TCC Final
TCC Final
TCC Final
DIOGO SGROTT
Joinville
2017
DIOGO SGROTT
Joinville
2017
DIOGO SGROTT
Este trabalho foi julgado e aprovado como requisito parcial para obtenção do título de
Engenheiro Naval pela comissão examinadora e pelo curso de graduação em Engenharia Naval
da Universidade Federal de Santa Catarina.
________________________________________
Prof. Luis Fernando Peres Calil, Dr. Eng.
Coordenador do Curso
COMISSÃO EXAMINADORA:
________________________________________
Prof. Thiago Pontin Tancredi, PhD.
Orientador
________________________________________
Prof. Lucas Weihmann, Dr. Eng.
________________________________________
Prof. André Mitsuo Kogishi, Dr. Eng.
AGRADECIMENTOS
The propulsion is one of the main systems associated to the performance of a ship. Even if there
are plenty of other ways to generate propulsion, as wind or water-jet, the propeller is still the
most used in the naval industry. A no well dimensioned propeller may decrease drastically the
propulsive efficiency of a large vessel. There are many problems that can be resulted from a
poor project, such as low efficiency, vibration and cavitation. However, even a correct scaling,
while the lifespan of a propeller, either the fluid cavitation or microorganisms present in water,
may attack the surface of the propeller. This attack can change the geometry and the roughness
of the propeller, and eventually, reduce its propulsive efficiency and cause imbalance. Because
of that, this paper will verify the effects of the cavitation and biofouling (adding roughness to
the propeller) quantifying the decrease of propulsive efficiency caused by the surface
imperfections made by cavitation and biofouling. The methodology of this paper consists in
modeling propellers from Wageningen B-Series and simulating a complete model of
Computational Fluid Dynamics (CFD) through the Reynolds Averaged Navier-Stokes (RANS)
method. This simulation considers a K-Epsilon turbulence method. Qualitatively, the obtained
results were consistent to the literature since it presents reduction of efficiency in all situations
created with the roughness added. Notwithstanding, quantitatively, the model needs a more
refined mesh and patterns of roughness comparable to the ones observed in the fieldwork,
according to the notes discussed in the results section.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12
1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................... 15
1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 15
1.1.2 Objetivos Específicos .................................................................................................. 16
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................. 17
2.1 HÉLICE .......................................................................................................................... 17
2.1.1 Componentes do Propulsor ......................................................................................... 18
2.1.2 Dimensões de um hélice.............................................................................................. 19
2.1.3 Tipos de hélice ............................................................................................................ 22
2.2 FENÔMENOS QUE ALTERAM A RUGOSIDADE SUPERFICIAL DO
PROPULSOR ................................................................................................................. 23
2.2.1 Cavitação ..................................................................................................................... 23
2.2.2 Bioincrustação ............................................................................................................. 26
2.2.2.1 Processo de adesão e colonização da bioincrustação .............................................. 27
2.2.2.2 Bioincrustação em estruturas submersas ................................................................. 28
2.3 MÉTODO DOS VOLUMES FINITOS ......................................................................... 29
2.4 SÉRIES B-WAGENINGEN........................................................................................... 30
3 METODOLOGIA ............................................................................................................ 34
3.1 METODOLOGIA PARA CRIAÇÃO DE UM MODELO CAD DE UM HÉLICE
BASEADO NA SÉRIE B-WAGENINGEN .................................................................. 36
3.1.1 Metodologia usada para danificar um hélice .............................................................. 40
3.2 METODOLODIA PARA SIMULAÇÃO DE UM HÉLICE EM ÁGUAS ABERTAS
ATRAVÉS DO PROGRAMA STAR-CCM+................................................................ 42
3.2.1 Importação da geometria no programa STAR-CCM+ ................................................ 43
3.2.2 Verificando defeitos superficiais................................................................................. 43
3.2.3 Determinação das regiões de análise do hélice ........................................................... 45
3.2.4 Modelo matemático de turbulência ............................................................................. 48
3.2.5 Criação da malha ......................................................................................................... 48
3.2.6 Variação dos valores de J para cada simulação .......................................................... 50
3.2.7 Simulação .................................................................................................................... 52
3.2.8 Pós simulação .............................................................................................................. 52
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 54
4.1 COMPARAÇÃO ENTRE TEORIA E SIMULAÇÃO .................................................. 54
4.2 COMPARAÇÃO ENTRE UM HÉLICE LIVRE DE DEFEITOS SUPERFICIAIS E
UM HÉLICE COM DEFEITOS ORIUNDOS DA CAVITAÇÃO ............................... 58
4.3 COMPARAÇÃO ENTRE UM HÉLICE LIVRE DE DEFEITOS SUPERFICIAIS E
UM HÉLICE COM DEFEITOS ORIUNDOS DA BIOINCRUSTAÇÃO .................... 64
4.4 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS ENCONTRADOS ENTRE HÉLICES
CAVITADOS E BIOINCRUSTADOS .......................................................................... 70
5 CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................... 72
5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .......................................................... 73
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 74
APÊNDICE A – EXEMPLO DE PARAMETRIZAÇÃO DA REGIÃO
ROTACIONAL ................................................................................................................ 77
APÊNDICE B – EXEMPLO DE TABULAÇÃO DOS VALORES ENCONTRADOS
PARA CADA COEFICIENTE ....................................................................................... 78
APÊNDICE C – TABULAÇÃO DA COMPARAÇÃO ENTRE TEORIA E
SIMULAÇÃO DE HÉLICES LIVRES DE DEFEITOS SUPERFICIAIS ................ 79
APÊNDICE D – TABULAÇÃO DA COMPARAÇÃO ENTRE SIMULAÇÕES DE
HÉLICES LIVRES DE DEFEITOS SUPERFICIAIS E HÉLICES COM
DEFEITOS ORIUNDOS DA CAVITAÇÃO ................................................................ 80
APÊNDICE E – TABULAÇÃO DA COMPARAÇÃO ENTRE SIMULAÇÕES DE
HÉLICES LIVRES DE DEFEITOS SUPERFICIAIS E HÉLICES COM
DEFEITOS ORIUNDOS DA CAVITAÇÃO ................................................................ 81
APÊNDICE F – COMPARAÇÃO ENTRE COEFICIENTES DE EMPUXO E
TORQUE DOS HÉLICES DANIFICADOS ................................................................. 82
12
1 INTRODUÇÃO
igual a 44 kW), esta embarcação teria um gasto anual com combustível (considerando dias
corridos, sem paradas em portos) de aproximadamente 63000 toneladas de combustível,
resultando em um custo de quase US$ 30.8 milhões.
