Políticas Públicas em Saúde

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POLÍTICAS PÚBLICAS

EM SAÚDE
Professor(a) Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett
REITORIA Prof. Me. Gilmar de Oliveira
DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Prof. Me. Renato Valença
DIREÇÃO DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Me. Daniel de Lima
DIREÇÃO DE ENSINO EAD Profa. Dra. Giani Andrea Linde Colauto
DIREÇÃO FINANCEIRA Eduardo Luiz Campano Santini
DIREÇÃO FINANCEIRA EAD Guilherme Esquivel
COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Profa. Ma. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Profa. Ma. Luciana Moraes
COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Me. Jeferson de Souza Sá
COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal
COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E PROCESSOS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EAD Profa. Ma. Sônia Maria Crivelli Mataruco
COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS Luiz Fernando Freitas
REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Caroline da Silva Marques
Eduardo Alves de Oliveira
Jéssica Eugênio Azevedo
Marcelino Fernando Rodrigues Santos
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Bruna de Lima Ramos
Hugo Batalhoti Morangueira
Vitor Amaral Poltronieri
ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz
DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira
Carlos Henrique Moraes dos Anjos
Kauê Berto
Pedro Vinícius de Lima Machado
Thassiane da Silva Jacinto

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

S927p Mirian Aparecida Micarelli


Política pública em saúde/ Mirian Aparecida Micarelli
Struett. Paranavaí: EduFatecie, 2023.
94 p.: il. Color.

1. Saúde pública - Brasil. 2. Sistema Único de Saúde. 3.


Saúde suplementar. I. Centro Universitário UniFatecie.
II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título.

CDD: 23. ed. 614.0981


Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577

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são oriundas dos bancos de imagens
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obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la
de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
AUTOR

Professor(a) Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett

Possui graduação em ADMINISTRAÇÃO pela UNIVERSIDADE ESTADUAL DE


MARINGÁ (2001) e mestrado em ADMINISTRAÇÃO EM GESTÃO DE NEGÓCIOS pela
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ (2005). É funcionária pública estadual desde
1992 no HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL DE MARINGÁ. Já coordenou equipes
na área de Imaginologia (Radiologia, Tomografia e USG), realizou Estatística Hospitalar e
atualmente é gestora de contratos e atas de registro de Preços e Convênios Federais, pes-
quisadora da Universidade Federal de Minas Gerais na área de Sistemas de Informação e
Contabilidade Gerencial, é professora titular do Centro de Ensino Superior de Maringá - EaD
40 e da Pós Graduação da UniCesumar. Tem experiência na área de Administração Pública
e Privada e atua como docente nas áreas de Gestão Hospitalar, Gestão de Hotelaria e Estru-
tura Hospitalar, Gestão da Qualidade e Certificação Ambiental, Administração voltada para a
Gestão Pública, Sustentabilidade e Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável,
Segurança no Trabalho Hospitalar e Conceitos da Administração e Ética Empresarial.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/3388750064285917

3
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Prezado(a) estudante!

É com muita satisfação que apresento a você, a disciplina de “Políticas Públicas


em Saúde”, na qual o principal objetivo é a apresentação das políticas públicas de saúde
no Brasil, partindo do contexto sócio-histórico de atenção à saúde pública. Estudo de as-
pectos gerais do funcionamento e estrutura do Sistema Único de Saúde e regulamentação
da saúde suplementar.
Desta forma, na Unidade I com o tema “Políticas Públicas em saúde: definição e
histórico”, será conceituado e contextualizado historicamente o início das Políticas Públicas
de Saúde no Brasil e quais são as principais questões de saúde formuladas para atender à
sociedade nesta área, dando uma ênfase especial ao Sanitarismo Campanhista do século
XX e apresentando a criação e o desenvolvimento do Ministério da Saúde. Por fim, procu-
raremos entender como se deu a luta pela democratização do acesso à saúde.
Na Unidade II, com o tema “Sistema Único de Saúde - SUS”, conceituaremos e
compreenderemos o que representa o Sistema SUS, conheceremos seus antecedentes
históricos, caminhando até criação do SUS com a Constituição Federal de 1988. Em se-
guida, descreveremos sobre a Lei Orgânica da Saúde 8080 e 8142 de 1990, buscando
compreender seus princípios e diretrizes e ao final desta unidade compreender o princípio
da universalização do acesso à Saúde, traçando alguns dos avanços e obstáculos da im-
plantação e implementação do sistema SUS.
Em seguida, na Unidade III, com o tema “Organização e Estrutura do SUS”, para
compreendermos um pouco mais sobre como o SUS é organizado e qual é a sua estrutura
atual, vamos tratar sobre os princípios organizativos, descentralização, regionalização e
hierarquização no SUS, na qual finalizamos a unidade apresentando como se dá a atenção
primária, secundária e terciária de assistência à saúde no SUS.
Por fim, na Unidade IV, com o tema “Saúde Suplementar e órgãos Reguladores”,
finalizaremos a última parte de livro compreendendo sobre a representatividade da Saúde
Suplementar em nosso País, dando uma ênfase especial aos órgãos reguladores existen-
tes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS).
Portanto, prezado(a) estudante, vamos à leitura deste livro!

4
SUMÁRIO

UNIDADE 1
Políticas Públicas em Saúde:
Definição e Histórico

UNIDADE 2
Sistema Único de Saúde (SUS)

UNIDADE 3
Organização e Estrutura do SUS

UNIDADE 4
Saúde Suplementar e
Órgãos Reguladores

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1
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UNIDADE

POLÍTICAS PÚBLICAS
EM SAÚDE: DEFINIÇÃO
E HISTÓRICO

Professor(a) Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett

Plano de Estudos
• Políticas Públicas em Saúde: definições e histórico;
• Definições de Políticas Públicas em Saúde;
• Sanitarismo campanhista do início do século XX;
• Ministério da Saúde: criação e desenvolvimento;
• Lutas pela democratização do acesso à saúde.

Objetivos da Aprendizagem
• Conceituar e contextualizar Políticas Públicas em Saúde;
• Apresentar algumas definições dadas as Políticas Públicas em
Saúde;
• Compreender como se deu o Sanitarismo campanhista do século
XX;
• Apresentar a criação e o desenvolvimento do Ministério da Saúde;
• Entender como ocorreu a luta pela democratização do acesso à
saúde.
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a)!
Na manutenção da vida e da saúde humana na maioria das vezes, o próprio indi-
víduo desconhece os mecanismos para a sua preservação. Por isso, é preciso conhecer
o sistema que leva a esse direcionamento. As políticas públicas em Saúde vinculam-se às
necessidades que a população tem em relação à saúde.
Em algum momento de nossa vida, necessitamos de um atendimento relacionado
à saúde. Praticamente, essa necessidade já se inicia muito antes mesmo do nosso nas-
cimento, quando, por exemplo, há a necessidade de se fazer o exame diagnóstico para a
constatação da gravidez, de calcular o tempo de gravidez e da data provável do nascimen-
to. Desta forma, desde o nascimento até o nosso óbito, há a necessidade e a busca por
cuidados relacionados à saúde.
É muito comum relacionarmos a saúde pública ao Sistema Único de Saúde (SUS),
na qual se vinculam diversos tipos de necessidades provenientes da população que nem
sempre são atendidas imediatamente, principalmente por causa da grande procura por esse
atendimento que tem como principal característica a gratuidade. Mas, nem sempre foi assim.
Portanto, para entendermos como chegamos ao que conhecemos hoje, inicialmen-
te vamos traçar a trajetória política do Brasil com o objetivo de contextualizar as Políticas
Públicas em Saúde, apresentando suas principais definições. Em seguida, será apresen-
tado sobre o tema sanitarismo campanhista bem como da criação e o desenvolvimento
do Ministério da Saúde. Ao final desta unidade, apresento a você os principais fatos, mais
relevantes na luta pela democratização ao acesso à saúde.
Importante salientar, que a compreensão deste tema é de fundamental importância
para balizar o vosso conhecimento, e servir de suporte para a sua compreensão dos próxi-
mos temas tratados nas unidades deste livro.
Portanto, prezado(a) aluno(a), desejo a você, uma boa leitura e aprendizado.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 7


1
TÓPICO

POLÍTICAS PÚBLICAS EM
SAÚDE: DEFINIÇÕES E
HISTÓRICO

A Saúde Pública como um serviço gratuito foi assegurada pela legislação a partir da
Constituição Federal de 1988. Para entendermos como a saúde pública brasileira, chegou
ao atendimento gratuito e outras formas de atuação como conhecemos hoje, é preciso
conhecer sua trajetória política historicamente.
A Saúde Pública, se configura como Política Nacional, pautado na dimensão políti-
ca e social. Para Lechopier (2015, p. 210), ela é considerada “tanto uma disciplina científica
como um campo de políticas e ações relacionadas com a saúde da população”.
De acordo com Hack (2019), algumas iniciativas na área da saúde pública ocorre-
ram após a vinda da corte Portuguesa ao Brasil em 1808. A elite era atendida por médicos
formados no exterior enquanto o restante dos cidadãos era atendido por pajés e curan-
deiros. Assim, as primeiras ações públicas eram restritas a poucos profissionais, como
médicos, farmacêuticos e o controle dos portos. Somente no início do século XX, é que as
ações governamentais começaram a ocorrer principalmente relacionadas ao combate de
epidemias e a algumas iniciativas de saneamento. Outras ações na área da saúde eram
realizadas por profissionais de saúde com caráter de filantropia.
Sobre os antecedentes do Sistema Único de Saúde (SUS) - tema este que retrata o
período da Administração Portuguesa e do início das Políticas Públicas na época da saúde do
Império, da saúde da República e da institucionalização da Saúde Pública no Brasil até a cria-
ção do SUS - será descrito mais resumidamente na Unidade 2, tópico 2 do nosso livro didático.
Antes de compreendermos a definição de Políticas Públicas em Saúde, precisamos
compreender o termo “Políticas Públicas” e posteriormente, o da “Saúde Pública”. O Estado

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 8


como promotor do bem-estar da sociedade deve promover diversas ações e atuar nas mais
diversas áreas. Como por exemplos: na área da educação, na área da saúde, na área do
meio ambiente, dentre outras.
Para conseguir atender à sociedade e promover o bem-estar utiliza-se das Políticas
Públicas.
De acordo com SOLHA (2014, p. 71) Políticas Públicas representam:

[...] diretrizes para nortear as ações em determinada área da vida social. Sua
formulação envolve a discussão de vários atores da sociedade: governo,
legisladores, representantes de associações civis e de setores produtivos
(comércio, indústria, transporte, entre outros), resultando em um consenso.
Várias de suas proposições podem virar leis. Um bom exemplo, é a política
Nacional do Idoso, que prevê ações que vão desde a assistência à saúde
dessa população até a gratuidade do transporte público.

As Políticas Públicas, representam as ações e as decisões do Estado, voltadas


para a solução de problemas presentes na sociedade. Conforme os autores Simões et
al. (2008, p.5), “são a totalidade de ações, metas ou planos que os governos (nacionais,
estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse
público” e [...] “são definidas pelos governos e não pela sociedade”, principalmente porque
as demandas da sociedade, representada pelos grupos organizados por exemplos, os Sin-
dicatos, Associações, dentre outros, não conseguem se expressar de forma integral, por
exemplos, por conta da diversidade (idade, religião, etnia, gênero, aspirações, etc), bem
como da limitação dos recursos públicos, ora escassos ou limitados.

Para Lopes (2019) “Para que serve um Estado Democrático, se a liberdade e os direitos são outorgados sob
pressão?”

O interesse público refletido pelos grupos gera disputas entre si, cabendo aos
formuladores de políticas públicas compreender e selecionar essas demandas e solicita-
ções maximizando o bem-estar da sociedade, uma vez que não poderá atender a todos
os grupos. Seus principais atores são: os estatais (políticos e servidores públicos) e os
privados, ou seja, a sociedade civil que não possuem vínculo com a estrutura do Estado
representados por Sindicatos, Centros de pesquisa, Grupos de pressão ou de interesse,
dentre outro (SIMÕES ET AL., 2008).

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 9


De acordo com Vasconcelos (2000) apud Borges (2002), a Saúde Pública faz parte,
ou seja, é parte integrante das Políticas Públicas definidas como de responsabilidade pública
e como direito social, ou seja, é entendida como política de proteção às pessoas. Envolve
a compreensão da vida comunitária, dos seus costumes, diversidade e sociabilidade, enfim
ela surge no momento da necessidade de assistência e proteção à saúde de pessoas. Já
para Lopes (2019, p. 97) a ação objetiva ainda “a promoção, a proteção e a recuperação
da saúde dos indivíduos”.
Segundo Lopes (2019), os diversos atores da sociedade (Estado, pessoas, famílias e
empresas) desempenham cada qual o seu papel. O Estado é considerado uma instituição po-
lítica, já o governo tem a função de controlar as ações do Estado, utilizando os seus recursos
da melhor forma. Se por um lado, temos a democracia emanada pelo povo - que estabelece
confronto e debate, por outro temos o desinteresse e a desmobilização dos políticos.
De acordo com Winslow (1920) Apud Lechopier (2015, p. 209), para se atingir os
objetivos da saúde pública, ou seja, “prevenir doenças, prolongar a vida e promover a
saúde” os meios são:

(1) a sanitarização do ambiente; (2) o controle das infecções transmissíveis;


(3) a educação individual da higiene pessoal; (4) a organização de serviços
médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e o tratamento preven-
tivo de doenças; (5) construir a maquinaria social para assegurar a todos um
padrão de vida adequado para a manutenção da saúde.

Como podemos observar, os quatro primeiros itens estão relacionados à Saúde,


entretanto o último item não é unicamente sanitário, mas sim envolve outros dois campos,
a política e social. Por isso a saúde pública não é considerada somente como um campo
para acesso à satisfação das necessidades de saúde e recursos, mas também um campo
político em resposta a essas necessidades, incluindo também uma maior participação do
cidadão (LECHOPIER, 2015).
Para Solha (2014, p. 71) “as políticas públicas sempre estiveram relacionadas ao
momento histórico [...] modificada ao longo dos séculos XX e XXI, mas foi a partir de 1990
que houve uma aceleração deste processo”. Segundo Lopes (2019), o Sistema Único de
Saúde (SUS), instituído pela Lei n. 8090/90 reflete o desejo de seus legisladores, buscando
nada mais do que reduzir a exclusão das comunidades necessitadas, na área da Saúde.
Nesse sentido, vamos conhecer quais são essas Políticas Públicas implementadas
e desenvolvidas voltada às questões específicas, em sua maior parte com foco nas ques-
tões da saúde trazendo diversas responsabilidades aos gestores nos três níveis de Gestão:
Federal, Estadual e Municipal.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 10


2
TÓPICO

DEFINIÇÕES DE POLÍTICAS
PÚBLICAS EM SAÚDE

Solha (2014) categoriza as Políticas Nacionais em Saúde em:


• Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) promulgada pela Portaria n.2488
de 21/10/2011;
• Política Nacional de Atenção Hospitalar (PNHOSP) promulgada pela Portaria
n.3390 de 30 de dezembro de 2013;
• Política Nacional de Atenção às Urgências (PNAU) promulgada pela Portaria
n.1600 de 7 de julho de 2011;
• Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) promulgada pela portaria
n.687 de 30 de março de 2006;
• Política Nacional de Humanização em 2003;
• Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) lançado em
1984;
• Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança - PNAISC - Saúde da
Criança e do Adolescente em 2015;
• Política Nacional de Atenção à Saúde Integral do Homem (PNASIH);
• Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) em 2006;
• Política Nacional de Medicamentos - Assistência Farmacêutica - trajetória histó-
rica desde a criação da CEME até Portaria de 2012 com a criação do Programa
Farmácia Popular do Brasil.
Para Hack (2019), o alcance das políticas públicas para a sociedade na área da
saúde, ou seja, considerando o direito à saúde e o próprio SUS, podem ser destinadas a

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 11


públicos específicos na promoção à saúde e categorizadas por tipo de atendimento, quais
sejam: 1. Promoção a saúde de Públicos específicos, 2. por Tipos de Atendimentos, e, 3.
Políticas da Humanização:

1. Promoção a saúde de Públicos específicos: contemplam a Saúde da popula-


ção Indígena, Saúde da Mulher, Saúde do Homem, Saúde da Criança e a Saúde da Pessoa
Idosa, além de outros como jovens e adolescentes, pessoas com deficiência, no sistema
prisional, população negra e do campo e da floresta:

1.1 Saúde Indígena


Segundo a Constituição Federal de 1988, essa população é reconhecida como
singular por seu tipo de organização formal, costumes, linguagem, etc. As especificidades
desse atendimento estão previstas na Lei nº 8080/1990, conhecida como Lei Arouca, altera-
da em 1999, e junto ao Decreto nº 3.156/1999 dispõem sobre as condições de atendimento
para esta categoria pelo SUS. Em 2002, o Ministério da Saúde aprova, por meio da Portaria
nº 254, a Política Nacional à Saúde dos Povos Indígenas, reconhecendo que esta categoria
tem especificidades culturais, comunitárias e epidemiológicas próprias, bem como existem
diversas comunidades reconhecidas e respeitadas.
Devido às especificidades dessas comunidades é preciso capacitar as equipes,
promovendo integração intercultural e assegurando a integralidade do direito à saúde. Exi-
ge também uma participação popular indígena no planejamento e avaliação dos serviços
prestados. Neste sentido, o controle social deve ser exercido nos conselhos de saúde.

1.2 Saúde da Mulher


A sua saúde está relacionada à maternidade (fertilidade, gestação, etc.), riscos de
doenças com maior agravo, condições culturais e sociais vivenciadas, como por exemplo,
violência doméstica ou sexual.
Na Lei 8080/90 está subscrito o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato com direito
à acompanhante. Amparada pelas Leis: 11.664/2008 (câncer na mulher), 11.634/2007 (direitos
da gestante),11.340/2006 (violência doméstica e familiar), 11.1008/2005 (altera a lei 8080/90
parturientes), 10.778/2003 (notificação compulsória) e 9.263/1996 (planejamento familiar).
Em 2004, o Ministério da Saúde formulou a Política Nacional de Atenção à Saúde
Integral da Mulher envolvendo diversas questões como por exemplos: o atendimento quali-
ficado, às especificidades de subgrupos populacionais (mulheres negras, presidiárias, etc.),
a superação dos limites da saúde reprodutiva e sexual e a promoção da saúde da mulher.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 12


1.3 Saúde do homem
A Saúde do Homem tem demandas relacionadas às doenças de maior incidência,
causas de morte as de reprodução cultural. A Portaria n. 1944 institui a Política Nacional
de Atenção Integrada à Saúde do Homem (doenças crônicas, as relacionadas à violência
e indicadores de menor expectativa de vida em relação às mulheres), buscando integração
com as políticas das mulheres, adolescentes e idosos e o investimento e promoção e pre-
venção do homem na APS (atenção primária em saúde), evitando seu agravamento.

1.4 Saúde da criança


Direito à Saúde e universalização pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA,
Lei n. 8069/90, que define os direitos da população até 18 anos (crianças entre 0 e 11 anos
e adolescentes de 12 até 18 anos), quanto aos direitos fundamentais (vida e saúde, liber-
dade, dignidade e respeito, convivência familiar e comunitária, cultura, esporte e lazer, e,
profissionalização e proteção no trabalho) e proteção, promoção e recuperação da saúde
desde a gestação, com prioridade de atendimento em relação ao adulto, com exceção
durante o período gestacional, ou seja, são ações transversais compreendendo mãe e filho.
Em 2015, dado às demandas diversas, é instituído a Política Nacional de Atenção
Integral à Saúde da Criança - PNAISC com o objetivo de promover e dar proteção à criança
e o aleitamento materno, com cuidados desde a gestação até os 09 anos, buscando reduzir
a morbimortalidade. Também protegendo a criança em situações de violência, bem como
dos adolescentes com fatores de riscos para a saúde, bem-estar e vida. Desde 2005, a
Portaria n. 1.968, já prevê obrigatoriedade na notificação ao Conselho Tutelar para casos
de maus-tratos (aspectos físicos, mental e social).

1.5 Saúde da Pessoa Idosa


Expressa na premissa do envelhecimento saudável e ativo, há um conjunto de
demandas nesta área: maior incidência de doenças, acompanhamento das doenças
crônicas e tratamento de doenças, tendo como referencial o Plano de Madri (sob a ótica
de sua contribuição para a sociedade) e o Estatuto do Idoso fundamentado pela Lei n.
10.741/2003. Em 2006, é instituída pela Portaria n.2.528 a Política Nacional de Saúde à
Pessoa Idosa, considerados ainda como grupos prioritários na implementação da Rede de
Atenção à Saúde - RAS.

