The Alpha's Son
The Alpha's Son
The Alpha's Son
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Aviso de conteúdo
por thb e aurora books
∆∆∆
1
Cabeça dura
1. Cidade no condado de Rockland, Nova York, Estados Unidos. Faz parte da área
metropolitana da Cidade de Nova York.
2
O problema com parceiros
— Ai!
Dou um tapa em outro mosquito voando em volta da minha
cabeça e acabo me acertando no pescoço.
Há tipo, um milhão de pequenos sugadores de sangue na
floresta. Estou andando há apenas dez minutos e já estou cheio de
carocinhos.
A floresta é exuberante e verde. O dossel de árvores fornece
um ambiente sombrio e úmido para o musgo e os fungos
prosperarem. Raízes grandes e retorcidas erguem-se do solo,
enrolando-se sobre si mesmas como cobras gigantes. As árvores
são altas como arranha-céus, envoltas de trepadeiras como luzes
em uma árvore de Natal. A paisagem está cada vez mais salpicada
de pedregulhos à medida que sigo em direção à base das
montanhas.
Tenho um pouco de tempo antes de encontrar Katie, e prefiro
gastá-lo aqui desenhando do que na minha cabine com colegas de
quarto de luta livre.
Vejo uma pedra à frente que parece alta e seca o suficiente
para se sentar. Tenho que me esforçar um pouco para chegar ao
topo, mas uma vez que consigo, tento ficar confortável. Com meu
fiel lápis na mão, começo a esboçar a paisagem.
Uma brisa sopra pela floresta, espalhando folhas e
misturando-se ao zumbido dos insetos e ao chilrear dos pássaros.
Deixei-me perder no desenho. E então…
CRAC!
Um estalo alto, como um galho sendo pisado, me assusta.
Giro para ver de onde veio o som, mas me viro rápido demais e
perco o equilíbrio. Antes que eu perceba, estou caindo para trás.
Com um barulho estranho de pânico, caio em uma poça de
lama.
Deito lá e desejo que a terra me engolisse inteiro.
Então ouço risadas.
— Tão gracioso, cabeça oca — diz uma voz, uma voz que
envia arrepios de raiva ondulando em minhas veias.
Olho para cima e encontro seu rosto estúpido olhando para
mim. O idiota da cidade. Ele está aqui para o festival?
Então ele é um lobo mesmo! Eu sabia! É por isso que ele
atiçou meus sentidos.
Me levanto e faço o meu melhor para limpar um pouco da
lama do meu queixo.
— Você não tem que sempre ser um idiota sabe — eu digo.
— Você poderia ter me ajudado a levantar em vez de rir.
O idiota para de rir.
— Ver você se estabanar é muito mais legal.
Mas que babaca!
— Eu só caí porque você me assustou. O que está fazendo
se esgueirando por aqui, afinal? Não deveria estar se misturando
com os outros campistas?
— Te pergunto o mesmo.
— Eu precisava de um pouco de ar — digo, limpando mais da
lama do meu rosto. — E privacidade. Qual é a sua desculpa? Você
é algum tipo de stalker?
O idiota levanta uma sobrancelha.
— Eu estava apenas cuidando da minha vida, quando você
começou a se debater como uma galinha.
Mais uma vez, ele ri e meu rosto começa a queimar.
— Pare de rir!
— Desculpe — diz ele, tão genuíno quanto uma nota de três.
— É só que… parecia muito engraçado e… — ele fareja o ar e
franze o rosto. — Você está fedendo.
— O que?! Eu… — cheiro minhas roupas e percebo que ele
está certo. A lama em que caí não era apenas fedida. E eu estava
coberto de esgoto.
— Isto é culpa sua! — grito.
— Você nunca vai encontrar uma companheira cheirando
assim — diz ele. — Existem chuveiros atrás das cabines. Você
provavelmente deveria pensar em usar um.
— Você é tão idiota!
— Tanto faz — ele diz, dando de ombros. — Vejo você por aí,
cabeça oca.
Sem pensar duas vezes, ele se afasta, deixando-me
pingando lama em meus tênis.
— Você ainda me deve um celular! — eu grito.
— Que os Deuses da Lua iluminem o caminho entre as almas
— ele grita sarcasticamente, sem virar para trás.
Sério, esse cara é um babaca!
Não há mais nada para eu fazer a não ser pegar meu
caderno de desenho, que ficou com algumas gotas de lama na
capa, e me arrastar de volta para a cabine. A marcha da minha
cabine até o bloco do chuveiro parece uma jornada eterna. Sou
recebido com mais do que alguns olhares estranhos. Que ótima
primeira impressão!
Pelo menos o idiota tem alguma razão. Nenhuma loba em sã
consciência gostaria de ser minha parceira. Pelo menos é um
consolo.
Estou atrasado para encontrar a Katie no momento em que
consegui tirar a lama de todos os cantos do meu corpo e limpei
minhas roupas o melhor que pude.
Com meu cabelo rebelde recusando-se a se acomodar em
qualquer estilo que eu peço, corro para encontrá-la.
Katie está sozinha do lado de fora da cabine principal quando
chego lá, banhada no crepúsculo, parecendo delicada e radiante em
um vestido lilás. Está mais bonita que nunca. Tem até uma flor
combinando no cabelo dela. Ao lado de Katie, pareço uma criança
que foi autorizada a se vestir sozinha pela primeira vez.
— Desculpa, estou atrasado — digo, sem fôlego. — Você...
está maravilhosa.
— Obrigada — diz ela, corando e mordendo o lábio inferior.
