ansioso. Consciente ou não, você cará ansioso em
relação a quando isso virá, ou se virá. Também cará frustrado em razão de
ainda não ter o que deseja. Você cará irado caso aconteça algo que afaste essa
realidade para um futuro ainda mais distante, ou que a torne improvável. E se
todos esses sentimentos de insatisfação, ansiedade, frustração, medo e ira não
fossem o bastante para estragar seu dia, aqui está o golpe nal: quando você de
fato obtém um desses itens de sua lista de alegrias condicionais, o sentimento
positivo dura pouquíssimo tempo, algumas vezes praticamente não existindo.
Talvez concluir o ensino médio tenha sido um item importante na sua lista.
Porém, por quantos dias você de fato se sentiu realizado e feliz depois do dia da
formatura? Entrar na faculdade? Por quanto tempo isso deu suporte ao seu
bem-estar? Obter o primeiro emprego? Seu carro novo? Um celular mais
moderno? Pense nisso. Por quanto tempo você de fato se sentiu satisfeito,
completo, realizado e feliz ao alcançar essas metas? O que realmente aconteceu
com você foi provavelmente o que acontece com a maioria de nós: tão logo
você obtém um item da sua lista, sua lista simplesmente se atualiza e aquilo
não foi tão incrível, a nal. Sua mente não lhe deu nenhum descanso, nenhuma
satisfação e nenhuma felicidade durável.

Má Companhia

Imagine ser obrigado a car com alguém do tipo que fala muito, e apenas
coisas negativas. Alguém que não para de falar hora nenhuma, nem mesmo por
um segundo. E o que a pessoa fala está longe de ser divertido, útil ou
necessário. São, em sua maior parte, bobagens e coisas que fazem você se sentir
mal consigo mesmo. Isso seria muito desagradável, não seria? Mas isso não
parece muito familiar? Parece, porque é mesmo. Estou falando da sua mente
descontrolada.
Desde o primeiro segundo depois que você acorda, sua mente começa a
vagar disso para aquilo. Requentando acontecimentos antigos, murmurando
coisas sem sentido e pressionando você a buscar pelos itens na lista de
felicidade condicional. E o que é pior: sua mente gosta de contar histórias de
terror. Ela gosta de contar as muitas maneiras como você fracassará e as
terríveis consequências que decorrerão disso. Por exemplo, se hoje você tem
uma prova na faculdade, ou uma apresentação na empresa, ela apresentará
argumentos em relação a como é provável que você fracassará. E se você
fracassar de fato, que tipo de futuro lhe aguarda? A mente é tão boa nisso que
convence seu cérebro a ativar as respostas “combater ou correr”: elevação da
pressão sanguínea, batimento cardíaco acelerado, adrenalina e respiração curta.
E talvez você ainda não tenha nem mesmo saído da cama.
É por isso que a ansiedade é um fenômeno amplamente difundido. Você
não se estressa pelo que tem a fazer, mas pelo que sua mente está lhe dizendo
sobre o que você tem a fazer. Você se permite se tornar vítima da falação
ininterrupta da sua mente, bem como de sua negatividade e incessante
fornecimento de medo.
Você tem que aprender a mudar essa rotina gradualmente, dia após dia.
Acontece que você tem o poder de redirecionar a mente, paci cá-la e, pouco a
pouco, superar a habilidade que ela tem de arruinar sua vida.

Primeira Técnica de Mindfulness: Aqui e Agora


O primeiro grande passo para mudar essa situação é trazer sua mente para o
aqui e agora. Quando você notar que sua mente está arrastando você para o
passado ou para o futuro, respire fundo e traga a mesma para o presente. Esse é
um componente-chave para uma transformação séria. Isso melhorará
muitíssimo sua vida agora e estabelecerá a base para a iluminação.
Um exercício é focar-se em qualquer sensação. Aqui estão alguns exemplos:
1) o sol entrando no cômodo ou aquecendo sua pele, 2) uma leve brisa
soprando por perto, 3) passarinhos cantando ao longe, 4) o vento balançando
as folhas, 5) o silêncio, 6) a água escorrendo por seu corpo no chuveiro, 7) o
sentimento do sofá ou cadeira em contato com você, 8) o sempre clássico foco
na respiração. Enquanto respira profunda e lentamente, assuma o controle da
sua mente e a direcione. Tente mantê-la na sensação escolhida e centre sua
atenção nisso.
Se puder, tente isso agora. Mesmo que seja por menos de um minuto. E
veja como você se sente.
Quanto mais você faça isso, mais pro ciente se tornará. Alguns estudos
demonstram que, se você zer algo por três semanas, tal coisa se atrela ao seu
cérebro como um hábito propriamente dito. É muito importante tentar com
grande empenho fazer isso todos os dias, tantas vezes quanto você possa, por
pelo menos esse tempo para que se torne uma parte natural da sua vida diária.
O aqui e agora é divino. E é assim porque é onde a vida de fato está
acontecendo. O passado se foi, e o futuro não existe. Quanto mais tempo você
possa dedicar ao aqui e agora, mais você estará experimentando a vida como ela
realmente é. É no aqui e agora que você será capaz de acessar níveis cada vez
mais profundos de existência, júbilo e espiritualidade.
Um equívoco comum que surge quanto ao estar aqui e agora é em relação a
planejamentos. Obviamente, não é possível ter uma vida signi cativamente
produtiva caso você não tenha metas e planos. Contudo, planejar é uma
atividade a ser feita aqui e agora. Há um momento apropriado para isso.
Planejar é muito diferente de fantasiar sobre uma lista de felicidades
condicionais. Por exemplo, uma coisa é planejar para a aposentadoria,
reservando um valor mensal para o seguro da Previdência Social; outra coisa,
bastante diferente, é ansiar pela aposentadoria, frequentemente fantasiando
como será enquanto você está indo para o trabalho. Ansiar e fantasiar fará você
sofrer. Planejar isso e realizar seu plano, porém estando com sua mente aqui e
agora, deixará você contente.

Segunda Técnica de Mindfulness:


Foco em Suas Ações, Um Passo de Cada Vez

O modo mais importante de se manter no aqui e agora é direcionar


completamente sua mente para qualquer atividade à sua mão. Voltemos para
nosso exemplo anterior, em que você acorda e é alvejado pela mente,
enchendo-o com histórias de terror e arrastando-o para o passado e para o
futuro. Para paci car a mente, assuma uma atividade de cada vez e coloque
toda a sua atenção nisso. Sair da cama, por exemplo. Esteja consciente de sua
cama, de seu quarto, de como o seu corpo se sente depois de dormir, o chão ou
seu chinelo, a temperatura, os barulhos e os sons e assim por diante. Então, seu
próximo movimento talvez seja caminhar até o banheiro. Faça apenas isso. Um
passo de cada vez. Não é preciso car ansioso em relação à sua prova ou
apresentação no trabalho se você nem tomou banho ainda. Quanto mais você
mantenha seu foco no que está fazendo, aqui e agora, melhor você fará tais
coisas e mais pací ca e feliz cará a mente. Isso é simples, mas é uma técnica
muito profunda. Para o que quer que você esteja fazendo, traga sua mente com
você. Faça isso com absoluta atenção. Esteja ali em corpo e mente, aqui e
agora.

Comprovações Cientí cas para o Mindfulness

Há um crescente acervo de experimentos médicos que comprovam o poder


do mindfulness e de seus efeitos positivos sobre nossa saúde mental e física.
Listarei apenas alguns benefícios aqui para encorajar você.
1. Doença Arterial Coronariana
A adição de treinamento de meditação ao regime de reabilitação cardíaca
padrão demonstrou uma redução na mortalidade (redução de 41% durante os
dois primeiros anos, e 46% de redução na taxa de recorrência), morbidez,
perturbação psicológica e alguns fatores biológicos de risco (lipídios
plasmáticos, peso, pressão sanguínea, glicose no sangue) (Linden, 1996;
Zammara, 1996).
2. Dor Crônica
Comprovou-se que a meditação mindfulness reduz tanto a experiência de
dor quanto sua inibição das atividades diárias dos pacientes. Além disso,
perturbações do humor e sintomatologias psicológicas (incluindo ansiedade e
depressão) também decrescem. Há menos uso de medicamentos para dor e
maiores níveis de atividade e autoestima. Isso contrastou fortemente com um
grupo de uma clínica tradicional utilizada para comparação, que não
demonstrou nenhuma mudança nessa dimensão da dor. (Kabat-Zinn 1982;
1985). Esses ganhos foram quase todos mantidos nos quatro anos seguintes.
(Kabat-Zinn, 1987)
3. Ansiedade
Estudos demonstram que o mindfulness reduz clinicamente os sintomas de
ansiedade, perturbação psicológica e depressão secundária (Kabat-Zinn, 1992).
Mudanças foram preservadas ao longo de 3 anos (Miller, 1995).
4. Depressão
Observou-se a efetividade de habilidades derivadas de treinamento
mindfulness e terapia cognitiva na redução signi cativa de recorrência de
grandes episódios de depressão em pacientes que receberam o tratamento para
depressão. (Ma & Teasdale, 2004; Segal, 2002; Teasdale, 2002; Teasdale,
2000).
5. Enxaqueca
Observou-se em pacientes que sofrem de enxaqueca e praticam mindfulness
uma redução da frequência e da intensidade de suas enxaquecas. (Anastasio,
1987).
6. Insônia
A prática do mindfulness favoreceu a ampliação da qualidade e do padrão de
sono daqueles sofrendo de insônia. (Winbush, Gross & Kreitzer, 2007).
7. Fibromialgia
Pacientes que praticam mindfulness revelam melhoras clínicas signi cativas
em suas condições física, psicológica e social. (Kaplan, 1993; Goldenberg,
1994).
Esta é uma lista curta. O verdadeiro benefício, entretanto, está em como
você se sentirá. Você experimentará a vida com maior paz, mais clareza e menor
ansiedade.

“A Prática Leva ao Progresso”

Não se trata de “tudo ou nada”. Trata-se de uma prática. Você perderá sua
mente em ansiedades futuras, remorsos passados ou falação mental inútil; nesse
momento, então, você trará a mente de volta para o aqui e agora e
experimentará paz. Quando a perder, traga-a de volta. Vezes e mais vezes. O
dia todo. Pelo resto de sua vida. Você cará cada vez melhor nisso e será cada
vez menos vitimado pelos artifícios de sua mente. Isso se tornará uma segunda
natureza para você. Há uma famosa seção na Bhagavad-gita em que Krishna diz
que, para quem controlou a mente, a mente é o melhor dos amigos, e para
quem não a controlou, a mente é o maior dos inimigos. Mindfulness é um
componente-chave para tornar sua mente o seu melhor amigo.

Dharma

Dharma é um conceito muito rico, e a palavra tem muitos signi cados, mas
meu foco será no dharma como aquilo que precisa ser feito – essência e dever.
O dever pode ser algo imposto. A essência não pode ser imposta. Dharma,
portanto, é aquele dever que nasce de quem você realmente é, que nasce de sua
natureza. Não é uma imposição externa ou social. É o que você precisa fazer,
em qualquer dado momento, para ser a melhor pessoa que você pode ser. É
fazer a coisa certa na hora certa. Ser dhármico é mais do que simplesmente fazer
o que é bom ou evitar uma conduta danosa ou violenta, embora isso
certamente esteja incluído no conceito, e pode-se reduzir isso a uma lista do
que se deve evitar. O dharma é uídico, vivo e sensível aos diferentes aspectos
de sua vida. Grandes mudanças no seu dharma podem ocorrer, literalmente, de
um segundo para o outro. Uma maneira de entender o dharma é refrasear os
clássicos dizeres: “Não pergunte o que o mundo pode fazer por você, mas
pergunte o que você pode fazer pelo mundo”.
Dharma é o princípio orientador da vida, a cada momento lhe
demonstrando o que você deve fazer, respondendo suas dúvidas em relação a
que curso seguir e simpli cando as ações da vida. Dharma é sua integridade na
ação e a verdadeira expressão do seu ser. Você encontrará seu lugar no mundo
uma vez que você se a ne com seu dharma.
O dharma é uma parte integral da natureza. Não é uma construção
psicológica ou um conceito religioso. O nível de delidade que você tem ao seu
dharma afetará diretamente como você se sente diariamente. Ser el a si
mesmo signi ca agir de acordo com seu dharma. Assim, quanto mais você
pode se a nar com seu dharma, mais você pode agir com base no seu dharma e
mais você se sentirá satisfeito, completo, real e feliz. Quanto mais dhármico for
o seu comportamento, mais você se sentirá satisfeito com quem você é agora.
Por m, quanto mais dhármica for a sua vida, mais você poderá recapitulá-la
com alegria e com um sentimento de realização.

Estar na Zona

Mindfulness e dharma andam lado a lado. Dharma é algo tão natural que o
que você precisa para estar cada vez mais a nado com ele é remover o que não
é natural, em especial egoísmo, medo e cobiça. Outra maneira de dizer o
mesmo é que, se você for vítima de sua lista de felicidades condicionais, ou
simplesmente carecer de consciência su ciente de suas ações, você não
conseguirá ver o seu dharma. O foco perfeito no aqui e agora é centrar-se no
seu dharma e colocar toda a sua atenção em realizar seu dharma no máximo de
sua capacidade. Isso, por si só, trará uma felicidade imediata e sustentável. Você
já experimentou isso muitas e muitas vezes. Você talvez se lembre de muitos
momentos em que você se focou totalmente em fazer algo que era seu dever,
sem qualquer consideração em relação a si mesmo ou a recompensas futuras ou
mesmo a perigos. Pais, em especial mães com bebês, experimentam isso com
frequência. Essa experiência é chamada de “estar na zona”. A psicologia positiva
(o ramo da psicologia que estuda o que torna as pessoas felizes) aponta “estar
na zona” como um dos pilares primários de uma vida feliz. Estar focado na
ação implica, necessariamente, não estar focado nos sacrifícios ou benefícios
materiais que a ação possa suscitar no futuro. Estes dois são diretamente
opostos: focar-se no seu dharma aqui e agora, e ansiar por resultados futuros.
Este ponto é tão importante que Krishna não o menciona menos do que dez
vezes na Bhagavad-gita. Esta mudança de paradigma é a chave para um grande
salto de bem-estar.
CONCEITO-CHAVE DO MÉTODO 3T
A Mudança de Paradigma: Vida vs. Fantasia

A mente destreinada frequentemente se esforça


por encontrar soluções externas para a vida. Em um
processo interminável, a pessoa constantemente
busca ajustar a realidade externa para adequá-la a
seus desejos. Listas de felicidades condicionais são
sempre atualizadas. A mente destreinada, portanto, passa muito tempo no futuro,
no que chamo de “mundo de fantasia”, sonhando acordada com o que parece um
futuro melhor. Basicamente, esses desejos envolvem mudar o futuro de três
maneiras: 1) obtendo coisas (novo carro, telefone, casa, etc.), 2) fazendo pessoas
cooperarem com seus planos (como encontrando um esposo ou esposa, ou esperando
que o patrão trate você melhor), e 3) tendo a esperança de que situações favoráveis
surgirão (como obter um emprego, car em forma ou fechar um contrato). Como
dito anteriormente, é frequente que nada signi cativo aconteça quando alguém
atinge uma dessas metas. Desejos, uma vez realizados, frequentemente satisfazem
muito pouco, e logo outros desejos começam a exercer pressão e assumirem o centro
do palco da mente. Viver assim é um dos principais componentes para se ter uma
vida muito ruim. As razões para isso foram exploradas na seção Mindfulness.
Quando a mente está no futuro, desejando resultados futuros, ansiedades em relação
a consequências futuras são inevitáveis. Nessa situação, igualmente inevitável é a
frustração com a vida como ela é hoje, a ira quando surgem obstáculos que
aparentemente adiam a realização desses desejos, e o medo de que tudo termine
muito mal. Sejamos honestos: todos nós já tentamos viver assim, e simplesmente não
funciona. Nunca funcionou. Esse não é um caminho para se obter paz, satisfação e
felicidade.
Então, a mudança de paradigma é necessária. Em vez de focar no futuro, na
crença ilusória de que alguma combinação de realidade externa (estas coisas, com
aquelas pessoas, naquela situação) será a chave para a sua felicidade, o foco está em
simplesmente viver bem a vida, aqui e agora, centrado no seu dharma. Vida vs.

É
fantasia. A vida está acontecendo a todo momento. É um uxo, uma constante
corrente de eventos. O desa o é estar completamente presente conforme acontece. A
felicidade surge de cumprir o seu dharma bem, aqui e agora, indo de um dharma a
outro, ao longo do seu dia. Sendo a melhor pessoa que você pode ser hoje, neste
exato momento, sincero consigo. É simples assim. Não há necessidade (e,
francamente, pouquíssima utilidade) em car sonhando acordado com um futuro.
A realidade é mais bela do que qualquer sonho, se você simplesmente aprender a
acessar isso por completo. Eventos futuros se descortinarão sob a força todo-poderosa
do tempo. A vida, em sua maior parte, acontece de maneira muito diferente do que
qualquer coisa que você imaginou anteriormente. E isso não é algo ruim, nem algo
bom. Apenas é. Trata-se da realidade. Quanto mais conseguimos nos sintonizar
com a realidade, mais felizes camos. Em vez de imaginar que certa combinação de
coisas, pessoas e situações trará paz e felicidade para você no futuro, você deve
buscar paz e felicidade na vida como ela é, na bênção maravilhosa de estar ativo
em seu dharma, de estar vivo, agora mesmo.

Os Sete Dharmas

Listarei, agora, sete categorias básicas de dharma para ajudar em um melhor


entendimento do que é o dharma e como é fácil identi cá-lo. É claro que há
sutilezas, mas estas sete categorias maiores servem como forte diretriz.

1. Dharma Vocacional
O primeiro dharma, eu costumo dizer, é o mais difícil de todos, pelo menos
para a maior parte das pessoas. O primeiro dharma é o chamado de sua vida,
sua vocação. Nasce de sua natureza psicofísica. Algumas pessoas têm a bênção
de conhecer sua vocação ainda com pouca idade. Já vi isso pessoalmente no
caso de alguns dançarinos, artistas plásticos e atores com que me encontrei. São
comuns histórias de atletas que se destacaram tanto que seus parentes e
professores naturalmente os orientaram para se tornarem pro ssionais do
esporte. Há outros que têm um QI tão aguçado que naturalmente gravitam em
torno de trabalhos acadêmicos e cientí cos. Para a maioria, isso pode ser uma
batalha.
A razão para isso ser uma batalha é que a sociedade ensina às pessoas desde
tenra idade que o que elas realmente precisam é dinheiro, com metas
secundárias de estabilidade e respeito. Em outras palavras, quase todos
aprendem, desde o nascimento, a escolher o paradigma da fantasia. Em vez de
ensinarem as pessoas a fazerem aquilo em que são boas e ajudarem-nas a
desenvolverem suas inclinações e talentos únicos, o mais frequente é que os
pais, a cultura e o sistema escolar tratem as pessoas como folhas em branco,
dando-lhes uma educação que supostamente serve para todos e as encorajando
a fazer tanto dinheiro quanto possível.
Então, aqui estão algumas dicas para ajudar você a encontrar sua vocação.
Lembre-se de que nunca é tarde demais.
1) Quando estiver meditando sobre o que você gostaria de fazer, remova de
sua equação qualquer fator externo. A questão é quem você é, e não
preocupações práticas.
2) Esqueça o dinheiro. Não pense: “Ah! Não posso trabalhar com arte
porque isso não pagará minhas contas”, “Não posso cursar Filoso a porque que
tipo de emprego eu conseguiria?” Remova tais considerações da mente. Uma
maneira de fazer isso é pensar: “Se eu ganhasse na loteria, eu gostaria de
trabalhar com...”
3) Esqueça a pressão social e o orgulho. Não se trata do que seus pais
querem que você faça. Se você não se atrai pela vida militar, não faz diferença
se existem cinco gerações contínuas de militares na sua família. Não se trata de
status social também. Talvez a sociedade não aprecie um porteiro ou garçom,
mas são pro ssões perfeitamente nobres. Quem possui a natureza psicofísica
para o ofício de porteiro e está fazendo isso está muito melhor situado do que
alguém exercendo a pro ssão de advogado apesar de ter a natureza psicofísica,
na verdade, para a ocupação de musicista. O porteiro pode facilmente
encontrar paz e felicidade em seu trabalho, enquanto o advogado sempre se
sentirá frustrado e não realizado.
4) Não pense apenas no que você gostaria de fazer. Você talvez goste de fazer
muitas coisas. Em vez disso, pense no que é aquela atividade especí ca que
você não consegue car sem. Tente pensar qual é o tipo dominante de
atividade para a qual você é naturalmente atraído.
5) Uma nota para professores: professores têm uma vocação dupla.
Primeiramente, têm de aceitar que nasceram para ensinar e, em seguida, têm
que encontrar a temática de ensino para a qual têm maior inclinação.
Encontrar sua vocação envolve quem você é agora e é algo que está ali para
ser descoberto, de modo que há ferramentas e processos que você pode usar
para ajudá-lo quanto a isso, incluindo: testes vocacionais, conversar com
pessoas que são próximas a você e até mesmo astrologia védica. O melhor a
fazer é apenas olhar seriamente para dentro do próprio coração e sentir sua
natureza. Passe algum tempo sozinho, em silêncio, e re ita demoradamente.
Seja corajoso e esteja disposto a aceitar sua verdadeira natureza. Não se traia.
Não deixe o medo do futuro parar você.
Encontrar sua natureza é essencial. Passar suas horas de trabalho fazendo
algo não adequado à sua natureza psicofísica desgastará suas chances de
felicidade. É uma ofensa à sua pessoa. É como manter seu verdadeiro eu
trancado em algum lugar distante.

2. Dharma Natural
Krishna explica na Bhagavad-gita que, entre outras coisas, um yogi tem que
satisfazer três necessidades naturais: 1) dormir, 2) comer e 3) recrear. Chamo
isso de nosso dharma natural, porque se tratam de necessidades naturais
centrais do corpo e da mente. Krishna enfatiza que não se deve comer ou
dormir em excesso nem comer ou dormir menos do que o necessário. Quanto
é “em excesso”? Bem, o que seja em excesso para você. Somos todos diferentes.
E, em diferentes momentos de sua vida, o que é demais ou insu ciente para
você irá variar. Portanto, você tem que encontrar o seu equilíbrio. Viver o seu
dharma é, precisamente, ter equilíbrio, sabendo quando mudar de um dharma
para outro, em seu limitado dia de 24 horas. O dharma natural signi ca que
você tem que levar a sério, como um dever, como parte de sua essência, os atos
simples de comer, dormir e recrear.
Você tem que reservar um tempo para comer, para valorizar esse momento.
Comer não deve ser empurrar comida para dentro da boca enquanto se faz um
milhão de outras coisas. Não deve ser algo corrido. É algo que deve ser tratado
como um dever sagrado. Um tempo para pensar sobre suas escolhas
É
alimentares, sobre o que você está colocando em sua boca. É o momento
crucial do dia em que você está reabastecendo o seu corpo. “Esta refeição é
compatível com quem eu sou? É realmente boa para mim? É boa para o
planeta?” São escolhas sérias, com consequências sérias. Em um mundo onde
as pessoas estão se matando e destruindo o planeta com más escolhas
alimentares, é fácil ver como tomarmos o ato de comer como um dos dharmas
fundamentais pode ser muito importante.
Dormir não é uma perda de tempo. É um componente essencial para sua
saúde mental e física. Falta de sono pode ter um impacto negativo tremendo
em sua saúde, e até mesmo matar, no caso de dormir ao volante ou em outra
situação similar. É seu dever fazer todos os arranjos necessários para dormir
bem e dormir o bastante. Dormir não deve ser algo que você faz quando não é
mais capaz de car de pé e algo que você interrompe porque é forçado a se
levantar para trabalhar. Como dormir o bastante é seu dharma, é seu dever,
você tem que organizar sua vida de forma que essa necessidade mental e
corpórea crucial seja acomodada. Ver o sono como seu dharma signi ca
também que, quando você vai para a cama, não deve estar pensando em outros
dharmas, como o trabalho. Você deve simplesmente dormir. Limpe sua mente e
esteja no aqui e agora de simplesmente dormir.
Ver a recreação como um dos seus dharmas signi ca que você pode dispersar
todo sentimento de culpa quando você consegue tempo para se divertir ou sair
de férias. Isso também signi ca que você deve reservar um tempo para se
divertir e sair de férias. Alguém que trabalha demais e não se diverte nada acaba
se tornando alguém muito carrancudo... e pouco dhármico também. Eu,
pessoalmente, acho fascinante e confortador que um texto clássico como a
Bhagavad-gita, descrevendo o que é preciso para se iluminar, mencione a
importância da recreação.

3. Dharma Ocupacional
Independente de se você encontrou sua verdadeira natureza, quando você
aceita um emprego, gerencia seu próprio negócio ou se matricula em um
programa de estudo de horário integral, você aceitou um grande dharma.
Chamo isso de dharma ocupacional. É, em geral, o que mais exige horas do seu
dia, em virtude do que é muito importante que você veja seu trabalho ou
estudo como um dharma, e não como um fardo ou imposição externa.
Porque é um dharma, você não deve aceitar um trabalho que cause dor e
destruição desumana. A expressão de sua vida, por exemplo, não pode ser
ajudar a causar câncer e vícios em milhões de pessoas, roubar ou utilizar
indevidamente recursos públicos, destruir a economia, tirar o dinheiro de
outras pessoas através de mentiras, matar animais inocentes ou contribuir para
a destruição do planeta. Não pode haver felicidade nisso, e nenhum argumento
deve conseguir convencer você da necessidade de aceitar uma ocupação tão
degradante como essas exempli cadas.
Ver seu trabalho como dharma signi ca aplicar o mesmo princípio de
mindfulness para as muitas ações que o circundam. Isso quer dizer que você
jamais deve ver seu trabalho ou estudo como um meio para um m. O
trabalho jamais deve se destinar a ganhar dinheiro, e seus estudos jamais devem
ter por nalidade conseguir um diploma para conseguir um emprego. Esse tipo
de pensamento torturará você e tornará seus dias longos e sofridos. Em vez
disso, cada atividade para a qual você é convocado deve ser feita tão bem
quanto você seja capaz, com tanto de sua atenção dedicada a isso quanto
possível. O foco deve ser a ação em si, não o dia como um todo, nem a
carreira, nem o salário ou outra meta no futuro.
Se você está se sentindo estressado no seu trabalho, é um sinal bem claro de
que sua mente está fora de controle. Estresse é um indicador de que você ou
está ansiando por algum futuro positivo ou está temendo algum acontecimento
negativo. Em outras palavras, sua mente o está arrastando para o futuro e o
enlouquecendo. Então, traga seu foco de volta para uma ação por vez. Se é
hora de se sentar em uma reunião ou sala de aula, esteja ali, presente, sendo a
melhor pessoa que você pode ser naquele momento. Se é hora de preparar uma
apresentação, para vender papel ou qualquer outra coisa, então faça isso
somente, faça o melhor que pode fazer e não que se desgastando com
pensamentos do que virá depois, não que percorrendo as postagens de redes
sociais ou respondendo a e-mails. Mantenha sua completa atenção em uma
coisa de cada vez.
Seu dharma ocupacional é um excelente teste para seu desenvolvimento
pessoal e amadurecimento no mindfulness. As múltiplas demandas de dirigir
um negócio, manter um emprego ou obter um diploma testarão suas
habilidades de manter sua mente focada no aqui e agora, em fazer o que é
necessário com sua atenção plena e presença igualmente plena. Você será
constantemente testado em sua habilidade de distinguir entre planejar e
fantasiar. Quando se acostumar a isso, porém, você adorará. Chega um lindo
momento em que você nalmente compreende a diferença entre tentar uma
venda por causa de uma boni cação, e tentar uma venda porque isso é a
expressão de quem você é naquele momento. A diferença é entre dar o seu
melhor porque você acha que terá alguma recompensa futura, e dar o seu
melhor porque isso é como você pode maximizar sua experiência aqui e agora.
Quando você está fazendo isso por alguma recompensa futura, você
experimentará ansiedade ao longo de todo o processo, ira caso fracasse,
frustração caso haja obstáculos ou seja menos do que o esperado, e você não
estará completamente presente. Quando você está dando o seu melhor como
expressão do seu dharma, de quem você é, você se sente maravilhoso do
começo ao m, você está completamente presente na ação e você aceita o
resultado que venha com naturalidade, independente de qual seja.

Excesso de Trabalho?

Um alerta: dharmas ocupacionais são muito fascinantes, diante do que é


muitíssimo comum, hoje em dia, vermos pessoas dando atenção
desproporcional a esse dharma, em detrimento dos demais. Estou apresentando
aqui uma lista de sete categorias de dharma, mas temos apenas 24 horas em um
dia. É importante balanceá-los devidamente – nem em excesso, nem pouco
demais. Porque as pessoas são movidas por desejos futuros, e porque o trabalho
oferece a mais cobiçada dessas ilusórias recompensas futuras, o dinheiro, as
pessoas facilmente caem na armadilha de investirem demais do seu tempo em
trabalho. Dissemos como essa mentalidade é ilusória e não se converte em
felicidade, e isso certamente se aplica à falsa ideia de que status e dinheiro
trarão felicidade para você, em oposição a viver bem sua vida aqui e agora. Ver
seu trabalho como seu dharma deve ajudar você a melhor estabelecer os limites
da in uência do mesmo em sua vida. O mundo como um todo precisa
recalibrar seu foco intenso no trabalho e voltar mais atenção para outros
dharmas de importância fundamental.
Em relação a isso, gosto da história que teve grandes repercussões em 2014,
de Mohamed El-Erian, que foi CEO da PIMCO, uma das maiores gestoras de
investimento do mundo. Ele administrou um dos maiores fundos do mundo,
sendo responsável por US$2 trilhões. Ele pediu demissão depois que sua lha
de dez anos lhe deu uma carta listando vinte e dois eventos importantes na
vida dela que ele perdera por causa do trabalho. No ano antes de ele se demitir,
ele recebera mais de US$100 milhões. Depois de deixar o emprego, passou a
revezar com sua esposa o preparo do desjejum da lha. Então, apesar de fazer
literalmente uma fortuna e ter atingido o auge do prestígio no seu ramo, ele
sentiu a profunda desarmonia dhármica que ele estava vivendo, e isso o estava
deprimindo. Com inteligência, ele abordou o problema e buscou o equilíbrio
necessário para experimentar felicidade e paz.

4. Dharma Pessoal
Toda relação pessoal cria uma demanda dhármica. A qualidade e o tipo de
relação determina “o peso” das demandas dhármicas ou, em outras palavras,
quanto do seu tempo você tem que investir na relação e o quanto de
responsabilidade existe no seu papel nesse relacionamento. Mães e pais têm a
maior demanda de todas. O dharma de criar os lhos é seríssimo. Donos de
animais de estimação também assumem um dharma similar ao de maternidade
e paternidade em relação aos seus companheiros animais. O dharma de ser
lho ou lha é o segundo mais importante, mas não se compara ao de ser mãe
e pai. Amigos muito próximos também criam laços dhármicos. Existem
variados níveis de responsabilidade com outros membros familiares, irmãos,
vizinhos, colegas de trabalho, etc.
Ver toda relação pessoal como dharma, como parte de uma de nição de
quem somos, como um dever sagrado, signi ca que você tem que ir além do
egoísmo e da preguiça. Você tem que estar ciente dessa relação e sentir o que é
preciso para honrá-la, para apreciá-la. Também signi ca que você quer estar
completamente presente quando lida com a pessoa. Se é o momento de dar um
telefonema para exercitar seu dharma pessoal com sua esposa, esteja
completamente presente, exercendo tanta conexão e tanto amor quanto você
seja capaz. Se é hora de passar algum tempo brincando e educando seus lhos,
esteja ali por completo. Se entregue a isso. Não deixe sua mente arrastar você
para pensamentos referentes ao trabalho. Não dê atenção para sua mente lhe
dizendo que, em vez de brincar com um barquinho barulhento, ela preferiria
estar malhando na academia ou lendo um livro em um ambiente tranquilo.
O dharma pessoal possui uma importância enorme. Como vimos na
história de Mohamed El-Erian, se você não der tempo e energia su cientes
para seus relacionamentos pessoais, você está fadado a sofrer, independente do
que mais você acredite estar obtendo. Você tem que ter a sensibilidade de
perceber o que cada relacionamento exige de você e estar pronto para cumprir
essa responsabilidade com plena atenção, dando o seu melhor.

5. Dharma Comunitário
Você é parte de uma comunidade, residente de uma cidade e estado, e
cidadão de um país. Isso signi ca que você tem benefícios e responsabilidades
compartilhados. Espera-se que o governo providencie estradas, iluminação
pública, eletricidade, água, proteção contra criminosos e invasores estrangeiros,
etc., e, em troca, pelo menos, você tem que pagar seus impostos e obedecer às
leis. Ainda melhor, você deve ver seu dharma comunitário como um chamado
para tornar sua vida melhor para aqueles que vivem em seu entorno. Você pode
ajudar com ideias ou com serviço voluntário? Você pode se engajar na exigência
de melhores direitos civis, melhores serviços públicos? Você pode ajudar
aprimorando a escola dos seus lhos? Não podemos, todos nós, pensar que isso
é problema dos outros. Onde há um crescimento dessa tendência de pensar
que outra pessoa deveria se preocupar com o bem público, ali encontraremos
políticos corruptos e péssimos serviços governamentais. Assim, de um lado,
devemos ser ao menos membros conscientes de nossa comunidade, pagando
nossos tributos e seguindo as leis, e, por outro lado, devemos participar
ativamente no aprimoramento da sociedade.

6. Dharma Universal
O dharma comunitário possui um foco mais imediato na comunidade e no
país em que você vive. Contudo, estamos todos interconectados. Não apenas
compartilhamos de uma conexão natural com aqueles da nossa espécie, mas
também uma conexão com todos os habitantes do planeta Terra. Essa conexão
nos de ne, é parte de quem somos, diante do que é parte do nosso dharma
como um todo. Chamo isso de nosso “dharma universal”. Conforme você
evolui, naturalmente você se torna mais e mais a nado com o mundo ao seu
redor, sensível ao que está acontecendo. Uma pessoa espiritualmente madura
não é indiferente à destruição do planeta e ao sofrimento de outros, e assume a
parte que lhe cabe para tornar o mundo um lugar melhor. Isso se chama
compaixão.
Alguns exemplos de prática desse dharma universal são: 1) fazer o melhor
para ser ecológico, 2) ser um consumidor consciente, 3) fazer sua parte em
uma emergência, acidente ou desastre natural e 4) buscar saber se você pode
ajudar quando há sofrimento em grande escala em nações distantes.

7. Dharma Espiritual
Por último, mas certamente não menos importante, está a categoria do
dharma espiritual. Seu eu espiritual é a de nição última de quem você é, sua
essência no sentido último da palavra. Mesmo se, neste ponto, você não “assina
embaixo” da ideia de ser mais do que este corpo, você ainda pode compreender
o dharma espiritual como seu dever de ser a melhor pessoa possível, de ser
completamente justo consigo mesmo. Com o tempo, uma vez que você
entenda que você só pode se de nir perfeitamente quando entenda sua relação
com Deus, então, como parte de sua essência mais íntima, como a de nição
central de si mesmo, você gozará alegremente dessa conexão, chamada devoção,
como a parte mais profunda do seu dharma espiritual. Exercitar seu dharma
espiritual é assumir seriamente a responsabilidade de aprimorar-se e de
conhecer-se. É dedicar tempo a praticar o Método 3T todos os dias e se
esforçar para sempre praticar os cinco campos de perfeição do Caminho 3T.

O Dia Dhármico

Na perspectiva do Caminho 3T, seu dia é uma colcha de retalhos de


dharmas. De um dharma a outro, do momento em que você acorda até o
momento em que você se deita para dormir. Não há brechas. Uma vida
balanceada, nessa de nição, é uma vida em que você dividiu apropriadamente
seu tempo e sua energia limitados para todos os seus diferentes dharmas.
Alguns dharmas têm demandas estabelecidas. Por exemplo, você tem que estar
no trabalho por um tempo especí co. Você tem que meditar pelo menos vinte
minutos no começo do dia. Você tem que levar seus lhos para a escola em um
horário bem especí co e você tem que lhes dar atenção todos os dias. Seu
corpo precisa de certa quantidade de sono e comida diariamente. Outros
dharmas são mais exíveis. Você tem que limpar sua casa, mas você pode
decidir quando fazer isso. E alguns dharmas certamente não precisam ser
incluídos em sua rotina diária, como recreação e dar atenção a seus parentes,
alguns amigos e outros membros familiares. Você também pode realizar
múltiplos dharmas de uma vez. Por exemplo, enquanto leva seus lhos para a
escola ou se dirige para o trabalho, você pode exercitar seu dharma espiritual de
cultivar conhecimento através de um audiobook, ou lendo um livro impresso
ou em um e-reader se você não está dirigindo. Outro exemplo é o de seu
dharma universal de ter consciência ecológica como sendo parte de suas
decisões e de seu estilo de vida, e seu dharma comunitário na maneira como
você obedece às leis conforme segue sua vida.

Mudança de Dharma e Mindfulness

Foco no dharma é uma ótima maneira de checar se você está praticando o


mindfulness; em outras palavras, se você está realmente focado no aqui e agora.
Por exemplo, você está se divertindo com um passeio de bicicleta e um pneu
estoura, ou você está trabalhando e recebe uma ligação e toma conhecimento
de uma emergência familiar com a qual você tem que lidar. A tendência natural
é você se perturbar. Quando isso acontece, simplesmente pare. Respire fundo
algumas vezes. O que acabou de acontecer foi uma mudança de dharma. Você
estava contente no seu dharma de recreação, andando de bicicleta, então, de
repente, isso mudou para o dharma de arrumar a bicicleta. Você estava absorto
no seu dharma ocupacional, trabalhando no computador, mas, então, você foi
forçado a interromper isso para lidar com um dharma pessoal. Não se perturbe.
Apenas entenda que aconteceu uma mudança de dharma. Se xe no novo
dharma, xe sua mente nele, aqui e agora. Viva bem o novo momento. Não
resista ao uxo da vida e às demandas dhármicas sempre em mutação, que
podem vir em momentos muito inesperados.
Antes de fazer qualquer coisa, certi que-se, primeiramente, que é seu
dharma fazer isso. Algumas vezes, surgem em nossa mente ideias sem sentido
que é melhor não executarmos. Outras vezes, alguém talvez queira pressioná-lo
a fazer algo que é contra o seu dharma. Então, primeiro cheque e, então, seja
rme o bastante para dizer não a você mesmo ou a outros caso a ação em
questão não seja o seu dharma. Se é, entretanto, se xe nisso, apesar de algum
apego por fazer outra coisa, preguiça ou mesmo medo. Se é o seu dever, seu
dharma, simplesmente faça, com sua mente inteiramente centrada nisso. Não
permita que sua mente torture você. Não faça uma coisa desejando fazer outra.
Se você tem que fazer algo, se é parte do seu dharma, realmente se entregue a
isso, mesmo caso não estivesse nos seus planos ou mesmo caso não se sinta apto
para isso. O resultado será que você mais uma vez se sentirá harmônico e em
paz.

Dharma como um Guia e um Caminho para Simpli car a Vida

Conforme você desenvolva sua sensibilidade às demandas dhármicas do


momento, saber o que fazer de um momento a outro se torna tão claro e fácil
quanto trafegar por uma rodovia. À medida que você desenvolve essa
habilidade, você terá a clareza de conhecer qual é a melhor coisa para se fazer
agora, e terá, portanto, a determinação natural, nascida de estar livre de
dúvidas, para se xar completamente nisso. Isso permite que você aproveite ao
máximo cada dia, aproveite ao máximo cada ato, absorto em mindfulness,
sendo o melhor que você pode ser.
O dharma também ajudará você a se aliviar do estresse de múltiplas
demandas, seja no trabalho, seja em casa ou, ainda pior, por múltiplos desejos.
Dharma é sinônimo de uma ação principal por vez. Desejos são ilimitados, e,
se você permitir isso, clientes, membros familiares, colegas e seu patrão irão
amontar em cima de você uma lista in ndável de demandas. Todavia, uma vez
que você que con ante no exercício de identi car seu dharma, de priorizar
suas ações de acordo com seu dharma, você terá a paz de fazer uma coisa de
cada vez, com sua mente focada nessa única ação. Nunca é seu dharma fazer
mais do que você consegue – somente fazer o melhor que você pode.
Se o seu patrão lhe der dez horas de trabalho para o seu expediente de oito
horas, isso é problema dele, não seu. Você deve estar ciente de que, caso você
trabalhe em excesso, você cará sem tempo para seu dharma natural e para seu
dharma pessoal, por exemplo. Se a sua empresa não é capaz de apreciar um
trabalhador equilibrado e feliz, que está em harmonia consigo e que tem a
habilidade de colocar-se por inteiro em cada atividade, isso é um erro deles.
Você não precisa se corromper para se adequar à agenda corrupta de empresas
gananciosas.
Focar-se no seu dharma conduz ao desenvolvimento de simplicidade, que é
uma qualidade maravilhosa. Quanto mais você foca naquilo que você tem que
fazer, na expressão de si mesmo, você naturalmente se interessa menos em criar
demandas desnecessárias em sua vida ou em comprar coisas que você não
precisa. Você desejará comprar apenas coisas que ajudem na realização do seu
dharma e nada mais. Viver essa mudança de paradigma de se centrar no seu
dharma signi ca que você dedica cada vez menos atenção aos desejos
caprichosos e planos ilusórios e extravagantes para a felicidade. Simplesmente
viver seu dharma em mindfulness é algo tão completo e recompensador que
você não sente mais a necessidade de buscar felicidade em comprar coisas que
você não precisa. Conforme você desenvolva uma crescente sensibilidade em
relação ao seu dharma, você não precisará buscar coisas para ocupar seu tempo.
Você saberá o que fazer de um momento ao outro, e você valorizará ter tanta
liberdade quanto possível para exercer os seus dharmas com toda a sua atenção.
Você entenderá que tempo é a posse mais valiosa. Quanto mais demandas você
conseguir remover do seu cronograma, mais paz você experimentará em relação
a ser capaz de focar em seus dharmas centrais. Casas menores signi cam menos
manutenção e menos tempo gasto com limpeza. Menos roupas signi cam
guarda-roupas menores. Andar de bicicleta ou usar o transporte público, em
vez de dirigir, signi ca menos tempo cuidando do carro. Viver perto do
trabalho signi ca menos tempo no trânsito. Qualquer coisa que você possa
fazer para simpli car sua vida resultará em mais paz e, então, mais felicidade.
Essa simplicidade é priorizar o seu verdadeiro eu.