2. Por Tipos de Atendimentos: contempla os atendimentos na Saúde Mental,


Saúde Bucal e Atenção Farmacêutica.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 13


2.1 Saúde Mental
Antes privilegiado pelo Internamento, a partir da Lei n. 10.216/2001 tem como
modelo a atenção psicossocial, alinhada a direitos humanos, superação de preconceitos,
reconhecimento (identidade, autonomia e participação), redefinindo o modelo de atenção
anterior, focado em atendimento para reinserção social e o direito à convivência familiar e
comunitária, bem como com novos espaços de atendimento por exemplos o ambulatório
(hospital-dia) e os centros de atenção psicossocial (Caps).
Essa Reforma Psiquiátrica rompe com o modelo anterior, o manicomial (ofertar
cuidados, muitas vezes traduzidas em maus-tratos e controle de diferenças), envolvendo
a reorganização dos hospitais e leitos psiquiátricos orientadas pela Portaria n. 251/2002,
implementando o programa De volta pra Casa (reintegração social) e de novos espaços de
saúde básica e ambulatorial, tipo o Caps, com fortalecimento na perspectiva de redes com a
Portaria n. 3.088/2011, a Rede de Atenção Psicossocial - RAPS. Esse atendimento pressupõe
ainda a reinvenção da cidadania, onde esses indivíduos são compreendidos como sujeitos
sociais e políticos além da transformação epistemológica (processo de repensar, desconstruir
e reconstruir conceitos), técnico-assistencial (organização e cuidados), jurídico-política (nor-
malização dos termos) e sociocultural (abrange toda a sociedade). Esse modelo ainda é frágil
e existem muitas resistências apesar do intenso movimento de luta antimanicomial.

2.2 Saúde Bucal


O atendimento odontológico é feito em Unidades Básicas de Saúde - UBS, com
equipes atuando no tratamento dentário além de promoção e prevenção. O Ministério da
Saúde em 2003, lançou a Política Nacional de Saúde Bucal, estabelecendo diretrizes para
as ações de promoção e proteção à saúde bucal (informação e água fluoretada) com pers-
pectivas de recuperação, evitando o agravamento dos problemas de saúde e reabilitação
(integral e parcial) com desenvolvimento em níveis destacando que o campo prioritário de
atendimento é a APS, reconhecendo a especificidade da criança e adolescente, adultos,
idosos e gestantes, estabelecendo investimentos nos centros de referência de especialida-
des odontológicas - Creos em nível secundário e terciário de atenção, organizados de forma
regionalizada para atendimentos cirúrgicos periodontais, dentística de maior complexidade,
dentre outros, preservando a gratuidade e integralidade, disponibilizando inclusive, órteses
e próteses, exames diagnósticos e medicamentos necessários.

2.3 Atenção Farmacêutica


Apesar de muitos não saberem, todo cidadão tem direito à medicação para o seu
tratamento e recuperação à saúde. Entretanto, não é a todo tipo de medicamento disponível

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 14


em razão de livre escolha, mas atrelado a sua necessidade e disponibilidade nos diferentes
níveis de atenção. Em 1971, é criada a Central de Medicamentos (Ceme), vinculado ao Mi-
nistério da Previdência e Assistência Social e após ao Ministério da Saúde. Inicia-se assim
a distribuição de medicamentos, com diversas fragilidades como a falta de adequação às
necessidades regionais, desperdícios de investimentos em alguns tipos de medicamentos,
dentre outros problemas de logística e distribuição, lacunas para os medicamentos de alto
custo, prazo de validade, etc.
O novo formato composto pela Política Nacional de Medicamentos (Portaria n.
3.916/1998) e pela Política Nacional de Assistência Farmacêutica, de 2004, envolve todas
as esferas e gestores alinhadas a diretrizes para os medicamentos relacionados a adoção
de medicamentos essenciais, regulamentação sanitária, reorganização da assistência, pro-
moção do uso racional e da produção, desenvolvimento científico, tecnológico e capacitação
de recursos humanos, garantia de segurança, eficácia e qualidade desses medicamentos.
Na revisão dos medicamentos essenciais, está a Rename disponibilizado a lista
oficial, atualizando constantemente os medicamentos a partir da lógica do SUS. Em 2005
é criada a comissão Comare (Comissão técnica e multidisciplinar da Rename). Em 2017,
por meio da portaria n. 1.897, é publicada a nova versão (classificação por níveis de com-
plexidade e alfabética conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde - OMS),
substituindo a de 2014, com gestão compartilhadas entre as federações e/ou por tipo de
componentes, compreendendo os componentes: básico (Cbaf), estratégico (Cesaf) e
especializado (Ceaf), e insumos e uso hospitalar.
Embora haja a fundamentação legal (cobertura universal, integral e de qualidade) o
que vemos ainda é a negação do direito, a omissão dos gestores, o não acesso aos medi-
camentos e insumos, fazendo com que a população busque por meio de ações judiciais a
exigibilidade de seu direito.

3. Política Nacional da Humanização - PNH


Proposta em 2003, tem como objetivo humanizar os processos de gestão e assistên-
cia na área da Saúde evidenciadas na implementação do SUS, propondo principalmente o
fomento à comunicação entre os componentes humanos, no intuito de melhorar o processos,
por meio de: princípios, métodos, diretrizes e dispositivos que servem de orientação para a
prática dos princípios da Humanização, quais sejam (BRASIL, 2011d APUD HACK, 2019):

3.1 Princípios - transversalidade, indissociabilidade na atenção e gestão, protago-


nismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos;

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 15


3.2 Métodos - tríplice inclusão, inclusão dos diferentes sujeitos, analisadores so-
ciais e do coletivo;

3.3 Diretrizes - clínica ampliada, co-gestão, acolhimento, valorização do trabalho


e trabalhador, defesa dos direitos dos usuários, fomento à grupalidades, coletivos e redes,
construção da memória SUS que dá certo;

3.4 Dispositivos - Grupos de trabalho e Câmara Técnica de Humanização, colegia-


do gestor, contrato de gestão, escuta qualificada para usuários e trabalhadores da saúde,
visita aberta, direito a acompanhante, programa de formação do trabalhador e comunidade
ampliada de pesquisa, equipe transdisciplinar de referência e apoio matricial, projetos co
geridos de ambiência, acolhimento com classificação de riscos, projeto terapêutico singular
e de saúde coletiva, projeto memória do SUS que dá certo.
De acordo com Hack (2019), os resultados pretendidos e alcançados na PNH
está diretamente atrelada a Qualidade na prestação dos serviços da saúde, ou seja, visa
diminuir filas e agilizar o atendimento, melhorar o fluxo de informação, maior resolutividade
do serviço na área da saúde, melhores condições de vida para o trabalhador e para o
usuário do serviço SUS, garantir os direitos dos cidadãos, dentre outras formas de melhorar
continuamente a prestação dos serviços na área da saúde.
As políticas públicas de saúde no Brasil estão relacionadas a diversos momentos
históricos envolvendo descobertas científicas, a situação econômica e questões sociais, na
qual a saúde do sistema Brasileiro passa por diversas fases, sendo modificada ao longo
dos séculos e visando a sua qualificação até o momento que conhecemos hoje com a
implementação do SUS (SOLHA, 2014).
No nosso próximo Tópico, vamos continuar essa trajetória histórica, dando conti-
nuidade aos investimentos na área da saúde, e a criação dessas políticas, que se estabele-
ceram como prioridade, porém visando o desenvolvimento econômico, no século XX.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 16


3
TÓPICO

SANITARISMO
CAMPANHISTA DO
INÍCIO DO SÉCULO XX

De acordo com Oliveira (2016, p.1), no século XX, o Estado investiu em imunização
para evitar o alastramento das doenças, ou seja, o Estado torna “a vacina obrigatória,
cujas intervenções eram impostas com severidade, transformando-se em caso de polícia”.
Além da preocupação em relação às exportações, a outra preocupação eram os imigrantes,
utilizados como mão de obra escrava, pois o seu adoecimento interferiria diretamente no
desenvolvimento econômico, principalmente nas regiões urbanas.
Nesta época, as doenças como varíola e a hanseníase eram as que traziam maior
atenção, por conta da forma de contágio, mas havia também a febre amarela e a malária.
Neste sentido as intervenções do governo eram a partir de campanhas, imunização e con-
trole sanitário, principalmente porque elas aumentavam devido às condições insalubres de
moradia e no espaço de trabalho. Esse modo de intervenção autoritária ficou conhecido
como Modelo Campanhista ou Sanitarismo Campanhista, devido às estratégias de
atuação muito semelhante à atuação de campanha dos militares (HACK, 2019).
Uma frase muito conhecida em nossos dias, e não obstante à época, era de que
“os fins justificavam os meios”. De acordo com Polignano (2001) Apud Hack (2019, p.23), “o
uso da força e da autoridade eram legitimados”, ou seja, o governo ordenava, e por força da
rigidez da lei os agentes de saúde, munidos de poder de polícia entravam nas residências
e vacinavam os moradores.

Na história das políticas públicas prevalece os interesses de mercado, pois eles se sobressaem às
necessidades da população. E, permanece desta forma na atualidade?
Fonte: A autora (2020)

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 17


Segundo Hack (2019), uma das ações mais conhecidas historicamente foi a vaci-
nação contra varíola em 1904, que ocorreu de forma compulsória, levando a uma revolta
da vacina, na qual os cidadãos negavam-se a ser vacinados. E porque essa revolta? A
explicação seria pela ignorância de que o processo de imunização poderia assegurar saúde
às pessoas ou porque ocorria de forma totalmente desvinculada de um processo de educa-
ção? Ou por conta da falta de um esclarecimento sobre a necessidade desta imunização?
Ou ainda, por causa das consequências deste procedimento?
Nesta época, até mesmo para se conseguir um emprego, ser matriculado em uma
escola ou habilitar documentos ou ainda viajar, era indispensável a apresentação da car-
teira de vacinação. Fato este, não diferente do que ainda ocorrem em algumas instituições
de ensino de nosso país ou quando vamos viajar para um ou outro país. Com o movimento
violento, segundo a Fiocrus (2005) Apud Hack (2019), a vacina deixou de ser obrigatória,
mas apesar da queda, houve demanda espontânea em anos posteriores a epidemia de
Varíola se tornou grave. Ainda segundo Hack (2019):
• Em 1918 com a gripe espanhola, evidencia-se a fragilidade do sistema de saú-
de, na qual foi criada a Liga Pró-Saneamento buscando uma reforma pela saúde,
pois se tornava um entrave para o desenvolvimento do País;
• Na mesma época, é criado o serviço de medicamentos para combater as ende-
mias da época e fortalecer o ministério responsável pela gestão; e
• Em 1921 há a expansão dos serviços de saúde para o capital internacional.

A atitude do Estado se torna mais agressiva principalmente quando há o contágio


de Lepra e Tuberculose, cujas internações eram compulsórias, exigindo o afastamento do
doente, levando-os à exclusão social, se traduzindo como desrespeito à dignidade humana.
Registrava-se em alguns casos, fragilidades nos diagnósticos, levando pacientes a serem
internados em Sanatórios, com diagnósticos de doenças mentais, por interesses privados,
significando uma forma de controle da sociedade (HACK, 2019).

O Hospital Colônia de Barbacena (MG) tornou-se conhecido como o “Holocausto Brasileiro”, dado às inúmeras
violências e mortes ocorridas no estabelecimento. O livro tem como título: Holocausto Brasileiro: vida, genocídio e
60 mil mortes ocorridas no maior hospício do Brasil, e o documentário, de 2016, chama-se Holocausto Brasileiro.
Fonte: HACK, 2019.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 18


4
TÓPICO

MINISTÉRIO DA
SAÚDE: CRIAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO

O Ministério da Saúde foi criado em 1953 por Getúlio Vargas, a partir da Lei n. 1920.
Até então o Ministério da Saúde era parte do Ministério da Saúde, Educação e Cultura,
com a finalidade de organizar e formular planos e programas voltados para a promoção, a
prevenção e a assistência à saúde da população (OLIVEIRA, 2012).
De acordo com Oliveira (2012, p. 37), os acontecimentos no âmbito da saúde,
considerados significativos está relacionada à “criação do Ministério da Saúde em 1953
e a reorganização dos serviços de controle das endemias rurais” [...], pois eles são rela-
cionados [...] “a política de saúde pública da prevenção de doenças transmissíveis” [...] e
previdenciária, que era restrita aos contribuintes e seus dependentes.
De acordo com Borges (2002, p. 3) até a década de 60, “a assistência à saúde carac-
terizou-e basicamente pelo modelo médico-sanitário com duas vertentes bastantes distintas”,
sendo: 1 - epidemiológica - pautada unicamente no controle de doenças em escala social e,
2 - clínica - oferecer atendimento médico a quem fizesse parte do sistema previdenciário.
De acordo com Oliveira (2012), o Ministério da Saúde já passou por diversas re-
formas, buscando sua estruturação. Em 1974, por exemplo, englobava as secretarias de
Saúde e de Assistência Médica, passando a formar a Secretaria Nacional de Saúde.
Com a exclusão de determinados segmentos da saúde no atendimento público e
diversos problemas relacionados às questões econômico sociais, alguns profissionais se
mobilizam, dentre eles, políticos, sindicalistas, etc., trazendo novas formas de pensar a
saúde pública, que se fortaleceu com o movimento sanitário da década de 70, denominado

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 19


movimento sanitário, cujos principais locais destes eixos norteadores foram as universida-
des, onde a saúde era discutida criticamente.
É nessa época, que as discussões giravam em torno da saúde pública do país,
tratando sobre temas como a participação popular, a democratização das condições de
trabalho, a humanização no atendimento, ou seja, buscar a resolutividade.
Para Borges (2002, p. 5) “o subsistema público foi se tornando cada vez mais
precário” e foi nesta base de conflitos que foram [...] “se fortalecendo os movimentos em
defesa da reforma Sanitária” levando a “aprovação do SUS no final da década de 80”. Ainda
segundo o Borges (op. cit.), o movimento da Reforma, buscou também a democracia, e foi
com a realização do Simpósio Nacional de Políticas de Saúde em 1979, que se propuseram
novas orientações na área da saúde, já pensando na integralidade e descentralização da
saúde, porém não se priorizou essas novas propostas nesta época.
Somente na década de 80, a partir da Constituição Federal de 1988, determinou-se
que era o dever do Estado garantir saúde a toda a população, época, da criação do Sistema
Único de Saúde (SUS). Nos anos 80 e 90 se fortalece o processo de redemocratização do país
acompanhado por profundas crises nas políticas em Saúde. Nessas décadas, segundo Campos
(1997a) apud Borges (2002, p. 5), “a saúde funcionou dentro de um sistema plural, onde vários
modelos diferentes de assistência conviveram - um subsistema público, um privado e um liberal”.
Segundo Oliveira (2012), em geral, em programas de governo neoliberal, existe a
crença de que o Estado deve ser mínimo. Desta forma, cada pessoa cidadã, deveria ser
responsável pela sua saúde, afinal, é para isso que existem os planos de saúde e privados,
cabendo ao Estado apenas demandas não atendidas pelo Mercado. No Brasil, temos as
duas formas de prestação de serviços. Parte dela para o Estado, que assume geralmente
os custos mais caros não cobertos pelos Planos de Saúde e parte para o mercado privado.
Mas, a luta pela reforma sanitária, como aponta Fleury (1997) apud Borges (2002, p.5):

[...] está intimamente ligada à democracia, na medida em que havia em suas


propostas, formulações doutrinárias para o encontro de ideais igualitários e
a tentativa de transformações das políticas públicas, através da regulamen-
tação e responsabilização do Estado pela proteção à saúde dos cidadãos.

Esta época ficou caracterizada por lutas pela democratização na área da saúde,
principalmente, pela necessidade que a população tinha do acesso à saúde.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 20


5
TÓPICO

LUTAS PELA
DEMOCRATIZAÇÃO
DO ACESSO À SAÚDE

Na década de 30, segundo Côrtes et al (2009, p. 41), o Conselho era mais um órgão
consultivo do Ministério da Educação e da Saúde Pública, sendo somente na década de 90
que seu papel é redefinido como “palco central dos embates sobre a reforma do sistema
brasileiro de Saúde [...] e [...] “se torna um canal para a representação dos interesses dos
atores diante do Estado”. E, como foi essa evolução?
De acordo com Borges (2002), diversas Conferências Nacionais de Saúde (CNS),
instituídas pela Lei n.378 de 1937 em diante avaliam o desenvolvimento no campo da
saúde. Em 1963, realizou-se a III CNS e nos movimentos se reivindicava o direito Universal
a um Sistema de Saúde, buscando a melhoria do bem-estar da saúde Brasileira.
De acordo com Lopes (2019), a partir da década de 60 houve uma maior partici-
pação dos indivíduos da sociedade civil na política. Mas foi em 1986, antes da Constitui-
ção Federal de 1988, de acordo com Borges (2002) e Baptista (2007), na 8ª Conferência
Nacional da Saúde que os principais temas foram abordados, dentre eles, o direito, a
reformulação do sistema e o financiamento setorial, na qual a saúde passou englobando
outras questões importantes como: as condições de alimentação, habitação, renda, meio
ambiente, trabalho, transporte, lazer, dentre outras. Nesta época, de acordo com Baptista
(2008, p.45-45) o cenário da década de 80:

[...] iniciou-se em clima de redemocratização, crise política, social e institu-


cional do Estado Nacional. A área social e, em especial, a previdência social
vivia uma crise profunda, assumindo medidas de racionalização e reestrutu-
ração do sistema. No âmbito da saúde, o movimento da Reforma Sanitária
indicava propostas de expansão da área de assistência médica e previdên-
cia, intensificando os conflitos de interesse com a previdência social e envol-
vendo poder institucional e pressões do setor privado.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 21


Segundo os autores, Côrtez et al. (2009, p.52), até a reformulação da década de
90, o conselho era considerando um “conselho de notáveis”. A participação da sociedade
se deu em outros espaços, aparecendo em destaque a Comissão Nacional da Reforma
Sanitária com representação da população e de trabalhadores da saúde, considerado um
embrião da nova composição dos conselhos.
Para Hack (2019), o êxito da população na CF de 1988 não está atrelado apenas
ao direito à saúde, mas também à sua dimensão democrática, ou seja, à participação do
cidadão na condução política do País, pois não se trata apenas de voto, e sim de democra-
cia participativa (participação do cidadão na gestão pública) a partir da iniciativa popular,
do plebiscito e do referendo. Isso significa Controle Social (elaboração, implantação e
fiscalização) das Políticas Públicas.
Segundo Lopes (2019), uma das formas de participação, já previstos em leis e políticas
governamentais, são os conselhos gestores. Esses conselhos são formas institucionalizadas
de participação da comunidade nas políticas públicas. De acordo com Cortês et al (2009),
antes mesmo da promulgação da Lei n. 8142, o antigo conselho de saúde, já não existia mais,
o conselho continuou integrando o Ministério da saúde, porém, agora com caráter deliberativo.
Sua regulamentação, segundo Hack (2019), de forma mais específica, ocorre em
1990, com a Lei de n. 8.142 com a criação dos Conselhos (espaços permanentes e legí-
timos de discussão e tomada de decisões de conselheiros, ou seja, decisões de caráter
deliberativos, na área da saúde nos níveis Municipal, Estadual e Federal, com diversas
competências conforme Resolução n. 333/2003 do CNS-Conselho Nacional de Saúde) e
posteriormente com as Conferências em Saúde (encontros ampliados, com representantes
governamentais e da sociedade civil - delegados). Nestas conferências é que são discutidas
as políticas específicas e o desenvolvimento da política de saúde, com caráter deliberativo.

O Cidadão pode participar das assembleias dos conselhos e das conferências em saúde. Nestes espaços,
entretanto, ele pode participar apenas como ouvinte, porém tem direito à voz quando quer expressar sua
opinião, porém sem direito a voto.
Fonte: A autora (2020)

É importante salientar, conforme Lopes (2010, p.22), “para que o cidadão exerça sua
participação, deve lutar organizadamente, pela divisão de responsabilidades dentro do governo,
no intuito de instituir uma linguagem democrática não excludente” nesses espaços participativos.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 22


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Logo no início desta unidade compreendemos um pouco mais sobre as definições
de políticas públicas e políticas de saúde. Como pudemos perceber as políticas da saúde
são parte integrante das políticas públicas, entendidas aqui como ações voltadas ao campo
social orientadas pelas políticas de Estado que visam principalmente ao bem-estar público.
Neste sentido, as políticas na saúde pública visam a promover, proteger e recuperar a
saúde das pessoas em uma sociedade.
Na área das Políticas Públicas em Saúde, você pode perceber, que ela se destina
a públicos específicos como a mulher, o homem, as crianças e adolescentes, a pessoa
idosa e indígenas, bem como promove o atendimentos voltados à saúde mental, bucal e
farmacêutica, tanto na saúde básica, de atenção hospitalar, de atenção às Urgências, e de
promoção à saúde, além das políticas de Humanização.
Analisando o contexto histórico das políticas públicas, percebemos que desde 1808
com a colonização portuguesa no Brasil, já haviam ações voltadas à saúde pública, entre-
tanto as intervenções eram no sentido de evitar o alastramento de doenças contagiosas,
como por exemplo a varíola e a lepra. Neste sentido, as intervenções governamentais eram
realizadas por meio de campanhas, imunização e controle sanitário, de modo autoritário,
ou seja, com uma atuação semelhante à campanha dos militares sendo conhecida como
modelo campanhista ou sanitarismo campanhista.
Até chegar ao modelo de saúde que conhecemos hoje, a saúde pública passou
por diversas reformas, desde a criação do Ministério da Saúde, primeiro porque atuava
unicamente no controle de doenças em escala social e porque oferecia atendimento médico
a quem fizesse parte do sistema previdenciário, levando à uma precariedade da saúde
individual para boa parte da sociedade. A reforma sanitária está relacionada à integralidade
e descentralização da saúde e a democratização da sociedade, ou seja, a participação nas
políticas públicas. Isto vem a englobar outras vertentes como as condições de alimentação,
habitação, renda, meio ambiente, trabalho, dentre outros na área da saúde. Somente ao final
da década de 80, com a Constituição de 1988, que se adota o modelo de seguridade social.
Um Abraço e até a próxima Unidade!

