Dissertao Mariana V. Galuppo - Biblioteca
Dissertao Mariana V. Galuppo - Biblioteca
Dissertao Mariana V. Galuppo - Biblioteca
Vitória
2020
MARIANA VILELA GALUPPO
Vitória
2020
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
CDD 21 – 620.11
Elaborada por Marcileia Seibert de Barcellos – CRB-6/ES - 656
Aos meus pais, Elke Lopes Vilela Galuppo e
Carlo Guadagnin Galuppo, por participarem
de todo o processo com o amor de sempre.
AGRADECIMENTOS
Aos professores do IFES: André Galdino, Georgia Serafim Araújo, Viviana Possamai
Della Sagrillo e Kinglston Soares, pelo pronto apoio em diversas etapas do projeto.
The ceramics sector plays an important sustainability role due to its capability to
absorb a large amount of waste produced by other industries. The usage of waste on
the ceramics industry may provide benefits, such as reducing costs and the amount
of natural raw material used, lowering the burning time of ceramic products and
preventing certain residues from having an environmentally incorrect destination. On
the other hand, around 20 million tons of waste and steel co-products is generated
per year in Brazil, 40% of which corresponds to blast furnace slag. Blast furnace slag
is mainly used in the production of Portland cement. Thus, looking for an alternative
usage of this slag, this work focus on evaluating the influence of granulated blast
furnace slag as an alternative raw material in ceramic tiles, more specifically,
porcelain tiles. For this, the raw materials used in the elaboration of porcelain tiles in
a ceramic tile industry in the state of Espírito Santo and granulated blast furnace slag
were characterized by the techniques of X-ray fluorescence, X-ray diffraction and
granulometric analysis. After characterization, the research was split in two steps. At
Step 1, the influence of substituting 5% of the weight of three different raw materials
with slag was evaluated. Based upon the analysis of the results obtained at Step 1, it
was determined which raw materials would be used to carry out Step 2, whose
objective was to evaluate the effect of the slag increase in 5%, 7% and 10% on
weight substitution. In Step 01, the four mixtures formed were analyzed for plasticity
and thermogravimetry. In both steps, test specimens were produced by pressing and
sintering at a plateau temperature of 1170°C, which were tested for the following
properties: drying and firing shrinkage; water absorption; apparent porosity; apparent
specific mass and flexural strength. The developed ceramic materials showed
properties that meet the current standards for porcelain tiles, showing that the
granulated blast furnace slag steel co-product can be used as a substitute for some
raw materials in the ceramic tile industry.
Figura 9 - Moinho de bolas utilizado para cominuição das massas cerâmicas. ........ 59
Figura 10 - Molde utilizado para conformação dos corpos de prova: (1) partes
componentes, (2) montado para prensagem e (3) montado para retirada
do cp......................................................................................................... 61
Tabela 8 - Massas (g) e teores (%) das matérias-primas cerâmicas e EGAF em cada
massa da Etapa 2. ............................................................................... 68
Tabela 9 - D0,1, D0,5 e D0,9 da análise granulométrica por difração a laser das
matérias-primas cerâmicas. ................................................................. 84
Tabela 19 - Comparativo dos valores de média obtidos nos ensaios das misturas
“Referência” na Etapa 1 e na Etapa 2. ............................................... 100
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AA – Absorção de Água
cp – Corpo de Prova
Cu – Coeficiente de uniformidade
IP – Índice de Plasticidade
LL – Limite de Liquidez
LP – Limite de Plasticidade
MP – Matéria-Prima
NBR – Norma Brasileira Registrada
PA – Porosidade Aparente
TG – Análise termogravimétrica
1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………........ 16
2 OBJETIVOS ................................................................................................. 19
4 METODOLOGIA........................................................................................... 51
6 CONCLUSÃO............................................................................................. 101
16
1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVOS
3 REVISÃO DA LITERATURA
Desde esse marco, empresas de diferentes portes e setores expandiram ações para
a melhoria do cenário de resíduos no Brasil, visto que a legislação estabeleceu
princípios, conceitos, prioridades e mecanismos. Esse fator tem ocasionado maior
conscientização popular, planos de governo, investimentos em negócios inovadores
e inúmeras iniciativas com potencial de transformações na realidade brasileira dos
resíduos, com viabilidade econômica e inclusão social (CEMPRE, 2015).
