Admin, BJHR Junho246
Admin, BJHR Junho246
Admin, BJHR Junho246
ISSN: 2595-6825
RESUMO
Objetivo:Identificar os pacientes em risco nutricional no pré-operatório de cirurgia abdominal
em regime ambulatorial. Os pacientes serão avaliados conforme os critérios do protocolo NRS-
2002 para risco nutricional em caráter ambulatorial. Método:Estudo descritivo transversal e
quantitativo com aplicação de um questionário baseado no protocolo NRS 2002. A pesquisa foi
realizada no ambulatório do Hospital São João Batista em Macaé, Rio de Janeiro de junho à
dezembro de 2020. Foram incluídos 100 pacientes em pré-operatório de cirurgia geral. A
avaliação do protocolo NRS 2002 foi realizada em 2 etapas. A primeira etapa foi composta por
questões relacionadas aos dados antropométricos, comorbidades e hábito de vida e a segunda
etapa consistia na quantificação do estado nutricional e gravidade de doenças. Resultado:Nove
pacientes apresentaram perda maior que 5% do peso corporal em 3 meses, cinco pacientes
apresentaram IMC menor que 20,5 kg/m2 e dez pacientes eram portadores de diabetes mellitus.
Entre os 9 pacientes com perda de peso maior que 5% em 3 meses, 3 pacientes apresentaram
15% de perda de peso em 3 meses, um paciente apresentou perda de peso maior que 5% em
dois meses associada a diabetes mellitus, dois pacientes apresentaram perda de 5% do peso em
1 mês associada a diabetes mellitus. Ao final da aplicação do protocolo, 6 pacientes (18,2%)
apresentaram pontuação maior ou igual a 3, e foram classificados em risco nutricional.
Conclusão:A avaliação do risco nutricional através do protocolo NRS 2002 pode ser aplicado
no pré-operatório de cirurgia geral ambulatorialmente.
ABSTRACT
Objective:Identify patients at nutritional risk in the preoperative period of abdominal surgery
on an outpatient basis. Patients will be evaluated according to the criteria of the NRS-2002
protocol for nutritional risk on an outpatient basis. Method:Descriptive cross-sectional and
quantitative study with the application of a questionnaire based on the NRS 2002 protocol. The
research was carried out at the São João Batista Hospital outpatient clinic in Macaé, Rio de
Janeiro from June to December 2020. 100 patients were included in preoperative general
surgery. The evaluation of the NRS 2002 protocol was carried out in 2 stages. The first stage
consisted of questions related to anthropometric data, comorbidities and lifestyle habits and the
second stage consisted of quantifying the nutritional status and severity of diseases. Result:Nine
patients had a loss greater than 5% of body weight in 3 months, five patients had a BMI less
than 20.5 kg / m2 and ten patients had diabetes mellitus. Among the 9 patients with weight loss
greater than 5% in 3 months, 3 patients had 15% weight loss in 3 months, one patient had weight
loss greater than 5% in two months associated with diabetes mellitus, two patients had 5%
weight loss in 1 month associated with diabetes mellitus. At the end of the application of the
protocol, 6 patients (18.2%) had a score greater than or equal to 3, and were classified as
nutritional risk. Conclusion:The assessment of nutritional risk using the NRS 2002 protocol can
be applied in the preoperative period of general surgery on an outpatient basis.
1 INTRODUÇÃO
A desnutrição em pacientes hospitalizados interfere na evolução e nos desfechos
clínicos podendo agravar a morbidade ou até mesmo influenciar na mortalidade. Portanto, a
avaliação das condição nutricionais é necessária para que intervenções precoces sejam
elaboradas e aplicadas aos pacientes que apresentarem algum risco nutricional. O
reconhecimento e uma intervenção precoce em um paciente em risco nutricional pode ter um
impacto positivo no desfecho clinico. Cirurgias de grande e médio porte podem alterar a
fisiologia corporal pela resposta inflamatória e o catabolismo corporal. A cirurgia associada a
desnutrição pode implicar em um desfecho cirúrgico negativo para o paciente. Estima-se que
pacientes em risco nutricional representem aproximadamente 27% das internações hospitalares.
A identificação da deficiência nutricional, especialmente na clínica cirúrgica é crucial para
melhorar os resultados, pois os pacientes desnutridos, apresentam maiores chances de
2 METODOLOGIA
Estudo descritivo transversal e quantitativo a partir da aplicação de um questionário
baseado no protocolo do Nutritional Risk Screening (NRS 2002). Esse estudo é parte de um
projeto de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Campus Macaé intitulado
Triagem nutricional por NRS 2002 em pacientes indicados a cirurgias abdominais eletivas. Esse
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) com Certificado de Apresentação
de Apreciação Ética número 35069120.6.0000.5699.
