Resolução Tema - Mudanças Climáticas, Educação e Meio Ambiente - IPEA 2024 - Cesgranrio - 45L - Arquivo (277801)

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

CURSO DE DISCURSIVA

Padrão de Resposta

Professor Bruno Marques


CURSO DE DISCURSIVA
Prof. Bruno Marques

ENUNCIADO

Cesgranrio – Técnico de Planejamento e Pesquisa –


IPEA/2024
O IPCC lançou seu novo Relatório sobre Mudanças Climáticas em 2023,
atualizando e sintetizando as informações de vários relatórios anteriores. IPCC
é o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, constituído por um
grupo de cientistas estabelecido pelas Nações Unidas para monitorar e
assessorar toda a ciência global relacionada às mudanças climáticas.
Esse relatório nos traz notícias sobre o aumento de compromissos assumidos
por alguns países em relação à utilização de tecnologias de baixo carbono.
Entretanto, o relatório aponta que essas medidas ainda são insuficientes. Mesmo
se todos os países do mundo implementarem todos os seus compromissos
climáticos, isso provavelmente não evitará que o aquecimento global produza
mudanças irreversíveis para alguns ecossistemas ao redor do mundo, o que seria
fatal para as pessoas e toda a biodiversidade que dependem deles.
O relatório informa:
Barreiras sistêmicas limitam a implementação de opções de adaptação em
setores, regiões e grupos sociais vulneráveis […]. As principais barreiras
incluem recursos limitados, falta de engajamento do setor privado e
sociedade, mobilização insuficiente de financiamento, falta de
compromisso político, pesquisa limitada e/ou lenta e baixa compreensão
da ciência de adaptação e um baixo senso de urgência. A inequidade e a
pobreza também limitam a adaptação, levando a limites flexíveis e
resultando em exposição e impactos desproporcionais para os grupos mais
vulneráveis […]. As maiores lacunas de adaptação existem entre os grupos
populacionais de menor renda […]. Como as opções de adaptação
costumam ter longos períodos de implementação, o planejamento de
longo prazo e a implementação acelerada, especialmente nesta década,
são importantes para reduzir as lacunas de adaptação, reconhecendo que
ainda há restrições em algumas regiões […]. A priorização de opções e
transições de adaptação incremental para transformacional são limitadas
devido a interesses constituídos, engessamentos (lock-ins) econômicos,
dependências institucionais de trajetória e práticas, culturas, normas e
sistemas de crenças prevalecentes […]. Muitas lacunas de financiamento,
conhecimento e práticas permanecem para uma implementação,
monitoramento e avaliação eficazes da adaptação […], incluindo, falta de
alfabetização climática em todos os níveis e disponibilidade limitada de
dados e informações […]; por exemplo, para a África, restrições severas
de dados climáticos e inequidades no financiamento de pesquisa e
liderança reduzem a capacidade de adaptação […].
IPCC, 2023: Summary for Policymakers. In: Climate Change 2023: Synthesis Report.
Contribution of Working Groups I, II and III to the Sixth
2

www.voceconcursado.com.br
CURSO DE DISCURSIVA
Prof. Bruno Marques

Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team, H.
Lee and J. Romero (eds.)]. IPCC, Geneva,
Switzerland, pp. 1-34, doi: 10.59327/IPCC/AR6-9789291691647.001. p. 79-80. Disponível
em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/
sirene/publicacoes/relatorios-do-
ipcc/arquivos/pdf/copy_of_IPCC_Longer_Report_2023_Portugues.pdf. Acesso em: 26 jan.
2024. Adaptado.