O aço é uma liga metálica amplamente utilizada que está sempre presente na vida
dos seres humanos, visto que é utilizado na fabricação de produtos diversos, tais
como utensílios domésticos; bens de consumo; eletrodomésticos; meios de
transporte (carros, ônibus, navios, trens, bicicletas e outros); máquinas e
equipamentos; embalagens e recipientes; além de ser utilizado em construções,
como edifícios e pontes (INSTITUTO AÇO BRASIL, 2015a).
O aço possui como matéria prima mais importante o minério de ferro, o qual passa
por uma série de etapas até a formação da liga. Primeiramente, na etapa de
preparação da carga, ocorrem os processos de aglomeração do minério
denominados sinterização e pelotização, enquanto que o carvão passa pelo
processo de coqueificação para elevar seu teor de carbono. Nessa última etapa, o
carvão é enviado à coqueria, onde é destilado e se transforma no coque. Na
sinterização faz-se a homogeneização do minério de ferro, seguida da adição de
fundentes e aglomeração dos pós (formação do sínter), o que aumenta a eficiência
do processo e a resistência mecânica das partículas e, ainda, reduz a geração de
poeira no processo. As pelotas obtidas e o coque são levados ao alto-forno, onde,
na etapa de redução, o minério de ferro será quimicamente reduzido a ferro metálico
(CHEREMISINOFF, 2003; MOURÃO, 2007; RIBEIRO, 2010; SILVA; MEI, 2010).
blocos. Por fim, os semi-acabados passam pela etapa de laminação, em que são
processados por equipamentos chamados laminadores e transformados em uma
grande variedade de produtos siderúrgicos (INSTITUTO AÇO BRASIL, 2015b).
Todas as etapas descritas do processo de produção do aço estão simplificadas na
Figura 4.
teores de zinco e outros metais, pode-se fazer a recuperação para venda, o que só é
viável em alguns casos. Também devido aos altos índices de metais pesados, o
PAE deve ser estabilizado antes da disposição em aterros industriais. Estudo
realizado por Machado et al. (2011) confirmou que o PAE pode ser utilizado na
fabricação de cerâmicas (tijolos e telhas), em condições adequadas (MACHADO et
al., 2011; MURAKAMI, 2012; PELINO et al., 2002).
Quando realizado em aciaria LD, o refino do ferro gusa produz a Escória de Aciaria.
O processo LD utiliza oxigênio gasoso para refinar o ferro gusa líquido por meio da
oxidação de certos elementos, sendo assim, a formação da escória é responsável
pela remoção das impurezas presentes no ferro gusa. Esse resíduo é o segundo
mais gerado na indústria siderúrgica, correspondendo a 27% do total de resíduos e
coprodutos gerados em 2018. Tendo em vista sua importância, aplicações já foram
estudadas para o material (INSTITUTO AÇO BRASIL, 2019; SOUZA, 2007).
Para esse trabalho, utilizou-se a escória granulada de alto-forno, por ser gerada em
maior quantidade na indústria siderúrgica local. A Figura 5 exibe a escória granulada
de alto-forno.
Outras aplicações incluem o setor da agronomia. A EGAF pode atuar como fonte de
nutrientes (Ca e Mg) para as plantas e como corretivo de acidez do solo,
melhorando as características do plantio (CARVALHO-PUPATTO; BÜLL;
CRUSCIOL, 2004; PRADO ET AL., 2003; PRADO; FERNANDES; NATALE, 2003).
Também pode ser aplicada como adsorvente para remoção de diversos íons
metálicos de soluções aquosas, fosfato e amônio da água do mar e corantes de
águas residuais (BHATNAGAR; SILLANPÄÄ, 2010; KHELIFI ET AL., 2002; GUPTA
ET AL., 2003).