Os Sete Dharmas e os Sete Chakras

As sete categorias de dharmas correlacionam-se com os seus sete chakras. Na


tradição do yoga, é dito que a energia circula pelo seu corpo. Esse sistema
chama essa energia que circula de “prana”, que, na verdade, signi ca “ar”. Os
chakras são centros dessa energia uente. Na minha experiência, você não
precisa se preocupar com o uxo dessa energia como um esforço separado.
Quanto mais você se trabalha, quanto mais sua mente ca clara e devidamente
focada, quanto mais você faz escolhas de estilo de vida com base em sabedoria e
dharma, mais saudável você será. Estar física e mentalmente saudável signi ca
que suas energias estão uindo bem e que seus chakras estão em equilíbrio.
Aqui estão os sete chakras, seus nomes sânscritos e como se relacionam com os
sete dharmas.
1. Chakra raiz (muladhara) – dharma vocacional. Sua vocação é a raiz de
quem você é, formando a base de sua contribuição nesta vida.
2. Chakra do sacro (svadhisthana) – dharma natural. Este chakra
representa seu bem-estar físico. Seu dharma natural é a chave para seu
bem-estar físico.
3. Chakra do plexo solar (manipura) – dharma ocupacional. Este chakra
representa seu poder e determinação. Seu trabalho é a expressão mais
visível de seu poder pessoal.
4. Chakra cardíaco (anahata) – dharma pessoal. Este chakra é associado
ao amor e aos relacionamentos, de modo que representa
perfeitamente nosso dharma pessoal.
5. Chakra da garganta (vishudha) – dharma comunitário. Este chakra tem
associação com a autoexpressão e comunicação, com sua voz. O
princípio básico da vida em comunidade é que cada pessoa tem voz
para expressar seus interesses e necessidades, a m de que, juntos, a
comunidade possa concordar com regras e metas em que se basearem.
6. Chakra da terceira visão (ajna) – dharma universal. Este chakra
representa sabedoria e intuição. O dharma universal representa o
comportamento daqueles que são sábios e compassivos, que
conseguem ser sensíveis às necessidades até mesmo daqueles que
vivem muito longe.

7. Chakra da coroa (sahasrara) – dharma espiritual. Este chakra é ligado à


espiritualidade, em razão do que representa perfeitamente o dharma
espiritual.

Paz Interior

O terceiro campo de perfeição do Caminho 3T é a paz interior, e isso se


refere à habilidade de criar harmonia e equilíbrio interno por estar ciente de
suas emoções, motivações e desejos e por estar com os mesmos sob controle. O
tipo de emoção que você está experimentando afeta sua paz interior.
Negatividade em geral e emoções ruins, tais como ira, frustração, depressão,
vergonha e desespero, impedem que você experimente paz interior. Motivar-se
por ganância, ciúmes, inveja, luxúria, etc. e cultivar desejos por ganho material
e reconhecimento também impedem que você consiga paz interior, tirando
você do aqui e agora e fortalecendo seu paradigma da fantasia. Pelo cultivo
meticuloso de positividade e boas emoções, tais como empatia, entusiasmo,
alegria e gratidão; por se motivar com gentileza e sabedoria, e por desejar
crescimento e bem-estar, você pode manter um estado de paz interior.
Meditação é um componente-chave para se obter um estado de paz interior e é
uma prática que deve ser realizada diariamente como parte do Método 3T,
encontrado no m deste livro.
Primeiros Passos

Conforme você pratica mindfulness, você se torna ciente de sua mente.


Conforme você se acostuma a observar sua mente, você desenvolve uma
percepção de suas emoções, motivações e desejos. Quando você experimenta
um sentimento, seja ele júbilo, contentamento, ira ou ciúmes, você deve
investigar mais a fundo. “Por que estou sentindo isso?” Até mesmo sentimentos
positivos podem se basear em princípios negativos. Por exemplo, você pode
estar se sentindo entusiasmado porque você acabou de atualizar sua lista de
felicidade condicional e está sentindo aquele ímpeto de expectativas futuras
ilusórias. Nesse caso, quanto mais cedo você interromper a fantasia e trazer seu
foco de volta para o aqui e o agora, para o seu dharma, melhor. E se é negativo
– digamos, ira –, certamente merece uma investigação aprofundada. “Por que
estou irado?” Provavelmente porque aconteceu algo para despedaçar sua ilusão
de que a felicidade depende de alguma situação externa. Talvez você tenha
pensado que sua felicidade dependia de todos tratarem você muito bem, e
alguém decidiu ser rude com você ou enganá-lo.
O primeiro passo é simplesmente estar ciente. Você não deve viver apenas a
emoção. Você deve observá-la, compreendê-la e encontrar sua verdadeira causa.
Acostume-se a rastrear suas emoções. Então, tanto quanto você possa, vá a
fundo em busca do que as está causando. Rastreie o que está motivando você.
Por que você está fazendo determinada coisa? Por que você está dizendo
determinadas palavras? Idealmente, você deve se motivar pelo dharma, mas é
isso que está acontecendo? Você está agindo pelo desejo de recompensas
futuras, caindo na armadilha do paradigma da fantasia? Ou pior, está agindo
pelo ímpeto criado por emoções negativas, como raiva, inveja, desonestidade,
ganância ou luxúria?
É uma experiência incrível aprender mais sobre si mesmo. Estar ciente do
que move você. É claro que a maioria das pessoas tem muito medo disso
também. Mas você não precisa temer. Você não é tão ruim assim. Em todo
caso, como você poderia ser feliz sem saber quem você realmente é? Como você
quer encontrar a verdade, quando você não quer aprender a verdade sobre suas
próprias ações e seus próprios sentimentos? Então, não seja preguiçoso, não
tenha medo. Olhe para dentro e comece a tomar as rédeas de suas emoções,
desejos e motivações.

Removendo as Ervas Daninhas

À medida que você avança, você pode começar a assumir cada vez mais o
controle. Você pode se tornar o jardineiro do jardim de sua psicologia. Você
pode lentamente podar emoções, desejos e motivações que sejam negativos e
destrutivos. Você pode encorajar o crescimento de pensamentos positivos e
emoções amorosas. Você pode reforçar seu foco e apreciação por agir em sua
verdadeira natureza, no seu dharma.
E por que você deveria fazer isso? Pela simples razão de que o verdadeiro
você não tem nenhuma ligação com egoísmo, cobiça, luxúria, cólera, ciúmes,
inveja, loucura e temor. Tais coisas são as ervas daninhas. Elas trazem
sofrimento para você e sofrimento para o próximo. Neste caminho, você está
procurando pelo verdadeiro você, e você quer viver a vida como uma expressão
divina do verdadeiro eu. Na tradição do yoga, é dito que essas são as coberturas
da alma. Usamos o termo “anartha nivritti”, que, traduzido literalmente,
signi ca: “pegar o caminho que dá as costas para o imprestável”.
Quanto mais você é auto-observador, mais você consegue se encarregar
dessas in uências indesejáveis antes que afetem suas palavras ou ações, assim
como um bom jardineiro removerá as ervas daninhas antes que mudem a
aparência do jardim.
À proporção que você experimente a alegria de reduzir ou bloquear essas
emoções negativas, dando espaço para o seu verdadeiro eu, estados mentais
recompensadores e positivos surgirão e você se sentirá cada vez mais em
harmonia e em paz.

Levando o Lixo para Fora

Uma vez que você consiga um nível de domínio sobre suas emoções, desejos
e motivações atuais, você pode, pouco a pouco, buscar antigas experiências e
velhos sentimentos que estão pedindo por sua atenção, os quais estejam
afetando negativamente quem você é e como você se comporta hoje. A vida é
uma bagunça, e tendemos a acumular lixo emocional em nosso inconsciente.
Infelizmente, esse lixo não vai embora por conta própria. Ele permanecerá lá,
apodrecendo bem dentro de você. Se for algo signi cativo o bastante, pode
afetar seriamente a maneira como você se comporta no momento. Pode estar
afetando sua relação com sua esposa ou com seus lhos, ou com seus pais. Pode
estar afetando o seu trabalho. Muitas pessoas estão convencidas de que
questões emocionais antigas podem causar doenças e se curaram de doenças
graves ao se libertarem das emoções em questão. E do ponto de vista da
autorrealização, se você se mantém apegado a algum trauma emocional antigo,
parte de sua identidade cará presa a essa versão traumatizada de si mesmo, e
você não conseguirá crescer.
Aprendi que, por simplesmente ser sincero comigo e por observar minhas
emoções, posso encontrar questões emocionais antigas e arraigadas, com as
quais preciso lidar. Essas questões deixam rastros que você pode seguir. Por
exemplo, você pode car ansioso ou experimentar outros sentimentos negativos
quando lida com determinado membro familiar ou em certas situações
especí cas. E você nota que isso vem à tona repetidamente, de tempos em
tempos. Considere que isso é a primeira pista em sua investigação do mistério.
Seja absolutamente honesto com você mesmo. É seu espaço interno pessoal –
não é preciso esconder algo. Admita todas as suas falhas e de ciências, mas
também seja corajoso o bastante para admitir falhas e de ciências naqueles
com quem você tem uma grande dívida de gratidão, como seus pais. Nossos
problemas emocionais profundos são, com frequência, com aqueles mais
próximos de nós e mais importantes em nossa vida. Os pais, os lhos, o esposo
ou esposa, ex-marido ou ex-mulher, irmãos e assim por diante. Algumas vezes,
você foi o culpado. Você se comportou de uma maneira vergonhosa e você
precisa aceitar isso e, possivelmente, reti car a situação. Algumas vezes, você foi
“a vítima”, e você tem que superar isso, perdoar, esquecer e parar de se sentir
uma vítima.
É claro que há milhares de terapeutas e terapias por aí que podem ajudar
você nesse processo também, caso você sinta que são coisas demais para você
sozinho. Recomendo que você abandone qualquer preconceito em relação a
buscar pela ajuda de pro ssionais da esfera de saúde mental. Assim como você
não se constrange ao buscar por um médico quando você tem dor no joelho,
você não deve pensar duas vezes antes de buscar aconselhamento pro ssional
para ter uma saúde emocional melhor. Não existe absolutamente vergonha
alguma em buscar por auxílio pro ssional.
É engraçado como essas emoções trabalham como armadilhas ocultas. Em
geral, tudo o que você precisa para se proteger contra elas é descobri-las.
Apenas jorre a luz de sua consciência sobre elas. Apenas aceite que estão ali e
jogue fora. Estar ciente delas é, com frequência, tudo do que se precisa. Por
fazer isso, a emoção perde o poder de afetar você em segredo, em seu
inconsciente. Algumas vezes, ela ainda pode afetar você por algum tempo, mas,
uma vez que você está ciente de seu peso, você pode compensá-lo
conscientemente. Portanto, não tenha medo da sua sombra. Vá fundo, seja
corajoso e leve o lixo para fora.
Basicamente, o segredo é sempre reconhecer a emoção e deixá-la ir. Você
não deve nem ignorá-la nem enterrá-la, tampouco se identi car com ela ou se
apegar a ela. A vida é um uxo constante. As coisas vão e vêm. Se você
consegue lidar com suas emoções dessa maneira, você permanecerá
emocionalmente saudável.

Neurociência 101

Há desenvolvimentos empolgantes no ramo da neurociência con rmando


verdades espirituais antiquíssimas da tradição do yoga. A ciência agora está
provando a efetividade e o poder da meditação, do mindfulness e pensamento
positivo. Também está provando a própria base da tradição do yoga: que você
tem o poder incrível de mudar seu estado de consciência para aprimorar
imensamente sua vida.
O termo utilizado em neurociência para abordar essa habilidade que temos
de mudar é neuroplasticidade. Basicamente, o que isso signi ca é que seu
cérebro pode literalmente ser alterado. Eles gostam de usar o termo em inglês
“rewire”, que signi ca “refazer a ação”, porque o cérebro pode ser comparado
a um complexo sistema eletrônico, com informações uindo por toda parte,
em diferentes regiões do cérebro. Certas práticas simples, incluindo meditação,
mindfulness e algumas técnicas que apresentarei abaixo, mudam “a ação” do
cérebro. Parte da experiência de sentir de maneira diferente a partir de práticas
adaptadoras, como as recomendadas neste livro, é que seu cérebro literalmente
se torna diferente por causa delas. Em outras palavras, você pode aprimorar seu
cérebro para ter uma vida melhor.
O yoga sempre falou sobre essas mudanças por milhares de anos. Yogis
praticantes experimentaram isso e deram testemunhos sobre esse poder de
mudar. Ainda assim, é empolgante e encorajador ver a ciência, em sua
modalidade exata e rigorosa, provando isso. Eu, pessoalmente, considero que
essas descobertas no campo da neurociência ajudarão a promover o ancestral
caminho do yoga ao patamar que merece no mundo, como um sistema
avançado e incrivelmente poderoso para propiciar enorme bem-estar e
iluminação. Cada vez mais, cará claro para a humanidade como um todo que
não praticar essas técnicas é algo equivalente a deixar de escovar os dentes ou
deixar de passar o dental – uma falta de cuidado pessoal bizarra e imprópria,
com resultados detestáveis.

A Amídala e Seu Córtex

A neurociência também identi cou informações importantes sobre o que


faz cada parte do seu cérebro, um conhecimento que pode auxiliar você a lidar
com suas emoções mais negativas. Existe uma parte do seu cérebro chamada
córtex. Trata-se dessa grande parte enrugada, acinzentada e localizada no topo
da cabeça, que é a maior parte externa do cérebro. Seu pensamento consciente
e planejamento acontecem ali. Quando você está raciocinando, você está
usando essa parte do cérebro. Entre muitas outras partes, você tem duas
pequenas partes em forma de amêndoas chamadas “amídalas”. Simpli cando,
gosto de usar o termo “cérebro animal”. Acredito que isso ajuda a ver isso nesta
dicotomia: seu cérebro humano e racional e seu cérebro animal e irracional.
Não é uma simpli cação muito imprecisa: muitos animais, inclusive peixes,
possuem amídalas.
Seu cérebro animal o ajuda a sobreviver. Você provavelmente já ouviu falar
da resposta “luta ou fuga”. Quando em perigo, sua amídala ativa essa resposta,
preparando você para combater o perigo ou correr dele. Mais precisamente, há
uma terceira resposta automática, que é car paralisado (pense em veados ou
coelhos diante dos faróis de um carro). Tecnicamente, então, são três respostas
que podem partir da amídala. Aparentemente, em termos de “ ação bruta”,
temos que agradecer à amídala pelo medo. Em alguns casos bizarros de dano à
amídala, uma pessoa se torna completamente destemida, o que é muito
disfuncional.
Quando quer que você sinta seu coração disparar, sua pressão sanguínea
subir e adrenalina ser liberada no seu sistema, saiba que é sua amídala em ação.
É a parte animal do seu cérebro preparando-se para um enfrentamento ou para
uma fuga veloz. Ela está detectando algum grande perigo. Isso é magní co
quando de fato existe um grande perigo, como, digamos, uma cobra, um carro
vindo em sua direção, um cão agressivo que escapa ou um criminoso prestes a
assaltá-lo. O problema, entretanto, é que a amídala continua disparando dessa
maneira em situações modernas muito triviais, como uma apresentação para
clientes, uma reunião com o patrão, uma lha adolescente nervosa ou uma
conversa desagradável com seu pai ou com sua esposa. Você não precisa de um
batimento cardíaco acelerado e mais adrenalina e pressão sanguínea para essas
situações. Não é preciso luta ou fuga, nem car paralisado. Então, na maioria
das vezes, nos dias de hoje, a amídala está disparando em horas erradas, pelos
motivos errados.
E isso ainda pode piorar. Sua amídala tem o poder de superar seu córtex.
Você talvez tenha experimentado isso em sua vida. Você responde a uma
ameaça antes mesmo da chance de pensar sobre ela. Mais uma vez, isso é ótimo
quando existe um evento que ameaça sua vida, pois uma reação em uma fração
de segundo pode ser a diferença entre viver e morrer. Por outro lado, isso é
muito ruim quando o que está ativando sua amídala são eventos corriqueiros
no seu escritório ou em sua casa.
Ansiedade e ira podem sair de controle. Quando você se torna irracional em
virtude de ansiedade e ira, é sua amídala disparando e sobrepujando seu córtex.
É por isso que é inútil tentar apresentar lógica e argumentos para alguém
tomado de forte raiva, medo ou ansiedade. O córtex de uma pessoa nesse
momento está basicamente desligado, de modo que não há ninguém para
responder à racionalização. E, nessas situações, você não consegue nem mesmo
raciocinar consigo mesmo.
Outra característica fascinante (e potencialmente debilitadora) da amídala é
que ela possui uma memória própria, literalmente armazenando informações
em diferentes partes do seu cérebro à parte de suas memórias conscientes
regulares. A amídala registrará, de maneira mais ou menos aleatória, uma
sensação quando você tiver uma experiência traumática ou dolorosa. Então,
essa sensação, quando vem à tona mais uma vez, ativa a amídala, causando
ansiedade, batimento cardíaco acelerado, pressão sanguínea alta ou até mesmo
uma crise total de pânico. Catherine Pittman e Elizabeth Karle, em um livro[2]
sobre o assunto da amídala e como lidar com ansiedade, pânico e
preocupações, citam um exemplo clínico de uma mulher que, depois de ter
sido vítima de um estupro, experimentava fortes crises de ansiedade sempre
que sentia o cheiro do perfume que o estuprador estava usando. Outro
exemplo clínico citado foi de um veterano da guerra do Vietnã que, após
décadas afastado de combates, começou a ter fortes crises de ansiedade pela
manhã. Posteriormente, ele descobriu que sua esposa comprara a mesma marca
de sabonete que ele utilizava no Vietnã, e sua amídala estava respondendo a
isso por temor ao seu banho matinal.

Lidando com Ira, Medo Irracional, Preocupações e Ansiedade

Recomendo que, sempre que você sinta uma resposta siológica a emoções,
você rapidamente re ita sobre a situação. Basicamente, se você não está em
uma situação de luta ou fuga, ou está apenas se divertindo em alguma atividade
empolgante, você não quer que seu coração dispare, que haja uma descarga de
adrenalina, etc. Lidar com um cliente difícil ou colega problemático no
trabalho? De nitivamente não é a hora de perder o controle do seu córtex e se
preparar para uma luta ou uma fuga. Exasperar-se com um comportamento
ruim do seu lho? De nitivamente, não é a hora de se preparar para uma
batalha. Aguardando pelo resultado de uma prova ou a resposta de um cliente?
De nitivamente, há não nenhuma utilidade em subir a pressão sanguínea.
Você tem problemas com irritabilidade? Alguma vez perdeu o controle da
razão, fez algo sob in uência da raiva e, depois, se arrependeu? Sua amídala
assumiu o controle do seu córtex. É por isso que você não consegue acreditar
que fez algo tão estúpido. Na verdade, você não estava mais no controle.
Isso não signi ca, entretanto, que você não é responsável ou que você não
pode fazer algo em relação a isso.
O que você pode fazer é desarmar a bomba chamada amídala antes que ela
exploda. Conforme pratica a constante observação de seu estado mental, esteja
ciente dos sinais que indicam que sua amídala assumirá o controle. Tão logo
você experimente batimentos cardíacos acelerados e um aumento da pressão
sanguínea, tome medidas imediatas para dominar sua amídala.
Como você acalma uma amídala em completa atuação? A neurociência
demonstra que duas coisas são muito efetivas: respiração regular e lenta, e
relaxamento muscular.
Recomendo que você simplesmente faça uma pausa, pare de discutir, pare
de se preocupar, ou até mesmo saia da sala onde o problema está acontecendo.
E respire. Respire profunda e lentamente. Relaxe seus músculos, se solte. Deixe
seu corpo acalmar-se, deixe sua amídala saber que você não está enfrentando
um leão, senão que você está simplesmente lidando com assuntos de família ou
trabalho. Tire sua amídala da equação. E, graças à neuroplasticidade, você tem,
sim, o poder de refazer a ação do seu cérebro, ajustar a resposta de sua
amídala.
Esta informação pode ser incrivelmente poderosa. Basicamente, você pode e
deve estar em completo controle de suas faculdades, com batimentos cardíacos,
respiração e pressão sanguínea em cadência equilibrada em todos os momentos
fora da situação muito rara de perigo físico real. Se você está em uma situação
sem risco físico verdadeiro, você tem que respirar e relaxar seus músculos para
desativar conscientemente seu cérebro animal. Essa será a chave para superar
muitos momentos de ira, medo, preocupação e ansiedade, que podem ser
estados mentais muito desprazerosos e perturbadores.

Técnica Simples para se Tornar Positivo

Muito se fala sobre “ser positivo”. Obviamente, um estado mental positivo é


preferível a um estado mental negativo. Em um, você se sente feliz e
entusiasmado; no outro, deprimido ou ansioso. Algumas vezes, porém, pode
parecer um papo new age. Pode parecer arti cial simplesmente “se tornar”
positivo.
Bem, acontece que não é nada sem sentido. Trata-se de uma meta muito
real e alcançável, e existe uma técnica simples que realmente mudará o formato
do seu cérebro, o reorganizando para que seja mais positivo. Neuroplasticidade:
seu cérebro literalmente muda quando você muda sua perspectiva e seu
comportamento.
Aqui está uma técnica simples, comprovada pela neurociência e explicada
por Dr. Rick Hanson. Eu mesmo a pratiquei e a ensinei a outros com grandes
resultados. Ao longo do dia, você provavelmente encontrará coisas boas: um
belo nascer do Sol, um sentimento de satisfação enquanto está no chuveiro, o
prazer de uma boa noite de sono, um “bom dia” especialmente agradável, um
aroma prazeroso de uma padaria, um momento alegre com um amigo, com seu
esposo ou lho, sentar-se confortavelmente no carro, etc. Normalmente,
experimentamos essas coisas de maneira super cial e rápida e, então, mudamos
para outra coisa. Contudo, o segredo é realmente interiorizar a experiência,
fazer um esforço extra para registrá-la. Incrivelmente, tudo o que você precisa é
de cerca de vinte segundos de contemplação. Vinte segundos de deixar essa
experiência positiva “entranhar”. O termo diz tudo: “Entranhar”. Deixe que
entre fundo em sua consciência. Faça isso tanto quanto seja capaz. Quanto
mais o zer, mais se tornará natural. Esses momentos muito positivos se
acumulam e fazem de você mais positivo de maneira geral, literalmente
mudando o formato do seu cérebro.
Esse mesmo princípio pode ser utilizado para qualquer experiência positiva
de segurança, satisfação, aceitação, felicidade e paz. O segredo, como eu disse, é
a nar-se com esses sentimentos e, então, deixar que se entranhem em você.
Por absorver momentos positivos, você se torna mais positivo. Por se tornar
mais positivo, você absorve mais momentos positivos. Uma técnica simples e
bonita.

Querer e Desfrutar São Muito Diferentes

Querer é parte do paradigma da fantasia. Sim, existe algum prazer em


desejar; o prazer da expectativa de uma satisfação no futuro. Contudo, isso é
venenoso. Com esse prazer, vem o sofrimento. É como o ignorante prazer de se
embebedar. Com ele, vem uma ressaca e horas de comportamento tolo ou pior
do que isso. O querer levará sua mente para o futuro, o deixando agora com
um sentimento de incompletude, insatisfação e infelicidade. Quanto mais
intenso for o seu querer, mais você estará sujeito a ansiedades, temores e raiva.
Existe um ditado famoso, que poderá ajudá-lo a se situar: “Você não é mais
rico se você tem mais, mas se você quer menos”. Quanto menos você quer,
mais contente você está e mais paz você sente. Não querer não signi ca que
você não planeja. Planejar e buscar por coisas importantes é outra coisa. Você
pode planejar e viver o aqui e agora, focado no seu dharma. Você pode celebrar
coisas importantes aqui e agora. Estamos tão acostumados a querer a todo
momento que, algumas vezes, duvidamos que podemos viver sem isso.
Consideramos que a vida será vazia caso não estejamos sempre cheios de
desejos para o futuro. É como se tivéssemos nos viciado ao prazer barato de
querer, apesar de doloroso ao m. Contudo, quando nós gradualmente
modi camos nosso paradigma da fantasia para a realidade da vida, podemos
descobrir o verdadeiro prazer de desfrutar da vida agora mesmo. Um prazer
que não vem com efeitos colaterais.
Usando a técnica mencionada acima de deixar os bons momentos se
entranharem, você aprenderá, sem dúvidas, como desfrutar da vida no
presente. Os atos mais simples, como fazer um lanche ou olhar para um lindo
céu azul, podem se tornar uma fonte de prazer mental. Você pode aprofundar
isso cada vez mais, experimentando profunda felicidade com experiências
diárias comuns e, é claro, com a realização do seu dharma. De fato, a meta nal
deste caminho é ter comunhão com o divino a todo momento,
experimentando uma bem-aventurança crescente em decorrência disso.
Em vez de querer, traga seu foco para o presente e encontre satisfação aqui e
agora, tanto quanto você consiga, tantas vezes por dia quanto você consiga. Aos
poucos, sua mente, e seu cérebro também, mudarão.
CONCEITO-CHAVE DO CAMINHO 3T
Além do Vitimismo: Assumindo o Controle

Existe um conceito de enorme importância para


assimilar o caminho do yoga, no Caminho 3T: você
está no controle, e sentir-se uma vítima tira o seu
poder. Entenda que todo o seu bem-estar cabe
exclusivamente a você. Está tudo em suas mãos.
Você tem o poder de ser feliz ou miserável. Você
depende de você mesmo. Você não depende de nada
mais. Conforme você avance mais, apreciará como
Deus o está sempre ajudando e como tudo depende,
em última instância, de Deus. Contudo, apesar
desse fato místico e doce da vida, é crucial entender
e viver com base no conceito de que o domínio é seu.
Em um nível prático, é claro, use a palavra “vítima”. Alguém assaltou você, você
vai à polícia e eles identi cam você como a vítima de um crime. Um furacão
destrói sua casa e você liga para a companhia de seguros e eles identi cam você
como vítima de um desastre natural. É claro que você tem que tomar medidas
práticas. Isso é parte do seu dharma.
Contudo, é só até aí que isso avança. Internamente, você nunca é vítima, e você
não perderá nem mesmo um segundo se sentindo assim. Vítimas são impotentes. O
termo “vitimizar-se” é usado para descrever alguém que se absorve nesse sentimento
de ser vítima e, então, se declara incapaz de ajudar a si mesmo. Vítimas se sentem
tristes e depressivas. Algumas vítimas interiorizam tão profundamente esse
sentimento que perdem a vontade de viver. Sentir-se vítima nunca, em tempo
algum, ajudará você. É simplesmente um caminho para inação e infelicidade.
Como Krishna diz na Bhagavad-gita, “um yogi jamais se lamenta”.
Em vez disso, você deve entender que qualquer coisa que tenha acontecido a você
é a vida acontecendo, é a realidade chamando. Você tem simplesmente que ir em
frente e lidar com isso, conforme o novo uxo da vida esteja puxando você. Veja
tudo isso como parte de sua experiência de crescimento e fortalecimento. Talvez um
novo conjunto de desa os, talvez mudanças no seu dharma. Contudo, o foco
continua exatamente o mesmo: você estar aqui e agora, focado no seu dharma,
reconhecendo suas emoções e deixando-as ir. Independente do que tenha acontecido
a você, as alegrias da vida continuam ao seu redor. A vida ainda é um milagre, e
sua experiência com ela pode ser divina.
O foco é no que você está fazendo. Isso é o elemento sobre o qual você tem
controle. Isso é o que é realmente importante. Isso é o que determina se você é feliz
ou não. Nunca é o que aconteceu com você, mas como você responde a isso. Como
você lida com o que aconteceu com você? E o que você está fazendo aos outros e ao
mundo? Traga a atenção para si, pois você mesmo é a única coisa que você pode
controlar. É apenas você mesmo que você tem que melhorar.
É simples: se você aceita que tudo o que acontece com você é 100% sua
responsabilidade, você tem 100% de poder para mudar como isso o afeta. E o
inverso também é verdade. Se você sentir que não possui qualquer responsabilidade,
você não tem poder algum. Seja um yogi ou seja uma vítima: a escolha é sua.
É claro que devemos ser solidários ou, ainda melhor, empáticos com aqueles que
sofreram alguma tragédia. Devemos sentir sua dor e saber como podemos ajudar.
Isso é parte do dharma universal. Quanto a si, entretanto, você não deve lamentar.
Você deve dar tempo para que suas feridas cicatrizem, reconhecer as perdas que você
teve, respeitar isso... e, então, deixar que isso vá embora e seguir em frente.
Se você sentir sua mente arrastando você para um passado de lamentações,
sentindo-se lamurioso por algo que aconteceu, descontinue isso de imediato e traga a
mente para o aqui e agora. Respire fundo, foque sua mente em uma sensação que
você está experimentando agora ou no cumprimento do seu dharma. Absorva-se
novamente na vida, na realidade, acontecendo agora mesmo e experimente a
alegria e a beleza divina que há nisso.

Gratidão

A maior virtude individual que você pode expressar é a gratidão. Trata-se de


um poderoso catalisador de mudanças positivas. O espírito de gratidão o
abençoa com a habilidade de ver o melhor em tudo, em consequência do que
É
enche você de satisfação e alegria. É uma ferramenta poderosa para melhorar
sua vida. O poder da gratidão é reconhecido pela sabedoria antiga e
comprovado pela ciência moderna.
Melody Beetie resume isso muito bem: “A gratidão revela a completude da
vida. Ela torna su ciente o que temos, e faz mais. Torna negação em aceitação,
caos em ordem, confusão em clareza. Pode tornar uma refeição em um
banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo”.
Robert Emmons, Ph.D., é considerado uma das principais autoridades no
estudo dos efeitos da gratidão. Seus estudos demonstram que o indivíduo que
pratica a experiência da gratidão se bene cia em três áreas distintas:
Física:
1. Sistema imune mais forte
2. Menos perturbação por dores eventuais e contínuas
3. Pressão sanguínea mais baixa
4. Exercita-se mais e cuida melhor da saúde
5. Dorme mais e se sente mais renovado ao acordar

Psicológica:
1. Níveis superiores de emoções positivas
2. Mais alerta, vivaz e desperto
3. Mais alegria e prazer
4. Mais otimismo e felicidade

Social:
1. Mais solícito, generoso e compassivo
2. Mais perdoador
3. Mais extrovertido
4. Sente menos solidão e isolamento

Outros estudos também demonstram que pessoas gratas superam traumas


mais facilmente, são menos agressivas, mais empáticas e têm melhor
autoestima.
E como você cultiva gratidão? Uma técnica comum é simplesmente
escrever, seja uma vez por dia ou cinco dias na semana, algo pelo qual você é
grato. O exercício de escrever faz você pensar sobre gratidão e faz você buscar
por razões para ser grato. Eu, pessoalmente, gosto de simplesmente cultivar
uma mentalidade grata. Apresentei a técnica de cultivar uma mentalidade
positiva através de apreciar coisas maravilhosas na vida e deixar que entranhem.
A gratidão segue o mesmo modelo. Conforme veja coisas boas em sua vida
diária, você pode não apenas ser positivo e desfrutar delas, mas pode dar um
passo além e ser grato por elas.
Outro truque que eu uso pessoalmente e recomendo é converter orgulho
em gratidão. O orgulho pode ser um grande obstáculo porque fortalece a ilusão
de que sua felicidade depende de fatores externos e de se sentir superior aos
outros. O orgulho impede que você aprenda, admita seus erros ou peça ajuda.
Portanto, sempre que você se sinta orgulhoso de algo – seja sua aparência, sua
conta bancária, seu carro, seus lhos, sua cidade ou país ou algo que você fez –,
experimente gratidão. Pense em quão abençoado e afortunado você é por ter
essas coisas. E se você tiver a tendência a considerar que você merece essas
coisas por causa do seu trabalho duro, lembre-se de sentir gratidão por esse
trabalho duro, por esse fato de que você pôde trabalhar duro. Tenha gratidão
pelo fato de você ter recebido tantos dons e habilidades para fazer seu trabalho,
incluindo sua saúde, seus colegas de trabalho ou empregados, o governo, o
local de negócios, a internet, a inspiração, etc.
Quando você atinge os níveis mais altos de compreensão e prática do
Caminho 3T e compreende que, em última instância, tudo vem de Deus, você
naturalmente se sente grato por tudo em sua vida, sabendo que tudo, incluindo
a vida em si, é uma bênção divina. Esse sentimento onipresente de gratidão
invoca profunda paz interior.

Jnana – Conhecimento e Sabedoria

Jnana signi ca conhecimento, mas pode ser descrito como sabedoria


também. No caminho tradicional do yoga, há um enorme foco na importância
do conhecimento para nossa elevação. A ideia é simples: tudo o que estamos
fazendo de errado se deve a não entendermos melhor. Assim, se entendermos
melhor, viveremos melhor. Além disso, é um chamado
para ativar sua inteligência e enfatizar como uma vida
guiada pela inteligência, em oposição a sentimentos
confusos ou meros desejos simplórios, pode lhe
proporcionar cada vez mais felicidade e evolução
espiritual. A sabedoria também é de nida como bom
senso ou, em outras palavras, agir e pensar com base em
conhecimento sólido. O conhecimento que você não aplica não ajudará você,
daí eu preferir o termo “sabedoria”.
A ideia básica é alimentar sua inteligência com fatos-chaves que permitirão
que você faça escolhas melhores, para que você possa viver melhor. A meta é
desenvolver o hábito de contar com sua inteligência, pensar com clareza, para
que você possa agir e reagir com sabedoria em sua vida diária.

Mapa Mental

Quando você está em um local desconhecido, um mapa é de grande valia.


Ao ver onde está, você pode entender como chegar aonde quer, de onde veio e
quais são as rotas possíveis para sua jornada. Ao ver sua localização no mapa,
talvez sinta felicidade ao saber que está próximo de algo que precisa, como um
posto de gasolina, uma loja que procurava ou até mesmo o destino que
buscava. Ou, ao contrário, pode car desanimado, vendo que errou muito o
caminho e estava indo na direção errada, e que agora vai demorar para chegar
aonde pretende ir. Assim, temos a experiência, mesmo com um mapa normal
de coordenadas GPS, de experimentar mudanças no nosso bem-estar, nosso
nível de entusiasmo e nossos planos de acordo com o que o mapa revela.
Temos outro mapa, sempre ativo, muito mais complexo: nosso mapa
mental. O mapa mental é sua visão da vida. Parecido com o mapa normal de
longitudes a latitudes, este mapa lhe mostra onde você está, só que do ponto de
vista existencial. Ele mostra as opções de destino, as rotas para chegar lá, as
rotas que já percorreu e lhe dá uma visão geral da vida. A diferença é que este
mapa é muito complexo. Ele tem inúmeras dimensões: prática, nanceira,
emocional, física, espiritual, etc. O mapa, então, re ete absolutamente no seu
bem-estar. De acordo com o mapa, você sentirá entusiasmo ou depressão,
medo ou alegria, paz ou ansiedade, etc. Note bem: essas sensações se dão de
acordo com o mapa mental que você tem. Em outras palavras, como tenho
explicado, sua experiência de vida é fruto de sua visão da vida, e não baseada na
realidade externa.
Aqui entra a questão fundamental: o que acontece quando nosso mapa está
errado? Voltando ao exemplo do mapa normal, se você se baseia num mapa
errado, certamente vai se frustrar, vai se perder. Nosso mapa mental, sendo
fruto de nossa visão de vida, sofre distorções de acordo com a visão de vida que
cultivamos. Um mapa mental distorcido pode levá-lo a crer que não há
esperança na vida, que não há rotas para frente e que não há futuro. Ou pode
lhe mostrar que você está preso na rota atual e não há saídas, apesar de você
não estar nada satisfeito com a viagem. Achamos que a vida é assim e nos
conformamos com a viagem infeliz, não sabendo que o problema não é a vida,
não são os fatos externos, mas, sim, nosso mapa mental da situação.
E o que precisamos para ter um bom mapa mental? Conhecimento. Novos
conhecimentos preencherão seu mapa mental com informações e opções até
então desconhecidas por você. Conhecimento mostrará que rotas que você
antes achava boas, são, na verdade, rotas ruins, que não levam a nada.
Conhecimento poderá lhe mostrar novas dimensões de seu mapa, até então
ignoradas. Com o conhecimento certo, você terá uma visão completamente
nova da realidade, ou seja, um mapa mental completamente diferente e, assim,
uma experiência de vida completamente diferente.
Foi isso que aconteceu com Arjuna ao ouvir as explicações de Krishna na
Bhagavad-gita. Ele foi de uma crise de pânico, de absoluta falta de esperança, a
um estado de ilimitada felicidade e entusiasmo apenas com o conhecimento,
sem que nenhum aspecto da realidade externa tivesse mudado. Krishna
corrigiu o mapa mental de Arjuna.
Por isso que o cultivo de conhecimento, este campo de perfeição de jnana, é
tão importante e poderoso.

Seja Filosó co

Quando alguém menciona loso a, você talvez pense: “Entediante!”


Provavelmente a última coisa de que você precisa, você pode pensar. Porém, é
provável que isso aconteça porque você pensa em loso a no sentido de
memorizar o que cada lósofo grego falou, e que argumentos apresentaram, ou
talvez pense em algum texto denso, como de Nietzsche, Hegel ou Sartre.
Contudo, quando digo “ser losó co”, não estou falando sobre estudar os
ensinamentos de lósofos famosos, embora isso certamente possa ser mais útil
do que você possa imaginar. Estou falando sobre pensar loso camente.
É aprender a pensar apropriadamente, a realmente usar a sua inteligência. O
que isso requer é pensar sem preconceito, com a mente aberta e com a
habilidade de questionar o que, em geral, você aceita como normal ou padrão.
Também envolve estruturar argumentos lógicos para explicar suas conclusões
ou suas críticas às conclusões de outros. Isso também pode ser chamado de
“pensamento crítico”. Você pode começar fazendo as seguintes perguntas sobre
qualquer declaração: “Isso é realmente verdade?”, “Quem está dizendo isso?”,
“Qual é sua motivação para dizer isso?” e “Existe outra explicação que faça
mais sentido?”
Um ponto importante é questionar a autoridade por trás de qualquer
declaração. Por exemplo, simplesmente porque alguém possui doutorado em
biologia ou física, isso não o quali ca para falar sobre Deus. Se alguém não
estudou ou praticou espiritualidade, não investigou devidamente a existência
da alma e Deus, esse alguém não está quali cado para fazer declarações acerca
de espiritualidade ou para con rmar ou negar verdades espirituais, assim como
um não-físico não está quali cado para apresentar, con rmar ou negar as
teorias e as descobertas da física, ou assim como alguém sem treinamento
médico não está quali cado para diagnosticar uma doença. Antes de você
poder negar ou con rmar qualquer declaração, você deve, primeiramente,
buscar entender o assunto em questão.
Quando você desenvolve pensamento crítico, você se torna livre para
reexaminar e questionar os valores transmitidos a você pela sociedade como um
todo, pelo sistema educacional e até mesmo por sua família. Isso não signi ca
que você tem que rejeitar tudo, mas apenas que você avalia tais coisas
pessoalmente. Você não aceita simplesmente por conveniência ou pressão
social.
Vivemos em um mundo controlado por manipuladores que são pagos para
nos convencer de que o que seus clientes estão dizendo é verdade. Outros
tentarão enganar você por razões políticas ou religiosas. Então, seja inteligente,
investigue mais e pense muito. Quando você pensa de maneira crítica, é muito
menos provável que qualquer um consiga fazê-lo de bobo ou manipulá-lo.
Você também desenvolverá a habilidade de descobrir novas formas de
compreender a vida. Essa habilidade de mudança lhe dá o poder de
desenvolver-se continuamente e atingir estados mentais sempre superiores e,
em decorrência disso, cada vez mais felicidade.