Caso uma embarcação sofra com perda de eficiência propulsiva, esses gastos serão
elevados, já que será necessário mais potência para que a embarcação mantenha a mesma
velocidade. Considerando a redução da eficiência propulsiva (𝜂𝐷) para 0.55 (potência requerida
igual a 48kW), esta mesma embarcação e com o mesmo motor, gastaria aproximadamente
68700 toneladas de combustível, e consequentemente US$ 33.5 milhões. Em outras palavras, a
perda da eficiência propulsiva resultou em um acréscimo de 9% dos gastos com combustível.
Já que, durante a operação de uma embarcação, o sistema propulsivo é responsável por
grande parte dos custos da embarcação, deve-se analisar com cuidado todo o sistema
propulsivo, desde seu dimensionamento até sua manutenção. Ou seja, mesmo com um
dimensionamento perfeito, o hélice ao estar em funcionamento está sujeito a outros problemas
que podem ocasionar na redução da eficiência propulsiva, tais como cavitação, erosão e
bioincrustação.
“Cavitação é um fenômeno da mecânica dos fluidos, que pode ocorrer sempre que um
fluido é usado em uma máquina que induz flutuações de pressão e velocidade do mesmo.”
(CARLTON, 2007, p. 207) (tradução nossa). Ou seja, qualquer projeto que envolva bomba,
hélice, turbinas, entre outros, corre o risco de sofrer danos ou perda de eficiência resultantes
deste fenômeno.
Popularmente, pensa-se que a água depende apenas da temperatura para entrar em
ebulição, entretanto, baixas pressões também podem ocasionar a ebulição.
No caso de propulsores do tipo hélice, o movimento das pás induz o aceleramento do
fluído, consequentemente aumentando a velocidade no entorno do propulsor. Esse aumento de
velocidade provoca a redução da pressão, gerando regiões de baixa pressão no entorno do
propulsor.
Essa queda de pressão faz com que a água se transforme em vapor, e essas bolhas de
vapor podem ou não implodir junto à superfície do hélice. Com o tempo, a repetição constante
desse processo provoca danos ao hélice, os quais são percebidos na eficiência da embarcação,
já que há queda de empuxo, erosão das pás e aumento de vibrações provindas do hélice.
“Cavitação é um fenômeno que ocorre em hélices com grande carga. O qual, a partir de um
valor crítico de revoluções, provoca uma repentina queda de pressão no fluido e
consequentemente perda de empuxo”. (SAHOO, 2015, p. 174).
14
Como forma de evitar incrustação, nos anos 70 foi descoberto o tributilestanho (TBT),
material que possibilitou que grande parte da frota mundial de embarcações pudesse navegar
sem perdas provindas de bioincrustação. Entretanto, pesquisas mostraram que o material afeta
o sistema endócrino e provoca má formação em espécies aquáticas, ou seja, fêmeas estavam
desenvolvendo órgãos reprodutores masculinos. (YEBRA; KIIL; DAM-JOHANSEN, 2004
abud MICHELS, 2014). Por conta disso, em 2008, a International Maritime Organization
(IMO) proibiu o uso de TBT com fins anti-incrustantes.
A proibição do TBT para fins anti-incrustantes, abriu algumas frentes de pesquisas
promissoras contra bioincrustação. Uma delas é feita pela Nippon Paint com um copolímero
capaz de auto polimento, e a segunda baseia-se em revestimentos com base em elastômeros de
silicone para diminuir a adesão de microrganismos. (MICHELS, 2015) e, uma terceira é
15
1.1 OBJETIVOS
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A fundamentação teórica é composta por todo estudo literário relevante que deverá
substanciar o desenvolvimento realizado. (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013). Para isso, inicia-se
com uma discussão geral para que no fim possa convergir a um debate relacionando ao objetivo
principal da pesquisa, esclarecendo suas teses e lacunas que possam servir de apoio. (ASSIM
SE FAZ, 2016).
2.1 HÉLICE
A escolha do sistema propulsivo é uma das fases mais importantes no projeto de uma
embarcação. (COSTA; ALHO, 2010), cuja a finalidade é a de gerar movimento linear.
Embora existam diversos tipos de propulsores, tais como water-jets, propulsores
azimutais e cicloidais; o sistema propulsivo mais amplamente utilizado consiste de propulsores
do tipo hélice com eixos fixos1. (TRINDADE, 2012). Segundo Passos (2013), esses propulsores
transformam energia rotacional em uma força axial resultado do escoamento do fluido pelas
pás.
Segundo MAN Diesel & Turbo (20--), sistemas propulsivos com hélices podem ser
divididos em dois grandes grupos: passo fixo2 e passo variável. Embora a utilização de hélices
de passo variável introduza complexidade elétrica-mecânica ao sistema, a variação do passo
1
Hélice com eixos fixos são hélices que não são responsáveis pelas manobras das embarcações, diferentes de
hélices azimutais, por exemplo.
2
Hélice com passo fixo são hélices, os quais as pás estão fixadas no cubo formando uma unidade integral, não
havendo possibilidade de variação do passo do hélice.
18
É muito importante ter conhecimento das partes que integram um hélice visando
compreender os elementos que definem a eficiência do propulsor, sendo vital para a obtenção
de um resultado satisfatório com alto índice de eficiência propulsiva. (LOPES, 2003). As
diferentes partes que integram o hélice são mostradas na Figura 2.
a. Cubo (Hub): É a base das pás do propulsor. É um disco central, rígido e vazado
para que o eixo possa ser encaixado. Raramente seu diâmetro é inferior a 14% do
diâmetro do hélice;
b. Chaveta: É um prisma esbelto colocado ao longo do eixo do propulsor, o qual
transmitirá o torque do eixo para o propulsor;
c. Pás: São chapas destorcidas que se projetam do eixo. A rotação das mesmas
transforma o torque do eixo em força axial para que a embarcação entre em
movimento;
d. Face e Dorso das Pás: A face da pá é a região de alta pressão, o qual realizará o
deslocamento da água para que a embarcação se mova. Enquanto que o dorso da
pá é a região de baixa pressão;
e. Raiz e Ponta da Pá: Raiz é região onde a pá fica em contato com o cubo, onde é
fixada. Ponta da pá é a região mais extrema e distante da raiz. A distância entre as
duas é chamada de comprimento da pá;
f. Bordos de Ataque e de Fuga: Bordo de ataque é a região da pá que penetra o fluido
a ser deslocado. Bordo de fuga é a região por onde o fluido escapa do hélice em
alta velocidade.
19
a. Diâmetro: É o dobro da máxima distância entre o centro do eixo até a ponta da pá.