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 23


LEITURA COMPLEMENTAR
Segundo a Organização Pan-Americana (OPAS, 2003), os problemas de saúde mais
recorrentes neste segmento populacional (Quilombolas) estão associados às desigualdades
históricas que condicionam a pobreza e reduzem o acesso aos serviços de saúde. A luta do
movimento negro possibilitou essa mudança de olhar. A Marcha Zumbi dos Palmares, ocor-
rida em 1995, resultou na criação do Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização
da População Negra. No ano seguinte, o Grupo de Trabalho realizou em Brasília a mesa-re-
donda intitulada “Saúde da População Negra”, que contou com a participação de cientistas,
sociedade civil organizada, médicos e técnicos do Ministério da Saúde, cujo relatório final
passou a fazer parte das bases conceituais sobre o assunto. Alguns anos depois, no âmbito
do Ministério da Saúde, houve a criação do Comitê Técnico de Saúde da População Negra,
por meio da Portaria nº 1.678/2004 e, posteriormente, foi instituída a Política Nacional de
Saúde Integral da População Negra, por meio da Portaria nº 992/2009.
No contexto específico das comunidades quilombolas, em 2006, o Ministério da
Saúde (MS) garantiu o acréscimo de 50% nos valores repassados por equipes de saúde a
municípios que atendessem populações quilombolas e de assentamentos de reforma agrá-
ria, conforme a Portaria nº 822/GM/MS, alterando os critérios de definição das modalidades
da Estratégia Saúde da Família. As comunidades quilombolas também foram referidas em
outros documentos, como na Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, em
2009, e na Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta,
instituída pela Portaria nº 2.866/2011.
Contudo, estudos apontam que os gestores municipais não compreendem o prin-
cípio da equidade do SUS (Sistema Único de Saúde), desconhecem a política específica
para a população negra, além de não reconhecerem a importância do acréscimo de 50%
dos valores repassados pelo governo federal aos municípios que registram atendimento às
comunidades. O movimento negro, em especial o movimento quilombola, tem contribuído
para dar visibilidade às comunidades. No entanto, por mais que a luta tenha avançado nos
últimos anos, ainda há uma invisibilidade quanto à presença das comunidades nos serviços
públicos de saúde. Esta falta de reconhecimento da presença destes grupos dificulta a
construção de uma política pública de saúde que dê conta das especificidades, bem como
impossibilita a busca dos recursos públicos para a construção desta política.
Fonte: MELLO, W.F. Comunidades quilombolas e políticas de saúde. 2017.
Texto extraído parcialmente: <https://terradedireitos.org.br/acervo/artigos/comunidades-quilombolas-e-politicas-
de-saude/22602>. Acesso em: 15 nov. 2019.

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 24


MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
• Título: Políticas e Sistema de Saúde no Brasil
• Organizadores: Lígia Giovanella, Sarah Escorel, Lenaura de
Vasconcelos Costa Lobato, José Carvalho de Noronha, Antonio Ivo
de Carvalho
• Editora: Fiocruz
• Ano: 2008
• Sinopse: Como desconhecer o que é a política de saúde, o que
é o Sistema Único de Saúde (SUS), os determinantes sociais, as
condições de saúde e as desigualdades do acesso no Brasil? Esta
obra consolida o conhecimento crítico sobre o sistema de saúde
brasileiro produzido ao longo dos últimos trinta anos. Ele inclui os
eixos de análise individual/coletivo, clínico/epidemiológico e públi-
co/privado, além de congregar autores com experiência na gestão
de serviços e do próprio sistema, nos três níveis da federação.

FILME/VÍDEO
• Título: Políticas de Saúde no Brasil: um Século de Luta pelo
Direito à Saúde
• Ano: 2006
• Sinopse: Esse vídeo, feito pelo Ministério da Saúde, aborda de
maneira leve, divertida e pedagógica, a história das políticas de
saúde no Brasil, destacando os mecanismos que foram criados
para a implantação do SUS. Sua narrativa central mostra como a
saúde era considerada, no início do século XX, um dever da po-
pulação, com as práticas sanitárias implantadas autoritariamente
pelo Estado, de modo articulado aos interesses do capital, e como,
no decorrer do século, através da luta popular, essa relação se
inverteu, passando a ser considerada, a partir da Constituição de
1988, um direito do cidadão e um dever do Estado.
• Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=L7NzqtspLpc

UNIDADE 1 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO 25


2
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UNIDADE

SISTEMA ÚNICO
DE SAÚDE (SUS)

Professor(a) Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett

Plano de Estudos
• Sistema Único de Saúde (SUS);
• Antecedentes Históricos do SUS;
• Constituição de 1988 e a criação do SUS;
• Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº 8.080/90 e nº 8.142/90;
• Universalização do acesso à saúde: avanços e obstáculos.

Objetivos da Aprendizagem
• Conceituar e contextualizar o Sistema Único de Saúde (SUS);
• Conhecer os antecedentes e Histórico do SUS;
• Compreender como se deu a criação do SUS e a Constituição de
1988;
• Conhecer os fundamentos da Lei Orgânica da Saúde;
• Compreender o princípio da universalização do acesso à saúde, os
seus avanços e obstáculos.
INTRODUÇÃO
Prezado (a) aluno (a)!
Nesta Unidade iremos aprofundar um pouco mais o vosso conhecimento sobre o
Sistema Único de Saúde (SUS). Portanto, iniciaremos com a contextualização e os conceitos
e responsabilidades no Sistema Único de Saúde (SUS), apresentando seus antecedentes
históricos buscando compreender como se deu a sua criação e como a Constituição de
1988 corrobora para sua criação. Em seguida você irá conhecer os fundamentos da Lei
Orgânica da Saúde (LOS) e compreender a relação entre a universalização do acesso à
saúde, bem como dos avanços e obstáculos do SUS.
Neste sentido, logo no início traçaremos uma visão geral do SUS, apresentando
seus princípios e diretrizes, abrangência, responsabilidades e importância na Sociedade,
bem alguns dos resultados obtidos após sua criação. Em seguida, traçaremos os antece-
dentes históricos do SUS que se inicia na saúde da Colônia e do Império, passando pela
saúde na República, Institucionalização da saúde Pública e movimento sanitário culminando
da Constituição de 1988 e na criação do SUS. A Constituição Federal é um grande marco
para a população Brasileira e nela estão presentes alguns princípios fundamentais para
garantir a Saúde das pessoas.
Dando continuidade, conheceremos um pouco do que tratam as Leis 8080 e 8142 de
1990, cujas leis que irão proporcionar um melhor entendimento sobre como o SUS irá funcio-
nar para atender aos objetivos propostos na Constituição Federal de 1988, sobre as políticas
de saúde, a participação popular e repasses de recursos para o funcionamento do SUS.
E, ao final desta unidade, trataremos sobre a Universalização da Saúde, apresen-
tando os avanços e os obstáculos no Brasil, para o atendimento deste princípio fundamental.
Portanto, prezado(a) aluno(a), desejo a você, uma boa leitura e aprendizado.

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 27


1
TÓPICO

SISTEMA ÚNICO
DE SAÚDE (SUS)

De acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS, 2011),


o Sistema Único de Saúde (SUS) é constituído por um conjunto de ações e de serviços de
saúde gerenciado pela gestão pública. Ele é organizado em redes regionalizadas e hierar-
quizadas no Brasil inteiro, com direção única em cada esfera de governo, entretanto sua
estrutura não é isolada quando se trata da promoção dos direitos dos cidadãos. Portanto as
ações do SUS fazem parte do contexto das Políticas Públicas de Seguridade social (saúde,
previdência e Assistência Social).
Algumas correntes de pensamento tratam o Sistema Único de Saúde (SUS) como
algo acabado e fazem comparações. Entretanto, ele não está acabado, pois se apresenta
por princípios e diretrizes em contínua transformação. Neste sentido, Elias (2008, p.14) de
maneira sintética descreve:

O SUS são princípios e diretrizes. O SUS fundamenta-se em três princípios:


universalidade, igualdade e equidade. A equidade como princípio comple-
mentar ao da igualdade significa tratar todas as diferenças em busca da
igualdade. As diretrizes do SUS são três: descentralização, participação da
comunidade através dos Conselhos de Saúde e o atendimento integral, ou
seja, prover as ações curativas e as ações preventivas necessárias.

As ideias que construíram o SUS foram legitimadas da seguinte forma (BRASIL,


1988 Apud SOLHA, 2014, p. 15):

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas


sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações de serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 28


A construção da saúde é de responsabilidade única do SUS ou de toda a sociedade?

Para CONASS (2011) e SOLHA (2014), este dever deve ser cumprido nas três
esferas do poder público (Federal, Estadual e Municipal) conforme estabelecido pela Lei n.
8080/90, em seu artigo 9º a direção deve ser única em cada esfera e deve contemplar a
participação da comunidade na gestão do SUS relacionadas às transferências de recursos
dentre outras providências conforme estabelecido pela Lei n. 8142/90, da qual trataremos
nos tópicos seguintes, ainda nesta unidade.
De acordo com Solha (2014, p. 15) “a construção da saúde não seria responsabili-
dade única do SUS, mas que todos os setores da sociedade devem participar ativamente [...]
pois as condições de vida são fundamentais para elevar o nível de saúde das populações”.
Em síntese, o SUS foi criado pela Constituição Federal (CF), também chamada de
“Constituinte Cidadã” em 1988, e regulamentado pelas Leis n. 8080 e 8142 de 1990. As
duas leis juntas foram a Lei Orgânica da Saúde (LOS), assunto que trataremos em outros
tópicos desta unidade e nas próximas unidades deste livro.
O SUS ao longo das últimas duas décadas, consolidou-se como a maior Política
de Estado por promover a inclusão e justiça social. Portanto, o SUS deve ofertar a todos
indistintamente “um conjunto de serviços sanitária e socialmente necessários, com base
em protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas e por meio de amplo movimento de discus-
são envolvendo os gestores da saúde na Comissão Intergestores Tripartite e o Conselho
Nacional de Saúde” (CONASS, 2011, p. 29).
A partir das definições legais da CF e da Lei Orgânica da Saúde (LOS), iniciou-se o
processo de implantação do SUS pactuado ao Ministério da Saúde, CONASS e Conasems
(Conselho Nacional das Secretarias Municipais). Todo o processo de construção do SUS,
foi orientado pelas Normas Operacionais SUS (NOB-SUS) instituídas a partir de portarias
ministeriais, para definição de competências em cada esfera e a forma de receber os repas-
ses de recursos do Fundo Nacional da Saúde, a exemplo disto, foram criadas as NOB-SUS
01/91, NOB-SUS 01/92,NOB-SUS 01/93 e NOB-SUS 01/96. Já em 2001 e 2002 foram
publicadas as NOB-SUS 01/01 e 01/02 da Assistência à Saúde. Essas normas têm como
objetivos para o SUS: induzir/estimular mudanças, aprofundar/reorientar implementação e

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 29


a definir objetivos (estratégicos, prioridades, diretrizes e movimentos tático-operacionais),
regular as relações entre os gestores e normatizar (CONASS, 2011; SOLHAS, 2014).

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo,
abrangendo desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Pri-
mária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população
do país. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de
todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando
a prevenção e a promoção da saúde. Conheça a estrutura, os princípios e funcionamento do SUS na sua
íntegra, acessando o link a seguir:
Disponível em: http://www.saude.gov.br/sistema-unico-de-saude#o-que-e

A seguir, no próximo tópico, vamos conhecer um pouco sobre os antecedentes do


Sistema Único de Saúde, que começa com a Administração Portuguesa no Brasil, demons-
trando como era a saúde na época do Império, a saúde da República até a institucionaliza-
ção da saúde pública, bem como do movimento da reforma sanitária até a criação do SUS.

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 30


2
TÓPICO

ANTECEDENTES
HISTÓRICOS
DO SUS

A Administração Portuguesa no Brasil no século XVIII, buscava o combate às cau-


sas das doenças, até então não se falava sobre saúde e sociedade, cuja finalidade médica
e do Estado era evitar a morte. A partir do século XIX inicia-se um processo de transfor-
mação econômico-política no Brasil, nascendo a medicina social com duas características
(reflexão e prática médica no meio urbano e apoio científico indispensável ao exercício do
poder do Estado). Desta forma, efetivamente no século XX iniciam-se as Políticas Públicas,
visando a enfrentar as questões sanitárias no país (CONASS, 2011):
A Saúde na Colônia e no Império
• Com a vinda da Coroa Portuguesa, a saúde na colônia e no Império iniciaram-se
na cidade do Rio de Janeiro, considerado como centro das ações sanitárias. Era
necessário criar centros de formação de médicos. Por ordem real, iniciam-se as
academias médico-cirúrgicas no RJ e na Bahia;
• Em 1829 foi criado a Junta de Higiene Pública, considerado ineficaz, em 1851
se transforma em Junta Central de Higiene Pública com objetivos de inspeção,
vacinação, controle do exercício da medicina e a política sanitária da terra en-
globando inspeção de alimentos, farmácias, armazéns de mantimentos, dentre
outros;
• Até 1850 as atividades relacionadas à saúde pública eram relacionadas às
atribuições sanitárias às juntas e o controle de navios e saúde dos portos, ou
seja, controle mínimo do capital do Império;
• A junta não resolveu totalmente a saúde pública, mas marca uma nova etapa
da higiene pública, mantida até século XIX. Esse período termina sem alcançar

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 31


os efeitos desejados, ou seja, sem que o Estado viesse a solucionar os graves
problemas de saúde.

A Saúde na República
• Com a ideia de modernizar o Brasil, a Proclamação da República em 1889,
vê a necessidade de atualizar economia/sociedade redefinindo os trabalhadores
como capital humano, e neste contexto a medicina assume papel de guia para
assuntos sanitários. Nesta época, o Brasil era mais rural e apresentava um con-
tingente de 70% de analfabetos e doentes, com intensos conflitos entre capital e
trabalho e no âmbito de políticas sociais, cabia aos Estados a responsabilidade
da saúde, saneamento e educação;
• As políticas de saúde, com início final da década de 1910, buscava a consciên-
cia política sobre o modelo sanitário a ser adotado. No início do século XX, Rio de
Janeiro, apresentava um quadro sanitário caótico com diversas doenças graves
(varíola, malária, febre amarela e a peste), levando os navios estrangeiros a não
quererem atracar no Porto do RJ. Exigia assim, uma intervenção Estatal nas
questões relativas à saúde;
• A atenção para as epidemias da cidade, como a peste bubônica de 1899, no porto
de Santos dá início a pesquisas no Instituto Soroterápico Federal, transformado
posteriormente em Fundação Oswaldo Cruz e no Instituto Butantan-SP formando
médicos com influência da pesquisa da França e Alemanha com concepção para
doenças transmissíveis e propostas de ações na política pública;
• Outros nomes como Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Arthur Neiva e Vital Brasil,
destacam-se rumo a Saúde Pública e criação de instituições com um ativo movi-
mento de reforma sanitária sob a liderança de médicos higienistas com a criação
do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 1920;
• Medidas de proteção social - assistência médica tem papel legal como política
pública em 1923 com a aprovação da Lei Elói Chaves. Nesta época, os trabalha-
dores se organizavam para lidar com problemas de invalidez, doença e morte;
• Cria-se as Caixas de Aposentadorias (CAPs), dando início a responsabilidade
do Estado pela a regulação dessas concessões de benefícios e serviços e da as-
sistência médica, sem, no entanto, participar diretamente do custeio das caixas,
ou seja, era mantido por empregados e empregadores. Somente na década de
60, o rural é contemplado com a criação do FUNRURAL.

Institucionalização da Saúde Pública


• A década de 30 (Governo Vargas) é um marco nas políticas sociais no Brasil.
Em 1937, com a promulgação da nova Constituição reforça-se o centralismo e a

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 32


autoridade (ditadura no Brasil) e na década de 40 há a imposição de um Sindicato
com exigência de pagamento de contribuição sindical;
• Em 1943 é homologada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e a massa
assalariada é o ponto de sustentação política do governo e ao mesmo tempo
criam-se a estrutura sindical do Estado;
• Em relação à Previdência Social, o antigo CAPs é substituído pelos Institutos
de Aposentadorias e Pensões (IAP). A principal mudança consistiu na criação
do Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP), fazendo a prestação de
serviços para os pré-cidadãos, ou seja, que não tinham emprego formalizado;
• Com a nova constituição de 1946, ainda no governo Vargas, inicia-se uma
experiência democrática, com estrutura em múltiplos programas e serviços de
campanhas e ações sanitárias, com novos contornos políticos/sociais até 1964.
Alguns marcos constitucionais são: a criação do ministério da saúde em 1953 e a
reorganização dos serviços do Departamento Nacional de Endemias Rurais em
1956, a campanha nacional (Lepra, malária, etc.) de 1958 a 1964, a 3ª conferên-
cia em saúde em 1963 (último evento da experiência democrática);
• No período militar (1964-84) houve o predomínio financeiro das instituições pre-
videnciárias afetando profundamente a medicina previdenciária e saúde pública;
• Em 1966 as IAPs foram unificadas como Instituto Nacional de Previdência
Social (INPS), gerenciado pelo Estado e a saúde pública é relegada a segundo
plano tornando-se ineficaz e conservadora, com atuação somente a campanhas
de baixa eficácia e diversos problemas sociais (altas taxas de mortalidade, re-
pressão política, recessão, etc.);
• Na década de 70, houve uma maior expansão da assistência médica, com a
construção e reforma de clínicas e hospitais privados financiados pela Previdên-
cia Social, com enfoque na medicina curativa. Esses repasses tornaram-se fonte
de corrupção;
• Em 1975 o modelo da ditadura militar entra em crise, por ter sido ineficaz em
solucionar os problemas coletivos de saúde (mortalidade, endemias, epidemias,
etc.), custos altos, redução de receitas, incapacidade de atendimento a todos os
marginalizados (sem carteira), desvios de verba e não repasses da União para o
sistema tripartite (empregador, empregado e união).

Movimento Sanitário
• Marcado por movimentos sociais e denúncias da situação é discutido em
Congressos, as doenças e degradação da qualidade de vida das pessoas. Em
1968 é incorporado à medicina preventiva nas faculdades, com a criação dos
Departamentos de Medicina Preventiva (DMPs);

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 33


• Há uma forte crítica aos efeitos da medicalização, com a valorização da medi-
cina tradicional, com programas alternativos de medicina comunitária focados na
atenção primária realizado por pessoal não qualificado;
• Em 78 é discutida a elitização da prática médica, e o foco passa a ser a saúde
coletiva. Houve um confronto teórico com o movimento preventivista liberal com
diálogos reformistas tendo como base conceitual correntes marxistas, já iniciada
em 1974 com críticas do regime e ressurgimento de movimento estudantil, da
anistia e do novo sindicalismo;
• O II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), denunciava a carência de
capacidade gerencial e estrutura técnica no campo social (saúde, infraestrutura
de serviços urbanos) culminando na criação do Conselho de Desenvolvimento
Social (CDS) para a criação de políticas sociais e sua legitimação, porém acabou
criando pessoas com pensamentos contrários em seu setor;
• No Governo Geisel (1974-79), houveram propostas ao movimento sanitário
privilegiando a medicina curativa e detrimento à preventiva de interesse coletivo,
propiciando assim novamente à corrupção (procedimentos cirúrgicos desneces-
sários com excessos de ações médicas para a promoção do superfaturamento);
• No Governo Figueiredo, influenciado pelo II PND do governo Geisel pareceu
mais promissor, entretanto não conseguiu concretizar a unificação dos Ministérios
(previdência e da saúde) para alcançar resultados na reforma pretendida;
• Em 1980, criou-se o Programa Pró-saúde, chamada mais tarde de Prev-saúde
(programa de atenção primária com atendimentos por nível de complexidade),
porém sem mudar significativamente a rede hospitalar privada. Apesar do para-
digma das reformas se incorporarem ao ideário do movimento sanitário, ainda
havia uma forte contestação do sistema de saúde governamental, caracterizadas
pelo apelo à democratização do Sistema, com participação popular, universaliza-
ção dos serviços, etc.;
• Em 1981 resultou o lançamento do pacote da previdência, com aumento de
alíquotas de contribuição e, neste contexto, foi criado o Conselho Consultivo de
Administração Previdenciária (CONASP) como organizador e racionalizador da
assistência médica reorientando a assistência à Saúde com as ações integradas
de saúde (AIS) por meio de convênios entre a maioria dos Estados e Municí-
pios. Apesar de todos os problemas, significou um avanço na área ambulatorial,
contratação de recursos humanos, articulação dos serviços municipais, revisão
dos serviços privados e participação da população na gestão. No advento da
Nova República, o movimento sanitário ocupa todos os espaços de discussão
articulado com lideranças políticas;

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 34


• Em 1985, chega ao fim o regime militar e aumenta a liderança do movimento
sanitário;
• Convoca-se a 8ª Conferência Nacional de Saúde(1986), com Sérgio Arouca,
Presidente da Fundação Oswaldo Cruz, momento este de reformulação mais
profunda no movimento de democratização da saúde e fortalecimento do sistema
de saúde público, criando-se um documento base o conceito de saúde como
“resultante das condições alimentação, habitação, educação, renda, meio am-
biente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra
e acesso aos serviços da saúde” (p.22);
• Ainda em 1986, ocorre a unificação do INAMPS com o Ministério da Saúde,
na qual o setor saúde receberia recursos do INAMPS. Nesta Conferência, dis-
cute-se a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como um novo arcabouço
institucional com separação da saúde e da previdência;
• Com a Comissão da Reforma Sanitária, e a discussão sobre financiamento e
operacionalização do SUS em 1987, criou-se o Sistema Unificado e Descentrali-
zado de Saúde (SUDS), considerado como estágio evolutivo da AIS, transferiria
os recursos do INAMPS para os serviços do Estado, mediante convênio, no
intento de fazer com que os recursos forem adequadamente direcionados;
• O SUDS consistiu em uma estratégia junto com a Comissão Nacional de Re-
forma Sanitária (CNRS), criada em 1986, para reorientar as políticas de Saúde e
dos serviços, enquanto se desenvolvesse a nova Constituição para a elaboração
da legislação deste setor;
• Desta forma, a CNRS elaborou proposta para subsidiar a nova Lei do SUS,
combatida pelos representantes do movimento sindical como insuficiente, porém
chega à Assembleia Nacional Constituinte como discutida, legitimada e completa,
sendo aprovada pela Constituinte de 1988.