Metafísica Como Necessidade

Metafísica é uma palavra so sticada para descrever coisas que não são físicas.
Na prática, todos dão grande valor a coisas não físicas, isto é, coisas metafísicas,
como amor, justiça, liberdade e igualdade. Liberdade não é algo físico. Você
não consegue ver a liberdade através de um microscópio ou pesá-la. Contudo,
para a maioria das pessoas, é algo tão real quanto árvores e rios. É praticamente
inconcebível imaginar a vida sem esses conceitos. Você talvez até tenha o
infortúnio de viver sem eles, mas, ainda assim, são reais. As pessoas, ao longo
da história, foram à guerra, dispostas a morrer e sacri car tudo que tinham por
coisas não físicas, como os mencionados amor, justiça e assim por diante.
É, portanto, completamente ingênuo esperar que seja possível entender a
vida dependendo apenas de evidências empíricas. Metafísica é algo necessário.
É preciso explorar explicações da vida que incluam fatos que não podem ser
provados empiricamente, que não podem ser submetidos a estudos
laboratoriais ou testes clínicos.
Necessitamos de uma loso a de vida que incorpore nossa experiência
humana completa, começando pela experiência do eu consciente. Semelhante
sistema de conhecimento tem que satisfazer a razão, ter compatibilidade com a
experiência da vida e ser consistente internamente.
Descobri que a combinação da ciência moderna com a ciência espiritual da
tradição ancestral do yoga resulta em uma explicação da vida completa,
inteiramente racional e internamente coerente. A ciência moderna não possui
as ferramentas para estudar e investigar a alma e Deus, karma e reencarnação,
etc., mas a tradição do yoga possui. A tradição do yoga não traz informações
detalhadas sobre a natureza física, mas a ciência moderna, sim. Os dois são
perfeitamente compatíveis. E os dois são necessários para realmente
conhecermos a experiência da vida como a conhecemos. A física e a metafísica
destinam-se a andar lado a lado.

Jnana-yoga

O foco no conhecimento como um meio para a autorrealização e para viver


uma vida melhor é tão grande na tradição do yoga que você encontrará o termo
sânscrito jnana-yoga, que signi ca “o yoga do conhecimento”. Você também
encontrará o termo buddhi-yoga, que pode ser traduzido como “o yoga da
inteligência”. Em outras palavras, usar sua inteligência para elevar sua
consciência. Você notará que um dos componentes-chaves do Método 3T é o
cultivo do conhecimento e da sabedoria espiritual.
A tradição do yoga nos traz fatos metafísicos adicionais acerca da vida, os
quais não poderíamos descobrir por simplesmente observar o mundo, pensar
detidamente sobre isso ou mediante pesquisas empíricas. Contudo – e isso é
um ponto-chave –, uma vez que você realmente assimile esses fatos, a vida faz
mais sentido. Você pode explicar melhor sua experiência de vida com esses
fatos. Ainda melhor, as explicações são perfeitamente racionais. Elas fazem
sentido e possuem coerência interna. E nada na vida, ou na ciência moderna,
falsi ca esses fatos.

A Fonte

A fonte dos fatos metafísicos citados nesta seção são os Vedas. Os Vedas são
um grande corpo de textos sagrados, abarcando tópicos tão diversos quanto
saúde, música, gramática e espiritualidade. Yoga é a ciência espiritual dos Vedas,
ou, em outras palavras, a parte dos Vedas dedicada a se obter a autorrealização.
Entre os textos védicos famosos sobre espiritualidade, estão a Bhagavad-gita, o
Vedanta-sutra e o Yogasutra. Há também uma categoria de textos chamada
Puranas, as Histórias, onde encontramos um tesouro de informações acerca da
alma, de Deus, como viver bem a vida e como diferentes sábios atingiram a
iluminação. O mais famoso e importante desses Puranas é o Srimad-
Bhagavatam. Outra classe importante de texto são as Upanishads, que também
contêm ensinamentos espirituais. Na parte “Cultivando Conhecimento
Transcendental” do Método 3T, encontrada no m deste livro, você encontrará
uma lista detalhada de leituras para que você tenha acesso direto a esses textos
sagrados, que são muito fascinantes e importantes.

A Alma: Atma

O primeiro ensinamento espiritual no yoga é que você é uma pessoa eterna,


e não seu corpo. O termo frequentemente utilizado é atma, embora haja outras
palavras utilizadas para se referir à alma. Você é não nascido, primordial,
indestrutível e eterno. Você sempre existiu e sempre existirá. Isto já foi dito
muitas vezes, mas vale a pena repetir: você não tem uma alma; você é uma
alma. Você tem um corpo.
O verdadeiro você não é feito dos mesmos ingredientes que o universo.
Você é feito de algo completamente diferente. Algumas pessoas chamam isso de
“espírito”. Eu pre ro o termo “energia transcendental”. Poeticamente, usa-se o
termo “centelha divina” para descrever a alma. O termo técnico no yoga é
brahman.
A consciência é uma manifestação do verdadeiro você, da alma. A matéria
não pode ter consciência. A matéria pode se tornar o instrumento da
consciência. Por exemplo: a tela do seu televisor não tem lmes e seriados, mas
os exibe. Se você quebrar a tela do seu televisor, você não pode mais ver lmes
e séries, mas eles ainda existem. Se você sujar a tela com tinta vermelha, seus
lmes e seriados aparecerão vermelhos, mas eles, na verdade, não se afetaram
em nada. Todo corpo – humano, animal, de inseto ou vegetal – é uma
máquina, feita de matéria, que permite que a entidade imaterial, a alma, se
expresse por meio da matéria. Diferentes máquinas afetam a manifestação da
alma de formas diferentes, portanto exibindo diferentes manifestações de
consciência.
A vida é o sintoma da alma. Onde há vida – e aqui a de nição de vida dada
pela biologia moderna serve bem –, há uma alma.
Você é um indivíduo eterno. Indivíduo no sentido de que você é
eternamente você. Você nunca deixará de ser você, tampouco se fundirá com
outras almas. Você não fundirá em Deus e, deste modo, deixará de existir como
indivíduo. Embora todas as almas sejam iguais no sentido de serem da mesma
essência divina, toda alma é diferente também, cada uma delas existindo como
um indivíduo. Assim como, agora, podemos dizer que somos todos seres
humanos e que, portanto, “somos todos iguais”; ao mesmo tempo, somos
todos diferentes, sendo cada um de nós um indivíduo. A experiência que você
tem agora mesmo de ser um indivíduo é uma realidade eterna.
Você é uma pessoa eterna. Por “pessoa”, me re ro à nossa habilidade de
desejar, pensar, experimentar emoções e fazer escolhas. A matéria não é capaz
de fazer nada disso. A matéria não tem desejos e pensamentos, tampouco tem
emoções ou faz escolhas. Isso são quali cações da alma. Até mesmo os
organismos mais simples querem se multiplicar, sobreviver e fazer escolhas
simples, como buscar por luz ou calor. Quanto mais so sticado o corpo, mais a
alma pode se expressar, assim como quanto melhor for a tela da tevê, melhor
poderemos ver o lme ou seriado. Os organismos mais simples seriam
equiparáveis a ver um lme em uma tela de um pixel em preto e branco. Já o
corpo humano se compararia a assistir em uma tela de resolução 4K, com 8,3
milhões de pixels. Projeções muito diferentes acontecem devido a telas
diferentes, muito embora o lme seja similar. Em outras palavras, apesar de
todas as entidades vivas serem pessoas, isso é mais fácil de ser notado em
espécies mais avançadas do que em corpos menos so sticados.

Se Sou Divino, Por que Não Me Sinto Assim?

Porque você é uma alma divina dentro de um corpo material, você pode
escolher que tipo de experiência terá: divina ou material. A natureza da matéria
é ser entorpecida. A matéria não vive. Quanto mais você se identi ca com seu
corpo material, mais material será sua experiência, em consequência do que
mais você experimentará torpor e falta de alegria. Quanto mais você valorize
seu eu transcendental, mais a vida se torna divina, mesmo enquanto você está
dentro de um corpo material. Outra maneira de dizer o mesmo: quanto mais
você viva como uma alma, e não um corpo, mais você experimentará a
transcendência. Viver como uma alma signi ca colocar em prática o que está
sendo apresentado neste livro: viver o aqui e o agora, estando completamente
ciente de sua consciência, focando em estar “com vida”, vivenciando sua
verdadeira natureza e essência, e em agir e experimentar a vida, em oposição a
se perder em lamentação ou em ansiedade por alguma con guração alternativa
de coisas externas. Usando a linguagem do Caminho 3T: mudar seu paradigma
da fantasia para a realidade.

O Corpo Sutil

As almas entram em corpos materiais, os habitam e, então, partem. Quando


a alma entra em um corpo, chamamos isso de “concepção”. Quando uma alma
deixa um corpo material, chamamos isso de “morte”. Porém, para a alma,
tecnicamente, não existe nascimento ou morte, dado que ela é eterna. Quando
presa em um corpo material, a alma se esquece de sua verdadeira natureza. Sua
consciência é encoberta e ela se identi ca com o corpo.
A alma, na verdade, é encoberta por duas camadas de matéria. A camada
externa é o corpo material. Esse é o corpo que você pode ver e tocar, o corpo
estudado pela medicina e biologia. Entretanto, existe outra camada interna,
chamada de “corpo sutil”. Essa camada interna é composta de um tipo muito
sutil de matéria. É tão sutil, com efeito, que, em geral, não é detectável pelos
sentidos, e nem mesmo por equipamentos laboratoriais mais sensíveis. Depois
da morte, o corpo sutil carrega a alma até seu novo corpo. A alma jamais ca
exposta aqui no mundo material. Está sempre envolta ao menos pelo corpo
sutil e, normalmente, pelo corpo sutil e pelo corpo biológico visível. Quando
uma alma reinicia outro ciclo de vida ao entrar em um novo corpo no
momento da concepção, seu corpo sutil se ajusta ao novo corpo biológico. Isso
signi ca que a forma de pensamento, estrutura emocional etc. da alma se torna
compatível com o novo corpo. Uma alma no corpo de um macaco tem
consciência de macaco, mas, quando entra no corpo de um cachorro após a
morte e o renascimento, assume a consciência e identidade de um cachorro.
Essa alma, depois da morte, pode entrar em um corpo de vaca, e seu corpo
sutil imediatamente ajustará sua consciência àquela de uma vaca. O corpo é
totalmente diferente. O corpo sutil se ajusta. A alma é imutável.
Fantasmas são os corpos sutis dos mortos; seres humanos, em geral.
Quando um humano falece e não está pronto para isso, normalmente devido a
apegos, ira ou desejo de vingança, sua força de vontade impede por algum
tempo que seja levado para o próximo nascimento. Ele ca preso entre corpos.
Porque o corpo sutil está perfeitamente identi cado com o corpo biológico, a
pessoa mantém a mesma forma de seu corpo biológico, agora morto. Quando
o apego, a ira ou o desejo de vingança mingua, o vínculo dessa pessoa com sua
encarnação anterior termina, e as forças da natureza conduzem a alma para seu
próximo nascimento. Aqui no Brasil, é claro, o espiritismo é uma religião
muito popular, com mais de 4 milhões de seguidores. Originalmente fundada
na França, em 1850, por Allan Kardec, tem como sua prática central a
comunicação com fantasmas. Eles recebem instruções religiosas de fantasmas
de humanos piedosos falecidos e ajudam fantasmas confusos a superarem seus
apegos e partirem para seu próximo nascimento. O espiritismo, na verdade, é o
resultado, em parte, do encontro entre o cristianismo e a antiga tradição do
yoga, com a qual aprenderam sobre reencarnação e karma.

A Lei do Karma

Karma signi ca “ação” em sânscrito. A lei do karma é, portanto, a lei da


ação. Além da lei newtoniana de ação e reação regendo o mundo físico, existe
outra lei de ação e reação afetando a experiência das almas corpori cadas. A lei
do karma deve ser compreendida como uma das leis da natureza, atuando no
plano metafísico.
A lei do karma é um sistema educacional construído na natureza, projetado
para ajudar a alma corpori cada a aprimorar seu comportamento moral, ou
dhármico. Toda ação que você realiza tem uma qualidade moral associada a ela.
Essa foi a ação certa a ser desempenhada, ou, em outras palavras, estava dentro
do seu dharma fazer isso? Se estava, fez com atenção, com cuidado? Ou, para
simpli car: você fez o seu melhor? Em caso positivo, você gerou um resultado
positivo proporcional. Se você fez o contrário, você obtém um resultado
negativo proporcional. Outra maneira de se explicar: a lei do karma coloca um
espelho diante de você. Você recebe o que você dá. Ou, como a Bíblia diz,
“você colhe o que você planta”.
As reações produzidas chegam na forma de objetos, fatos e situações na
vida. Tudo – tudo mesmo – acontecendo em sua vida, como seu DNA, seu
status social, sua conta bancária, sua situação empregatícia, vizinhança, o
planeta e a galáxia onde você mora, saúde e tudo que você tem são resultados
de suas atividades passadas. Toda a con guração da realidade externa em sua
vida, em todos os momentos, é uma reação cármica. A única exceção a essa
regra é a intervenção divina. Quanto mais você desenvolve sua espiritualidade,
e sobretudo sua devoção a Deus, mais seu karma pode
ser ajustado por Deus para estar em conformidade com
sua elevação espiritual. É como obter um perdão real
ou presidencial. Você foi julgado e condenado, mas o
poder governamental do país perdoa seu crime. Ou,
para dar um exemplo ainda melhor, se você se revela
um aluno excepcional, isso pode despertar na escola
um interesse especial por sua educação, fazendo com
que ela ajuste sua grade para ajudar você a desenvolver
plenamente suas capacidades.
Note que a lei do karma não possui qualquer ligação com a devoção a Deus.
Um fato fascinante encontrado na Bhagavad-gita é que o ateísmo não gera
absolutamente nenhum karma ruim. Não amar a Deus resulta em zero reações
cármicas. Apresento um exemplo simples para explicar isso. Digamos que
tenho um pote de moedas de ouro. Você vem até mim e eu digo: “Por favor,
pegue tanto quanto queira”. Se você pegar o ouro, se tornará rico. Se você não
pegar, não há crime algum nisso. Ninguém pode punir você por não pegar.
Não há nenhuma falha moral em não pegar o ouro. A devoção a Deus é como
isso. Se você pegar, você se bene ciará. Caso não pegue, não será punido.
Contudo, terá perdido uma oportunidade de ouro.
Krishna explica na Bhagavad-gita que o karma é um tópico complexo.
Tentativas de simpli car a questão dizendo, por exemplo, que, se você golpeia
alguém na cabeça, você será golpeado no mesmo lugar, são simplesmente isso:
simpli cações para ajudá-lo a entender o conceito. O sistema, na verdade, é
vastamente complexo e admirável, pois tudo o que acontece é justi cado pelo
karma. Todos merecem exatamente tudo que lhes é feito. Existe justiça
perfeita. Nesse sentido, a lei do karma se compara a um sistema perfeito de
justiça cósmica. Porém, como todo bom sistema de justiça, o objetivo central é
a educação, e não vingança ou punição.
Infelizmente, muitas pessoas deram as costas para Deus devido a não
entenderem os simples conceitos de karma e reencarnação. Culpam Deus pelo
sofrimento que presenciam ao redor. Ao mesmo tempo, essas mesmas pessoas
naturalmente não têm di culdade para entender que alguém que procede mal
tem que receber uma resposta que combine punição e educação para que se
evitem condutas danosas no futuro. Praticamente todos possuem esse senso de
justiça dentro de si. Todo sofrimento é precisamente isto: uma combinação de
punição e educação para instruir a alma a evitar más condutas no futuro.
Isso signi ca que devemos nos tornar frios, destituídos de empatia pelo
sofrimento alheio? É claro que não. É parte do nosso dharma universal praticar
a compaixão e fazer nossa parte para ajudar a diminuir o sofrimento ao redor
de nós.
A melhor maneira de ajudar na redução do sofrimento é, antes de tudo,
ensinar as pessoas a não o criarem. Primeiramente, isso pode ser feito ao se
enfatizar os benefícios da vida dhármica e, em segundo lugar, ensinando a
evitar o sofrimento através da prática de mindfulness. Em termos práticos, estes
dois – dharma e mindfulness – são os principais ensinamentos do Buddha.
Todo sofrimento, portanto, está dentro do escopo da educação. O
sofrimento pode ser visto como um resultado justo para um sofrimento
causado. E, mais do que isso, é um instrumento para gerar mudança. O
sofrimento existe para ajudar você a aprimorar a qualidade moral de suas ações
e também para o incentivar a investigar com mais profundidade a sua própria
existência. Inegavelmente, isso funciona. Um número incontável de pessoas
chegou a um entendimento mais profundo da vida e da espiritualidade como
resultado do sofrimento. Em todo caso, gosto de falar às pessoas para não
esperarem por sofrimentos. Mergulhe fundo nos mistérios da vida e de Deus
enquanto tudo está bem. Infelizmente, todavia, a maioria das pessoas tende a
se tornar egoísta e super cial quando estão experimentando abundância
material.
Algo feito em uma vida pode trazer efeitos apenas centenas de vidas mais
tarde. Todo ato cria o que se chama de “semente cármica”. No entanto, uma
vez que você realmente entenda onde errou, você não precisa mais sofrer o
karma gerado por esse tipo de erro. A semente é queimada. Comparando o
karma a um sistema educacional, se você prova que já domina uma disciplina,
você recebe dispensa da mesma. É dito que temos um reservatório
insondavelmente vasto de sementes cármicas. Uma explicação poética
encontrada nos textos védicos é que somos como árvores. Nesta vida,
geraremos as sementes para muitíssimas vidas futuras, assim como uma árvore
gera sementes para muitas e muitas árvores futuras.
Neste planeta, apenas humanos geram karma. Nosso livre-arbítrio e
inteligência so sticada nos dão poder. Com poder, vêm responsabilidades.
Com responsabilidade, vêm cobranças. A vida humana é tão importante e rara,
e vem com tanto poder, que, em uma vida humana, você pode gerar sementes
cármicas por milhares de vidas. Animais, plantas e outras criaturas vivem o
karma acumulado em vidas passadas como seres humanos ou vidas análogas à
de um ser humano.
A vida humana também é a única oportunidade neste planeta para extinguir
seu karma. Enquanto a alma permaneça no mundo material, indo de um corpo
a outro, ela experimentará os efeitos da lei do karma. Em contraste, caso você
assuma a frente de sua própria educação, ou, em outras palavras, caso você
adote o caminho de autoaperfeiçoamento e autorrealização, você pode, em
uma vida humana, atingir a meta nal de toda educação cármica. Você pode se
formar e sair da escola. Citando a Bhagavad-gita: pelo cultivo de conhecimento
(jnana), você pode reduzir seu karma a cinzas.
A lei do karma é outro exemplo de como o conhecimento metafísico da
tradição do yoga ajuda você a entender melhor a experiência da vida e viver
melhor. Ter uma explicação racional para todo o sofrimento traz grande alívio
para qualquer pessoa indagadora. E ser capaz de ver todo evento em sua vida
como precisamente merecido e uma oportunidade para crescer, confere-lhe
grande poder para superar obstáculos e abandonar a lamentação. O conceito de
lei do karma está, em última instância, conferindo-lhe 100% de controle sobre
sua própria vida. Você é o único arquiteto do seu destino. Nenhuma outra
entidade viva no Universo tem algum poder sobre você. Ninguém pode fazer a
você algo que você mesmo não tenha atraído para você. Outros são apenas
agentes externos de seus próprios atos. Você tem todo o poder para escolher
que tipo de vida você deseja viver.
Samsara: O Ciclo de Nascimentos e Mortes e o Processo de Reencarnação

Enquanto a alma permaneça presa em um corpo material, é forçada a entrar


em outro corpo após a morte. Isso é frequentemente descrito como “o ciclo de
nascimentos e mortes”, e o termo técnico em sânscrito para isso é “samsara”.
Um termo mais poético é frequentemente utilizado para descrever a vastidão
do processo: o oceano de nascimentos e mortes.
A força básica para essa migração contínua de um corpo a outro é o desejo,
o que temos chamado de paradigma da fantasia. Conforme a alma deseja
continuamente situações futuras, nas quais pretende ser feliz, isso cria a
demanda por um futuro em que isso possa se realizar. Com efeito, a alma
demanda corpos e mais corpos em sua busca infrutífera pela felicidade material
ilusória. Findar o paradigma da fantasia não apenas traz resultados imediatos
aqui e agora, como explicado anteriormente na seção sobre mindfulness, mas
também estabelece o alicerce para o sujeito se libertar da reencarnação. Em
resumo, você recebe o que você quer. Se você quer tentar ajustar sua realidade
externa para que se adeque às suas necessidades, é isso que você receberá, vida
após vida. Se você quiser experimentar a bem-aventurança da realidade, em
comunhão divina, aqui e agora, não há necessidade de ter um corpo material.
Você pode experimentar isso agora, enquanto neste corpo, e, então, se formar
na escola do karma e continuar fazendo isso sem um corpo material, no reino
transcendental.
A vida existe por todo o universo, em milhões de espécies diferentes. Você
não renasce apenas na Terra. E você certamente não nasce apenas como ser
humano. A vida humana, na verdade, é incrivelmente rara. Faça você mesmo as
contas. Você talvez pense que 7 bilhões de pessoas, a atual população humana
na Terra, é muito, mas pense melhor. Apenas dentro do seu corpo, há trilhões
(isso signi ca milhares de bilhões) de bactérias. Ser um humano é tirar a sorte
grande. Você deve se sentir imensamente grato e afortunado por ser um
humano agora. Por quê? Porque a vida humana é onde você pode fazer grandes
mudanças em si mesmo. É na vida humana que você pode se formar na escola
do karma e entrar em níveis cada vez mais altos de consciência bem-
aventurada.
Uma vez que a alma entre em um corpo de animal, inseto, peixe ou mesmo
de bactéria, tem que gradualmente “evoluir” até uma vida humana. É um
processo automático, que durará o quanto seja necessário, segundo o karma
acumulado por essa alma em seus nascimentos anteriores como ser humano ou
equivalente.
De acordo com os antigos textos em torno da tradição do yoga, há outras
espécies no universo que se assemelham aos humanos. É o que chamamos de
“alienígenas”. Alguns deles possuem atributos físicos e poderes superiores.
Hollywood faz muitos lmes sobre essa temática, incluindo Superman e or.
Esses nascimentos são obtidos por humanos piedosos, porém materialistas, que
desejam essa opulência e esse poder, não tendo abandonado ainda o paradigma
da fantasia. Depois desse nascimento, é dito que a alma recebe mais uma vez
um nascimento humano. Krishna, na Bhagavad-gita, incita Arjuna, o guerreiro
que o ouve explicar o yoga, a não cair nessa tentação por ser uma óbvia perda
de tempo. É melhor usarmos a rara vida humana para nos libertarmos por
completo dos nascimentos e mortes.
Então, após um nascimento humano, a alma possui basicamente quatro
opções no cardápio. Primeiro, ela pode se libertar e jamais renascer, tendo
aprendido a experimentar a bem-aventurança da vida além da matéria, dado
que a vida é, por de nição, a manifestação da alma imaterial. Quanto mais
experimentemos a bem-aventurança dessa existência, por mudarmos do
paradigma da fantasia para o paradigma de realidade, mais camos felizes aqui
e agora, e esse processo de autoaperfeiçoamento e autorrealização continua até
que a alma não precise mais de vidas em um corpo material. Segundo, a alma
pode acumular bom karma pela prática piedosa e atenta de seu dharma e
nascer em uma raça superior de seres sobre-humanos, em algum mundo
celestial, para ter uma vida de grandes poderes materiais e gozo dos sentidos.
Ao esgotar seu crédito cármico, a alma renasce como humano. Terceiro, a alma
pode obter outro nascimento como humano. E quarto, a alma pode fazer um
uso tão negativo de sua liberdade e de seus poderes como um ser humano,
mantendo-se em uma mentalidade bestial, que tem de ir para uma escola
corretiva em formas de vida como animais, insetos, plantas, etc.
Como explicado anteriormente, a alma pode car presa em um corpo
fantasmagórico por algum tempo depois de um corpo humano, mas isso não
conta como um nascimento. Existe menção de infernos nos textos sagrados,
mas não como no conceito absurdo e detestável de um inferno eterno, como
retratado por alguns, mas um inferno como um centro intenso de treinamento
para indivíduos de grande perversidade. Um spa de moralidade, eu chamo.
Uma experiência temporária de profundo sofrimento destinada a ajudar a alma
a superar desvios dhármicos graves antes de continuar sua jornada no samsara.
Como o princípio de reencarnação ajuda você? Primeiramente, você precisa
estar ciente de que você esteve tentando, vida após vida, encontrar conforto,
felicidade e estabilidade no paradigma da fantasia, ajustando as circunstâncias
externas de sua vida, e isso não funcionou, assim como não funcionou nesta
vida até agora. Independente de aonde você vá, onde você nasça, você,
basicamente, terá de lidar com um problema após o outro. Até mesmo o
Superman e o or estão cheios de problemas, algo que você sabe graças a
Hollywood. E todos, em todo lugar do Universo, têm de lidar com
nascimento, morte, velhice e doença. Segundo, você deve respeitar e apreciar a
vida em todas as suas formas. Todo ser vivo é outra alma, tal qual você. Eles
merecem seu respeito e cuidado. A vida é sagrada. Terceiro, você pode apreciar
por que as pessoas são tão diferentes. Cada um de nós tem uma história muito
antiga. Nessa história, acumulamos lições, medos e apegos que são particulares
e muito diferentes dos que outros têm, inclusive alguém com quem
compartilhamos muitas das experiências da vida atual, como um irmão, um
amigo de longa data ou um marido ou esposa. Quarto, se você realmente
aceitar esse fato como real, como é o caso de 51% da população mundial,
segundo pesquisa conjunta da Global Research Society e Institute for Social
Research, seria sábio ajustar seriamente seus planos de vida para incluir
ferramentas e estratégias para lidar com isso, para ver quais são as opções e
como maximizar a rara vida humana que você tem agora de modo a se livrar
do ciclo de renascimentos. A beleza do Caminho 3T é que você pode
maximizar seu bem-estar, ter a melhor experiência de vida possível agora e, ao
mesmo tempo, trabalhar para se tornar livre do samsara.

Três Níveis de Realidade: Sonhos, o Mundo Material e o Reino


Transcendental

A mudança para além do samsara exige que você entenda os diferentes


níveis de realidade que você pode acessar: sonhos, o mundo material e o reino
transcendental.
O mundo material é o que você está experimentando agora na forma de seu
cotidiano como uma alma em um corpo material. Nessa realidade, você
experimenta pessoalidade. Você é uma pessoa individual com desejos e
emoções, e você faz escolhas e raciocina. Você experimenta ter um corpo. Você
experimenta um mundo com uma variedade in ndável de formas e cores. Você
experimenta contato com outras pessoas e outras coisas, e tudo isso traz
diferentes sensações. A vida como a conhecemos.
Então, praticamente toda noite, você entra em outro nível ou realidade.
Você entra em um mundo de sonhos. Esse mundo não é feito dos mesmos
elementos que o mundo material. A água no seu sonho não é H2O. É feita de
alguma outra coisa. Seu corpo no sonho é um corpo diferente, sem células
reais. Ainda assim, no mundo onírico, você experimenta pessoalidade
individual, uma variedade de formas e cores, interação com outros sujeitos e
coisas, bem como diferentes sensações em decorrência dessa interação. Outro
ponto-chave é que, enquanto você está sonhando, você acredita no que sonha
quase a todo momento. Aquilo é a realidade para você, então. Não existe outra
realidade. Trata-se da vida como você a conhece, enquanto o sonhe dure. Em
seguida, porém, você desperta. Tão logo isso acontece, você, em geral, nota
duas coisas: 1) você se conscientiza de que estava
sonhando e (2) agora tudo parece mais real. É somente
ao experimentar um nível superior de realidade – o
estado desperto, nesse caso – que você consegue
compreender que estava experimentando uma
realidade menos real, mais confusa e de clareza inferior.
Em geral, consideramos apenas esses dois níveis de
realidade. Contudo, um terceiro nível de realidade é
apresentado por espiritualistas desde tempos
imemoriais: o reino transcendental. Em algumas
tradições, é chamado de “o reino de Deus”. Na tradição
do yoga, chama-se Vaikuntha, que signi ca,
literalmente, “um lugar sem ansiedade”. Esse é o nível
nal de realidade. Realidade com “r” maiúsculo, eu gosto de dizer, ou “a
realidade real”. Nessa realidade também, você experimentará pessoalidade
individual, uma variedade de formas e cores, interação com outras pessoas e
coisas e diferentes sensações devido a essa interação. Esse é um fato comum em
todos os níveis de realidade. Seria irracional, e um tanto sem sentido, pensar
que isso seria diferente, pois você não pode ter nenhuma outra experiência de
realidade. O reino transcendental não é feito nem dos mesmos ingredientes do
mundo material, nem do mundo de sonhos. É feito de outra coisa: energia
transcendental pura, a mesma composição da alma e Deus.
É interessante que há fortes paralelos entre descobrir e acessar essa realidade,
e despertar de um sonho. É por isso que, ao longo do tempo, em diferentes
culturas, o verbo “despertar” foi utilizado para indicar a autorrealização. Uma
vez que você experimente a transcendência,
inclusive os primeiros vislumbres disso, você entende que, antes, estava
experimentando uma forma inferior de realidade e que estava tendo uma
experiência de vida mais confusa e menos real.
A tradição do yoga, em seu aspecto mais profundo, oferece os meios para
você mudar sua existência do mundo material para o reino transcendental.
Dado que você é uma alma feita de energia transcendental, é a esse reino que
você pertence. É ali que você pode experimentar a vida em sua plenitude de
in nita bem-aventurança.
Samadhi, Moksha e Prema

O estado de estar completamente desperto e inteiramente focado no reino


transcendental é conhecido como samadhi, o estado nal do yoga. O samadhi é
atingido enquanto no corpo material, quase sempre em um corpo humano.
Esse estado é descrito por Krishna como conferidor de “felicidade ilimitada”,
mesmo quando o yogi está rodeado de adversidades. É também o estado de paz
absoluta, onde nada mais afeta seu perfeito bem-estar. Em samadhi, você atinge
o nirvana, que signi ca “extinguir”; em outras palavras, extinguir tudo que
estava causando uma perturbação à sua consciência, terminando todo
sofrimento. Nesse estado, você atinge uma mente plácida e bem-aventurada.
Você também experimentará estados cada vez mais elevados de bem-estar e paz
como resultado de seus esforços. Eu não consigo imaginar uma meta mais
sublime a ser buscada.
Uma vez que o samadhi é atingido, a alma não precisa mais renascer. Nesse
ponto, atinge-se moksha. Moksha é libertar-se do nascimento e da morte, ou
sair graduado da escola do karma. A alma continua suas atividades no reino
transcendental.
Acima de moksha, entretanto, está prema. Prema signi ca “amor a Deus”.
Conforme a alma se livra da identi cação com a matéria, suas qualidades
naturais vêm à tona. De todas as habilidades da alma, a maior é a habilidade de
amar. Como pessoas individuais eternas, amar é a expressão máxima da nossa
essência. Amar puramente exige liberdade das impurezas da ignorância, do
egoísmo, ira, ganância, luxúria, ciúmes, loucura, inveja etc. Outra maneira de
descrever o processo de autoaperfeiçoamento e autorrealização é que você
trabalha a puri cação de si, no sentido de que a ignorância, o egoísmo, etc.
estão encobrindo o verdadeiro eu. O amor também requer um objeto para o
amor. Você ama alguém. Aqui no mundo material, entretanto, todos estão
presos dentro de um corpo material, encobertos por essas impurezas. Assim,
apesar de seus esforços por amar seus lhos, pais, parceiro, bichos de estimação
e amigos, há limites impostos por essas impurezas, o que é a razão pela qual
você pode experimentar algum nível de frustração e insatisfação a partir de seus
relacionamentos. De modo a maximizar sua habilidade de amar, você precisa
encontrar uma pessoa perfeitamente amável, livre de quaisquer impurezas desse
tipo. Uma vez que você faça isso, o desa o é apenas lidar com suas próprias
limitações, pois, em uma relação com a pessoa perfeita, você pode
experimentar perfeita reciprocidade. Enquanto você ama, se sentirá
perfeitamente amado. Essa pessoa perfeita é Deus, que é uma pessoa
in nitamente atrativa e possuidora de todos os atributos e qualidades positivas
em um grau in nito. Krishna signi ca “o todo-atrativo”. Conforme você
progride para a perfeição, você pode experimentar a bem-aventurança de amar
perfeitamente uma Pessoa Suprema in nitamente amável.
Nota Especial para o Leitor: Deste ponto em diante, apresentarei
informações sobre Deus e, então, sobre devoção a Deus. Como mencionei na
introdução, tenho completa simpatia por quem não está aberto a esse tema,
porque eu mesmo fui assim. Portanto, se você não se considera pronto para
isso, pule para o “Escolhas de Estilo de Vida” da seção Caminho 3T e
continue dali. Você sempre pode retornar para esta parte, quando se sinta
pronto para ela.

Deus

Os Três Aspectos de Deus


Há três aspectos de Deus descritos na tradição do yoga: brahman,
paramatma e bhagavan. Brahman se refere à energia transcendental total,
previamente mencionada, e também se refere a Deus como energia. Alguns de
nós usam o termo “luz”. O brahman não tem atributos, forma ou
personalidade. Você pode pensar nele como a aura de Deus. Você tem energia
irradiando de você. Se alguém colocar a mão perto do seu corpo, sentirá calor.
Algumas pessoas alegam verem auras, enquanto outras dizem tirar fotos delas.
Em você, vai até aí. Em Deus, por Ele ser in nito, ela permeia tudo. Contudo,
o conceito é o mesmo: é uma energia amorfa e sem atributos. Apesar disso,
você pode sentir e experimentar, e é algo divino.
Paramatma signi ca “superalma”. Paramatma é o aspecto de Deus em todo
e cada ser vivo, e em todo e cada aspecto diminuto da natureza (átomos,
partículas subatômicas, etc.). Por causa da natureza in nita de Deus, Ele pode
estar completamente presente em in nitos lugares ao mesmo tempo. A ideia,
portanto, é que paramatma é Deus completamente presente ao lado de toda
alma no mundo material, em todo corpo vivente, e inteiramente presente em
toda partícula de matéria. Visto que paramatma é uma forma de Deus, há
atributos. No começo do livro, mencionei o caminho de dhyana-yoga, o yoga da
meditação. Os dhyana-yogis foram treinados especi camente para meditar na
forma de paramatma em seus corações, que é descrito como tendo quatro
braços, objetos simbólicos nas mãos, olhos de lótus, joias, vestes, etc. Contudo,
há pouca ênfase em personalidade, em reciprocações amorosas, quando se trata
de paramatma. É uma forma mais estática de Deus, semelhante às Deidades
que você encontrará nos templos. O corpo que você tem é, literalmente, um
templo de Deus.
Por m, há bhagavan, o aspecto completo e pessoal de Deus – Deus com
todos os Seus atributos, exibindo Sua personalidade, em ação, sempre rodeado
por Seus adoráveis associados e em Sua morada no reino transcendental. Mais
uma vez, porque Deus é in nito, Ele pode manifestar um número in nito de
formas completas de bhagavan simultaneamente, exibindo diferentes aspectos,
diferentes traços pessoais, com diferentes associados, em diferentes moradas.
Essa é a opulência divina de Deus.
Todos os três são aspectos de Deus, e relacionar-se com qualquer um deles
faz de você um yogi. Claramente, entretanto, é mais recompensador relacionar-
se com Deus pessoalmente, como bhagavan. E embora, tecnicamente, a forma
no seu coração seja paramatma, você pode se relacionar diretamente com
bhagavan aqui e agora. Pense nisso como uma transferência de chamada
transcendental. Visto que Deus é um, apesar de Seus diferentes aspectos, o
aspecto paramatma de Deus em seu coração conecta você ao aspecto bhagavan
se essa é a sua intenção, assim como a presença geral dEle através da existência
como brahman também pode conectar você diretamente ao Seu aspecto
bhagavan. Você experimentará uma relação amorosa interminavelmente
recompensadora com o aspecto bhagavan de Deus. Somente isso levou
incomensurável felicidade a bilhões de pessoas ao longo da história.

Impersonalismo vs. Personalismo


Ao longo da história, aqueles que aceitam a existência de Deus têm se
enquadrado em duas categorias: aqueles que acreditam que o aspecto último de
Deus é pessoal e aqueles que acreditam que é impessoal. Usando a linguagem
da tradição do yoga: aqueles que julgam que Deus é apenas brahman e aqueles
que têm comunhão com Deus como bhagavan. A partir disso, temos as duas
visões: impersonalismo e personalismo. Na história humana, numericamente,
os personalistas superam imensamente os impersonalistas, seja no cristianismo,
no judaísmo, no islamismo, no budismo ou na tradição do yoga.
As pessoas se esquivarem da questão de Deus é compreensível. Deus é
terrivelmente mal representado e caluniado. Deus é retratado como genocida,
sexista, racista, ciumento, homofóbico e violento. Em Seu nome, torturas
sistemáticas indescritíveis têm sido feitas. Em Seu nome, cidades inteiras, com
homens, mulheres e crianças inocentes, foram destruídas. Em Seu nome, até a
atualidade, atos de terrorismo, assassinato e estupro são realizados. É acusado
de ser um religioso fanático, desejoso de torturar eternamente qualquer um de
Seus lhos que interprete mal esse ou aquele minúsculo detalhe teológico.
Com efeito, o próprio conceito de inferno eterno, por si só, tornaria Deus o ser
mais maligno imaginável.
Felizmente, essa retratação de Deus é completa e grosseiramente caluniosa e
errônea. Os grupos que promovem o ódio e a violência em nome de Deus são
aqueles que merecem nossa aversão, e não Deus. O fato é que o Ocidente viveu
dominado por retratações muito estranhas e perturbadoras de Deus por dois
mil anos, o que causou um tipo de desordem de estresse pós-traumático
coletivo. Muitas pessoas simplesmente não querem ouvir nada sobre Deus.
Tornou-se um tabu. À primeira menção, as pessoas se abaixam para se proteger
ou correm.
Visto que Deus tem essa reputação tão ruim no Ocidente, há uma
tendência a introduzir os aspectos espirituais da tradição do yoga sem qualquer
referência a Ele. Estar em paz, mindfulness, controlar a mente, harmonizar-se
com suas emoções, viver uma vida dhármica, cultivar gratidão, positividade, ver
a unidade em tudo... isso tudo é naturalmente muito atrativo. Como resultado,
a tradição do yoga veio para o Ocidente em uma versão carente de seus aspectos
pessoais, e isso fomentou interpretações do yoga mais impessoais. O budismo
também, que tem suas raízes no yoga impessoal, é não-devocional e
completamente destituído de um conceito de Deus em suas apresentações mais
populares no Ocidente.
A maioria dos grupos de yoga, todavia, não ensinam ou promovem o
impersonalismo de uma maneira óbvia e aberta. Eles simplesmente encobrem
Deus e fazem um pouco de referência à devoção, algumas vezes insinuando que
você é Deus. Poucos grupos promovem especi camente o conceito de não
haver um Deus pessoal ou entram em detalhes sobre o destino nal da alma.
Na maioria dos casos, apenas um observador mais experiente reconhecerá o
impersonalismo que está sendo sutilmente ensinado e promovido.
Aqui estão algumas dicas para identi car grupos de yoga ou gurus que estão
promovendo o impersonalismo:
1. Eles dizem que não importa quem você adore: Krishna, Jesus,
Ganesha, Shiva ou um anjo – é tudo o mesmo. É comum que, em tais
grupos, quando você peça por iniciação, eles peçam para você escolher
quem você quer adorar.
2. O guru diz que ele é Deus. Ou os discípulos dizem que ele é Deus.

3. Priorizam a adoração a Shiva ou Ganesha.


4. O grupo adora predominantemente o guru. A foto dele está em toda
parte, no altar, etc., e Deus não tem prioridade nas orações, no altar
ou nos rituais que praticam.
5. Eles ensinam que você é Deus, em vez de dizerem que você é divino
ou uma centelha divina de Deus.
6. Ensinam que somos todos um, sem contrabalancear essa a rmação
com a explicação de que também somos todos diferentes, indivíduos
eternos.

7. Muito pouco se fala sobre Deus. E quando algo é dito, é vago, como
“Deus é amor” ou “Deus é luz”.
8. Se diz muito pouco ou nada sobre o estado nal de existência a ser
alcançado, a meta nal em si, e frequentemente não se fala nada sobre
a morada de Deus.

