Tristeza Parsitaria em Bovinos

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Pesq. Vet. Bras.

37(1):1-7, janeiro 2017

Tristeza Parasitária em bovinos do semiárido pernambucano1


Grace B. Santos2, Iara M.M. Gomes2, Júlia A.G. Silveira3, Larissa C.S.R. Pires2, Sérgio
S. Azevedo4, Alexandre C. Antonelli2, Múcio F.B. Ribeiro3 e Mauricio C. Horta2*

ABSTRACT.- Santos G.B., Gomes I.M.M., Silveira J.A.G., Pires L.C.S.R., Azevedo S.S., Antonelli A.C.,
Ribeiro M.F.B. & Horta M.C. 2017. [Cattle Tick Fever in semi-arid of Pernambuco.] Tristeza
Parasitária em bovinos do semiárido pernambucano. Pesquisa Veterinária Brasileira 37(1):1-7.
Laboratório de Doenças Parasitárias, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus
de Ciências Agrárias, Rodovia BR-407 Km 12, Lote 543, Projeto de Irrigação Senador Nilo Co-
elho s/n, C1, Petrolina, PE 56300-990, Brazil. E-mail: [email protected]
This study aimed to determine the seroprevalence of Babesiosis and Anaplasmosis in
cattle from the municipalities of Ouricuri and Petrolina, state of Pernambuco, Brazil, and
to define the risk factors for the occurrence of the diseases. Blood samples were collected
for serologic testing by Indirect Immunofluorescence Assay (IFA). Sanitary epidemiological
questionnaires were applied to the producers aiming to identify possible risk factors. Ticks
were collected, identified and tested by Polymerase Chain Reaction (PCR) for the diagnosis
of infection by Anaplasma marginale, Babesia bigemina and Babesia bovis. The study was
conducted with 861 cattle, being 468 in Petrolina and 393 in Ouricuri. The seroprevalen-
ce of A. marginale, B. bigemina and B. bovis in Petrolina was of 35.0% (164/468), 35.9%
(168/468) and 32.3% (151/468), respectively; and in Ouricuri was 45.5% (179/393),
38.6% (152/393), and 54.9% (216/393), respectively. Co-infection for Anaplasma spp. and
Babesia spp. was observed in 31.6% and 32.1% samples of Petrolina and Ouricuri, respec-
tively. The detection of DNA of Babesia spp. by PCR was possible in 5.8% (8/137) ticks;
which 62.5% (5/8) was detected later infection with B. bovis; and 23.3% (32/137) with A.
marginale. The presence of ticks, the use of acaricide, age, race, and county of residence of
the animals were identified as risk factors for TBD by univariate analysis and multivariate.
This study allowed the characterization of the municipalities studied as enzootic instabili-
ty areas for these hemoparasitic, and consequently alert for adoption of adequate control
measures and new studies.
INDEX TERMS: Cattle Tick Fever, semi-arid of Pernambuco, Babesia bigemina, Babesia bovis, Anaplas-
ma marginale, epidemiology.

RESUMO.- Este estudo objetivou determinar a soropreva- sil; e definir os possíveis fatores de risco para a ocorrência
lência da Babesiose e Anaplasmose em bovinos dos muni- dessas doenças. Amostras de sangue foram coletadas para
cípios de Ouricuri e Petrolina, estado de Pernambuco, Bra- realização de teste sorológico por Imunofluorescência In-
direta (RIFI). Questionários epidemiológicos sanitários
1
Recebido em 22 de agosto de 2015. foram aplicados aos produtores com o objetivo de identifi-
Aceito para publicação em 5 de julho de 2016. car possíveis fatores de risco. Carrapatos foram coletados,
2
Laboratório de Doenças Parasitárias, Universidade Federal do Vale do identificados e testados por Reação em Cadeia da Polime-
São Francisco (Univasf), Campus de Ciências Agrárias, Rodovia BR-407
rase (PCR) para o diagnóstico da infecção por Anaplasma
Km 12, Lote 543, Projeto de Irrigação Senador Nilo Coelho s/n, C1, Pe-
trolina, PE 56300-990, Brasil. *Autor para correspondência: horta.mc@ marginale, Babesia bigemina e Babaesia bovis. O estudo foi
hotmail.com conduzido com 861 bovinos, sendo 468 de Petrolina e 393
3
Departamento de Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas, Uni- de Ouricuri. A soroprevalência de A. marginale, B. bigemi-
versidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cx. Postal 3037, Belo Horizon- na e B. bovis em Petrolina foi de 35,0% (164/468), 35,9%
te, MG 30270-901, Brasil.
(168/468) e 32,3% (151/468), respectivamente; e em Ou-
4
Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, Centro de Saúde e Tecno-
logia Rural, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Av. Univer- ricuri foi de 45,5% (179/393), 38,6% (152/393) e 54,9%
sitária s/n, Bairro Santa Cecília, Cx. Postal 64, Patos, PB 58700-970, Brasil. (216/393), respectivamente. A co-infecção por Anaplasma

