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Brazilian Journal of Health Review 10934

ISSN: 2595-6825

Triagem Nutricional por NRS 2002 em Pacientes Indicados a Cirurgias


Abdominais Eletivas no Ambulatório de Pré-operatório

Nutritional screening by NRS 2002 in Patients Indicated for Elective


Abdominal Surgery in the Preoperative Ambulatory
DOI:10.34119/bjhrv5n3-246

Recebimento dos originais: 14/02/2022


Aceitação para publicação: 28/03/2022

Francisco Eduardo Silva


Mestre em Saúde Baseada em Evidência. Professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro
Endereço: Endereço: Av. Aluízio da Silva Gomes, 50 - Novo Cavaleiros, Macaé – Rio de
Janeiro
E-mail: [email protected]

João Marcos Gomes da Silva


Acadêmico de medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Endereço: Endereço: Av. Aluízio da Silva Gomes, 50 - Novo Cavaleiros, Macaé – Rio de
Janeiro
E-mail: [email protected]

Luis Otávio Alvarenga Costa


Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Endereço: Endereço: Av. Aluízio da Silva Gomes, 50 - Novo Cavaleiros, Macaé – Rio de
Janeiro
E-mail: [email protected]

Renan Brito Nogueira


Mestre em Cirurgia. Cirurgião geral do Hospital São João Batista
Endereço: Endereço: Av. Aluízio da Silva Gomes, 50 - Novo Cavaleiros, Macaé – Rio de
Janeiro
E-mail: [email protected]

RESUMO
Objetivo:Identificar os pacientes em risco nutricional no pré-operatório de cirurgia abdominal
em regime ambulatorial. Os pacientes serão avaliados conforme os critérios do protocolo NRS-
2002 para risco nutricional em caráter ambulatorial. Método:Estudo descritivo transversal e
quantitativo com aplicação de um questionário baseado no protocolo NRS 2002. A pesquisa foi
realizada no ambulatório do Hospital São João Batista em Macaé, Rio de Janeiro de junho à
dezembro de 2020. Foram incluídos 100 pacientes em pré-operatório de cirurgia geral. A
avaliação do protocolo NRS 2002 foi realizada em 2 etapas. A primeira etapa foi composta por
questões relacionadas aos dados antropométricos, comorbidades e hábito de vida e a segunda
etapa consistia na quantificação do estado nutricional e gravidade de doenças. Resultado:Nove
pacientes apresentaram perda maior que 5% do peso corporal em 3 meses, cinco pacientes
apresentaram IMC menor que 20,5 kg/m2 e dez pacientes eram portadores de diabetes mellitus.
Entre os 9 pacientes com perda de peso maior que 5% em 3 meses, 3 pacientes apresentaram
15% de perda de peso em 3 meses, um paciente apresentou perda de peso maior que 5% em

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dois meses associada a diabetes mellitus, dois pacientes apresentaram perda de 5% do peso em
1 mês associada a diabetes mellitus. Ao final da aplicação do protocolo, 6 pacientes (18,2%)
apresentaram pontuação maior ou igual a 3, e foram classificados em risco nutricional.
Conclusão:A avaliação do risco nutricional através do protocolo NRS 2002 pode ser aplicado
no pré-operatório de cirurgia geral ambulatorialmente.

Palavras-chave: avaliação nutricional, inquéritos nutricionais, estado nutricional, cirurgia


geral, procedimentos cirúrgicos eletivos, assistência ambulatorial.

ABSTRACT
Objective:Identify patients at nutritional risk in the preoperative period of abdominal surgery
on an outpatient basis. Patients will be evaluated according to the criteria of the NRS-2002
protocol for nutritional risk on an outpatient basis. Method:Descriptive cross-sectional and
quantitative study with the application of a questionnaire based on the NRS 2002 protocol. The
research was carried out at the São João Batista Hospital outpatient clinic in Macaé, Rio de
Janeiro from June to December 2020. 100 patients were included in preoperative general
surgery. The evaluation of the NRS 2002 protocol was carried out in 2 stages. The first stage
consisted of questions related to anthropometric data, comorbidities and lifestyle habits and the
second stage consisted of quantifying the nutritional status and severity of diseases. Result:Nine
patients had a loss greater than 5% of body weight in 3 months, five patients had a BMI less
than 20.5 kg / m2 and ten patients had diabetes mellitus. Among the 9 patients with weight loss
greater than 5% in 3 months, 3 patients had 15% weight loss in 3 months, one patient had weight
loss greater than 5% in two months associated with diabetes mellitus, two patients had 5%
weight loss in 1 month associated with diabetes mellitus. At the end of the application of the
protocol, 6 patients (18.2%) had a score greater than or equal to 3, and were classified as
nutritional risk. Conclusion:The assessment of nutritional risk using the NRS 2002 protocol can
be applied in the preoperative period of general surgery on an outpatient basis.