Por muitas vezes, vi estudantes com anos de envolvimento com a


espiritualidade do yoga vir ao meu centro de retiros de yoga e se surpreenderem
ao ouvir que estavam seguindo um caminho impersonalista. Eles dizem
literalmente: “Ninguém me explicou essas coisas”. Em geral, costumam pensar
que estavam adorando Deus, não tendo decidido de maneira consciente não
adorarem Deus ou pensarem que são Deus. As pessoas são iniciadas por gurus,
dedicam anos de sua vida a práticas transmitidas por esses grupos e
simplesmente nunca abordam a questão da natureza de Deus. É frequente que
permaneçam em uma zona intermediária, entre o personalismo e o
impersonalismo, sem dar ao tema “Deus” a análise meticulosa e demorada que
merece.
Isso merece grande consideração e análise porque faz uma grande diferença.
Não é algo com que se possa lidar de maneira vaga se você quer ser sério
quanto à autorrealização.
O impersonalismo está dizendo que você não é um indivíduo, e você não é
nem mesmo uma pessoa. Está dizendo que você é simplesmente brahman, luz
transcendental. É por isso que você é Deus, porque Deus, segundo eles,
também não é uma pessoa e não existe de fato, mas apenas o brahman existe –
tudo é simplesmente brahman. A consequência disso é que, em última
instância, não existe amor, porque amor é para pessoas. O amor requer alguém
que ame e um objeto para o amor. No conceito impersonalista, porém, não há
distinções. Tudo é um. Nenhuma variedade. Nenhuma cor. Nenhum sabor.
Apenas brahman. Um brilho transcendental. E sua meta nal é entender isso e
abandonar suas noções acerca de ser uma pessoa, um indivíduo, ter
sentimentos, dançar, beijar, olhar para as estrelas... e simplesmente se fundir
com o brahman para brilhar eternamente.
Instrutores impersonalistas raramente deixam isso claro, muito embora, caso
pressionados, essa é a loso a deles. Em vez de abordarem isso, focam nos
benefícios mais imediatos de mindfulness, harmonia, dharma, cura emocional,
serviço social, trabalho humanitário, etc.
É claro que tudo isso é maravilhoso e também é, com efeito, parte do
Caminho 3T. Contudo, minha inspiração é apresentar o caminho completo,
pois os benefícios de fazê-lo são imensuráveis para o praticante. Algumas vezes,
as pessoas cam tão felizes e impressionadas com os resultados tão
maravilhosos e tão numerosos de simplesmente praticar os três primeiros
campos de perfeição do Caminho 3T, isto é, mindfulness, dharma e paz
interior, que perdem interesse em adentrar os dois últimos: jnana e devoção.
Contudo, tradicionalmente, esses dois eram o foco principal, e proporcionam
os maiores benefícios de todos.
Eu gosto de ser uma pessoa. Eu gosto de variedade. Eu gosto de interagir de
uma maneira amorosa com pessoas de bom coração. E considero irracional
uma realidade sem Deus, sem uma fonte de tudo e todos, uma pessoa suprema
que seja in nitamente atrativa e in nitamente amável e amante. Pergunte a si
mesmo se você não prefere uma existência eterna, pessoal e com amor, com
variedade e bem-aventurança sem limites, em uma morada divina, a
simplesmente “brilhar” como brahman. Para mim, essa é uma escolha muito
fácil.
Se você não está simplesmente ignorando Deus e realmente quer entender
se o personalismo faz mais sentido do que o impersonalismo, na plataforma
puramente racional, aqui estão alguns argumentos que tornam o conceito
impersonalista difícil de ser aceito quando você dedica algum tempo a re etir.
1. Causa e Efeito – Se o mundo material e a vida como vemos e
experimentamos agora é a criação de algo superior, de Deus, podemos
entender a natureza de Deus analisando a criação. Nesse sentido,
podemos ver o mundo como o efeito, e Deus como a causa. É um
princípio bem conhecido de lógica de que aspectos encontrados na
causa também têm que estar presentes no efeito. Por exemplo, se você
acorda e vê que as ruas estão molhadas (o efeito), o que causou isso
tem que conter o elemento água, como a chuva (a causa). Seria
irracional apontar como a causa das ruas estarem molhadas algo sem
água. Agora, voltemos para a criação. A vida como a conhecemos é
predominada por personalidade. É sem sentido falar sobre nossa
experiência de vida sem personalidade. Personalidade é um
componente de destaque, senão o maior componente, da realidade
como a conhecemos (o efeito). Portanto, é irracional concluir que não
há personalidade na causa. (Deus)

2. O Simulador da Vida – Tanto os personalistas quanto os


impersonalistas na tradição do yoga aceitam que a realidade material,
sem qualquer noção de Deus e alma, é ilusória. Essa ilusão se chama
maya em sânscrito. Nas tradições abraâmicas, isso não é dito com
todas as letras, mas a ideia é a mesma: que esta não é a realidade
última, senão que a vida no reino de Deus é onde a vida realmente
acontece. Meu mestre espiritual, H.D. Goswami, faz uma
comparação entre simuladores de voo e nossa experiência no mundo
material. A vida, como a experimentamos aqui, só pode ser uma
ilusão efetiva, e útil em algum sentido, caso simule nossa experiência
de vida real e transcendente, além deste mundo material. Ele
argumenta: “Pilotos são treinados em simuladores de voo. O
simulador só é útil caso simule a realidade do voo. Da mesma
maneira, o corpo material, como um simulador da vida real, não teria
nenhum valor caso a alma fosse impessoal ou eternamente
descorpori cada”.

3. Nenhuma Pessoa, Nenhum Desejo, Nenhuma Criação – Se Deus não


fosse uma pessoa, não poderia haver criação, pois, para se criar, é
preciso que haja desejo, propósito. E desejos e propósitos são atributos
unicamente de pessoas. Não existe conexão lógica entre um mundo
complexo de personalidade, forma e variedade e um poder supremo
que é simplesmente radiação. Similarmente, se a alma, em seu estado
puro, é simplesmente luz, sem personalidade, não poderia ter desejado
ou escolhido experimentar a vida pessoal corpori cada.

4. Se Tudo É Um, Por Que Há Dois? – Se tudo é brahman, o que é


maya? E como maya pode sobrepujar o brahman? Se, em última
instância, tudo é simplesmente essa radiação transcendental indivisa
chamada brahman, o que é esse poder ilusório chamado maya? Se
maya é outra coisa, então não temos mais apenas brahman. É, pelo
menos, brahman e maya. E, para complicar mais, como esse poder
ilusório sobrepõe brahman (eu e você?)? Se somos Deus, que poder é
esse que nos engana há milênios? Que poder é esse que nos força a
tanto sofrimento? A resposta é que esse é o poder ilusório de Deus,
maya, que pode nos sobrepujar porque Deus é maior do que nós e
porque nós não somos Deus. Como almas pessoais individuais,
escolhemos estar aqui na tentativa de experimentar a ilusão da
inexistência de Deus. Tão logo nos desinteressemos da ilusão da
inexistência de Deus, não permaneceremos mais em maya.
5. Nenhum Amor, Nenhuma Variedade, Nenhuma Atividade? – A
conclusão de que não há nenhuma individualidade, nenhum amor,
nenhuma variedade e nenhuma atividade é simplesmente
contraintuitiva. Isso se opõe absolutamente a tudo que você valoriza.
É um conceito tanto estranho quanto desconcertante. É suicídio
espiritual. Talvez a vida não seja perfeita agora, mas abandonar a
existência pessoal para sempre é um conceito muito perturbador.

Quando pressionados com esses argumentos, os lósofos impersonalistas


tentarão refutá-los com os dizeres clássicos: “Palavras não podem descrever a
verdade”. Não caia nessa. A loso a impersonalista, ao longo da história,
produziu bibliotecas inteiras de livros, de modo que os impersonalistas
certamente não têm receios quanto a usarem palavras para promoverem suas
ideias. Essa resposta é simplesmente uma declaração de falência lógica. O
impersonalismo, na verdade, não faz sentido em questões importantes, daí
argumentos como os apresentados acima não poderem ser contra-
argumentados de maneira adequada.
Felizmente, a tradição do yoga apresenta claramente o ponto de vista
personalista, que é muito mais racional, prazeroso para a mente e em harmonia
com o que mais valorizamos na vida.

O Corpo Transcendental de Bhagavan


Uma vez que você supere as duas barreiras de 1) ignorar Deus e 2) pensar
que Deus é apenas luz ou energia (brahman), você pode começar a aprender
mais sobre as características e a natureza de Deus como descritas na antiga
tradição do yoga da devoção, bhakti-yoga. Daqui em diante, quando digo Deus,
estarei me referindo a Deus como bhagavan, o aspecto pessoal e completo de
Deus.
Para muitas pessoas, o conceito mais difícil de assimilar é o da forma de
Deus – Deus ter um corpo, isto é, ter braços, pernas, lábios, olhos, cabelo, etc.
As pessoas têm três problemas com isso: 1) o conceito é muito exótico para
elas, provavelmente por causa da cultura predominantemente abraâmica no
Ocidente, 2) concluem erroneamente que forma é algo limitador e 3) pensam
que formas e noções de corpo é algo exclusivo do mundo material.
Há descrições escassas da forma ou do corpo de Deus no judaísmo,
cristianismo e islamismo. Há aspectos gerais da natureza de Deus como o
Senhor, o Criador ou o Pai, mas não existem descrições detalhadas. Como
resultado, o conceito em si de Deus possuir uma forma ou não – isso para não
falar de como seria essa forma – não costuma ser tido em consideração. Essas
tradições valorizam o aspecto bhagavan de Deus, visto que oram a Deus e
esperam que ele “ouça” as orações, falam de Deus “olhando” por eles,
“protegendo”, e compreendem que há um “reino de Deus” e que aqueles que
forem piedosos e devotados estarão “com Deus”. Tudo isso se refere claramente
a um Deus pessoal, e não a uma mera radiação transcendental. Contudo, não
existem fontes para se aprofundar nesse entendimento, uma vez que a temática
está além do escopo do Velho Testamento, do Novo Testamento e do Corão.
A relutância cultural quase inconsciente em aceitar a ideia de Deus ter um
corpo alimenta o argumento equivocado de que forma é algo limitador.
Entretanto, é o contrário – a forma expande as possiblidades. É a falta de
forma que é limitadora. A linguagem é um bom exemplo. A linguagem se
torna possível graças a peças de montagem muito precisas: letras, palavras,
frases, pontuação e muitíssimas regras de como organizar isso. Tudo isso são
maneiras de dar forma a símbolos no caso da linguagem escrita, e sons no caso
da linguagem falada. Se não fosse por todas essas formas, nossa comunicação
seria muito rudimentar – grunhidos e rabiscos. E quanto mais so sticado é o
conhecimento dessas formas, mais liberdade há para se expressar. A música é
outro exemplo. A música também se baseia em forma: notas, acordes e ritmo
são todos unidos com precisão para se criar o efeito desejado. É somente em
virtude dessa forma estruturada que é possível expressar intermináveis
sentimentos por meio de música. Sem forma, teríamos apenas sons aleatórios.
Por m, pense em sua existência pessoal. Ser uma pessoa faz algum sentido
para você sem um corpo para se expressar? Podemos falar sobre uma existência
pessoal completa sem uma boca para falar, sem olhos para ver, sem ouvidos
para ouvir, sem mãos para tocar, sem língua para saborear, sem pernas para se
mover e sem nariz para cheirar? Claramente, é algo absurdamente limitante
não ter um corpo.
Em seguida, a argumentação se volta para a natureza da energia
transcendental. Dedicando algum tempo a pensar nisso, você pode ver
claramente que a forma é algo necessário no mundo material e proporciona
maior liberdade do que não ter uma forma. Ter uma forma é claramente
necessário para a existência como a conhecemos. Privação sensorial no sentido
de car boiando em um tanque de isolamento por uma hora ou um pouco
mais pode ser relaxante, mas não ter absolutamente nenhuma interação
sensorial levaria qualquer um à insanidade e à morte muito rapidamente. Além
do nosso corpo, há formas por toda parte. Podemos simplesmente imaginar a
realidade sem forma? Apesar disso, suspeito que é devido a nunca terem sido
expostas ao conceito de realidade, forma e atividades transcendentais que as
pessoas aferram-se à conclusão de que não pode existir forma além da matéria.
Não há razão para presumir isso. De fato, há muitas razões para não
presumir isso. Primeiramente, não existe suporte lógico para essa ideia. Como
apontei anteriormente, você já experimenta formas imateriais todas as noites
quando sonha. Não há nada que indique que a transcendência precise ser
amorfa. Segundo, falta de forma e atividade torna impossível que haja
existência pessoal, o que inclui a impossibilidade de interações amorosas. Por
rejeitar a forma transcendental, você está de volta ao conceito impessoal de
Deus, de a espiritualidade ser apenas brahman, apenas uma radiação
transcendental, o que eu demonstrei ser irracional e incompleto, contrário à
experiência de bilhões de devotos de Deus em diferentes tradições, bem como
oposto ao conhecimento da tradição do yoga.
A forma pode ser constituída de algo diferente dos elementos que formam
este Universo. Para a realidade ser mais do que uma radiação brilhante,
impessoal e muito limitadora, é preciso haver forma. E entre as inúmeras
formas necessárias para criar um alicerce para a existência (céu, terra, etc.), a
forma do corpo é necessária para cada pessoa se expressar por completo. E isso
se aplica igualmente à Pessoa Suprema, Deus. Essa combinação de cada alma
perfeita ter seu próprio corpo transcendental, interagir em intermináveis trocas
afetivas com Deus em Seu corpo transcendental, em uma morada
transcendental de variedade e cores ilimitadas resulta em uma existência eterna
e in nitamente bem-aventurada.

O Avatara
Existem dois tipos de avataras: avataras almas e avataras Deus. Em
sânscrito, ava signi ca “baixo”, e tara, “atravessar”. Avatara, portanto, é a
pessoa que atravessou para baixo, isto é, que desceu da morada transcendental
com destino ao mundo material. Os avataras que são almas mostram o
caminho para a iluminação, com ensinamentos adequados às pessoas que
vieram ajudar. Um avatara que é Deus não apenas ensina o caminho da
perfeição espiritual, mas também Se apresenta completamente às almas do
mundo material. É assim que as almas no mundo material podem ter
conhecimento especí co de diferentes formas bhagavan de Deus.
Avataras almas são almas perfeitas, almas do reino transcendental que
aceitaram a missão de vir ao mundo material com algum propósito divino.
Tecnicamente, chama-se shakti-avesha avataras. Shakti signi ca “poder”, e
avesha signi ca “parte”. Isso indica que vêm com uma porção do poder de
Deus para cumprirem sua missão. Dois dos exemplos mais famosos desse tipo
de avatara na cultura ocidental são Jesus e Buddha. Quando um avatara alma
vem, ele tem que aceitar um corpo material, pois, sem isso, uma alma não
consegue ter nenhuma interação com alguém ou algo no mundo material. Em
geral, avataras almas vêm sozinhos, mas, por arranjo divino, obtêm a ajuda de
almas avançadas já presentes. Avataras almas não apresentam conhecimentos
novos acerca de Deus. Em vez disso, enfatizam ou ajustam saberes espirituais
ou religiosos já existentes.
Jesus, por exemplo, foi reconhecido como um rabino, um instrutor judeu.
Seus ensinamentos não se afastam muito da tradição judia. Contudo, veio com
“o poder divino” de reacondicionar a mensagem do judaísmo e enfatizar certos
pontos-chaves para que bilhões de pessoas no futuro continuassem a se
iluminar e se inspirar.
Buddha, que veio há cerca de 2500 anos, certamente teve contato com a
tradição do yoga, que existia já há milhares de anos antes de sua vinda. Ele
enfatizou dharma, mindfulness e desapego, que são todos elementos da tradição
do yoga. Até hoje, em vários ramos do budismo, os praticantes são chamados
de yogis. Buddha não ensinou nada que já não estivesse presente na tradição do
yoga. Contudo, sua “porção de poder de Deus” lhe permitiu enfatizar alguns
ensinamentos especí cos e reapresentá-los de tal modo que se tornassem
extremamente efetivos e úteis à humanidade, gerando centenas de movimentos
espirituais distintos, inspirando hoje quase meio bilhão de pessoas a viverem
uma vida mais feliz, melhor e mais compassiva.
Os avataras que são Deus são o advento direto de uma forma bhagavan de
Deus no mundo material. A primeira grande diferença é que Deus jamais
aceita um corpo material. Isso acontece porque a energia material está
completamente sob o Seu controle. É a energia dEle. Ele não precisa de um
corpo material para manipular e navegar dentro do mundo material. Ele não
precisa de um corpo material para que outros O vejam, O toquem, O ouçam,
etc. Pela simples vontade de Deus, tudo isso pode ser feito. Outra grande
diferença é que Deus vem com um séquito de avataras almas, e até mesmo com
outros avataras Deus. Algumas formas bhagavan de Deus atuam juntas, em
virtude do que vêm juntas ao mundo material. Por m, um avatara Deus vem
por razões espetaculares e faz coisas espetaculares enquanto aqui. Não há nada
de discreto em um avatara Deus. Um avatara alma pode vir e ir embora e
somente um grupo de pessoas reconhecê-lo a princípio, algumas vezes levando
séculos para a importância desse avatara se tornar amplamente reconhecida.
Esse não é o caso de um avatara Deus. Os avataras Deus Se fazem ver e
estabelecem abertamente Seu poder divino, atuando de maneiras sobre-
humanas ao longo de Sua “vinda” ao mundo material.
Por virem pessoalmente e permitirem serem vistos, preserva-se um registro
detalhado dessas diferentes formas bhagavan de Deus. Especi camente,
descrições de Seus corpos, Seus ensinamentos, como interagem com outros e a
natureza de Suas moradas são todas registradas. É algo exclusivo dessa mais
antiga tradição teísta ter registros de Deus vindo diretamente em pessoa, sendo
visto, interagindo com Seus devotos, passando anos visivelmente presente e
ativo e ensinando pessoalmente sobre Si e sobre o caminho espiritual.

Krishna
O mais recente advento de Deus em que Ele Se mostra explicitamente
como Deus a todos foi como Krishna. Descrições astronômicas em torno de
Suas atividades indicam Seu nascimento como tendo acontecido em 3156 a.C.,
bem mais de cinco mil anos atrás. Para ajudar você a se situar historicamente,
isso aconteceu séculos antes da primeira pirâmide ser construída no Egito. O
advento de Krishna se torna ainda mais especial pelo fato de que a tradição
informa que Krishna é a forma bhagavan mais elevada e completa de Deus. Seu
advento teve todos os elementos de um avatara Deus de uma maneira
espetacular.
A razão para o Seu advento e Seus ensinamentos são belissimamente
apresentados no primeiro livro que recomendo para leitura depois deste, na
lista de leituras do Método 3T, Guia Completo da Bhagavad-gita com Tradução
Literal, escrito por H.D. Goswami, o já mencionado mestre espiritual norte-
americano com discípulos por todo o mundo, incluindo a minha pessoa, e que
tem um título de doutor por Harvard em Sânscrito e Estudos Indianos.
Os ensinamentos centrais de Krishna estão contidos nessa famosa
Bhagavad-gita, o livro mais importante de yoga. Por causa da in uência do
hatha-yoga, a forma popular de yoga com ênfase em posturas físicas, é comum a
alegação de que Shiva é o instrutor original do yoga. Não obstante, na
Bhagavad-gita, que antecede a prática de hatha-yoga em milhares de anos,
Krishna diz que Ele vem para ensinar o yoga porque o conhecimento do yoga se
perdera. Uma vez que ninguém na tradição do yoga negará a autoridade da
Bhagavad-gita, é evidente que Krishna é o pai do yoga e que é somente por
causa de Krishna que todos nós conhecemos o yoga hoje. Na Bhagavad-gita,
Krishna também é tratado como “o mestre de todos os mestres do yoga”.
Nessa obra, Krishna ensina o caminho completo do yoga, com a meta nal
de alcançá-lO, em completa consciência dEle, ou, em outras palavras, atingir “a
consciência de Krishna”. Entre os ensinamentos mais importantes da
Bhagavad-gita, estão a natureza da alma, como agir sem acumular mais karma
(karma-yoga), o poder de cultivar conhecimento transcendental (jnana-yoga), a
supremacia da devoção (bhakti-yoga), as qualidades da natureza material
(gunas) e como melhor viver para maximizar sua força espiritual e bem-estar, e
a natureza de Deus. Na descrição de Deus que consta na Bhagavad-gita, há o
conceito fundamental de que tanto a energia material quanto a energia
espiritual são dEle – em outras palavras, a natureza material também é divina –
e que tudo que você experimenta é uma dessas energias ou a combinação de
ambas.
Outro ponto fascinante é que Deus é o tempo, o que poderia explicar por
que o tema do tempo e sua irreversibilidade continuamente escapam da
compreensão dos físicos.
Krishna veio com um grande séquito, incluindo muitas outras formas
bhagavan de Deus, sendo a mais importante o aspecto feminino mais elevado
de Deus, de nome Radha. Incluso no Seu séquito estava um avatara
escritor/biógrafo, Vyasadeva, encarregado de preservar todos os ensinamentos e
eventos mais importantes na vida de Krishna para a posteridade.
Krishna esteve presente na Terra por 125 anos. Sua vida frequentemente se
divide em duas partes: Sua infância em Vrindavana, uma maravilhosa vila de
pastoreio de vacas cercada de belos rios, orestas e colinas, que durou 11 anos e
meio, e o restante de Sua vida fora de Vrindavana; primeiro em Mathura, por
10 anos e meio, e, em seguida, em Dvaraka, pelo restante de Seu tempo na
Terra. Até hoje, esses três lugares são importantes centros de peregrinação,
sendo Vrindavana o mais importante para os devotos de Radha e Krishna.
Ele chega em uma forma de quatro braços formal, completamente vestida e
adornada de joias, mas, em seguida, assume o corpo de um bebê recém-nascido
para atuar Sua vida entre humanos. Desse momento em diante, Ele atua o
desenvolvimento de um humano, logo obtendo a forma de alguém no m da
adolescência e, então, preservando essa aparência juvenil, sem nenhum sinal de
envelhecimento, até Sua partida com a idade de 125 anos. Visto que Deus é a
fonte de tudo, Ele possui todas as qualidades em um nível in nito, sendo essa a
razão para Deus ser in nitamente atrativo. “Krishna”, em sânscrito, pode ser
traduzido como “atraindo pela bem-aventurança” ou “todo-atrativo”. Sempre se
faz menção especial à beleza inimaginável do avatara Deus, e, no caso de
Krishna, isso certamente é mais enfatizado do que em qualquer outro avatara.
Ele possui uma cor negra azulada, cachos de cabelos escuros e um corpo bem
construído. Vale lembrar que estamos nos referindo a um corpo puramente
transcendental, e não feito de energia material, e esse ponto é repetidamente
enfatizado, tanto na Bhagavad-gita quanto em outros textos sagrados
importantes.
É uma característica dos avataras que vêm em uma forma similar à humana
atuarem como um humano até certa extensão. Há um elemento de
dramatização nessas vindas, um elemento de exercer um papel. Há
de nitivamente um elemento de teatro no sentido de um roteiro divino para
suscitar o máximo de emoção possível e tornar a passagem do avatara um
acontecimento extraordinariamente memorável. Obviamente, isso funcionou,
pois aqui estamos nós falando sobre isso quase 5200 anos depois.
Desde os primeiros instantes, Krishna demonstrou esses dois papéis de ser o
Senhor supremo e todo-poderoso e, ao mesmo tempo, atuar como um ser
humano. Isso se deu pela realização de uma série de feitos impossíveis inclusive
quando ainda fazia o papel de um bebê ou de uma criancinha. Essas atividades
até mesmo recebem um termo sânscrito especial: lila. Comum entre esses feitos
impressionantes foram Suas empolgantes batalhas até a morte com inimigos
não-terrestres e extremamente poderosos enviados para matá-lO, batalhas essas
ocorridas ao longo de Seus anos em Vrindavana. Outro feito muito famoso foi
ter erguido uma montanha inteira com o dedo mínimo de Sua mão esquerda
quando tinha apenas sete anos, o que fez de modo a defender todos em
Vrindavana da fúria de Indra (o equivalente a Zeus ou or na cultura védica),
que se rebelou contra Krishna em um momento de desorientação da sua parte.
Esses atos estabeleceram Seus poderes divinos e heroicos, mas o verdadeiro
foco da tradição é Sua doçura in nita. Os habitantes de Vrindavana, já sendo
almas puras que nasceram ali para estar com Ele, demonstraram in nito amor
por Ele e desfrutavam de trocas amorosas com Ele ao longo de todo o decorrer
É
do dia. É a combinação que mencionei anteriormente de corações amorosos e
puros voltando-se para um Deus in nitamente amável. Doçura, fascínio,
humor, beleza... tudo isso e mais Krishna demonstrou em grau in nito.
Embora essa seja a natureza de Deus, é mais especi camente de Krishna em
Vrindavana: uma doçura e intimidade sem limites com as almas puras que
negligenciaram o fato de que Ele é Deus e, em vez disso, simplesmente O
amaram por Suas qualidades in nitas, por Sua natureza in nitamente atrativa.
Krishna gostava de tocar auta. Uma vez que Deus é a fonte de todo talento
musical, Seu autear encantava todos os residentes de Vrindavana. Ele também
gostava de usar trajes de seda amarela, uma pena de pavão sobre a cabeça e uma
guirlanda feita de ores silvestres. Essas relações íntimas de amor
transcendental em Vrindavana são o maior foco dos devotos na tradição de
Krishna, tecnicamente chamada de bhakti-yoga, e é um elemento destacado na
história cultural da Índia até a atualidade. A mais famosa dessas expressões de
amor, repetidamente retratada em artes plásticas, literatura, peças teatrais, etc.,
é Sua dança romântica sob a Lua cheia com as vaqueirinhas donzelas de
Vrindavana, conhecida como rasa-lila, ou a lila da dança circular.
“Eu somente acreditaria em um Deus que sabe dançar” é um dizer famoso
de Nietzsche. O grande lósofo entendeu certo. Quão desapontador seria caso
Deus Se revelasse alguém menos interessante do que alguns milhares de meros
seres humanos na Terra? Um Deus que não dança, não toca instrumentos, não
brinca e que não tem interesse em romance? Incrivelmente, essa antiga tradição
– reitero, a única que alega ter um conhecimento detalhado de Deus –
apresenta um Deus amável, inteligente, amigo, bonito e encantador, e que
dança, cuida dos animais, ama os rios, as orestas e as montanhas, e toca auta.
Fora de Vrindavana, Krishna assume o papel de um guerreiro principesco e
teve de combater uma hoste de seres malignos que vieram à Terra. Quando
fora de combate, Ele exerce o papel de um príncipe, desfrutando da vida
palaciana e, em Dvaraka, o papel de esposo e pai com muitas esposas e muitos
lhos. Nessa cultura, era aceitável ter muitas esposas (e até mesmo muitos
maridos). Para cada esposa, Krishna criou uma expansão de Si. Cada uma delas
tinha seu próprio palácio luxuoso também. Durante Sua vida adulta, Suas
qualidades opulentas, reais e heroicas são enfatizadas, e isso permeia a
disposição de Seus relacionamentos amorosos. A maioria das pessoas se atrai
por esse tipo de opulência e poder em Deus – a grande maioria, na verdade –, e
Krishna agrada essas pessoas também demonstrando esse aspecto de Sua
personalidade.
Quando terminada Sua estadia, Ele literalmente voou embora, de volta para
Sua morada transcendental, além do Universo.
Uma descrição detalhada da vida de Krishna, preenchendo centenas de
páginas, encontra-se em um texto antigo de absoluta importância, o Bhagavata
Purana, também conhecido como Srimad-Bhagavatam. Se você praticar o
Método 3T, que se encontra no m deste livro, você verá que a história de
Krishna e o Srimad-Bhagavatam constam na lista de recomendações de leitura.

A Morada de Deus
Em alguns casos, o propósito secundário do advento de um avatara Deus é
nos dar uma melhor compreensão de Suas moradas. Gosto de brincar que isso
funciona como o anúncio de um destino turístico. Você vê como os lugares são
bonitos, como as pessoas lá são atrativas, o quanto estão se divertindo e isso faz
com que você queira ir para lá.
Você deve manter seu foco no aqui e agora, na experiência de sua conexão
divina enquanto cumpre seu dharma. Ao mesmo tempo, você deve estar ciente
da realidade no sentido último e para onde você pode ir. Você deve conhecer
suas opções.
As descrições da morada de Deus têm esse propósito. Elas lhe dão um
melhor entendimento de Deus e de como a vida poderia ser. As atividades de
Krishna, realizadas há mais de 5000 anos, podem ajudar você em relação a isso,
como fazem outras descrições da morada de Deus encontradas em outros
textos sagrados da tradição de bhakti.
Goloka Vrindavana, que eu gosto de chamar de “o jardim secreto de Deus”,
é a morada de Deus mais elevada e mais raramente acessível. Krishna recriou
muitos aspectos de Goloka Vrindavana quando veio à Terra para nos dar uma
imagem dessa região transcendente mais especial. Imagine uma região da mais
deslumbrante beleza natural, com pastos de gramas bonitas como esmeraldas,
rios de água cristalina, orestas, lagos, colinas e montanhas, todos
completamente imaculados. Nos montes e colinas, há cachoeiras formosas e

É
cavernas encantadoras. É dito que as árvores são árvores que realizam todos os
desejos. Flores de todos os tipos abundam ali. Pássaros, veados, macacos e
abelhões estão por todo lugar.
Nesse cenário idílico, a vila de Vrindavana possui uma cultura pastoril
simples e intimista, focada nas vacas e na produção de manteiga, iogurte,
queijo e ghi. Os veganos, porém, não precisam se perturbar com essa descrição;
não se trata de exploração às vacas. Mesmo hoje, a cultura indiana promove o
conceito de “vaca sagrada”. Em Goloka Vrindavana, os touros e as vacas são o
foco do amor da comunidade, tratados como membros da família. As vacas e
os bezerros cam juntos. Os touros puxam carroças e participam do trabalho
agrícola, e também recebem grande respeito. As vacas são levadas diariamente
para o pasto pelos adultos, e os bezerros, pelas crianças.
As mulheres jovens se extasiam e desmaiam diante da visão de Krishna,
enquanto as mulheres mais velhas O amam como uma mãe ama seu lho. Os
garotos amam Krishna como o melhor amigo, alguns O veem como um irmão
mais velho; outros, como um colega; outros ainda, como um irmão mais novo
a ser cuidado.
A morada de Deus tem a característica especial de que nada é matéria
inerte. Isso é um pouco difícil de ser concebido, mas levemos em conta que a
matéria é algo exclusivo do mundo material. Lá, tudo é feito de brahman,
transcendência consciente. Assim, tudo é consciente. Não apenas consciente,
mas perfeitamente consciente: transcendentalmente perfeito e completamente
esclarecido. Por exemplo, em Goloka Vrindavana, a natureza de seu amor pode
diferir, mas todos, sejam pedras, grama, vaca, pássaro ou habitantes parecidos
com humanos, amam Krishna por completo e, consequentemente, amam
todos os demais habitantes também. Pedras derretem de êxtase ao ouvirem a
auta de Krishna tocar, pássaros e veados se deleitam e participam das
atividades diárias de todos, e até mesmo os rios e lagos se aprazem ao
proporcionarem brincadeiras aquáticas e alívio do calor para os outros
habitantes.
Ainda mais difícil de conceber, porém essencial para o entendimento, é que
a morada de Deus é livre dos efeitos do tempo. O tempo no reino
transcendental está a serviço das expressões de amor. Ele apenas cria a sensação
apropriada de mudança para aprimorar os sentimentos amorosos. Contudo, o
tempo não marcha destruindo e envelhecendo tudo e todos implacavelmente
como faz aqui no mundo material. O tempo não provoca deterioração nem
torna os eventos tediosos. No reino transcendental, tudo e todos são
eternamente novos, tudo parece novo e empolgante. Todos os dias, você tem o
melhor dia de sua vida, o dia mais empolgante, o mais romântico, o mais
divertido e simplesmente o melhor momento que você já teve. Todos vivem em
perfeita harmonia, sendo exatamente quem gostariam de ser, e se relacionam
especialmente com Krishna, embora também com todos em geral, com amor
puro e irrestrito.
Vaikuntha, que signi ca literalmente “sem ansiedade”, é o termo geral
utilizado para o restante do reino transcendental. Não um lugar, mas inúmeros
lugares, cada um com suas próprias características para atender precisamente os
sentimentos e as inclinações dos devotos, com uma forma bhagavan de Deus
em particular, a forma pela qual o devoto se atraia mais. Em Vaikuntha, o
humor é mais formal. Há mais opulência e reverências em relação a Deus, sem
a intimidade de Goloka Vrindavana. Vaikuntha parece se aproximar mais do
conceito de Paraíso das tradições abraâmicas. Deus como o Senhor todo-
poderoso, amado por Seus devotos. Opulência palaciana abunda. Joias, seda,
ornamentos de ouro estão por toda parte. A contraparte feminina de Deus em
Vaikuntha é Lakshmi, a Deusa da Fortuna. Todos são extraordinariamente
belos ali. É dito que, em Vaikuntha, os habitantes se transportam em veículos
voadores, cantando as glórias de Deus e se deleitando com Sua presença. Tais
são as descrições das moradas de Deus na literatura sagrada de bhakti.

O Nome de Deus
Percebo frequentemente a falsa noção de que as religiões são todas
diferentes, de que fazem declarações muitíssimo diferentes. Alguns ateístas
utilizam isso como parte de sua motivação para rejeitar todos os caminhos
espirituais. A maioria das religiões do mundo, entretanto, são notavelmente
similares. E um ponto em particular é idêntico em todas as grandes religiões
teístas: a importância dada ao nome de Deus, também chamado simplesmente
de “santo nome”.
No Velho Testamento, na tradição judaica, temos como um dos maiores
eventos a construção do Templo de Salomão. No santuário interno do templo,
havia o santo nome. Era um templo para o santo nome. Como uma
curiosidade à parte, é interessante saber que esse templo foi o primeiro templo
de Deus fora do sudoeste da Ásia.
Então, Jesus vem muitos séculos mais tarde. Seu Sermão do Monte é
considerado uma das passagens mais importantes do Novo Testamento. Ali, ele
ensina uma única oração, o famoso “Pai Nosso”. Ao começo, se diz: “Pai nosso
que estais no céu, santi cado seja o vosso nome”, na versão de Mateus, e
apenas “Pai, santi cado seja o Vosso nome”, na versão de Lucas.
Na tradição islâmica, imagens de Deus, e até mesmo de Maomé, são
estritamente proibidas. Dentro das mesquitas, portanto, um dos principais
aspectos decorativos são os santos nomes de Deus, Alá, em gra as muito
artísticas.
Na tradição do yoga, isso não é diferente. Com efeito, se algo tem grande
ênfase na tradição é a importância do santo nome. Essa é a base da tradição dos
mantras, um aspecto essencial da espiritualidade do yoga. Mantra é uma
combinação sagrada de santos nomes, palavras ou sílabas destinadas a elevar e
dirigir a mente de quem quer que o entoe ou cante. Se você já começou a
praticar o Método 3T apresentado ao m deste livro, você sabe que uma das
práticas centrais é a meditação mântrica, chamada de japa em sânscrito, que é
o processo de focar a mente através do canto de um mantra.
Os nomes de Deus são tão poderosos quanto o próprio Deus. O conceito
básico é que não há diferença entre Deus e Seu santo nome. O nome de Deus
tem o poder de remover sua identi cação equivocada com a matéria e
reconectá-lo a Deus, tal como se estivesse na presença pessoal dEle. Assim, pelo
canto do nome de Deus, você entra em direta comunhão com Deus na
proporção em que seu cantar seja puro e focado. Essa maneira tão simples de
entrar em contato com Deus traz grandes bênçãos e auspiciosidade para sua
vida.

Você Pode Provar a Existência de Deus?


Você talvez tenha feito esta pergunta a si mesmo ou já tenha ouvido outros
apresentarem este questionamento: “Você pode provar que Deus existe?” E,
sim, a existência de Deus pode ser provada, e há um processo para se obter essa
prova. A prova de Deus é experienciar Deus, e o processo para se experienciar
Deus é o processo da autorrealização encontrado nas instruções dadas por Ele
mesmo. Por seguirmos essas instruções, podemos conhecer Deus. Todo o foco
central dos avataras, e com Krishna isso não foi diferente, é precisamente
compartilhar e demonstrar o caminho para outros experienciarem Deus de
forma direta. O conjunto de práticas, ferramentas e conhecimento necessários
para se experienciar Deus se chama yoga.
Você pode submeter coisas inferiores, coisas sob seu controle, a testes. Você
pode colocar isso sob a lente de um microscópio, dissecá-lo, queimá-lo, fundi-
lo, etc. Você pode colidir átomos. Você pode conseguir voluntários para se
submeterem a testes psicológicos. Contudo, o que você pode fazer quando lida
com um poder muito superior, além do seu controle?
Podemos entender melhor através de um exemplo de nossa vida prática.
Digamos que alguém queira obter um diploma emitido por Harvard. Esse
sujeito não pode simplesmente exigir que Harvard o aceite. Por que não?
Porque, nessa situação, Harvard é um poder superior a essa pessoa. Essa pessoa
tem que se submeter a Harvard. Gabar-se ou reclamar não terá nenhuma
serventia. Harvard não se deixará afetar. Se alguém quer realmente ingressar em
Harvard, terá que seguir as regras estabelecidas por Harvard e se quali car o
bastante para alcançar os padrões estabelecidos por essa universidade. Em
resumo, você não pode desa ar Harvard, senão que tem que se submeter a ela.
Por de nição, Deus é supremamente poderoso, motivo pelo qual não pode
haver outra maneira de conhecê-lO exceto se submetendo a Ele e seguindo
Suas claras instruções. Por esse processo, você pode, pouco a pouco, quali car-
se para experienciar Deus. Evitar essa disciplina e simplesmente gritar que
Deus não existe é inútil e irracional.

Concluindo a Seção Jnana

Um aspecto fascinante da tradição védica é que apresenta uma descrição da


realidade com uma dimensão transcendental para ela, com almas, Deus,
moradas transcendentais, a natureza de nossa existência individual e pessoal e
assim por diante, e, dessa maneira, explica como e por que você pode viver
melhor agora mesmo. Assim, ao mesmo tempo em que há uma estrutura
metafísica complexa a ser compreendida, você pode experimentar diretamente
a miríade de resultados positivos e até mesmo provar muitos desses efeitos em
estudos clínicos nos campos da psicologia e neurociência. Você não tem que
aceitar toda a explicação metafísica para começar colocar em prática as
sugestões e ferramentas que ela oferece. As pessoas estão adotando mindfulness,
meditação, hatha-yoga, vida saudável, simplicidade, entoação de mantras,
gratidão e muitos outros elementos explicados no Caminho 3T e estão
experimentado resultados que mudam a vida. Poucos, entretanto, apresentam
todos os elementos juntos, como faz o Caminho 3T.
Cada peça por si só é maravilhosa, mas todas as peças colocadas juntas é
ainda melhor. Quanto mais aspectos do Caminho 3T você puder praticar e
assimilar, melhor será sua vida. As pessoas tendem a subestimar a questão e
adotarem apenas um ou outro aspecto. Pelo cultivo de sabedoria, acúmulo de
jnana, você será capaz de entender a importância de juntar tudo isso e se
motivar para tal. É essencial, portanto, aprofundar sua compreensão e
fortalecer sua inteligência por ler os outros livros recomendados no Método
3T.

Bhakti - Devoção
O foco nal do yoga é amor a Deus. O amor é a expressão mais elevada e
pura da pessoa individual eterna, a alma. E amar a Deus é a perfeição da
habilidade de amar. Yoga signi ca “conexão”, e nada cria uma conexão mais
forte do que o amor. Conectar-se com Deus em amor se chama bhakti-yoga, ou
apenas bhakti. Não é de se espantar que Krishna diga na Bhagavad-gita que, de
todos os tipos de yogis, aquele que se conecta com Ele em bhakti é o mais
elevado de todos. Capítulo após capítulo, Krishna enfatiza que bhakti é o
ingrediente essencial e último para a perfeição, sem o que não é possível ter
sucesso completo em yoga. O sábio Patanjali também escreve no Yoga-sutra que
“a perfeição da perfeição do yoga” é atingida mediante “isvara pranidhana”, que
signi ca dedicar-se a Deus.

A Chave para o Sucesso e o Objetivo Final

Algo curioso quanto à devoção é que não é apenas o objetivo nal, mas
também a chave para o sucesso em yoga. É uma chave para o sucesso porque,
como diz o ditado, o amor tudo supera. Com devoção, você se sentirá
inspirado a ir adiante em seu autoaperfeiçoamento e autorrealização. Com
devoção, você experimentará cada vez mais bem-aventurança no aqui e agora e
exercitará mais facilmente seu dharma, sabendo que isso é seu meio para
expressar seu amor em ação e serviço. Com devoção, você terá mais coragem
para enfrentar seus demônios internos, encontrará a força extra necessária para
superar os grandes desa os da vida e se tornará mais sábio. E, por mais
estranho que possa parecer, é com devoção que você pode se tornar mais
devotado.
Outros aspectos da prática de yoga têm um escopo limitado de utilidade.
Por exemplo, é preciso um pouco de tempo e energia para você entender seu
dharma e viver em conformidade com ele. Contudo, uma vez que você o tenha
conhecido, isso é tudo. Você não pode continuar se tornando cada vez mais
dhármico para sempre. Depois de algum tempo, você consegue chegar a um
padrão muito respeitável de conduta dhármica. O mesmo se aplica à paz
interior. Isso leva tempo, bastante tempo em muitos casos, mas, uma vez que
você tenha conseguido dominar sua saúde emocional e se livrar do efeito de
traumas passados sobre seu bem-estar atual, não se trata mais de algo que exija
sua atenção ou um impedimento para uma vida melhor. E mesmo jnana possui
suas limitações. Há muito a aprender, muita sabedoria para obter, mas, com o
tempo, você conhecerá o bastante para entender a vida, fazer as escolhas certas,
estabelecer apropriadamente suas prioridades e agir com inteligência. Então,
você basicamente já sabe o bastante. Com bhakti, porém, é diferente. A
devoção não tem barreiras. Você pode amar mais e mais e mais, e para sempre.
A devoção acontece enquanto você está aqui no mundo material, mas, então,
continua lindamente até mesmo quando você alcança o reino transcendental.
Não há m ou limite para sua atuação. É uma fonte de bem-aventurança
in ndável e crescente.