1
2 Grace B. Santos et al.

spp. e Babesia spp. foi observada em 31,6% e 32,1% de Indireta (RIFI) e moleculares como a PCR (Costa-Júnior et
amostras de Petrolina e Ouricuri, respectivamente. A detec- al. 2006), mais empregadas na fase crônica.
ção de DNA de Babesia spp. por PCR foi possível em 5,8% O estudo epidemiológico da babesiose e da anaplasmo-
(8/137) carrapatos, dos quais em 62,5 % (5/8) foi detec- se bovina em uma determinada área pode revelar a possi-
tada posteriormente infecção por B. bovis, e em 23,3% bilidade da ocorrência ou não de surtos. Tal possibilidade
(32/137) por A. marginale. A presença de carrapatos, o é avaliada segundo a situação epidemiológica da região
uso de acaricidas, idade, raça, e o município de residência estudada. Em regiões semiáridas do Nordeste há escassez
dos animais foram identificados como fatores de risco para de estudos sobre a situação epidemiológica da babesiose
TPB pela análise univariável e multivariável. Este estudo e anaplasmose. Desta forma, estudos em áreas geográficas
permitiu caracterizar os municípios estudados como de distintas fazem-se necessários para ampliação do conhe-
instabilidade enzoótica para esses hemoparasitos, e conse- cimento acerca da epidemiologia da TPB em cada região,
quentemente, alertar para adoção de medidas adequadas principalmente devido à diversidade climática.
de controle e realização de novos estudos. Este estudo objetivou verificar os aspectos epidemioló-
TERMOS DE INDEXAÇÃO: Tristeza Parasitária, bovinos, semiárido
gicos da babesiose e anaplasmose bovina, referente à in-
pernambucano, Babesia bigemina, Babesia bovis, Anaplasma mar- fecção em bovinos e carrapatos, como também definir os
ginale, epidemiologia. possíveis fatores de risco para a ocorrência dessas doenças
em municípios localizados no semiárido pernambucano.
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
A Tristeza Parasitária Bovina (TPB) é causada pelos hemo-
protozoários Babesia bovis e Babesia bigemina, e pela bac- Local de estudo. O estudo foi realizado em propriedades ru-
rais dos municípios de Petrolina e Ouricuri, localizados em áre-
téria Anaplasma marginale. Essas enfermidades apresen-
as de clima tropical semiárido no estado de Pernambuco, Brasil.
tam epidemiologia e sinais clínicos muito similares, sendo Petrolina detém aproximadamente 18.500 cabeças de bovinos e
responsáveis por perdas econômicas na pecuária mundial está localizada na mesorregião do São Francisco, ocupando uma
e brasileira (Bock et al. 2004, Kocan et al. 2010). área territorial de 4.558,537 km². O índice pluviométrico médio
Rhipicephalus (Boophilus) microplus é o principal ve- é de 431,8 mm anuais (IBGE 2010). Ouricuri concentra aproxi-
tor biológico para os três agentes, com ampla distribuição madamente 30.500 cabeças de bovinos e localiza-se na mesorre-
em regiões tropicais e subtropicais (Guglielmone 1995). A gião do Sertão pernambucano, ocupando uma área de 2.422,882
Anaplasmose pode também ser transmitida mecanicamen- km². A precipitação média mensal varia entre 5 e 140mm (IBGE
te por dípteros hematófagos e de forma iatrogênica, atra- 2010).
vés de fômites contendo sangue contaminado (Kocan et al. Colheita de sangue. No período de agosto de 2011 a abril de
2010). 2013, foram avaliados 861 bovinos, sendo 468 do município de
Petrolina provenientes de 19 propriedades rurais, e 393 do mu-
Dentre os principais sinais clínicos apresentados pelos
nicípio de Ouricuri, oriundos de 13 propriedades. O cálculo da
animais, destacam-se anemia hemolítica progressiva, icte- amostragem foi determinado considerando 95% de confiança,
rícia, febre, apatia, inapetência e taquipnéia. Observam-se erro de 7% e prevalência da doença estimada em 50%. Os ani-
também aborto, relatado na anaplasmose; além de hemo- mais foram escolhidos de forma aleatória, sendo utilizados para
globinemia e hemoglobinúria, observados na babesiose, esse estudo animais com idade acima de seis meses. Aproxima-
que geralmente evoluem para a morte do animal (Bock et damente 92,9% (800/861) dos bovinos apresentavam idade >1
al. 2004, Kocan et al. 2010). ano, sendo 92,7% (434/468) em Petrolina e 93,1% (366/393)
A dinâmica da infecção é dependente de fatores como a em Ouricuri. Amostras de sangue dos animais foram colhidas por
população de carrapatos, sua capacidade de transmissão, e venopunção em tubos sem anticoagulante. Após centrifugação o
a susceptibilidade dos bovinos, que pode variar de acordo soro foi aliquotado em tubos de 1,5mL e estocado a -20oC.
O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de
com a raça, idade, estado fisiológico e imunológico dos ani-
Ética em Estudos Humanos e Animais da Universidade Federal do
mais (Dreher et al. 2005, Kocan et al. 2010). Vale do São Francisco, protocolo 0010/261011.
O Brasil é reconhecido como um país enzoótico para Diagnóstico sorológico. A presença de anticorpos anti-B.
TPB. No entanto, existem regiões que em função de suas bigemina, anti-B. bovis e anti-Anaplasma marginale foi detectada
condições edafoclimáticas não favorecem o desenvolvi- empregando-se a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI),
mento do carrapato durante todo o ano. Este leva ao de- utilizando anticorpo monoclonal anti-bovino (AbD Serotec) con-
senvolvimento de áreas de instabilidade enzoótica para jugado ao isotiocianato de fluoresceína (FITC). Antígenos de A.
TPB de acordo com conceitos de Mahoney & Ross (1972). marginale (cepa UFMG1); Babesia bigemina (cepa BbigMG); e Ba-
É conhecido que as maiores perdas econômicas referentes besia bovis (cepa BbovMG) (Bastos et al. 2010) foram confecciona-
à TPB ocorrem em áreas de instabilidade enzoótica ou por das conforme recomendações do IICA (1987). As amostras foram
consideradas positivas se apresentaram fluorescência na diluição
ocasião da transferência de animais destas, ou de áreas li-
de 1:40. Para cada reação foi utilizado soro controle positivo e ne-
vres, para outras cuja situação epidemiológica seja de es- gativo (Bastos et al. 2010).
tabilidade. Análises moleculares. A extração de DNA dos carrapatos
O diagnóstico destas enfermidades baseia-se na pesqui- foi realizada conforme protocolo padronizado por Horta et al.
sa direta do agente em esfregaços sanguíneos na fase aguda (2007), com maceração dos artrópodes em microtubos, com auxí-
da doença (Böse et al. 1995, Bock et al. 2004), além de mé- lio de ponteiras adaptadas. As amostras foram processadas indi-
todos sorológicos como a Reação de Imunofluorescência vidualmente e/ou em “pools” conforme a disponibilidade. Foram