(PASSOS, 2013). Uma outra forma de definir esse valor é analisar o diâmetro da
circunferência criada pela trajetória da ponta das pás. Deve-se levar em
consideração que grandes embarcações necessitam de grandes hélices, porém um
hélice superdimensionado gera mais resistência para a embarcação, portanto tem-
se que dimensionar o hélice ideal para a embarcação e o peso da carga que a mesma
deve transportar. (LOPES, 2003);
b. Passo: É a distância linear que a embarcação se move durante uma rotação do
hélice. Se um hélice recebe a seguinte nomenclatura 14”x19” significa que seu
diâmetro é de 14 polegadas e seu passo é de 19 polegadas. (LOPES, 2003);
c. Ângulo de Inclinação da Pá: É o ângulo formado entre uma normal que sai do cubo
e uma linha que liga a mesma posição do cubo com a ponta da pá. Grandes ângulos
de inclinação geralmente melhoram a capacidade do propulsor para operar em
20
Na Figura 4 são mostrados dois hélices com diferentes relações P/D. Na parte superior
é mostrado um hélice com diâmetro de 13,75 polegadas e um passo de 21 polegadas. Na figura
inferior é mostrado um hélice com um diâmetro de 16 polegadas e um passo de 13 polegadas.
21
Figura 4 – Diâmetro e passo de um hélice: (a) Hélice com diâmetro de 13,75 polegadas e
passo de 21 polegadas; (b) Hélice com diâmetro de 16 polegadas e passo de 13
polegadas.
A Figura 5 ilustra o ângulo de inclinação da pá (rake), onde pode ser visualizado mais
facilmente os pontos de medição para determinar o ângulo.
Figura 5 – Ângulo de Inclinação: (a) Pás sem inclinação; (b) Pás com inclinação de 15º.
Existem diversos tipos de hélice, os principais são citados abaixo e ilustrados na Figura
6. (LOPES, 2003).
a. Redondo: Mais utilizado em cascos não planantes. A raiz de suas pás é mais larga,
evitando danos graves em caso de impactos. Possui a melhor eficiência em
manobras de ré.
b. Banana: Comumente utilizado por fábricas japonesas, é um propulsor que
apresenta baixa probabilidade de cavitação como um limitador. Boa eficiência em
alta velocidade, portanto é muito utilizado em embarcações de recreio ou cargas
leves.
c. Veloz: Hélice preferido para cascos de fibra por ser capaz de alcançar altas
velocidades. Com pás triangulares, não há efeito de cavitação, portanto
aumentando o rendimento do conjunto barco/motor/propulsor em alta velocidade.
d. Econômico: Inicialmente pensava-se em criar um hélice silencioso, portanto ao
invés de haver o impacto cortante na água pela borda de ataque, existe um leve
empurrar da água. Após testes, descobriu-se que há uma economia de 2,5 a 5% de
combustível.
e. Kaplan: Característicos em embarcação onde a função principal é força. O mesmo
geralmente é instalado dentro de um duto. A instalação do duto provoca um
crescimento no empuxo em baixa velocidade (9 a 10 nós) e em casos de mesmo
Bollard Pull, existe uma economia de 8 a 10% de combustível.
f. Superfície: Esse tipo de hélice funciona metade submerso e metade fora da água,
utilizando a cavitação para amplificar o empuxo gerado pelo propulsor. Com isso,
esse tipo de hélice é especialmente utilizado em embarcações com alta velocidade
final (entorno de 40 nós) pois possui menor arrasto.
23
Figura 6 – Ilustração dos tipos de hélice: (a) Redondo; (b) Banana; (c) Veloz; (d) Econômico;
(e) Kaplan; (f) Superfície.
2.2.1 Cavitação
Cavitação é um fenômeno da mecânica dos fluidos, o qual pode ocorrer sempre que
um fluido é utilizado em uma máquina que induz flutuações de pressão e velocidade
no fluido. Consequentemente, bombas, turbinas, hélices, rolamentos e até mesmo o
corpo humano, por exemplo o coração e juntas do joelho, são todos exemplos de
máquinas onde pode ocorrer consequências destrutivas por causa da cavitação.
(CARLTON, 2007, p. 207) (tradução nossa).
Cavitação pode ser considerada como uma extensão do que é popularmente conhecido
como evaporação, na qual a água sofre ebulição quando atinge 100oC. Observa-se que o mesmo
líquido, ao ser aquecido no alto de uma grande montanha, sofrerá ebulição numa temperatura
menor. Esse exemplo define o fenômeno da cavitação, no qual a temperatura é mantida próximo
a uma constante e a pressão varia na frente e no dorso das pás do hélice, levando a evaporação
do fluido no entorno da pá.
Considerando Bernoulli, sabe-se que para que a energia mecânica seja mantida, um
fluido ao ser acelerado, sofre com a queda de pressão e vice-versa, desde que a comparação seja
feita na mesma altura (h). Essa queda de pressão resulta na evaporação do fluido.
Segundo Do Vale (2003), cavitação é um dos assuntos mais estudados quando se trata
de hélices, já que é um fator limitante para o projeto e traz grandes preocupações para os
projetistas, pois pode causar vibração, queda de empuxo e erosão nas pás.
24
A cavitação não necessariamente ocorre por causa do hélice, caso haja irregularidades
no casco da embarcação, caixa de engrenagens ou qualquer outro problema que gere regiões de
baixa e alta pressão, a cavitação pode ser um problema. (LOPES, 2003).
Segundo Fox (2006), quando a pressão local cai abaixo da pressão de vapor líquido, o
mesmo passará para o estado de vapor instantaneamente, tornando o escoamento em um
escoamento transiente. As bolhas de cavitação (vapor ou cavidade no líquido), criadas nas
regiões de baixa pressão (dorso da pá), implodem assim que se afastam dessas regiões, criando
ondas de choque agressivas e em alta pressão. É esse efeito que causa deformações e
irregularidades em um hélice. (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).
A causa da cavitação pode ser desde uma irregularidade no bordo de ataque de uma
das pás do hélice, alguma porosidade na superfície da pá ou ser resultado de um hélice mal
projetado. (PESCAR E NAVEGAR, 2011).
A Figura 7 apresenta um hélice que empurraria a embarcação para a direita, ilustrando
as regiões de alta e baixa pressão.