Cabe lembrar, que antes da criação do SUS, o Ministério da Saúde desenvolvia


promoção da saúde e prevenção de doenças (campanhas de vacinação e controle de
endemias), beneficiando apenas a trabalhadores da economia formal e seus dependentes.
Somente depois da CF de 1988 com a criação do SUS é que a saúde é reconhecida como
direito universal, assunto que será tratado no próximo tópico com a Constituição de 1988 e
a criação do SUS.

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 35


3
TÓPICO

CONSTITUIÇÃO DE 1988
E A CRIAÇÃO DO SUS

Em 1988 é promulgada a 8ª Constituição do Brasil, considerada como marco fun-


damental na redefinição das Políticas de Estado na área da Saúde Pública e de grande
relevância, na qual é definido o novo conceito de saúde, na qual para se ter saúde é preciso
ter acesso também à alimentação, moradia, emprego, lazer dentre outros fatores. Como já
descrito no nosso primeiro tópico deste livro, a definição de saúde, de acordo com o artigo 196
cita a saúde como “direito de todos e dever do Estado”, garantido mediante políticas sociais e
econômicas “a redução do risco à doenças e outros agravos com acesso universal e igualitário
às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” (CONASS, 2011, p. 25).
De acordo com FERREIRA (2008), a Constituição Federal de 1988 definiu como
princípios do SUS: a Universalização, a Integralidade, a Descentralização, a Hierarquização
e a Participação Popular. Assim, a CF em seu artigo 198, define as ações e serviços do
SUS do seguinte modo (CONASS, 2011, p. 25):

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e


hierarquizada e constituem em um sistema único, organizado de acordo com
as seguintes diretrizes:
I. Descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II. Atendimento Integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
III. Participação da comunidade.
IV. Parágrafo Único - O Sistema Único de Saúde será financiado, com recur-
sos do orçamento da seguridade social, da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, além de outras fontes.

Este texto, apresenta a concepção do SUS voltada às necessidades da população,


buscando resgatar o compromisso do Estado com o bem-estar da população, consolidando-

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 36


-o como um direito de cidadania. Em 1989, e com novas negociações, é promulgada uma lei
complementar servindo como base operacional à reforma e o início da Construção do SUS.
Desta forma, as ações e serviços públicos de saúde e a contratação de serviços
privados ou mediante convênio devem obedecer às diretrizes previstas no artigo 198 da
CF de 1988 na qual seus princípios organizacionais e doutrinários estão relacionados às
seguintes características (CONASS, 2011, p. 26):

• Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de


assistência;
• Integralidade de assistência, com prioridade para as atividades preventivas,
sem prejuízo dos serviços assistenciais;
• Equidade;
• Descentralização político-administrativa com direção única em cada esfera
de governo
• Conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos
da União dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios na prestação de
serviços de assistência à saúde da população;
• Participação da comunidade;
• Regionalização e hierarquização.

Sousa, Lima e Jorge (2016) Apud Busato, Garcia e Rodrigues (2019) categorizam os
princípios do SUS em doutrinários (universalidade, integralidade, igualdade e equidade) e or-
ganizativos (descentralização, regionalização, hierarquização e participação da comunidade).

Um grande desafio se coloca historicamente para os anos futuros, porque a fragmentação do Sistema SUS
tem profundas raízes econômicas, políticas e culturais que o sustenta, onde a Saúde “como direito de todos
e dever do Estado não foi sustentada”. Neste sentido, se o financiamento da saúde não foi contemplado,
não conseguimos avançar nesta questão porque na constituinte haviam muitos economistas que eram
contrários à vinculação de receitas.
Disponível em: http://www.conass.org.br/consensus/25-anos-da-constituicao-federal-brasileira-e-sus/

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 37


4
TÓPICO

LEI ORGÂNICA DA SAÚDE


(LOS): LEI DE Nº 8.080/90
E DE Nº 8.142/90

Ambas as leis são resultado de um longo processo histórico e social, que visam
a interferir nas condições de saúde e na Assistência prestada à população Brasileira. O
SUS criado pela Constituição é regulamentada por essas Leis, ou seja, desde a instituição
dessas Leis, “o SUS vem passando por importantes mudanças em razão do processo de
descentralização das responsabilidades, das atribuições e dos recursos estabelecidos
pelos Municípios” (CONASS, 2011, p. 32).
A Lei de nº 8.080 de 19 de setembro de 1990, aborda as condições para promover,
proteger e recuperar a saúde, além da organização e o funcionamento dos serviços também
relacionados à saúde. Essa Lei determina em seu art. 9º a direção que o SUS deve tomar,
neste caso, a direção deve ser única em cada esfera de governo conforme Inciso I do artigo
198 da Constituição Federal.
Por esfera entende-se, o poder público federal (Ministério da Saúde), estadual e mu-
nicipal (Secretaria da saúde). Trata-se também da organização, direção e gestão do SUS,
da definição de competências e atribuições, do funcionamento e participação complementar
dos serviços privados de assistência à saúde, da política de recursos humanos e recursos
financeiros, gestão financeira, planejamento e orçamento (SANTOS; CARVALHO, 2018).
No Art. 5º da Lei nº 8.080/90 são apresentados os objetivos do SUS e no Art. 6º o
campo de atuação do SUS, quais sejam (BRASIL, 1990a):

Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:


I - A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes
da saúde;

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 38


II - A formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos eco-
nômico e social, a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei;
III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção
e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais
e das atividades preventivas.
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de
Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
a) de vigilância sanitária;
b) de vigilância epidemiológica;
c) de saúde do trabalhador; e
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
II - A participação na formulação da política e na execução de ações de sa-
neamento básico;
III - A ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - A vigilância nutricional e a orientação alimentar;
V - A colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do
trabalho;
VI - A formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobioló-
gicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua
produção;
VII - O controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de inte-
resse para a saúde;
VIII - A fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo
humano;
IX - A participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guar-
da e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
X - O incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e
tecnológico;
XI - A formulação e execução da política de sangue e seus derivados.

Conforme o art. 14-A e 14-B da Lei n.º 12.466/2011, complementar à Lei nº 8080/90,
são reconhecidos como fórum de negociação e pactuação entre gestores quanto aos as-
pectos operacionais as Comissões (Bipartite e Tripartite) e reconhecidos como entidades
representativas do ente Estadual o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)
e ente Municipal, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems),
cujas entidades receberão recursos do orçamento geral da União por meio do Fundo Na-
cional de Saúde. O Decreto n. 7.508 de 28 de junho de 2011, regulamenta a Lei 8080/1990.
Já a Lei de nº 8.142 de 28 de dezembro de 1990 aborda a participação da população
na gestão do Sistema Único de Saúde e as transferências de recursos da área de saúde entre
os governos, na qual são instituídas as instâncias colegiadas e os instrumentos de participação
social em cada esfera de governo e os recursos financeiros recebidos mediante existência de
Conselho Municipal de Saúde, e de acordo com a legislação (SANTOS; CARVALHO, 2018).

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 39


De acordo com CONASS (2011, p. 27), O SUS conta em cada esfera de governo
com as seguintes instâncias colegiadas de participação social: “(i) Conferência de Saúde e (ii)
Conselho de Saúde”. Bem como conta com a “Conferência Nacional de Saúde (CNS) realizada
a cada quatro anos”, com diversos representantes de diversos segmentos sociais com os obje-
tivos de avaliar a situação de saúde e propor diretrizes para a formulação de políticas de saúde.
Desta forma, os conselhos participam das políticas públicas de saúde, atuam
independente do governo e manifestam diferentes interesses e segmentos, possibilitan-
do negociação das propostas e direcionamento de recursos por distintas prioridades. A
representação dos participantes deve ser paritária no percentual de 50% aos usuários, em
relação ao conjunto dos demais segmentos (trabalhadores da saúde, representação de
governo, de prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos, dentre
outros) e sua organização e normas de funcionamento devem ser definidas por regime
próprio após aprovação (CONASS, 2011; SANTOS; CARVALHO, 2018).
Em atendimento ao parágrafo 2º da Lei nº 8.142/90, o Conselho de Saúde atua em
caráter permanente e deliberativo e é composto por diversos representantes para atender
ao objetivo proposto, ou seja, para atuar na formulação de estratégias e para controlar a
execução da política pública de saúde em todas as instâncias, inclusive as relacionadas
aos aspectos financeiros e econômicos. A homologação das decisões deve ser realizada
pelo Chefe do poder legal de cada esfera (BRASIL, 1990b).
Os recursos para cobertura das ações e serviços serão repassados de forma regu-
lar e automática à todas as esferas de acordo com os critérios estabelecidos no art. 35 da
Lei n 8080/90, quais sejam: perfil demográfico, epidemiológico, características da região e
níveis de participação do setor saúde nos orçamentos, bem como seu desempenho técnico,
econômico e financeiro anterior, previsão do plano quinquenal de investimentos na rede de
saúde e ressarcimentos (outras esferas de governo) na ordem de setenta por cento, aos
Municípios, afetando-se o restante aos Estados, conforme 2º do artigo 3º da Lei nº 8.142/90.
E para receber esses repasses, as esferas contam com o Fundo de Saúde, o Conselho de
Saúde, plano de saúde, relatórios de gestão, contrapartida de recursos e comissão de
elaboração de plano de carreira, cargos e salários (PCCS) (SANTOS; CARVALHO, 2018).

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 40


5
TÓPICO

UNIVERSALIZAÇÃO
DO ACESSO À SAÚDE:
AVANÇOS E OBSTÁCULOS

Já vimos nos tópicos anteriores, que dentre os princípios da Constituição Federal de


1988 para o Sistema Único de Saúde (SUS), temos o princípio da Universalização. A Univer-
salização tem como fato legal, que todos os cidadãos têm direito à saúde, sendo o Estado
este provedor. Para tanto, é preciso garantir o acesso aos serviços da unidade básica de saú-
de-UBS, ambulatórios especializados, hospitais, serviços de pré-atendimento, imunizações e
vigilância, bem como diversos outros programas de controle de doenças e agravos, incluindo
a produção de bens de consumo, de forma igualitária e sem qualquer tipo de discriminações.
De acordo com Solha (2014, p.12), “apesar dos desafios políticos e de gestão para
o funcionamento do SUS, muitas conquistas foram feitas. Em 2013, cerca de dois terços
da população já eram atendidos pelo SUS. Destes, 90% relataram um serviço bom/ótimo”.
Entretanto, como Solha (2014, p. 23), apesar do “SUS atender a 90% da população, mais
de 180 milhões de pessoas uma das grandes dificuldades do sistema está em garantir o
acesso aos serviços de maior complexidade”.
Em levantamento sobre os avanços e obstáculos da Saúde Pública no Brasil, reali-
zado no período de 1923 a 2006, Silva et al. (2009) encontraram alguns fatores limitantes
enfrentadas para o correto funcionamento dos serviços de saúde, dentre eles:

[....] a falta de compromisso político das instâncias envolvidas no desenvol-


vimento do SUS, bem como despreparo profissional, falta de coerência no
financiamento da saúde, estrutura física deficiente para assistência à popula-
ção, participação popular incipiente e trabalho em equipe fragmentado. Além
da resistência para planejar e gerir diretamente uma rede complexa, indefi-
nição de uma política de pessoal, agravada pela precarização do trabalho,
dificuldade para incorporar a avaliação à gestão e subordiná-la aos objetivos
e metas do sistema, que carecem de reflexões e soluções.

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 41


Apesar dos limites apresentados os autores, SILVA et al. (2009) afirmam que o sistema
SUS, avança instituindo mecanismos mais eficientes de gestão (Termo de Compromisso), for-
talecendo o controle social, ampliando o acesso, implementando a Educação Permanente para
qualificar a assistência e buscando a garantia da estabilidade do financiamento, dentre outros.
É inegável que houve avanços no SUS, como por exemplo a descentralização com
a efetiva municipalização, a participação social, entretanto, precisamos reconhecer que
nem todos os cidadãos têm acesso aos serviços de saúde. O modelo de atenção ainda está
centrado no hospital, enquanto deveria concentrar maior atenção à saúde básica, pois esta
resolveria 85% dos problemas de saúde da população (FERREIRA, 2008).
Para Lopes (2019), grandes avanços na área da tecnologia e conhecimento na Medi-
cina podem ser verificados ao longo dos anos com o objetivo de manter a vida humana. Entre-
tanto, quando se compara que a grande maioria de pessoas não têm acesso aos benefícios
da medicina, conforme pressupostos e diretrizes delineados pela Lei nº 8080/90, percebemos
o quanto o Sistema Único de Saúde deixa de executar em seu campo de atuação.
De acordo com Lopes (2019) temos um descompasso entre a Lei que instituiu o
SUS como pressuposto, a universalidade no atendimento à saúde com todos os suportes
necessários para sua efetivação, na qual a inoperância não é atribuída à falta de normas
para sua eficiência e eficácia conforme já apresentados pelas Leis 8080/90 e 8142/90. No
contexto da saúde, o que podemos observar em sua grande parte é que:
• A dotação do orçamento, destinação e operacionalização dos recursos a serem
utilizados para a efetivação das políticas públicas são privilegiados por interesses
políticos;
• Há sucateamento dos equipamentos, falta de estruturas adequadas e número
reduzido de leitos, resultando em entrave para o alcance da qualidade do serviço
médico prestado ao paciente;
• A falta de qualificação médica resultado da baixa qualidade de ensino e baixos
salários contribuem para uma relação médico-paciente com rupturas, ao ponto
de se tornar uma denúncia ética;
• A estagnação em áreas relevantes, condicionado ao atendimento básico, quan-
do deveria ser pleno;
• A convergência dos vários atores sociais, não é suficiente quando têm em
gênese a dotação orçamentária (manipulada e não equitativa dos recursos desti-
nados), na qual a administração das políticas de saúde é deficiente.

Ainda de acordo com Lopes (2019) conforme definido no artigo 3º da Lei nº 8080/90:

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 42


[...] a saúde tem fatores determinantes e condicionantes, entre outros: a ali-
mentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a
renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso a bens e serviços es-
senciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social
e econômica do país.[...] vê-se que a saúde tem “determinantes” e “condicio-
nantes” que abarcam um universo diversificado não se restringindo apenas,
à assistência prestada pelo médico ao doente.

Neste sentido, um elemento importante da universalidade está relacionado ao meio


ambiente e a saúde do trabalhador, quando percebemos a inoperância dos governos em propi-
ciar vida saudável aos cidadãos, no meio ambiente, especificamente, o ambiente de trabalho,
que obstante à existência do Ministério do Trabalho e suas delegacias, continuam trazendo
diversos malefícios à vida Humana gerada por condições insalubres e doenças ocupacionais,
dentre outras, que impactam diretamente na qualidade de vida e saúde das pessoas e é
considerado um determinante e condicionante da saúde do cidadão (LOPES, 2019).

O Estado tem desempenhado seu papel como ator social na manutenção da saúde?
Fonte: A autora (2020)

Mesmo depois de mais de 30 anos da criação do SUS, percebemos que mediante


os obstáculos apresentados para a garantia da Universalização, entendemos que há desa-
fios importantes no avanço das Políticas de Saúde Pública, principalmente as relacionadas
a novas fontes de financiamento, melhor gestão de custos e incorporação de inovações
tecnológicas com melhor qualificação do capital humano.

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 43


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta Unidade propiciou um pouco mais de conhecimento sobre o Sistema único de
Saúde (SUS). Inicialmente vimos que o SUS representa um conjunto de ações e de serviços
de saúde gerenciado pela gestão pública e tem na gerência privada a sua complementarida-
de. Criado a partir da Constituição Federal (CF) de 1988 e regulamentado pelas Leis n. 8080
e 8142 de 1990, formando a Lei Orgânica da Saúde (LOS). Neste sentido, compreendemos
que o SUS representa um dos maiores sistemas de saúde no mundo na prevenção e promo-
ção da saúde com acesso integral, universal e gratuito a todos os brasileiros.
A compreensão histórica antes da criação do SUS demonstrou que o processo de
transformação econômico-política no Brasil além da reflexão e prática médica, relacionadas
à Saúde Pública, bem como do intenso movimento sanitário, movimentos sociais e até
mesmo a corrupção na área da saúde fizeram parte do processo que antecedem a criação
do SUS. Vimos que a Constituição Federal de 1988 é considerada um marco na redefinição
das Políticas de Estado na área da Saúde Pública, garantindo a saúde como “direito de
todos e dever do Estado” e fortalecendo a intenção do governo em criar um sistema que
funcione para a população. Por meio dela, se definiu como princípios do SUS: a Univer-
salização, a Integralidade, a Descentralização, a Hierarquização e a Participação Popular,
assunto que trataremos separadamente em outros tópicos e unidades deste livro.
Você conheceu um pouco sobre as Leis Orgânicas da Saúde (8080 e 8142 de
1990) que tratam sobre as condições para promover, proteger e recuperar a saúde, além
da organização e o funcionamento dos serviços também relacionados à saúde e da partici-
pação da população na gestão do Sistema Único de Saúde e as transferências de recursos
da área de saúde entre os governos.
Por fim foi dada uma atenção especial ao princípio da Universalização, na qual
apresentamos sucintamente, um cenário da situação Brasileira na área da saúde, demons-
trando o descompasso que há entre esse princípio no atendimento à saúde e a efetivação
dos suportes tecnológicos, financeiros, dentre outros para a garantia do acesso à saúde
pública para todos os cidadãos brasileiros.
Um Abraço e até a próxima Unidade!

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 44


LEITURA COMPLEMENTAR
O Sistema Único de Saúde (SUS) é definido constitucionalmente como o resultado
da integração das ações e serviços públicos de saúde, em rede regionalizada e hierarqui-
zada. É dessa integração que nasce o sistema único, sendo competência comum de todos
os entes federativos o cuidado com a saúde.
A região de saúde é essencial para a conformação do SUS nacional, sendo recortes
territoriais que aglutinam municípios para ganhar escala e densidade tecnológica suficien-
tes para garantir a integralidade da atenção à saúde em pelo menos 90% das necessidades
das pessoas. A região é território dotado de certas características e serviços; mas sua
essência é territorial face ao cumprimento de necessidades comuns dos entes municipais.
A rede, por sua vez, deve conter serviços, conforme disposto no Decreto nº 7.508,
de 2011, organizados em níveis de complexidade tecnológica, a qual se organiza por identi-
dade genética de suas ações e serviços e permite satisfazer às necessidades da pessoa no
cuidado com a sua saúde, de modo a criar um itinerário sanitário racional e identitário, sem
obstáculos burocráticos, com economia processual e temporal, racionalidade nos gastos e
nos exames de apoio diagnóstico, dentre outros elementos. A rede é composta por serviços
de igual identidade, organizada de modo a viabilizar e racionalizar o itinerário terapêutico
necessário ao cuidado com a saúde.
São elementos essenciais na região, as governanças executivas (operativa) e
política; o planejamento integrado regional; os consensos interfederativos alcançados na
comissão Intergestores regional e bipartite; os mapas da saúde; o sistema informatizado de
dados sanitários, terapêuticos, diagnósticos, dentre outros.
O contrato organizativo de ação pública da saúde é essencial acordo jurídico-sa-
nitário que dá garantia aos consensos alcançados na comissão intergestores regional e
define as responsabilidades, na região, dos entes federativos no tocante à organização e
execução de serviços, financiamento, controle e avaliação dos resultados alcançados.
A governança na região poderá contar com instrumento executivo de gestão, como
uma associação regional de saúde, autarquia territorial, consórcios públicos, fundação
estatal interfederativa, devendo os entes federativos definirem em comum acordo a melhor
forma de gerir de forma cooperada as ações e os serviços de saúde na região.