Essa pesquisa foi realizada no ambulatório do Hospital da Irmandade de São João
Batista, conveniado ao SUS, na Cidade de Macaé, estado do Rio de Janeiro no período de junho
à dezembro de 2020. Para esse estudo a coleta de dados foi realizada através de um questionário
baseado no protocolo de avaliação do risco nutricional NRS 2002. A coleta dos dados foram
realizadas por acadêmicos do curso de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Campus Macaé sob supervisão de um cirurgião geral do ambulatório. Foram incluídos 100
pacientes de ambos os sexos em pré-operatório de doenças com indicação cirúrgica na cavidade
abdominal e da parede abdominal. Foram excluídos pacientes em pré-operatório de neoplasias
malignas, portadores de doenças consumptivas e em uso de medicamentos imunossupressores,
gestantes e pacientes que se negaram a participar do estudo. Os pacientes que aceitaram
participar do estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os
questionários foram preenchidos pelo participante ou o representante legal, sempre assessorado
por um dos pesquisadores.
A aplicação do questionário baseado no protocolo de risco nutricional (NRS-2002) foi
realizado antes da consulta ambulatorial. Foi utilizado um inquérito de aplicação direita de
questões sobre as variáveis demográficas (sexo e idade), variáveis sociais (grau de instrução e
renda familiar), variáveis relacionadas ao estilo de vida (tabagismo, etilismo, consumo de
alimentos, saneamento básico, hábitos alimentares e perda de peso), cirurgia proposta,
comorbidades e sintomas gastrointestinais. Os dados antropométricos foram colhidos à partir
da medida da altura, peso, circunferência abdominal e calculado o índice de massa corporal
(IMC). Posteriormente foi classificado o estado nutricional dos pacientes a partir do IMC obtido
por meio da divisão do peso corporal (Kg) pela altura ao quadrado (m²) considerando os pontos
de cortes para adultos de baixo peso (< 18,5 Kg/m²), eutrofia (18,5 a 24,9 Kg/m²), sobrepeso
(25 a 29,9 Kg/m²) e obesidade (> 30 Kg/m²).12
A avaliação do risco nutricional através do protocolo NRS 2002 foi realizada em duas
etapas. A primeira etapa foi composta por quatro questões relacionadas aos dados
antropométricos, comorbidades e variáveis do hábito de vida: IMC < 20,5 kg/m2, perda de peso
nos últimos três meses, redução da ingestão alimentar na semana anterior e presença de doenças
graves. Havendo resposta positiva para uma dessas questões, o participante foi direcionado para
a segunda etapa do protocolo que consistia na quantificação de cada critério de acordo com o
estado nutricional e gravidade da doença. A segunda etapa do estudo consistiu em calcular os
escores do estado nutricional e da gravidade da doença. Paciente com idade ≥ 70 anos 1 ponto
foi adicionado ao escore. Escore total menor que 3, o paciente foi classificado sem risco
nutricional e escore total maior ou igual a 3, classificado com risco nutricional.13 Foi realizada
análise exploratória dos dados do estudo.
3 RESULTADOS
Participaram desse estudo 100 pacientes, sendo a maioria mulheres (62%). A média de
idade foi 50,02 anos, sendo que 28,28% se encontrava na faixa etária entre 50 e 60 anos. O peso
médio foi 75,61 kg e a altura média de 1,64 cm. A média da circunferência abdominal foi 93,22
cm nos homens e 96,03 cm nas mulheres. A média da circunferência abdominal nas mulheres
está acima da média recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que é de 88 cm.
Em relação aos hábitos alimentares diários, 94% dos entrevistados tomam café da manhã, 96%
almoçam, 73% jantam e 29% estão fazendo dieta alimentar restritiva. Em relação aos hábitos
de vida e comorbidades, 12% dos entrevistados eram tabagistas, 22% apresentavam constipação
crônica, 29,17% apresentavam hipertensão arterial sistêmica e 23% apresentam diabetes
mellitus. Entre as cirurgias propostas, a colecistectomia e as hérnias de parede abdominal
somaram 86,45% de todos os pacientes entrevistados pelo questionário do protocolo NRS 2002.