Cavitação em hélices navais pode ser dividida em quatro tipos citados a seguir e
ilustrados na Figura 8: (CARLTON, 2007).
a. Folha: Quando operando em sua rotação normal (positiva), esse tipo de cavitação
aparece no dorso das pás. Cavitação tipo folha ocorre por causa do ângulo de
ataque da pá (caso cresça em magnitude), onde a cavitação cresce radialmente e na
direção do comprimento da pá, formando uma folha acima da pá que pode se
estender de acordo com a geometria da pá e com as condições do ambiente;
25
Figura 8 – Tipos de cavitação em propulsores: (a) Cavitações do tipo folha e nuvem, com
influência de cavitação tipo vórtice na ponta da pá. (b) Cavitação tipo bolha no
meio do comprimento da pá. (c) Cavitação tipo vórtice no cubo do hélice. (d)
Cavitação tipo vórtice junto da ponta das pás.
(a) (b)
(c) (d)
Em um meio ideal, onde o hélice atuaria apenas contra a água, haverá cavitação apenas
se a pressão atingir a pressão de vapor na temperatura do fluido. Porém, em um meio não ideal,
ou em mares e rios, existem micropartículas e ar dissolvido na água, o que faz com que a pressão
de vapor seja atingida em valores muito maiores do que os ideais. (TRINDADE, 2012).
Observa-se na literatura muitos métodos para estimar o fenômeno da cavitação, os
quais são usados ainda na fase de projeto conceitual e na fase do projeto preliminar para definir
as características do sistema propulsivo da embarcação. Entre os métodos mais difundidos,
destaca-se a proposta de Burrill (1943). (SAHOO, 2015).
O método de Burrill prevê cavitação através de uma relação entre o empuxo do hélice
e o número de cavitação a 0,7 do raio do hélice. O método é composto por uma equação que
depende basicamente do empuxo da embarcação, área projetada de uma pá, velocidade relativa
da água na posição 0,7 do raio do hélice e na densidade. Já o número de cavitação é uma relação
entre as pressões atmosféricas, a profundidade do propulsor, a densidade, velocidade de avanço
da embarcação, rotação e diâmetro do hélice.
2.2.2 Bioincrustação
O método dos volumes finitos foi criado por McDonald, MacCormack e Paullay por
volta da década de 70, desde então, este método ganhou espaço e se tornou muito utilizado entre
várias áreas da ciência. (OSSES, 2016). Segundo Vaz Junior (2015), o método dos volumes
finitos é comumente usado com um conjunto de malhas estruturadas para representar um
volume conhecido através da integração de equações diferenciais.
Segundo Pozrikidis (2016) a computação numérica vem crescendo graças ao baixo
custo comparado com técnicas experimentais práticas, que possuem um valor mais elevado.
Além disso, Vaz Junior (2015) também cita a versatilidade dos programas computacionais,
porém traz o fator de que muitos modelos matemáticos são de difícil modelamento numérico,
e por isso, hipóteses são assumidas para simplificar a solução.
Entre os diversos métodos numéricos capazes de representar o método dos volumes
finitos, a Dinâmica dos Fluidos Computacional (DFC), ou mais comumente conhecida como
30
Computational Fluid Dynamics (CFD), é capaz de analisar numericamente o volume sob efeito
da dinâmica dos fluidos.
O advento to computador digital nos últimos 40 anos forneceu uma terceira alternativa
para a análise do movimento dos fluidos: a simulação numérica. Essa área do
conhecimento, que complementa as análises teóricas e as técnicas experimentais da
mecânica dos fluidos, recebeu o nome de dinâmica de fluidos computacional (DFC).
Apesar de ser uma área nova, a DFC está em pleno desenvolvimento e expansão, já
sendo utilizada por pesquisadores nas áreas de, entre outras, medicina, meteorologia,
e engenharias. (FORTUNA, 2000, p. 13).
Séries sistemáticas tem o simples objetivo de reunir dados semelhantes para serem
analisados estatisticamente. Por exemplo, utiliza-se uma amostragem de um tipo de hélice para
que seja feito um banco de dados para geração de novos hélices com a mesma característica.
As forças e momentos produzidos pelo hélice são expressados nas suas formas
fundamentais como série de termos adimensionais. (CARLTON, 2007). Como uma das mais
antigas formas de determinar a geometria de um hélice, as séries B-Wageningen são muito
utilizadas de acordo com a simplicidade que seus polinômios foram criados. (RACHWALIK,
2013).
uma série de estudos, dos quais foram criados gráficos hidrodinâmicos para cada
hélice. Esses gráficos foram de ótima ajuda para logo identificar padrões de design de
hélice. Esses padrões descreveram gráficos que podiam ser utilizados para
rapidamente escolher um hélice para o navio. (RACHWALIK, 2013, p. 11) (tradução
nossa).
KQ – Coeficiente de Torque;
T – Empuxo [N];
Q – Torque [Nm];
- Densidade do fluido [kg/m3];
n – Rotação do hélice [Hz];
D – Diâmetro do hélice [m];
J – Coeficiente de avanço;
VA – Velocidade de avanço [m/s].
Utilizando as equações acima, pode-se achar o valor dos coeficientes e aplica-los nos
gráficos da Série-B. Para isso, é necessário saber o número de pás, a razão entre áreas da pá e
razão entre passo e diâmetro, além do coeficiente de avanço que foi formulado acima, Equação
2.3. A Figura 11 demonstra um dos gráficos da série.
coeficiente de empuxo (KT) e a eficiência em águas abertas ( o), o eixo vertical a direita
representa o coeficiente de torque (KQ). As linhas contínuas que apenas sofrem queda,
representam o coeficiente de empuxo, enquanto as linhas pontilhadas; o coeficiente de torque.
As curvas que formam uma parábola representam a eficiência em águas abertas.
Portanto, esse gráfico, permite determinar qual a melhor geometria, ou seja, aquele
com maior eficiência, para um propulsor B4.45. O uso de diferentes gráficos, com diferentes
números de pás e razões de aspecto, permite que se determine a melhor eficiência entre toda a
série de hélices ensaiados.
Esse processo é conhecido como integração casco-hélice e, que permite selecionar o
hélice mais adequado (com maior eficiência) para a embarcação. Porém, o intuito do presente
trabalho é discutir o efeito que uma superfície rugosa tem sobre a eficiência de um propulsor
em águas abertas e por isso, essa discussão foge ao escopo proposto.
34
3 METODOLOGIA
uma solução favorável para a criação de bioincrustação, mas tendo como base estudos
anteriores, os pesquisadores aplicaram dois tipos de material rugoso nas superfícies do hélice
que se assemelham a uma superfície bioincrustada.
Através do programa SolidWorks, foram adicionados ao hélice superfícies rugosas
para simular o efeito da bioincrustação e uma superfície erodida pela cavitação. Ambas as
superfícies alteradas devem, em teoria, modificar a eficiência do propulsor. A Figura 12 mostra
dois tipos de bioincrustação simuladas em pás de hélices. A bioincrustação criada na Figura 12
(a) representa uma rugosidade irregular com no máximo 1mm de espessura. A bioincrustação
ilustrada na Figura 12 (b) retrata uma superfície menos severa, ou seja, menor espessura,
representando uma bioincrustação criada por cracas e briozoários incrustantes.