Fonte: SANTOS, Lenir. Região de saúde e suas redes de atenção: modelo organizativo-sistêmico do SUS. Ciênc. saúde
colet. 22 (4) Abr 2017.

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 45


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: SUS - O que Você Precisa Saber Sobre o Sistema Único
de Saúde
• Autor: Medicina, Associação Paulista de
• Editora: Atheneu
• Ano: 2002
• Sinopse: este livro apresenta a legislação completa, comentários
e análises, aplicabilidade sobre o Sistema Único de Saúde - SUS,
oferecendo uma visão crítica do sistema.

FILME/VÍDEO
• Título: Um Golpe do Destino
• Ano: 1991
• Sinopse: Cirurgião de sucesso, Jack Mckee é completamente
desconectado emocionalmente de sua família e das pessoas que
opera. Ao desenvolver um tumor maligno, ele começa a ver a vida da
perspectiva de um paciente. Jack conhece uma mulher fatalmente
doente, mas extremamente corajosa e percebe a necessidade de
mostrar compaixão em sua profissão.

UNIDADE 2 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 46


3
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UNIDADE

ORGANIZAÇÃO E
ESTRUTURA DO SUS

Professor(a) Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett

Plano de Estudos
• Organização e Estrutura do SUS;
• Regionalização e Hierarquização;
• Descentralização;
• Atenção primária, secundária e terciária.

Objetivos da Aprendizagem
• Conceituar e contextualizar a organização e a Estrutura SUS;
• Compreender como ocorre a regionalização e hierarquização no
SUS;
• Estabelecer a importância da descentralização no contexto SUS;
• Compreender como é realizado atendimento na Atenção primária,
secundária e terciária.
INTRODUÇÃO
Prezado (a) aluno (a)!
Nesta unidade iremos aprofundar vosso aprendizado sobre a organização e a Estrutura
SUS, como ocorre a regionalização e se dá a hierarquização do Sistema, verificaremos a im-
portância da descentralização no contexto SUS e ampliaremos vosso entendimento sobre com,
onde e porquê são realizados os atendimentos na Atenção primária, secundária e terciária.
Desta forma, você irá compreender de que forma os princípios organizativos
(descentralização, regionalização, hierarquização e participação popular) interferem nas
diretrizes operacionais do Pacto de Gestão do SUS e em quais bases constitucionais e
portarias se consolidam suas ações.
Para que entendamos melhor a organização do SUS precisamos compreender
também o modelo assistencial, sua classificação de serviços por níveis de atenção e com-
plexidade e de que forma os princípios da hierarquização e regionalização impactam nas
atividades, serviços e gestão no SUS, bem como compreender como ocorrem as distribui-
ções de responsabilidades nas federações do governo Federal, Estadual e Municipal.
Partindo deste pressuposto entenderemos também sobre a descentralização como
estratégia de democratização e participação das comissões e conselhos nos processos ad-
ministrativos nas três esferas e ao final desta unidade, compreender um pouco mais sobre
a atuação, finalidade e responsabilidades dos profissionais do SUS na Rede de Atenção à
Saúde primária, secundária e terciária.
Espero que com esta unidade, prezado (a) estudante, você possa compreender um
pouco mais sobre os princípios de organização e estrutura do SUS no que concerne ao atendi-
mento dos princípios doutrinários dos SUS como a integralidade, a universalidade e a equidade.
Portanto, prezado(a) aluno(a), desejo a você, uma boa leitura e aprendizado.

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 48


1
TÓPICO

ORGANIZAÇÃO E
ESTRUTURA DO SUS

Conforme Busato, Garcia e Rodrigues (2019), dentre os princípios do SUS, temos


os doutrinários já citados anteriormente, e também os caracterizados como princípios or-
ganizativos. Eles são representados pela:

• Descentralização (é referente a responsabilidade das três esferas - federal,


estadual e municipal);

• Regionalização e a hierarquização (é referente às formas de aproximação entre


as esferas) e;

• Participação popular (refere-se a aqueles que participam nas decisões e dire-


cionamentos do SUS).

O processo de descentralização ganhou força com a NOB SUS/1996 e a regionali-


zação com a NOAS SUS 01/2001. Já a participação Popular, movimento da descentraliza-
ção regulamentou-se a partir da Lei n. 8.142/90 da qual já enfatizamos na Unidade 2 deste
livro. Sobre os princípios da descentralização, regionalização e hierarquização, trataremos
com maior ênfase nos tópicos posteriores.
A Estrutura do SUS e atuação dos entes da Federação e demais órgãos são apre-
sentados no Quadro x, segundo o portal do Governo do Estado Brasileiro, do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2019 online):

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 49


QUADRO 1: ESTRUTURA DO SUS
Órgão, Secretaria Atuação
Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora e ava-
lia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional de Saú-
Ministério da Saúde de. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) para
pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura: Fiocruz,
Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hospitais federais.
Participa da formulação das políticas e ações de saúde, presta apoio
Secretaria Estadual aos municípios em articulação com o conselho estadual e participa da
de Saúde (SES) Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e implementar o
plano estadual de saúde.
Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços de
Secretaria Municipal
saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera estadual
de Saúde (SMS)
para aprovar e implantar o plano municipal de saúde.
O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Estadual ou
Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado
composto por representantes do governo, prestadores de serviço,
profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias
e no controle da execução da política de saúde na instância corres-
pondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas
Conselhos de Saúde decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente consti-
tuído em cada esfera do governo.
Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros, que
obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movimentos
representativos de usuários; 25% de entidades representativas dos
trabalhadores da área de saúde e 25% de representação de governo e
prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos.
Comissão Intergestores Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, estadual e
Tripartite (CIT) municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS
Comissão Intergestores Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e munici-
Bipartite (CIB) pais, quanto aos aspectos operacionais do SUS
Conselho Nacional de
Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Federal na
Secretário da Saúde
CIT para tratar de matérias referentes à saúde
(Conass)
Conselho Nacional de
Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar de
Secretarias Municipais
matérias referentes à saúde.
de Saúde (Conasems)
São reconhecidos como entidades que representam os entes munici-
Conselhos de Secre-
pais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à saúde,
tarias Municipais de
desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que
Saúde (Cosems)
dispuserem seus estatutos.
Fonte: Ministério da Saúde (2019, on line).

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 50


Desde 2003, segundo Solha (2014), o resultado de discussões e consensos, bus-
cam a revisão dos processos normativos do SUS, envolvendo inicialmente uma agenda
de pacto de gestão, organizado de forma tripartite entre entes da federação. O trabalho
conjunto a partir das reuniões de grupos de trabalho, em 2004 e 2005 levou a definição de
três dimensões importantes que buscaram: a defesa do SUS, o pacto pela vida e Pacto
de gestão, na qual em 2006 é publicada a portaria GM/MS n.699, regulamentando as Dire-
trizes Operacionais dos Pactos pela vida e de gestão, bem como a Portaria GM/MS n. 698,
instituindo a transferência de recursos federais para custeio de ações e serviços de saúde.
Desta forma, de acordo com SOLHA (2014) e CONASS (2011):
• O pacto pela vida visa a reforçar a gestão pública na busca por resultados e
estabelecimento de compromissos sanitários a serem implementados de forma
(tripartite);
• O pacto em defesa do SUS coloca em evidência os compromissos dos gesto-
res na consolidação da reforma sanitária e articulações que visem a qualificação
do SUS, fortalecendo, inclusive a participação social;
• E no pacto de gestão busca-se a valorização da cooperação e solidariedade
entre gestores nos eixos de ação: descentralização, regionalização, financia-
mento e planejamento do SUS, programação pactuada integrada (PPI), regula-
ção da atenção à saúde e assistencial, participação e controle social, gestão de
trabalho e saúde e educação na saúde.

De acordo com Elias (2008) o SUS possui rede própria e contratada. A primeira
é composta por Hospitais Federais, Estaduais e Municipais e a segunda é composta por
segmento lucrativo e não lucrativo (filantrópicas). O SUS, segundo Elias (2008, p. 21) “não
diz que o prestador de serviço seja o governo ou privado, o que ele anuncia são princípios,
na qual o sistema tem que ser universal, equânime e igualitário”.
Essa rede de serviços deve ser integrada e regulada pelos gestores onde cada
prestador responde apenas por um gestor, com regulação preferencialmente municipal e
com responsabilidade estadual pactuada pela Comissão Intergestores (CIB). A regulação
nada mais é do que o Estado intervir (setores sociais ou econômicos) com o intuito de
equilibrar relações/necessidades da população/prestadores de serviços e Estado. Neste
sentido, o Estado vem normatizar o sistema para que ele funcione adequadamente de
acordo com os objetivos preconizados pelo SUS (SOLHA, 2014).
Segundo Solha (2014), dentre os serviços que compõem o SUS temos: institui-
ções de pesquisa, instituições de controle de qualidade, laboratórios farmacêuticos oficiais,
agências reguladoras, laboratórios de análises clínicas, serviços (ou equipamentos) de

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 51


assistência direta à saúde e escolas técnicas. Podem ser integrados à rede Pública os ser-
viços ligados diretamente às forças Armadas com atendimento conjunto com profissionais
do SUS em diversas regiões do País, porém como foco principal, serve para o atendimento
aos militares e suas famílias receberem assistência à saúde.
Conforme apontam os autores Rolim et al. (2013) apud Busato, Garcia e Rodrigues
(2019) quando consideramos a necessidade de participação popular, é preciso levar em
conta também que a sociedade deve participar de maneira efetiva. Além disto, os autores
destacam duas importantes bases constitucionais da saúde:
01. A Lei Complementar n. 141, de 13 de janeiro de 2012, regulamentando o
inciso 3º do art. 198 da CF 1988, que dispõe sobre os valores a serem
aplicados nas três esferas de governo;
02. O Decreto n. 7508, de 29 de junho de 2011, que dispõe sobre a organização
do SUS, o planejamento da saúde, a assistência da saúde e articulação federativa.

De acordo com o Decreto n.7508/2011 que regulamenta a Lei 8080/1990 foi criado a
Programação Geral das Ações e Serviços de Saúde (PGASS), elaborado anualmente como
ferramenta de elaboração das ações com base nos recursos disponíveis. De acordo com
Brasil (2016c) Apud Busato, Garcia e Rodrigues (2019, p 44) a fundamentação elaborada
do PGASS cita:
a. Abranger as ações de assistência à saúde (Atenção Básica, Urgência e
Emergência, Atenção Psicossocial e Atenção Ambulatorial Especializada e
Hospitalar), de promoção, de vigilância (sanitária, de epidemiologia e am-
biental) e de assistência farmacêutica;
b. Ter como norteadora e orientadora das ações de serviços da saúde a Aten-
ção básica;
c. Manter coerência com instrumentos do Planejamento, os Planos de Saúde
e respectivas Programações Anuais de Saúde, expressando compromissos
e responsabilidades de cada um, no âmbito regional;
d. Contribuir para a organização e operacionalização da Rede de Atenção de
Saúde e de seus territórios;
e. Ser desencadeada pelo planejamento regional integrado com temporalida-
de vinculada aos planos municipais e com atualizações periódicas;
f. Ocorrer nas regiões de saúde, como atribuição das CIR, sendo necessária
a harmonização dos compromissos e metas regionais no âmbito do Estado,
em um processo coordenado pela SES e pactuado pela CIB;
g. Ser realizada em todas as regiões de saúde de cada Estado;
h. Subsidiar os dispositivos de regulação, controle e avaliação e auditoria;
i. Apontar no nível regional, o déficit de custeio a necessidade de Investi-
mentos para a rede de atenção de saúde.

Ainda de acordo com Busato, Garcia e Rodrigues (2019) em 2017 o Ministério da


Saúde sistematizou a Norma em vigor no SUS, facilitando organização e disponibilização

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 52


de normas de saúde e transparência (ao todo, mais de 20 mil), exceto as que têm disposi-
ção válidas, consolidadas em seis portarias conforme demonstrado no quadro 2 a seguir:

QUADRO 2: PORTARIAS DE CONSOLIDAÇÃO DOS ATOS NORMATIVOS DO SUS


Portaria de consolidação Assunto
Matriz diretiva: aborda direitos, deveres, organização e funcio-
n.1 de 28 de setembro de 2017
namento do SUS
n.2 de 28 de setembro de 2017 Matriz diretiva: trata das políticas nacionais do SUS
n.3 de 28 de setembro de 2017 Matriz estruturante: apresenta as redes dos SUS
Matriz estruturante: elucida sobre os sistemas e subsistemas
n.4 de 28 de setembro de 2017
do SUS
n.5 de 28 de setembro de 2017 Matriz operacional: fala das ações e os serviços de saúde
Matriz operacional: explica o funcionamento e a transferência
n.6 de 28 de setembro de 2017
dos recursos federais para as ações e os serviços do SUS
Fonte: Busato, Garcia e Rodrigues, 2019, p. 38.

As Portarias de Consolidação de 28 de setembro de 2017, apresentam-se em três eixos: matriz diretiva,


matriz estruturante e matriz operacional. Para melhor compreensão dessas matrizes, é importante que
você aprofunde seus conhecimentos, na leitura atenta de cada uma delas.
Disponível em: https://www.contratualizacaonosus.com/copia-manuais-do-ministerio-da-saud

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 53


2
TÓPICO

REGIONALIZAÇÃO E
HIERARQUIZAÇÃO

O termo modelo assistencial compreende como a saúde é organizada. De acordo


com os autores Busato, Garcia e Rodrigues (2019), no Brasil, já foram utilizados três mo-
delos: o sanitarismo campanhista (foco de atenção no hospedeiro), o médico privatista (na
época militar, ofertado aos trabalhadores) e por fim o SUS (universalidade).
Este último entendido como Modelo Tecno Assistencial, como afirmam os auto-
res Silva Júnior; Alves (2007) Apud Busato, Garcia e Rodrigues, este modelo é descrito em
forma de pirâmide no intuito de organizar o fluxo dos pacientes nos serviços de saúde de
acordo com os níveis de necessidades, de aparato tecnológico e complexidade. Segundo
Baptista (2007), denotamos aqui a importância da hierarquização e regionalização dos
serviços, com a organização de um sistema de referência e contrarreferência, incorporando
os níveis de complexidade.
De acordo com Solha (2014, p.33), a “hierarquização é uma diretriz organizadora
do SUS, que parte da classificação dos serviços (tipo de cuidado), considerando a comple-
xidade tecnológica de cada um deles”, na qual categoriza-se de acordo com três tipos de
serviços, quais sejam:
01. Básico (ou primário), com nível de atenção de baixa complexidade tecnoló-
gica;
02. Secundário, com nível de atenção de média complexidade tecnológica;
03. Terciário, com nível de atenção de alta complexidade tecnológica.

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 54


Sobre cada um desses serviços e nível de atenção, trataremos com maior pro-
fundidade no último tópico deste livro. Vamos nos concentrar aqui, prezado(a) estudante,
apenas na forma como ocorre essa hierarquização e regionalização dos serviços prestados
pelo SUS.
A hierarquização destes serviços se dá de acordo com sua complexidade, conforme
podemos observar no exemplo da figura da pirâmide (Figura 1):

FIGURA 1 - NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE.

Fonte: SOLHA, 2014, p. 36.

Assim, a base da pirâmide é representada pela atenção básica (onde a demanda


é maior) e o nível de complexidade tecnológica é mais baixa, enquanto verificamos que a
pirâmide vai se estreitando, passando pela média complexidade até a alta complexidade
onde o volume de pessoas a serem atendidas representam uma parcela menor da popu-
lação. Pode ser observado também a existência de duas flechas, ambas representando a
referência e contrarreferência, ou seja, representa o modo como o usuário do serviço irá
caminhar pelos serviços de saúde, na qual o usuário pode tanto ser encaminhado dentro do
mesmo nível quanto para outros níveis, dependendo de sua necessidade. O paciente ainda
pode ser encaminhado dentro do mesmo nível de complexidade ou para outros níveis de
complexidade (SOLHA, 2014).
Um exemplo de referenciamento é quando o usuário é atendido na atenção básica
e precisa da opinião de um especialista. Neste momento, ele é encaminhado para um
nível de complexidade acima da atenção básica. Importante salientar conforme nos orienta
Solha (2014, p. 37), que:

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 55


[...] não existe uma linha de “mando” entre os níveis de atenção: nenhum serviço
é melhor que o outro e ninguém é chefe de ninguém. Existem, sim, parceiros para
oferecer o melhor cuidado de saúde! Essa organização também é uma forma de
oferecer os cuidados integrais definidos pela Lei Orgânica da Saúde (LOS).

Em relação à regionalização, foi observado que, logo no primeiro passo da orga-


nização descentralizada, houve deficiências no Sistema, de forma que em 2001, surge a
norma NOAS, como forma de normatizar a assistência à saúde, ressaltando a importância
da regionalização na assistência, não somente como uma forma de aproximação à descen-
tralização, mas também como uma ferramenta que consolida os princípios doutrinários do
SUS (BUSATO, GARCIA, RODRIGUES, 2019).
Conforme Baptista (2007, p. 53) “regionalizar implica um melhor conhecimento, por
parte dos estados e municípios, dos problemas sociais e de saúde de suas localidades para
que se possa implementar uma política de saúde condizente”.
Conforme os autores, Busato, Garcia e Rodrigues (2019), a NOAS n.01/2001 é
reorganizada e republicada em 2002 na portaria n. 373 de 27 de fevereiro de 2002 e logo
em seu artigo 1º amplia as responsabilidades dos municípios na atenção básica a partir
do processo de regionalização como estratégia de hierarquização e cria mecanismos para
o seu fortalecimento, sugerindo a implantação de um plano diretor de regionalização. Por-
tanto o NOAS vem esclarecer as responsabilidades dos gestores, considerando o contínuo
movimento de pactuação entre os três níveis de gestão, visando o aperfeiçoamento do
Sistema Único de Saúde, resolve:

Art. 1º Aprovar, na forma do Anexo desta Portaria, a Norma Operacional da


Assistência à Saúde – NOAS-SUS 01/2002 que amplia as responsabilidades
dos municípios na Atenção Básica; estabelece o processo de regionaliza-
ção como estratégia de hierarquização dos serviços de saúde e de busca de
maior equidade; cria mecanismos para o fortalecimento da capacidade de
gestão do Sistema Único de Saúde e procede à atualização dos critérios de
habilitação de estados e municípios.

Assim, a regionalização, conforme Solha (2014, p. 40), se refere “a determinação


de territórios para organizar os serviços em rede, que orienta a descentralização de gestão”.
Com o Pacto de gestão, se reafirma a regionalização como uma diretriz do SUS, contribuin-
do para a implantação do Pacto pela Saúde. De acordo com CONASS (2011, p. 72):

O que o Pacto pretende com o processo de regionalização é melhorar o aces-


so a serviços de saúde, respeitando-se os conceitos de economia de escala e
de qualidade da atenção de saúde, para se desenvolver sistemas eficientes e
efetivos, e ao construir a regionalização eficaz, criar as bases territoriais para
o desenvolvimento de redes de atenção à saúde.

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 56


Neste sentido, conforme aponta Solha (2014), os municípios assumem a gestão de
seus serviços, mas em alguns deles, com o auxílio e apoio das Secretarias Estaduais de Saúde
e trabalhando a realidade local de cada município respeitando seus determinantes de saúde
e características populacionais (geográficas, culturais, distribuição de serviços, dentre outras).
De acordo com Solha (2014, p. 40), “a fim de oficializar o processo de regionali-
zação da saúde, os gestores, em todas as instâncias de deliberação, devem formular um
documento denominado ‘Plano Diretor de Regionalização”.
Este Plano, segundo Solha (2014), deve conter informações como: a caracterização
do Estado, descrição do processo de pactuação, metas, RAS (rede de atenção à saúde)
organizadas, a identificação dos serviços, como será feita a regulação, ou seja, como será
ofertado e controlado esses serviços, dentre outras observações.
A RAS de acordo com a Portaria n.4.279 do MS de 30 de dezembro de 2010 APUD
Busato, Garcia e Rodrigues (2019, p. 77) é caracterizada pela:

[...] formação de relações horizontais entre os pontos de atenção com o cen-


tro de comunicação na atenção primária à Saúde (APS), pela centralidade
das necessidades em saúde de uma população, pela responsabilização na
atenção contínua e integral, pelo cuidado multiprofissional, pelo compartilha-
mento de objetivos e compromissos com resultados sanitários e econômicos.

Neste sentido, as Redes de Atenção à Saúde (RAS), são estruturadas de forma a


dar suporte ao cuidado desde o nível básico de atendimento até o nível mais complexo de
atendimento na saúde.