O Caminho de Duas Vias do Amor

Na Bhagavad-gita, Krishna enfatiza que existe um caminho de duas vias


para o amor. Sua premissa básica é que Ele está pronto. Ele está ali agora
mesmo, aguardando por você, e sempre esteve. Ele ama você. Ele também
respeita você o bastante para aguardar que você O ame de volta. Como meu
mestre espiritual brinca frequentemente, Deus não tem complexo de
inferioridade, nem falta de relacionamentos amorosos. Ele não precisa se impor
a você. Por isso, Ele lhe dá espaço. Ele lhe dá muito espaço – com efeito, Ele
lhe dá todo o universo como espaço para você. Quando você estiver pronto,
Ele estará lá.
Ele, então, explica os benefícios. Ele explica que, uma vez que você se abra a
esse relacionamento, Ele passará a ter um papel mais ativo em sua vida. Ele
apresenta uma base simples para os relacionamentos: reciprocidade. Você nge
que Ele não existe, Ele honrará isso e ngirá que não existe para você. Você O
aceita como querido a você, Ele agirá de acordo, mostrando ativamente como
você Lhe é querido. Uma vez que todo conhecimento vem dEle, Ele promete
que dará àqueles que Lhe são devotados o conhecimento de como ir até Ele.
Ele promete ter um papel muito ativo na vida espiritual de quem se refugia
nEle, ao ponto de dizer que fará os arranjos para seu esclarecimento e
iluminação. Ele explica que somente quem se aproxima dEle pode superar a
poderosa energia material, visto que é Sua energia; de outro modo, todos
continuam perplexos. Não há exagero em dizer que um tema de destaque da
Bhagavad-gita é o convite amoroso de Krishna para que nós nos tornemos
devotados e, então, permitamos que Ele nos ajude a cada passo no caminho,
assim como um pai amoroso naturalmente deseja, com grande intensidade,
ajudar seus lhos a serem felizes.

Proteção Divina

Um dos fatores comuns a todas as tradições centradas em Deus é a


percepção da proteção divina. Conforme você se abre no caminho de duas vias
do amor a Deus, você experimentará Sua proteção divina. Segurança é um
grande fator de bem-estar psicológico. A sensação de segurança é uma das
principais necessidades para a felicidade. Aqueles que avançam em devoção
ganham acesso a um senso de segurança incrivelmente confortador a todo
momento, e sobretudo em situações de perigo.
Os éis alegarão que foram poupados de grandes sofrimentos ou da morte
pela graça de Deus, e os céticos apontarão para os muitos casos em que pessoas
religiosas se feriram e morreram. Certamente, a devoção não lhe poupará da
dor e da morte. Continuará doendo quando você se corte e você certamente
morrerá, cedo ou tarde, independente de quão devotado você seja. É impossível
provar se Deus interveio ou não na vida de um devoto. Deus diz que Ele o faz,
e há inúmeras declarações por parte dos eis, em todas as tradições, ao longo
dos tempos, de que Deus de fato o faz. Independente disso, o senso de
segurança é real e tem benefícios reais em termos de bem-estar e paz. Isso é
inegável.
Por m, como um espiritualista, você entenderá que não é o corpo. Como
um ser primordial, eterno e indestrutível, além da matéria, nada jamais o feriu
ou poderia ferir. Esse conhecimento também confere enorme bem-estar e
conforto, inclusive diante da morte certa. Um indivíduo sábio, portanto, ora a
Deus não por proteção para a sua casa, carro, dinheiro, corpo ou família, mas
por proteção contra a única coisa que lhe pode realmente trazer sofrimento:
seus desejos.
Assim, muito embora você possa praticar pedir a Deus por proteção no
sentido mundano – e não há nada de errado em relação a isso –, certi que-se
de que você está se lembrando da verdadeira causa de todo o seu sofrimento:
seus desejos por felicidade material futura e sua mente descontrolada e agitada.
Mindfulness na Devoção

Na Bhagavad-gita, repetidas vezes, Krishna nos incita a xar “a mente e a


inteligência” nEle. Essa é a meta do yoga. Você está realmente em um estado de
yoga quando sua mente e sua inteligência estão xas em Deus. Inteligência xa
em Krishna signi ca que você pensa, analisa a realidade e faz escolhas
alimentadas por jnana, o conhecimento transcendental e a sabedoria que você
acumulou. Mais especi camente, signi ca que você leva em consideração sua
natureza como alma, a existência de Deus e o que seria mais prazeroso para seu
verdadeiro eu e para Deus a todo momento de sua vida. E a mente xa em
Krishna signi ca exatamente isto: você está pensando abertamente em Krishna,
sempre. Você O vê em todos e em tudo. Você está sentindo a conexão
constantemente. Isso é o yoga perfeito: sempre conectado e sempre
experimentando amor transcendental. Seu amor mais profundo está desperto.
Isso não é barato ou facilmente obtenível. Krishna indica que isso talvez venha
apenas como resultado de muitas vidas de práticas. Contudo, Ele também diz
que qualquer um pode atingir a perfeição nesta vida. Por m, depende apenas
de você e de quão intensamente você deseja isso e trabalha para isso.
Independente de qualquer coisa, o segredo é tentar se conectar com Krishna
aqui e agora, sempre, para ir fundo o bastante na realidade até alcançar o quê –
mais precisamente, quem – está por trás, em última instância, de tudo que está
acontecendo: Deus.

Os Cinco Sabores do Amor

Na tradição de bhakti de Krishna, há um foco especial em relação a obter


intimidade amorosa com Krishna, sobretudo no humor exibido em
Vrindavana. Um grande mestre espiritual medieval da tradição de bhakti de
Krishna, Rupa Gosvami, desenvolveu o que é chamada de “teoria do rasa”.
Rasa signi ca suco, sabor, gosto, humor ou disposição. Nessa teoria do rasa, ele
apresenta cinco “sabores de amor” principais, ou tipos de relações amorosas que
uma alma pode desenvolver em relação a Deus.
O primeiro é shanti-rasa. Shanti signi ca paz. Shanti-rasa é o gosto base. A
essência neutra do amor. É o amor experimentado a certa distância. Um amor
baseado em simplesmente estar ali na presença de Deus. Não exige muita
interação pessoal. É como se expor ao sol. Não é preciso nenhuma ação; você
apenas sente os maravilhosos raios solares. Tradicionalmente, é dito que esse
shanti-rasa é experimentado pelas pedras, árvores, animais, rios, etc. no reino
transcendental.
O segundo é dasya-rasa. Dasa signi ca servo. Dasya-rasa, portanto, é o amor
que nasce de servir Deus. Serviço requer mais interação e mais ação. Você
talvez tenha uma impressão negativa do que signi ca servir ou ser servido.
Servir por necessidade nanceira ou por medo é certamente indesejável. Servir
exclusivamente como uma expressão de amor, por outro lado, é maravilhoso.
Sabe aquele sentimento que você experimenta quando ajuda seu professor na
escola ou na faculdade a pegar algo ou preparar algo? Ou aquele sentimento de
agradar um patrão que você realmente gosta e respeita através de algum
trabalho ou venda? Ou de ajudar um idoso a se locomover ou se levantar? Isso
é dasya-rasa. Por amor, você aceita uma posição inferior, a posição de um servo:
carregar livros, fazer algum trabalho, etc. Você aceita que o amado merece seu
serviço, como um superior.
O terceiro é sakhya-rasa. Sakhya signi ca amizade. Esse é o amor sentido
por amigos. O sentimento íntimo de camaradagem, de aventuras
compartilhadas e interesses comuns. Sakhya-rasa requer igualdade. Ambas as
pessoas no mesmo nível. Ambas se ajudando igualmente, por atuarem juntas
ou por simplesmente se divertirem, brincando ou desfrutando da companhia
um do outro.
O quarto é vatsalya-rasa. Vatsalya signi ca afeição em geral, mas é um termo
utilizado mais especi camente no contexto da afeição de uma mãe ou de um
pai pelos seus lhos. Vatsalya é o amor que uma pessoa tem por qualquer um
que ela sinta possuir uma responsabilidade parental. O amor por alguém que se
coloca aos seus cuidados, que busca por seu zelo, guia e proteção. Almas
experimentando vatsalya-rasa por Deus consideram que precisam cuidar de
Deus, tomar conta dEle, protegê-lO e até mesmo alimentá-lO. Assumem os
papéis de pai, mãe, tio, tia, avó, avô ou simplesmente alguém mais velho.
O quinto e último sabor é o mais profundo e intenso: madhurya-rasa.
Madhurya signi ca doçura e madhurya-rasa se refere ao amor romântico. Esse
tipo de amor que tudo engloba, que sobrepuja e enlouquece, virando você de
ponta-cabeça, é frequentemente descrito por poetas, cantores e pelos mestres
espirituais da tradição de bhakti.
Somos todos indivíduos e, como tal, temos diferentes tipos de relações
amorosas com diferentes pessoas. O mesmo se aplica à nossa relação eterna
com Deus. Não é “tamanho único”. Diferentes almas se relacionam de
maneiras diferentes com Deus. Um tipo de rasa não é melhor do que o outro.
Não acontece de você querer ser pai do seu melhor amigo. Ele é apenas seu
amigo. E, é claro, não é somente Deus na morada transcendental. Há
incontáveis outras almas ali, e elas se amam puramente, de acordo com a
relação que têm umas com as outras. Não consigo imaginar uma descrição
melhor de paraíso do que um reino imaculado de in ndável variedade onde a
alma pode experimentar para sempre sabores de amor puro com outras almas
perfeitas enquanto cultiva uma relação especial com Deus, o amável supremo.

Bhakti como Amor Aqui e Agora

A espiritualidade jamais deve ser em relação a algo futuro. Tudo começa


com o foco no aqui e agora, e é aí que sua mente sempre deve estar. Não
apenas isso, mas a espiritualidade tem que incluir tudo que acontece na sua
vida. Com bhakti, não é diferente. Neste momento, você não está rodeado por
almas perfeitas. Tampouco você é perfeito. Somos todos trabalhos em
progresso. Você está preso dentro de um corpo material e, em uma proporção
ou outra, está identi cado com seu corpo material e, por conseguinte, está sob
a in uência de egoísmo, ganância, luxúria, ira, loucura, inveja, etc. Apesar
disso, você ainda pode dar o seu melhor na prática de bhakti agora mesmo.
Existe a manifestação óbvia de bhakti como o amor a Deus, que precisamos
praticar todos os dias, mas há também a prática do amor pelos outros, apesar
de seus defeitos e de suas fraquezas.
Por m, o amor é tudo. O amor tem que ser espiritual, pois o amor é
exclusivo da alma. Tornar-se espiritual é despertar seu amor e expandi-lo mais e
mais. É ir lentamente além de sua identi cação corpórea e ser capaz de mostrar
amor por aqueles que não são de sua família, sua cidade, sua nação, seu grupo
social, sua religião, seu partido político, etc. Parafraseando Jesus, o que há de
notável em amar seus amigos e familiares? O verdadeiro teste é amar aqueles
que estão procedendo de maneira inamistosa em relação a você, com inveja e
más intenções. Isso quer dizer abraçar e beijar um assaltante? Não, defenda-se e
vá embora. Por dentro, porém, se você quer experimentar paz, você não deve
permitir que ódio ou ira tomem conta da sua mente. Em vez disso, você pode
tentar sentir compaixão e amor por todos. Conforme você segue com sua vida,
assuma esse maior dos desa os. É claro, todos os outros se bene ciam, e Deus
ca contente. Ao mesmo tempo, é você quem mais se bene cia.
Mesmo enquanto tenta ser tão amável quanto possível, tente desenvolver
seu amor especialmente pela raiz de todos, Deus. O exemplo dado na literatura
sagrada do yoga é que você pode tentar aguar uma árvore derramando água em
cada folha ou galho, mas, em última instância, você tem que aguar a raiz. Caso
faça isso, todas as folhas e galhos se bene ciarão automaticamente. Se você
aguar apenas as folhas e os galhos, e não a raiz, a árvore secará. De maneira
semelhante, você deve amar sobretudo e primeiramente Deus, pois, fazendo
isso, você bene ciará todos os demais, visto que Ele é a raiz de todos e de tudo.
Seu amor pelos outros deve ser uma expansão de seu amor por Deus, e Seu
amor por Deus, sua inspiração para amar os outros.

Amar É Servir

O grande mestre espiritual A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada utilizava


“serviço devocional” como uma tradução para bhakti e, na verdade, para todo o
caminho da espiritualidade. O termo “amor” é frequentemente mal utilizado
como se signi casse um sentimento vago de bem-estar e nada mais. O
verdadeiro amor, entretanto, tem que resultar em serviço. Você realmente ama
alguém quando você está fazendo algo por essa pessoa. O amor tem que ter um
componente de ação. Neste mundo, o amor da mãe é frequentemente visto
como a forma mais grandiosa de amor, pois há muito serviço nesse amor. Em
termos práticos, nenhuma outra relação amorosa cria tanto serviço quanto ser
mãe, ou, mais precisamente, ser a fonte primária de cuidado.
Madre Teresa expressou isso bem: “O fruto da fé é o amor. O fruto do amor
é o serviço”. Santidade é tornar o bem-estar dos outros a nossa única
preocupação. Essa é a meta nal da espiritualidade. Isso é o amor em ação, em
sua perfeição máxima.
Conclusão – Juntando Tudo Isso

Os cinco campos de perfeição do Caminho 3T são 1) mindfulness, 2)


dharma, 3) paz interior, 4) jnana (conhecimento) e 5) bhakti (devoção).
Praticados juntos, isso colocará você rmemente no caminho do yoga. Você
experimentará transformações poderosas conforme progrida. Não é à toa que
esse despertar costuma ser comparado a um segundo nascimento. São muitos
novos aprendizados e um crescimento intenso, e você muda muito, para
melhor, em comparação a como você vivia antes. Tudo isso é muito
empolgante. É como Krishna diz na Bhagavad-gita: de todas as coisas que você
pode ser, ser um yogi é a melhor. Seguindo o Caminho 3T, você será um yogi.

Explorando o Objetivo Último da Vida

Ter um objetivo na vida provou ser um componente-chave para o bem-estar


físico e psicológico. “[Pesquisadores] descobriram que pessoas que tinham um
propósito fraco na vida, ou nenhum propósito, tinham 2,4 vezes mais chances
de desenvolver mal de Alzheimer do que pessoas com um propósito forte na
vida. Observou-se que pessoas com um propósito forte vivem mais e têm
menores chances de terem ataques cardíacos ou derrames”, diz Dr. Strecher, da
Universidade de Michigan[3]. Uma vida sem propósito suga sua energia e
entrega você ao desespero e a doenças. Literalmente, a vida se torna vazia. Não
é assim que se vive a vida. Você tem que ter um objetivo.
Aceitar marcos de sucesso como propósitos não funciona. Um marco de
sucesso é parte do paradigma da fantasia, coisas como: trocar o carro, comprar
uma casa, ser promovido, conseguir 100 mil seguidores no Instagram, ganhar
dinheiro, etc. Tais coisas são, essencialmente, calorias vazias. Nada disso
entusiasmará você, pela simples razão de que não são ganhos reais, mas apenas
uma maneira de levar adiante a sucessão de metas. Exemplo de uma meta: ser
admitido em determinada universidade. Isso foi uma meta em si? É realmente
isso? Não. Você quer um diploma de ensino superior apenas para ir para a meta
de número dois, digamos: conseguir um bom emprego. Mais uma vez, é isso
mesmo? Não, você queria um bom emprego para chegar a meta três: ter um

É
bom salário e prestígio social. É isso, então? Também não. Você queria isso
para poder ter acesso à meta quatro: casar-se e manter uma família. E depois?
Casar-se e ter lhos é o propósito último de sua vida? Isso não funcionará
também. Você tem que ter uma vida além do seu casamento, e seus lhos
crescerão. Depois, o que virá? Meta cinco: aposentar-se? Você pegou a ideia.
Essas metas não são propósitos. Elas não de nem sua essência ou o signi cado
da sua vida.
Um propósito será algo especí co da sua vocação, a primeira categoria de
dharma, como mencionado anteriormente. Digamos que sua vocação seja de
professor. Seu propósito na vida, então, pode ser algo como: “Transformar o
mundo ensinando crianças a descobrirem sua essência e praticarem a
compaixão”. Se você se atrai por política e direitos humanos, pode ser algo
nesta linha: “Dar voz aos oprimidos, lutar por igualdade e colocar m ao
sofrimento causado por governos ruins”. Um empresário pode ter isto como
propósito: “Criar algo que melhorará a vida dos meus clientes”. Tudo isso são
propósitos que duram por toda a vida. Um propósito que seja harmônico com
sua essência tirará você da cama pela manhã e o encherá de entusiasmo, dia
após dia, ano após ano, pelo resto de sua vida. Não existe aposentadoria
quando você encontrou seu propósito. É uma tarefa prazerosa, o maior
exemplo de amor, mesmo com todos os problemas, contratempos e dúvidas
que você experimentará ao longo do caminho.
Embora seja realmente incrível encontrar seu propósito na vida, você, como
yogi, pode se perguntar qual é o propósito último na vida. A nal, sua vocação é
apenas parte do seu karma atual. É parte do que você é nesta vida somente. E
uma vez que você vai morrer, qualquer meta que você tenha para esta vida
estará acabada. Como yogi, você pode adicionar um propósito derradeiro para
sua vida, algo como: “Tornar-me completamente iluminado, obter bem-
aventurança sem m e me encontrar com Deus face a face”. Agora sim temos
um propósito realmente espiritual e eterno para a alma.
A nal, se você vai morrer e tudo será destruído no devido tempo, qual é o
verdadeiro benefício de um objetivo material? Se você não for capaz de
encontrar um propósito que transcenda não apenas a sua morte, mas a morte
inevitável de todos, e até mesmo o m do Universo, então, em um sentido
nal, você não atingiu seu potencial completo. Portanto, é essencial ir ainda
mais a fundo e abraçar a meta última da vida: a autorrealização, completa
consciência da realidade e do amor puro.
Ter um propósito último e transcendental para sua vida fará você ir adiante,
dará signi cado à sua vida, conferirá foco à sua determinação, ajudará você nos
momentos de trevas e deixará tudo em sua vida muito claro. Você saberá
estabelecer suas prioridades, o que é útil e o que não é, e o que realmente é
sucesso.
No caso de estar se perguntando, meu propósito na vida é: “Aprimorar a
vida do máximo de pessoas possível transmitindo os ensinamentos do
Caminho 3T e viver em completa comunhão com Krishna em serviço amoroso
íntimo”. Esse é meu propósito há mais de vinte anos já. Posso lhe dizer que é
maravilhoso ter um propósito tão claro e transcendental na minha vida. Nem
mesmo um dia se passa sem eu estar ciente dessa meta, e quase todos os dias
essa é minha prioridade, o que me move e meu foco principal. Isso me dá
grande entusiasmo e me enche de alegria.

A Vida como uma Oferenda a Deus

Basicamente, há duas possibilidades: 1) Deus existe e 2) Deus não existe.


Se Deus não existe, o conceito de alma faz pouco sentido. Como poderia
haver almas eternas, individuais e transcendentes, mas não haver uma fonte
para elas? Então, se não existem almas, os ateístas estavam certos e somos meros
subprodutos do acaso; somos, de alguma forma, uma combinação de matéria
que anda e pensa. Após a morte, não há nada. Apenas matéria sendo reciclada.
Amor, justiça, liberdade, alegria... tudo ilusão. Apenas neurônios se
comunicando de uma maneira especí ca. Se você acredita nisso, realmente
acredita nisso, por que viver? A vida não faz sentido, não tem propósito, não
tem signi cado – então, por que se dar ao trabalho de viver? Infelizmente,
algumas pessoas deram cabo de suas vidas ao chegarem a essa conclusão
desagradável. Por sorte, trata-se de uma visão de vida profundamente
equivocada.
Se Deus existe, tudo e todos, por de nição, vêm dEle. Ou, utilizando a
terminologia do yoga, tudo e todos são Sua energia. Nada em relação a você,
nem mesmo seu próprio eu, e certamente nada em sua vida, existiria se não
fosse por Deus. Portanto, tudo e todos vêm de Deus e, em última instância,
pertencem a Deus. Como resultado, você só pode se sentir perfeitamente
satisfeito e alinhado com seu verdadeiro eu quando você faz da sua vida uma
oferenda a Deus.
O conceito de oferenda é um componente-chave na tradição do yoga. A
palavra sânscrita para isso é yajna. Yajna é um aspecto necessário de amor e
serviço. Quando você está ocupado em serviço devocional, seja em relação ao
esposo, a um lho, ao padrão, à comunidade ou a um cachorro, você está
oferecendo seu tempo e sua energia, em virtude do que você está oferecendo
uma parte de sua vida. O conceito de tornar sua vida uma oferenda é desejável,
porque isso signi ca que você está agindo com amor. É o contrário de ser
egoísta e desperdiçar seu tempo.
Contudo, uma vez que a esposa, os lhos, o patrão, a comunidade, o animal
de estimação e tudo e todos têm uma conexão íntima com Deus, você pode
fazer de qualquer serviço devocional, a qualquer um ou a qualquer causa
nobre, uma oferenda a Deus. Tornar sua vida uma oferenda a Deus não
signi ca se tornar um monge ou sacerdote. Signi ca cumprir seu dharma; em
outras palavras, viver sua vida ao máximo, como uma oferenda a Deus. Krishna
faz este pedido simples na Bhagavad-gita: “O que quer que você faça, faça
como uma oferenda a Mim”.
A diferença está na sua consciência, em sua mente. Agir ignorante de Deus é
não compreender a dimensão nal e o propósito derradeiro da vida. Viver e
fazer de cada ato dhármico uma oferenda a Deus é se tornar completamente
lúcido e completamente ciente da realidade.
E visto que uma oferenda é um sinal de amor, você, por tornar sua vida
uma oferenda a Deus, pode experimentar o amor em dobro: por cumprir seu
dharma com amor – cuidar do seu lho com amor, trabalhar com amor, ser
um membro amável de sua comunidade, país e planeta, etc. – e por entender e
internalizar sua conexão amorosa com Deus (bhakti) em tudo que você faz.
Essa é a perfeição da vida.
CONCEITO-CHAVE DO CAMINHO 3T
Karma-yoga

Karma-yoga é o yoga da ação. É a técnica ensinada por Krishna para viver uma
vida em que toda ação seja um trampolim para a iluminação. É essencial entender
isso bem, porque é como você pode viver em yoga. Karma-yoga tornará sua vida
realmente espiritual, em contraste com apenas ter um pouco de espiritualidade em
sua vida.
A aposta é de alto risco, pois ou sua ação gera mais karma, seja positivo, seja
negativo, atando você por mais tempo no mundo material, ou sua ação é livre de
karma e levará você para mais perto de seu estado de espírito bem-aventurado, puro
e divino. O Yoga-sutra explica que não há meio termo. Sua ação ou lhe está
proporcionando iluminação ou mais enredamento. Karma é ação mundana.
Karma-yoga é ação espiritual. É simples assim.
Para uma ação ser quali cada como karma-yoga, há três exigências:
1) Mindfulness: você estar vivendo de acordo com o paradigma de realidade, e
não o paradigma da fantasia. Em outras palavras, você estar completamente
presente no momento, no que você está fazendo, sem desejar ou temer os resultados
futuros dessa ação. Sua mente está aqui e agora.
2) Dharma: sua ação ser el à sua natureza. Ser o melhor que você tem a dar.
Ser o que deve ser feito e você fazê-lo com tanto amor quanto possa reunir.
3) Yoga: você fazer isso como uma oferenda a Deus. Você estar ciente de Deus e
conectado com Ele enquanto em ação. Ser o seu serviço amoroso a Deus.
Os dois primeiros itens tornam sua ação materialmente perfeita. O terceiro a
torna transcendental. Dar o seu melhor e oferecer isso a Deus: essa é uma maneira
simples de entender a espiritualidade, e o segredo de uma vida magní ca.
Essa é a técnica para se parar de acumular karma. Você acumula karma
quando seus atos são motivados pelo resultado. Você está pedindo por um resultado,
então você o obtém. Infelizmente, vem com várias questões anexas. Você talvez
tenha decidido que pode satisfazer sua fome simplesmente por comer um
hambúrguer. Então, você comeu e matou sua fome, mas, com isso, vem toda sorte de
implicações cármicas. Por exemplo, o bife era de origem animal? Algum animal
morreu para satisfazer seu desejo? Grande dívida cármica. Qual foi o impacto
ambiental dessa refeição? Você comprou o hambúrguer, mas a quem tudo pertence
de fato? Se Deus existe, e, por de nição, tudo Lhe pertence, você acabou de roubar
ao comer algo sem reconhecer seu verdadeiro proprietário. Como o trigo do pão foi
produzido? Foram usados pesticidas? E quanto às condições dos trabalhadores
envolvidos em toda a cadeia de produção até esse hambúrguer chegar a você? E
assim por diante, em muitos e muitos detalhes! Muitíssimas implicações cármicas no
ato tão simples de comer. Pela prática de karma-yoga, porém, você opta por não
participar das reações cármicas. Primeiramente, porque você não deseja os
resultados futuros, senão que mantém sua mente no aqui e agora. Segundo, porque
você está agindo com compaixão e sabedoria, de acordo com o dharma, que já
inclui, entre outras coisas, não causar dor e sofrimento, como ao matar um animal
ou destratar uma pessoa. E, por m, porque você ofereceu o ato à fonte de tudo e de
todos. É assim que você pode “estar no mundo, sem ser do mundo”.

Ser Positivo e Grato a Deus

Na seção sobre paz interior, sugeri a técnica simples, porém poderosa, de


praticar ser positivo através da profunda apreciação das muitas maravilhas em
sua vida cotidiana, depois do que enfatizei o poder da gratidão. Uma vez que
você tenha superado suas reservas em relação a estabelecer contato com Deus, e
sua devoção comece a uir naturalmente, você pode elevar essas práticas a um
novo patamar, com ainda mais resultados maravilhosos.
Em essência, tudo o que está acontecendo com você é a melhor coisa que
poderia estar acontecendo. Simples assim. Você precisa disso. Pode parecer
agradável ou não, mas essa não é a meta. Você não nasceu como um ser
humano só para se divertir. Você veio aqui para aprender e crescer, e alcançar
um estado de felicidade e bem-aventurança bem mais elevado. Tão elevado, de
fato, que está muito além dos altos e baixos super ciais da vida. Esse estado de
consciência é muito superior ao que você pode sentir “simplesmente se
divertindo”. Por mais estranho que possa parecer, esse estado elevado de
consciência, mesmo enquanto você possa estar passando por adversidades na
superfície, é muito superior a um estado inferior de consciência quando tudo
está bem. O que quer que esteja acontecendo é parte do processo para se
atingir esse estado de existência muito superior. Uma vez que você assimile isso
e adote este programa, sua experiência de vida se tornará muito mais leve e
desobstruída, independente do que você esteja vivendo.
Isso signi ca que, a todo momento de sua vida, se você se aprofundar o
bastante – fundo o bastante a ponto de conseguir ver tudo como Deus vê –,
você conseguirá ser in nitamente positivo e profundamente grato. Você pode
começar apreciando as coisas boas de sua vida (as muitíssimas coisas boas!) a
ponto de se sentir abençoado e, então, muito grato a Deus por lhe ter
conferido tudo isso. Paz, saúde, paisagens bonitas, estrelas no céu, seguir seu
propósito na vida, o brilho solar, segurança, experimentar o amor de outros,
um banho de água em temperatura agradável, ser capaz de amar, estar satisfeito
depois de uma refeição... a lista segue. Há muitíssimas bênçãos pelas quais
agradecer a Deus. Isso gera um enorme bem-estar e postura positiva diante da
vida.
E quando as coisas vão mal? Nunca consigo tirar da minha cabeça o
ensinamento simples de que “sempre existe alguém sofrendo mais do que
você”. Tão logo sinto vontade de me queixar de algo, minha mente de imediato
fornece uma grande seleção de imagens e sugestões de como tudo poderia estar
muito pior. Minha resposta, então, é ser muito grato. E, então eu penso: “Em
vez de me queixar ou simplesmente desfrutar da minha boa sorte, o que posso
fazer para mitigar o sofrimento de outros?” A gratidão e a compaixão guiarão
você para fora de quaisquer sentimentos negativos trazidos por experimentar
uma situação difícil. O que quer que aconteça é necessário para você. Amor
contundente da parte de Deus – é apenas isso. Dói, mas é para o seu bem.
Desde que você não se atole em lamentações, você, no devido tempo, será
capaz de aceitar isso em paz ou, ainda melhor, ver isso como uma bênção
disfarçada.
Uma vez que você tenha ativado o poder bhakti, ser positivo e grato será
muito natural, e isso é um componente fundamental para se viver uma vida
plena de felicidade.
PARTE 3 - Escolhas de Estilo de
Vida do Caminho 3T

Sua capacidade de praticar os cinco campos de perfeição do Caminho 3T, a


saber, mindfulness, dharma, paz interior, jnana (conhecimento) e bhakti
(devoção), é afetada pelo tipo de escolhas de estilo de vida que você faz. Seu
corpo e sua mente são conectados. As coisas a que você submete seu corpo,
afetarão sua mente. As coisas a que você submete sua mente, afetarão seu
corpo. Existem hábitos que podem enlamear sua mente, enquanto outros
podem limpá-la. Você não pode tornar apenas seu corpo mais ou menos
saudável de acordo com o estilo de vida que você escolhe, mas também sua
mente. Tudo isso tem impacto sobre a qualidade de sua experiência de vida e
sua capacidade de seguir o Caminho 3T.
É importante notar que o que seguirá nesta seção do livro são
recomendações, e não prerrequisitos. Você pode e deve começar agora, no
máximo de sua capacidade, a praticar o Método 3T contido no m deste livro,
se você ainda não está fazendo isso, e as muitas outras sugestões, especialmente
os conceitos-chaves do Caminho 3T. O propósito desta seção é lhe dar mais
dicas de autoaperfeiçoamento, caminhos para tornar sua vida melhor e, por
consequência, se sentir melhor, e também lhe dar meios para maximizar seu
potencial de crescimento, bem como sua habilidade para praticar o Caminho
3T em si.

Os Gunas – Os Modos da Natureza Material

Na tradição do yoga, essas recomendações para maximizar seu potencial de


crescimento são aplicações práticas com base no que se chama de “modos da
natureza material”, ou gunas, em sânscrito. Esse tema recebe grande
importância na Bhagavad-gita e na tradição em geral. Existem três gunas:
sattva, rajas e tamas. Esses gunas são os tijolos da energia material como um
todo. Também são categorias de maneiras como a energia material in uencia a
mente e, consequentemente, a qualidade de sua vida. Os gunas afetam todo
aspecto de sua vida, incluindo: sua felicidade, sua determinação, sua maneira
de falar, suas escolhas alimentares, sua clareza mental, sua habilidade de
discernir o bom do ruim, o certo do errado, no que você tem fé e até mesmo
seu destino futuro caso você renasça. É essencial, portanto, cultivar
cuidadosamente a in uência dos gunas em sua vida. Dr. David Frawley, em seu
ensaio “Os Três Gunas: Como Equilibrar Sua Consciência”, descreve muito
bem, embora sucintamente, cada guna:
1. Sattva: “Sattva é a qualidade da inteligência, da virtude e da bondade e
cria harmonia, equilíbrio e estabilidade. É leve e luminoso por
natureza. Possui movimentação para dentro e para fora e suscita o
despertar da alma. Sattva provê felicidade e satisfação de uma natureza
duradoura. É o princípio de clareza, amplidão e paz, a força do amor
que une todas as coisas”.

2. Rajas: “Rajas é a qualidade de mudança, atividade e turbulência.


Produz um desequilíbrio que desconcerta um equilíbrio existente.
Rajas é motivado em sua ação, sempre buscando uma meta ou um m
que lhe dê poder. Possui movimento para fora e causa ações de
interesses pessoais que levam a fragmentações e desintegrações.
Enquanto, a curto prazo, rajas é estimulante e confere prazer, rajas,
devido à sua natureza desequilibrada, rapidamente resulta em dor e
sofrimento. É a força da paixão que causa a ição e con ito”.

3. Tamas: “Tamas é a qualidade de estagnação, escuridão e inércia, é


pesado, encobridor e obstrutor em sua ação. Funciona como a força
da gravidade que retarda coisas e as segura em formas limitadas
especí cas. Possui um movimento para baixo que causa decadência e
desintegração. Tamas traz ignorância e ilusão na mente e promove
insensibilidade, dano e perda de percepção. É o princípio da
materialidade ou da inconsciência que faz a autopercepção ser
encoberta”.
Obviamente, então, a meta é tornar sua vida tão sáttvica – em outras
palavras, tão no modo de sattva – quanto possível. Não é fácil. Somos criaturas
com hábitos, e mudar de hábito exige muita determinação, e até mesmo
coragem. Mudar de hábito signi ca enfrentar a resistência não apenas de si
mesmo, mas principalmente dos amigos e membros familiares. Para piorar as
coisas, é da natureza dos gunas querer se perpetuarem. O que quero dizer com
isso é que, quando você está em uma mistura básica de tamas e rajas, você
sentirá apreço e atração por tamas e rajas. Sattva parecerá tedioso e lhe causará
aversão. Portanto, a elevação inicial acima de tamas e rajas tem que ser
propiciada por sua inteligência, e não apenas por seus sentimentos ou
inclinações. Isso é fácil de entender quando pensamos, por exemplo, em
alguém tentando se livrar do vício de fumar. Todos sabem que fumar é um
hábito destrutivo e mortal, mas se você, de uma maneira ou outra, se torna
fumante, sua mente e seu corpo anseiam por isso. Por isso, a m de parar de
fumar, sua inteligência tem que superar à força os intensos pedidos de mais
nicotina feitos pelo corpo e pela mente. Uma vez que a grande mudança seja
feita e seu corpo e sua mente não estejam mais viciados em nicotina, você
experimentará uma vida melhor e não precisará mais se forçar a não fumar.
Elevar sua vida ao guna sattva é como isso. Exige algum esforço no começo,
mas o esforço vale a recompensa, e você experimentará os benefícios de
maximizar seu potencial como um todo, tanto material quanto espiritual, por
viver em sattva o máximo possível.
Os efeitos de mudar o “mix” de gunas em sua vida são imediatos. Pode levar
algum tempo até você experimentar os benefícios, digamos, do cultivo de
sabedoria e da meditação, mas as sugestões práticas nesta seção lhe conferirão
resultados imediatos.

A Diferença entre
Conexão Espiritual Verdadeira e uma Vida Nobre

Existem muitas boas maneiras de tornar sua vida melhor agora por se tornar
mais sáttvico. Essas mudanças fazem você se sentir e agir melhor. Isso é tão forte
que noto que muitas pessoas confundem espiritualidade com simplesmente ter
uma vida nobre e sáttvica.
Ser um vizinho amigável, vegetariano, gentil com os mais velhos, ecológico,
compassivo e simplesmente, de modo geral, uma pessoa verdadeiramente boa
não signi ca que você é espiritual. Ainda assim, para ser realmente espiritual,
você tem que ser isso e muito mais. Espiritual signi ca ter uma conexão com a
transcendência; com Deus, mais especi camente. Lembre-se de que yoga
signi ca conexão – a conexão da alma com Deus ou, pelo menos, com Sua luz
brahman. Viver uma vida em sattva é o meio para maximizar seu potencial
espiritual, mas isso não é, por si só, espiritual. Uma vida nobre é necessária,
porém insu ciente, para ser um verdadeiro yogi.
No Caminho 3T, considere que jnana e bhakti, os dois últimos dos cinco
campos de perfeição, são os componentes realmente espirituais. Os três
primeiros campos de perfeição são elementos poderosos e necessários para
sermos capazes de vivenciar jnana e bhakti. E, nesta seção, há mais dicas
importantes para tornar você mais quali cado e apto a praticar os cinco
campos de perfeição em geral. O ponto mais relevante é que cada um destes
campos de perfeição e cada uma dessas dicas torna sua vida melhor e faz você
se sentir melhor. Há benefícios para cada passo que você dê, independente de
por qual deles você comece.

Enquanto Alguns Se Acham, Eu Me Encontro

Nesta frase popular, há uma pérola de sabedoria que afeta profundamente


nossa habilidade de ser feliz.
O maior de todos os obstáculos para seguir o caminho de
autoaprimoramento e autorrealização talvez seja a falta de abertura para tais
aprendizados. Este é o mais danoso justamente porque com a mente fechada,
nem sequer podemos considerar a necessidade de nos aperfeiçoarmos.
É como diz o ditado: “quem ca muito cheio de si, ca vazio”. A pessoa ca
sem condições de receber sabedoria e sem interesse de enxergar, sobretudo, as
suas falhas. Vêm à mente termos variados, como vaidade, orgulho, egoísmo e,
até mesmo, o narcisismo para descrever este estado mental. Tudo isso torna-se
ainda mais exacerbado nos dias atuais, por meio da utilização das redes sociais.
Medimos cada curtida, quantos seguidores e quantas visualizações para tudo
que nos cerca. A competição é gigantesca. Todo mundo pode ver seu grau de
popularidade com precisão digital, grá cos e tabelas. Isso tem levado as
pessoas, de um modo geral, à uma busca desesperada por mais
reconhecimento. O desejo natural por ser visto, ouvido e valorizado, que todo
ser humano tem, é facilmente levado aos extremos doentios nos dias de hoje.
Quando somos tomados pela necessidade de sermos reconhecidos,
con rmados e apreciados, perdemos a vontade de sermos melhores. Se já nos
achamos tão incríveis, como pode surgir uma vontade de buscar ser melhor? Se
o que falta é que os demais seres reconheçam nossa grandeza, poder, beleza e
talento, como haverá abertura para ouvir o outro? Munidos desses sentimentos
de prepotência, como será possível desenvolver o desejo de reconhecer nossas
falhas? Como nossa necessidade de aprender com o outro poderá perdurar?
Há enorme sofrimento imediato em viver nesta dependência constante da
favorável opinião alheia. Um estado constante de ansiedade se instala. O medo
de se sentir diminuído, excluído ou esquecido mina o bem-estar.
A solução é cultivar a modéstia. Modéstia para avaliar a necessidade de
avançar, para reconhecer o quanto você pode melhorar. E, também, para
aceitar as instruções para tal. Com modéstia você pode se livrar da doentia
necessidade de reconhecimento e, assim, abrir espaço para ser feliz em ser você,
simplesmente.