Como base de análise, o arquivo CAD com o hélice em perfeitas condições deve ser
importado no programa STAR-CCM+ para que os resultados ideais sejam obtidos. O uso do
programa STAR-CCM+ é amplamente documentado e vastamente conhecido por ser uma
aplicação robusta e confiável para aplicação de técnicas de simulação, utilizando abordagens
CFD.
Uma vez que não existem muitas referências sobre a modelagem de bioincrustação em
hélice, considerou-se neste estudo os mesmos parâmetros propostos por Walker et al (2014),
no qual é considerada uma rugosidade de aproximadamente 1mm.
Em relação a cavitação, esse fenômeno cria danos na superfície do hélice, alterando a
rugosidade da superfície erodida. A Figura 13 ilustra um hélice cavitado no bordo das pás, cuja
cavitação é chamada de cavitação do tipo vórtice na ponta das pás.
36
Como pode ser observado na Figura 15, as curvas do hélice foram criadas oriundas da
nuvem de pontos geradas pelo programa PropCad. Para que as curvas ficassem suaves e
seguissem o padrão da nuvem, foi utilizada a função curva através de pontos (curve through
points) do programa Rhinoceros. A exportação do arquivo foi feita pela extensão .IGS para ser
importada no programa SolidWorks.
Após a importação do arquivo .IGS no programa SolidWorks, as 36 (trinta e seis)
curvas criadas foram unidas em 12 (doze) curvas através da função Curva Composta para que
então houvessem doze curvas que limitassem a geometria de uma pá do hélice. A Figura 16
mostra o formato de hélice em uma vista projetada após a utilização da função Superfície por
Loft, a qual cria uma interpolação entre as curvas selecionadas, gerando a superfície do hélice.
Porém, a função Loft apenas gera as superfícies da face e do dorso do hélice, não
realizando o fechamento da geometria em sua base e seu topo. Esses problemas foram
solucionados utilizando a função Superfície Limite, onde seleciona-se as curvas que limitam a
criação de uma nova superfície. As Figura 17 (a) e (b) representam a geometria aberta no topo
e na base, respectivamente. A Figura 17 (c) mostra a base do hélice fechada através da função
Superfície Limite, o mesmo foi feito no topo da pá.
Após a criação das duas superfícies de fechamento do hélice, o mesmo ainda não é um
sólido, sendo oco internamente, portanto, quando fosse retirado material para simular a
cavitação, o hélice seria oco internamente. A ausência de material no interior da pá muda a
inércia do propulsor que passa a desenvolver uma dinâmica não realista. Para resolver este
problema, foi utilizada a função Costurar Superfície, e ativada a opção Tentar formar um
sólido; isso faz com que agora a pá seja um sólido delimitada pelas superfícies de face, dorso e
as superfícies de fechamento da pá.
Com a criação de uma pá finalizada, pode-se utilizar o Padrão Circular para criar as
outras três pás do hélice. Além disso, foram criados o cubo (hub) e o eixo (shaft), citados na
Tabela 2, do hélice como mostrado na Figura 18.
Por fim a geometria final exportada no formato Parassolid para o programa CFD
STAR-CCM+.
Seguindo o objetivo deste trabalho, deve-se comparar um hélice perfeito com dois
tipos de hélice, um com defeitos oriundos da cavitação e outro da bioincrustação. Para isso, o
mesmo arquivo CAD foi utilizado como base para a criação dos defeitos no programa
SolidWorks.
A introdução da rugosidade foi realizada a partir de planos 3D criados sobre a
superfície de uma das pás do hélice, como mostrado na Figura 19. Esses planos servirão de base
para que seja criada a imperfeição sobre as faces das pás dos hélices. Uma imperfeição ideal
seria definida por camadas de rugosidades não uniformes sobre a pá do hélice, a qual poderia
ser negativa (retirada de material do hélice, cavitação) ou positiva (depósito de material
orgânico, bioincrustação).
Figura 19 – Criação dos planos 3D sobre a superfície de uma das pás do hélice
Para que seja mais simples e rápida a simulação, decidiu-se que essa rugosidade não
uniforme seria representada por diversos cilindros de tamanhos diferentes desenhados nos
planos criados. Como pode ser visto na Figura 20 (a), os cilindros foram utilizados para retirar
41
material, utilizando a ferramenta Corte Extrudado, para simular um hélice com defeitos sofridos
pela cavitação. Já a Figura 20 (b), representa a simulação criada para representar hélices com
defeitos oriundos da bioincrustação, onde os cilindros foram utilizados para simular o depósito
de material não uniforme sobre a pá. Neste último caso, foi utilizada a ferramenta Ressalto
Extrudado.
Figura 20 – Defeitos criados sobre a superfície da pá
(a) (b)
A rugosidade criada foi repetida para as outras pás dos hélices. Para que a comparação
seja justa, os mesmos pontos criados para cavitação, foram utilizados para bioincrustação.
Portanto, a partir dos hélices perfeitos, de 25 a 30% das superfícies das pás foram danificadas
com a remoção ou adição de material, resultando na redução média de 5% de massa (cavitação)
e acréscimo médio de 6% de massa (bioincrustação) em relação ao hélice perfeito, como pode
ser visto na Tabela 3.
3
Processador – Intel® Core™ i7-4700MQ CPU @ 2.40GHz; Memória (RAM) – 16 GB; Sistema operacional de
64 Bits; Versão do programa STAR-CCM+ – 11.02.010-R8
43
da geometria do hélice, o tamanho da sua malha pode ser diminuído. Com isso, a simulação de
um hélice, considerando cinco valores de J, pode ser finalizado em um tempo máximo de 72h.
A Figura 22 mostra, a partir desta etapa do projeto até a análise pós-simulação, um
fluxograma que melhor simplifica a sequência da metodologia utilizada.
A importação do arquivo Parassolid foi feita através da opção Import Surface Mesh do
programa STAR-CCM+.
Nessa seção, o hélice é dividido em duas regiões: estática e rotacional. Para isso, foram
criados dois sólidos que limitam as duas regiões. Como foi seguido o mesmo diâmetro do hélice
do tutorial do programa, as dimensões sugeridas dos sólidos não foram alteradas.
Como pode ser observado na Figura 25, foi criado um cilindro com diâmetro igual a
0.325m que delimita a região rotacional e um paralelepípedo com altura e largura de 0.875m e
espessura de 0.705m.