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 57


3
TÓPICO

DESCENTRALIZAÇÃO

O texto constitucional define que o SUS deve se organizar a partir da Descentraliza-


ção com direção única em cada esfera de governo (BRASIL, 1988 APUD BAPTISTA, 2007).
Segundo Baptista (2007) quando se fala de Descentralização pode-se abordá-la
de diferentes formas: descentralização política, descentralização administrativa, descen-
tralização de serviços, dentre outras formas. No SUS, a diretriz Descentralização é mais
coerente com uma concepção de estado federativo que obedece a princípios constitucionais
que devem ser assegurados e exercidos em cada esfera de governo. Neste sentido, a
Descentralização corresponde à distribuição de poder político, de responsabilidades e de
recursos da esfera federal para as demais esferas estadual e municipal.
Assim, como afirma Baptista (2007, p. 53):

A descentralização é vista como uma estratégia para o enfrentamento das


desigualdades regionais e sociais e prevê a transferência do poder decisório
do governo federal para as instâncias subnacionais de governo, consideran-
do uma redistribuição das responsabilidades quanto às ações e serviços de
saúde entre os vários níveis de governo (União, estados e municípios).

De acordo com Solha (2014, p. 38), “até a regulamentação do SUS, as principais


ações de saúde eram centralizadas no nível federal, e quem executava eram os estados e
municípios”. Segundo Busato, Garcia e Rodrigues (2019), a descentralização se refere a
um dos princípios organizativos, na qual divide-se as responsabilidade nos três níveis da
esfera governamental (federal, estadual e municipal), tornando os gestores de cada nível
corresponsáveis pelo sistema de saúde, com o objetivo de facilitar a organização, minimizar
a corrupção e auxiliar na análise das necessidades dos cidadãos, dentre outros.

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 58


Cabe salientar, que no início, houve tentativas de descentralização, porém sem
sucesso. Assim, assim, buscou-se nas três esferas, redistribuir essas responsabilidades.
Desta forma, a distribuição na esfera Federal, Estadual e Municipal, ficaram da seguinte
forma (SOLHA, 2014):
• No nível Federal - é representado pelo Ministério da Saúde, na qual o res-
ponsável busca liderar e desenvolver políticas de saúde, executando apenas
algumas ações em casos de exceção.
• No nível Estadual - é representado pela Secretaria Estadual de Saúde, na
qual o responsável busca coordenar, desenvolver e avaliar as políticas de saúde,
executando ações também em caráter de exceção, em alguns casos estratégicos
ou de maior complexidade ou ainda em casos em que o município tenha carência
ou omissão do gestor.
• No nível Municipal - é representado pela Secretaria Municipal de Saúde,
na qual o gestor municipal é responsável por programar, executar e avaliar o
atendimento de saúde que engloba a gerência das unidades e o processo que
envolve os recursos humanos.

De fato, o processo de descentralização ganha força com a criação da NOB/SUS


de 1996, quando foi pauta da 9ª Conferência Nacional de Saúde, na qual buscava-se au-
mentar o empoderamento dos municípios, buscando maior autonomia na gestão da saúde
(BUSATO; GARCIA; RODRIGUES, 2019).
Conforme Baptista (2007) a descentralização se apresentou como uma estratégia
de democratização que possibilitaria à população maior controle e acompanhamento da
área pública, na qual a população poderia interferir de forma mais efetiva no processo de
formulação política. Neste sentido, parte-se do pressuposto que quanto mais perto o gestor
está da sua comunidade, mais será sua chance de acertar na resolução dos problemas, o
que interfere diretamente na gestão.
De acordo com o CONASS (2011, p. 71), “com a aprovação das diretrizes do Pacto
de Gestão, pretendia-se iniciar um ‘choque de descentralização’ dos processos administra-
tivos relativos à gestão para as comissões Intergestores Bipartite (CIB)”.
De acordo com Baptista (2007), as instâncias destas comissões são representa-
das pelo: Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems); Conselho
Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e pelas comissões: Comissão Intergestores
Bipartite (CIB) - estabelece pactos entre os municípios com a coordenação da gestão es-
tadual e a comissão Intergestores Tripartite (CIT) - estabelece pactos entre representantes
do Ministério da Saúde, do Conass e do Conasems.

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 59


Assim, conforme Solha (2014), por meio de instâncias de discussão e deliberação,
denominadas comissões, promove-se maior democracia em todas as esferas, quais sejam:
● A Comissão Intergestores Tripartite (CIT) foi formada na década de 1990 e possui
representantes do governo federal, estados e municípios. Esses representantes são
formados respectivamente pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado da saú-
de (CONASS) representado pelos secretários estaduais e pelo Conselho Nacional
de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS) representado pelos secretários
municipais ou indicados por eles). Serve como espaço para formulação, condução e
execução de políticas públicas.

● As Comissões Intergestores Bipartite (CIBs), criadas em 1993 pela (NOB 01/93)


tem como representantes: as secretarias de estado da saúde (SES) e dos municí-
pios (Cosems), representado pelos Conselhos de Secretários Municipais de Saúde.

Machado, Lima e Baptista (2007) apresentam a estrutura institucional e decisória


no SUS.

FIGURA 2: ESTRUTURA INSTITUCIONAL E DECISÓRIA DO SUS

Fonte: SAS/MS (2003) APUD MACHADO; LIMA; BATISTA (2007).

Posteriormente, segundo Solha (2014), foram criados os Colegiados de Gestão


Regional (CGR), com estrutura distinta da CIT e da CIB, pois podem não possuir repre-
sentantes do estado, mas apenas de municípios que fazem parte das regiões de saúde. De
acordo com Brasil (2006, p.21) Apud Carneiro, Forster e Ferreira (2014, s.p), o CGR consti-
tui-se em um espaço de decisão na qual busca-se a identificação, a definição de prioridades
e a pactuação de soluções para uma RAS e serviços de AS de forma integrada e resolutiva.
Neste sentido, a formação do Colegiado e a forma de trabalho ocorre da seguinte forma:

O Colegiado deve ser formado pelos gestores municipais de saúde do con-


junto de municípios e por representantes do(s) gestor(es) estadual(ais), sen-
do as suas decisões sempre por consenso, pressupondo o envolvimento e
comprometimento do conjunto de gestores com os compromissos pactuados.
O Colegiado deve instituir processo de planejamento regional, que defina as

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 60


prioridades, as responsabilidades de cada ente, as bases para a programa-
ção pactuada integrada da atenção à saúde, o desenho do processo regu-
latório, as estratégias de qualificação do controle social, as linhas de investi-
mento e o apoio para o processo de planejamento local.

De acordo com Baptista (2007), o principal desafio seria a construção de uma


política de descentralização que fortalecesse de fato os gestores (estaduais e municipais)
mantendo o compromisso destes na garantia do SUS e a continuidade do Governo Federal
como principal regulador da política capaz de suprir as fragilidades dos estados e municí-
pios no suporte técnico e financeiro.
Corrobora-se na formulação da seguinte premissa à proposta da descentralização
e das suas diretrizes de regionalização e hierarquização, conforme afirma Baptista (2007,
p.54): “as diretrizes de regionalização e hierarquização só se concretiza com sucesso se há
solidariedade e cooperação entre os governantes (das três esferas de governo), transpa-
rência e democratização decisória”.

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 61


4
TÓPICO

ATENÇÃO PRIMÁRIA,
SECUNDÁRIA E
TERCIÁRIA

Já mencionamos nesta única, que a hierarquização dos serviços de saúde, partem


da classificação dos serviços (tipo de cuidado), considerando a complexidade tecnológica.
Desta forma, na rede de atenção à saúde, temos três formas de atenção, quais sejam: a
atenção primária, a atenção secundária e a atenção terciária, temas que trataremos a seguir:
Atenção Primária
De acordo com Busato, Garcia e Rodrigues (2019), a Atenção Primária à Saúde
(APS) é definida pela representatividade do modelo de saúde da Grã-Bretanha, com o
Relatório Dawson, sobre questões importantes da organização da saúde, a qual surgiu a
separação por níveis de atenção: primário e secundário, serviços domiciliares, serviços
suplementares e hospital de ensino. O primeiro seria realizado por médicos generalistas, o
segundo por especialistas e o terceiro nível para necessidades cirúrgicas.
No Brasil, a APS tem uma estrutura em níveis de atenção reformulado pela Política
Nacional de Atenção Básica (PNAB), portaria n. 648 do Ministério da Saúde de 28 de março
de 2006, alterada em 2017, na qual os municípios podem partilhar as responsabilidades
com o Governo Federal. Busato, Garcia e Rodrigues (2019) afirmam que a APS utiliza os
mesmos princípios do SUS, das quais citam seis princípios:
01. Primeiro contato - atrelado ao acesso à saúde por meio das UBS.
02. Longitudinalidade - cuidado no decurso do tempo.
03. Integralidade - avalia a necessidade da saúde/população por meio de ma-
peamento.
04. Coordenação - compatibiliza informações e ações.

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 62


05. Abordagem familiar - relaciona informações a outros aspectos (crenças,
costumes, hábitos, dentre outros).
06. Enfoque comunitário - evidencia a necessidade de personalização do aten-
dimento.

De acordo com Solha (2014), a Atenção Primária, também chamada de atenção


Básica (AB) é o primeiro nível de atenção da saúde e serve como a porta de entrada no
SUS. Considerado a porta de entrada ela deve estar preparada para resolver pelo menos
85% dos problemas de saúde da população. Neste tipo de atenção, as tecnologias utiliza-
das são consideradas de baixa densidade, ou seja, são mais simples e baratas, entretanto
atendem à maioria das necessidades da população.
Vamos exemplificar como se dá esse tipo de atendimento: em uma UBS (Unida-
de Básica de Saúde) pode-se realizar a coleta e orientar-se sobre uma citologia oncótica
(Papanicolau), exame de câncer de colo de útero, visando a detectar de forma precoce
a presença de câncer. Esse exame, é considerado um exame barato, de fácil coleta e
que pode ser realizado por enfermeiros, durante uma consulta de enfermagem, porém de
grande impacto em termos preventivos e de aceitação social.
Para Solha (2014, p. 22) “um dos atuais desafios do SUS é fazer com que a AB funcione
como porta de entrada do sistema, e não apenas como ‘serviços de ponte’ que encaminham para
os serviços de média e alta complexidade”. De acordo com isto, é possível melhorar a situação
com a Política Nacional de Atenção Básica, promulgada em 2011, cujo objetivo é a “ampliação
do acesso, condições sine qua non para garantir a universalidade”. Outro fator importante é
considerar a gravidade de risco, vulnerabilidade e critério cronológico do atendimento.
Neste sentido, conforme Busato, Garcia e Rodrigues (2019), para que o atendi-
mento seja integral e eficiente nas UBS as estratégias, por exemplo da implementação da
saúde da Família (ESF) é preciso que as ações sejam aprovadas pelo Conselho Municipal
de Saúde, com apreciação e aprovação da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e da
Secretaria Estadual de Saúde. De acordo com Machado (2019, p.12):

[...] a saúde da família, na atenção primária, assim, significa fazer saúde de-
mocraticamente com a população local, por meio da criação de vínculos e de
decisões tomadas a partir de prioridades eleitas pela comunidade. É gerar
mais acesso, mas também é entender os riscos locais; é construir o perfil
epidemiológico, mas é também ir para além dos dados em saúde ou doença;
é solidificar uma relação humanizada, mas, sobretudo, concretizar a susten-
tabilidade junto à comunidade local.

De acordo com Busato, Garcia e Rodrigues (2019), a ESF envolvem equipes mul-
tiprofissionais, a fim de conhecer os principais indicadores de saúde-doença, bem como

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 63


podem ser necessários agentes comunitários de Saúde (ACS) além do apoio da Saúde da
Família pelo Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), constituí-
da por profissionais multidisciplinares da atenção básica, criado em 2008 pelo Ministério da
Saúde com objetivo de consolidar a atenção básica.
A NASF-AB é regulamentada pela Portaria de consolidação n. 2, na qual o núcleo
se configura como equipes multiprofissionais que atuam de forma integrada nas ESF, para
populações específicas como por exemplo, os ribeirinhos e com o programa academia de
saúde. A partir da publicação da Portaria n. 3.124, de 28 de dezembro de 2012, o Ministério
da Saúde criou o NASF 3, na qual qualquer município pode implantar a NASF, desde que
tenha uma equipe de saúde de família.
Ainda de acordo com os autores Busato, Garcia e Rodrigues (2019), uma outra
questão importante é o levantamento de necessidades epidemiológicas pelas Secretarias
Municipais com enfoque em linhas de cuidados para atendimento das realidades locais.
São exemplos destas linhas criadas pelo Ministério da Saúde: a Rede Cegonha, Rede de
Cuidados com pessoa Deficiente, etc.

Atenção Secundária
Para Solha (2014), a Atenção Secundária, é o segundo nível de atenção à saúde, na
qual os serviços e ações agregam serviços especializados e não podem ser sanadas com tec-
nologia de baixa densidade e, são realizados por ambulatórios/policlínicas e hospitais gerais.
Retornando ao exemplo da citologia oncótica: se o resultado do exame estiver nor-
mal, a mulher recebe orientações sobre cuidados com a saúde e novo retorno. Entretanto,
caso tenha alterações, serão necessários outros exames e a avaliação do especialista da
ginecologia, que possivelmente encaminhará para a realização de exame colposcopia, por
exemplo e um serviço de média complexidade. Outros exemplos de procedimentos de média
complexidade, de acordo com a tabela de procedimentos do Sistemas de Informações Ambu-
latoriais (SIA) são: cirurgias ambulatoriais especializadas que não demandam hospitalização,
diagnósticos e terapias especializadas realizadas por médico especialista ou por equipe
multiprofissional, análises clínicas, anatomopatologia e citopatologia, dentre outros.

Atenção Terciária
De acordo com Solha (2014), a Atenção Terciária, é o terceiro nível de atenção à
saúde, ou seja, é definida como procedimentos que envolvem alta tecnologia, e utiliza-se
de equipamentos como por exemplo, a ressonância magnética, considerada de alto custo e
profissionais altamente especializados. Exemplos de procedimentos de alta complexidade,

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 64


de acordo com a tabela de procedimentos e áreas do Sistemas de Informações Hospitalar
(SIH) são: assistência ao portador de doença renal crônica (hemodiálise ou diálise peri-
toneal), cirurgias (vascular, cardiovascular, reprodutiva ou fertilização assistida), implante
coclear, assistência traumo-ortopedia, assistência oncológica, dentre outros).
Importante salientar que um nível de atenção, não se torna mais ou menos impor-
tante, na atenção à saúde, a atenção de média complexidade, volta-se para o atendimento
especializado.

A alta complexidade (Atenção Terciária) está relacionada à qualificação de serviços, compreendendo alto
custo e alta tecnologia. A diferença da média, alta complexidade e baixa, está no repasse dos valores, dada
principalmente ao aumento da evolução tecnológica empregada, principalmente as que requerem maior
investimento de profissionais e equipamentos
Fonte: BUSATO, GARCIA, RODRIGUES (2019).

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 65


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a)!

Esta unidade trouxe uma melhor compreensão sobre a organização e a Estrutu-


ra SUS. Conhecendo a estrutura organizativa do SUS foi possível compreender que os
princípios organizativos: descentralização, regionalização e hierarquização, bem como a
participação social favorecem a melhoria da qualidade dos serviços realizados pelo SUS,
principalmente no atendimento das dimensões de defesa do SUS, do pacto pela vida e
do Pacto de gestão. Os serviços realizados pelo SUS envolvem diversos órgãos para a
sua operacionalização e embasada em uma diversidade de legislações e de portarias de
consolidação das matrizes diretivas, estruturante e operacional do SUS.
A saúde nem sempre foi o modelo Tecno Assistencial, ou seja, o modelo atual
oferece a devida importância aos critérios de hierarquização e regionalização da saúde
de acordo com os níveis de atenção primário, secundário e terciário de acordo com Plano
Diretor de regionalização e responsabilidades nas federações do governo (união, estado e
municípios) e da participação das instâncias: Conselho Nacional de Secretarias Municipais
de Saúde (Conasems); Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e pelas co-
missões: Comissão Intergestores Bipartite (CIB) e a comissão Intergestores Tripartite (CIT),
além dos Colegiados de Gestão Regional (CGR).
Ao final, compreendemos como a atenção primária, secundária e terciária atuam,
na qual pudemos identificar a importância da atenção primária com a implementação da
Política Nacional da Saúde Básica por meio de estratégias como da implementação da
saúde da Família (ESF), bem como dos agentes comunitários de Saúde (ACS) além do
apoio da Saúde da Família pelo Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica
(NASF-AB). Na atenção secundária e terciária, compreendemos que a saúde é mais com-
plexa, necessitando de mais tecnologias e profissionais especializados no atendimento e
realização de procedimentos, sem, entretanto, caracterizar um ou outro nível de atenção
mais ou menos importante na Rede de Atenção à Saúde.

Um Abraço e até a próxima Unidade!

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 66


LEITURA COMPLEMENTAR
A Gestão Participativa em Saúde, compreende todos os mecanismos de delibera-
ção e de gestão compartilhados, com ênfase no controle social, valorizando e fortalecendo
os mecanismos instituídos para controle social no SUS, incluindo os Conselhos e as Confe-
rências de Saúde, instrumentos essenciais na formulação da Política Estadual e Municipal
de Saúde, e firmar pactos com as demais esferas de governo, visando a implementação da
Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa.
Busca também criar e apoiar Comitês e Grupos de Trabalho destinados à busca
da equidade, a exemplo dos Comitês Técnicos de Equidade em Saúde, População Negra,
LGBT, População em Situação de Rua e do Campo, Floresta e Águas. Inclui, ainda, ações de
educação popular em saúde, difusão dos direitos dos usuários e estratégias de promoção de
equidade em saúde para as populações em condições de desigualdade e/ou vulnerabilidade.
Deve também promover o desenvolvimento de novos canais e formas de mobi-
lização social e de participação popular na saúde, apoiando instâncias organizadas de
representação social, como organizações da sociedade civil e movimentos sociais. Dentre
os principais Instrumentos de Gestão Participativa no SUS temos a Política Nacional de
Gestão Estratégica e Participativa (ParticipaSUS). Ela foi instituída pela Portaria GM/MS
nº 3.027, de 26 de novembro de 2007,e reafirma os pressupostos da Reforma Sanitária
quanto ao direito universal à saúde enquanto responsabilidade do Estado – universalidade,
equidade, integralidade e participação social.
São destaques desta Política: a valorização dos diferentes mecanismos de partici-
pação popular e de controle social, a promoção da inclusão social de populações especí-
ficas e a afirmação do protagonismo da população na luta por saúde a partir da ampliação
de espaços públicos de debates e construção de saberes. Promove-se a integração e
interação das ações de auditoria, ouvidoria, monitoramento e avaliação com o controle
social, entendidos como medidas para o aprimoramento da gestão do SUS nas três esferas
de governo.

Fonte: BRASIL, 2019. Ministério da Saúde. Gestão Participativa em Saúde.


Disponível em: <http://www.saude.gov.br/participacao-e-controle-social/gestao-participativa-em-saude>. Acesso
em 10 jan. 2020.

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 67


MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
• Título: SUS: estrutura organizacional, controle, avaliação e re-
gulação
• Autoras: Ivana Maria Saes Busato; Ivana de França Garcia;
Izabelle Cristina Garcia Rodrigues.
• Editora: Intersaberes
• Ano: 2019
• Sinopse - O Sistema Único de Saúde (SUS) representa uma
grande conquista para o povo brasileiro, pois proporciona que toda
a população, desde a mais carente, tenha direito a um serviço de
saúde bom e gratuito. Contudo, encontrar soluções administrati-
vas que garantam a qualidade desses serviços, assimilando as
inúmeras mudanças pelas quais o sistema vem passando, não
é uma tarefa fácil.Conheça nesta obra como funciona a estrutura
organizacional do SUS – assim como as ações que de controle,
avaliação e regulação na área da saúde – e compreenda melhor as
tarefas e funções dos gestores que atuam nessa esfera.

FILME/VÍDEO
• Título: SICKO - SOS Saude
• Ano: 2007
• Sinopse - O cineasta Michael Moore analisa as crises do sistema de
saúde americano e observa porque milhões de americanos continuam
sem seguro saúde adequado para tratamentos. Ele explica como o
sistema se tornou problemático e visita outros países que recebem
tratamentos gratuitos, tais como Canadá, França e Reino Unido.
• Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VoBleMNAwUg

UNIDADE 3 ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DO SUS 68


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UNIDADE

SAÚDE
SUPLEMENTAR
E ÓRGÃOS
REGULADORES
Professor(a) Me. Mirian Aparecida Micarelli Struett

Plano de Estudos
• Saúde Suplementar e Órgãos Reguladores;
• Planos de saúde;
• ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária);
• ANS (Agência Nacional de Saúde).