Volume de escória
Aplicações da escória de alto-forno
utilizada
Alto Lastro para ferrovia
Agregado de concreto
Agregado em betume
32
3.3.1. Matérias-primas
Albert Atterberg definiu limites em que a argila pode ser facilmente moldada, são os
denominados limites de Atterberg. O limite de plasticidade (LP) ocorre quando há a
quantidade mínima de água para que a argila seja moldada sem se quebrar. Já o
limite de liquidez (LL) expressa a quantidade máxima de água capaz de ser
adicionada à argila, de forma que ela ainda seja moldável, antes que se torne uma
pasta incapaz de manter a forma. A diferença entre o LL e o LP fornece o índice de
plasticidade (IP) (ANDRADE; AL- QURESHI; HOTZA, 2011).
sedimentares e queimam com cores branca ou clara. São utilizadas para conferir
plasticidade e resistência mecânica elevadas às massas no estado cru e após a
queima. Podem, ainda, ser utilizadas como material refratário. Essas são
constituídas geralmente por caulinita, além de matéria orgânica e possivelmente
outros minerais, como gibsita, mica, quartzo, e argilominerais como ilita e
montmorilonita. As características das ball-clays se devem à composição e à
granulometria predominantemente fina (diâmetro equivalente abaixo de 2 µm)
(SANTOS, 1992).
Além das argilas ball-clays e dos caulins, outras matérias-primas sem plasticidade,
como o quartzo finamente moído e materiais fundentes, também são utilizados no
preparo da massa de cerâmica de revestimento. O quartzo é um material não
plástico introduzido na massa como fonte de sílica, que atua diminuindo
deformações de secagem e queima pelo ajuste do coeficiente de expansão térmica,
aumentando a estabilidade dimensional da peça cerâmica (MORELLI; BALDO,
2003).
36
Os moinhos de bolas são utilizados para moer de maneira fina materiais como
quartzo e feldspato, podendo ser usados a úmido ou a seco. São geralmente
cilindros ocos contendo bolas de elevada dureza no interior, que, devido ao
movimento de rotação do cilindro, caem umas sobre as outras, fragmentando as
partículas de matérias-primas existentes entre elas (NORTON, 1973).
Os produtos cerâmicos podem ser classificados em alguns tipos, como visto no item
3.3. Dentre eles, há os revestimentos cerâmicos, que, segundo a Associação
Paulista das Cerâmicas de Revestimento (2016), em 2015, atingiu a marca de 899
milhões de metros quadrados produzidos no Brasil. Com isso, o país se tornou o
39
Ainda, de acordo com a ABNT NBR 15463:2013, entende-se porcelanato como uma
placa cerâmica para revestimento com baixa porosidade, absorção de água menor
ou igual a 0,5% e elevado desempenho técnico (elevada resistência).
Quanto às aplicações dos porcelanatos, esses são muito versáteis, podendo ser
utilizados tanto em residências e escritórios quanto em áreas comerciais de alto
tráfego. A Figura 6 ilustra algumas dessas aplicações, como porcelanato aplicado
em piso amadeirado e ladrilhado e bancada de porcelanato.
A reciclagem dos resíduos de vidro dentro do próprio processo é, por vezes, uma
tarefa difícil tendo em vista que, para isso, o resíduo deve estar livre de impurezas e
separado por tipo e cor. O uso do resíduo de vidro na produção de cerâmicas
brancas não é tão restritivo, e, somado a isso, a grande quantidade de matéria-prima
utilizada na produção de cerâmicas torna o setor atrativo para a reciclagem desses
materiais. Portanto, muitos estudos foram realizados na área e algumas das
variáveis constatadas relevantes na densificação dos corpos de prova cerâmicos
foram: granulometria das partículas; temperatura e tempo de queima; quantidade de
fase vítrea e viscosidade durante a queima. Além disso, os estudos concluíram por
meio da composição química dos pós de vidro que esse é um possível substituto
dos feldspatos, podendo atuar como fundente na massa cerâmica e favorecendo a
preservação dos minerais naturais. As cerâmicas com resíduo de vidro de estudos
comumente apresentaram resistência mecânica inferior às usuais, isso porque esse
resíduo proporciona o crescimento dos poros fechados, menor teor de fase cristalina
e menor resistência da matriz vítrea. Apesar disso, foi amplamente comprovado que
o pó de vidro é um substituto parcial de matérias-primas cerâmicas (ZIMMER;
BRAGANÇA, 2019).