Keywords: nutritional assessment, nutritional surveys, nutritional status, general surgery,


elective surgical procedures, outpatient care.

1 INTRODUÇÃO
A desnutrição em pacientes hospitalizados interfere na evolução e nos desfechos
clínicos podendo agravar a morbidade ou até mesmo influenciar na mortalidade. Portanto, a
avaliação das condição nutricionais é necessária para que intervenções precoces sejam
elaboradas e aplicadas aos pacientes que apresentarem algum risco nutricional. O
reconhecimento e uma intervenção precoce em um paciente em risco nutricional pode ter um
impacto positivo no desfecho clinico. Cirurgias de grande e médio porte podem alterar a
fisiologia corporal pela resposta inflamatória e o catabolismo corporal. A cirurgia associada a
desnutrição pode implicar em um desfecho cirúrgico negativo para o paciente. Estima-se que
pacientes em risco nutricional representem aproximadamente 27% das internações hospitalares.
A identificação da deficiência nutricional, especialmente na clínica cirúrgica é crucial para
melhorar os resultados, pois os pacientes desnutridos, apresentam maiores chances de

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readmissão hospitalar, longa permanência nas internações e reoperações, além de maiores


custos hospitalares. A prevalência da desnutrição hospitalar é elevada e ainda permanece pouco
diagnosticada no Brasil.1,2,3
Protocolos de avaliação do risco nutricional são utilizados por diversas instituições de
saúde com a intenção de triar pacientes desnutridos no período pré-operatório. Estudos
publicados apontam que cerca de 50% dos indivíduos hospitalizados que serão submetidos a
algum procedimento cirúrgico apresentam algum grau de desnutrição, segundo publicações
realizadas pelo Estudo Latino-Americano de Nutrição (ELAN) e o Inquérito Brasileiro de
Avaliação Nutricional Hospitalar (IBRANUTRI). Alguns protocolos para avaliação do risco
nutricional foram criados para serem usados em pacientes em risco de desnutrição, entre eles o
Nutritional Risk Screening (NRS) 2002.4
O NRS-2002 é um dos métodos de triagem nutricional desenvolvido por Reilly et al
(1995) e aprimorado por Kondrup et al (2002), publicado e validado na Dinamarca em 2002. O
NRS-2002 é o método de triagem nutricional recomendado pela European Society for Clinical
Nutrition and Metabolism (ESPEN) e pelo Projeto Diretrizes da Associação Médica Brasileira
e Conselho Federal de Medicina.5 O NRS-2002 atua prevendo de forma precoce a mortalidade,
morbidade, aumento do período de internação hospitalar e o risco de desenvolver desnutrição.
Foi desenvolvido para aplicação em hospitais, devendo ser realizado em até 72 horas da
admissão hospitalar. O NRS-2002 apresenta como diferencial entre os diversos métodos de
triagem nutricional, a quantificação da gravidade da doença, índice de massa corporal (IMC) e
a idade do pacientes. O NRS-2002 é um dos protocolos mais utilizados nos serviços que
atendem pacientes com indicação de procedimento cirúrgicos e pacientes internados nos
serviços especializados de cirurgia gastrointestinal.6,7 Os pacientes com perda de peso no
período pré-operatório possuem um risco maior de complicações cirúrgicas no pós-operatório.
Identificar o risco nutricional no pré-operatório em regime ambulatorial pode ter um impacto
positivo no desfecho operatório. A relevância do risco nutricional no Brasil em pacientes
hospitalizados, colocou como indispensável a busca e a avaliação nutricional em hospitais
vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Os pacientes identificados devem ser submetidos
à avaliações mais detalhadas e objetiva, para posteriormente ser estabelecida terapia e cuidado
nutricional individualizado. A desnutrição é evitável e principalmente reversível com terapia
nutricional precoce e adequada.8,9 A identificação da desnutrição normalmente é baseada em
parâmetros antropométricos, bioquímicos, físicos, hábitos de vida e variáveis demográficas. No
entanto, atualmente não existe um protocolo universalmente aceito para a avaliação do estado