Objetivos da Aprendizagem
• Conceituar e contextualizar Saúde Suplementar e Órgãos
Reguladores;
• Entender a significância dos planos de saúde no contexto da saúde;
• Compreender o papel da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária);
• Estabelecer a importância da ANS (Agência Nacional de Saúde) no
contexto da saúde suplementar.
INTRODUÇÃO
Prezado (a) aluno (a)!
Nesta unidade de nosso livro, iremos compreender um pouco mais sobre a saúde
suplementar no nosso país, a necessidade da regulação na área da saúde tanto na área
pública quanto na área privada, através da legislação e das agências de vigilância sanitária
e da agência reguladora de saúde suplementar.
Portanto, iniciamos descrevendo acerca dos conceitos da saúde suplementar e da
necessidade da regulação no Brasil. Na qual será apresentado as três dimensões regula-
tórias instituídas pela Política Nacional da Regulação do SUS: Regulação de Sistemas de
Saúde, Regulação da Atenção à Saúde e Regulação do Acesso à Assistência.
Em seguida, será apresentado a evolução histórica da assistência da saúde privada
no Brasil, principalmente no que tange às operadoras de planos de saúde, quanto à sua forma
de atuação, mecanismos de regulação, interação com os serviços de assistência pública e
demais questões relativas ao funcionamento e a necessidade de regulação nesta área.
Dando sequência, no próximo tópico, será tratado sobre a Agência de Vigilância
Sanitária, a ANVISA, na qual conheceremos a Lei que a criou, sua finalidade, importância
e alguns exemplos de sua atuação como forma de promover a proteção da saúde da po-
pulação, por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de produtos, dentre
outras atividades.
Ao final desta unidade, apresento a você, o funcionamento da Agência Nacional
de Saúde Suplementar (ANS), a necessidade de sua criação com forma de regular o mer-
cado privado de assistência à saúde, bem como a descrição de algumas das vedações e
obrigações quanto aos mecanismos de regulação a serem obedecidos pelas operadoras
de planos de saúde.
Portanto, prezado(a) aluno(a), desejo a você, uma boa leitura e aprendizado.

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 70


1
TÓPICO

SAÚDE SUPLEMENTAR E
ÓRGÃOS REGULADORES

A Saúde Suplementar está relacionada aos serviços ofertados livremente no mer-


cado, chamadas de operadoras de planos de saúde, por exemplos. A Constituição Federal
de 1988 já apontava a possibilidade de oferta de serviços de saúde por meio da iniciativa
privada com monitoramento e supervisão do Estado.

Em 1988, a Constituição foi promulgada no congresso nacional. Entre todos os


assuntos existentes na Carta Magna incluía-se a Saúde que, com base no artigo
n. 196, foi declarada como dever do Estado, porém liberada à iniciativa privada, no
artigo n. 199 do mesmo documento (ZIROLDO, GIMENES, JUNIOR, 2013, p.217).

Entretanto, a CF (1988), não criou dispositivos para regulamentar o setor de planos


privados de assistência à saúde, dispondo apenas sobre o segmento de serviços chama-
do de complementar, ou seja, aquele contratado pelos gestores do SUS. De acordo com
Ziroldo, Gimenes e Júnior (2013, p.218-219), “o estado não tem condições de atender a
demanda de toda a população”, assim, “era de se esperar que o Governo Federal, por meio
de políticas de incentivo, favorecesse a saúde suplementar”. A ideia era de que a saúde
suplementar atendesse as parcelas crescentes da população e deixasse o SUS livre para
atender os menos desprovidos de recursos.
Segundo Nitão (2004, p. 2):

[...] a característica principal do mercado de saúde suplementar é a natureza


contratual entre atores e uma demanda em função da renda das famílias e
da inserção no mercado de trabalho. Esta complexa relação envolve a inter-
mediação de terceiros – contratos entre indivíduos e famílias/empresas com
operadoras de planos de saúde, além de programas suplementares de saúde
de autogestão, patrocinados por empresas, públicas e privadas; ambas rece-
bendo o subsídio financeiro indireto da isenção fiscal de pessoas físicas ou
jurídicas que contratam estes planos.

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 71


De acordo com os autores, Ziroldo, Gimenes e Junior (2013), Busato, Garcia e Ro-
drigues (2019) e Scheidweiler (2019), o instrumento legal da Lei nº 9.656 de junho de 1998
que regulamenta os planos privados de assistência à saúde definiu regras específicas para
o setor é criada, a Agência Nacional Saúde Suplementar (ANS), cujas funções e demais
características da agência reguladora trataremos no último tópico desta unidade. Como afir-
mam Ziroldo, Gimenes e Júnior (2013, p.218) “com a criação da ANS, o mercado de saúde
Suplementar ganhou um marco regulatório importante para a sua integração” com o SUS.
Entretanto, somente em 2008, ocorre a regulamentação na área da saúde SUS,
com a Política Nacional de Regulação (PNR) instituída pela Portaria n. 1.559, possibili-
tando a plenitude das responsabilidades sanitárias do Brasil, na qual em seu Art. 2º regula
a atenção, o acesso e o sistema de saúde.

Considerando a necessidade de fortalecer o processo de regionalização, hie-


rarquização e integração das ações e serviços de saúde, resolve:
Art. 1º - Instituir a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde
- SUS, a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as com-
petências das três esferas de gestão, como instrumento que possibilite a ple-
nitude das responsabilidades sanitárias assumidas pelas esferas de governo.

Para Busato, Garcia e Rodrigues (2019), o conceito de regulação está associado


ao “compromisso de otimizar o atendimento e os recursos aplicados ao sistema o público
de saúde. Por meio da regulação do sistema, fortalecem-se os princípios doutrinários (equi-
dade e integralidade) e busca-se garantir a universalidade da saúde”.
De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), em
Brasil (2011a) citado pelos autores Busato, Garcia e Rodrigues (2017), a regulação é defi-
nida como ação social que ocorre por meio da fiscalização, do controle, da auditoria e da
avaliação do sujeito social (estatal e não estatal) sobre a produção dos bens e serviços da
saúde. Essa regulação é composta por um conjunto de ações, de serviços e programas
(promoção, tratamento, paliação, reabilitação) para cuidados individuais e coletivos na
atenção ambulatorial/hospitalar.
Neste sentido, a regulação surgiu para coordenar todos os processos do sistema
SUS, que visa (BUSATO; GARCIA; RODRIGUES, 2019, p. 127):

[...] a condução política e o planejamento estratégico, a contratualização dos


serviços, a avaliação tecnológica em saúde, a avaliação econômica dos ser-
viços de saúde, o sistema de acesso regulado à atenção, o desenvolvimento
de recursos humanos, a normalização dos processos de trabalho, o controle
e a avaliação dos serviços de saúde, a auditoria em saúde, a vigilância em
saúde e o desenvolvimento científico e tecnológico.

Como forma de alcançar os objetivos dos sistemas de saúde, três dimensões regu-
latórias devem ser compreendidas (BUSATO; GARCIA; RODRIGUES, 2019), quais sejam:
01. Regulação dos sistemas de saúde - tem como objetivo fazer cumprir as
diretrizes SUS e definir normas (monitoramento, fiscalização, controle e avalia-
ção). Essas atividades são realizadas por distintos órgãos reguladores (nacional
e regional), inclusive o Ministério da Saúde.

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 72


Como exemplos conhecidos, temos a Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), cuja função se destina a regular planos de saúde privados e a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), cuja função é regular o controle sa-
nitário de produção e consumo de produtos e serviços, envolvendo ambientes,
processos, insumos, tecnologias e controles etc.
O Controle social e as Ouvidorias também estão sob a responsabilidade da regu-
lação do sistema de saúde (nas três esferas), entretanto, não são considerados
órgãos reguladores do sistema de saúde.
02. Regulação da atenção à saúde - tem como objetivo assegurar a assistência
adequada às necessidades de saúde da população, utiliza-se os instrumentos de pla-
nejamento da saúde: Plano Plurianual (PPA), Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO)
e Lei Orçamentária Anual (LOA), na qual sua programação inclui o plano diretor de
regionalização (PDR), a programação geral das ações e serviços da saúde (PGASS),
a programação pactuada e integrada (PPI) e as redes de atenção à saúde (RAS).
Sua organização envolve a formalização e relação entre prestadores de servi-
ços (público e privado) e gestor, visando a interface com a regulação, controle,
avaliação e auditoria, já que as ações e o serviços do SUS constituem-se em
rede hierarquizada e regionalizada, sendo os principais responsáveis o gestor
municipal e de modo suplementar o gestor estadual e federal.
Para a definição de compras de saúde, por exemplo, utiliza-se das áreas jurídicas/
administrativas (para licitação) e para planejamentos de processos, utilizam-se
estudos de epidemiologia, de vigilância sanitária e financeiro. Já para a contrata-
ção de prestadores de serviços os meios para a sua formalização podem ocorrer
das seguintes formas: convênio, contrato administrativo, contrato de gestão,
termo de parceria, protocolo de cooperação entre entes públicos, consórcios
públicos e contrato organizativo da ação pública de saúde, a Coap.
03. Regulação do acesso à assistência - tem como objetivo garantir o acesso
equitativo e integral da assistência, garantidas por meio de protocolos de regulação,
que são fluxos padronizados (de acordo com pontos de atenção RAS e unidades
prestadoras de serviço) construídos desde a entrada o usuário no sistema de saúde
até o atendimento das necessidades do usuário de acordo com a gestão clínica
que ocorre por meio do protocolo clínico (atenuar a variabilidade de consultas) e
do protocolo de atenção e outras ferramentas como Telessaúde (teleconsultoria,
telediagnóstico e tele-educação na saúde e segunda opinião formativa) além do
matriciamento ou apoio matricial (em equipe, com intervenção pedagógica) e apoio
institucional (gestão de saúde). Nesta regulação a Ouvidoria tem papel de regula-
dor, pois analisa os interesses dos usuários e suas necessidades na área da saúde.
03.1. Complexo regulador - é formado por centrais de regulação de acesso
(atenção básica, especializada e de urgência) integrando as esferas estaduais,
municipais e regionais intervindo no agendamento, oferta e melhor opção tera-
pêutica para o paciente (consulta, exames especializados ou outra relacionada
à saúde) de acordo com classificação de risco, vulnerabilidade e priorização da
solicitação (condições clínicas, etc.). No âmbito estadual, regula-se o acesso à
assistência do município que não tem o serviço e é encaminhado a outro muni-
cípio que possa atender o usuário. Já no âmbito municipal, há o gerenciamento

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 73


com a estrutura local disponível enquanto no complexo regulador regional a
gestão é compartilhada entre SES e Secretarias Municipais (SMS).

Alguns instrumentos auxiliam na vigilância, monitoramento e acompanhamento dos


serviços de saúde, tanto na área pública quanto na área privada.
No Quadro 1, apresentamos estes sistemas de informação e regulação e suas
finalidades de forma sintetizada:

QUADRO 1: SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E REGULAÇÃO


Sistema de Informação
Finalidade
e Regulação
Auxilia o planejamento em saúde (três esferas) promoven-
Cadastro Nacional de Estabeleci-
do transparência nas informações (profissionais, equipa-
mentos de Saúde (CNES)
mentos, capacidade física, etc.)
Presta informações do usuário com um único código de ca-
Cartão Nacional de Saúde (CNS) dastro (acesso municipal e estadual), vinculando procedi-
mentos, ações e serviços executados a esse cidadão.
Permite a regulação de recursos hospitalares e especiali-
Sistema Nacional de Regulação
zados provenientes da central de regulação que integram o
(Sisreg)
complexo regulador.
Central Nacional de Regulação de Permite a regulação a pacientes que necessitam de atendi-
Alta Complexidade (CNRAC) mento de alta complexidade.
Fonte: Adaptado de BUSATO; GARCIA; RODRIGUES, 2019.

Como você pode observar prezado(a) estudante, apresentamos neste tópico alguns
instrumentos de regulação e a criação Política Nacional de Regulação (PNR) para a saúde
e atendimentos prestados pela Saúde Suplementar. É importante salientar que a saúde
suplementar é de grande relevância para o equilíbrio da saúde da população. Entretanto,
não podemos nos esquecer que o direito à Saúde é um dever constitucional do Estado e
que não deve ser transferido a responsabilidade do Estado para a iniciativa privada.

Enquanto a receita da Saúde Suplementar em 2007, foi de mais de R$ 51,8 bilhões para atender 47,8 mi-
lhões de beneficiários, o Ministério da Saúde destinou verba de pouco mais de R$ 32,7 bilhões para o aten-
dimento de 136,2 milhões de brasileiros. Isso significa que para cada beneficiário da Saúde Suplementar o
setor arrecadou cerca de R$ 1.083,00/ano, enquanto que a verba no serviço público para cada usuário foi
de pouco mais R$ 240,00/ano. Equivale dizer que a Saúde Suplementar possui receita 4,5 vezes maior que
o serviço público de saúde para cada usuário.
Fonte: ZIROLDO; GIMENES; JÚNIOR (2013, p. 218).

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 74


2
TÓPICO

PLANOS DE
SAÚDE

Segundo Scheidweiler (2019), o surgimento de planos de saúde data da década de 50,


vinculados às empresas, sem base legal e prestado de forma incipiente. Muitos deles funcio-
navam por meio de arrecadação de recursos provenientes da empresa e de seus empregados.
O caso da Caixa de Assistência aos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi) e da Assistência
Patronal para os servidores do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (atual
Geap), são exemplos. Várias Estatais (Petrobrás e Eletrobrás, por exemplos) aderiram ao
modelo, dentre outras de abrangência estadual como a Copel e a Sanepar do Paraná.
Na forma de planos de saúde privados, surgiram a partir da década de 60, cha-
mados de planos de assistência médica e posteriormente a partir da década de 70 como
seguros-saúde. Na década de 90, com o estabelecimento da Lei n. 8078 do Código de De-
fesa do Consumidor (CDC) já se estabeleciam regras para defender e proteger os direitos
dos usuários de planos de saúde, principalmente em relação a contratualização/rescisão
destes instrumentos. Nesta época, já se percebia os abusos e a falta de regulamentação e
legislação (SCHEIDWEILER, 2019).
O setor de operadoras de planos de saúde foi estabelecido a partir da Lei de n.
9.656, de 3 de junho de 1998, definindo como Plano Privado de Assistência à Saúde:

[…] a prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais


a preço pré ou pós estabelecido, por prazo indeterminado, com finalidade de
garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de aces-
so e atendimento por profissionais ou serviços de saúde, livremente esco-
lhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou referenciada,
visando a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 75


ou parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso
ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor.

De acordo com Ziroldo, Gimenes e Júnior (2013, p.220), com o atual “cenário da Saú-
de no Brasil, é sensato pensar que a contratação de um plano de saúde passou a ser questão
de necessidade”, [...] principalmente aos serviços de alta complexidade”, ofertados pelo SUS.
De acordo com Scheidweiler (2019), o Plano de Saúde pode ser contratado individual-
mente e estendido familiares ou coletivamente, por meio da empresa a qual o indivíduo está
vinculado. Em 1997, os planos de saúde cobriam aproximadamente 17 milhões de brasileiros.
Com o cooperativismo iniciou também um aumento dos planos de autogestão. Segundo a ANS,
de acordo com Casemiro (2018), citado por Scheidweiler (2019) a expansão de planos de saú-
de, se tornou mais expressiva nos planos empresariais, respondendo por cerca de 31 milhões
do total de planos existentes em 2018, com maior crescimento no Estado de São Paulo.
Segundo Scheidweiler (2019), as operadoras começaram a ficar mais exigentes
também, passando a ter uma gestão mais efetiva sobre os riscos e criando mecanismos
para regulamentar reajustes relacionados à correções periódicas e avanço de faixa etária
do segurado, pois implicava em maior risco e incremento na utilização do plano. Da mesma
forma outras questões precisavam de mais disciplina, nas quais são citadas:
• A cobertura dos planos contratados;
• O ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS);
• A dupla cobrança por parte dos prestadores de serviços;
• O melhor acompanhamento dos preços (plano e faixas);
• A capacidade de liquidez das operadoras de forma devidamente comprovada;
• Outro fator foi a presença de capital internacional, a partir da presença de ope-
radoras de saúde com capital estrangeiro.

Segundo Scheidweiler (2019), uma questão muito importante a ser dirimida entre
o setor público e as operadoras, é a falta de clareza nas informações, no que tange a
aumentos repentinos nos valores do prêmio a ser pago pelo usuário, a dupla interpretação
das normas contratuais causando problemas nas relações bilaterais, a situação sócio-eco-
nômica pela qual passa o usuário (desemprego, baixo poder aquisitivo, busca por planos
menos onerosos, com perdas de cobertura e prejuízos, dentre outros), que acaba migrando
para o SUS, aumentando ainda mais o número de usuários.
De acordo com Ciommo (2019, online), os planos de saúde enfrentam dificuldades
para manterem os serviços médicos contratados. A Associação Paulista de Medicina (APM)

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 76


realizou uma pesquisa em 2013, e constatou que 30% dos usuários dos planos de saúde
ou pagaram por consultas particulares ou procuraram o SUS.
Ainda de acordo com Scheidweiler (2019), não bastasse a migração do usuário para
o SUS, existe ainda a criação de uma terceira tabela para remuneração de procedimentos,
chamada de Tabela Única Nacional de Equivalência de Procedimentos (Tunep), apresentan-
do 15 valores intermediários preconizados pela Associação Médica Brasileira (AMB) e SUS.
Quanto aos serviços dos pacientes atendidos pelo SUS provenientes de usuários
de planos de saúde, foi criada uma parceria entre o Ministério da Saúde e a ANS objetivan-
do identificar quais são os usuários de operadoras que estão sendo atendidos pela rede
pública de saúde. Para Ciommo (2019, online), a lei afirma que todos os brasileiros devem
ser atendidos pelo Sistema SUS, entretanto aqueles que pagam plano de saúde e também
são atendidos pelo SUS, o governo deve receber o ressarcimento, pois os procedimentos
eram para ter sido efetivados pelo plano de saúde.
Outra questão relevante é (CIOMMO, 2019 online):

O orçamento do SUS para as despesas por paciente é muito abaixo dos


valores dos sistemas de saúde dos países desenvolvidos e bem abaixo das
mensalidades cobradas pelos planos de saúde. Além de custar caro, muitas
vezes os planos negam atendimento quando o usuário mais precisa, como
no caso de cirurgias de alto custo, atendimento de idosos, portadores de de-
ficiências, tratamento de portadores de HIV e outros.

Além disso, segundo Scheidweiler (2019), quando é o SUS a ser ressarcido pelas
operadoras, a exigência é quase utópica, uma vez que falta exatidão da utilização do SUS
pelos usuários, bem como dos valores empregados ou sistemas de informação coerentes.
Para Scheidweiler (2019), os planos atualmente atendem a um quarto da popu-
lação Brasileira, e muitas pessoas aspiram à saúde suplementar, principalmente porque
a disponibilidade de profissionais é três vezes maior. Entretanto, de acordo com Ciommo
(2019 on line) o problema não é a qualidade de atendimento médico, mas sim a carência
de estrutura da iniciativa privada:

O Conselho Regional de Medicina de São Paulo informou que os problemas


não se devem à qualidade no atendimento médico, mas na carência da estru-
tura da iniciativa privada, já que o Brasil oferece entre dois a três leitos hospi-
talares para cada mil habitantes, enquanto que a OMS (Organização Mundial
de Saúde) recomenda de três a cinco. Seriam necessários mais 16 mil leitos
até 2016 para que o Brasil atinja o padrão recomendado.

De acordo com Casemiro (2018) apud Scheidweiler (2019) estão sendo analisadas
pela ANS o estudo de viabilidade técnica populares de planos de saúde como: a oferta
com valor reduzido com coparticipação em percentual, que não menos de 50% do valor do

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 77


procedimento a depender da situação demandada, em casos de alta complexidade, será
necessário segunda opinião médica para que seja autorizado, e as modalidades podem va-
riar de acordo com opções e possibilidades do usuário. A coparticipação, por exemplo, inibe
certos exageros por parte do usuário, que, por exemplo, na busca por segunda opinião,
acarreta custos desnecessários às operadoras. Uma outra estratégia utilizada pelas ope-
radoras é a manutenção de equipe própria para especialidades básicas e auditorias para
pareceres de medicamentos de alto custo e se valerem de franquia, com valor estabelecido
previamente em contrato, e diferença com responsabilidade da operadora.
Estudos estão sendo aperfeiçoados e em 2017 a ANS publicou novas informações
que dizem respeito ao rol de procedimentos e eventos da saúde, neste sentido, houve uma
atualização da lista de coberturas, entretanto, é necessária ampla atualização dos cálculos
atuariais e novas adaptações a serem tomadas continuamente. Mas é importante lembrar
que o consumidor está cada vez mais atento à legislação e, não deixará de buscar por seus
direitos, quando estes forem pactuados de forma legal.