Drogas e Álcool

O desejo de consumir drogas e álcool nasce do desejo natural de


experimentar um estado de consciência diferente, geralmente para superar
inibições sociais ou tentar relaxar. Como é fácil de imaginar, se você quer
experimentar um estado de consciência diferente, é porque você não está
completamente satisfeito com seu estado de consciência presente. Estar atento
ao fato de que seu atual estado de consciência não é ideal é bom. A menos que
você seja alguém completamente esclarecido, é um entendimento correto. O
que não é bom é se valer de um caminho barato e fácil, desordenando os sinais
eletroquímicos do cérebro. Voltando ao exemplo da série ou lme exibido no
televisor, mencionado na seção “A Alma: Atma”, usar drogas ou álcool não
mudará o conteúdo, senão que mudará somente a tela. Quando os efeitos se
acabam, você dá consigo na mesma programação. Na verdade, você retorna um
pouco pior, pois acabou de entorpecer o seu cérebro, cou um pouco mais
confuso e um pouco menos focado.
Você tem que conduzir sua consciência a níveis superiores, e não inferiores,
se você realmente quer ser feliz. É muito frequente que as pessoas recorram às
drogas ou ao álcool com a mesma postura que consumiriam analgésicos para
insensibilizar uma dor física. Consumir analgésicos é uma boa medida rápida,
mas é muito melhor curar o problema que lhe está causando dor. E assim
como analgésicos e remédios em geral frequentemente possuem efeitos
colaterais que lhe trazem ainda mais sofrimento, o mesmo acontece com o uso
de drogas ou álcool para se livrar das dores da vida: isso lhe trará ainda mais
sofrimento e limitará sua capacidade de buscar por transformações verdadeiras.
O caminho do yoga é o caminho de buscar pureza e clareza da mente. Além
disso, o conceito básico da espiritualidade oriental como um todo é superar a
ilusão. Drogas e álcool inebriam a mente e ampliam nossa ilusão, adicionando
outra camada de ilusão à já existente identi cação ilusória da alma com o
corpo. Então, nesse sentido também, o uso de drogas e álcool terá um efeito
adverso em nosso caminho de autoaperfeiçoamento, e ainda mais certamente
nos níveis mais elevados desse caminho, quando tratamos da autorrealização.
Todos concordam que beber muito ou com frequência é ruim para a saúde
física. Contudo, você talvez tenha ouvido dizer que beber com moderação é
bom para a saúde. Estudos mais cuidadosos, entretanto, demonstram que só é
bom para quem tem, em primeiro lugar, uma dieta prejudicial, em outras
palavras, pessoas com a dieta média dos estadunidenses, que é rica em gordura
e proteína animal, com quase nenhuma fruta, legume e verdura, e somado a
isso o sedentarismo. Para quem possui um estilo de vida ligeiramente mais
saudável, com frutas, legumes, verduras e exercícios, há provas de que o álcool
não tem nenhum efeito positivo. Outros estudos mostram que, na verdade,
não é saudável consumir nenhuma quantidade de álcool. Dame Sally Davies,
Diretor-Geral de Saúde da Inglaterra, declara: “Beber qualquer quantia de
álcool regularmente acarreta riscos de saúde para qualquer sujeito...”[4] Essa é
uma mensagem forte e clara. O governo do Reino Unido agora alerta que
qualquer nível de ingestão de álcool amplia o risco de muitos tipos de câncer.
O Centro de Controle de Doenças do governo estadunidense publicou em seu
site que as Diretrizes Dietéticas para os Americanos “não recomendam, sob
nenhuma circunstância, que indivíduos que não consomem álcool comecem a
beber”. Eles até mesmo grifam a palavra “não” em seu site. Portanto, a ideia de
que beber não é um problema, ou até mesmo de que é saudável, não é nada
além do fruto de médicos bem pagos pela indústria de bebidas para emitirem
resultados tendenciosos de pesquisas. Física, mental e espiritualmente, é melhor
não beber.
Evitar uma morte precoce e violência também é um fator. O Conselho
Nacional de Dependência Alcoólica e Narcótica declara em seu site: “Álcool é
um fator em 40% de todo crime violento hoje, e, de acordo com o
Departamento de Justiça, 37% de quase 2 milhões de condenados atualmente
na cadeia reportam que estavam bebendo no momento de sua detenção”. Além
disso, declaram que “80% dos criminosos se envolvem com abuso de drogas e
álcool. Quase 50% dos detentos são clinicamente viciados. Aproximadamente
60% dos indivíduos presos têm resultado positivo em seus testes de detecção de
uso de drogas ilegais no momento da prisão”. Em 2014, quase dez mil pessoas
morreram vítimas da combinação de álcool e direção apenas nos Estados
Unidos. No Brasil, a situação é mais grave. A Pesquisa Nacional de Saúde
(PNS) mostra que aproximadamente um quarto dos brasileiros que dirige
a rma que assumem a direção do veículo após ter consumido bebida alcoólica.
Em consequência disso, em 2014, foram registradas 172.780 internações
relacionadas a acidentes de trânsito.
Algumas pessoas talvez pensem que são especiais e que não serão
pessoalmente violentas, nem agirão de forma a motivar alguém a ser violento,
tampouco dirigirão sob a in uência do álcool, mas vale a pena arriscar? Além
disso, vale a pena nanciar as companhias que produzem essas substâncias
envolvidas em tantas mortes e em tanto sofrimento? Isso é algo de que você
quer participar? O que poderia justi car isso?
Café também é droga. Você se fará um favor caso mude para o café
descafeinado ou simplesmente explore novos hábitos, como beber chás de
ervas. Uma pesquisa da Mayo Clinic[5] demonstrou que pessoas que bebem
mais de quatro xícaras de café tiveram um aumento de 21% de mortalidade.
Estudos médicos identi cam que os riscos do consumo de cafeína incluem:
aumento da pressão sanguínea, maior risco de ataque cardíaco em adultos
jovens, aumento do risco de incontinência, ataque de gota, insônia, indigestão,
dores de cabeça e enxaqueca, cistos mamários, fertilidade reduzida em
mulheres, aumento do risco de aborto, agravação dos sintomas da menopausa e
maior risco de fraturas ósseas por interferir na ossi cação. E o mais importante:
a cafeína agita a mente, que já é muito agitada. Toda a meta do yoga é paci car
a mente, buscar a serenidade. A cafeína é contraproducente à meta de atingir
uma mente serena e harmônica, atingir um estado de paz interior. Quanto às
drogas ilegais, o fato simples e inegável é que todos que as compram são
parceiros e nanciadores de uma das forças mais destrutivas no mundo hoje: os
cartéis de drogas. Todo aquele que compra drogas ilegais está ajudando no
assassinato, terrorismo e escravidão de milhões de pessoas, bem como
auxiliando a corromper funcionários do governo, autoridades eleitas e policiais
por todo o mundo. Isso é um karma realmente muito ruim.

Vegetarianismo

Provavelmente, o fator mais destacado e importante no estilo de vida de


quem está seriamente interessado em avançar no caminho do
autoaperfeiçoamento e autorrealização é não comer carne e ovos.

A Razão Mais Simples

Você se sentirá melhor. Simples assim. Certamente, sempre há exceções.


Contudo, quase todos que se tornam vegetarianos se sentem melhor. Se você
não é vegetariano, tente e veja se não se sente melhor após um mês sem carne e
ovos. Alguns dizem que o sentimento se deve a você simplesmente car mais
saudável, enquanto outros apresentam explicações mais precisas de certos
elementos químicos liberados quando o corpo não está lidando com carne, e
outros ainda podem apresentar razões espirituais ou éticas para se sentir
melhor. Independente do caso, certamente há boas razões para se adotar uma
dieta vegetariana.

Ética

A lei dhármica número um é ahimsa: não cometer violência imerecida. Se


você pensar nisso, notará que todas as outras formas de imoralidade, como
roubar, mentir, ser in el, etc., têm um elemento de violência. Mesmo no uso
corriqueiro das palavras, você diz que foi “machucado” por uma mentira ou
por um adultério. Se alguém o rouba, isso “dói”. Por simplesmente estar
consciente da dor que suas ações ou palavras podem causar, e evitar isso
cuidadosamente, você consegue ter um estilo de vida muito nobre, que ecoará
de volta para você na forma de paz e felicidade. Isso se chama compaixão.
Se você é sério quanto a se autoaprimorar, esse mero argumento deve ser o
bastante. Bilhões e bilhões de animais são mortos todos os anos. Suas vidas são
cheias de sofrimento, e, ao m, são abatidos brutalmente. Aqueles que
trabalham nessa indústria abominável também sofrem imensamente; a nal,
independente de quão insensível e cruel alguém possa ser, os efeitos de passar o
dia todo, todos os dias, causando dor e morte são altamente destrutivos para a
mente humana. Esse nível de brutalidade em nome de satisfazer a língua é
simplesmente insano.
Já entendemos um pouco os males da xenofobia, sexismo, racismo e
intolerância religiosa. O próximo grande desa o ético é o especismo: a ideia de
que, simplesmente porque alguém é de uma espécie diferente, temos o direito
de brutalizá-lo e abusar dele sem qualquer misericórdia.

O Meio-ambiente

A indústria da carne está destruindo o planeta.


1. Gases do efeito estufa: De acordo com o Painel das Nações Unidas
sobre as Alterações Climáticas, a indústria da carne é responsável por
mais gases do efeito estufa do que todo o setor de transporte. Isso
signi ca que todos os aviões, tratores, trens, carros, motos e navios
estão emitindo menos gases do efeito estufa do que a indústria de
carne.
2. Água: Sendo vegetariano, você poupará aproximadamente 820 mil
litros de água por ano. Um quilo de carne precisa de cerca de 11 mil
litros de água para ser produzido. Em contraste, um quilo de soja
exige apenas 2 mil litros. Além disso, a indústria da carne está
poluindo os reservatórios subterrâneos de água com a assombrosa
quantidade de
resíduos de esgoto criados pelos animais, os quais, em sua maioria,
não são tratados e vão diretamente para o solo. Metade da água
utilizada nos Estados Unidos é para alimentar animais.

3. Terra: É surpreendente, mas 30% da superfície do planeta é utilizada


pela indústria da carne. O crescimento de terras para pastagem é o
principal culpado pela destruição de orestas e outros habitats
naturais. Nos EUA, 80% das terras agrícolas são utilizadas pela
indústria da carne.

4. Oceano: Nossos oceanos estão sendo destruídos, e parte disso se deve à


pesca excessiva. E 50% de todos os pescados são utilizados para
alimentar animais destinados ao abate. Por mais inacreditável que isso
soe, nenhuma outra espécie come tanto peixe hoje quanto as vacas.

Se você se importa com o meio-ambiente, a medida isolada mais efetiva


para contribuir com isso é se tornar vegetariano. Qualquer outra medida
consegue uma distante posição de segundo lugar.

Sua Saúde

Agora há evidências su cientes a provarem que uma dieta de base vegetal é


claramente a opção mais saudável. Não é apenas um tipo de saúde “se sinta
É
melhor”, mas do tipo “evite morrer de doenças do coração e câncer”. É um fato
médico cientí co que comer carne e ovos ampliará signi cativamente seu risco
de desenvolver doenças cardíacas e uma ampla gama de cânceres. Uma dieta
não-vegetariana é agora equivalente a fumar: um hábito ininteligente e
perigoso.
A boa notícia para os não-vegetarianos é que o corpo se autocurará caso
você pare de abusar dele através do consumo de carne e, em vez disso, adote
uma dieta vegetariana, da mesma forma que os pulmões podem se curar do
abuso de cigarros após muitos anos. Ainda melhor, estudos demonstram que
uma dieta de base vegetal de fato fortalece o corpo em sua luta contra o câncer
e doenças cardíacas, e também ajuda a reduzir ou eliminar a diabetes. Se você
quer se aprofundar nos dados e fatos cientí cos, recomendo o trabalho do
respeitado doutor e pesquisador Michael Greger. Em todo caso, aqui está uma
breve lista para sua consideração:
Doença cardíaca: Vegetarianos têm 24 por cento menos risco de ataques
cardíacos do que não-vegetarianos.
Câncer: Vegetarianos têm 40 por cento menos chances de desenvolver
câncer do que indivíduos que comem carne. (orogood et al, 1994).
Longevidade: Uma dieta de base vegetal ampliará sua longevidade. Um
estudo de doze anos realizado por pesquisadores de Oxford e publicado no
British Medical Journal demonstrou que vegetarianos vivem seis anos a mais do
que quem come carne. Dr. Michael F. Roize demonstrou que uma dieta
vegetariana pode ampliar sua vida em treze anos.[6]
Controle de peso: A taxa de obesidade entre veganos está entre 6 e 9 por
cento. Em comparação, 33,3 por cento dos não-vegetarianos são obesos. Não-
vegetarianos são entre 3 e 5 vezes mais propensos à obesidade.
Substâncias tóxicas: A Agência de Proteção Ambiental dos EUA estima que
quase 95 por cento dos resíduos de pesticidas na dieta tipicamente
estadunidense venha de carne, peixe e produtos lácteos. Peixes são os piores,
estando contaminados também por metais pesados, especialmente mercúrio,
que não são removidos ao cozinhar ou congelar.
Diabetes: Um período tão curto quanto duas semanas de uma dieta à base
de vegetais é o bastante para reduzir drasticamente a diabetes, e até mesmo
eliminá-la. A chance reduzida de excesso de peso em uma dieta vegana também
propicia um risco reduzido de desenvolver diabetes. E diabéticos têm o dobro
de chance de sofrerem um infarto ou um derrame.
Pressão sanguínea: Como reportado pelo Instituto do Coração, Pulmão e
Sangue dos Estados Unidos, apenas ampliar o consumo de frutas e legumes, e
reduzir o consumo de carne, é o bastante para ajudar a normalizar problemas
de pressão alta.
A lista continua. A pesquisa está aí: simplesmente não é saudável comer
animais. Pergunte a si mesmo: o suposto prazer das papilas gustativas ao comer
carne vale o aumento do risco de câncer e doenças cardíacas, ter um derrame
ou desenvolver diabetes, ou car com sobrepeso e morrer jovem?
Como renomado médico, escritor e pesquisador clínico, Dr. Neal Bernard,
fundador do Physicians Committee, diz: “Carne – qualquer carne – custa
vidas. Esse hábito promove intolerável sofrimento e doenças – não apenas entre
animais, mas também para muitas pessoas por elevar seu risco de doenças
cardíacas, diabetes, câncer de mama e morte precoce”.[7]

Seu Corpo

Uma explicação para os muitos riscos para a saúde decorrentes de comer


carne é que o corpo humano simplesmente não foi feito para isso. Não temos
os traços siológicos dos carnívoros, e nem mesmo dos onívoros; temos um
corpo mais similar aos dos herbívoros:
• Dentes e unhas: Temos caninos pequenos e unhas macias. Carnívoros
e onívoros têm caninos grandes e unhas a adas.
• Mandíbulas: Carnívoros e onívoros têm mandíbulas que se movem
principalmente para cima e para baixo. Os humanos, tal como os
herbívoros, têm mandíbulas que também se movem para os lados,
para moer grãos, plantas e nozes.

• Ácidos estomacais: Carnívoros e onívoros têm sucos gástricos


extremamente ácidos para digerir a carne e matar bactérias perigosas
na carne. Em comparação, o ácido do nosso estômago é muito fraco.
• Comprimento intestinal: Carnívoros e onívoros têm tratos intestinais
curtos para evitar a decomposição da carne, o que causa doenças. Nós
temos intestinos muito longos, que se destinam a extrair nutrientes de
alimentos de origem vegetal e quebrar bras.

Consciência

Carne e ovos são alimentos em tamas. Como explicado anteriormente, seu


corpo e sua mente estão conectados, e suas escolhas físicas têm um impacto
sério e profundo sobre sua mente e seu estado de consciência. Um dos fatores
mais importantes na determinação da in uência dos gunas sobre sua vida é a
sua dieta. Como diz o ditado: “Você é o que você come”. Tamas é a in uência
material mais pesada e trevosa. Ela “joga você para baixo”. Torna você bruto.
Empurra você para a insensibilidade e a apatia. Isso é o contrário do que você
quer para ter uma vida jubilosa e maximizar seu potencial. Se você é sério
quanto a atingir níveis mais elevados e mais re nados de consciência, uma
dieta destituída de carne é o primeiro passo.

Karma

Nas seções anteriores sobre bhakti e “juntando tudo isso”, expliquei a


importância de tornar sua vida uma oferenda amorosa a Deus. Como parte
desse grande objetivo, uma das práticas-chaves do Método 3T é oferecer seu
alimento a Deus antes de comê-lo. Esse é um exercício de gratidão e um
reconhecimento de que tudo vem de Deus. Por oferecermos nosso alimento,
eliminamos o karma contido nele, assim como, ao oferecermos qualquer ação a
Deus (karma-yoga), elimina-se o karma da ação. O ponto é que Deus também
pratica ahimsa, em virtude do que Ele não participa de violências gratuitas ou
na matança descabida de Seus lhos inocentes. Os alimentos que você oferece a
Deus são aqueles com violência mínima – alimentos vegetarianos. É claro que
o alface também é morto para ser comido, bem como a cenoura, mas o nível
de violência envolvido em matar um alface ou uma cenoura é obviamente
muito menor do que ao se matar um animal. Comer alimento vegetariano
oferecido, chamado prasada, signi ca ter uma dieta com zero karma. Mesmo
comer alimento vegetariano que não é oferecido implica a pessoa que come em
karma negativo, isso para não falar do alimento nascido de violência e abate.

Veganismo

O veganismo envolve dar um passo a mais e não comer lácteos. Os lácteos


em si, entretanto, não geram um efeito negativo em sua consciência; não estão
em tamas. Ao longo da história, avataras, yogis e outras personalidades santas
consumiam produtos lácteos. Nenhuma sociedade foi vegana, pela simples
razão de que não há fontes con áveis de B12 em alimentos vegetais – apenas
em lácteos, carne e ovos. B12 é uma vitamina essencial, e car de ciente de
B12 causa sérios problemas de saúde.
Uma vez que carne e ovos estão em tamas e são absolutamente cruéis, a
dieta padrão na tradição do yoga sempre foi o lactovegetarianismo. Na cultura
indiana tradicional, vacas leiteiras eram mantidas com amor e ordenhadas sem
violência contra elas ou contra seus bezerros. As vacas eram cuidadas até sua
morte natural, mesmo após terem parado de produzir leite. Em alguns lugares,
tanto na Índia quanto no ocidente, isso ainda acontece. O leite produzido
dessa maneira é chamado de “leite ahimsa”.
Infelizmente, é difícil se obter leite ahimsa. A indústria do leite e derivados,
como um todo, é cruel, com vacas sofrendo e sendo abatidas após poucos anos
– separadas de seus bezerros e vendidas para o corte. Sem dúvidas, portanto, há
fortes razões éticas contra o uso de produtos lácteos. Lácteos também afetam
negativamente sua saúde, de modo que é melhor restringir o seu consumo,
mesmo caso você tenha acesso a produtos ahimsa. Atualmente, com o advento
dos suplementos de vitamina B12 e alimentos veganos forti cados, não há
benefícios de saúde em consumir produtos lácteos. E com a escassez de “leite
ahimsa”, o veganismo é a melhor opção para quem busca maximizar seu bem-
estar físico e espiritual.

Consumo Cultural

Toda canção que você ouve, texto que você lê, imagem que você vê, lme
ou peça teatral que você assiste – o que eu chamo de “consumo cultural” –
afeta você, positiva ou negativamente. Você, de alguma forma, tem que
processar essa in uência. Ela pode afetar o seu comportamento. Por exemplo,
música heavy metal pode fazer com que você se sinta irritado ou sicamente
agitado. Músicas e lmes românticos podem fazer com que você sinta a
necessidade de encontrar um parceiro romântico idílico. Documentários
podem fazer com que você pense mais detidamente sobre um assunto. Se você
ouvir música barroca, poderá se sentir mais calmo. Caso ouça a entoação de
mantras, você talvez se sinta mais espiritualizado ou relaxado. E se você ouvir
músicas devocionais, é provável que se sinta em paz e se lembre de Deus. Tudo
isso afeta você e molda quem você é e como você pensa.
Sabendo disso, você deve ser cuidadoso em relação ao seu consumo cultural.
Isso deve ser um meio para tornar sua vida melhor, uma ferramenta para
lapidar uma versão melhor de si mesmo, e não uma âncora para a versão de si
mesmo que você está tentando transformar. Você tem que estar ciente de quais
aspectos de sua natureza seu consumo cultural está estimulando. Está
estimulando seu desejo pelo paradigma da fantasia, ou o está estimulando a ser
mais egoísta, violento ou ganancioso? Ou está ajudando você a se tornar uma
pessoa melhor?
Nos termos do yoga, qual é o guna predominante de sua dieta cultural?
Assim como um consumo cultural em sattva faz você se sentir melhor, mais
saudável, mais em paz e por inteiro capaz de crescer espiritualmente, um
consumo cultural em rajas, e especialmente em tamas, terá um impacto
negativo no seu bem-estar como um todo.
Certamente, temos que nos divertir; é parte do nosso dharma natural.
Contudo, o tipo de entretenimento que você escolhe terá um impacto sobre
você. É como comer. De vez em quando, você talvez queira comer algum tipo
de junk food. Contudo, seu corpo terá que processar isso por muito tempo
depois que a diversão acabe. O mesmo acontece com o que você consome com
seus olhos ou com seus ouvidos. Quanto mais sáttvico for seu consumo
cultural, melhor você será.

Limpeza e Ordem
Duas das maiores qualidades de sattva são limpeza e ordem. Tenho certeza
de que você já sentiu o impacto que limpeza e ordem têm sobre sua mente.
Quando você se banha após acordar ou ao chegar em casa depois do trabalho,
você se sente mais leve. Quando você limpa e organiza o local onde ca, você
se sente melhor. Quando você veste roupas limpas ou até mesmo quando
simplesmente troca sua roupa de cama, você consegue sentir um impacto
positivo. E o oposto também é verdade. Você talvez já tenha entrado em uma
casa particularmente suja e desorganizada e tenha sentido uma sensação
negativa e, de alguma forma, deprimente. Você talvez já tenha entrado em um
bar ou clube noturno em estado precário ou sujo e tenha experimentado um
ambiente pesado e sem vida.
Limpeza é algo frequentemente recomendado na literatura sagrada do yoga.
Menciona-se essa qualidade no Yoga-sutra como a primeira recomendação para
quem deseja avançar no yoga. Na Bhagavad-gita, Krishna enumera diversas
qualidades “divinas” necessárias para a elevação pessoal, entre as quais consta a
limpeza. Entre os cristãos, encontramos a famosa instrução: “A limpeza está
perto de Deus”.
Uma consequência relevante disso pode ser sentida na prática
absolutamente importante da meditação. Você meditará melhor com um corpo
limpo, em um ambiente limpo e com pouca informação visual (ou na
natureza), e usando roupas limpas.
Quando você dorme, você transpira e baba. A medicina indiana antiga, o
ayurveda, ensina que, durante o sono, seu corpo se livra de toxinas por meio da
pele. Assim, um banho diário pela manhã é fundamental para preservar a
limpeza em sua vida. Mais um banho após um longo dia fora de casa também é
de bom auxílio. Outro hábito importante é se descalçar antes de entrar em
casa. Dr. Charles Gerba, da Universidade do Arizona, identi cou 440 mil
germes perigosos em um calçado utilizado por apenas duas semanas. O chão de
um banheiro público tem quase 1 milhão de bactérias por centímetro
quadrado. Isso não é o tipo de coisa que você gostaria de levar para sua casa.
Tenha cuidado também ao compartilhar touchscreens, uma vez que abrigam
uma surpreendente quantidade de germes. A cozinha, em especial, deve ser um
lugar de limpeza estrita, apesar de se ter descoberto que é o lugar que tem mais
germes em toda a casa.
Em relação à ordem, pesquisadores do Instituto de Neurociência da
Universidade de Princeton demonstraram que desorganização reduz sua
capacidade de se focar e de processar informações – a capacidade de organizar
seus pensamentos. Um estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles
demonstrou que excesso de informação visual sobrecarrega seus sentidos e faz
com que você se sinta estressado. Desordem também pode estar presente em
nossa vida em formato digital – e-mails, mensagens e arquivos de computador
mal organizados podem afetar nossa consciência.

Simplicidade

Os benefícios da simplicidade e da organização podem ir além quando você


remove a desorganização existencial de sua vida. A ideia básica é que quanto
menos você tem, menos você tem que se preocupar e mais você cará em paz.
E como Krishna diz na Bhagavad-gita: “E como pode haver felicidade sem
paz?”
Você é limitado sob todos os aspectos. Você tem apenas determinada
quantidade de energia, determinada quantidade de poder, determinada
quantidade de dinheiro... e há apenas 24 horas em um dia. Você, portanto, tem
que decidir cuidadosamente como utilizar essas fontes limitadas. Um
movimento motivador de uma vida simples está crescendo pelo mundo,
conforme as pessoas nalmente compreendem que menos é mais. Quando
você reduz ao mínimo suas posses, você experimenta mais liberdade e mais
bem-estar.
A primeira regra é comprar apenas o que você precisa. Isso se torna mais
fácil quando você está equipado com o conhecimento do dharma. Seus
recursos nanceiros devem ser utilizados como um meio para a execução do
seu dharma. Saber o que comprar se torna claro quando você pensa dessa
maneira. É como trabalhar para uma empresa ou ter uma posição
governamental e ser responsável por prestar contas de cada centavo que você
gasta. Você pode ter esse tipo de seriedade em sua própria vida, onde a política
da “empresa” é executar seu dharma. Mantenha-se responsável e sempre se
pergunte se você realmente precisa de algo antes de comprá-lo. “Isso
aprimorará a execução do meu dharma?” “Comprar isso é parte do meu
dharma?” Você tem que prestar contas disso. O dinheiro não é realmente seu.
Foi con ado a você, e como você o gasta afetará sua mente, seu bem-estar e seu
futuro.
Comprar impulsivamente, in uenciado por uma vitrine bonita ou por uma
campanha promocional so sticada, é um sinal de fraqueza da mente. Não é
apenas um desperdício de seus recursos, mas também dos recursos do planeta.
Invista em experiência, não em coisas. Elas farão de você alguém mais feliz.
Uma experiência se torna uma parte integral de quem você é, ao passo que um
objeto, independente de o quanto você goste dele, é sempre algo externo a
você. E você pode compartilhar experiências similares com outros mais
profundamente do que produtos semelhantes.
Desligue-se e busque pela solidão para cultivar simplicidade. A sociedade
sem senso crítico atual é movida pelo consumismo. Propagandas estão por toda
parte, bombardeando você com sugestões para comprar coisas que você, na
verdade, não precisa. Para criar uma mentalidade de vida simples, presenteie-se
com um pouco de espaço longe dessa in uência perturbadora.

Cuidando do Seu Corpo

Mens sana in corpore sano – um corpo saudável ajudará você a ter uma
mente saudável. O corpo é uma máquina complexa e precisa de manutenção
apropriada. Exercícios fazem você se sentir melhor. Você pode eliminar o tamas
(letargia, tédio, peso) enquanto transpira na academia, na quadra ou sobre o
tapete de yoga. Exercícios têm muitos benefícios:
• Ajudam no controle do peso
• Reduzem o risco de doenças cardíacas
• Podem baixar a pressão sanguínea
• Aprimoram seus níveis de colesterol

• Reduzem o risco de câncer


• Fortalecem seus ossos e músculos
• Ajudam você a se manter equilibrado
• Melhoram seu humor

Se você se considera alguém com pouco tempo para esse dharma natural e
essencial, procure por “Treinamento de Alta Intensidade com Intervalos”. Algo
tão curto quanto dez minutos de exercício pode proporcionar benefícios
signi cativos. Também recomendo calistenia e treinamento suspenso, que
usam apenas movimentos, cordas, barras e o peso do próprio corpo. Esses
exercícios são mais naturais e proporcionam um trabalho corporal mais amplo
do que os exercícios que se valem de pesos e aparelhos.
Hatha-yoga ou qualquer yoga de asanas é um excelente exercício geral, mas
manterá você em forma somente caso você pratique uma ampla variedade de
asanas várias vezes por semana, de preferência todos os dias. De outro modo, é
melhor complementar sua prática com outras formas de exercício. Tai Chi é
uma bela forma de se exercitar que, fora da China, não tem a atração e a
atenção que merece.
E há também caminhadas. Fazer caminhadas é uma forma de exercício
subestimada, mas que tem benefícios enormes para a saúde e um risco muito
baixo de contusão. Tente fazer meditação mântrica (ensinada no m deste
livro, no Método 3T) enquanto caminha. É um exercício excelente para o
corpo e para o espírito.
Essas são apenas algumas sugestões. Há muitas opções de exercícios para se
manter em forma e saudável. Escolha o que funcione para você!

Leve a Sério o Ato de Dormir

Dormir pode parecer um luxo ou, para alguns, uma perda de tempo.
Contudo, é essencial para o seu bem-estar. Como mencionado anteriormente,
dormir é parte de seu dharma natural. Krishna diz na Bhagavad-gita que um
yogi não deve dormir nem pouco demais nem mais do que o necessário. Nestes
dias, o perigo para a maioria das pessoas é dormir menos do que o su ciente.
Há simplesmente distrações demais, trabalho demais e agitação mental demais.
Mais de um terço dos brasileiros sofre de privação de sono. Aqui estão alguns
dos males causados por sono insu ciente:
1. Acidentes: Milhares de mortes ao ano acontecem em decorrência de
acidentes de trânsito. Outros tipos de acidentes também, incluindo o
acidente nuclear de 1979, no ree Mile Island, o grande
derramamento de petróleo de 1989 do navio Exxon Valdez, no
Alasca, e o acidente nuclear de Chernobil, em 1986, tiveram privação
de sono como um fator.

2. Funcionamento cerebral reduzido: Falta de sono reduz o poder de


concentração, atenção, alerta e a capacidade de solucionar problemas.
Estudos demonstram que grandes privações de sono equivalem a estar
bêbado. Falta de sono também afeta sua memória e faz você se sentir
mais deprimido.
3. Saúde ruim como um todo: Sono insu ciente pode ser um fator a
contribuir para problemas de coração, pressão sanguínea alta, risco de
derrame e diabetes.
4. Aparência doente: Falta de sono envelhece sua pele devido à liberação
excessiva de cortisol, que reduz o colágeno, a proteína que mantém a
pele macia.
5. Julgamento prejudicado: Falta de sono afeta sua capacidade de julgar
corretamente, incluindo os efeitos da própria falta de sono. Pessoas
carentes de sono têm resultados ruins em testes psicotécnicos, mas
consideram que estão bem.

Dicas para dormir bem incluem:


1. Vá para cama antes de 10 horas da noite.

2. Mantenha o quarto silencioso, fresco e muito escuro.


3. Aceite isso como seu dharma natural. Você precisa e merece dormir.
4. Quando chegar o horário de dormir, foque em simplesmente relaxar;
não deixe sua mente vaguear por problemas ou começar a fazer
planos.

5. Pouco antes de ir dormir, ou se você acordar durante a noite,


mantenha as luzes fracas. Luzes fortes fazem seu cérebro pensar que é
hora de acordar. Luzes fortes no seu celular, tablet ou tevê também
despertarão você. Seu cérebro libera melatonina quando está escuro,
ajudando você a dormir melhor.

Exercícios respiratórios – pranayama, em sânscrito – também auxiliam. Dr.


Andrew Weil tornou-se uma notícia internacional em 2015 quando declarou
que a técnica respiratória 4-7-8 poderia fazer você dormir em um minuto.[8] A
técnica é simples:
1. Exale completamente pela boca, fazendo um som parecido com
“whoosh”.
2. Feche sua boca e inale silenciosamente pelo seu nariz enquanto conta
mentalmente até quatro.
3. Retenha sua respiração enquanto conta até sete.
4. Exale completamente pela boca, fazendo um som parecido com
“whoosh” mais uma vez e contando até oito.
5. Isso é uma respiração. Agora, inale mais uma vez e repita o ciclo mais
três vezes, totalizando quatro respirações.

Recorrer a power-naps também pode ser bené co, especialmente se você não
consegue dormir o bastante à noite. Um cochilo de dez a vinte minutos no
meio do dia pode ajudar você a recobrar energia, ter melhor memória e
aumentar seu poder de alerta.

Perigos da Língua

O órgão sensorial mais traiçoeiro é a língua. Há duas razões para isso: 1) a


língua leva você a comer e consumir toda sorte de coisas que são danosas para
seu bem-estar mental e espiritual, e pode até mesmo matar você
prematuramente, e 2) a língua permite que você fale muitas coisas sem sentido
e diga coisas detestáveis.
Falamos sobre os perigos de comer alimentos não-vegetarianos e as
desvantagens de consumir álcool, café e outras drogas. Porém, e quanto aos
perigos de falar coisas inúteis?
Conversar consome sua atenção e sua energia material. Você pode fazer
muitas outras coisas, como dirigir, correr, assistir a um lme ou malhar
enquanto sua mente está completamente em outro lugar. No entanto, você não
consegue isso em relação ao ato de falar. É algo que realmente demanda sua
atenção. Qualquer coisa que você tente fazer ao mesmo tempo cará em
segundo lugar.
Porque é algo muito intenso, o que você diz terá um impacto forte sobre sua
própria consciência. Também afetará aqueles que o ouvem, mas apenas na
proporção em que estejam atentos. Como o orador, você é o mais afetado, pois
grande parte de sua atenção está sendo convergida para o ato de falar.
Se você falar coisas sem sentido, será contaminado por esse contrassenso.
Você está criando seu próprio consumo cultural negativo. Pior do que isso,
caso você fale coisas detestáveis, poluirá sua mente com energia negativa, o que,
por m, voltará na forma de pioras em sua vida, em algum nível. Tudo isso é
lixo que você terá que processar e que afetará quem você é e o que você
experimenta na vida.
O ímpeto de falar é muito forte. Apenas observe qualquer situação com
mais de uma pessoa. As pessoas não conseguem parar de tagarelar –
frequentemente com horas de bate-papo inútil e fofocas. É um verdadeiro
desa o, e de grande importância, controlar esse ímpeto.
Você pode parar esse falatório ao tentar lentamente controlar sua língua.
Primeiramente, tente notar quando esteja falando sem necessidade. Então,
tente restringir esse ímpeto. Encurte ou corte sua fala. Talvez você precise
ajustar seu local de trabalho ou evitar con gurações sociais onde esse tipo de
prática seja comum. Além disso, não se permita ser vítima da falação ou
reclamação sem m de alguém. Com gentileza, porém rme, peça licença para
se retirar. Se puder, diga abertamente que está tentando se aprimorar e superar
seu hábito de falar demais. Se possível, faça um voto privado de evitar fofoca e
fala detestável.
Falar coisas que machucam é um desastre. Você pode arruinar
relacionamentos e causar uma dor duradoura a outros, geralmente as pessoas
mais próximas de você. De uma maneira ou outra, essa dor voltará para você.
Você sentirá vergonha e tristeza por ter dito o que disse, mas, independente do
quanto você peça desculpas, o dano terá acontecido. Suas palavras serão
lembradas por aqueles que você machucou – e, provavelmente, por você
também.
Nos dias de hoje, também temos que estender aos nossos dedos o nosso
alerta dos perigos da língua. Muita fofoca e discursos inúteis ou mesmo
detestáveis acontecem na forma de mensagens de celular ou textos digitados na
internet. Os mesmos princípios se aplicam.
Krishna descreve a perfeição da fala na Bhagavad-gita. É uma meta distante,
mas uma meta pela qual você pode se esforçar. Ele diz que a fala de ouro
atende a quatro critérios: 1) é veraz, 2) é agradável, 3) é bené ca e 4) não é
perturbadora. Se o que você falará não atende a esses critérios, experimente
car em silêncio.

O Silêncio

Calar realmente é ouro. O axioma de Platão é perfeito: “Os homens sábios


falam porque têm algo a dizer, os tolos falam porque têm que dizer algo”. Há
coisas demais adentrando os ouvidos das pessoas – conversa demais, música
demais, tevê demais, podcasts demais, rádio demais, vídeos demais e ruídos de
tráfego demais –, uma das principais razões para as pessoas estarem tão
confusas, agitadas e desarmônicas.
O silêncio ajuda a paci car a mente e focá-la, em virtude do que é um
grande aliado para se obter paz interior. No silêncio contemplativo, você pode
se descobrir, bem como desvelar e curar velhos traumas emocionais e, se você
tiver se quali cado para isso por meio de jnana e bhakti, entrar em comunhão
divina. O silêncio, no mínimo, permitirá que você organize seus pensamentos,
ajudará você a ser criativo e lhe dará clareza mental. Pesquisadores da
Universidade da Califórnia em Los Angeles descobriram que o silêncio auxilia
o desenvolvimento do seu cérebro e sua capacidade de processar informações.
O silêncio contemplativo é uma ferramenta poderosa para quem busca
autoaperfeiçoamento e autorrealização. Você deve experimentar isso todos os
dias, em diferentes momentos durante o dia, mesmo que seja ao longo de um
mísero minuto.

Sexo como um Ato Sagrado

Sexo é uma questão séria. É o ato derradeiro de intimidade. O sexo cria


uma troca de energia sutil, que pode afetar sua consciência muito
profundamente. Porque é tão poderosa, essa atividade pode causar grandes
efeitos, sejam positivos, sejam negativos. Pode conduzir você a uma paz interior
e harmonia ainda maiores, ou causar enorme sofrimento.
Quando vivido dentro de uma união sagrada, o sexo é um ato sagrado.
Nesse contexto, pode ser praticado como uma con rmação dessa união – de
troca, cuidado mútuo e a profunda e exclusiva intimidade de um casal, ligado
por votos e juramentos.
A promiscuidade é perigosa, e coloca você em maior risco de contrair
doenças sexualmente transmissíveis, incluindo HPV, HIV, clamídia e cânceres
de boca, colo do útero e ânus. Também envolve uma aposta emocional.
Promiscuidade é ligada a depressão, à incapacidade de ter relacionamentos
saudáveis e conduta de risco.
O fato simples é que o sexo entre um homem e uma mulher pode levar à
procriação. Mesmo com toda a tecnologia anticoncepcional disponível,
gestações indesejadas abundam, incluindo entre pessoas de boa instrução e
prósperas. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, 50%
de todas as gestações nos Estados Unidos em 2006 foram indesejadas. Entre
adolescentes, a taxa foi de surpreendentes 80%.[9]
As consequências de uma gravidez indesejada são grandes. Uma nova vida
humana teve início no momento da concepção. Aborto é um ato abominável e
imoral, o assassinato do próprio lho. E quando o sexo acontece fora de uma
relação amorosa, é improvável que a mãe e o pai carão unidos em harmonia
ou servirão o lho juntos. O mais provável é que a mãe terá que suportar o
fardo de criar o lho sozinha, visto que é muito comum que o pai,
descaradamente, faça pouco ou nada.
Isso é perigoso e destrutivo tanto para o lho quanto para a sociedade: “O
indicador mais con ável de crime violento em uma comunidade é a proporção
de famílias sem pai... Filhos de famílias constituídas apenas pela mãe ou apenas
pelo pai são mais propensos do que lhos de famílias com pai e mãe a usarem
drogas, serem membros de gangues, serem expulsos da escola, serem internados
em instituições reformatórias e se tornarem assassinos juvenis”. (NCJRS,
Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Sadler, 1997).
Criar um lho é uma responsabilidade intensa, e é extremamente desa ador
fazer isso sozinho. É muito melhor quando há um casal de pai e mãe, ou, ainda
melhor, como diz o provérbio africano, quando há toda uma vila. O sexo entre
um homem fértil e uma mulher fértil deve sempre ser entendido como um ato
de possível procriação, motivo pelo qual deve ser feito somente por aqueles que
estejam dispostos a aceitar as consequências como um casal, com amor e
responsabilidade.
Restringir o sexo a uma união sagrada resguarda seu bem-estar. Protege você
de doenças e de ter um lho com alguém que você talvez nem goste. Essa
restrição, que inclui não ser adúltero, também auxilia na manutenção da
família, que quase sempre se desintegra diante de um caso extraconjugal. A
perfeição do sexo é o ato consciente e sóbrio de um casal invocando um lho.
Essa é a forma mais bela e divina do sexo. O sexo dentro de uma união sagrada
protege você da frustração e do torpor emocional que decorre de ter intimidade
imprópria com uma pessoa com quem você não está verdadeiramente ligado.
Fazer do sexo uma ato exclusivo de intimidade com a pessoa que você escolheu
para compartilhar sua vida torna o sexo uma importante expressão de seu amor
e de seu compromisso.

Visão de Unidade e Serviço

Em termos espirituais, somos todos um. Não “um” no sentido de uma


entidade única, mas “um” no sentido de sermos todos almas transcendentais.
Na plataforma espiritual, não existe tal coisa como uma alma rica ou uma alma
pobre, ou uma alma inteligente e uma alma tola, ou uma alma bela e uma alma
feia. Todas as almas são centelhas divinas, perfeitas em quem elas são. Somos
todos igualmente puros e perfeitos, e igualmente amados por nossa Mãe e
nosso Pai, Radha-Krishna.
No mundo material, não existem duas pessoas igualmente quali cadas; não
existem duas pessoas iguais. Contudo, essas diferenças são temporárias e
super ciais. Em última instância, toda alma recobrará seu estado
transcendental puro.
O espiritualista pode ver todo ser vivo em unidade. “Com visão equânime
em todo lugar, o eu ligado ao yoga vê o Eu em todas as criaturas e todas as
criaturas no Eu”, Krishna explica na Bhagavad-gita[10]. O yogi reconhecerá que,
apesar de quaisquer diferenças externas aparentes, todas as criaturas viventes
possuem profunda conexão.
Isso é especialmente importante porque o ódio se baseia em perceber
diferenças. Diferenças em nacionalidade, raça, sexo, religião e classe social são
todas considerações ilusórias e insigni cantes que levam indivíduos de mentes
perturbadas a serem violentos. Não apenas os seres humanos, mas toda criatura
vivente é parte da mesma família. É do maior interesse de todos, portanto,
trabalharem em cooperação, valorizando nossa unidade acima de nossas
diferenças super ciais.
Como almas, nosso único afazer é amar e, então, servir. No estado mental
de nos identi carmos com todas as demais criaturas viventes, a tendência
natural é desenvolvermos a postura de serviço, que, em sânscrito, se chama
seva. O serviço, como já dito, é o fruto natural do amor. Quando você é egoísta
e mundano, você quer ser servido. Quando você expande sua consciência e se
espiritualiza, você quer servir. É simples assim. Esse serviço acontecerá de
acordo com o seu dharma. Talvez lhe traga grande fama, ou talvez você nem
seja reconhecido. Talvez lhe traga dinheiro, ou talvez faça com que você perca
todo o seu dinheiro. Talvez seja fácil, ou talvez seja cheio de problemas.
Contudo, não importa nenhuma dessas considerações, pois são todas externas e
não têm qualquer ligação com seu verdadeiro eu. O que realmente importa
para a alma é aquilo que diz respeito à alma: a experiência de estar ocupado em
seu dharma, na postura de serviço amoroso em comunhão divina. Embora a
bem-aventurança não seja o objetivo do amor e do serviço, é a consequência.
As Companhias que Você Tem

A maior in uência dos gunas sobre você vem através das companhias que
você tem. Você é profundamente in uenciado por aqueles que você mantém
perto de si. Isso pode se tornar um problema caso você esteja buscando por
transformação. As pessoas mais próximas de você talvez não gostem de ver você
mudar, e, se esse é o caso, você não mudará sem antes fazer ajustes em relação
às suas companhias e em relação aos hábitos e às con gurações mentais que
representam.
Como George Washington disse: “Antes só do que mal acompanhado”.
Solidão é algo poderoso porque liberta você da in uência de outras pessoas.
Você tem que ser você mesmo, por você mesmo, com você mesmo. É
importante criar esses momentos na vida para conseguir se conhecer melhor.
Não podemos viver em completo isolamento, mas tais momentos podem
auxiliar a fortalecer sua determinação de buscar por melhores companhias.
Quase todo espiritualista sério tem que lidar com esse problema de ajustar
seu círculo social à sua nova realidade. Exige paciência e coragem, mas é
realmente essencial. Você começa rejeitando convites para situações que não
são mais atrativas para você, como programas em lugares aonde as pessoas vão
para se embebedar ou falar bobagens, e você, pouco a pouco, busca por outra
comunidade, mais alinhada com seus princípios recém-descobertos de
transformação e espiritualidade. Gradualmente, você tem que encontrar sua
“nova tribo”.
Pode ser útil buscar encontros ou eventos com aqueles que compartilham de
suas metas e práticas espirituais, car na companhia de praticantes sérios de
igual mentalidade. Há festivais, kirtanas (shows de mantra ou cantos em grupo),
aulas e templos que você pode visitar. Tenha o cuidado de evitar fanatismo e
comportamento sectário. Há sempre potencial para abuso em organizações
espirituais, em virtude do que mantenha sua inteligência e preserve sua
independência.
Respeite, sirva e seja legal com todos, mas escolha cuidadosamente com
quem você quer ter grande proximidade. A mentalidade dessa pessoa afetará
sua mentalidade, e vice-versa; você compartilhará seu estado de consciência. A
maneira mais rápida de se transformar é buscando a companhia de quem tem
as qualidades que você quer assimilar.