Contribuindo com essa reflexão, segue um trecho do artigo intitulado “Mudanças


climáticas, educação e meio ambiente: para além do Conservadorismo
Dinâmico”.
O argumento que atravessa o texto parte da premissa de que as respostas
mais visíveis ao problema nos meios políticos, midiáticos e, em parte, da
comunidade científica, tendem ao reducionismo e estão aquém do desafio
em curso, expressando uma posição que Schon (1973) e Guimarães
(1995) denominaram de “Conservadorismo Dinâmico”. Para Guimarães, o
Conservadorismo Dinâmico é “a tendência inercial do sistema para resistir
à mudança, promovendo a aceitação do discurso transformador para
garantir que nada mude” (1995, p. 118). Essa posição consegue ser mais
danosa ao debate e busca soluções com base no Conservadorismo
convencional porque cria um conjunto de respostas paliativas e simula um
encaminhamento do problema que é incapaz de revertê-lo em sua
complexidade e porque resulta na desmobilização e na despolitização dos
atores nele envolvidos. Ou seja, aceitos os argumentos do
Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) de que a crise
climática tem origem antropogênica e resulta do modelo de
desenvolvimento, produção e consumo praticado pelas sociedades
humanas desde a revolução industrial, é sensato concluir que sejam
necessárias respostas abrangentes nas múltiplas dimensões do sistema
responsável pela crise e não apenas reformas pontuais e setoriais para
reverter ou minimizar o curso dos impactos já verificados e os graves
riscos estimados para o futuro próximo. Essa constatação distingue a
percepção da crise ambiental como desafio civilizatório ou como um
problema de gestão meramente técnica. A presente reflexão adota o
primeiro diagnóstico ao reconhecer a multidimensionalidade das crises
ambiental e climática e investiga as possibilidades e limites de construção
de uma sustentabilidade alternativa que seja plural e democrática. Para
efeito de ilustração, consideram-se respostas atreladas ao
Conservadorismo Dinâmico as que entendem que a ecoeficiência
tecnológica, por si só, será capaz de promover o desacoplamento entre
produção, energia e recursos naturais; os mecanismos de mercado de
carbono criados ou propostos no âmbito do Protocolo de Kyoto como o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL e a Redução de Emissão por
Desmatamento e Degradação – REDD; as iniciativas pautadas no consumo
verde e no marketing ambiental; a defesa da transgenia na agricultura
como solução para o desafio alimentar; o ambientalismo preservacionista
das grandes ONGs internacionais em sua dissociação entre os problemas
3

www.voceconcursado.com.br
CURSO DE DISCURSIVA
Prof. Bruno Marques

ecológicos e sociais e a aposta irrestrita nos biocombustíveis e na energia


nuclear como soluções à questão energética. Ressalte-se que não se trata
de desqualificar as diversas propostas de combate ou minimização da crise
climática, mas de discutir seus limites ante a dimensão do problema
considerado, sobretudo, quando são pensadas como soluções isoladas ou
como formas de evitar mudanças mais abrangentes na ordem sistêmica
instituída pelo capitalismo.
LIMA, G. F. C. ; LAYRARGUES, P. P. Mudanças climáticas, educação e meio ambiente: para
além do Conservadorismo Dinâmico.
Educar em Revista, n. 3, p. 75-76, 2014. Curitiba: UFPR. Adaptado.
Nesse contexto, considerando, necessariamente, o que afirma o relatório do
IPCC e o trecho do artigo que conceitua o “Conservadorismo Dinâmico”, elabore
um texto dissertativo contínuo de 35 a 45 linhas cujo desenvolvimento apresente
os seguintes pontos:
• a mudança climática como um problema socioambiental, em suas causas
e soluções;
• a proposição de uma ação a ser implementada por uma política pública
que vise ao enfrentamento da mudança climática e à superação do
“Conservadorismo Dinâmico” no Brasil;
• a explicitação de duas contribuições dessa proposta para o alcance do
objetivo dessa política.

Obs.: Máximo de 45 linhas.

