A Dimensc3a3o Kerygma Na Missc3a3o Integral Da Igreja

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A Dimensão Kerygma na

Missão Integral da Igreja


Jair Walter P. Ribeiro, Mestre em Missiologia
Diretor do Instituto Paracleto
[email protected]

Este Estudo busca levantar as bases teológicas para o ofício profético


em relação a sua atuação histórica e seu desenvolvimento como pregação
expositiva e ensino sistemático.

No meu livro Missão da Igreja: dimensões e efeitos1 comento sobre a


narrativa da pregação ao eunuco etíope, quando o evangelista Filipe se
aproxima (martyria) e explica as Escrituras (kerygma), o que resulta no batismo
do eunuco (leitourgia) e sua inclusão na igreja (koinonia).
No envio dos 70, em Lucas, Jesus sublinha o risco da missão na medida
em que descreve os discípulos que estão sendo enviados como "cordeiros
enviados para o meio de lobos" (martyria), e eles são proibidos de levar
qualquer coisa consigo. Devem desejar paz à casa onde entrarem, comer
qualquer alimento que lhes for servido (koinonia), curar os doentes (diakonia) e,
somente então, proclamar que "o reino de Deus está próximo" (kerygma).

Tendo em vista o texto bíblico de Atos 2:42-47, identificamos as


seguintes dimensões principais:

Atos 2:42a “E perseveravam na doutrina dos apóstolos ...” Atos 13:38-


39 “Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos anuncia remissão de
pecados por intermédio deste e, por meio dele, todo o que crê é justificado de
todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés.”

• Jesus é o Senhor, implica em movimento para fora, em direção ao


mundo.
• Havia duas formas de pregação, a saber, kerygma e didache.
• A igreja existe quando as pessoas confessam com a boca e crêem
no coração que Jesus é o Senhor.
• A igreja reconheceu que o reino reconciliador, redentor e renovador
desse Senhor é um reino universal que abraça todas as nações.
• A palavra evangelho possui dois sentidos básicos: a proclamação
ativa da mensagem e o conteúdo proclamado.

Definição

A Homilética é a ciência do qual a arte é a pregação e o produto é o


sermão. A origem da palavra “Sermão” é do Latim SERMO, “fala, discurso”.
Originalmente queria dizer “encadear palavras”, usando a raiz do verbo
SERERE, “unir” (que originou a palavra “série”).

1
MISSÃO DA IGREJA: dimensões e efeitos, Jair Walter – Instituto Paracleto, 2011

© 2013 Instituto Paracleto 1 http://institutoparacleto.org


Antes do Concílio Vaticano II, na Igreja, se escutava o SERMÃO do
Padre, pois era uma fala dogmática. Hoje, se escuta a HOMILIA do Padre, no
sentido de a fala ser mais explicativa do que dogmática.
A expressão “homilética” tem sua origem nos substantivos gregos
“homilia” (sig. Associação, companhia – 1Co 15.33) e “homilos” (sig. Multidão,
turma, assembleia do povo – At 18.17) e no verbo da mesma língua “homíleo”
(sig. Falar, conversar – Lc 24.14s; At 20. 11; 24.26).

O documento da CNBB acrescenta que “[...] Para o 3° milênio, as


exigências permanentes da evangelização serviço (diakonia), diálogo-anúncio
(kerygma), comunhão (koinonia) foram resumidos pelo Papa no Sínodo das
Américas: “conversão, comunhão e solidariedade”.

Classificação

Há muitos tipos de sermões e vários meios de classificá-los.


Provavelmente a forma menos complicada seja a classificação em
TEMÁTICOS, TEXTUAIS e EXPOSITIVOS:

1. Sermão temático é aquele cujas divisões principais derivam do tema,


independentemente do texto. Isso significa que o sermão temático tem
início com um tema ou tópico, e que suas partes principais consistem
em idéias derivadas desse assunto. Os versículos nos quais se
fundamentam as divisões principais devem ser, em geral, extraídos de
porções bíblicas mais ou menos distantes umas das outras.

2. No sermão textual temos um tipo de discurso diferente do sermão


temático. Neste iniciamos com um texto; naquele, começamos com um
tema. Observe com cuidado a definição do sermão textual. Sermão
textual é aquele no qual as divisões principais são derivadas de um texto
constituído de uma breve porção da Bíblia. Cada uma dessas divisões é
usada como uma linha de sugestão, e o texto fornecem o tema do
sermão.