— Aposto que você poderia encontrar seu parceiro esta noite
com essa aparência!
— Não seja idiota — ela diz, dando um empurrão brincalhão
no meu ombro. — Você está pronto para entrar?
— Pronto como sempre estou.
Ela enlaça seu braço no meu e nós entramos.
O Salão Alfa é maior do que eu imaginava. Longo e largo
como uma piscina olímpica e iluminado por um lustre enorme, feito
de pelo menos cinquenta pares de chifres de veado. Colunas de
madeira revestem a sala, sustentando um segundo nível que
percorre todo o perímetro. Pinturas, com pelo menos o dobro da
minha altura, estão penduradas em todas as paredes forradas de
troncos. E na extremidade, duas grandes escadas descem da
varanda.
À direita da entrada, um quarteto de cordas toca uma
elegante música de boas-vindas; garçons em camisas e coletes
brancos vagam pelo mar de lobos oferecendo bandejas de canapés
e taças de champagne – ou cidra espumante para aqueles de nós
que não têm idade suficiente para beber.
O salão está cheio de lobisomens, todos vestidos para
impressionar. Garotas em vestidos coloridos e rapazes em paletós e
camisas brancas.
Puxo minha camisa cinza, que eu combinei com um par de
jeans skinny azul claro e tênis.
— Está vendo aqueles esquisitos ali? — aponto para Todd e
Simon que encontrei do outro lado do salão.
— Aqueles que parecem que conseguem comer as salsichas
de uma vez só? — Katie pergunta.
— São meus colegas de quarto.
— Puxa, sinto muito — diz ela, rindo. — Mas eles são meio
fofos, você não acha?
— Claro, se você gostar de zumbis.
Nós vagamos mais para dentro do salão e eu pego um par de
mini quiches de um garçom que passava.
— Ah, meus Deuses da Lua! São deliciosos! — exclamo,
cuspindo migalhas.
A cada nova bandeja de aperitivos que passa, eu pego o
máximo de salgadinhos deliciosos que posso e os enfio na boca.
— Pelo menos a comida é ótima! — tento dizer, mas Katie é
incapaz de decifrar minhas palavras de boca cheia.
Fico a procura do idiota caso precise me esconder, mas ele
não está em lugar algum. Talvez ele não goste de se misturar. Isso
explicaria o passeio solitário na floresta.
— Oi, pessoal! Curtindo o comes e bebes? — Katie e eu
somos subitamente cercados por uma Eleanor animada, parecendo
muito formal em um vestido preto com uma gola branca estilo
Wandinha Addams.
— Sim, obrigada, Eleanor — Katie diz, sempre a diplomata.
— Ouvi dizer que o filho do alfa deve aparecer a qualquer
momento agora — diz ela, parecendo que está prestes a explodir de
emoção.
— Sério? — Katie diz com as sobrancelhas mais altas que eu
já vi. Isso é ótimo.
— Meu pai trabalha para o pai dele — Eleanor continua,
começando a divagar. — Bem, na verdade é mais como se eles
trabalhassem juntos, meu pai é meio importante.
— Ah, ele é Beta Castillo? — Katie pergunta. — Desculpe,
não consigo lembrar seu sobrenome.
— Ah, haha não!
— Ele é um lobo gama então? No conselho de segurança? —
pergunto, engolindo um bocado de ovo recheado.
— Não, ele não tem um posto. Mas ele é um dos
conselheiros mais próximos do alfa, na verdade, eles são mais
como amigos. Melhores amigos.
— Isso é ótimo — diz Katie, claramente ficando sem coisas
para dizer a essa líder de torcida maníaca.
— Enfim, tenham uma boa noite! — Eleanor diz, radiante.
— Você também — diz Katie.
Eleanor se vira e sai para discutir com alguns outros
convidados desavisados.
— Ela é muito... — digo.
— Ela deve estar apenas nervosa — diz Katie.
Estou sempre admirado com o quão compreensiva minha
melhor amiga pode ser. Eu sou mais de julgar livros pela capa.
— Ah, esqueci de contar quem eu encontrei…
Estou prestes a contar a Katie sobre meu recente encontro
com o idiota da cidade quando a música para. O salão fica em
silêncio e as portas do segundo andar se abrem.
Três pessoas saem, mas é difícil ver seus rostos de onde
estamos.
— Aquele é Jasper Apollo! — ouço Eleanor sussurrando
animadamente para um menino próximo.
Todos os olhos estão no herdeiro enquanto ele e seus
convidados vão para o topo da escada.
Eles ficam no topo da escada e observam a multidão abaixo
deles.
Meus olhos se arregalam. Minha boca se abre e meu
estômago cai debaixo de mim.
Não posso acreditar no que estou vendo. Não pode ser
verdade, simplesmente não pode...
Acima de mim, em um elegante terno preto, está Jasper
Apollo, só que não é assim que eu o conheço...
Para mim, ele é o idiota da cidade. O cara que quebrou meu
celular, riu de mim quando eu caí na lama e não para de me chamar
de cabeça oca.
O idiota que está me atormentando é Jasper Apollo...
...o filho do alfa!
6
Beer Pong
Estou feliz por encontrar Katie no café da manhã. Ela não está
sentada na mesa das pessoas chiques. Em vez disso, ela está
sentada em uma das mesas redondas no outro extremo da sala com
Eleanor, Simon e Todd. Jasper está longe de ser visto.