Pal et al. (2016) estudaram uma massa padrão de porcelanato constituída por 45%
de argila caulinítica, 40% de feldspato potássico e 15% de quartzo. A partir dessa
massa outras duas foram analisadas: uma com substituição de 30% do feldspato por
escória de alto-forno e outra com substituição de 30% do feldspato por escória de
aciaria. Foram analisadas as características físicas, as transformações de fases e
perdas de massa de acordo com análises termogravimétricas e análises térmicas
diferenciais. Observou-se um aumento significativo na resistência mecânica dos
corpos de prova quando incorporada e escória de alto-forno, a qual atingiu 81 MPa,
enquanto a massa padrão obteve 52 MPa. Esse aumento significativo foi atribuído
ao estresse causado pela diferença no coeficiente de expansão térmica entre a
matriz vítrea, o quartzo e os grãos de anortita durante o processo de resfriamento.
Ainda, concluíram que a substituição de feldspato por escória implica na vitrificação
em menor temperatura quando comparado à massa padrão.
3.5 PATENTES
46
4 METODOLOGIA
As sete MPs que são utilizadas pela indústria cerâmica local, e que fazem parte
dessa pesquisa, serão aqui denominadas por MP A; B; C; D; E; F e G para fins de
preservação do processo industrial. Nesse estudo, essas MPs e a EGAF foram
caracterizadas pelas técnicas de fluorescência de raios-X, difração de raios-X,
termogravimetria e análise granulométrica.
Com base na análise dos resultados obtidos na Etapa 1 foram determinadas quais
matérias primas seriam utilizadas para a realização da Etapa 2. O objetivo da Etapa
2 foi avaliar o efeito da variação do percentual de substituição das MPs por EGAF.
Sendo assim, foram preparadas três novas misturas denominadas MIX5, MIX7 e
MIX10, com 5%, 7% e 10% de EGAF, respectivamente.
Fonte: Autora.
A indústria cerâmica local, fornecedora dos materiais, trabalha atualmente com sete
diferentes matérias-primas, as quais serão aqui denominadas: “A”; “B”; “C”; “D”; “E”;
“F” e “G”.
MP Descrição
A Fundente
B Fundente
C Argila alta fundência, resistência mecânica alta
D Fundência intermediária, resistência mecânica alta
E Fundente
F Argila refratária, baixa resistência mecânica
G Massa cerâmica retorno do processo
Fonte: Indústria de revestimentos local, 2018.
K2O 0,44
Na2O 0,27
C 0,16
Fonte: ArcelorMittal Tubarão (2019).
Segundo a siderúrgica, não foi possível determinar os parâmetros FeO, MnO e ZnO.
Esses compostos ficaram fora da faixa de trabalho dos equipamentos, devido às
seguintes condições: FeO acima de 1,21%; MnO acima de 2,26%; e ZnO abaixo da
faixa de trabalho.
Componentes A B C D E F G*
Matéria-prima A B C D E F G
Porcentagem
em massa na 38 17 16,5 16,5 4 4 4
mistura (%)
Fonte: Indústria de revestimentos local, 2018.
E 24 4 24 4 24 4 24 4
F 24 4 24 4 24 4 24 4
G 24 4 24 4 24 4 24 4
EGAF 0 0 30 5 30 5 30 5
Fonte: Autora (2019).
*Mistura 1: Substituição de 5% em massa de “A” por EGAF.
**Mistura 2: Substituição de 5% em massa de “B” por EGAF.
***Mistura 3: Substituição de 5% em massa de “C” por EGAF.
O LL é teor de umidade limite entre os estados plástico e líquido das amostras e foi
determinado segundo a norma ABNT NBR 6459/2017 com seis pontos de ensaio.
Esses ensaios foram realizados no Laboratório de Solos do IFES, Campus Vitória.
Realizou-se a preparação dos corpos de prova (cps) de acordo com Santos (1989).
As massas foram umidificadas com 8% de água destilada, conforme orientação da
indústria de revestimentos doadora das matérias-primas. Depois, a mistura foi
homogeneizada e passada em peneira para retirar os aglomerados.
Foram moldados seis cpS de cada mistura, totalizando 24 cps, em prensa hidráulica
da marca Ribeiro localizado no Laboratório de Materiais Cerâmicos do IFES Campus
Vitória. Foram utilizados moldes de aço inoxidável, apresentado na Figura 10, para
formar perfis retangulares com dimensões de 60 x 20 x 5 mm. A pressão adotada
para a conformação foi a mesma utilizada na indústria de revestimentos, que é de
380 kg/cm² (4,56 t).