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separados aleatoriamente 62 carrapatos individuais (20 prove- separadas por meio de eletroforese foram visualizadas em trans-
nientes de animais de Petrolina e 42 de animais de Ouricuri) e luminador de luz ultravioleta. Foram consideradas positivas as
75 “pools” de carrapatos (27 provenientes de Petrolina e 48 de amostras com produto amplificado correspondente ao mesmo
Ouricuri), cada “pool” contendo quatro carrapatos (total = 300 padrão de migração da banda gerada pelo controle positivo cor-
carrapatos), totalizando 137 amostras (47 oriundas de Petrolina respondente.
e 90 de Ouricuri). Os carrapatos foram submetidos à extração com Determinação de Fatores de Risco: No momento da visita
kit comercial Wizard® Genomic DNA Purification (Promega, Madi- às propriedades, foi aplicado um questionário para avaliar as con-
son, WI, USA), para um volume final de 75 μL para os “pools” e 50 dições sanitárias e epidemiológicas, objetivando a identificação
μL para extração de carrapatos individuais. de possíveis fatores de risco da doença na região. A análise de fa-
Visando a amplificação de DNA de Babesia spp. foram testadas tores de risco foi conduzida em duas etapas: análise univariável
sequências de oligonucleotídeos que consistem na amplificação e análise multivariável. Na análise univariável, cada variável in-
de fragmentos de DNA de 551 pares de base do gene 18S rRNA dependente foi cruzada com a variável dependente (resultado da
de Babesia spp. de acordo com Almeida (2011): BAB 143-167 [5’- sorologia: negativo = 0; positivo = 1), e aquelas que apresentaram
CCG TGC TAA TTG TAG GGC TAA TAC A-3’] e BAB 694-667 [5’-GCT valor de p≤0,20 pelo teste de qui-quadrado ou teste exato de Fi-
TGA AAC ACT CTA RTT TCT CAA AG-3’]. As reações foram realiza- sher foram selecionadas para a análise multivariável, utilizando-
das em volume final de 25μL, contendo 11,0μL de água ultra puri- -se regressão logística múltipla. O nível de significância adotado
ficada; 4,0μL de 2 mM mix dNTP (Invitrogen®); 0,75μL de 25 mM na análise múltipla foi de 5%. Todas as análises foram realizadas
MgCl2 (Invitrogen®); 2,5μL de buffer 10x (Invitrogen®); 1,25μL de com o programa SPSS 20.0 for Windows.
cada oligonucleotídeo iniciador, 0,25μL (1U) de Taq DNA polime-
rase (Invitrogen®); e 4μL da amostra de DNA. Para cada reação, foi
RESULTADOS
adicionado um controle positivo (DNA Babesia spp.) e um contro-
le negativo (água ultra purificada). As condições de amplificação Nas amostras de Petrolina, a frequência de anticorpos anti-
foram: desnaturação inicial a 95°C por 5 minutos, seguida por 35 -Anaplasma marginale, anti-Babesia bigemina e anti-Babe-
ciclos de 95°C por 30 segundos para desnaturação, 58°C por 30 sia bovis detectada pela RIFI foi de 35,0%, 35,9% e 32,3%,
segundos para anelamento, 72°C por 30 segundos para extensão respectivamente. Foi verificada co-infecção por Babesia
e 72°C por 7 minutos para extensão final. spp. e A. marginale em 148 (31,6%) das amostras analisa-
Posteriormente, as amostras positivas para Babesia spp. fo- das. Em Ouricuri, 45,5% das amostras foram positivas para