PADRÃO DE RESPOSTA

A avaliação das questões dissertativas considerará:


a) quanto aos Conhecimentos Específicos, atribuindo-se 50%
(cinquenta por cento) do valor total da questão: a capacidade de lidar com
os conceitos, as técnicas e as atividades próprias na Área de Conhecimento,
aferindo a compreensão, o conhecimento, o desenvolvimento e a adequação
desses conceitos, a conexão e a pertinência ao assunto abordado e o
atendimento aos tópicos solicitados;
b) quanto ao uso do idioma, atribuindo-se 50% (cinquenta por
cento) do valor total da questão: a proficiência na instrumentalização de
conhecimentos ortográficos, gramaticais adequados à norma-padrão e textuais
(introdução, desenvolvimento, conclusão, observando-se coerência e coesão).
Caso a questão receba nota zero quanto aos Conhecimentos Específicos, não
será avaliada quanto ao uso do idioma
Valor total da questão: 100 pontos
---
4

www.voceconcursado.com.br
CURSO DE DISCURSIVA
Prof. Bruno Marques

Padrão da banca adaptado (a equipe de professores do Você Concursado apenas


inseriu os conceitos, sem mexer do conteúdo exigido pela banca.).

Tópico 1: Mudança climática como um problema socioambiental, em


suas causas e soluções
— Reconhecer a indissociabilidade entre os problemas sociais e ambientais que
causam a mudança climática;
— Explicitar que os problemas ambientais são causados por problemas sociais
relativos à exploração da natureza, desrespeitando seus ciclos, e da exploração
do trabalho humano, fazendo prevalecer os interesses econômicos de uma
pequena parte da sociedade em detrimento dos direitos da maioria da população
e da preservação ambiental.
— Reconhecer que as soluções para o problema da mudança climática
necessariamente passam pelo enfrentamento dos problemas sociais e
ambientais de forma articulada, não sendo suficientes soluções restritas ao
campo técnico.
Conceito 0: não abordou o tópico.
Conceito 1: abordou apenas 1 aspecto solicitado.
Conceito 2: abordou 2 aspectos solicitados.
Conceito 3: abordou 3 aspectos solicitados.

Tópico 2: Ação a ser implementada por uma política pública que vise ao
enfrentamento da mudança climática e a superação do
“Conservadorismo Dinâmico” no Brasil
— A posição do “Conservadorismo Dinâmico” considera que a ecoeficiência
tecnológica é suficiente para o enfrentamento da mudança climática;
— A ação apresentada deverá necessariamente explicitar como os problemas
sociais e ambientais estão implicados, por exemplo, os que afetam as
populações de território que sofre com enchentes.
— A explicitação que para os problemas ambientais serem resolvidos é
necessário enfrentar problemas estruturais da sociedade brasileira, como a
pobreza, a falta de moradia, dentre outros.
Conceito 0: não abordou o tópico.
Conceito 1: abordou apenas 1 aspecto solicitado.
Conceito 2: abordou 2 aspectos solicitados.
Conceito 3: abordou 3 aspectos solicitados.

www.voceconcursado.com.br
CURSO DE DISCURSIVA
Prof. Bruno Marques

Tópico 3: A explicitação de duas contribuições dessa proposta para o


alcance do objetivo dessa política.
— A ação que poderá contribuir na superação do “Conservadorismo Dinâmico”,
na medida em que, dentre outras alternativas, promova mudança na hegemonia
que, em geral, faz prevalecer interesses econômicos privados em detrimento
dos interesses públicos;
— O reconhecimento de que não há solução possível para o impasse climático
sem o reconhecimento dos limites do crescimento da exploração da natureza e
do consumo, sem que haja uma distribuição justa e proporcional aos custos e
responsabilidades entre os países e no interior de cada um deles.
— A explicitação de elementos que contribuem para a ruptura do modelo
econômico que gera degradação ambiental em contraposição às ações de
melhorias que se restringem a um Conservadorismo Dinâmico.
Conceito 0: não abordou o tópico.
Conceito 1: explicitou uma contribuição dessa proposta para o alcance do
objetivo dessa política.
Conceito 2: explicitou duas ou mais contribuições dessa proposta para o alcance
do objetivo dessa política.