Ao contrário do almoço e do jantar, o café da manhã é a
única refeição que não é servida para todos ao mesmo tempo. Os
campistas podem passear no refeitório a qualquer momento entre
7h e 10h, para se deliciar com panquecas, waffles, ovos, frutas e
cereais.
Na mesa do bufê ao lado, eu faço uma pequena pilha, coloco
algumas frutas vermelhas, cubro as panquecas com uma montanha
de bacon crocante e despejo grandes quantidades de xarope de
bordo. Pego meu prato cheio e me junto a Katie.
— Bom dia — diz ela alegremente.
— Oi — eu digo, acenando para todo o grupo.
— E aí, cara? — Todd pergunta, enfiando os ovos mexidos
na boca.
— Nada demais — eu respondo, sentando.
— Eleanor estava me contando sobre a Corrida de
Acasalamento — diz Katie. Aparentemente, ela e Eleanor ficaram
próximas no espaço de alguns dias. Uma pontada de ciúme torce
meu coração.
— Uau — eu digo, me aconchegando.
— Eu só estava dizendo com base nas estatísticas que há
uma chance de setenta por cento de encontrar um companheiro na
corrida — diz Eleanor. Alguém tomou muitas xícaras de café esta
manhã.
Um arrepio inexplicável percorre minhas costas.
— Isso é alto.
— Se todos os lobos não acasalados estão aqui e todos
correm, como é que esse número não é ainda maior? — Katie
pergunta, apoiando-se nos cotovelos.
Ela empurra a tigela vazia para longe. Uau, ela já terminou o
de sempre – muesli e frutas – então ela estava esperando por mim
ou está realmente interessada nesta conversa.
— Nem todo lobo não acasalado está aqui — Eleanor
responde como uma enciclopédia viva e vibrante. — Todo lobo não
acasalado é convidado para o festival, mas a presença não é
obrigatória. Algumas pessoas não podem pagar ou estão fora do
estado. Alguns simplesmente não se sentem prontos para participar.
Então, como é que eu não tive escolha? Eu silenciosamente
amaldiçoo meus pais por presumirem que eu gostaria de estar aqui.
Acho que não protestei exatamente. Katie estava animada
para participar do nosso primeiro festival juntos. Achei que não seria
tão ruim, desde que estivéssemos passando tempo juntos.
Jasper está começando a me fazer desejar ter desistido.
— Certo — Katie diz, balançando a cabeça como se tivesse
acabado de descobrir a localização de Atlantis. — Mas todos que
comparecerem encontrarão seu companheiro se também estiverem
aqui, certo?
— Não necessariamente — Eleanor continua. — Em primeiro
lugar, nem todo mundo que está aqui vai correr. É esperado, mas,
novamente, não é obrigatório. E em segundo lugar, o vínculo entre
companheiros nem sempre é óbvio. Mesmo com a energia
aumentada da lua azul, às vezes a conexão não é aparente
imediatamente.
— Mas nós não corremos por aí farejando uns aos outros? —
eu pergunto. — Não vejo como dois companheiros podem acabar se
perdendo.
— É um pouco mais complicado do que isso — diz Eleanor,
desesperada para explicar melhor. — A corrida de acasalamento
ocorre na floresta e não há instruções além de mudar de posição e
correr. O Retiro do Alfa fica em aproximadamente 50 quilômetros
quadrados de terra não desenvolvida. Se você e seu companheiro
começarem a correr em direções opostas, há poucas chances de
vocês sentirem seu vínculo. A lua azul é intensa, mas não tão
intensa.
Eleanor deu uma gargalhada, rindo da “piada” que ela fez.
— Nossa — Katie diz, ficando com aquele olhar distante e
melancólico que ela dá quando ouvimos Taylor Swift ou acabamos
de devorar um pote de Ben and Jerry's Phish Food. — Espero que
isso não aconteça comigo.
Seus olhos piscam rapidamente em minha direção.
— É por isso que você precisa de um plano — diz Eleanor,
com naturalidade. — Eu planejo dar a volta no acampamento em
círculos concêntricos contínuos. Cobrindo a maior quantidade de
terra na maior quantidade de tempo. Garantido para aumentar a
probabilidade de cruzar caminhos com cada participante em
cinquenta por cento.
— Isso é inteligente — diz Katie.
Eu zombo olhando para as minhas panquecas.
— Isso é insano.
— Não seja um idiota — Katie diz, me cutucando, me
fazendo errar minha boca com meu garfo.
Eu olho e Eleanor está quieta, olhando para suas batatas
fritas inacabadas.
— Desculpe — eu digo, de repente me sentindo horrível. —
Isso soa como muito esforço.
Eleanor se anima, sacudindo o cabelo liso e preto e
corrigindo sua postura.
— Pode parecer extremo, mas estarei muito mais perto de
encontrar meu companheiro.
— Acho que pensei que companheiros eram como,
destinados a ser e tudo mais. Então, tipo, se for pra acontecer, vai
acontecer. Você não precisará forçá-lo.
Eleanor olha sombriamente para seu café da manhã
inacabado mais uma vez.
— Acho que significa mais para algumas pessoas do que
para outras — diz ela, quase inaudível.
— Você acertou.
Volto minha atenção para a pequena pilha cada vez mais
encharcada à minha frente, mas posso sentir o olhar penetrante de
Katie.
— Eu... tenho que ir — diz Eleanor, pegando seu prato e
empurrando a cadeira para trás. — Eu tenho deveres voluntários.
— Não, espere, fique — Katie diz, a simpatia fazendo sua voz
ficar estridente. — Por favor, Max só estava sendo um idiota porque
ainda não está interessado em encontrar sua companheira.