ram submetidas a uma nova reação utilizando primers específicos
A. marginale, 38,6% para B. bigemina e 54,9% para B. bovis,
para B. bovis e B. bigemina (Costa 2013). Na PCR para B. bovis,
foram utilizados os primers Bbo(F) [5’-CGA GGA AGG AAC TAC observando-se co-infecção de Babesia spp. e A. marginale
CGA TGT TGA ATA TC-3’] e Bbo(R) [5’-CAA CGT ACG AGG TCA AGC em 32,1% dos animais (Quadro 1). À análise individual das
TAC CGA GCA G-3’], que amplificam um fragmento de 347-pb es- propriedades, foi observada a ocorrência de condições epi-
pecífico para o gene de roptria (rap-1) de B. bovis. Na PCR para demiológicas diferentes nos municípios estudados.
B. bigemina, foram utilizados os primers Bbi(F) [5’-GGG ACG TCA De acordo com a idade dos animais, foi constatado na
AGC GAT TTT GAG ACG T-3’] e Rbi(R) [5’-GAG TGT TGC TGA TTG RIFI que a maior frequência de bovinos positivos para ana-
ACG ACC TAA GCG C-3’], que amplificam um fragmento de 340-pb plasmose ocorre na faixa etária de 37 e 48 meses (52,6%)
específico para o gene de roptria (rap-1) de B. bigemina. Visando e de menor positividade na de 6-12 meses (33,3%). Com
a PCR para amplificação de DNA de A. marginale, foram emprega-
relação à Babesiose, a maior frequência de B. bovis e B. bi-
dos os seguintes primers Am1(F) [5’-CAA TCG TGA GGG ATA GCC
TTG TAC-3’] e Am1(R) [5’-TGG TAT CAC GGT CAA AAT CTT TGC gemina foi observada na faixa de 48-60 meses (50,8%) e de
T-3’], que amplificam um fragmento de 300-pb específico para o 25-36 meses (43,8%) respectivamente, enquanto a menor
gene msp1a de A. marginale (Costa 2013). Todas as reações foram positividade ocorre na faixa de 6-12 meses tanto para B.
realizadas nas mesmas condições de reagentes e ciclos térmicos. bovis (22,8%) como para B. bigemina (26,7%). Os bovinos
Para tal, cada tubo de reação consistiu num volume total final de das raças Nelore, Girolando e os animais mestiços foram os
25µL, com uma mistura contendo 12,6µL de água ultrapura, 2,5µL que apresentaram maior positividade para A. marginale, B.
de tampão, 2,5µL de amostra de DNA dos carrapatos, 4,0µL de dN- bovis e B. bigemina. De acordo com o sexo dos animais, as
TPs, 0,75µL de MgCl2, 1,25µL de cada primer e 0,15µL de enzima fêmeas apresentaram maior soroprevalência para os he-
Taq-polimerase (Taq-Platinum, Invitrogen). As condições de PCR
moparasitas analisados.
foram 95oC por 5 min., seguido de 40 ciclos de 95oC por 15 seg.,
58oC por 30 seg., 72oC por 30 seg.; e extensão final a 72oC por 5
A infestação por carrapatos foi verificada em 15,8% das
min. propriedades de Petrolina, sendo que 16,2% dos animais
As amostras foram amplificadas em aparelho termociclador encontravam-se infestados. Neste município foi observado
(Biocycler®) e os produtos amplificados na PCR foram submeti- que em 84,2% das propriedades foi relatada a presença de
dos à eletroforese em gel de Agarose a 1,5%, sob 100 V (@ 1 hora) dípteros hematófagos (tabanídeos e/ou mosca do chifre).
corado por Brometo de etídeo (30 minutos). As bandas de DNA Em Ouricuri, foi constatada maior percentagem de proprie-