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nutricional. Desse modo, é possível minimizar ou prevenir as complicações da doença e do


tratamento, acelerar a recuperação, reduzir os gastos e o tempo de internação hospitalar.10,11
Esse estudo tem como objetivo avaliar e identificar os pacientes em risco nutricional no
pré-operatório de cirurgia abdominal em regime ambulatorial. Os pacientes serão avaliados
conforme os critérios do protocolo NRS-2002 para risco nutricional no período do pré-
operatório em caráter ambulatorial.

2 METODOLOGIA
Estudo descritivo transversal e quantitativo a partir da aplicação de um questionário
baseado no protocolo do Nutritional Risk Screening (NRS 2002). Esse estudo é parte de um
projeto de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Campus Macaé intitulado
Triagem nutricional por NRS 2002 em pacientes indicados a cirurgias abdominais eletivas. Esse
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) com Certificado de Apresentação
de Apreciação Ética número 35069120.6.0000.5699.
Essa pesquisa foi realizada no ambulatório do Hospital da Irmandade de São João
Batista, conveniado ao SUS, na Cidade de Macaé, estado do Rio de Janeiro no período de junho
à dezembro de 2020. Para esse estudo a coleta de dados foi realizada através de um questionário
baseado no protocolo de avaliação do risco nutricional NRS 2002. A coleta dos dados foram
realizadas por acadêmicos do curso de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Campus Macaé sob supervisão de um cirurgião geral do ambulatório. Foram incluídos 100
pacientes de ambos os sexos em pré-operatório de doenças com indicação cirúrgica na cavidade
abdominal e da parede abdominal. Foram excluídos pacientes em pré-operatório de neoplasias
malignas, portadores de doenças consumptivas e em uso de medicamentos imunossupressores,
gestantes e pacientes que se negaram a participar do estudo. Os pacientes que aceitaram
participar do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os
questionários foram preenchidos pelo participante ou o representante legal, sempre assessorado
por um dos pesquisadores.
A aplicação do questionário baseado no protocolo de risco nutricional (NRS-2002) foi
realizado antes da consulta ambulatorial. Foi utilizado um inquérito de aplicação direita de
questões sobre as variáveis demográficas (sexo e idade), variáveis sociais (grau de instrução e
renda familiar), variáveis relacionadas ao estilo de vida (tabagismo, etilismo, consumo de
alimentos, saneamento básico, hábitos alimentares e perda de peso), cirurgia proposta,
comorbidades e sintomas gastrointestinais. Os dados antropométricos foram colhidos à partir
da medida da altura, peso, circunferência abdominal e calculado o índice de massa corporal

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(IMC). Posteriormente foi classificado o estado nutricional dos pacientes a partir do IMC obtido
por meio da divisão do peso corporal (Kg) pela altura ao quadrado (m²) considerando os pontos
de cortes para adultos de baixo peso (< 18,5 Kg/m²), eutrofia (18,5 a 24,9 Kg/m²), sobrepeso
(25 a 29,9 Kg/m²) e obesidade (> 30 Kg/m²).12
A avaliação do risco nutricional através do protocolo NRS 2002 foi realizada em duas
etapas. A primeira etapa foi composta por quatro questões relacionadas aos dados
antropométricos, comorbidades e variáveis do hábito de vida: IMC < 20,5 kg/m2, perda de peso
nos últimos três meses, redução da ingestão alimentar na semana anterior e presença de doenças
graves. Havendo resposta positiva para uma dessas questões, o participante foi direcionado para
a segunda etapa do protocolo que consistia na quantificação de cada critério de acordo com o
estado nutricional e gravidade da doença. A segunda etapa do estudo consistiu em calcular os
escores do estado nutricional e da gravidade da doença. Paciente com idade ≥ 70 anos 1 ponto
foi adicionado ao escore. Escore total menor que 3, o paciente foi classificado sem risco
nutricional e escore total maior ou igual a 3, classificado com risco nutricional.13 Foi realizada
análise exploratória dos dados do estudo.