“Ainda?!” Mais para nunca!
Como se ela pudesse ler meus pensamentos, Katie se vira
para mim. Olhando como se ela estivesse prestes a mudar e morder
meu rosto.
— Hum desculpe, Eleanor. Não quis ser rude, só não dormi
bem.
— Eu realmente deveria ir de qualquer maneira, há muito que
ainda preciso fazer para me preparar para esta noite. — Com os
olhos no chão, Eleanor se arrasta para seus deveres.
Katie dá um tapa no meu braço.
— Por que você teve que aborrecê-la assim?
— Desculpe, ainda não tomei café.
— Você está estranho desde que chegamos aqui — ela diz,
baixando a voz para que os irmãos gêmeos não possam nos ouvir.
— Eu sei que este não é o cenário dos seus sonhos, mas você pode
parar de estragá-lo para outras pessoas?
— Eu não tenho arruinado isso para outras pessoas. A única
razão pela qual vim aqui foi porque você quis fazer isso e eu
concordei com tudo o que tínhamos que fazer sem reclamar uma
vez.
— Você acha que não reclamar é assim? — ela sussurra e eu
paro para pensar por um segundo. Talvez eu não tenha arruinado o
festival para todos, mas também não o tenho tornado divertido para
Katie.
Eu abro minha boca para começar a me desculpar, mas ela
continua.
— Você pode pensar que encontrar sua alma gêmea é uma
grande piada, mas para alguns de nós é sério.
— Eu nunca disse que não era sério — murmuro.
— Não, você apenas deixou claro que não dá a mínima para
isso! — A voz de Katie passou de um sussurro teatral para um grito.
Seu rosto está vermelho e ela parece que seu cabelo está prestes a
voar, liberando o acúmulo de vapor de seu cérebro.
Todd e Simon pararam de atirar batatas fritas um para o outro
com os garfos e estão olhando para nós.
— Katie, acalme-se…
Escolhi exatamente a coisa errada para dizer a uma pessoa
pouco calma, mas Katie não é do tipo que abre o bico. Ela para de
olhar para mim e volta sua atenção para o meio da mesa. Seu peito
sobe e desce com respirações intencionalmente profundas. Seu
rosto está mais vermelho do que antes, o rubor em suas bochechas
subindo em manchas. Lágrimas brotam de seus olhos imóveis.
— Olha, me desculpe, ok? Tive uma noite estranha e não
estou de bom humor…
— Você teve uma noite estranha — diz ela, balançando a
cabeça ligeiramente. — Qual é a sua desculpa para ontem, então?
— Ontem?
— Quando você me trocou por Aisha sem pensar duas
vezes.
— Pedi desculpas por isso. Eu estava animado para
conhecê-la.
Katie bufa e finalmente se vira para mim. Sua expressão
furiosa desaparece e vejo a tristeza que tem alimentado sua raiva,
vindo à tona.
— Isso é tudo? — ela pergunta, com a voz embargada.
— O que você quer dizer?
— Hoje à noite, quando participarmos da Corrida de
Acasalamento, quem você prefere descobrir que é sua
companheira? Ela ou eu?
Minhas panquecas reviram em meu estômago enquanto a
pergunta de Katie reverbera em meus ouvidos.
Ela ou eu?
A verdade honesta do Deus da Lua é que nunca pensei sobre
quem poderia ser meu companheiro. Acho que nunca pensei em
Katie dessa maneira. Somos amigos desde sempre. Nós nos
conhecemos melhor do que conhecemos a nós mesmos. Eu nunca
sequer considerei isso. Claramente, ela considerou.
Quando se trata de Aisha, o pensamento pode ter passado
pela minha cabeça. Mas apenas por um segundo, como assistir da
plataforma enquanto um trem expresso passa pela estação.
Aisha é legal e boa no balé, se eu tivesse que acabar com
um estranho como companheira, gostaria que fosse ela. Mas eu
também não odiaria se Katie e eu nos tornássemos companheiros.
Seria estranho porque ela é da família. Katie olha para mim de
forma exigente enquanto penso nisso, e em algum lugar na minha
expressão – a verdade que embora eu particularmente não quero
acabar acasalado com nenhuma delas, eu nunca considerei isso
uma opção com Katie – deve demonstrar.
— Entendo — ela diz enquanto a luz em seus olhos, o calor
que sempre me fez sentir em casa, desaparece.
— Kate…
— Não — ela diz, puxando sua mão enquanto eu vou tocá-la.
— Talvez eu seja o idiota por querer algo de alguém que não tem
ideia. Ou talvez você tenha. — Ela me olha bem nos olhos. —
Porque pelo menos não estou ansiando por uma bailarina que está
tão fora do meu alcance que nem pratica o mesmo esporte.
— O que você está falando?
— Todo mundo sabe que Aisha vai acabar acasalando com
Jasper. É óbvio.
— O que? — Esta nova informação parece ter surgido do
nada. Mesmo sabendo que Katie está atacando, tentando me fazer
sentir tão mal quanto ela, algo dentro de mim avança, uma
sensação dolorosa que não consigo explicar.
— Aisha vai ser acasalada com Jasper e você só vai ter que
lidar com qualquer garota azarada que ficar presa com você.
— Não, ela não vai! — As palavras fluem de mim como um
espírito maligno, um demônio que não consigo controlar. Coloco a
mão na boca, mas é tarde demais. O sprite desagradável saiu.