3. O sermão expositivo é o método mais eficiente de pregação, porque,


mais que todos os outros tipos de mensagens, ele, com o tempo, produz
uma congregação cujo ensino é fundamentado na Bíblia. Ao expor uma
passagem da Sagrada Escritura, o ministro cumpre a função primária da
pregação, a saber, interpretar a Verdade bíblica (o que nem sempre se
pode dizer dos outros tipos de sermões).Sermão Expositivo é aquele em
que uma porção mais ou menos extensa da Escritura é interpretada em
relação a um tema ou assunto. A maior parte do material desse tipo de
sermão provém diretamente da passagem, e o esboço consiste em uma
série de idéias progressivas que giram em torno de uma idéia central.

Ronaldo Lidório comenta em seu blog, que Jesus lança uma


evidência puramente missiológica dizendo que “será pregado o Evangelho do
Reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim”.
A expressão grega para “e será pregado” tem como raiz kerygma, uma

© 2013 Instituto Paracleto 2 http://institutoparacleto.org


proclamação audível e inteligível do Evangelho paralelamente à martyria que
evoca um sentido mais pessoal, de testemunho de vida.

Portanto, a expressão Martyria (testemunho) indica uma ação informal


de vida enquanto kerygma (proclamação) pressupõe uma pregação mais
sistemática do Evangelho.

Karl Barth, em Church Dogmatics, defende o uso do verbo


matheteuein em lugar de keryssein (pregar) que aparece nos textos de Mc
16:15 e Lc 24:47 ou euangelizesthai (pregar boas novas) que é usado em Mat.
11:5. No contexto, a ordem é dada com o propósito de fazer discípulos, não
somente confrontar ou desafiar os ouvintes.
Batizando e ensinando de Mat. 28 expressam o modo como a missão
de fazer discípulos se realiza. Ele lembra que as autoridades civis são diakonos
para Deus e leitourgoi (ministros) seus representantes são conforme Rom.
13:3-6.

A propósito, em Proclamacion del Evangelio2, Barth descreve o


kerygma como a vinda de Cristo até o retorno do Senhor. A pregação
neotestamentária possui duplo movimento: “Deus tem se revelado, Deus se
revelará.”. A Epifânia é a anunciação da vinda de um rei ou de um Deus. A
Parousia significa a presença literal a partir de sua anunciação.
Para ele, todo discurso veria sair do respeito à Escritura. O
conhecimento do momento presente tem a sua importância. Barth ainda
aconselha: “Não se deve fazer uma pregação sobre um tema e sobre um texto
(homilia).”.

Proclamação e ensino

As igrejas precisam distinguir estes dois componentes na proclamação


do evangelho: o testemunho e a pregação. Os crentes precisam ser motivados
a testemunhar onde se encontram. Essa é uma lacuna crítica: o espaço entre a
casa e a igreja. Quando acontece, o avivamento se torna evidente neste
espaço. Se os crentes não testemunham, não existe avivamento. O
testemunho precisa ancorar na Palavra. A Palavra é causa e consequência.
Isto é, os crentes necessitarão de mais conhecimento. A igreja deverá fornecer
a kerygma através de seus apóstolos, mestres e profetas. A motivação para o
testemunho (martyria) será provido pelos evangelistas e pastores.
Muitas igrejas fornecem a palavra kerygma apenas através de seus
púlpitos. Isto torna a congregação demasiadamente dependente do pastor, o
que muitos estudiosos chamam de crescimento do sacerdotal ismo. Algumas
igrejas estão retornando com escolas bíblicas não apenas para promover a
edificação espiritual, mas à necessidade de prover conhecimento bíblico aos
crentes.