61
Figura 10 - Molde utilizado para conformação dos corpos de prova: (1) partes
componentes, (2) montado para prensagem e (3) montado para retirada do cp.
A secagem dos cps, após conformação, ocorreu a 110ºC ± 5ºC por 24h. A queima
foi realizada em forno mufla de alta temperatura com taxa de aquecimento de
5°C/min e temperatura máxima na zona de queima de 1170°C (temperatura indicada
pela indústria de revestimentos) por uma hora. O forno utilizado foi um Fortelab 220
V de dez litros, localizado no Laboratório de Engenharia Química 2 da Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES) - Campus Alegre. O resfriamento até a
temperatura ambiente foi realizado por convecção natural dentro do forno (CÚNICO,
2015; MODESTO et al., 2003; SOUZA; PINHEIRO; HOLANDA, 2011).
62
Os ensaios de variação linear após secagem (RS) e após queima (RQ) foram
realizados com 6 cps. Medem-se os comprimentos do cp cru (LC), do cp após
secagem (LS) e do cp após a queima (LQ). Os valores de RS e RQ, expressos em
porcentagem, são determinados pelas Equações 1 e 2.
(1)
(2)
O ensaio para determinação da absorção de água (AA) foi realizado com 6 cps e de
acordo com a NBR 13818:1997.
(3)
63
Em que:
AA = Absorção de água;
(4)
65
(5)
Esse ensaio foi realizado em prensa universal Emic DL 10000 com célula de carga
de 100 kgf localizada no Laboratório de Ensaios Mecânicos Destrutivos do IFES
Vitória com 05 cps.
Neste ensaio os cps foram secados em estufa a 110 ± 5°C por 24h e, em seguida,
esfriados em dessecador até atingir a temperatura ambiente. O cp foi posicionado
sobre o suporte de ensaio e a força foi aplicada gradativamente no centro do cp, por
meio de um cutelo, até a ruptura do mesmo. O suporte e o cutelo utilizados, com um
cp posicionado para o ensaio, estão apresentados na Figura 12. O suporte e o
cutelo foram fabricados especificamente para este trabalho seguindo as
recomendações da norma NBR 13818:1997, com diâmetro da barra de 10 mm e
saliência fora do apoio de 5 mm. A velocidade adotada para o ensaio foi de 1
mm/min.
66
(6)
Em que:
Tabela 8 - Massas (g) e teores (%) das matérias-primas cerâmicas e EGAF em cada
massa da Etapa 2.
C 99 16,5 84 14 78 13 69 11,5
E 24 4 24 4 24 4 24 4
F 24 4 24 4 24 4 24 4
G 24 4 24 4 24 4 24 4
EGAF 0 0 30 5 42 7 60 10
Fonte: Autora, 2020.
Na etapa 2 foram prensados 30 cps para cada uma das misturas: Referência, MIX5,
MIX7 e MIX10. Os cps da Etapa 2 foram preparados da mesma maneira que os cps
da Etapa 1, conforme descrito no item 4.2.
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Outras impurezas que podem ser encontradas em argilas são os óxidos de ferro.
Apesar de não constar no difratograma, o Fe2O3 aparece em alto teor na análise de
FRX da MP “D”. Segundo Li et al. (2018), o óxido de ferro contribui como substância
fundente no processo de sinterização.
Diferentemente das outras MPs analisadas, a FRX indicou presença muito baixa de
óxido de silício na MP “E”, o que foi confirmado no DRX com a ausência de quartzo
no material. Os altos teores dos óxidos de cálcio e magnésio (CaO e MgO)
74
O DRX da EGAF está apresentado na Figura 20. Conforme esperado, por ser um
material amorfo, não é possível indentificar fases presentes (DIEGUEZ et al., 2019).
77
Os resultados da termogravimetria (TG) das MPs “A”, “B” e “C” e da EGAF estão
apresentados nas Figuras 21 à 24.
78
Não foi possível realizar a derivada primeira das curvas obtidas nesse ensaio devido
às perdas de massas nos eventos terem sido pequenas.
Também foi realizada a análise via difração a laser, para a determinação das
distribuições das frações mais finas. O resultado está apresentado na Figura 26.