— Então é verdade? — Katie diz. — Você prefere acabar
com ela, uma estranha, do que comigo?
Não tenho ideia de como o café da manhã com Eleanor se
transformou na maior briga que Katie e eu já tivemos. Mas aqui
estamos.
— Não foi isso que eu quis dizer... — eu digo, mas a fachada
frágil de Katie já está rachando. Eu já a vi assim antes. Quando
nossa professora de balé gritou com ela por não dobrar os joelhos o
suficiente. Quando seu primeiro namorado, Eric Peterson, terminou
com ela na sétima série. Seus lábios começam a tremer, um padrão
enrugado engraçado aparece em seu queixo, seus olhos ficam rosa.
Minha melhor amiga está prestes a chorar e a culpa é minha.
— Katie...
— Pare…
Com uma determinação rápida, Katie começa a marchar em
direção à porta. Eu nem mesmo entendo como consegui aborrecê-la
tanto. Eu não tenho ideia de por que a ideia de Aisha e Jasper
terminarem juntos mexeu comigo. Honestamente, eu não poderia
me importar menos. Então, por que eu reagi assim?
Eu olho para Simon e Todd do outro lado da mesa, que estão
olhando como se eu tivesse acabado de bater meu carro e estivesse
vazando óleo.
— Vá atrás dela, cara! — Simon diz. Em um segundo estou
de pé, perseguindo Katie no pátio de cascalho.
No momento em que saio, Kate já está na beira da floresta e
não mostra sinais de diminuir a velocidade.
— Katie!
Consigo alcançá-la e vou pegar seu braço, mas ela se afasta
de mim.
— Me deixe em paz! — ela grita antes de sair pisando duro
no mato.
Sem fôlego e pensando que seria melhor dar-lhe algum
espaço, deixei-a ir. Sempre que brigamos antes, sempre foi sobre
coisas bobas e triviais – um brinquedo quebrado, um bolinho não
compartilhado –, mas isso parece diferente. Menos um tremor e
mais um terremoto destruidor de cidades. Katie não olha para trás
enquanto desaparece entre a folhagem. Só espero que sejamos
capazes de reconstruir.
12
Nadando com lobos
Aisha me garante que tudo ficará bem antes de sair correndo para
fazer o check-in com Jasper. Corro para minha cabine para me
vestir – mesmo em uma emergência, prefiro colocar uma camisa do
que ficar seminu.
No caminho para o anfiteatro, encontro Simon e Todd, e
chegamos lá juntos.
O teatro é construído em uma encosta um pouco longe do
acampamento. Bancos de assentos se curvam em semicírculos
cada vez menores, levando até a área do palco.
Em menos de dez minutos todos se reuniram no anfiteatro.
Alguns dos lobos do lago ainda estão de calção, com toalhas sobre
os ombros queimados de sol. Outros voltaram da caminhada com
suas botas de caminhada, com camisetas manchadas de suor.
Fico de olho em Katie, mas não consigo vê-la em lugar
nenhum.
Um cobertor de pânico de baixo nível paira sobre a multidão.
Do nosso lugar na parte de trás, noto mais lobos em trajes do
exército postados em estações a cerca de seis metros de distância;
eles formaram um perímetro ao redor dos assentos.
— Ei, o que há com os aspirantes a Rambo? — Eu pergunto
baixinho, inclinando-me para Todd.
— Guardas da alcateia no destacamento de segurança — diz
ele. — Eles geralmente ficam fora do caminho para não acabar com
o clima.
— Ouvi dizer que eles têm sua própria cabana em algum
lugar nos arredores da propriedade — acrescenta Simon, assim que
um silêncio se instala na multidão.
Jasper – que também teve o bom senso de se vestir, e agora
está vestindo uma camiseta preta com calças pretas, como sempre!
– passa para o centro da plataforma abaixo.
— Obrigado por se reunirem aqui tão rapidamente. Não vou
perder seu tempo, acabamos de receber relatos de que um
renegado foi visto na propriedade.
Um renegado?!
Sussurros agitados e vozes crescentes se unem para
enfrentar o vento crescente.
Todos nós aprendemos sobre os renegados de nossos pais.
São lobos que abandonaram ou foram expulsos de suas matilhas. A
separação de um lobo de sua matilha é um evento tão traumatizante
que esses lobos ficam enlouquecidos e violentos.
Renegados são famintos por sangue, com um apetite
insaciável por violência.
Todos nós reunidos em um lugar como este é, bem, é como
montar um bufê de lobo.
— Nossa equipe de segurança está fazendo tudo o que pode
para confirmar esses avistamentos e prender o renegado antes que
qualquer dano possa ser feito. Mas, para que façam o trabalho,
preciso da sua cooperação. Então, até novo aviso, peço a todos que
voltem para suas cabines. Tranque as portas por dentro e espere
até receber mais instruções.
— E a corrida?! — uma voz solitária chama da multidão.
Não acredito que nossas vidas podem estar em perigo e
algum idiota desequilibrado e apaixonado está preocupado em fazer
uma corrida no escuro.
— Até sabermos que é seguro, não vejo como podemos
continuar com as atividades planejadas para a noite.
Um murmúrio raivoso sobe de todos os lados. Jasper dá um
passo para trás, ele parece nervoso. Aisha estava certa. Ele é
apenas uma criança, apenas dois anos mais velho que eu e aqui
está ele lidando com situações de vida e morte honestas para os
deuses da lua enquanto tenta reprimir os hormônios hiperativos de
um bando de impulsivos, não sei o que é lobos bons para eles.