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 78


3
TÓPICO

ANVISA (AGÊNCIA NACIONAL


DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi criada pela Lei nº 9.782,
de 26 de janeiro 1999, é considerada uma autarquia sob regime especial, com sede em
Brasília, porém presente em todo o território nacional. De acordo com o Artigo 2º desta Lei,
compete à Anvisa (BRASIL, 1999):

I - Definir a política nacional de vigilância sanitária;


II - Definir o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária;
III - Normatizar, controlar e fiscalizar produtos, substâncias e serviços de in-
teresse para a saúde;
IV - Exercer a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo
essa atribuição ser supletivamente exercida pelos Estados, pelo Distrito Fe-
deral e pelos Municípios;
V - Acompanhar e coordenar as ações estaduais, distrital e municipais de
vigilância sanitária;
VI - Prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios;
VII - Atuar em circunstâncias especiais de risco à saúde; e
VIII – Manter sistema de informações em vigilância sanitária, em cooperação
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Como podemos perceber no no Art. 8º, existem diversos produtos, substâncias,


processos ou serviços relacionados ou não com a área da saúde, cuja vigilância têm in-
cumbência em relação a legislação em vigor, envolvem os aspectos de regulamentação,
controle e fiscalização de produtos e serviços que envolvem a saúde pública. Desta forma,
considerando em seu § 1º os bens e produtos submetidos ao controle e fiscalização sanitá-
ria pela Anvisa (BRASIL, 1999) apresentam-se:

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 79


I - Medicamentos de uso humano, suas substâncias ativas e demais insumos,
processos e tecnologias;
II - Alimentos, inclusive bebidas, águas envasadas, seus insumos, suas em-
balagens, aditivos alimentares, limites de contaminantes orgânicos, resíduos
de agrotóxicos e de medicamentos veterinários;
III - Cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes;
IV - Saneantes destinados à higienização, desinfecção ou desinfestação em
ambientes domiciliares, hospitalares e coletivos;
V - Conjuntos, reagentes e insumos destinados a diagnóstico;
VI - Equipamentos e materiais médico-hospitalares, odontológicos e hemote-
rápicos e de diagnóstico laboratorial e por imagem;
VII - Imunobiológicos e suas substâncias ativas, sangue e hemoderivados;
VIII - Órgãos, tecidos humanos e veterinários para uso em transplantes ou
reconstituições;
IX - Radioisótopos para uso diagnóstico in vivo e radiofármacos e produtos
radioativos utilizados em diagnóstico e terapia;
X - Cigarros, cigarrilhas, charutos e qualquer outro produto fumígeno, deriva-
do ou não do tabaco;
XI - Quaisquer produtos que envolvam a possibilidade de risco à saúde, ob-
tidos por engenharia genética, por outro procedimento ou ainda submetidos
a fontes de radiação.
§ 2º Consideram-se serviços submetidos ao controle e fiscalização sanitária
pela Agência, aqueles voltados para a atenção ambulatorial, seja de rotina ou
de emergência, os realizados em regime de internação, os serviços de apoio
diagnóstico e terapêutico, bem como aqueles que impliquem a incorporação
de novas tecnologias.
§ 3º Sem prejuízo do disposto nos §§ 1º e 2º deste artigo, submetem-se ao
regime de vigilância sanitária as instalações físicas, equipamentos, tecnolo-
gias, ambientes e procedimentos envolvidos em todas as fases dos proces-
sos de produção dos bens e produtos submetidos ao controle e fiscalização
sanitária, incluindo a destinação dos respectivos resíduos
[...] dentre outras considerações.

Cabe à Anvisa eliminar, prevenir e diminuir riscos provenientes da produção e uso


dos produtos e dos serviços que envolvem a saúde ou condições ambientais utilizando-se
da legislação e regulamentações necessárias para a concessão das licenças sanitárias
para a produção, registro de produtos, certificação de boas práticas, monitoramento da
qualidade (produtos e serviços), fiscalização, educação, comunicação e vigilância de even-
tos adversos (SILVA; COSTA; LUCCHESE, 2018).
Um exemplo de atuação com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da Anvisa,
é a criação da RDC de n. 36, publicada em 2013, que incorpora os conceitos de gestão
de risco e traz a obrigatoriedade da criação do Núcleo de Segurança do Paciente (NSP)
nos serviços de saúde, além da notificação, vigilância e do monitoramento dos incidentes
que ocorrerem na assistência à saúde. Para melhorar a operacionalização da vigilância e o
monitoramento foi publicado em 2015, pela Anvisa o Plano Integrado para Gestão Sanitária

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 80


da Segurança do Paciente em Serviços de Saúde, cujo objetivo é o monitoramento de
eventos adversos e avaliação das práticas de segurança do paciente (ANVISA, 2017).
A Anvisa recebe de profissionais de instituições e empresas as notificações de
incidentes, eventos adversos (EA) e queixas técnicas (QT) a partir do sistema NOTIVI-
SA (Sistema de notificações para vigilância sanitária). São exemplos de notificações de
eventos adversos: queda do paciente, reação adversa por uso de medicamentos, erros de
medicação, dentre outros. São exemplos de queixas técnicas às relacionadas a produtos
com desvio de qualidade, de falsificação, sem registro da Anvisa ou sem autorização de
funcionamento e notificações de incidentes, como um evento adverso em um centro cirúr-
gico por exemplo (ANVISA, 2020 online).

No portal da Anvisa, são disponibilizados todos os atos normativos, considerados importantes na área de
atuação de vigilância, monitoramento e fiscalização. Esses atos normativos e suas alterações datam de 1966
até a data atual, servindo como busca para que o usuário encontre rapidamente as Leis, RDCs e outros
regulamentos importantes.
Fonte: Planilha com a lista dos atos normativos Anvisa. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/legislacao#

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 81


4
TÓPICO

ANS (AGÊNCIA
NACIONAL DE SAÚDE)

De acordo com os autores Busato, Garcia e Rodrigues (2019) e Scheidweiler (2019),


foi criado como monitoramento e controle dos direitos dos usuários da saúde, a Agência
Nacional Saúde Suplementar (ANS), afinal a regulamentação do sistema privado de saúde
necessitava de legislação adequada e se tornou um marco de controle às operadoras de
planos de saúde.
De acordo com Ziroldo, Gimenes e Júnior (2013, p.219):

Com a necessidade indubitável de regular e regulamentar um setor da mais


alta importância como a Saúde, a regulação veio para normatizar cobertu-
ras assistenciais e formas de atendimento visando garantir à população per-
tencente à Saúde Suplementar seus direitos e estabelecer deveres para as
empresas participantes do setor. Tal regulação tornou-se fundamental para
determinação de alguns parâmetros administrativos e financeiros que ao lon-
go dos anos que se seguiram começaram a se apresentar como verdadeiros
obstáculos no processo administrativo do segmento.

A ANS foi criada pela Lei n. 9.961, de 28 de janeiro de 2000 e regulamentada pelo
Decreto n. 3.327, de 5 de janeiro de 2000. Ela é considerada uma autarquia, vinculada ao
Ministério da Saúde do Brasil como um órgão de regulação, normatização, controle e fisca-
lização das atividades que garantam a saúde suplementar no Brasil. Dentre as finalidades
da ANS podemos citar:

• A promoção da defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde;

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 82


• A regulação das operadoras setoriais, inclusive as relações com prestadores e
consumidores;

• A contribuição para o desenvolvimento de ações de saúde no Brasil.


Segundo Scheidweiler (2019), alguns elementos contraditórios foram desmistifica-
dos, como a ideia da criação da ANS para proteção de capital de multinacionais, o negativis-
mo e resistência da classe médica, que via na ANS uma interventora estatal, por exemplos.
De fato, a Lei n.9.656/1998 apresentou a necessidade de correções das irregularidades
praticadas por operadoras, cujas ações traziam desconforto aos usuários dos planos.
De acordo com Ziroldo, Gimenes e Júnior (2013, p.220), após o incremento da Lei
n. 9.656, a ANS afirmou que diversas operadoras encerraram as suas atividades. O que
nos leva a questionar se, “tais empresas cessaram de atuar porque eram mal geridas ou se
os efeitos da quantidade excessiva de normas, regulamentações e exigências financeiras
as tornaram inviáveis”.
Antes da formalização da legislação, reúne-se a Câmara de Saúde Suplementar
Suplementar (CAMSS) da ANS, que tem por finalidade auxiliar a Diretoria Colegiada nas
suas discussões. Com o auxílio de câmaras técnicas, são criados grupos técnicos para
fundamentar a elaboração da legislação. A ANS pode também ouvir a opinião da sociedade,
por meio de audiências públicas e dos agentes regulados para a elaboração de normas. À
câmara complete (ANS, 2020 on line):

• Acompanhar a elaboração de políticas no âmbito da saúde suplementar;


• Discutir, analisar e sugerir medidas que possam melhorar as relações entre
os diversos segmentos que compõem o setor;
• Colaborar para as discussões e para os resultados das câmaras técnicas;
• Auxiliar a Diretoria Colegiada a aperfeiçoar o mercado de saúde suplemen-
tar, proporcionando à ANS condições de exercer, com maior eficiência, sua
função de regular as atividades que garantam a assistência suplementar à
saúde no país; e
• Indicar representantes para compor grupos técnicos temáticos, sugeridos
pela Diretoria Colegiada.

Conforme publicado pela ANS (2019b) Apud Scheidweiler (2019), sobre o controle
de acesso aos serviços da saúde e dos mecanismos utilizados para atender as obrigações
das operadoras de planos:

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 83


QUADRO: RESTRIÇÕES E OBRIGAÇÕES DAS OPERADORAS DE PLANO DE SAÚDE.
O que o plano pode “restringir”, é Obrigações das operadoras de planos
“vedado” às operadoras: quanto aos mecanismos de regulação
• Impedir ou dificultar o atendimento em situa- • Informar clara e previamente ao consumidor,
ções de urgência e emergência; no material publicitário, no contrato e no livro,
• Limitar a assistência à saúde, adotando da rede de serviços, os mecanismos de regu-
valores máximos de remuneração para proce- lação adotados, e todas as condições de cada
dimentos, exceto os previstos com cláusulas de modalidade;
reembolso; • Encaminhar à ANS, quando solicitado, docu-
• Diferenciar o atendimento por faixa etária, mento técnico demonstrando os mecanismos
grau de parentesco ou outras classificações adotados e os critérios para sua atualização;
dentro do mesmo plano; • Quando houver impasse no decorrer do
• Negar autorização para a realização de um contrato, se solicitado, fornecer ao consumidor
procedimento, exclusivamente porque o profis- laudo detalhado com cópia de toda a documen-
sional solicitante não pertence à rede creden- tação relativa às questões de impasse;
ciada da operadora; • Garantir ao consumidor o atendimento pelo
• Definir a coparticipação ou franquia no valor profissional avaliador para detecção dos casos
integral do procedimento, a ser realizado pelo de aplicação das regras de avaliação, no prazo
usuário, ou criar fatores de restrição, que difi- máximo de 1 dia útil a partir do momento da
cultem o acesso à os serviços; solicitação ou em prazo inferior quando carac-
• Limitar em forma de percentual por evento, terizada urgência;
os casos de internação, exceto as definições • Quando houver divergência médica ou
especificadas em saúde mental; odontológica a respeito de autorização prévia,
• Reembolsar ao consumidor as despesas garantir a definição de impasse através da junta
médicas efetuadas, através do sistema de livre constituída pelo profissional solicitante (ou no-
escolha, em valor inferior ao pago diretamente, meada pelo usuário), por médico da operadora
na rede credenciada ou referenciada; e por um terceiro (escolhido em comum acordo
• Exercer qualquer atividade ou prática, que in- pelos profissionais, acima nomeados) cuja re-
frinja o código de ética médica ou odontológica; muneração, ficará a cargo da operadora;
e • Quando houver participação do consumidor
• Exercer qualquer atividade que caracterize nas despesas decorrentes da realização de pro-
conflito, com as disposições legais em vigor. cedimentos, informar previamente à rede creden-
ciada e/ou referenciada em forma de franquia;
• Em caso de internação, quando optar por fator
moderador, estabelecer valores pré-fixados por
procedimentos e/ou patologias, que não pode-
rão sofrer indexação e deverão ser expressos
em reais.
Fonte: adaptado de ANS (2019b) Apud Scheidweiler (2019).

Independente das vedações e dos mecanismos de regulação existentes, conforme


afirma Ciommo (2019 on line), ainda há muitas dificuldades para os usuários do SUS. É
o que revela o Estudo feito pela Associação Paulista de Medicina quanto às salas lotadas

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 84


nos consultórios e Pronto Socorro, devido a demora no atendimento para os usuários dos
planos de saúde.

Além disso, 47% dos entrevistados queixaram-se da dificuldade em agendar


exames e conseguir diagnósticos. As falhas no pronto-atendimento foram
mencionadas por nada menos do que 80% dos entrevistados. Em muitos ca-
sos existe a negativa na autorização dos exames, conforme relatado por 16%
dos usuários. Poucas dessas queixas chegam ao Procon ou à ANS – Agência
Nacional de Saúde, pois os usuários limitam-se a queixar-se às operadoras.

Apesar da evolução ocorrida nesta área, ainda há questões em que a ação da ANS
permanece impenetrável no âmbito de empresas que operam às margens da lei, com obje-
tivos corporativistas, visando ao lucro e a agregação de capital empresarial. Entretanto, os
mecanismos de controle das operadoras estão sujeitos às ordens legais da ANS, e somente
a partir da análise da ANS e aprovação é que os contratos podem ser formalmente firmados.
Como podemos perceber, a ANS, junto com a Câmara de Saúde Suplementar
Suplementar (CAMSS), câmaras técnicas e audiências públicas podem regular, monitorar
e fiscalizar a saúde suplementar no Brasil, desde que os mecanismos de controle destas
operadoras estejam sujeitas às ordens legais da ANS. Entretanto, o Brasil ainda enfrenta
outros sérios problemas, como a instabilidade mercadológica, os altos custos dos procedi-
mentos, a corrupção na área da saúde, a omissão da sociedade em compreender e buscar
os seus direitos, a falta de governança na área da saúde pública, dentre outros.

Ao invés de facilitar o acesso da população à Saúde Suplementar na tentativa de terceirizar sua obrigação,
o Estado Maior está dificultando a entrada de pessoas à Saúde Suplementar por meio da instabilidade
mercadológica que ele próprio causa ao setor.
Fonte: ZIROLDO; GIMENES; JÚNIOR (2013, p.220).

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 85


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a)!
Nesta última unidade de nosso livro didático, enfatizei a necessidade da saúde
suplementar, a regulação da assistência na área da saúde pública e privada, instituição
da Política Nacional de Regulação do SUS, e por fim, apresentei a você, as reguladoras
Agência Nacional de Vigilância Sanitária e a Agência Nacional da Saúde Suplementar.
Desta forma, foi possível entender que a Saúde Suplementar está relacionada
aos serviços ofertados livremente no mercado, prevista sua existência já na constituição.
Apesar da regulamentação relacionada aos planos privados de assistência à saúde ter sido
em 1998, e ter sido criado regulamentação pela ANS em 2000, somente em 2008 é que foi
criada a Política Nacional de Regulação no SUS, possibilitando a plenitude das responsa-
bilidades sanitárias no Brasil, com o compromisso de otimizar o atendimento e os recursos
aplicados ao sistema o público de saúde, nas três dimensões regulatórias (sistema de
saúde, atenção à saúde e acesso a assistência). Para auxiliar na vigilância, monitoramento
e acompanhamento dos serviços de saúde foram apresentados o CNS, CNES, SISREG e
CNRC, como sistemas de informação e regulação utilizados no SUS.
Em seguida, compreendemos um pouco mais sobre o surgimento dos planos de
saúde no Brasil, na qual apresentamos sua evolução histórica e alguns cenários da gestão
e dos mecanismos de regulação dos planos de saúde no país, bem como foi possível
entender como o SUS e os planos de saúde estão interagindo dentro deste contexto, princi-
palmente, porque, muitas vezes, apesar do SUS ser gratuito e o plano de saúde ser pago, o
reembolso/ressarcimento para o SUS acaba ocorrendo pela operadora, devido a operadora
não efetivar os serviços e procedimentos adequados à seus usuários e o paciente ter seu
tratamento efetuado no SUS.
Logo a seguir, você pode entender o papel da Agência Nacional de Vigilância Sani-
tária (Anvisa) na qual busca eliminar, prevenir e diminuir riscos, bem como das notificações
emitidas pelos profissionais da área da saúde que auxiliam no monitoramento e fiscalização
de eventos adversos, queixas técnicas, dentre outros importantes. Ao final, foi importante
conhecer a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), pois seu papel é fundamental
para os usuários dos serviços de saúde privada garantirem os seus direitos e também que
se estabeleçam os deveres, obrigações para as empresas participantes do setor.
Um abraço, Sucesso a você!

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 86


LEITURA COMPLEMENTAR
Operadoras de Planos de Saúde devem quase R$ 2 bilhões ao SUS. As segura-
doras questionavam a cobrança do STF, que decidiu pela legalidade. Para especialistas,
montante poderia ser revertido em investimentos no sistema e saúde pública. Dados da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) confirmam uma dívida de quase R$ 2 bi-
lhões dos planos de saúde com o Sistema Único de Saúde (SUS). O valor devido refere-se
ao atendimento prestado pela rede pública a usuários conveniados com setores privados.
Para especialistas, o montante poderia ser usado como recurso para a recuperação do
serviço público afetado pelos cortes promovidos pela gestão Temer.
Apesar de a cobrança ser prevista desde 1998 pela Lei 9.656, as seguradoras
entraram com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a constitucionali-
dade do ressarcimento feito e calculado pela ANS. Segundo a pesquisadora em saúde do
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) Ana Carolina Navarrete, as empresas
apostaram na judicialização do processo para evitar o pagamento da dívida. No entanto,
após 20 anos de espera, o STF decidiu em fevereiro que a cobrança é legal e pode ser feita
pela agência reguladora.
“A partir de agora um novo horizonte se abre para a saúde pública. Com esse
entendimento pacificado, é possível que esses processos prossigam e enfim as empresas
paguem o que é de direito”, afirma a pesquisadora do Idec, destacando que o ressarcimen-
to dos planos de saúde não retira a necessidade de revogação da Emenda Constitucional
(95), que congela por 20 anos os investimentos sociais.
Da mesma forma entende a médica e diretora executiva da CUT Juliana Salles, que
cita ao aumento da mortalidade infantil como uma consequência da lei do teto de gastos.
Para a sindicalista, a revisão da norma e o investimento dos recursos da dívida com o SUS
podem recuperar diversos serviços. “Poderia suprir as equipes de Saúde da Família que
estão sendo descredenciadas, além de suprir todos os municípios com relação à assistên-
cia à saúde primária e à cobertura de vacina oferecida pelo sistema público”.

Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/saude-e-ciencia/2018/07/operadoras-de-planos-de-saude-devem-
quase-r-2-bilhoes-ao-sus/

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 87


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Fundamentos, regulação e desafios da Saúde Suplemen-
tar no Brasil
• Autor: Sandro Leal Alves
• Editora: Funenseg
• Ano: 2015
• Sinopse: Este livro explica como funciona a Saúde Suplementar,
faz a interação entre o público e o privado, apresentando aspectos
demográficos e epidemiológicos e combinação entre regulamentos
e incentivos, dentre outros aspectos.

FILME/VÍDEO
• Título: Wit, uma lição de vida
• Ano: 2001
• Sinopse: Filme muito instigante para se discutir com profissionais
de saúde em hospitais sobre a forma como estão lidando com seus
pacientes. Mais rico ainda se for usado como material de oficinas
em enfermarias com altas taxas de óbitos. Com certeza fará com
que principalmente médicos e enfermeiras possam ser motivados
a rediscutir seus processos de trabalho evidenciando as ações que
fazem com que muitas vezes os pacientes os rotulem como “frios”
e “insensíveis”.

UNIDADE 4 SAÚDE SUPLEMENTAR E ÓRGÃOS REGULADORES 88


CONCLUSÃO GERAL
Como você pôde perceber, prezado(a) estudante, os temas tratados nesta discipli-
na trazem importantes aspectos de natureza conceitual, contextual e histórico das Políticas
Públicas de Saúde no Brasil, portanto, foi possível perceber as políticas da saúde são parte
integrante das políticas públicas.
Neste sentido, na Unidade I, com o tema “Políticas Públicas em saúde: definição e his-
tórico” apresentamos a você os principais aspectos de natureza conceitual e histórica do SUS
em relação às políticas Públicas, seguida dos tipos de políticas públicas na saúde de públicos
específicos níveis e áreas de atuação dessas políticas, bem como o histórico sanitário campa-
nhista e as primeiras intervenções na área da saúde pelo Estado culminando na apresentação
da criação do Ministério da Saúde e na busca pela democratização da saúde no Brasil.
Na Unidade II, com o tema “Sistema Único de Saúde - SUS”, você compreendeu o que
representa o SUS na sociedade. Desta forma conhecemos seus antecedentes históricos desde
a Administração da Coroa Portuguesa até a Instituição da Saúde e o movimento sanitário que
antecedem à Constituição Federal de 1988 e a implantação do SUS com as Leis Ordinárias da
Saúde (LOS) n. 8080 e 8142 de 1990. Ao final fizemos um contraponto do princípio da Univer-
salização da saúde, apresentando os principais avanços e obstáculos na implantação do SUS.
Na Unidade III, com o tema “Organização e Estrutura do SUS”, destacamos a orga-
nização e estrutura do SUS, com ênfase nos aspectos organizativos da descentralização,
regionalização e hierarquização do SUS. Neste aspecto, compreendemos como o Sistema
está estruturado e organizado nas três esferas de atuação governamental (União, Estado e
Municípios), bem como ao final compreendemos um pouco mais sobre os níveis de atenção
e complexidade de assistência à saúde da população.
Ao final do nosso livro, na Unidade IV, com o tema “Saúde Suplementar e órgãos
Reguladores”, apresentamos uma integração da saúde suplementar, sua importância no
contexto da saúde e do SUS, bem como as formas de regulação tanto das ações no âmbito
do SUS quanto no âmbito da assistência privada, no que tange à regulação das operadoras
de planos de saúde executada pela Agência Reguladora ANS. Ainda nesta Unidade, apre-
sentamos as funções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária exemplificando um pouco
de sua atuação na área da saúde.
Espero, sinceramente, ter contribuído com vosso aprendizado, um abraço e Sucesso!

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