Quadro 1. Número e frequência de anticorpos anti-Anaplasma marginale, anti-Babesia bovis e anti-Babesia


bigemina em amostras de soro sanguíneo de bovinos das propriedades rurais dos municípios de Petrolina e
Ouricuri, PE, utilizando a RIFI
Município N° de animais reagentes N° de animais reagentes N° de animais reagentes Co-infecção Babesia spp. Nº de animais
para B. bigemina (%) para B. bovis (%) para A. marginale (%) + A. marginale (%) amostrados
Petrolina 168 (35,9) 151 (32,2) 164 (35,0) 111 (23,7) 468
Ouricuri 152 (38,6) 216 (54,9) 179 (45,5) 126 (32,0) 393
Total 320 (37,1) 367 (42,6) 343 (39,8) 237 (27,5) 861

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4 Grace B. Santos et al.

dades com infestação por carrapatos (76,9%), assim como dos criadores fazem controle de ectoparasitas, mas poucos
o número de animais infestados (32,3%). A ocorrência de realizavam mudança de princípio ativo. Apenas 42% dos
dípteros hematófagos foi relatada em 100% das proprieda- produtores apresentaram conhecimento da transmissão
des visitadas. Todos os carrapatos colhidos foram identifi- de doenças por carrapatos e 26% relataram o histórico de
cados como Rhipicephalus (Boophilus) microplus. TPB na propriedade. Em Ouricuri, 100% dos criadores visi-
Os resultados verificados pela PCR demonstraram in- tados praticavam o manejo do tipo semi-intensivo, e 61,5%
fecção por Babesia spp. em 5,8% (8/137) das amostras das propriedades apresentavam coleção de água. Todos os
dos carrapatos (2 individuais e 6 “pools”). Das oito amos- produtores realizam controle de ectoparasitas, contudo
tras positivas, constatou-se a infecção por B. bovis em apenas 38,5% realiza o rodízio de principio ativo. A grande
62,5%; e por Babesia spp. em 37,5%. Quanto ao A. margi- maioria dos criadores (92,0%) conhecem as doenças trans-
nale, 23,3% (32/137) das amostras de carrapatos foram mitidas por carrapatos e todos eles citam a ocorrência de
positivas, sendo 50% (16/32) provenientes de animais TPB nas suas propriedades.
de Petrolina (3 individuais e 13 “pools”) e 50% (16/32) Dentre as variáveis analisadas (Quadro 3), foram consi-
oriundos de animais de Ouricuri (4 individuais e 12 “po- derados como fatores de risco para B. bigemina a idade dos
ols”) (Quadro 2). animais (13-60 meses) e a presença de carrapatos; para B.
O inquérito epidemiológico demonstrou que nas pro- bovis a origem dos animais, ou seja, habitar no município
priedades de Petrolina predomina a criação semi-intensiva de Ouricuri, bem como a presença de carrapatos; e para A.
(57,9%) e a maioria (63%) possui alguma área irrigada, rio marginale a raça dos animas (mestiço e SRD) e a presença
ou coleção de água nas adjacências. Foi verificado que 79% de carrapatos (Quadro 4).

Quadro 2. Detecção da infecção por hemoparasitas em carrapatos coletados de animais de Petrolina e


Ouricuri, PE, pela da PCR
Município N° de amostras N° de amostras positivas N° de amostras positivas N° de amostras positivas N° de amostras positivas
testadas para Babesia spp.(%) para B. bovis (%) para B. bigemina (%) para A. marginale (%)
Petrolina 47 1 (2,1%) - - 16 (34%)
Ouricuri 90 7 (7,8%) 5 (71,4%) - 16 (17,8%)
Total 137 8 (5,8%) 5 (62,5%) - 32 (23,3%)