— Por favor — ele chama, tentando ser ouvido em meio à
multidão crescente. — Voltem para suas cabines. Estamos fazendo
o possível para resolver isso o mais rápido possível. Se
conseguirmos neutralizar a ameaça, reavaliaremos a situação, mas,
por favor, peço sua ajuda.
Quando penso que Jasper está prestes a perder o controle, a
multidão começa a se afastar. Acho que não ser espancado até a
morte é mais importante do que correr por aí procurando um amigo
para se aconchegar. Todos se levantam e se dirigem para as
cabines.
— Vamos, mano — diz Todd, gesticulando para que eu o
siga. Ele e Simon já começaram a voltar.
Mas conforme a multidão passa por mim, percebo que falta
alguém. Alguém que vagou pela floresta hoje cedo. Alguém que foi
embora porque eu a aborreci.
Todo o meu corpo gela, o pavor toma conta do meu coração
como uma mão de esqueleto.
Todd e Simon estão olhando para mim como se minha pele
tivesse ficado roxa.
— Vamos lá, cara — Simon diz. — Por que a demora?
— Katie ainda está por aí — eu digo.
— Você não deveria ter vindo aqui — Jasper diz. Suas palavras
são uma adaga de gelo sendo cravada em meu coração.
Uma brisa fria sopra pela clareira.
— Por que não? — Eu tento evitar que minha voz trema
muito.
Ele nem responde.
— É esse o plano? Apenas me ignorar para sempre?
Suas sobrancelhas se arqueiam e um vinco aparece no
centro de sua testa.
— Eu não estou te ignorando… — Sua voz é monótona e
áspera, ele fala como se estivesse falando sozinho.
— Então como você chama isso? Se esconder na floresta,
sem vir jantar na última noite do acampamento?
— Eu vim aqui para meditar...
— Para fugir de mim!
As palavras saem de mim como se tivessem vontade própria.
Não quero parecer histérico na frente dele, mas não consigo evitar.
A lua é uma presença fantasmagórica gigante na clareira e,
claramente, ela ainda está aumentando minhas emoções.
Finalmente, Jasper me olha nos olhos e sinto um raio, como
um choque estático, passar entre nós.
— Max, o que você acha que vai acontecer aqui, você está
errado.
Jasper descruza as pernas e pula da pedra graciosamente.
— Você não pode simplesmente fingir que nada acontece —
eu digo.
— Eu posso — diz ele com os dentes cerrados. — Porque eu
preciso.
Jasper dá um passo como se fosse sair, mas não vai muito
longe.
— Besteira!
Ele para e eu quero me aproximar – eu quero pegar sua mão.
Quero virá-lo de frente para mim e segurar seu rosto bonito e
anguloso entre as palmas das mãos, mas estou com muito medo.
Com medo de que seja o que for, já acabou antes de começar.
— Olha, eu nunca quis vir a este festival estúpido. Eu pensei
que companheiros eram uma grande piada idiota. Um conto de
fadas que todo mundo inventou para se sentir melhor! Mas ontem à
noite, quando éramos lobos, algo aconteceu e eu sabia... eu sabia...
— O que? — ele murmura quando não consigo terminar
minha frase.
— Eu sabia que era real. É tudo real!
Jasper não se move. Ele tensiona o maxilar e cerra os
punhos.
Por que ele não me olha nos olhos?
— O que aconteceu ontem à noite não deveria ter acontecido
— diz ele. — Foi apenas um truque estranho da lua. Isso não
significa que há algo entre nós.
Ele engole.
— Isso não significa que somos companheiros.
Com cada palavra, ele soa cada vez mais enojado, como se
o pensamento de ser meu companheiro fosse repugnante para ele.
— Isso não significa que outra coisa vai acontecer agora e
definitivamente não significa que eu tenho que ouvir você.
Jasper finalmente olha para mim. Seus olhos são negros
como obsidiana, como galáxias sem estrelas, frios e vazios.
— Isso não significa nada.
Meu estômago se contorce e eu me curvo, como se tivesse
levado um soco. Eu envolvo meus braços em volta de mim,
segurando minha barriga dolorida.
Eu balanço minha cabeça. Meus lábios se movem, mas
nenhum som sai.
A lua pesa sobre meus ombros, como uma daquelas
máquinas que esmagam carros.
— Não, não…
O olhar vago de Jasper suaviza e por um segundo eu me
pergunto se ele pode até mesmo se aproximar de mim, pode até
tentar me confortar, me abraçar, qualquer coisa... Mas ele não se
move.
— Sim, Max — ele diz, a finalidade batendo em suas
palavras como terra jogada em um caixão.
Eu pressiono meus lábios e de repente sinto minha raiva
retornar.
Quem esse idiota pensa que é!?
Eu não sou uma criança que ele pode convencer a acreditar
que não há nada acontecendo. Também sou uma pessoa nisto e
estive aqui nesta clareira ontem à noite.
Eu sei o que senti – o que sinto.
— Eu sei que você sente isso também! — eu grito. — Você
pode fingir o quanto quiser. Você pode ser um idiota, você é muito
bom nisso. Mas eu sei o que você está sentindo.
— Como você pode saber o que estou sentindo?! — Jasper
ruge, girando para me encarar de frente.
Seu peito está arfando. Cada músculo de seu corpo está
tenso, as veias saltam de seus braços e testa.
— Você não tem ideia de como é a minha vida — diz ele. —
Não faço ideia do que eu passei! Eu sou o próximo alfa deste bando
e você é um garoto dos subúrbios. Como você poderia saber
alguma coisa sobre o que estou sentindo?!