Ray Stedman, no livro IGREJA, CORPO VIVO DE CRISTO 3 destaca que


a igreja nascente confiava assim num testemunho duplo, como um meio de
alcançar e imprimir sobre um mundo cínico e descrente o kerygma
2
Proclamacion del Evangelio, Karl Barth
3
IGREJA, CORPO VIVO DE CRISTO, Ray Stedman

© 2013 Instituto Paracleto 3 http://institutoparacleto.org


(proclamação) e a koinonia (comunhão). Foi a combinação desses dois
elementos que tornou seu testemunho tão poderoso e eficiente. "Pelo
depoimento de duas ou três testemunhas se estabeleça toda palavra." Os
pagãos poderiam desfazer facilmente a proclamação, como simplesmente mais
uma "doutrina" entre muitas; mas eles viram que é muito mais difícil rejeitar a
evidência da koinonia. O interesse dos cristãos um pelo outro e sua evidente
consciência de estarem compartilhando a vida na mesma grande família de
Deus como irmãos e irmãs deixavam o mundo pagão se lambendo de inveja.
Foi isso que levou à observação muito citada de um escritor pagão: "Como se
amam mutuamente esses cristãos!"

Para Bertil Ekstrom4, no artigo Witness to Christ in Latin America,


na America Latina, todas as igrejas apresentam a dimensão kerygma junto com
a diaconia. Nossos estudos comprovam esta combinação.
Bertil adverte que existe uma ausência de discipulado e consequente
dicotomia entre a vida dominical nas igrejas e a vida diária nas comunidades.

O verbo "kerysso" aparece 61 vezes no Novo Testamento (19 vezes nas


epístolas pastorais, 8 vezes em Atos, 9 vezes no Evangelho de Mateus e 9
vezes em Lucas, 14 vezes em Marcos, 1 em I Pedro e 1 vez em Apocalipse) e
significa anunciar. Uma análise do objeto gramatical do verbo revela que, nas
passagens mais antigas de Paulo (I Ts 2.9; Gl 2.2, mas também em Cl 1.23) e
em alguns contextos de Marcos (Mc 1.14, 13.10, 14.9) e de Mateus (4.23, 9.35,
24.14 3 26.13), o objeto é to evangelion, o evangelho.
Quando percebemos o conteúdo daquilo que tem sido ensinado em
muitas igrejas, a preocupação precisa invadir o coração de todos os que amam
o Senhor. O evangelho tem-se diluído e o evangelho que vem sendo pregado
não reflete todo o desígnio do Pai, mas apenas aquilo que alguns líderes
querem ensinar segundo sua conveniência. Muito disso é fruto de uma
hermenêutica alegórica, que não leva a sério aquilo que as Escrituras ensinam,
mas vale-se de visão pluralista de que cada um tem a sua verdade, portanto,
veem-se no direito de proclamá-la. Sobre essa superficialidade, o clérigo
alemão Bonhoeffer, que se opôs a Hitler e ao nazismo, chamou essa teologia
de "graça barata". Ele disse:

"Graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, batismo sem


disciplina eclesiástica, comunhão sem confissão, absolvição sem confissão
pessoal. Graça barata é graça sem discipulado, graça sem cruz, graça sem o
Jesus Cristo vivo e encarnado".

Mateus, falando sobre o ministério de Jesus, informa que Ele "pregava o


Evangelho do Reino". A mensagem do Deus Filho não era uma mensagem
fragmentada, segundo um modelo pré-concebido da verdade. Ao contrário, Ele
proclamava todo o desígnio de Deus e não dicotomizava sua mensagem. Sua
pregação não se limitava a falar da esperança celestial, mas trazia esperança
para o aqui e agora e isto aconteceu em várias oportunidades, tocando a vida
de muita gente. Sua mensagem era uma nítida declaração de que Ele via o ser
humano integralmente. Sendo assim, Ele tratou da saúde de um paralítico, mas
lembrou-o de que não deveria pecar para que não sucedesse coisa pior (Jo
4
Witness to Christ in Latin America, Bertil Ekstrom

© 2013 Instituto Paracleto 4 http://institutoparacleto.org


5.1-14); Ele cuidou de outro paralítico, que foi levado por 4 homens à sua
presença (Mc 2), mas, desta feita, Ele começa a falar sobre o perdão de
pecados e somente depois, para testificar sobre sua autoridade, cura o
paralítico do mal acometido.