3 RESULTADOS
Participaram desse estudo 100 pacientes, sendo a maioria mulheres (62%). A média de
idade foi 50,02 anos, sendo que 28,28% se encontrava na faixa etária entre 50 e 60 anos. O peso
médio foi 75,61 kg e a altura média de 1,64 cm. A média da circunferência abdominal foi 93,22
cm nos homens e 96,03 cm nas mulheres. A média da circunferência abdominal nas mulheres
está acima da média recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que é de 88 cm.
Em relação aos hábitos alimentares diários, 94% dos entrevistados tomam café da manhã, 96%
almoçam, 73% jantam e 29% estão fazendo dieta alimentar restritiva. Em relação aos hábitos
de vida e comorbidades, 12% dos entrevistados eram tabagistas, 22% apresentavam constipação
crônica, 29,17% apresentavam hipertensão arterial sistêmica e 23% apresentam diabetes
mellitus. Entre as cirurgias propostas, a colecistectomia e as hérnias de parede abdominal
somaram 86,45% de todos os pacientes entrevistados pelo questionário do protocolo NRS 2002.
O Índice de Massa Corporal (IMC) variou de 19,2 kg/mm2 mínimo e 49,3 kg/mm2
máximo. O percentual de obesidade foi maior entre as mulheres (40,9%) em relação aos homens
(15,79%). Tabelas 1 e 2.
Na primeira parte da triagem nutricional composta pelas quatro perguntas, 33 pacientes
tiveram umas das respostas afirmativas. Cinco pacientes tiveram IMC < 20,5 Kg/m2, 18
pacientes tiveram perda de peso nos últimos 3 meses e 10 pacientes apresentavam

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comorbidades com gravidade grau I (diabetes mellitus). Os 33 pacientes que apresentaram um


dos parâmetros positivos na primeira etapa, foram analisados na segunda etapa do protocolo de
triagem nutricional NRS 2002 que consiste na quantificação de cada critério de acordo com o
estado nutricional e a gravidade da doença. Os pacientes com idade maior ou igual a 70 anos
tiveram 1 ponto adicionado ao escore. Não houve redução dietética na ultima semana em
nenhum dos participantes.
Aplicando o protocolo do risco nutricional NRS 2002, 9 pacientes apresentaram perda
maior que 5% do peso corporal em 3 meses, somando 1 ponto no escore de risco nutricional, 5
pacientes apresentaram IMC menor que 20,5 kg/m2 somando 2 pontos no escore do risco
nutricional, 10 pacientes eram portadores de diabetes mellitus, 1 ponto no escore. Entre os 9
pacientes com perda de peso maior que 5% em 3 meses, 3 pacientes apresentaram 15% de perda
de peso em 3 meses, contando assim 3 pontos no escore, um paciente apresentou perda de peso
maior que 5% em dois meses associada a diabetes mellitus, somando assim 3 pontos no escore,
dois pacientes apresentaram perda de 5% do peso em 1 mês associada a diabetes mellitus,
somando assim 4 pontos no escore.
Após a aplicação da pontuação nas duas etapas do protocolo de risco nutricional NRS
2002, dos 33 participantes que tivera 1 das questões positivas na primeira etapa, 6 pacientes
(18,2%) apresentaram pontuação maior ou igual a 3 na segunda etapa. Nesse estudo, avaliando
os pacientes em pré-operatório de cirurgia abdominal ou de parede abdominal
ambulatorialmente, pelo protocolo de risco nutricional NRS 2002, 6% dos participantes
apresentaram risco nutricional.

4 DISCUSSÃO
A triagem nutricional através do protocolo NRS-2002 é atualmente a investigação
sugerida pela ESPEN, onde avalia as variáveis antropométricas, ingestão de alimentos,
14
gravidade da doença e a idade do paciente. A falha no diagnóstico e identificação da
desnutrição hospitalar causam um grande impacto no desfechos cirúrgicos dos pacientes, e o
uso rotineiro de métodos de rastreamento capazes de identificar o risco nutricional são
recomendáveis.15 Atualmente publicações cientificas que analisam a prevalência da desnutrição
em pacientes cirúrgicos são escassas. Correia (2000) em seu estudo sobre repercussões da
desnutrição sobre a morbidade, mortalidade e custos em pacientes hospitalizados no Brasil,
encontrou uma prevalência de desnutrição de 39% em pacientes com enfermidades cirúrgicas
internados pelo SUS, em 25 hospitais brasileiros.16 A ESPEN recomenda a triagem de risco
nutricional NRS 2002 para pacientes submetidos à cirurgia gastrointestinal. A triagem de risco