PROPOSTA DE RESOLUÇÃO

Rascunho Eficiente
Assunto: Meio ambiente / Mudanças climáticas
Tema: Conservadorismo Dinâmico.
Tese: O Conservadorismo Dinâmico deve ser superado, pois é um obstáculo que
se manifesta na resistência a mudanças significativas em políticas ambientais.
Tópico 1: a mudança climática como um problema socioambiental, em suas
causas e soluções;
Tópico 2: a proposição de uma ação a ser implementada por uma política
pública que vise ao enfrentamento da mudança climática e à superação do
“Conservadorismo Dinâmico” no Brasil;
Tópico 3: a explicitação de duas contribuições dessa proposta para o alcance
do objetivo dessa política.

Proposta de Resolução
Ao refletir sobre o desafio crescente das mudanças climáticas, percebe-se
sua complexidade como um problema socioambiental global. No contexto
6

www.voceconcursado.com.br
CURSO DE DISCURSIVA
Prof. Bruno Marques

brasileiro, emerge a necessidade de superar o que se denomina


"Conservadorismo Dinâmico", um obstáculo que se manifesta na resistência a
mudanças significativas em políticas ambientais.
Preliminarmente, verifica-se que a mudança climática é um fenômeno
intrinsecamente ligado a problemas sociais e ambientais complexos. Conforme
destacado por diversos estudiosos e especialistas, as mudanças climáticas são
causadas não apenas da exploração insustentável da natureza, mas também da
exploração injusta do trabalho humano, que prioriza ganhos econômicos
estreitos sobre a justiça social e a sustentabilidade ambiental. Nesse contexto,
as soluções eficazes para mitigar a mudança climática devem abordar esses
problemas de maneira integrada e articulada, reconhecendo que medidas
puramente técnicas são insuficientes para promover mudanças significativas.
Ainda, entende-se que é necessário um enfoque que não apenas proteja os
ecossistemas, mas também garanta justiça social e equidade.
Diante desse cenário, faz-se fundamental enfrentar a mudança climática
e superar o "Conservadorismo Dinâmico" no Brasil. Conforme apontado pelo
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a abordagem
exclusiva centrada na ecoeficiência tecnológica é insuficiente diante da
magnitude dos desafios ambientais e sociais. Nesse sentido, políticas públicas
devem não apenas promover tecnologias mais limpas, mas também abordar as
raízes sociais dos problemas ambientais, como ilustrado pela vulnerabilidade das
populações em áreas propensas a enchentes. Isso implica enfrentar
estruturalmente a pobreza, melhorar as condições de moradia e fortalecer a
resiliência das comunidades frente aos impactos das mudanças climáticas,
criando um caminho sustentável e equitativo para o desenvolvimento nacional.
Essas políticas de combate à pobreza e melhoria da moradia
desempenham um papel crucial no combate ao Conservadorismo Dinâmico.
Tendo como base estudos do Banco Mundial sobre desenvolvimento sustentável,
ao proporcionar acesso digno à moradia e condições de vida adequadas para
populações vulneráveis, tais políticas não apenas melhoram a qualidade de vida,
mas também reduzem a pressão sobre os recursos naturais e minimizam o
deslocamento forçado, que pode ser exacerbado por eventos climáticos
extremos. Além disso, ao abordar a pobreza de maneira estrutural, essas
políticas promovem uma redistribuição mais equitativa dos benefícios do
desenvolvimento econômico, desafiando a predominância de interesses
econômicos privados que perpetuam o Conservadorismo Dinâmico. Contudo, é
essencial reconhecer que a solução para a crise climática uma distribuição justa
dos ônus e das responsabilidades entre países e dentro de cada nação.
Portanto, percebe-se que o Conservadorismo Dinâmico deve ser superado,
pois é um obstáculo que se manifesta na resistência a mudanças significativas
em políticas ambientais. Nesse contexto, políticas que abordem
simultaneamente a pobreza e a moradia inadequada promovem base mais sólida
para a sustentabilidade ambiental, rompendo com modelos econômicos que
historicamente têm contribuído para a degradação ambiental.
7

www.voceconcursado.com.br

Você também pode gostar