Estou com medo que a cabeça de Jasper esteja prestes a
explodir, mas mesmo assim, mantenho a calma. De alguma forma,
sua raiva minou toda a minha. Não me sinto mais assustado, triste
ou solitário... me sinto confiante.
Eu dou um passo à frente.
— Eu sei o que você está sentindo porque eu também estou
sentindo.
Ele não diz nada, então dou mais um passo.
— Senti ontem à noite. Tenho sentido isso desde que nos
conhecemos naquele dia na cidade.
Outro passo.
— Esse sentimento é grande demais para ser ignorado. Não
podemos simplesmente fingir que não existe.
— Não existe — ele sibila. Eu congelo no meio do passo.
Quando ele não foge, eu cuidadosamente coloco meu pé no chão.
— Ele existe — eu digo. — Eu sei que não faz sentido e, para
ser sincero, provavelmente também não teria escolhido você, mas,
Jasper, você é meu...
— Não diga isso.
— Você é…
— Não…
— Você é meu companheiro.
Meu pé bate no chão quando a boca de Jasper se abre,
deixando escapar um rugido agudo e irregular.
Presas brotam de suas gengivas. Seu focinho se alonga e
seus olhos se afastam. Pelo preto como breu se espalha por seu
rosto. Seus ombros curvados e seus ossos parecem prestes a
explodir em sua pele.
Suas pernas estalam para trás, com um estalo de arrepiar a
espinha, e ele cai para a frente sobre as patas.
Suas roupas caras explodem em pedaços quando seus
músculos incham.
Leva menos de alguns segundos para Jasper mudar
completamente para sua forma de lobo.
Eu fico congelado.
Jasper rosna, estala as mandíbulas uma vez e então gira,
disparando para a floresta.
Ele está fugindo!
Eu não posso deixá-lo. Se eu posso enfrentar a verdade
sobre nós, ele também pode.
Eu sei que não vou pegá-lo se eu não for agora, então, sem
tirar minhas roupas, eu me mexo, rasgando o tecido do meu jeans e
rasgando meu moletom favorito.
Eu caio com um baque e sacudo meu pelo, antes de pular em
sua direção.
Seu cheiro é como uma trilha de migalhas de pão tentadoras
– visíveis aos meus olhos de lobo. Eu sigo a trilha bioluminescente
que me leva até ele.
Posso sentir sua determinação de me ultrapassar, o que só
me faz correr mais rápido.
Então, de repente, o caminho se foi.
Deslizo até parar na beira de uma poça de água escura.
Jasper está longe de ser visto, a trilha esfriou.
À minha frente, uma cachoeira escorre pela lateral do
penhasco. A água cristalina, como diamantes caindo, bate no cume
e cai na piscina.
Por um segundo, estou distraído com o quão estupidamente
lindo é, muito preso para notar Jasper me perseguindo.
Eu me viro com tempo suficiente para me preparar enquanto
ele avança, me derrubando de costas. Chuto freneticamente e tento
me endireitar.
No segundo em que estou de pé, Jasper avança novamente,
mas desta vez estou pronto. Eu golpeio com uma pata e o empurro
para o lado.
Mesmo no calor do momento, estou meio surpreso por ter
conseguido acertar um golpe no filho do alfa.
Mas minha comemoração dura pouco. Jasper corre para mim
novamente, batendo com o ombro contra o meu lado e me fazendo
voar.
Eu resmungo quando bato na terra e rolo de costas. Jasper
cai em cima de mim, me jogando no chão.
Eu deito indefeso debaixo dele.
Com medo de que ele tenha perdido o controle
completamente, faço a única coisa que consigo pensar... volto para
a forma humana.
Ele não vai arrancar minha jugular se eu estiver em forma
humana, certo?!
Eu estremeço e gemo quando meus músculos encolhem e de
repente o peso maciço do lobo de Jasper está me esmagando.
Para meu alívio, Jasper também muda. Ele retorna à forma
humana, mas ainda está em cima de mim.
Seus olhos são verde-floresta mais uma vez, seu cabelo
preto cai sobre a testa. Nossos rostos estão a apenas alguns
centímetros de distância e noto pela primeira vez as sardas pálidas
salpicando a ponte de seu nariz.
Ele está tremendo e não consegue recuperar o fôlego.
Eu tremo quando o frio do chão se infiltra em meu corpo. De
repente, estou extremamente consciente de que estou nu e Jasper
também.
Mas não consigo me mover, tudo o que posso fazer é esperar
para ver qual será o próximo movimento dele.
Estou com medo de tê-lo irritado, de tê-lo levado longe
demais. Talvez eu não devesse ter cutucado tanto quanto fiz, mas
tive que... tive que dizer a ele como me sinto, mesmo que isso
signifique que ele está prestes a me dar um soco na cara.
Ele se move e eu recuo.
Antes que ele me dê uma cabeçada, eu tenho que fazer
alguma coisa...
— Jasper, eu sinto...
Jasper pressiona seus lábios contra os meus.
Seu beijo é forte – raivoso. Eu posso sentir o cabelo na parte
de trás da minha cabeça sendo amassado no solo.
Mas eu não me importo. Meu corpo está formigando
completamente e não é do frio.
Estou flutuando e caindo ao mesmo tempo. Balançando em
um mar de arco-íris iridescente. Fluxos de cores estão passando
rapidamente – purpurina e faíscas.
Separo meus lábios e o beijo de volta.
Ele tem gosto de refrigerante de cereja.