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nutricional 2002 foi estudada prospectivamente por Schwegler et al. (2010)17 em cirurgia para
câncer colorretal. Uma taxa significativamente maior de complicações pós-operatórias (62%
vs. 39,8%, p = 0,004) foi registrada para pacientes com risco nutricional (NRS ≥ 3 pontos).
No presente estudo, aplicamos o questionário do protocolo de risco nutricional NRS
2002 em pacientes ambulatoriais em pré-operatório de cirurgia. Como critério de inclusão
foram escolhidos portadores de doenças cirúrgicas do abdome e parede abdominal, como
critério de exclusão, portadores de neoplasia maligna ou que fazem uso de imunossupressor. O
estado nutricional prejudicado em pacientes que irão ser submetidos a algum procedimento
cirúrgico de médio ou grande porte, pode levar a desfechos negativos no perioperatórios ou
pós-operatório. A resposta inflamatória excessiva devido ao trauma cirúrgico em pacientes com
hipoproteinemia, pode alterar fatores como a cicatrização. Além disso, a cirurgia em si pode ter
um impacto negativo no estado nutricional, especialmente em pacientes idosos. Para planejar
adequadamente o suporte nutricional dos pacientes submetidos à cirurgia, é essencial
compreender as alterações básicas no metabolismo que ocorrem como resultado de uma lesão
e que um estado nutricional comprometido é um fator de risco para complicações pós-
operatórias. 18,19
Esse estudo optou por usar o protocolo de risco nutricional em pacientes não
hospitalizados, mas que estão aguardando tratamento cirúrgico. A intenção desse estudo é fazer
uma avaliação quantitativa dos pacientes em risco nutricional antes da internação. A
importância na identificação de indivíduos em risco nutricional que possuem patologias
cirúrgicas, é promover a implementação de serviços de reposição nutricional desses pacientes
antes do tratamento cirúrgico proposto em nível ambulatorial. Ao se associar o IMC com
doença de indicação cirúrgica, os procedimentos oncológicos são os que apresentaram
percentual predominante de indivíduos abaixo do peso (42,5%), ao passo que apenas 16,1%
dos indivíduos de baixo peso tem maior chance de risco nutricional que pacientes eutróficos.
Em nosso estudo, apenas 6% dos pacientes cirúrgicos apresentaram risco nutricional no pré-
operatório avaliado a nível ambulatorial. A literatura atual apresenta uma grande variação no
percentual de risco nutricional de 14,8% a 74% quando avaliados pela NRS-2002 em ambiente
hospitalar, talvez este achado se justifique pela diversidade de situações clinicas dos
participantes dos estudos.8
A escolha de pacientes com doença cirúrgica eletiva não neoplásica, ou em situação de
imunossupressão, pretendeu avaliar a incidência de desnutrição nessa população com a intenção
de planejar um programa de intervenção de melhoria do estado nutricional ambulatorialmente.
É importante ressaltar que o câncer é uma doença diretamente relacionada com a desnutrição.

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Nosso estudo, entre os 9 pacientes com perda de peso em 3 meses, 3 pacientes apresentaram
15% de perda de peso (3%) e 3 pacientes tiveram além da perda de peso, o diabetes mellitus
como fator de risco. A NRS-2002 é uma ferramenta de fácil aplicabilidade na rotina da prática
clínica, alta confiabilidade e reprodutibilidade, e considera, além do IMC, outras variáveis
associadas ao estado nutricional. Por não excluir grupo específico, esta ferramenta pode ser
considerada como a mais recomendada entre os demais métodos de triagem nutricional.

5 CONCLUSÃO
O estudo investigou o risco nutricional e fatores de risco associado em pacientes
ambulatoriais em pré-operatório de cirurgia abdominal eletiva. Riscos de desenvolver
desnutrição como portadores de neoplasias malignas ou pacientes em pós-operatório
acompanhados ambulatorialmente não foram incluídos. Nesse estudo concluímos que a
avaliação do risco nutricional através do protocolo NRS 2002 pode ser aplicado via
ambulatorial, já que o questionário pode ser aplicado nas consultas médicas, assim como a
avaliação das variáveis antropométricas.

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