Quadro 3. Análise univariada dos animais com a distribuição das variáveis associadas à babesiose e
anaplasmose em Petrolina e Ouricuri, PE, no período de 2011/2012
Variável Categoria Nº total de B. bigemina B. bovis A. marginale
animais Positivos (%) P Positivos (%) p Positivos (%) p
Sexo Fêmea 704 258 (36,6) 303 (43,0) 289 (41,1)
Macho 157 56 (35,7) 0,890 60 (38,2) 0,309 54 (34,4) 0,147*
Raça CRD 220 91 (41,4) 107 (48,6) 90 (40,9)
Mestiço 532 187 (35,2) 219 (41,2) 233 (43,8)
SRD 109 36 (33,0) 0,199* 37 (33,9) 0,030* 20 (18,3) < 0,001*
Idade Até 12 meses 105 26 (24,8) 24 (22,9) 34 (32,4)
13 - 36 meses 444 184 (41,4) 196 (44,1) 166 (37,4)
37 - 60 meses 162 62 (38,3) 78 (48,1) 70 (43,2)
> 60 meses 150 42 (28,0) 0,001* 65 (43,3) < 0,001* 73 (48,7) 0,027*
Município Ouricuri 393 147 (37,4) 213 (54,2) 179 (45,5)
Petrolina 468 167 (35,7) 0,652 150 (32,1) < 0,001* 164 (35,0) 0,002*
Carrapatos Não 657 208 (31,7) 214 (32,6) 228 (34,7)
Sim 204 106 (52,0) < 0,001* 149 (73,0) < 0,001* 115 (56,4) < 0,001*
Mucosa Hipocorada 181 54 (29,8) 88 (48,6) 76 (42,0)
Normal 678 259 (38,2) 274 (40.4) 267 (39,4)
Hipercorada 2 1 (50,0) 0,107* 1 (50,0) 0,136* 0 (0,0) 0,420
Estado geral Normal 715 265 (37,1) 306 (42,8) 277 (38,7)
Ótimo 65 20 (30,8) 29 (44,6) 32 (49,2)
Ruim 81 29 (35,8) 0,596 28 (34,6) 0,334 34 (42,0) 0,234
Manejo Intensivo 102 30 (29,4) 26 (25,5) 17 (16,7)
Semi-intensivo 640 238 (37,2) 290 (45,3) 285 (44,5)
Extensivo 119 46 (38,7) 0,275 47 (39,5) 0,001* 41 (34,5) < 0,001*
Área irrigada Não 515 190 (36,9) 252 (48,9) 240 (46,6)
Sim 346 124 (35,8) 0,808 111 (32,1) < 0,001* 103 (29,8) < 0,001*
No de carrapatos Sem infestação 658 208 (31,6) 215 (32,7) 229 (34,8)
Leve 154 80 (51,9) 117 (76,0) 82 (53,2)
Moderada 33 17 (51,9) 19 (57,6) 20 (60,6)
Alta 16 9 (56,2) < 0,001* 12 (75,0) < 0,001* 12 (75,0) < 0,001*
Carrapaticida Não 93 25 (26,9) 16 (17,2) 25 (26,9)
Sim 768 289 (37,6) 0,055* 347 (45,2) < 0,001* 318 (41,4) 0,010*
* Variáveis selecionadas para a análise multivariável.

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Tristeza Parasitária em bovinos do semiárido pernambucano 5