Região Rotacional
Região Estática
Inlet (frente)
Como citado anteriormente, as superfícies que compõem a interface aparecem nas duas
regiões por serem as superfícies que interligam ambas as regiões. Portanto, é necessário indicar
no programa que essas regiões são interligadas pela interface; isso pode ser feito selecionando
ambas as superfícies (região estática e rotacional) e selecionando a opção Create a Weak In-
Place Contact.
Após separar as regiões em sub-regiões, deve-se mudar os parâmetros da condição de
contorno de cada região. As subdivisões da região rotacional devem ser do tipo “parede” (wall)
e devem ser categorizadas de acordo com suas superfícies. Por exemplo, no Apêndice A é
representada a subdivisão das pás (blades), tipo wall, região da superfície das pás (Part
Surfaces: Rotating Regions – Blades). Além disso, na aba tools > reference frames deve-se
criar uma condição rotacional, 15Hz nesse caso, para simular a rotação do fluido; isso também
deve ser alterado na região rotacional.
A região estática é um pouco mais complexa, pois exige mais alterações nos
parâmetros de condição de contorno. Essas alterações podem ser melhor visualizadas na Tabela
4. As sub-regiões da interface e do eixo (shaft) seguem com o mesmo critério da região
rotacional.
48
Para iniciar a determinação da malha, deve-se definir quais tipos de malha serão
utilizados. Consultando a documentação do programa, pode-se entender melhor quais os tipos
de malha devem ser utilizados. Segundo a CD-adapco (2017), a função surface remesher é
necessária para gerar uma malha triangular e mais detalhada sobre o CAD; a opção trimmer faz
com que a malha seja predominantemente formada por hexaedros, fazendo com que haja
49
aumento do tamanho da malha em pontos não tão relevantes; a malha Prism Layer Mesher é
ideal para melhorar a acuracidade da solução do fluido e, por fim, a malha extruder é
basicamente utilizada para estender a malha, tipicamente utilizada entre a entrada e saída do
fluxo.
Embora o programa sugira uma malha padronizada, deve-se alterar os parâmetros das
mesmas para melhor adaptação a dinâmica da simulação a ser realizada.
Como base para análise, iniciou-se o trabalho com a utilização da malha de 1mm, com
refinamentos em regiões de maior destaque. Este primeiro resultado encontrou erros relativos
de 5% em comparação com os resultados experimentais da Série B. Porém, por motivos
computacionais, as simulações estavam levando dias para serem concluídas e, visando a
quantidade de simulações que deveriam ser feitas, a dimensão da malha foi alterada. Como
segunda tentativa, foi utilizada uma malha de 5mm, ocorrendo o mesmo problema que
anteriormente. Na terceira tentativa e no decorrer do trabalho, foi utilizada uma malha de 9mm,
sacrificando a precisão do trabalho, porém alcançando pelo menos resultados qualitativos,
permitindo a criação de discussão e conclusões.
A malha utilizada de 9mm possui refinamentos nas regiões de maior destaque, como
defeitos de cavitação e bioincrustação ou extremidades das pás. Por isso, em hélices perfeitos,
a malha é de 9mm com refinamentos nas pontas das pás e ligação com o cubo, Figura 28 (a).
Já em hélices com defeitos provindos da cavitação e bioincrustação, além das regiões já citadas,
houve também um refino nas faces defeituosas, Figura 28 (b).
acréscimo de 1600% do valor base nas regiões onde o refino da malha não é importante, como
na entrada e saída do fluxo. Além desses refinos, deve-se criar um cilindro ao redor do hélice
para definir o volume de controle. Este cilindro é diferente do citado na Seção 3.2.3, já que
antes devia-se criar uma interface entre as regiões estática e rotativa. A malha no volume de
controle é isotrópica e possui metade do tamanho da malha base.
Para finalizar a criação da malha, deve-se observar que o tanque de simulação ainda
não foi totalmente criado. Portanto, deve-se extrudar a entrada do fluido em 1m e a saída em
3m. Esses valores foram definidos pela Figura 21, para que a entrada do fluido ficasse a uma
distância de cinco vezes o diâmetro do hélice. Assim, como na criação do paralelepípedo já foi
considerado um comprimento de 0.705m, foi extrudado 1m no sentido da entrada do fluido e
3m no sentido da saída, como mostra a Figura 29. Outro fato que pode ser visualizado na Figura
29 é o sentido do fluxo de fluido, pois o mesmo não é tão auto ilustrativo.
Figura 29 – Representação do tanque criado para simulação
Região rotacional
Sentido do fluxo
Após a extrusão das extremidades do tanque, a malha final foi gerada e os detalhes da
mesma podem ser vistos na Figura 28.
𝑉𝐴 (5.1)
𝐽=
𝐷𝑛
Tabela 5 – Parametrização do J e VA
J n (Hz) D (m) VA (m/s)
0.6 15 0.25 2.25
0.8 15 0.25 3.00
1.0 15 0.25 3.75
1.4 15 0.25 4.50
Fonte: O Autor (2017).
Onde i aumenta em uma unidade a cada 500 iterações. De acordo com a CD-adapco
(2017), esse valor é suficiente para que J convirja em um valor. Desse modo, J varia de 0.6 a
1.4 a cada 0.1 para conseguir criar um gráfico mais refinado em condições de hélice perfeito
(sem defeitos superficiais). Entretanto, para conseguir o mesmo gráfico refinado em condições
de hélice defeituoso, a simulação demoraria aproximadamente 140h e esse tempo não era
viável. Por isso, nessas condições foi utilizada a Equação 5.3 para variação do J, pois o tempo
de simulação pode ser reduzido para um pouco mais da metade.
52
3.2.7 Simulação
Finalizando as iterações, deve-se gerar uma tabela com os resultados obtidos dos
coeficientes KT, KQ, η0 e J. Essa tabela servirá para gerar o gráfico final que sintetiza os dados
desejados.
53
Pode-se notar pela Figura 30 que mesmo com a tentativa de suavizar a curva, é
necessário que o programa avalie um maior número de J, o que pode ser feito com um
computador com maior capacidade, pois aumentaria o número de iterações em quinhentas vezes
por J. O próprio programa STAR-CCM+ possui a opção de ver os valores de cada coeficiente
nos valores de J que passaram pelas iterações, como mostra a Apêndice B.
Pode-se observar na Figura 30 que existem alguns valores negativos, isso se dá ao fato
de que a partir de determinado J os coeficientes ficam negativos porque o empuxo e o torque
são também negativos. Além disso, nota-se na terceira coluna (η0) das tabelas do Apêndice C,
que em alguns casos os valores da eficiência ultrapassam 1.0. Isso ocorre porque o valor da
eficiência propulsiva em águas abertas é encontrado através de uma formulação, onde o
resultado (quando KT e KQ são negativos) ultrapassa 100%; por isso, tais dados são ignorados
por serem conceitualmente irreais.