Uma Cultura de Respeito

Um dos maiores obstáculos ao crescimento é o orgulho. O orgulho bloqueia


sua capacidade de ver suas faltas e aprender com outros. Isso alimenta a
tendência a ser autocentrado, bem como outros defeitos, como competição,
mentira e arrogância, o que inibe sua devoção. Uma maneira de lidar com o
orgulho é praticar o respeito. Quando você demonstra respeito, você está
demonstrando apreciação. Você está expressando a visão de que a pessoa tem
valor e merece seu apreço.
Porque o orgulho é muito danoso a qualquer caminho de
autoaperfeiçoamento e autorrealização, desenvolver humildade e abandonar o
autocentramento é crucial. Esse é certamente o caso do caminho do yoga.
Como parte da prática da humildade, aqueles neste caminho cultivam respeito
e o demonstram através de diferentes gestos manuais e corpóreos.
A famosa saudação “namastê”, com um curvar-se do corpo e as palmas das
mãos unidas, é uma forma de demonstrar seu respeito. Sua tradução literal é:
“Eu me curvo a você” (não “o Deus que há em mim saúda o Deus que há em
você”). Bhakti-yogis gostam de usar os santos nomes em suas saudações, de
modo que frequentemente dirão “Hare Krishna!” em vez de “namastê”
Mais formal, é oferecer respeito tocando a testa no chão, enquanto sobre os
joelhos e com as palmas das mãos estendidas no chão, quando você se encontra
com um instrutor espiritual ou praticante avançado em um local apropriado
para isso. A demonstração mais formal de respeito na tradição do yoga se
chama dandavat, que signi ca “como uma vara” – quando você se prostra
completamente, com oito partes (dois dedões dos pés, dois joelhos, duas
palmas, o tronco e a testa) do corpo tocando o chão. Isso é apropriado quando
você vê seu mestre espiritual, ou uma Deidade no templo. Valer-se de todo o
seu corpo para oferecer respeito a Deus e a grandes almas é uma grande
maneira de invocar misericórdia e crescer. É um poderoso asana para superar o
orgulho e desenvolver a humildade.
Uma cultura de respeito torna as relações sociais mais uídas. Gera uma
atmosfera pací ca e ajuda a evitar condutas grosseiras e inapropriadas. Ajuda
você a se tornar mais humilde, mais grato e mais inclinado a servir. Torna mais
fácil apreciar outros.

Aceitar um Instrutor Espiritual

Existe uma variedade de objetivos espirituais e numerosas técnicas para


alcançá-los. A menos que você escolha um caminho e se aferre a ele até que
encontre um melhor, você não avançará muito. Buscar por técnicas e
ensinamentos dispersos, mas sem nunca se comprometer com um caminho
não é efetivo. Sou espiritualista e observo espiritualistas há vinte e cinco anos, e
é um fato inegável que você tem que se comprometer com um caminho. Mais
tarde, caso você precise, você pode adotar outro; você deve sempre manter a
mente aberta e usar sua inteligência. Se, contudo, você não tem uma meta
especí ca e um conjunto diário de práticas, transmitidas e corpori cadas em
um instrutor espiritual dedigno, você cará “patinando”, sem sair do lugar,
simplesmente tentando satisfazer sua própria mente. Você se deparará com a
preguiça. Uma pessoa lhe dirá que você deve meditar por vinte minutos ao dia,
no mínimo, usando mantras. Outra pessoa dirá que cinco intervalos de silêncio
por um minuto ao dia são o bastante. Uma terceira pessoa diz que você deve
praticar mindfulness, mas ignorar Deus. E assim por diante. Se você não se
comprometer com um caminho, sua mente lhe dirá para fazer uma coisa um
dia, outra coisa no dia seguinte e, na maioria dos dias, nada. Não haverá
nenhuma clareza de visão ou propósito. E sem uma prática diária xa,
chamada sadhana, o progresso é muito lento. A m de avançar estavelmente
em seu progresso de transformação e autorrealização, é essencial escolher um
caminho e um instrutor espiritual principal.
O conceito de aceitar um instrutor espiritual, ou guru, é um conceito
relativamente novo para os ocidentais, e, algumas vezes, há um choque
cultural, uma estranha fusão de culturas. Guru é o termo sânscrito equivalente
a “professor”. Não signi ca “mestre espiritual”; um professor de gramática ou
artes marciais também é guru. Uma vez que a espiritualidade é o ensinamento
mais importante, é compreensível que você ofereça ao mestre espiritual o
respeito mais elevado. Ainda assim, não devemos nos esquecer de que o guru é
um professor. Ele é humano, e é bastante provável que ainda esteja aprendendo
e evoluindo, mesmo se alguns aleguem que são perfeitamente iluminados.
No Ocidente, a primeira impressão de muitas pessoas acerca dos gurus
indianos é de guras altamente carismáticas, mas nem todas genuínas. Muitos
deles realmente “fazem um espetáculo” e, posteriormente, suas motivações
ulteriores, de busca por fama, sexo e/ou dinheiro, tornam-se aparentes. Muitos
chegaram nas décadas de 60 e 70, quando a cultura hippie estava em completo
vigor e as pessoas tinham inclinação por coisas exóticas. Isso, algumas vezes,
levou a um culto extravagante e uma mentalidade de seita em que o guru era
visto como mais do que um instrutor; ele era um salvador, além da condição
humana, ou Deus que veio em forma humana, livre de todos os erros. Essa
abordagem irracional criou cultos de personalidade longe de serem saudáveis.
Muito pouco ou demais de qualquer coisa boa é ruim. Há muitos
problemas que decorrem do desejo natural de honrar e apreciar o mestre
espiritual excessivamente:
1. Regressão à infantilidade: Algumas pessoas abandonam sua
responsabilidade e projetam em um instrutor espiritual carismático o
papel de mãe ou pai até o ponto em que se tornam como crianças,
cando incapazes de tomar decisões sem consultarem o mestre
espiritual. Consideram que esse indivíduo pode aconselhá-los sobre
casamento, nanças, trabalho e política. O pior é isto: muitos
instrutores espirituais têm alegria em aceitar ou até mesmo encorajam
esse poder sobre seus estudantes. Isso cria uma relação doentia e
perigosa. Abusos sexuais e psicológicos, bem como busca por lucro,
começam por esta abordagem.

2. Expectativas irreais: Pessoas podem esperar que o mestre espiritual ou


as empurre para a iluminação ou simplesmente as abençoe com a
perfeição. Isso, entretanto, não funciona assim. A graça do mestre
espiritual é o conhecimento. Ele ou ela pode conferir conhecimento e
demonstrar o exemplo. Somente um estudante sério e quali cado
consegue colocar em prática as instruções e, pouco a pouco, ao longo
do curso de sua vida, superar suas falhas, ilusões e apegos. Não
existem atalhos. Esteja atento contra charlatões que oferecem atalhos
para a perfeição espiritual eterna, especialmente com um preço.
3. Admiração fanática: Um estudante não deve cultivar uma mentalidade
de fã ou se tornar um sujeito irre etido quanto ao carisma e à fama de
um instrutor. Antes de se comprometer com ele ou ela, o estudante
deve analisar com sobriedade as qualidades morais, os ensinamentos e
as quali cações do instrutor espiritual, e o conhecimento de sua
linhagem espiritual. Há abundância de pessoas de enorme carisma e
fama que são destituídas de espiritualidade. Essas qualidades não
indicam o caráter de um instrutor.

Como ocidentais, tendemos a diminuir tudo isso. Qual é o máximo respeito


que você já demonstrou por um professor ou mentor? Amplie isso um pouco e
aplique ao instrutor espiritual. Você não precisa ter fotos gigantescas dele em
sua casa ou vestir camisas com seu rosto. Se você tem um altar, o foco principal
deve ser em Deus, e não no seu mestre espiritual. Um instrutor genuíno cará
feliz ao ver isso. Ele não terá nenhuma necessidade de ser adulado, de ter você
aos pés dele. A postura geral deve ser de apreciação e respeito amigável, com
uma disposição a servir – e não irracionalidade, choradeira e lisonja. Ter os pés
no chão em relação à sua espiritualidade e em relação ao seu instrutor espiritual
é saudável. Também é racional e prático. Não é preciso conferir um ar
“místico” ou estranho para isso.
Escolha um mestre espiritual e se dedique aos ensinamentos dele. Respeite-o
e compreenda a imensa dívida de gratidão que você tem com ele. Entenda que
a melhor maneira de servir seu mestre espiritual é avançar fortemente no
caminho que ele está ensinando, de modo que você mesmo possa, um dia, se
tornar um guia espiritual e pagar sua dívida.

Verdadeiro Sucesso e Prosperidade

O mundo precisa desesperadamente de um novo padrão para sucesso e


prosperidade. A ideia de que sucesso signi ca dinheiro e fama, e de que
prosperidade signi ca um monte de coisas – muito mais do que poderíamos
necessitar –, não é nada além de insanidade. Isso não leva em consideração
duas verdades óbvias: 1) que o verdadeiro padrão de sucesso é a felicidade e o
bem-estar, e 2) que a felicidade tem pouca ligação com dinheiro, fama e posses.
Essa mensagem é tão óbvia e simples que é expressa vezes e mais vezes em
histórias populares tanto para crianças quanto para adultos – a felicidade vem
de fazer a coisa certa e de amar e servir, e não de ter poder, dinheiro ou posses.
Isso é o tipo de coisa que todos sabem, mas que poucos seguem. As pessoas se
torturam em empregos estressantes e estafantes por décadas, ansiando por um
pote de ouro tóxico. Estamos destruindo o planeta e arruinando nossa vida em
uma busca desnorteada pela felicidade no consumismo e no status social.
Comprar coisas e acumular bens não fará você feliz. “Apesar das declarações
contrárias da cultura do consumo”, declara Tim Kasser, professor de psicologia
da Universidade Knox e autor de dois livros sobre materialismo e cultura
consumista, “o que pesquisas em literalmente dezenas de estudos demonstram
é que quanto mais as pessoas priorizam os valores materialistas, menos felizes
são, menos satisfeitas estão com a vida, menos se sentem vigorosas, menos
possibilidade têm de experimentar emoções agradáveis, como felicidade,
satisfação e alegria, mais são deprimidas, mais são ansiosas, mais experimentam
emoções negativas, como medo, ira, tristeza, [e] mais são propensas a usar
substâncias como tabaco e álcool”.[11]
Verdadeiro sucesso e verdadeira prosperidade são obtidos internamente, e
não externamente. A boa notícia é que está tudo em suas mãos. Não tem
nenhum grau de sorte envolvido, onde você nasceu, seu QI, sua beleza ou
força, o governo ou a economia – é apenas você, como você é, agora mesmo.
Toda perfeição e a verdadeira prosperidade serão suas seguindo o caminho de
autoaperfeiçoamento e autorrealização.
PARTE 4 - Lidando com os
Problemas da Vida

O Caminho 3T lhe confere todas as ferramentas e saberes que você precisa


para reduzir, ou até mesmo superar, os problemas da vida. Esse poder vem do
fato de que você estará lidando com os altos e baixos da vida de dentro para
fora. Você tem pouquíssimo poder para mudar os fatos externos da vida, mas
você pode desenvolver completo poder para mudar seu interior – como você
lida com a vida. Assumir o controle da sua vida de dentro para fora é o cerne e
o segredo de todo o caminho do yoga e a chave para superar ou pelo menos
suavizar o seu sofrimento.

Qual É o Problema?

Na verdade, não há problemas. Pense sobre isto: o que você chama de


problema é quando acontece algo que você não esperava ou não desejava.
Onde estavam essa expectativa e esse desejo? No futuro. Isso foi realista?
Aparentemente, não. Isso foi fantasia. Isto está no âmago do Caminho 3T:
mudar do paradigma da fantasia para o paradigma de realidade. Viver a vida
como ela é, aqui e agora.
E o que você tem aqui e agora são desa os: dos menores, como sair da
cama, tomar banho e meditar um pouco; aos maiores, como lidar com um
cliente difícil ou combater uma gripe; aos épicos, como lidar com uma grande
perda ou com a morte de um ente querido. Contudo, isto é a vida: uma série
de desa os, desde o começo. Você teve o desa o de lidar com o seu próprio
parto, aprender a engatinhar, depender de sono e conforto materno. E isso
nunca parou: primeiro dia de aula, dividir os brinquedos, esportes, escola,
puberdade, vida social... desa os sem m. A vida é assim.
O que você chama de problema é simplesmente outro desa o – a vida
acontecendo, como sempre aconteceu. Não existem problemas, apenas a
realidade. E se isso é diferente do que você esperava ou queria, você pode ver o
quanto estava errado em ter expectativas e apegos indevidos, vivendo no futuro
em vez de viver no presente. O que você chama de problema tem, no mínimo,
o benefício de trazer você de volta para o aqui e agora e fazer você se centrar
em sua ação e em ser você mesmo, exercitando sua sabedoria e sua devoção.

Aceito, Agradeço, Con o e Entrego

Você pode se preparar para lidar com qualquer desa o valendo-se de um


processo de quatro passos: 1) aceito, 2) agradeço, 3) con o e 4) entrego.
Primeiro vem o passo mais difícil: aceitar o desa o. Aceite completamente.
Você não fará nenhum progresso até fazer isso.
A pior coisa que você pode fazer é se lamentar. Somente vítimas se
lamentam. Não tenha pena de si mesmo; não se queixe. Não pragueje que o
mundo é injusto, que Deus abandonou você ou como alguém é ruim. Não
perca seu tempo precioso com isso. Nada de bom virá disso. Mesmo se você
estiver lidando com um desa o de proporções épicas, lamentar e afogar-se em
tristeza e depressão não ajudará em nada.
Uma vez que você supere a lamentação e tenha aceitado o desa o, virá a
gratidão. Lembre-se de que a gratidão é um instrumento poderoso: use-a para
lidar com os desa os da vida. Seja grato. Isso pode parecer estranho a princípio,
mas é efetivo e empoderador. Seja grato pela chance de aprender e crescer. Seja
grato pelo fato de algo pior não ter acontecido. Seja grato por estar vivo e se
mantenha em boa consciência para lidar com quaisquer desa os que se
apresentem a você. Acima de tudo, seja grato pelo próprio desa o. Se você
estudar a vida das pessoas, verá que são os maiores desa os que as levam à
grandeza e ao sucesso. Enfrentando esses desa os, você entra em uma zona de
autodescoberta e autodomínio que, de outro modo, seria inalcançável.
Em um estado de aceitação e gratidão, você consegue depositar sua
con ança em Deus. Se você ainda não trabalhou sua devoção, você pode
investir sua con ança no universo ou na “providência”. Con e que o que está
acontecendo a você é exatamente o que você precisa, o que é, em última
instância, o melhor para você evoluir. E con e na realidade; ela quer o seu
bem. Existe um propósito em tudo, e nada acontece por acaso. Existe uma
força de bondade pura controlando o seu destino. Con e que essa força está
atuante em apresentar desa os para você.
Por m, faça de sua resposta uma oferenda. Não deseje algum resultado
futuro. Não crie apegos indevidos. Deixe uir. Faça o seu melhor, aqui e agora,
deste ponto em diante. Você não está nisso pelos resultados. O foco primário é
o ato em si. Apenas faça o seu melhor com o que a vida lhe deu, dando um
passo de cada vez.
Agora você está pronto para lidar com qualquer coisa que cruze seu
caminho.

O Dharma É o Seu Guia

A solução para qualquer situação ou evento que se coloque diante de você se


baseia no seu dharma. Desa os inesperados são mudanças de dharma. Você
tem que recon gurar suas ações de acordo com seu novo conjunto de dharmas.
Por exemplo, ser demitido é uma grande mudança de dharma. Seu dharma
ocupacional acaba de ser suspenso. Em seu lugar, cou um novo dharma: como
preencher essa lacuna. Para fazer isso, você analisa seus outros dharmas. Você é
solteiro? Você precisa ganhar dinheiro? Você tem idade o bastante para se
aposentar? Você estava no emprego errado? Talvez essa seja sua chance de voltar
para a faculdade ou aprender um novo ofício para expressar sua verdadeira
natureza. Talvez seja sua chance para se dar algum tempo livre e viajar. O que
poderia ter sido visto como um problema pode, no devido tempo, tornar-se
um ajuste natural e desejável.
Não se trata do que é mais fácil, mais divertido ou que impressionará os
outros. Trata-se de quem você é e como você pode se valer de cada desa o para
ser a melhor pessoa possível, o mais sincero consigo mesmo.
Na primeira vez em que usei esta técnica, eu tinha acabado de dar uma
palestra em Brasília, a cerca de 250km de nosso yoga resort, de nome Paraíso
dos Pandavas, em Alto Paraíso, Chapada dos Veadeiros. No mesmo instante
que terminei minha apresentação, recebi um telefonema de nosso caseiro. Ele
me disse que acontecera um grande incêndio e que havíamos perdido uma
edi cação inteira do complexo. Foi uma perda considerável. Em vez de eu me
atirar em lamentação e desespero, porém, re eti sobre meus anos de prática e
de estudo de yoga e fui capaz de me perguntar: “Certo... E agora? Qual é o meu
dever?” Nesse caso, era reconstruir. Eu me entreguei a isso. Esse era um novo
aspecto do meu dharma de dirigir um resort: reconstruir a hospedaria o mais
rápido possível. “Deus dá e Deus tira”, pensei comigo mesmo. “Não se
preocupe com isso”. A perda material, o desa o de levantar fundos, e os
detalhes da nova construção se tornaram todos parte do meu dharma
ocupacional, e não uma fonte de tristeza ou desespero.
Então, primeiramente olhe para o seu dharma. Aceite sua nova situação, o
desa o, e considere o que se espera de você. Veja como isso muda seus deveres,
como afeta sua vida e, então, que novas ações são necessárias. Lamentar-se ou
se preocupar com o que pode acontecer não ajudará. Deixe sua mente no aqui
e agora e identi que seu dever. Algumas vezes, tudo o que você tem que fazer é
orar e ser desapegado, e não há nenhuma ação esperada de sua parte. Outras
vezes, um desa o pode trazer todo um novo conjunto de deveres, como
quando você descobre que vai se tornar mãe ou que terá de lidar com uma
doença crônica. Valer-se de mindfulness para se focar no seu dharma lhe dará
chão, guiará você passo a passo, libertará sua mente do desespero e da
ansiedade e restabelecerá sua paz interior.

Nunca É Demais

Você nunca receberá mais do que é aquilo com que você pode lidar, mas
você precisará reunir todo o seu potencial para lidar com desa os épicos, e isso
inclui sua força espiritual. Alguns desa os são tão grandes que você não
conseguirá superá-los sem sabedoria espiritual e sem uma relação madura com
Deus.
Conforme você avance espiritualmente, também desenvolverá desapego.
Você se aborrecerá menos com adversidades e cará menos eufórico diante de
bons resultados. Você entenderá que não é o corpo e que todas as entidades
vivas são almas eternas, imunes a qualquer situação material e seguras sob o
olhar de nosso Pai amoroso. Você entenderá que nada pertence a você, que
tudo que você tem é mero empréstimo. Em última instância, você entenderá
que, como uma alma, você não precisa de nada deste mundo, uma vez que
você não carece de nada. Você é integral e completo como você está – um fato
eterno e imutável da existência. Você não tem absolutamente nada a perder,
nada a temer.
Quando tudo car realmente muito árduo, lembre-se de quem você
realmente é e o que realmente está acontecendo. Isso exige prática e avanço
espiritual, mas lhe está disponível na proporção do seu avanço e caso você
trabalhe para isso. Essa simples lembrança reduzirá o impacto e o sofrimento
de todos os desa os com que você lide.

Adversidade É Inevitável; Sofrimento É Opcional

Adversidade é inevitável; é parte da vida. Não importa quem você é ou o


que você tem. Todos têm que lidar com adversidades, tanto grandes quanto
pequenas. A boa notícia é que o sofrimento é opcional.
Você talvez pense que sofrer é algo forçado sobre você a partir de fora ou
que é o resultado natural de um evento miserável. Se você parar para re etir
sobre isso, no entanto, verá que o sofrimento é algo inteiramente autoimposto.
Você, e ninguém mais, cria seu próprio sofrimento quando a mente se
recusa a sincronizar-se com a realidade. Todo sofrimento é resultado de sua
mente não estar alinhada com a realidade. Quanto maior a diferença, mais
você sofre. Quanto mais se agarre à sua fantasia, mais sofrimento você
experimentará por viver uma realidade que não corresponde.
O caminho para diminuir, ou mesmo superar, o sofrimento é seguir os
passos de aceitação, gratidão, con ança, bem como ação iluminada, em
mindfulness e de acordo com seu dharma. Isso leva sua mente embora da
fantasia e a reintroduz na realidade. Isso coloca você em harmonia com o que
está realmente acontecendo em sua vida.
Toda situação, independente de quão terrível, é uma chance de você
aprofundar sua consciência espiritual e coragem.
Algumas situações adversas vêm com vantagens ocultas. Quantas vezes você
experimentou que não ter a realização de um desejo resultou na melhor coisa
que poderia acontecer? Alguma vez, algo aparentemente ruim, como ser
rejeitado por alguém ou ser demitido, terminou abrindo novas portas para
você? Como diz o ditado: “Tudo o que Deus faz é bom”.
Você pode mudar o mundo em um grau muito limitado, mas você pode
mudar sua mente drasticamente e como ela interpreta a realidade. Mesmo
enquanto você tenta ajustar suas circunstâncias materiais de acordo com seus
deveres dhármicos, você tem que se manter em harmonia com a situação como
ela é, no aqui e agora, tirando máximo proveito de qualquer situação em que
você se encontre.

Suicídio

Algumas vezes, a adversidade é tão grande, um desa o é tão épico, que o


suicídio parece uma opção atrativa, ou mesmo a única opção. Isso, é claro, é
um erro terrível. A vida humana é muito preciosa e rara; uma bênção
descomunal. É uma oportunidade para descobrir quem você realmente é e se
libertar do sofrimento para sempre.
Duas nobres qualidades de quem considera o suicídio são o desapego e sua
coragem para mudar. Ainda assim, alguém pensando em suicídio deve usar esse
poder para matar não o seu corpo, mas seus maus hábitos, apegos e processos
mentais danosos.

Nem o corpo nem o mundo é o problema. O problema está sempre dentro


de nós. Uma vez que carregamos nosso corpo sutil, que inclui nossa mente,
para o próximo nascimento, o suicídio não tem utilidade alguma. Nossa mente
nos acompanhará para a vida seguinte. Usando as técnicas e as ferramentas do
Caminho 3T, qualquer um pode experimentar uma transformação em grande
escala. Ninguém precisa sofrer para sempre ou inutilmente.

Como Lidar com a Morte de um Ente Querido

Um dos desa os mais difíceis é a morte de um ente querido. Nós, como


almas espirituais, somos criaturas que amam. Amor signi ca serviço. O serviço
requer ação e interação pessoal. Então, quando você não consegue mais
interagir amorosamente com alguém, você se sente perdido. E para você
“fechar o assunto”, você tem que reconhecer e honrar essa perda.
Você pode mitigar seu sofrimento nessa situação olhando para tudo de
outro ângulo. Amar puramente signi ca ver os eventos a partir do ponto de
vista do amado. Do ponto de vista do ente querido que partiu, a morte não é
um problema. Aquela alma foi adiante, pela graça de Deus, para uma situação
diferente e melhor – melhor, pelo menos, no sentido de ser mais propícia para
o avanço daquela alma. A alma não sente as dores da saudade; ela foi adiante.
Tampouco você sente saudades das pessoas que você amou ou que amaram
você em vidas anteriores. Portanto, quem partiu está bem. Aquela alma está
viva e bem, começando uma nova aventura em um novo corpo.
Em um sentido, você deve car feliz por saber que seu ente querido partiu
para um novo ciclo de vida e não sente nenhuma dor por ter deixado você e
ter-se encontrado com o m da vida anterior.
E se essa pessoa obteve iluminação no amor a Deus, sua morte, então, é um
momento glorioso – uma cerimônia de formatura sem igual. Liberdade da
prisão do samsara. A obtenção de bem-aventurança eterna nas brincadeiras
amorosas com Deus em Sua morada transcendental.
Todos nós morreremos. Essa é a única certeza que temos na vida. Você não
deve viver em ilusão, temendo a morte, seja sua própria morte, seja a morte de
seus entes queridos. Em vez disso, você deve se alegrar com cada dia, com cada
momento, sabendo que pode ser o último. Se, a todo momento, você der o seu
melhor para amar todos à sua volta, consciente da impermanência de tudo o
que é material e também consciente da eternidade de tudo o que é espiritual, o
desa o de lidar com a perda de um ente querido será imensamente reduzido.

Perdão

As inevitáveis adversidades da vida frequentemente vêm na forma da ação


de outras pessoas. Desde pisar no seu pé por acidente até uma agressão física
brutal e intencional, as pessoas farão coisas para você, direta ou indiretamente,
que o desagradarão.
A resposta de uma consciência baixa para isso é irar-se, vingar-se ou cultivar
alguma forma de raiva contra o agente de sua adversidade. Contudo, essa
resposta não faz nada além de ampliar o seu sofrimento. Retribuir o ódio com
ódio perpetua o ódio. Mesmo externamente, isso trará mais adversidades para
sua vida na forma de consequências negativas para a sua raiva. Por exemplo, se
o seu vizinho joga lixo no seu quintal e, então, você joga lixo no quintal dele,
ele cará irritado e buscará por mais outra forma de irritar você. Você, então,
cará irritado com isso e buscará igualmente por uma forma de retaliação, e
isso nunca terá m. Vemos isso no Oriente Médio: violência sendo
confrontada com violência, que causa mais violência – um ciclo de crescente
violência. O resultado é que temos o inferno na Terra, sem previsão de m.
Brigas de gangues seguem o mesmo padrão vicioso. Todos perdem.
Em um nível, precisamos de justiça e preservar nosso bem-estar. Se alguém
comete um crime ou machuca você, medidas precisam ser tomadas. Se é algo
sério, autoridades civis têm que ser acionadas. E você deve tomar medidas
práticas para prevenir que o incidente não aconteça novamente. Externamente,
você deve fazer o que tem que ser feito para manter em segurança você mesmo
e outros.
Por dentro, no entanto, você tem que adotar uma postura diferente. O que
quer que tenha acontecido, tinha que acontecer. Esse é o seu novo desa o.
Você não deve perder tempo com lamentação ou raiva, e muito menos se
sentindo uma vítima. Você deve simplesmente aceitar o evento, ser grato pelo
desa o, con ar que isso é para o seu crescimento e benefício último e lidar com
isso com a consciência elevada, agindo em karma-yoga. Em vez de escolher
sofrer, você deve buscar a iluminação.
Se você car preso na primeira parte, de não perder tempo com lamentação
ou ira, você precisa se valer do perdão. Perdoar está entre suas ferramentas para
afrouxar o apego recorrente ao sofrimento e desejos latentes de cultivar o ódio
ou buscar por vingança. É sua última linha de defesa cortar seus laços tanto
com o evento causador de sofrimento em questão quanto com o agente dessa
miséria. Se você não zer isso, você se manterá apegado à miséria e ao agente e
continuará sofrendo.
Perdoar não signi ca que você concorda com o que foi feito ou que está
dizendo que está tudo bem, que não há problema algum. Perdoar signi ca
abandonar o sofrimento por entender que isso foi a ação de outra pessoa, não
sua, e por decidir que você não quer se manter conectado a isso. É você
dizendo: “Você fez isso; lide com as consequências. Eu não sou responsável por
lhe lembrar de seus atos errados”.
Perdão não é para o benefício de quem cometeu o erro ou o crime; é por
você mesmo. Você não está sendo “bonzinho” para agradar Deus ou alguém
mais. Você está perdoando porque é a única maneira de você car feliz e livre
de negatividades.
Na verdade, você nem precisaria perdoar. Ações alheias baseadas em
negatividade, falta de apreço ou agressão expressa não deveriam surpreender
você. A vida simplesmente é assim; o mundo material é assim. Você quer amor
puro e perfeição? Então, volte ao lar, volte a Deus, e junte-se a Ele nas
brincadeiras amorosas e eternas em Sua morada com outras almas perfeitas.
Aqui no mundo material, não será assim. Você provavelmente realizou sua cota
de ofensas a outros, e todo sofrimento que você está sentindo agora é um eco
dessas ações do seu passado – a lei do karma em ação, ajudando você a se
tornar uma pessoa melhor. Portanto, não perca tempo se lamentando ou
sentindo raiva. Tome as medidas necessárias, visto que esse é o seu dharma,
mas, internamente, rejeite a negatividade. Não caia na armadilha de criar mais
sofrimento e mais negatividade em resposta ao sofrimento e à negatividade que
você acabou de receber. Fazendo isso, você somente perpetuará o ciclo de
sofrimento.
Como uma meditação nal a m de ajudar você a cultivar a postura correta
para lidar com a negatividade de outras pessoas, lhe deixo com estas palavras
sábias: “Todo ato que você testemunha é uma expressão de amor ou um pedido
desesperado de amor”. Reagir às adversidades causadas por outros com perdão
e amor é a única maneira de ter um estado mental jubiloso e livre.

Equanimidade

A qualidade de um yogi que recebe maior destaque na Bhagavad-gita é a


equanimidade – manter-se constante, o mesmo, independente do que a vida
atire em você. E uma vez que a Bhagavad-gita também nos diz que o yogi goza
de um júbilo e de uma felicidade sem m, praticar a equanimidade signi ca
experimentar bem-aventurança, independente do desa o.
Toda ação é uma oportunidade de se conectar com Deus, em harmonia
com a realidade. Variações super ciais, variações da realidade material externa,
são, em última instância, sem consequências para a alma transcendental. A
alma, o verdadeiro você, está operando em outra frequência. Quanto mais você
avance, mais experimentará isso. O que a alma precisa para ser feliz não tem
conexão com a matéria.
A maneira mais importante de mensurar seu avanço espiritual é observando
seu nível de equanimidade. Quão estável é o seu bem-estar? Quanto tempo
você leva até recobrar sua harmonia e sua paz interior quando você é
confrontado com algum tipo de adversidade? Você é como um pequeno bote a
remo, atirado de um lado a outro pelo mar revolto, ou é como um submarino,
indiferente a tempestades na superfície?
Abrace os desa os que a vida lhe envia como oportunidade de ouro para
praticar equanimidade e se tornar mais forte e mais feliz.
Conclusão

No sentido mais profundo, o yoga é um caminho de autoaperfeiçoamento e


autorrealização. Esse caminho, tradicionalmente, centra-se em três áreas:
comportamento, conhecimento e devoção.
O caminho do autoaperfeiçoamento é o mesmo que o caminho da
autorrealização. Autorrealização é o aspecto nal e natural de se dedicar a
melhorar sua vida. Você não precisa se comprometer com as práticas espirituais
e devocionais, o aspecto mais elevado do Caminho 3T, para começar a
aprimorar sua vida com as muitas outras recomendações apresentadas neste
livro. Conforme você avance em cada prática e processe cada novo fato, suas
visões de vida são remodeladas e suas atrações mudam. À medida que progrida,
sua consciência muda, tal qual mudou quando você deixou de ser criança e se
tornou adulto. Você jamais deve subestimar o poder de sua transformação.
Caso você siga esse caminho de autoaperfeiçoamento, seu estado mental ao
longo do caminho será transformado de maneiras que, agora, podem parecer
inconcebíveis. Seu cérebro irá, literalmente, transformar-se e a própria noção
de quem você é, onde você está e qual é o seu principal interesse serão
alterados.
O Caminho 3T possui cinco campos de perfeição: 1) mindfulness, 2)
dharma, 3) paz interior, 4) jnana (conhecimento) e 5) bhakti (devoção). Cada
um desses é poderoso em si mesmo. Cada um deles foi apresentado
individualmente por diferentes instrutores e tradições, pois cada um é muito
efetivo. Todavia, você não deve se permitir pouco; você pode e deve recorrer a
todos eles ao mesmo tempo. Eles se complementam, cada um deles torna o
outro mais fácil de ser praticado e torna suas transformações mais rápidas e
mais efetivas. É por isso que o Caminho 3T é tão poderoso.
Para ampliar ainda mais seu potencial de transformação e seu bem-estar em
geral, você pode ajustar vários aspectos de seu estilo de vida. Esses ajustes de
estilo de vida ajudam a expandir sua consciência, paci car sua mente e ampliar
seu bem-estar físico. Trazem benefícios para sua mente, para o seu corpo, para
o espírito e, em alguns casos, para toda a sociedade, e até mesmo para todo o
nosso planeta.
O poder dos cinco campos de perfeição e das sugestões de estilo de vida
apresentados no Caminho 3T são comprovados por um corpo cada vez maior
de literatura cientí ca. Milhares de anos de tradição e con rmação por parte da
ciência moderna devem servir como um poderoso estímulo para ampliar seu
entusiasmo e sua determinação em seguir o Caminho 3T.
Nenhum conselho ou técnica, por melhor que possa ser, terá utilidade caso
você não os coloque em prática. Centenas de fatos e dezenas de práticas são
apresentados ao longo deste livro. Para maximizar seu sucesso e seu bem-estar,
você deve, a todo momento, trabalhar os cinco campos de perfeição do
Caminho 3T. Os conceitos-chaves estabelecerão o fundamento de sua
transformação e do seu sucesso.
O primeiro conceito-chave é: “A Mente É a Questão”. Essa é a base de todo o
caminho. Você não pode car feliz até que assuma o controle de sua
experiência de vida de dentro para fora. Você tem o incrível poder de processar
a realidade de tal modo que seja ilimitadamente feliz, jubiloso, sereno e amável.
Você não é um passageiro desamparado em uma montanha-russa, forçado a
experimentar o sofrimento, desespero e desesperança. Você pode e deve se
tornar o mestre de sua experiência de vida, e este livro lhe dá todo o
conhecimento e todas as ferramentas que você precisa para isso.
O segundo conceito-chave é: “A Mudança de Paradigma: Vida vs. Fantasia”.
A chave para se obter bem-estar e autorrealização é ndar o hábito
problemático e doloroso de viver no futuro. Eis a fonte da sua miséria: sua
mente fora de controle, constantemente fantasiando em relação ao que você
precisa para ser feliz no futuro e focando nos resultados de suas ações.
Conforme assuma o controle sobre sua mente, mantenha seu foco no aqui e
agora. Alinhe sua mente com a realidade como ela está se revelando neste exato
momento, com o que é o melhor a ser feito e como fazer isso no melhor de sua
capacidade. Sentimentos de infelicidade, ansiedade e incompletude não são
satisfeitos por se comprar algo, mudar-se para algum lugar ou estar com outras
pessoas. A resposta para todos esses estados mentais negativos e dolorosos está
em saber como viver aqui e agora, independente do que esteja acontecendo em
sua vida. Tudo o que você precisa para uma vida incrível está dentro de você,
sob o seu controle, agora mesmo.
O terceiro conceito-chave é: “Além do Vitimismo: Assumindo o Controle”.
Para assumir o comando, você tem que assumir completa responsabilidade
pelos eventos em sua vida. Você não pode dar a outros o poder de fazê-lo feliz
ou triste, ou exigir que outros satisfaçam suas necessidades de atenção e afeto.
Lamentar-se e culpar os outros por sua pobre experiência de vida o
desempodera e torna-o incapaz de alcançar o bem-estar. Na seção “Lidando com
os Problemas da Vida”, explico em grandes detalhes os meios para lidar com o
que quer que a vida traga até você, e este conceito-chave é o primeiro passo.
Seu foco deve estar exclusivamente em suas ações e em seu estado mental. Você
tem que aceitar o fato de que a qualidade de sua vida depende unicamente de
você.
O último conceito-chave, “Karma-yoga”, é a fórmula ancestral de yoga para
como viver bem e, mais importante, como viver espiritualmente. É a técnica
para se tornar verdadeiramente um yogi, um transcendentalista vivo. Em
karma-yoga, você conta com todos os cinco campos de perfeição do Caminho
3T e aplica-os a toda ação que você realiza. Karma-yoga signi ca estar em
mindfulness, seguir seu dharma, rejeitar o paradigma da fantasia, estar em paz
interior, agir com sabedoria e, o mais importante, fazer de seus atos uma
oferenda amorosa a Deus.
Tudo isso demanda tempo, esforço e prática. A questão sempre retorna para
o quanto você pratica, quão seriamente você aplica isso em sua vida.
Independente de quão maravilhoso ou bem-aventurado um caminho ou sua
meta possam ser, não lhe fará nenhum bem se não aderir aos mesmos com
seriedade. Uma vida grandiosa e bem-aventurada, dedicada ao
autoaperfeiçoamento e à autorrealização, merece seu compromisso total.
A m de fazer progresso, é essencial praticar o Método 3T de modo
diligente. Isso manterá a chama acesa, sua consciência transformando-se
positivamente. O Método 3T é sua dose diária de transcendência para se
manter espiritualmente saudável – o catalisador para seu crescimento. Desde
tempos imemoriais, todos os yogis dedicados seguiram uma prática diária
(sadhana) para alimentarem seu crescimento e sua transformação. O Método
3T é o que dirige sua transformação no Caminho 3T.
O mundo precisa desesperadamente de mudanças. A raça humana está se
destruindo, bem como destruindo o planeta e uma multidão de outras
espécies. Nenhuma combinação de mudanças externas será su ciente. O
mundo precisa de um despertar espiritual. Isso já está acontecendo, porém, e
você pode ser parte dessa mudança positiva. Um despertar espiritual de
natureza universal e não-sectária é a única coisa que pode nos salvar de afundar
em ainda mais misérias; é nossa única esperança de paz. Você pode ser parte
dessa mudança. Seja a pessoa que você quer que os outros sejam. Viva a vida
que você acha que os outros deveriam viver para o benefício de todos. Seja um
agente de harmonia e luz.
Se o Caminho 3T está funcionando para você, se você vê valor nele ou se
ele ajudou você de alguma maneira, compartilhe-o. Compartilhar é um ato de
amor. Isso bene ciará tanto você quanto aqueles com quem você compartilhar.
E quanto mais você compartilha o caminho, mais ele se torna parte de quem
você é e mais profunda será sua própria vivência dele.
Eu não seria capaz de descrever quanta bem-aventurança já experimentei
por compartilhar este caminho pelos últimos vinte e cinco anos. Se Deus assim
desejar, continuarei fazendo isso até o meu último suspiro. Espero que você
tenha sentido tanta felicidade ao ler ou ouvir este livro quanto senti ao escrevê-
lo. Oro pedindo que o Caminho 3T seja imensamente bené co para você e
que Krishna o abençoe com todas as realizações que deu a mim – e muito
mais.
O Método 3T

Para que aconteça uma transformação é preciso que haja esforço estável. Na
tradição do yoga há o conceito de sadhana: uma prática diária para a elevação
espiritual. Boas intenções não são o bastante, é preciso haver esforço. Boas
intenções não são o bastante, é preciso que haja empenho. E, por detrás de um
esforço geral para se avançar e aprimorar em vários aspectos, é preciso que haja
uma disciplina diária especí ca levando adiante suas transformações, dia após
dia. O Método 3T é exatamente isto: um regime diário de transcendência e
fortalecimento de sua mente e de sua inteligência para ajudá-lo a enfrentar o
desa o de progredir nos cinco campos de perfeição do Caminho 3T. Eu não
seria capaz de enfatizar o su ciente a importância desta prática diária se você
tem a esperança de alimentar o fogo da sua transformação.

Os 3Ts

As três práticas transcendentais diárias são:


1. O mínimo de vinte minutos de meditação, usando a técnica tradicional
de meditação mântrica, chamada japa, com o maha-mantra,
2. Comer prasada, o alimento sagrado e livre de karma, e
3. O mínimo de dez minutos cultivando conhecimento transcendental pela
leitura de livros da lista sugerida.