O Índice de Massa Corporal (IMC) variou de 19,2 kg/mm2 mínimo e 49,3 kg/mm2
máximo. O percentual de obesidade foi maior entre as mulheres (40,9%) em relação aos homens
(15,79%). Tabelas 1 e 2.
Na primeira parte da triagem nutricional composta pelas quatro perguntas, 33 pacientes
tiveram umas das respostas afirmativas. Cinco pacientes tiveram IMC < 20,5 Kg/m2, 18
pacientes tiveram perda de peso nos últimos 3 meses e 10 pacientes apresentavam
4 DISCUSSÃO
A triagem nutricional através do protocolo NRS-2002 é atualmente a investigação
sugerida pela ESPEN, onde avalia as variáveis antropométricas, ingestão de alimentos,
14
gravidade da doença e a idade do paciente. A falha no diagnóstico e identificação da
desnutrição hospitalar causam um grande impacto no desfechos cirúrgicos dos pacientes, e o
uso rotineiro de métodos de rastreamento capazes de identificar o risco nutricional são
recomendáveis.15 Atualmente publicações cientificas que analisam a prevalência da desnutrição
em pacientes cirúrgicos são escassas. Correia (2000) em seu estudo sobre repercussões da
desnutrição sobre a morbidade, mortalidade e custos em pacientes hospitalizados no Brasil,
encontrou uma prevalência de desnutrição de 39% em pacientes com enfermidades cirúrgicas
internados pelo SUS, em 25 hospitais brasileiros.16 A ESPEN recomenda a triagem de risco
nutricional NRS 2002 para pacientes submetidos à cirurgia gastrointestinal. A triagem de risco
nutricional 2002 foi estudada prospectivamente por Schwegler et al. (2010)17 em cirurgia para
câncer colorretal. Uma taxa significativamente maior de complicações pós-operatórias (62%
vs. 39,8%, p = 0,004) foi registrada para pacientes com risco nutricional (NRS ≥ 3 pontos).
No presente estudo, aplicamos o questionário do protocolo de risco nutricional NRS
2002 em pacientes ambulatoriais em pré-operatório de cirurgia. Como critério de inclusão
foram escolhidos portadores de doenças cirúrgicas do abdome e parede abdominal, como
critério de exclusão, portadores de neoplasia maligna ou que fazem uso de imunossupressor. O
estado nutricional prejudicado em pacientes que irão ser submetidos a algum procedimento
cirúrgico de médio ou grande porte, pode levar a desfechos negativos no perioperatórios ou
pós-operatório. A resposta inflamatória excessiva devido ao trauma cirúrgico em pacientes com
hipoproteinemia, pode alterar fatores como a cicatrização. Além disso, a cirurgia em si pode ter
um impacto negativo no estado nutricional, especialmente em pacientes idosos. Para planejar
adequadamente o suporte nutricional dos pacientes submetidos à cirurgia, é essencial
compreender as alterações básicas no metabolismo que ocorrem como resultado de uma lesão
e que um estado nutricional comprometido é um fator de risco para complicações pós-
operatórias. 18,19
Esse estudo optou por usar o protocolo de risco nutricional em pacientes não
hospitalizados, mas que estão aguardando tratamento cirúrgico. A intenção desse estudo é fazer
uma avaliação quantitativa dos pacientes em risco nutricional antes da internação. A
importância na identificação de indivíduos em risco nutricional que possuem patologias
cirúrgicas, é promover a implementação de serviços de reposição nutricional desses pacientes
antes do tratamento cirúrgico proposto em nível ambulatorial. Ao se associar o IMC com
doença de indicação cirúrgica, os procedimentos oncológicos são os que apresentaram
percentual predominante de indivíduos abaixo do peso (42,5%), ao passo que apenas 16,1%
dos indivíduos de baixo peso tem maior chance de risco nutricional que pacientes eutróficos.
Em nosso estudo, apenas 6% dos pacientes cirúrgicos apresentaram risco nutricional no pré-
operatório avaliado a nível ambulatorial. A literatura atual apresenta uma grande variação no
percentual de risco nutricional de 14,8% a 74% quando avaliados pela NRS-2002 em ambiente
hospitalar, talvez este achado se justifique pela diversidade de situações clinicas dos
participantes dos estudos.8
A escolha de pacientes com doença cirúrgica eletiva não neoplásica, ou em situação de
imunossupressão, pretendeu avaliar a incidência de desnutrição nessa população com a intenção
de planejar um programa de intervenção de melhoria do estado nutricional ambulatorialmente.
É importante ressaltar que o câncer é uma doença diretamente relacionada com a desnutrição.