54
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A primeira etapa de simulações foi feita apenas com hélices sem defeitos superficiais.
Foram analisados quatro hélices diferentes, os quais serão comparados com os resultados
provindos da teoria da Série B-Wageningen.
Preliminarmente, foi decido quais os hélices seriam testados, os parâmetros dos
mesmos são apresentados na Tabela 6. Para maior facilidade de entendimento, a numeração
citada na Tabela 6 continuará sendo utilizada nas próximas análises.
Após a definição dos hélices a serem analisados, as etapas descritas na Seção 3.2 foram
seguidas para todos os quatro hélices definidos. Além disso, os valores de referência foram
55
Pode-se perceber nas Tabela 7 a 10 que o erro relativo entre a teoria e simulação CFD
não está dentro de um padrão aceitável, conforme é mostrado na Figura 31, a qual representa o
erro relativo entre teoria e simulação de hélices livres de defeitos superficiais em função do
56
coeficiente de avanço. Vale lembrar que J a partir de 1.0 é válido apenas para dois dos hélices
estudados.
Para que o mesmo seja aperfeiçoado, existem alguns pontos no CAD que devem ser
alterados. O primeiro passo seria o aperfeiçoamento do CAD na saída do programa SolidWorks,
pois por razões desconhecidas, o programa SolidWorks não estava reconhecendo a importação
do arquivo via macro; por esta razão, foi utilizado o software Rhinoceros e, essa mudança
contínua pode alterar algumas propriedades do CAD;
a) A partir da Figura 32, observa-se o detalhe da entrada do fluido no hélice. Não foi
encontrado pelo autor nenhuma padronização do formato do hub para testes
computacionais de hélices. Foram feitos dois testes, com formato de elipse e esférico.
Através da comparação de ambos se chegou à conclusão de que o hub com finalização
em forma de elipse se aproximava mais do resultado teórico. Portanto, foi assumido
que o mesmo teria um formato elipsoidal, que além da comparação feita pelo autor,
possui um formato similar do exemplo do hélice padrão utilizado no tutorial do
programa STAR-CCM+;
b) O refinamento da malha é outra sugestão de aperfeiçoamento da simulação, pois foi
utilizada uma malha um pouco grotesca (9mm como base e refinamentos nos pontos
de análise) que poderia ser refinada; houve a tentativa de refinamento para 5mm de
base da malha, porém, o tempo de simulação foi triplicado e não foi possível manter
este padrão.
57
A partir dos pontos citados acima, pode-se perceber que a partir de algumas alterações
o erro relativo poderia ser reduzido quando o coeficiente de avanço não for muito alto já que
existe outra razão para o erro relativo aumentar de acordo com o acréscimo em J.
Este outro fator a ser visto nas Tabela 7 a 10, é que com o aumento do coeficiente de
avanço (J), o erro relativo aumenta; isso provavelmente ocorreu por algum descolamento da
camada limite durante a simulação, ou seja, o aumento da velocidade do fluido provocou um
aumento do arrasto do sistema; essa teoria pode validar a redução do empuxo, torque e
consequentemente da eficiência da simulação em relação a teoria. Para apoiar a teoria, foi feita
uma simulação do Hélice 1 a partir de J = 0.2, no caso, a diferença entre o coeficiente de
eficiência em águas abertas caiu para a segunda casa decimal, mostrando que quanto maior o J,
maior o erro causado pelo descolamento da camada limite. Em decorrência ao fato de que houve
caimento dos coeficientes nas simulações CFD, alguns parâmetros não puderam ser
comparados, já que os coeficientes eram iguais a zero; nestes casos, o erro relativo não é
aplicável (NA).
Realizando uma comparação não ideal, existem estudos (DE ARAUJO, 2014) sobre
comparação de resistência ao avanço por CFD, onde o aumento do número de Froude ocasionou
o aumento do erro relativo em comparação com os resultados experimentais. Portanto, é
conhecido que com o aumento de J, o erro relativo teria a possibilidade de aumentar. Seguindo
a mesma linha de raciocínio, o mesmo fenômeno ocorreu na simulação de Da Silva (2016),
onde observou-se que o erro relativo aumentou com o acréscimo de J.
Foi feito um último teste para gerar uma comparação, onde a frequência de rotação do
fluido era de 1/3 da frequência de rotação utilizada em todas as simulações. Ou seja, com uma
frequência de 5Hz, os resultados encontrados foram muito parecidos com os encontrados nas
58
outras simulações, havendo um erro médio de 3.5%, indicando que os valores usados nas
simulações são adequados.
Após as simulações com os hélices livres de defeitos superficiais, as etapas citadas nas
Seções 3.1.1 e 3.2 foram seguidas para todos os quatro hélices simulados com defeitos oriundos
da cavitação. Essas rugosidades negativas adicionadas abrangeram entre 25 e 30% das pás dos
hélices, ou seja, aproximadamente 75% das pás do hélice ainda estava intacta. Como citado na
Seção 3.1.1, isso resultou na redução de 5% do volume do hélice. As Tabela 11 a 14 apresentam
os erros relativos da simulação dos hélices cavitados e dos hélices livres de defeitos superficiais.
Pode-se observar nas Tabela 11 a 14, que como esperado, houve uma redução na
eficiência e no coeficiente de empuxo e um acréscimo no coeficiente de torque, já que é
necessário mais torque para manter a rotação. Novamente, com o aumento da velocidade do
fluido, o erro relativo também aumentou, isso sugere que pode ter havido um aumento de
turbulência, e possivelmente ocasionando o descolamento da camada limite.
Como citado na teoria sobre a rugosidade criada por seres microbiológicos
(bioincrustação), era esperado que uma rugosidade negativa também causasse a redução da
eficiência propulsiva em águas abertas de um hélice. Portanto, pode-se ter como base os
resultados esperados, onde espera-se uma redução do coeficiente de empuxo de até 45%
dependendo do coeficiente de avanço. Portanto, como a maior redução do coeficiente de
empuxo foi de 45,89% no hélice 4, Tabela 14, pode-se dizer que o resultado está dentro do
esperado. (WALKER et al, 2014).
Para melhor visualização dos resultados encontrados, os gráficos provindos da Série
B-Wageningen foram editados, mostrando as curvas de cada hélice com os resultados
encontrados. Através das Figura 33 a 40, pode-se observar que as curvas representam as curvas
da Série B, e os traços representam os resultados encontrados com a simulação CFD. Os
coeficientes KT, KQ e η0 representam os resultados de um hélice livre de defeitos superficiais
oriundos da simulação; e os coeficientes com a palavra “cavitado” representam os resultados
encontrados pela simulação de um hélice com defeitos superficiais oriundos da cavitação.