Meditação Mântrica – Japa

Meditação é a prática central da tradição do yoga. Todo o processo de


autoaperfeiçoamento e autorrealização se baseia em sua habilidade de paci car
e direcionar sua mente. Seu controle e consciência de sua mente são a chave
para o seu sucesso em qualquer caminho espiritual. E a meditação é a técnica
suprema para se obter esse controle e consciência.
Descobriu-se que a meditação literalmente altera o formato do seu cérebro e
traz uma grande quantidade de benefícios físicos e de saúde mental. Vai além
de quaisquer crenças pessoais. Trata-se de uma ferramenta fantástica, sem a
qual ninguém deveria car.
Meditação signi ca focar sua mente em um único ponto. Diferentes
técnicas focam em diferentes pontos. Na tradição Zen, é literalmente um
“ponto” na parede diante do meditador; nas aulas do yoga comercial, o ponto
de foco costuma ser a respiração. Contudo, a forma de meditação mais
tradicional, recomendada na Bhagavad-gita e no Yoga-sutra, é a meditação
mântrica, chamada de japa, em sânscrito. Essa é a técnica que eu uso e ensino.
Considero que se trata da forma de meditação mais completa e bené ca.
Porque o mantra contém os nomes de Deus, o japa traz todos os benefícios das
outras formas de meditação, mas com a vantagem de ajudá-lo a avançar no
campo de perfeição de bhakti e causar muitos efeitos sutis, porém poderosos,
devido à sua vibração sonora transcendental.
O mantra a ser utilizado é o mantra Hare Krishna:

Hare Krishna, Hare Krishna


Krishna Krishna, Hare Hare
Hare Rama, Hare Rama
Rama Rama, Hare Hare

Esse cântico também é conhecido como maha-mantra, que signi ca “o


grande mantra”, o qual é amplamente reconhecido como o mais poderoso de
todos os mantras na tradição do yoga.
A primeira palavra, Hare, é uma invocação para Radha, o aspecto feminino
de Deus. Krishna é um nome de Deus, cujo signi cado é “o todo-atrativo”. E
Rama, outro santo nome, signi ca “a fonte de bem-aventurança”. Esses são os
três sons sagrados do maha-mantra. Os mestres de bhakti-yoga explicam que o
maha-mantra é um poderoso meio para estabelecer uma conexão com Deus na
postura de obter serviço amoroso e proteção divina.
Para a meditação mântrica, você deve usar contas de meditação, japa-mala.
Mesmo se você ainda não tem um jogo de contas, mala, você pode dar início à
prática simplesmente recitando o mantra. Você pode fazer um mala a partir de
um barbante, fazendo 27 ou 54 nós. Quando tiver um mala, você pode
adicioná-lo à sua prática. Tradicionalmente, esses malas têm 108 contas, mas o
número de contas não faz diferença, e ter um mala com 54 ou mesmo 27
contas pode ser mais prático, especialmente para entoar em aviões, no metrô e
em outros espaços públicos.
Outro ponto importante é fazer a pronúncia correta. Krishna é mais fácil de
acertar, só lembrando de fazer o som de “shh”: “krixna”, não “krisna”. A
pronúncia de Hare é “rrarê”, e a pronúncia correta de Rama é exatamente como
em “ iperama” ou “autorama”.
Instruções básicas sobre como utilizar seu japa-mala:
1. Comece com a primeira conta, em uma das extremidades do mala,
segurando-o entre seu polegar e o dedo médio.
2. Para cada conta, cante suavemente todo o mantra: Hare Krishna, Hare
Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama,
Hare Hare.
3. Depois de cantar na última conta, no outro extremo do mala, volte na
direção contrária, continuando a recitar o mantra uma vez em cada conta, até
concluir o tempo que você estabeleceu para a meditação.
4. Use seu tempo de meditação para focar exclusivamente em seu dharma
espiritual. Dê uma pausa de todos os outros dharmas. Esqueça por um
momento que você é mãe, pai, irmão, empregado, patrão e até mesmo
terráqueo. Simplesmente se foque no som sagrado em completo mindfulness.
Tradicionalmente, os yogis entoam um número xo de mantras. Quando
fui iniciado, mais de 20 anos atrás, z o voto de entoar o maha-mantra 1728
vezes ao dia, no mínimo, e mantenho esse voto desde então, todos os dias. Isso
é o equivalente a 16 vezes 108 contas. Cada conjunto de 108 contas é
conhecido como “uma volta” de japa. Primeiramente, porém, recomendo que
você primeiro se foque em uma quantia especí ca de tempo, começando com
o mínimo de 20 minutos. Se você avançar o bastante para fazer mais de uma
hora por dia, você pode passar a contar por voltas e tentar
cantar o mínimo de 16 voltas por dia, como eu faço.
Dicas adicionais para a sua meditação mântrica:
1. Cante o mantra com atenção, tendo o cuidado de não
pronunciar errado as palavras.
2. Cante sem interrupção. Crie um uxo de sons sagrados.
3. Tente fazer do canto sua primeira atividade da manhã,
depois de acordar e se banhar. É especialmente efetivo antes
ou em torno do nascer do Sol.
4. Fixe sua concentração no som do mantra, e não no ato
de cantá-lo.
5. No começo, é normal entoar muito lentamente, mas
você deve acelerar seu canto para se aprofundar nele. Um ritmo de cerca de
108 mantras em 5 minutos, sem pular sílabas ou pronunciar mal, é uma boa
meta.
6. Sente-se com as pernas cruzadas, como um índio, com suas costas eretas,
ombros relaxados e nádegas sobre uma almofada. Se não puder se sentar assim,
se sente em uma cadeira com seus pés rmes sobre o chão e suas costas eretas,
sem tocar o encosto da cadeira. Mantenha seus olhos semicerrados, repousando
seu olhar a cerca de dois metros à sua frente. Inspire pelo seu nariz e expire
entoando. Sua postura deve estar confortável. A meta é estar relaxado, porém
atento.
7. Sua mente tentará vaguear pensando em diferentes coisas. Tente ignorar
esses pensamentos e xe sua mente no mantra. Essa batalha com sua mente é o
exercício de meditação. Não se sinta desencorajado. Enquanto estiver fazendo o
exercício, estará se bene ciando. Está sempre funcionando em algum nível;
portanto, não desista.

Comer Prasada

Prasada signi ca “misericórdia”. Também é a palavra sânscrita utilizada para


alimento sagrado. Como diz o ditado: “Você é o que você come”. De muitas
maneiras, comer é algo que te de ne. Certamente de ne a forma do seu corpo
e sua saúde em geral. Contudo, também de ne seu estado mental. Porque
comer é muito fundamental, a tradição do yoga dedica especial atenção a isso.
Como explicado na seção do conceito-chave karma-yoga do Caminho 3T,
toda ação deve ser realizada como uma oferenda a Deus, como um ato de amor
e reconhecimento da origem de tudo. Comida-yoga, a prática de comer prasada,
é o ato de conectar seu alimento ao divino, espiritualizando o mesmo. O yogi
espiritualiza tudo em sua vida, mas um esforço consciente especial deve ser
feito para espiritualizar seu alimento desde o começo, devido à importância do
comer. O esforço e a prática de estar atento – no aqui e agora, várias vezes ao
dia – a um ato tão fundamental como comer, e de fazer uma conexão espiritual
nesse ato, ajuda a manter sua consciência elevada ao longo do dia.
Em termos cármicos, não oferecer seu alimento signi ca que você assume
para si o fardo do karma da sua refeição e de toda a cadeia de produção por trás
dela. É por isso que há um alerta especial por parte de Krishna na Bhagavad-
gita sobre a importância de comermos somente prasada. Comer prasada lhe
traz muitos benefícios; não comer prasada traz muitíssimos problemas futuros.
Apenas alimentos que não afetarão negativamente sua consciência podem
ser oferecidos. Alimentos que envolvem sofrimento, como carne vermelha,
peixe ou ovos, ou alimentos contendo álcool e outras drogas, não podem ser
oferecidos. Se você ainda não está no padrão de comer apenas esse tipo de
alimento, ainda assim você deve oferecer a parte de sua refeição que é
oferecível.
Oferecer o alimento é um ato de seu coração e de sua consciência. Não se
exigem rituais ou atos externos. Não exige mais do que alguns segundos. Se
você pode e deseja, entretanto, você pode ritualizar esse ato e dedicar algum
tempo no ato de oferecer, como uma forma de meditação em bhakti. Você
pode entoar o maha-mantra algumas vezes suavemente ou em pensamento.
Você pode chegar ao padrão de ter pratos especiais, usados exclusivamente para
oferecer alimento em um altar doméstico. No entanto, o que realmente conta é
o seu amor, bhakti, no ato de oferecer o alimento a Deus (Krishna).
Diretrizes básicas em relação à prasada:
1. Não prove o alimento antes de oferecê-lo.
2. Se você está comendo em um restaurante, ofereça o alimento em seu
prato antes de comer.
3. Ofereça o alimento apenas uma vez. Se você comprar um pão de forma,
por exemplo, ofereça-o todo e ele é prasada. Não é preciso oferecê-lo
novamente toda vez que se servir de uma fatia.
4. Se você se esquecer de oferecer seu alimento, não desista. Apenas tente se
lembrar de fazer isso na sua próxima refeição. Com o tempo, isso se tornará sua
segunda natureza.
Se você se sentir apto para isso, existe uma prática adicional conhecida
como ekadashi vrata, ou apenas ekadashi. Ekadashi signi ca “décimo primeiro”
e se refere ao décimo primeiro dia do ciclo lunar. Como você deve saber, a lua
cresce por aproximadamente quatorze dias em seu ciclo de lua nova até lua
cheia, e mingua por outros quatorze dias em seu ciclo de lua cheia até lua nova.
O décimo primeiro dia de cada ciclo é conhecido como ekadashi. Aqueles
que praticam o ekadashi não comem nenhum tipo de grão ou leguminosa,
como feijão, trigo, grão-de-bico, ervilha, milho, soja e arroz. Tudo mais pode
ser comido normalmente. Isso exige mais mindfulness ao longo do dia em
relação ao ato de comer, que, em si mesmo, é uma grande prática. Algumas
pessoas fazem jejum completo no ekadashi. Tradicionalmente, ekadashis são
dias para você tentar ampliar seu foco e suas atividades espirituais.
A perfeição do prasada é comer, cozinhar e oferecer alimentos vegetarianos
puros e saudáveis com amor e, então, comer enquanto se mantém essa conexão
amorosa. Isso é o food-yoga em seu grau mais alto. Para saber mais sobre food-
yoga, recomendo o livro Food Yoga, de Paul Rodney Turner.

Cultivo de Conhecimento Transcendental

Informação causa transformação. Nosso inimigo mais perigoso é a


ignorância, pois falta de conhecimento acarreta desorientação e atividades
tolas, inúteis e danosas. Para se iluminar, você precisa que a luz do
conhecimento dissipe a escuridão da ignorância. Se eu tivesse de escolher uma
dessas três práticas diárias como a mais importante para iniciantes, eu
escolheria esta, pois, se você a cultiva apropriadamente, você, no devido tempo,
adota as outras duas práticas diárias e ajusta todos os seus hábitos e processos
mentais para melhor. Esta é a prática isolada que vi proporcionar as maiores
chances de sucesso e vigor para este caminho. Quem cultiva conhecimento
transcendental certamente alcança os níveis mais altos de transformação.
A prática é muito simples. Simplesmente dedique pelo menos dez minutos
por dia a ler ou ouvir os livros listados abaixo, na ordem listada. Trata-se de
uma terapia – biblioterapia. O conhecimento transformará você conforme ele
abre novos horizontes, remove suas dúvidas, traz clareza e lhe confere cada vez
mais sabedoria. Essa prática ajudará você a avançar no quarto campo de
perfeição do Caminho 3T, jnana, bem como no quinto, bhakti.
Livros, em ordem de leitura ou audição:
1. O Caminho 3T, de Giridhari Das, disponível em epub e impresso pelo
selo Relighare da editora Coletivo Editorial;
2. Guia Completo da Bhagavad-gita com Tradução Literal, de H.D.
Goswami, disponível impresso pelo selo Relighare da editora Coletivo
Editorial;
3. Sri Isopanishad, traduzido e comentado por A.C. Bhaktivedanta Swami
Prabhupada, disponível impresso pela editora BBT e em áudio;
4. Yoga Sutra – Uma Abordagem Prática, de Giridhari Das, disponível
impresso pela editora Sankirtana Books;
5. A História de Ajamila, traduzido e comentado por A.C. Bhaktivedanta
Swami Prabhupada, disponível em áudio;
6. Bhagavad-gita Como Ele É, de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada,
disponível impresso pela editora BBT;
7. Srimad-Bhagavatam – Primeiro Canto, traduzido e comentado por A.C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupada, disponível em áudio;
8. Srila Prabhupada-lilamrita, de Satsvarupa Dasa Goswami, disponível
impresso pela editora Sankirtana Books;
9. Os Passatempos de Sri Nrisimhadeva, traduzido e comentado por A.C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupada, disponível em áudio;
10. A História de Dhruva Maharaja, traduzido e comentado por A.C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupada, disponível em áudio;
11. Krsna – A Suprema Personalidade de Deus, de A.C. Bhaktivedanta Swami
Prabhupada, disponível em áudio e impresso pela editora BBT;
12. Sri Brihad-bhagavatamrita, de Sanatana Goswami, disponível em áudio;
13. O Néctar da Instrução, de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada,
disponível impresso pela editora BBT;
14. O Néctar da Devoção, de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada,
disponível impresso pela editora BBT;
15. Os Ensinamentos do Senhor Caitanya, disponível impresso pela editora
BBT;
16. Sri Caitanya-bhagavata, disponível impresso pela editora BBT;
17. Srimad-Bhagavatam – coleção completa traduzida e comentada por
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, disponível impressa e em formato e-
book pela editora BBT;
18. Sri Caitanya-caritamrta – coleção completa traduzida e comentada por
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, disponível impressa e em formato e-
book pela editora BBT.
Dicas para extrair o máximo dessa prática:
1. Estabeleça um tempo xo de seu dia para essa prática. Torne sagrado e
especial esse momento de pelo menos dez minutos em que você se concentra
em fazer apenas isso.
2. Não se preocupe em entender tudo. Não que preso a um fato ou
explicação. Continue lendo. Você verá que tudo é coerente internamente e será
capaz de dar sentido a tudo de uma vez quando tiver absorvido informação o
bastante.
3. Não pense que você tem que praticar tudo que lê. Haverá muitas
informações e exemplos de yogis que viveram milhares de anos atrás. Muitas
diferentes práticas e recomendações serão mencionadas. Mantenha-se focado
nas recomendações e práticas do Caminho 3T.
4. Esses livros, especialmente os grandes clássicos de autoria de A.C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupada, são melhor e mais facilmente
compreendidos quando você os lê pela segunda ou terceira vez. Eles são muito
profundos, e, à medida que você avance e alcance níveis mais profundos de
consciência, você será capaz de absorver signi cados e realizações de maior
profundidade.
Apêndice

Como Introduzir Mudanças na Vida

Das muitas técnicas para introduzir novos hábitos e mudanças na vida, vou
explicar aqui uma combinação de três que por si só já são incríveis, mas, juntas,
tornam-se imbatíveis: o Começo Bebê, os Círculos de Zorro e o Princípio
Kaizen.

Começo Bebê

O maior problema de começar algo novo é justamente começar! Sim, o


começo é sempre mais difícil, pois trata-se de algo novo e que ainda não faz
parte da nossa vida. Do ponto de vista da neurociência, isso ativa nosso receio e
nossa resistência. O que queremos é manter os hábitos atuais, car no
automático. Sair do automático signi ca ter que usar uma outra parte de nosso
cérebro, que requer energia adicional e esforço, o que chega, até mesmo, a
aumentar os batimentos cardíacos, a pressão sanguínea, o tamanho da íris e
causar outras mudanças siológicas. Isso tudo acontece, inclusive, além de
nossa percepção. Não camos conscientes dessas mudanças. Mas o resultado
nal é simples: não gostamos de nos esforçar mentalmente! Portanto, fazer algo
novo, criar um novo hábito, é, de fato, um grande esforço mental.
Uma boa solução é facilitar o começo, ou seja, realizar um “começo bebê”.
Qualquer começo é um grande passo. Então, a sugestão é reduzi-lo ao ponto
do risível. Fazer tão, mas tão fácil o começo que não tem como você se rebelar
contra ele, mesmo que de modo inconsciente. Quanto mais resistência você
sente, quanto mais procrastina o início de alguma coisa, mais simples precisa
ser este começo para superar o bloqueio.
Por exemplo, se quiser nalmente começar a se tornar vegetariano, mas nem
sabe por onde começar, você pode determinar algo assim: amanhã vou deixar
de comer a última mordida de carne, peixe ou frango no meu prato. Pronto!
Fácil, né? Só uma mordida a menos amanhã. Começou seu processo de se
tornar vegetariano!
Está querendo organizar sua casa, mas não consegue? Então, escolha algo
ridiculamente pequeno. Determine que vai organizar e manter organizado,
mesmo que seja um metro quadrado do quarto ou meia prateleira da estante. E
se isso for demais, simpli que ainda mais! Quer retomar uma prática de
exercício regulada? Comece com a proposta de iniciar no dia seguinte, fazendo
um agachamento. Só isso!
Para projetos maiores e mais complexos como, por exemplo, escrever um
livro ou iniciar uma nova formação acadêmica ou pro ssional, você deve
estabelecer etapas. E quanto menores elas forem, melhor. Outro exemplo:
“amanhã vou dedicar cinco minutos do meu dia pesquisando no Google as
opções do curso que quero”. Ou, se for seu livro, anotar cinco coisas que
gostaria de incluir nele. Siga desse modo, sempre dividindo em etapas, e a cada
etapa vá dividindo o projeto em pequenos objetivos que podem ser facilmente
alcançados.
Ficou tão fácil que não tem como recusar! E, mentalmente, cou registrado:
“já comecei!”.

Círculos de Zorro

O sentimento de controle é uma necessidade básica humana. Temos que


sentir que nossas ações exercem um efeito, seja qual for o campo de atuação.
Quando perdemos esta conexão entre nossas ações e o resultado nal,
perdemos o estímulo e, então, camos desmotivados. A ideia básica é colocar
seu foco em um campo que você possa controlar. Não importa quão pequeno
possa parecer, se você sentir que tem controle, isso lhe trará segurança e força
para seguir em frente. Precisamos aprender a retomar o sentimento de poder e
de controle. Isso pode ser feito com uma técnica chamada “Círculos de Zorro”.
Em tudo e qualquer coisa, podemos perder este sentido de “ação-e efeito”, e
camos automaticamente desanimados. Este alerta vale, certamente, para nossa
prática de autoaprimoramento e autorrealização também.
Todavia, o segredo está em retomar o sentimento de controle ao reduzir a
área do foco, ou seja, em um pequeno aspecto do objetivo maior. Então, a
partir daí, gradualmente, você conseguirá expandir o foco de atuação,
mantendo a efetividade e o controle.

Princípio Kaizen

Kaizen é um princípio que foi largamente utilizado na indústria japonesa.


O princípio é brilhante em sua simplicidade: tente simplesmente melhorar as
coisas um pouquinho. Só isso. Um pouquinho de cada vez. Seja lá o que for,
como pode ser um pouquinho melhor? Assim, na aplicação original, eles foram
aperfeiçoando as fábricas, as linhas de produção, os produtos, a qualidade do
atendimento, etc. Com isso conseguiram reconstruir o País no pós-guerra,
transformando-o na potência que é hoje.
Em termos neurológicos, o efeito é o mesmo do “Começo Bebê’. Por
caminhar pequeniníssimos passos, você dribla qualquer sensação de
desconforto e insegurança, além de ir removendo sua resistência interna,
consciente ou inconsciente. Você faz uma construção segura e rme do novo
hábito ou da nova prática.

Colocando os Três Juntos

Agora vamos juntar tudo! Você escolhe um pequeno passo, um “começo


bebê”, o mais simples possível. Lembre-se, tem que ser irrecusavelmente
simples e fácil. Neste pequeno passo, você vai experimentar total controle. Será
seu primeiro “Círculo de Zorro” deste novo hábito ou nova prática que vai
iniciar. Você vai sentir a satisfação de conseguir começar algo e de experimentar
total poder e controle sobre este primeiro passo.
Nesse ponto é que entra o processo Kaizen. Agora que você já começou, dê
um passo mínimo para frente. No caso da mudança para a dieta vegetariana,
reduza mais uma mordida de carne no dia seguinte. Ou se quiser ir bem
devagar, faça isso na semana seguinte. Se for a casa que está arrumando, passe
para dois metros quadrados e uma estante inteira ou duas. Se for o programa
de exercício, passe para duas agachadas. Fácil, fácil e sem estresse. Um
pequeníssimo passo de cada vez. Seu “Círculo de Zorro” se expandiu
naturalmente, mas de forma tão gradual, que você continua tendo pleno e total
controle sobre ele.
Deu problema, interrompeu o processo? Recomece e escolha novamente um
início super fácil, um “Círculo de Zorro” sob seu total controle, e prossiga
fazendo minúsculos avanços graduais. Desta forma, a coisa se tornará um
hábito e você conquistará a transformação. Virou hábito, entrou para o
automático, cou fácil! A partir deste ponto, você já pode escolher outro passo
para tomar, sempre se aperfeiçoando e avançando. Assim, você experimenta um
constante aumento do seu bem-estar e a satisfação de estar efetivamente
melhorando sua vida, um dia após o outro.

Faça a Transformação com Suavidade

Quando estamos adquirindo novos hábitos ou tentando nos tornar uma


pessoa melhor, se agirmos de forma muito dura, acabamos por aumentar as
chances de falhar. Isso tem uma ligação com um fato curioso, mas inevitável,
que é voltado para o modo de funcionamento dos nossos cérebros.
Quando nos sentimos ameaçados, naturalmente buscamos abrigo. Acontece
que o cérebro não diferencia pensamentos da realidade externa. O cérebro não
diferencia uma crítica ou uma ameaça externa de uma outra que exista apenas
em sua cabeça, ou seja, uma “ameaça” interna. Isso signi ca que você pode se
machucar com seus pensamentos. E quando se chega a este ponto, surgem
conjunta e inconscientemente, as reações siológicas e neurológicas em defesa
da violência percebida.
Estas reações incluem a busca pela famosa zona de conforto, que é o nosso
espaço de segurança. Nossa zona de conforto é justamente aquilo que já
estamos fazendo, o que conhecemos e onde estamos agora. Em outras palavras,
certamente não é aquela versão nova e melhorada que estamos querendo
construir. Como resultado, são reduzidas seriamente as chances de mudarmos
depois de uma crítica, ou autocrítica, severa.
A pesquisadora Kelly McGonigal descreve um estudo que con rma isso.
Durante a pesquisa, mulheres que tentavam perder peso e receberam
mensagens de autoperdão comeram, apenas, a metade dos doces,
diferentemente do grupo de mulheres que não recebeu estas mensagens. O
mesmo aconteceu com estudos voltados para pessoas que estavam tentando
parar de fumar e largar o vício de apostas, além daqueles com problemas graves
de procrastinação. A Dra. McGonigal concluiu que culpa e estresse são os
inimigos do autocontrole, portanto são fatores contraproducentes no processo
de transformação.
Como seria uma mensagem de autoperdão? Ao invés de ser duro demais
consigo, experimente ser gentil. A melhor e mais simples maneira de fazer isso
é ngir que está falando com seu melhor amigo depois que ele ou ela lhe falou
sobre uma falha que cometeu. Por exemplo, imagine que você tem um amigo
que está tentando meditar todos os dias como você faz. E aí ele lhe diz que
ontem não conseguiu meditar, ou que o fez, mas sua mente estava super
agitada. Como você reagiria? Com crítica severa e estimulando sentimentos de
culpa e vergonha? Espero que não! É mais aconselhável que você diga algo
como: “ah, sem problemas, o que importa é que está tentando todos os dias.
Temos dias bons e dias ruins. Tente novamente amanhã!”.
E é exatamente assim que você deve fazer com você mesmo. O termo usado
e correto é “autoperdão”. Ao ser gentil e compreensivo consigo, você expande
sua zona de conforto, se sente seguro e estimulado a crescer e a se transformar.
Você passará a se sentir bem e ainda atingirá o seu objetivo de modo mais
e caz!

Visualização Grá ca do Caminho 3T

Com a ajuda de minha amiga e aluna Bruna Lima, criei uma visualização
grá ca do Caminho 3T, que podemos usar para entender como os diferentes
elementos do caminho se encaixam. Veja abaixo:
O processo todo começa com a transmissão de conhecimento, ou seja,
aquilo que intitulamos como: jnana. O conhecimento muda a vida. O
princípio básico é que se estamos errando na vida, é por não sabermos. Se
sofremos, é porque zemos errado e, também, porque não estamos entendendo
como fazer direito. Desse modo, se estivermos munidos de conhecimento,
vamos fazer o que é certo e, consequentemente, vamos ser felizes.
Essencialmente, por meio do yoga, teremos acesso à dimensão espiritual do
mapa mental. Logo, munidos deste conhecimento transcendental,
conseguiremos despertar nossos sentidos espirituais e enxergar a natureza
divina da realidade.
Quando compreendemos corretamente o campo de jnana, naturalmente
desenvolvemos bhakti – que é a devoção amorosa a Deus. E, se levarmos nossa
pesquisa sobre Deus a fundo, vamos concentrar nosso foco em Krishna, que é a
expressão pessoal mais doce e íntima do Senhor.
Jnana e bhakti formam a parte de autorrealização do caminho e são os dois
campos mais avançados e que mais profundamente afetam a nossa vida.
Exatamente por serem os aspectos mais elevados, são também os mais
difíceis de acessar. De fato, os mais difíceis de sequer despertar o interesse das
pessoas. Jnana e bhakti necessitam de dedicação sistemática para que se
obtenha avanço. Por isso, eu apresento o Método 3T, a prática diária, o
sadhana, para conceder acesso a estes níveis mais elevados do Caminho 3T.
Sem um sadhana, é impossível penetrar no campo da autorrealização autêntica.
Ao redor da parte de autorrealização, encontramos os outros três campos de
perfeição do Caminho 3T, a saber mindfulness, dharma e paz interior. Estes
formam a parte de autoaprimoramento do caminho. Eles não necessitam
qualquer aceitação espiritual ou, sequer, de profunda contemplação sobre a
vida. São conhecimentos e práticas com impacto imediato e inegável. Basta
ouvir falar deles que qualquer pessoa pode reconhecer sua verdade e a
necessidade de colocá-los em prática na vida. Os três campos de
autoaprimoramento trazem alívio imediato e soluções para o cotidiano. Isso é o
que todos nós estamos buscando, não importa a idade, raça, sexo,
nacionalidade ou religião.
O botão-chave é a mente no aqui e agora, vivendo o paradigma da realidade.
Tudo gira em torno disto. Sua habilidade em manter a mente cada vez mais no
aqui e agora, interagindo com a realidade ao seu redor. E, sua habilidade em
conseguir manter o foco em sua ação nobre, seu dharma, determina sua
felicidade. Não há como contornar isso. Sem isso, a vida é essa que você já
conhece: um estado quase constante de ansiedade, frustração e confusão,
intercalado pela felicidade ilusória de sonhar com uma vida melhor ou o
refúgio “raso” oferecido pelo entretenimento ou, pior ainda, o uso de
entorpecentes. Por outro lado, os sentimentos cada vez mais profundos de
bem-estar, felicidade, paz, harmonia e amor vão surgir do paradigma da
realidade, com a mente no aqui e agora, na medida em que se consegue colocar
em prática os demais elementos do Caminho 3T.
Mesmo para quem está interessado em praticar autorrealização, é necessário
viver a vida seguindo os três campos de autoaprimoramento. Por exemplo, não
haverá uma experiência real espiritual, um sentimento de comunhão com
Deus, enquanto a mente estiver no paradigma da fantasia e distante do aqui e
agora. Não somente a realidade corriqueira mas também a realidade divina
acontecem apenas neste momento. Tampouco é possível viver uma vida
espiritual sem estar seguindo o dharma. O dharma é a ponte entre a matéria e o
espírito. Viver o dharma é viver o nosso propósito aqui na Terra, a cada
momento. Precisamos primeiro estar conectados a nossa essência prática, ou
seja física, emocional e social, para garantir uma rme conexão com a nossa
natureza transcendental.
Assim, devemos praticar o caminho completo. Este é um dos focos da
mensagem que quero sempre transmitir. Se você é um espiritualista, não ignore
a necessidade de praticar mindfulness, viver seu dharma e cuidar de suas
emoções. Se você está aí já praticando o autoaprimoramento, querendo viver
melhor, não ignore a importância de ir fundo no caminho espiritual e,
verdadeiramente, colocar em prática um sadhana como o Método 3T, para
penetrar a autorrealização completa.
Ao redor de tudo temos o estilo de vida. É o estilo de vida que determina
sua habilidade de até mesmo se interessar pelo autoaprimoramento e pela
autorrealização. E, uma vez interessado, o estilo de vida determina seu
potencial para colocar em prática as técnicas e absorver o conhecimento dos
cinco campos de perfeição do Caminho 3T. Assim, este é o pano de fundo que
in uencia a experiência de vida como um todo.
Agora, vamos avaliar um último detalhe curioso revelado pela apresentação
grá ca. Toda parte externa, ou seja, a que se situa além dos círculos de jnana e
bhakti, é totalmente con rmada pela ciência moderna. Só de mindfulness já
existem em 2017 mais de 10 mil pesquisas cientí cas con rmando sua e cácia.
A parte de paz interior é uma expressão dos campos cientí cos de Psicologia e
Neurociência. E o campo de dharma – da importância de viver seus valores,
buscar objetivos intrínsecos e viver sua natureza – também está sendo cada vez
mais indicado pela ciência e utilizado, até mesmo, no mundo corporativo.
Jnana, por sua vez, pode ser provado pela razão. É aplicando sua razão e
usando o pensamento crítico, que você poderá con rmar como os fatos
relacionados com o conhecimento transcendental tornam a sua vida mais fácil
de entender. Estas informações lhe proporcionarão a habilidade de entender
muitas experiências da vida de maneira racional. Em poucas palavras, elas
oferecem uma resposta àquelas perguntas que a ciência moderna não conseguiu
responder.
Por último, bhakti, o aspecto mais elevado do yoga, só pode ser con rmado
pela experiência direta. O processo leva você a ter esta vivência direta da
comunhão com Deus. Não tem como provar para outra pessoa, somente
oferecer o testemunho. Testemunhos é o que não faltam! A nal, são bilhões de
pessoas que, ao longo de toda a história da humanidade e em todos os cantos
do planeta, oferecem seu testemunho da realidade divina. Sim, há pesquisas
cientí cas que mostram os benefícios da devoção e há argumentos lógicos e
losó cos que apontam para a existência de Deus. Mas nada disso pode
“provar” a realidade de bhakti para um outro que ainda não ativou a sua
espiritualidade. A experiência do contato com Deus em devoção, bhakti,
precisa ser vivida pessoalmente.
Tudo oferecido no Caminho 3T é verdadeiro e e caz. Basta comprovar, seja
pela razão ou, melhor ainda, pela prática pessoal. O processo é completo e
contém inúmeras partes, e cada qual lhe trará vantagens e o ajudará a melhor
praticar a outra parte. Essa visualização grá ca do processo como um todo
pode colaborar para que você veja como tudo se encaixa e lhe inspirar a colocar
tudo em prática, passo a passo, como descrito neste livro.

Conclusão

Nada de valor na vida pode ser conquistado sem dedicação e persistência, e


isso é certamente verdade quando falamos de autoaperfeiçoamento e
autorrealização. O Método 3T funciona. Experimente e verá. Contudo, é
preciso praticar todos os dias. Se deixar de praticar um dia, aumentam-se as
chances de que deixará de praticar no dia seguinte também. Se deixar de
praticar por dois dias seguidos, torna-se bastante improvável que até mesmo
tente novamente. Os primeiros vinte e um dia são os mais difíceis. É, em
média, o tempo necessário para algo se tornar um hábito, e um hábito é o que
o Método 3T deve se tornar. Após vinte e um dias, você sentirá os efeitos
positivos das práticas diárias, o que tornará mais fácil você continuar. Assim
como um avião ou foguete precisa de mais combustível para decolar do que
para voar, você precisará de esforço e determinação extras para começar seu
caminho de transformação. Use lembretes em sua agenda, cole post-its na sua
mesa e mensagens na porta da geladeira.
Você tem as ferramentas e você tem o conhecimento. Agora, cabe a você
utilizá-los. O poder está em suas mãos.
Sobre o autor

Giridhari Das, ou apenas Giri, é um palestrante, autor e instrutor no campo


da autoajuda, autorrealização em yoga e consciência de Krishna. Pratica bhakti-
yoga, o yoga da devoção, e trabalha com autorreforma há mais de 20 anos. Sua
missão é apresentar o Caminho 3T, um processo transformador para
enfrentarmos e transcendermos os desa os da vida no século 21, com base no
conhecimento do yoga, fundamentado tanto nos antigos textos sânscritos como
nas pesquisas mais recentes nos campos da psicologia positiva e neurociência.
O Caminho 3T pode ser facilmente compreendido e aplicado como um meio
para o autoaprimoramento e a autorrealização no mundo de hoje.
Giri nasceu em Praga, em 1969, como Gustavo Dauster, lho de um
diplomata brasileiro. Poucos anos depois, ele e sua família retornaram para o
Brasil, onde permaneceu até os 9 anos. Então, mudou-se para Londres, onde
viveu pelos próximos 8 anos e estudou na American High School. Mais tarde,
passou um ano nos Estados Unidos, na Brown University, e, após se mudar em
de nitivo para o Brasil, completou sua graduação em Economia.
Sua carreira estava apenas começando quando foi introduzido ao caminho
do bhakti-yoga por um contato de negócios. Ele lhe falou sobre a consciência
de Krishna, e sua esposa lhe deu uma cópia do Bhagavad-gita Como Ele É. Giri
se impressionou com o conhecimento encontrado ali e logo se comprometeu
seriamente com o estudo e prática diária do processo.
Em 1993, conheceu Hridayananda Dasa Gosvami Acharyadeva, seu mestre
espiritual, e, após estabelecer com ele uma relação de discípulo, foi iniciado
formalmente, em 1998, recebendo o nome espiritual Giridhari Das.
Por muitos anos, participou ativamente na ISKCON em várias posições de
administração e liderança no Brasil. Por 10 anos, foi responsável pelo ramo
brasileiro da BBT, a editora do Movimento Hare Krishna, e, depois disso,
serviu por muitos anos como presidente do corpo governamental da ISKCON
Brasil.
Hoje, é proprietário e diretor do yoga-resort Paraíso dos Pândavas, na
Chapada dos Veadeiros, onde vive com sua esposa, Charana Renu Dasi
(Rhiannon Dauster), e seus dois lhos, Bryn Govardhana e Macsen Krishna.
Conheceu Charana no País de Gales, em 2007, enquanto excursionava com
seu mestre espiritual. Ela também pratica e ensina bhakti-yoga, desde 1999.
Também educa estudantes e visitantes em outros centros de estudo no Brasil
e pelo mundo e, já há muitos anos, ensina e orienta por e-mail qualquer um
interessado. Recentemente, sentiu a necessidade de alcançar uma audiência
maior, iniciando, assim, em 2014, um canal no Youtube para esse m.
Atualmente, grava vídeos para dois canais no Youtube em português, e um em
inglês. Também publicou quatro livros sobre yoga e autorrealização em
português, e o Caminho 3T em inglês.
O foco de seu ensinamento é o Caminho 3T, uma apresentação moderna e
sistemática do antigo caminho de autoaprimoramento e autorrealização em
yoga e consciência de Krishna. Desenvolveu o Caminho 3T após muitos anos
dedicados a estudos e práticas, a m de compartilhar sua experiência e suas
realizações em bhakti, e abordar as necessidades e os desa os do homem
contemporâneo.
Testemunhos

“[um] livro fantástico e muito revelador.”


– Pedro Rodrigues –

“Mais do que uma leitura, é uma experiência transformadora de vida.”


– Grady Harp –

“Amando a linguagem fácil e objetiva.”


– Gisele Rodrigues –

“Um livro bem pensado e importante.”


– Ithamar eodor (Isvara Krsna Das) –

“Não dá vontade de parar de ler. O Caminho 3T é um livro que conecta a


sabedoria do Yoga ao seu dia a dia, com ferramentas e exemplos práticos de como
manter sua mente saudável, presente no aqui e agora.”
– Taila Roncon –

“Cura e sustento para sua mente, alma e corpo... um livro inspirador.”


– Meg –

“O leitor tem em mãos o guia ou caminho das pedras para a verdadeira


transcendência.”
– Enéas Guerriero (Iswara dasa), autor, palestrante, life and spirit coach –
“É livro para se ter à cabeceira da cama, ou seja, para estar lendo
sempre.”
– Sergio Mendonça –

“A leitura está tendo uma ressonância muito grande em minha vida. Super
recomendo!!!”
– Márcia Uehara –

“Um livro muito esclarecedor!”


– Shani K. –

“Com uso de uma linguagem clara, exemplos úteis e um profundo conhecimento da


história do yoga, Giridhari Das oferece uma caixa de ferramentas espirituais que
podem ser usadas a qualquer momento.”
– Dotrazn –

“É um livro maravilhoso. Ótima introdução para novatos à prática de mindfulness


e meditação.”
– Talia Wong –

“Perfeita base para todos os leitores, independente do nível atual de conhecimento


sobre yoga.”
– Jill Baker –

“Impressionante como o livro Caminho 3T nos mostra numa linguagem simples,


direta e que toca nossa mente e espírito, o poder de transformação de bhakti-yoga
que pode ser plenamente praticado na nossa rotina diária e que nos conecta
diretamente conosco e com Deus. Gratidão pelo presente.”
– Roberto Moura –

“Estou amando o livro. Ensinamentos maravilhosos!”


– Simone de Morais –

“Uma aula de vida.”


– Renato Musso –

“Adorei o livro... me ajudou muito.”


– Rosana Ramos –

“Um livro incrível e que transforma a vida, cheio de bons conselhos e sabedoria
atemporal losó ca! Eu altamente recomendo este livro!”
– Radha Krishna –

“Recomendo a todos que se interessem em restabelecer sua conexão com a realidade


da Alma eterna. Esclarece, orienta, descomplica o conhecimento da transcendência!!!”
– Ana Galheigo –

“Um salva-vidas!”
– Ivan Llobet –

“Você tem uma linguagem bem didática e objetiva, explicita tudo com nitidez.
Muito agradável para ler.”
– Carmen Moreno –

Certamente tem mudado minha vida e meu comportamento frente os


acontecimentos cotidianos. Inclusive minhas atitudes estão ‘atingindo’ pessoas que
convivem comigo. Seu livro é especial.”
– Sane Almeida –

“Amei o livro, experiência maravilhosa!!!”


“Livro espetacular, estou vivendo grandes transformações em minha vida.”
– Elton Orvate –

“Estou lendo O Caminho 3T, é um frescor na alma, linguagem simples, direta,


porém suave como uma brisa no nal de tarde. Recomendo a leitura e experiência,
estou adorando!”
– Catarina Bezerra –

“Excelente roteiro para o caminho de Bhakti. Este livro tem um processo passo a
passo limpo e claro para alguém que quer se envolver na prática autêntica de
Bhakti-yoga. O formato prático, organizado e simpli cado foi um contraste bem-
vindo a alguns livros que são muito complexos para iniciantes”
– Billy Kubina Jr. –

“O livro Caminho 3T tem me ajudado a direcionar os passos.”


– Jacqueline Nogueira –

“O livro Caminho 3T é a solução para os tempos em que vivemos. Com a


metodologia e a forma didática que o autor aborda é muito fácil o entendimento, e,
em pouco tempo, a minha realidade se modi cou e minha consciência se iluminou.
Sou muito grato por isso.”
– Carlos Nascimento –

“O livro aborda assuntos de forma corajosa e transcendental para todas as pessoas


em diversos tipos da evolução humana no despertar da Consciência Divina! Seu
trabalho é claro e traz Vida e Amor, despertando o que há de melhor no ser!
Excelente leitura!”
– Odiliana –

“Que leitura fantástica!”


– Mikey Serino –

“Trata-se de uma leitura prazerosa, elucidativa e muito objetiva.”


– Susan Lopes –

“[O] Caminho 3T... é magní co, objetivo, acessível e extremamente didático.”


– Clóvis Melo –

“O Caminho 3T trouxe informações práticas e fundamentadas que me


impulsionaram a organizar minha vida em todas as áreas e, assim, conseguir
caminhar em terra rme rumo ao caminho espiritual. Gratidão!”
– Susane Nobre –

“Estou praticando o Caminho 3T, que está transformando completamente minha


vida. Depois que passei a ouvir e ler os preciosos ensinamentos transmitidos pelo
senhor, tenho vivido os dias mais felizes de minha vida e, por conseguinte, passei a
emanar felicidade e boa consciência às outras pessoas.”
– Ivanildo Viana –
Notas

1.
Laboratory of Neuro Imaging do website da Universidade da Carolina do
Sul. [voltar]

2.
Rewire Your Anxious Brain: How to Use the Neuroscience of Fear to End
Anxiety, Panic, and Worry [voltar]

3.
Wall Street Journal, March 30, 2014, “Why You Need a Purpose in Life”
[voltar]

4.
UK Government Chief Medical Officers Guidelines for Alcohol Consumption
[voltar]

5.
“Caffeine: How much is too much?”, www.mayoclinic.org. [voltar]

6.
“e Real Age Diet: Make Yourself Younger with What You Eat”, Dr.
Michael F. Roizen, MD. [voltar]
7.
“Meat Consumption and Cancer Risk,” Physicians Committee. [voltar]

8.
“Breathing Exercises: 4-7-8 Breath”, www.drweil.com [voltar]

9.
“Unintended Pregnancy Prevention”, www.cdc.gov [voltar]

10.
Guia Completo da Bhagavad-gita com Tradução Literal, de H.D. Goswami,
Capítulo 6, Verso 29. [voltar]

11.
Uma entrevista publicada no PsychReport. [voltar]

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