Nosso estudo, entre os 9 pacientes com perda de peso em 3 meses, 3 pacientes apresentaram
15% de perda de peso (3%) e 3 pacientes tiveram além da perda de peso, o diabetes mellitus
como fator de risco. A NRS-2002 é uma ferramenta de fácil aplicabilidade na rotina da prática
clínica, alta confiabilidade e reprodutibilidade, e considera, além do IMC, outras variáveis
associadas ao estado nutricional. Por não excluir grupo específico, esta ferramenta pode ser
considerada como a mais recomendada entre os demais métodos de triagem nutricional.
5 CONCLUSÃO
O estudo investigou o risco nutricional e fatores de risco associado em pacientes
ambulatoriais em pré-operatório de cirurgia abdominal eletiva. Riscos de desenvolver
desnutrição como portadores de neoplasias malignas ou pacientes em pós-operatório
acompanhados ambulatorialmente não foram incluídos. Nesse estudo concluímos que a
avaliação do risco nutricional através do protocolo NRS 2002 pode ser aplicado via
ambulatorial, já que o questionário pode ser aplicado nas consultas médicas, assim como a
avaliação das variáveis antropométricas.
REFERÊNCIAS
3 – Roy M, Hunter P, Perry JA. Development of a Universal Nutritional Screening Platform for
Plastic Surgery Patients. Plast Reconstr Surg Glob Open. 2017 Jul; 5(7): e1342.
4 – Toledo DO, et al. Campanha “Diga não à desnutrição”: 11 passos importantes para combater
a desnutrição hospitalar. BRASPEN J 2018; 33 (1): 86-100)
7 - Correia MIDT, Campos ACL. “Prevalence of Hospital Malnutrition in Latin America: The
Multicenter ELAN Study.”Nutrition 2003; Estudo Latino Americano de Nutrição (ELAN)
2003. 19:823-5.
8 – Barbosa AAO, Vicentini AP, Langa FR. Comparação dos critérios da nrs-2002 com o risco
nutricional em pacientes hospitalizados. Ciênc. saúde coletiva vol.24 no.9 Rio de Janeiro Sept.
2019.
9 - Rabito EI, Marcadenti A, Fink, JS, Figueira L, Silva FM. Nutritional Risk Screening 2002,
Short Nutritional Assessment Questionnaire, Malnutrition Screening Tool, and Malnutrition
Universal Screening Tool Are Good Predictors of Nutrition Risk in an Emergency Service. Nutr
Clin Pract 2017; 32(4):526-532.
10 – Reber E, Gomes F, Vasiloglou MF, Schuetz P, Stabga Z. Nutritional Risk Screening and
Assessment. J. Clin. Med. 2019, 8, 1065.
11 - Raslan M, Gonzalez MC, Gonçalves MC, Paes-Barbosa FC, Cecconello I, Waitzberg DL.
Aplicabilidade dos métodos de triagem nutricional no paciente hospitalizado. Revista de
Nutrição, v.21, n.5, p.553-561, 2008.
13 - Barbosa, AAO, Vicentini AP, Langa FR. Comparação dos critérios da nrs-2002 com o
risco nutricional em pacientes hospitalizados. Ciênc. saúde coletiva vol.24 no.9 Rio de Janeiro
Sept. 2019 Epub Sep 09, 2019.
14 - Pineda JCC, García AG, Velasco N, Graf JID, Adámes AM, Torre AM. Nutritional
assessment of hospitalized patients in Latin America: association with prognostic variables. The
ENHOLA study. Nutr Hosp 2016; 33(3):655-662.
15 - Barker LA, Gout BS, Crowe TC. Hospital malnutrition: prevalence, identification and
impact on patients and the healthcare system. Int J Environ Res Public Health. 2011;8(2):514-
27.
16 - Leite, LO, Souza CO, Sacramento, JM. Risco nutricional pelo método Nutritional Risk
Screening - 2002 de pacientes no pré-operatório em um hospital geral público da cidade de
Salvador-BA. BRASPEN J 2016; 31 (4): 311-5.
18 - Ferreira N, Zacharias T. Nutritional risk screening 2002 and ASA score predict mortality
after elective liver resection for malignancy. Arch Med Sci. 2017 Mar 1;13(2):361-369.
19 - Kondrup J, Allison SP, Elia M, Vellas B, Plauth M; Educational and Clinical Practice
Committee, European Society of Parentera and Enteral Nutrition (ESPEN). ESPEN guidelines
for nutrition screening 2002. Clin Nutr. 2003;22(4):415-21.