Não foi realizado o ensaio de difração a laser da EGAF, visto que não houve fração
passante em peneira de abertura 0,63 µm.
83
A partir dos gráficos obtidos na análise granulométrica por difração a laser, foram
observados os tamanhos de partículas abaixo do qual se situam 10%, 50% e 90%
da amostra. Esses dados estão apresentados na Tabela 9 por D0,1, D0,5 e D0,9,
respectivamente (CAPUTO, 1998).
Tabela 9 - D0,1, D0,5 e D0,9 da análise granulométrica por difração a laser das
matérias-primas cerâmicas.
Observa-se, de acordo com a Tabela 9, que os materiais mais finos são as MPs B,
D, F e G, com 90% do volume dos grãos com tamanhos inferiores a 15,79 µm, 17,70
µm, 16,99 µm e 18,48 µm, respectivamente. Ainda, D0,1 e D0,5 mostram que apenas
cerca de 10% do volume dos grãos tem tamanho menor que 2 µm, característica de
fina granulometria dada às argilas, ressaltando a importância da etapa de moagem,
a qual é capaz de aumentar essa fração.
5.2 ETAPA 1
85
Para a escolha das formulações, algumas características das MPs foram avaliadas.
As MPs “E” e “F” são matérias-primas não onerosas e com apenas 4% de
participação, cada uma, na mistura total e, por isso, não se compensa sua
substituição. A MP “G” é o resíduo gerado no processo, portanto, visando a não
geração de mais resíduos, essa MP também não seria uma boa escolha de
substituição.
As MPs “B” e “C” são as mais onerosas, conforme informado pela indústria, que diz
haver custos elevados relacionados ao transporte desses produtos. Além disso,
estão presentes em percentuais elevados, 17% e 16,5%, respectivamente, conforme
apresentado na Tabela 6. Logo, substituições nessas MPs, seriam vantajosas do
ponto de vista econômico.
A partir dos dados das composições químicas obtidas pela técnica de FRX tanto das
MPs quanto da EGAF (Tabela 5 e Tabela 4), foi possível, por meio de um balanço
de massa, que considerou a porcentagem de cada MP nas misturas (Tabela 7),
estimar as composições das misturas preparadas. Para os óxidos de ferro e de
titânio da EGAF, foram utilizados os teores disponíveis no site da empresa, devido
ao fato de que a análise de FRX fornecida não continha tais teores
(ARCELORMITTAL, 2019). As composições das misturas cerâmicas da etapa 1
estão apresentadas na Tabela 10.
Outra relação que pode ser estabelecida com a composição química está atrelada
aos teores de compostos de óxidos alcalinos e alcalinos terrosos. Um bom uso
dessas observações quanto a composição química, está na procura por fundentes
capazes de substituir o feldspato em cerâmicas. Isso porque os compostos CaO,
MgO, K2O e Na2O atuam como fundentes. Os efeitos de fundência do K2O e do
Na2O são similares, ou seja, levam a formação de fase líquida a temperaturas
inferiores e com menor viscosidade. Ainda, a presença de óxidos alcalino terrosos
(CaO e MgO) no sistema, mesmo em níveis baixos, conferem menor temperatura
inicial de fusão e maior quantidade de fase líquida a qualquer temperatura. Dessa
forma, a análise da fundência de uma massa pode ser analisada em função da soma
de CaO+MgO+K2O+Na2O, como apresentado na Tabela 11 (SEGADÃES, 2006).
Os resultados das análises térmicas das Misturas 01, 02, 03 e Referência estão
apresentados na Figura 27. Assim como no caso das MPs e EGAF, não foi possível
apresentar a derivada primeira, pois as diferenças de massa nos eventos foram
pequenas.
88
Observa-se que nos ensaios das misturas contendo EGAF ocorre um ganho de
massa, próximo à 400°C, que não se apresenta no TG da Referência. É possível
que esteja ocorrendo alguma reação de oxidação devido à presença de metal
residual na EGAF. Além disso, conforme foi observado na Figura 24 do TG da
EGAF, esse apresentou ganho de massa de 3,79%, o que pode influenciar para que
as misturas com EGAF percam menos massa do que a Referência ao final da
queima.
89
LP (%) 21 28 32 28
LL (%) 30 34 35 34
IP (%) 9 6 3 6
Fonte: Autora, 2019.