Quadro 4. Fatores de risco para infecção por Babesia ca – onde a ocorrência de uma estação seca ou fria impede
bigemina, Babesia bovis e Anaplasm marginale em animais o desenvolvimento da fase de vida livre do carrapato du-
de Petrolina e Ouricuri, PE rante parte do ano, de forma que os bovinos passem uma
Variável (categoria) Odds ratio (IC 95%) P época do ano sem contato com o parasita ou com poucos
Babesia bigemina
carrapatos, não desenvolvendo imunidade duradoura con-
Idade (13 - 36 meses) 2,11 (1,30 - 3,45) 0,003 tra a doença, e apresentam prevalência de animais soro-
Idade (37 - 60 meses) 1,80 (1,04 - 3,12) 0,037 logicamente positivos entre 20% e 75% (Mahoney & Ross
Carrapatos (sim) 2,25 (1,63 - 3,11) < 0,001 1972, Araújo et al. 1997, Guimarães et al. 2011); e áreas
Babesia bovis de estabilidade enzoótica - onde a presença do carrapato
Município (Ouricuri) 2,12 (1,58 - 2,84) < 0,001
Carrapatos (sim) 5,02 (3,52 - 7,16) < 0,001
ocorre durante todo o ano, fazendo com que os bovinos
Anaplasma marginale sejam expostos a carrapatos infectados, permanecendo
Raça (mestiço) 3,56 (2,11 - 5,99) < 0,001 imunizados.
Raça (SRD) 2,28(1,29 - 4,04) 0,005 Pelo estudo soroepidemiológico para Babesia spp. e A.
Carrapatos (sim) 2,70 (1,91 - 3,82) < 0,001 marginale realizado em bovinos dos municípios de Petro-
lina e Ouricuri, foi possível demonstrar a existência desses
DISCUSSÃO agentes na região. Entretanto as baixas taxas de soropre-
A região semiárida ocupa vasta área do território brasilei- valência (frequência de anticorpos abaixo de 75%) para A.
ro (974.752 km2), abrangendo oito estados do Nordeste, marginale, B. bigemina e B. bovis verificadas por este traba-
além de parte da seção norte do estado de Minas Gerais. lho permitem considerar ambos os municípios como áreas
O clima da região é caracterizado por altas temperaturas e de instabilidade enzoótica para a TPB. Nas áreas de instabi-
uma precipitação anual inferior a 800 mm, concentrada em lidade enzoótica é importante o conhecimento da condição
um período definido do ano, gerando, assim, uma estação imunológica dos animais do rebanho, considerando-se a
chuvosa e uma seca. Estes fatores climáticos contribuem necessidade de adotar medidas de controle como adoção de
para a baixa produtividade da exploração agropecuária da manejo adequado, controle de vetores, vacinação e os riscos
região e influencia no status socioeconômico da população no transporte dos animais. Deve-se considerar que nestas
local (IBGE 2010). Associados à cobertura vegetal escassa e áreas, a TPB pode causar grandes prejuízos aos produtores
baixa densidade populacional de hospedeiros vertebrados, da região, devido à possibilidade da ocorrência de um gran-
estes fatores climáticos interferem diretamente nos ciclos de número de casos clínicos com alta taxa de mortalidade.
biológicos dos parasitas, entre eles os carrapatos. Nas áreas Foi verificado que 84,2% das propriedades de Petro-
mais secas do semiárido o carrapato não sobrevive durante lina apresentam instabilidade para babesiose, superior à
o período de seca. Entretanto, no início do período chuvo- prevalência encontrada para Ouricuri (46,2%). Este fato
so quando bovinos com carrapatos são introduzidos nestas demonstra correlação direta da maior taxa de proprieda-
áreas eles restabelecem o ciclo biológico (Costa et al. 2009). des com infestação de carrapatos em Ouricuri (76,2%) com
Nas regiões da Zona da Mata e do Agreste do Nordeste, a maior infestação dos animais (32,0%) neste município,
ocorrência do carrapato é constante, principalmente pelas quando comparada com Petrolina. Embora localizados no
condições de umidade, favorecendo o desenvolvimento e a semiárido, os municípios estudados apresentam condições
sobrevivência graduais dos estádios da fase não parasitária epidemiológicas diferentes para o desenvolvimento e ma-
do carrapato. Aliado a isso, as temperaturas mais amenas nutenção da população de carrapatos, e consequentemente
desse período também contribuem para esse sucesso (Fur- da TPB.
long et al. 2002, Furlong et al. 2003). Este fato tem impor- Os dados históricos de precipitação pluviométrica ob-
tância direta na epidemiologia das doenças transmitidas servados nos últimos 10 anos, entre 2001–2010, nos mu-
pelos Ixodídeos, dentre elas a TPB. nicípios de Petrolina (38,4 ± 38,9 mm/mês) e Ouricuri
A visualização de merozoítos de Babesia bigemina e (59,4±55,0mm/mês), demonstram que não houve diferen-
Babesia bovis em esfregaços sanguíneos periféricos é faci- ça estatística (p≥0,05) entre esses municípios. No entanto,
litada em animais com sinais clínicos da doença, não sendo se considerarmos a média histórica dos últimos dois anos,
geralmente detectados em bovinos portadores da infecção, de 2010 a 2012, o município de Ouricuri apresentou uma
os quais apresentam níveis baixos de parasitemia (Jackson maior precipitação (51,9±40,7mm/mês) quando compa-
et al. 2001). De forma similar, na anaplasmose a bactéria rada à Petrolina (20,5±22,2mm/mês) (Sampaio 1998, Mi-
geralmente é detectada no início da infecção através do nitab 2000, Lamepe/Itep 2013). Este fato provavelmente
exame direto, onde até 90% dos eritrócitos podem apre- justifica a maior ocorrência de carrapatos nesse município,
sentar-se infectados, ou ainda pode ser detectada em casos por proporcionar melhores condições climáticas para o de-
crônicos em que os níveis de parasitemia permanecem bai- senvolvimento dos ixodídeos. Associado à questão climá-
xos (Kieser et al. 1990). tica, a utilização de medicamentos carrapaticidas em Ou-
A partir da determinação da presença de anticorpos ricuri é realizada de forma indiscriminada, utilizando em
pelo diagnóstico sorológico, as áreas de estudo foram clas- critério subjetivo do criador, que realiza o tratamento ao
sificadas de acordo com Sacco (2002), que caracterizam as observar elevação da infestação. Desta forma, os medica-
regiões como áreas livres - aquelas onde o carrapato não mentos são aplicados de forma irregular, sem a utilização
ocorre devido às condições climáticas que impedem o de- de um controle estratégico, e na maioria das vezes sem
senvolvimento do parasito; áreas de instabilidade enzoóti- acompanhamento veterinário.

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6 Grace B. Santos et al.