Estendo a mão e coloco a mão na parte de trás de sua
cabeça. Sinto a protuberância em seu crânio onde encontra sua
coluna e penso em como isso é estranhamente íntimo.
Meus dedos cavam em seu cabelo macio e brilhante.
Nossos rostos estão pressionados juntos, nossos narizes
achatados contra as bochechas um do outro.
Bem quando estou começando a pensar que posso desmaiar
se não parar para respirar, Jasper se afasta.
— Pronto — diz ele amargamente. — É isso que você
queria?
Jasper se levanta sem dizer mais nada e entra na floresta.
Ele se foi em um instante.
Eu deito no chão, frio, sozinho... e nu.
22
Indo para casa, sozinho
— Você não deveria ter vindo aqui — diz Jasper. As estrelas são
refletidas em seus olhos negros.
As sombras da floresta pairam grandes sobre a clareira.
Meu corpo está tremendo. Meus dedos dos pés estão
cavando a grama.
Onde estão meus sapatos?
O aroma das flores de cerejeira flutua na brisa.
— Por quê?! — Grito, mas sei que ele não vai me dizer.
— Por quê?! — Grito novamente, como gritei ontem à noite e
anteontem.
Lágrimas transbordam e caem, congelando no ar e se
perdendo na grama.
— Você não pertence aqui — diz Jasper. Ele abaixa a
cabeça, com o rosto na sombra.
Eu tento alcançá-lo, mas ele está longe demais para tocar.
Tento caminhar até ele, mas quanto mais rápido eu ando,
mais distante me torno.
— Jasper!
— Vá para casa, Max.
Ele está rangendo os dentes tão forte que consigo ouvir.
— Vá para casa.
— Não! Eu vim falar com você. Porque somos companheiros.
Porque a lua disse que eu deveria.
— Que lua? — ele pergunta, sorrindo e apontando para cima.
Eu olho para cima e não há lua no céu. Apenas estrelas e
escuridão.
— Isso não é possível!
— Nós não pertencemos juntos, Max. Nunca poderíamos
pertencer juntos.
— Pare — eu digo, começando a soluçar. — Por favor, pare.
— Eu nunca poderia te querer.
Eu grito de dor, segurando meu ombro onde o renegado me
mordeu. É como se estivesse sendo mordido de novo por todo o
corpo. Eu retiro a mão e olho para o sangue pingando dos meus
dedos.
— Por que você está fazendo isso?!
— Porque você não pertence aqui...
∆∆∆
— Eu não vou.
— Por que não?! — Katie me encara por cima de uma arara
de roupas na Forever 21.
— Passei a semana inteira pensando nisso — digo enquanto
ela volta à busca de vestidos.
Na última segunda-feira, Aisha não sairia da minha casa até
que eu prometesse pelo menos pensar em ir à Celebração da Lua
da Colheita. Mas não importa o quanto eu pense nisso, não parece
certo.
— Por que eu me submeteria a isso?!
— Porque Aisha pode estar certa. Talvez Jasper queira que
você vá para que ele possa escolher você na frente de todos. Não
seria romântico? — ela diz, puxando uma coisa neon laranja peluda,
fazendo careta e a colocando de volta onde encontrou.
— Há uma chance maior de que ele pegue fogo
espontaneamente na frente de todos — digo.
— Você está sendo tão pessimista. — Ela pega um vestido
prateado brilhante, considera e o pendura de volta na arara.
— Será? Ele tem sido um idiota o tempo todo que o conheço,
e quando ele não está sendo um babaca, ele me ignora
completamente.
— Os riscos são maiores agora. E se ele percebeu o que
está prestes a perder e quer uma saída? — ela passa as mãos pela
manga de um vestido azul de veludo. — Se você não for,
basicamente está dizendo que não se importa.
— Talvez eu não me importe.
Ela para de se mover e me olha com as sobrancelhas
arqueadas.
Eu me desmorono sob seu olhar.
— Está bem, eu me importo. Mas é por isso que não posso ir.
Será muito difícil.
— Ninguém nunca disse que o amor deveria ser fácil. Ah! —
Ela puxa um vestido rosa da arara com um laço na cintura. — Isso é
perfeito!
— O que estamos fazendo aqui, de novo? — pergunto. —
Por que você precisa do vestido?
— Porque eu preciso de algo para usar quando você me
levar para a Celebração da Lua da Colheita como sua
acompanhante.
Ela gira nos calcanhares e vai em direção ao caixa.
— Katie, espere, eu não vou.
Ela para e me encara.
— Max, o amor é como fazer compras. Você procura e
procura pela roupa perfeita. Aquela que combina com o tom da sua
pele e serve como uma luva. E é um trabalho árduo. Às vezes é
uma guerra total. Mas você nunca desiste. E quando você encontra
a roupa que estava procurando — ela segura o vestido —, você
nunca a deixa ir. Você luta por ela.
Eu viro o rosto. Todo mundo está tão determinado a me fazer
ir para essa festa estúpida. E por quê? Para eu assistir Jasper
arrancar meu coração e pisar nele na frente de um bando de lobos
pomposos e julgadores.
— Eu sei que é difícil para você admitir — diz Katie,
suavizando o tom. — Mas você ama Jasper, não é?
Eu olho para ela de relance, como um cervo nos faróis.
Eu nem preciso dizer nada para Katie saber que ela está
certa.
— Então me deixe pagar por este vestido incrível — ela diz
com um sorriso sabido. — E então vamos encontrar algo para você
vestir.
∆∆∆