Após as medições de LC, LS e LQ, os valores das variações lineares que os cps
sofreram devido à secagem e à queima (RS e RQ), foram calculados e estão
apresentados na Tabela 13.
Lot et al. (2017) analisaram massas industriais que são utilizadas na fabricação de
revestimentos cerâmicos de diversas regiões do Brasil e da América do Sul. Nessa
pesquisa, os valores encontrados de RS variaram entre 0,28% e 0,45%.
queima da EGAF são requeridos para poder afirmar tal hipótese. Além disso, o
aumento de RQ também pode estar relacionado com uma menor densidade aparente
a verde, ou seja, com uma menor compactação das massas que contêm EGAF.
Segundo Lot et al. (2017), valores baixos de RQ, como é o caso da Referência nesse
estudo, são vantajosos por contribuir com a redução de problemas dimensionais
como variação de tamanho, trapézio, empenos e microfissuras. Conserva et al.
(2017) obteve valores de RQ para porcelanatos fabricados por via úmida e
queimados a 1170ºC entre 9,5% e 10,8%.
Por outro lado, M.L. Varela et al. (2009) e Bissi (2002) apud Oliveira (2012) afirmam
que para placas cerâmicas tipo porcelanato, as retrações lineares, para placas de
cores únicas, podem atingir de 8,5% a 9,0%, enquanto que para as demais o
intervalo usual é de 7% a 8%. Portanto, os valores médios RQ de todas as massas
estão dentro da faixa usual das placas de porcelanato.
Além disso, confirma-se também o sugerido no item 5.2.1 a partir das análises dos
óxidos componentes das massas. O estudo dos óxidos alcalinos e alcalinos terrosos
presentes nas misturas indicou que a fusibilidade das massas contendo EGAF
poderia ser maior, levando a um maior preenchimento dos espaços vazios da peça
e, assim, diminuindo os valores de PA e AA.
94
Fonte: Autora.
95
Os resultados de MRF dos cps da Referência foram inferiores aos dos cps com
adição de EGAF, o que é compatível com os resultados apresentados em 5.2.4 e
5.2.5. Ou seja, nas misturas em que há a EGAF incorporada à massa, observa-se
que os cps adquirem menores valores de AA e PA, maiores valores de RQ e
aumento na resistência mecânica do material, quando comparadas à Referência.
5.3 ETAPA 2
5.3.1 Formulação das misturas
Os valores de variação linear após a secagem e após a queima (RS e RQ) estão
apresentados na Tabela 16.
Os valores de RS, que variaram de 0,06% a 0,1%, estão dentro do adequado para
placas de revestimento cerâmico, que deve se manter até 0,3%, como já discutido
no item 5.2.4 da Etapa 1.
97
Apesar desses valores não estarem descritos em normas, os valores obtidos para
RQ (entre 9,48% e 10,43%) ficaram próximos aos valores de RQ encontrados por
CONSERVA et al. (2017) para porcelanatos fabricados por via úmida e queimados a
1170ºC (entre 9,5% e 10,8%). São observados resultados de RQ tecnicamente iguais
nas quatro composições, portanto, a substituição das MPs por EGAF até 10% em
massa não influenciou em tal propriedade.
A partir dos resultados da Tabela 17, conclui-se que, quanto à absorção de água, o
incremento de EGAF não alterou essa propriedade. Todas as quatro formulações
enquadram-se como porcelanato de acordo com a NBR 15463:2013, por possuírem
AA menor que 0,5%.
Observa-se que as tensões de ruptura das quatro misturas estão na mesma faixa,
portanto, há margem para aumento do percentual de substituição das MPs por
EGAF.
Para verificar se esse fator teve influência nos resultados, na Etapa 2 preparou-se
novamente a mistura Referência, dessa vez com o mesmo tempo de moagem das
100
Tabela 19 - Comparativo dos valores de média obtidos nos ensaios das misturas
“Referência” na Etapa 1 e na Etapa 2.
MRF
Mistura Rs (%) RQ (%) AA (%) PA (%) MEA (g/cm³)
(MPa)
Referência Etapa 1 0,36 5,17 0,214 0,48 2,245 38,00
Referência Etapa 2 0,06 10,43 0,112 0,26 2,289 56,51
Fonte: Autora, 2019.
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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