Estudos referentes à ocorrência da TPB realizados em utilizando carrapatos na detecção da infecção por Babesia
diversas regiões semiáridas do Brasil têm encontrado situ- spp. e A. marginale. Na região do semiárido nordestino
ações epidemiológicas diferentes. Os dados obtidos neste pouco se conhece a respeito dos aspectos da infecção por
estudo estão de acordo com Costa et al. (2009, 2011) que esses hemoparasitas em carrapatos. No entanto, estudos
verificaram no sertão paraibano áreas de instabilidade epidemiológicos em diversos países utilizam comumente
enzoótica, constatando a ocorrência de surtos de TPB no essa prática (Ica et al. 2007, M’ghirbi & Bouattour 2008,
final da época de chuvas nas áreas de planaltos e serras, Majláthová et al. 2011).
em áreas úmidas e também em áreas irrigadas, como no Dentre as variáreis associadas aos animais, a presen-
município de Patos, PB. Entretanto, áreas de estabilidade ça de carrapato foi considerada fator de risco para infec-
enzoótica para B. bovis e B. bigemina têm sido encontra- ção por B. bigemina, B. bovis e A. marginale. A presença de
das no município de Paudalho, PE (Berto et al. 2008), em carrapatos no município de Ouricuri mostrou-se mais fre-
diferentes microrregiões do Estado da Bahia (Araújo et al. quente do que em Petrolina, o que pode ser evidenciado
1997; Barros et al. 2005) assim como em outras regiões do pela maior soroprevalência para os três patógenos obser-
Brasil (Barci et al. 1994, Soares et al. 2000, Madruga et al. vada nos animais deste município. A idade (entre 13–60
2000, Trindade et al. 2010). meses) foi considerada fator de risco para ocorrência da
A detecção de área de instabilidade enzoótica para A. infecção por B. bigemina, devido à infecção ocorrer após o
marginale verificada neste estudo, também foi observada término da resistência natural, tornando os animais mais
em Sergipe (Oliveira et al. 1992), embora a maioria dos susceptíveis a infecção por este patógeno. A raça (animais
trabalhos tenha registrado estabilidade (Souza et al. 2000, mestiços e SRD) foi considerada um fator de risco associa-
2001, Barros et al. 2005). do à infecção por A. marginale. Habitar no município de
A susceptibilidade dos animais aos agentes da TPB é Ouricuri foi considerado um fator de risco par a infecção
influenciada por vários fatores, destacando a idade, raça, por B. bovis. Desta forma, surtos de babesiose por B. bovis
estresse ambiental, e, nos primeiros meses de vida pela podem ocorrer em animais dessa área, ou de áreas indenes
imunidade passiva (Costa et al. 2011). Geralmente, os casos transportados para essa região.
clínicos são mais graves em bovinos adultos, uma vez que
os animais jovens, até os seis meses de idade, apresentam CONCLUSÕES
maior resistência natural à infecção (Furlong et al. 2002,
2005). Em áreas de instabilidade, a ausência de vetores em A investigação epidemiológica da infecção por Anaplas-
determinada época do ano suspende a transmissão contí- ma marginale, Babesia bigemina, Babesia bovis nos bovinos
nua dos agentes da TPB aos bovinos, principalmente em dos municípios de Petrolina e Ouricuri possibilitou confir-
animais jovens, fazendo com que a soroconversão ocorra mar a presença desses agentes e considerar que a babesio-
em faixas etárias elevadas. Este fato foi verificado nesse se e anaplasmose ocorrem sob a forma de instabilidade en-
experimento, no qual animais adultos apresentaram maior zoótica nessas regiões, o que pode predispor a ocorrência
prevalência de anticorpos para babesiose e anaplasmose. de surtos de TPB nos municípios estudados.
As técnicas moleculares, dentre elas a PCR, apresentam O município de Ouricuri, localizado na mesorregião
maior sensibilidade e especificidade quando comparadas a do Sertão Pernambucano, apresentou uma frequência de
outros métodos de diagnóstico, como os testes sorológicos infestação por carrapatos maior que a verificada no mu-
e o exame direto através do esfregaço sanguíneo. A pesqui- nicípio de Petrolina, localizado na mesorregião do São
sa do DNA do agente demonstra que os animais positivos Francisco, devido à presença de condições favoráveis ao
realmente estão infectados pelo parasita, independente- desenvolvimento dos carrapatos.
mente da fase da doença (Cossío-Bayúgar et al. 1997). Os O uso indiscriminado de carrapaticida, a presença de
pares de oligonucleotídeos utilizados neste estudo para a carrapatos, a idade, a raça e o município de residência dos
realização da PCR foram designados como sendo específi- animais foram considerados fatores de risco para ocorrên-
cos para o gênero Babesia (Almeida 2011), assim como os cia da TPB na região estudada.
demais oligonucleotídeos utilizados para detecção de B. bo-
Agradecimentos.- Aos proprietários e funcionários das propriedades de
vis, B. bigemina e A. marginale que foram desenhados para Petrolina e Ouricuri, PE, pela oportunidade de desenvolvimento deste es-
esta finalidade (Costa 2013). A detecção da infecção nos tudo, bem como a todos que ajudaram direta e indiretamente. À FACEPE
carrapatos por Babesia spp. foi possível em 8/137 amos- (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco)
tras analisadas, dos quais em 5/8 identificou-se que a in- pelo apoio financeiro ao projeto de pesquisa processo APQ 1174-5.05/10;
fecção ocorrera por B. bovis. Nas demais amostras (3/8), e pela bolsa de pós-graduação processo IBPG-0095-5.05/11.
não foi possível detectar a espécie envolvida, possivelmen-
te devido à quantidade insuficiente de DNA nas amostras, REFERÊNCIAS
e/ou por ter ocorrido a desnaturação do DNA presente nes- Araújo E.R., Madruga C.R., Almeida M.A.O., Leal C.R.B. & Miguita M. 1997.
tas amostras ao longo dos testes realizados. Levantamento sorológico de Babesia bovis e Babesia bigemina no Estado
da Bahia pela imunofluorescência indireta e teste de conglutinação rápi-
Informações sobre a epidemiologia de doenças trans- da. Revta Bras. Parasitol. Vet. 6:111-115.
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