60
0.60
0.40
0.20
0.00
K
T 10KQ η0 KT 10KQ η0
KT 10KQ η0 KT 10KQ η0
J = 0.60 J = 0.80
Fonte: O Autor (2017).
61
0.80
0.60
0.40
0.20
0.00
K 10K η K 10K η K 10K η K 10K η
KTT Q
10KQ η00 KTT Q
10KQ η00 T
KT Q
10KQ η00 T
KT Q
10KQ η00
J = 0.60 J = 0.80 J = 1.00 J = 1.20
Fonte: O Autor (2017).
62
0.60
0.40
0.20
0.00
KT 10KQ η0 KT 10KQ η0
KT 10KQ η0 KT 10KQ η0
J = 0.60 J = 0.80
Fonte: O Autor (2017).
63
0.80
0.60
0.40
0.20
0.00
K 10KQ η K 10KQ η K 10KQ η K 10KQ η
KTT 10KQ η00 KTT 10KQ η00 T
KT 10KQ η00 T
KT 10KQ η00
J = 0.60 J = 0.80 J = 1.00 J = 1.20
Fonte: O Autor (2017).
64
Nota-se que hélices com defeitos superficiais causados pela bioincrustação também
apresentam redução na eficiência propulsiva em águas abertas e no coeficiente de empuxo e um
acréscimo no coeficiente de torque. E do mesmo modo que na Seção 4.2, existe a possibilidade
de ter havido descolamento da camada limite ao aumentar a velocidade do fluido. Além do
descolamento da camada limite, já era esperado uma redução da eficiência com o aumento da
velocidade do fluido, pois segundo Walker et al (2014), a perda de empuxo, e
consequentemente eficiência, de um hélice com bioincrustação varia de acordo com seu
Número de Reynolds, ou seja, sua velocidade.
O teste criado por Walker et al (2014) utilizou dois hélices tipo fólio, ambos cobertos
com materiais para simular a bioincrustação, sendo um caso com rugosidade mais suave e outro
mais severo. O hélice foi testado dentro de um tanque de provas e de um túnel de vento.
Segundo os autores, a perda de empuxo entre um hélice suave e um rugoso estaria entre 32 e
45%, porém o resultado encontrado foi de 11% de redução.
Considerando um intervalo entre 11 e 45% de redução do coeficiente de empuxo,
pode-se dizer que os resultados encontrados neste trabalho são satisfatórios, já que existem
muitas possibilidades de aperfeiçoamento e refino do modelo.
Para melhor visualização dos resultados encontrados, os gráficos provindos da Série
B-Wageningen foram editados, mostrando as curvas de cada hélice com os resultados
encontrados. Através das Figura 41 a 48, pode-se observar que as curvas representam as curvas
da Série B, e os traços representam os resultados encontrados com a simulação CFD. Os
66
0.60
0.40
0.20
0.00
KT 10K η0 KT 10KQ η0
KT 10KQQ η0 KT 10KQ η0
J = 0.60 J = 0.80
Fonte: O Autor (2017).
67
0.80
0.60
0.40
0.20
0.00
KT 10K η KT 10KQ η0 KT 10KQ η0 KT 10KQ η
KT 10KQQ η00 KT 10KQ η0 KT 10KQ η0 KT 10KQ η00
J = 0.60 J = 0.80 J = 1.00 J = 1.20
Fonte: O Autor (2017).
68
0.60
0.40
0.20
0.00
KT 10KQ η0 KT 10KQ η0
KT 10KQ η0 KT 10KQ η0
J = 0.60 J = 0.80
Fonte: O Autor (2017).
69
0.80
0.60
0.40
0.20
0.00
K 10K η K 10K η KT 10KQ η0 KT 10K η
KTT 10KQQ η00 KTT 10KQQ η00 KT 10KQ η0 KT 10KQQ η00
J = 0.60 J = 0.80 J = 1.00 J = 1.20
Fonte: O Autor (2017).
70
0.50
0.45
0.40
0.35
0.30
η0
0.25
0.20
0.15
0.10
0.05
0.00
0.6 0.8
Coeficiente de Avanço (J)
0.55
0.50
0.45
0.40
0.35
0.30
η0
0.25
0.20
0.15
0.10
0.05
0.00
0.6 0.8 1.0 1.2
Coeficiente de Avanço (J)
0.45
0.40
0.35
0.30
0.25
η0
0.20
0.15
0.10
0.05
0.00
0.6 0.8
Coeficiente de Avanço (J)
0.55
0.50
0.45
0.40
0.35
0.30
η0
0.25
0.20
0.15
0.10
0.05
0.00
0.6 0.8 1.0 1.2
Coeficiente de Avanço (J)
Através dos gráficos mostrados, é possível perceber que em condições de P/D mais
altos, o resultado encontrado é bastante semelhante. Diferente dos casos onde o P/D é menor,
nestes casos é notório que os hélices bioincrustados tiveram maior queda de eficiência. Porém,
em todos os casos a eficiência foi menor em hélices bioincrustados, possivelmente porque o
relevo na superfície do hélice cause maior turbulência no fluido. As comparações entre os
coeficientes de empuxo e torque dos hélices defeituosos podem ser vistas no Apêndice F.
Outra análise que pode ser feita é que o aumento de J não fez com que a diferença de
eficiência entre as condições analisadas aumentasse de forma considerável.
72
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76
0.45
0.40
0.35
0.30
0.25
0.20
0.15
0.10
0.05
0.00
KT 10KQ KT 10KQ
J = 0.6 J = 0.8
Coeficiente de Avanço (J)
1.00
0.90
0.80
0.70
0.60
0.50
0.40
0.30
0.20
0.10
0.00
KT 10KQ KT 10KQ KT 10KQ KT 10KQ
J = 0.6 J = 0.8 J = 1.0 J = 1.2
Coeficiente de Avanço (J)
0.55
0.50
0.45
0.40
0.35
0.30
0.25
0.20
0.15
0.10
0.05
0.00
KT 10KQ KT 10KQ
J = 0.6 J = 0.8
Coeficiente de Avanço (J)
1.10
1.00
0.90
0.80
0.70
0.60
0.50
0.40
0.30
0.20
0.10
0.00
KT 10KQ KT 10KQ KT 10KQ KT 10KQ
J = 0.6 J = 0.8 J = 1.0 J = 1.2
Coeficiente de Avanço (J)