O segundo elemento presente no ministério de Jesus é o ensino, e este


se refere à instrução dada ao povo. O objetivo é que o povo seja ensinado a
partir da autoridade e não dos "estatutos humanos".
O verbo didaskõ transmite a ideia de estender a mão repetidas vezes
para aceitar algo; a palavra, portanto, sugere a ideia de fazer alguém aceitar
alguma coisa. No Novo Testamento, didaskõ, ocorre 95 vezes, das quais 38
aparecem nos evangelhos sinóticos.
Os evangelhos sinóticos são uma clara testemunha de que havia ensino
no ministério de Jesus. Ele ensinava publicamente, isto é, nas sinagogas (Mt
9.35, 13.54), no templo (Mc 12.35, Lc 21.37), ao ar livre (Mt 5.2, Mc 6.34) ou
ainda, nos lares (Mc 2.1-12). Lucas, o médico amado, é o único que diz algo
sobre a forma externa do seu ensino (Lc 4.16), esclarecendo que o Salvador
permanecia em pé para ler a Palavra e sentava-se para ensiná-la, conforme o
costume rabínico.
O que Jesus ensinava? Em resumo, a resposta é: Deus, Seu reino e
Sua vontade, sendo que todos os mencionados temas também pertenciam ao
judaísmo contemporâneo, acerca dos quais Jesus, segundo o modo de um
rabino ou de um profeta, falava nas Suas conversas com os judeus.
Nota-se, com grande fascínio, que Jesus não teoriza sobre Deus, Sua
providencia, Sua graça ou Sua ira, mas demonstra a bondade e a ira de Deus
em operação em várias situações concretas.

Cultura e Mensagem

Rick Warren, em artigo da Enfoque Gospel de janeiro de 2004,


pergunta: “Por que aqueles 3 mil se converteram? Porque eles sentiram a
presença de Deus e entenderam a mensagem dEle. Acredito que esses dois
elementos são essenciais para tornar a adoração uma forma de testemunhar”.
Ele conclui:

“Uma mensagem clara acoplada a uma adoração genuína não vai apenas
atrair os que não acreditam, mas vai abrir os seus corações para o poder do
Evangelho.”

As dimensões leitourgia e kerygma combinadas produzem elementos


essenciais para a conversão. Igrejas que sabem utilizá-las com qualidade e
quantidade produzem muitas conversões e manifestação do poder de Deus. A
adoração congregacional pode ajudar muitas pessoas a encontrar uma
proximidade maior com Deus. Ocorre que somos tentados em fazer sempre a
nossa festa particular. Por exemplo, em I Coríntios 14:23, Paulo ordena que a
manifestação em línguas estranhas deve ser refreada na adoração pública. A
adoração precisa ser adequada quando não crentes estão presentes.

Um dos exemplos notáveis foi a utilização de pandeiro entre os


instrumentos musicais das igrejas pentecostais históricas. Certamente, o ritmo
© 2013 Instituto Paracleto 5 http://institutoparacleto.org
musical dos hinos ajudou a estabelecer uma aproximação cultural com a
população da periferia das cidades.
A organização das milhares de igrejas Assembléia de Deus reconhecia
quase todos os dons ministeriais, à exceção do apóstolo: o pastor, o
evangelista, o professor e o profeta. Essa organização providenciou grande
dinâmica ministerial. O resultado foi uma explosão de crescimento.
É bom lembrar que muitas igrejas tradicionais evitaram o uso de
guitarras e bateria até os anos 80.

Barth assinala que:

“... a Palavra quer ser confrontada com o homem, quer agitá-lo, atacá-lo, a fim
de conduzi-lo desta forma à Paz de Deus. Não é preciso deformar a Palavra ou
evitar com negligência ou desobediência.”.

No artigo Calvino e Sola Scriptura5, Daniel Miranda descreve que


pregar a Palavra foi o método de Calvino em Genebra. Calvino pregava em
dias alternados e lecionava cada terceiro dia; na quinta-feira reunia-se com os
presbíteros; na sexta-feira participava da reunião chamada “A Congregação”
em que, com outros ministros, trocava ideias sobre textos das Escrituras.

Martin Lloyd-Jones, em uma de suas exposições no seminário de


Westminster, afirmou:

“Se alguém quiser saber doutra razão em acréscimo, então eu diria, sem
hesitação, que a mais urgente necessidade da igreja cristã da atualidade é a
pregação autêntica.”.

Bonhoeffer, em uma de suas preleções sobre pregação, proferidas antes


de irromper a guerra, ressaltou:

“Por causa da Palavra proclamada, o mundo existe com todas as suas


palavras. No sermão, é deitado o alicerce para um mundo novo. Nele, a
palavra original se torna audível. Não há maneira de evitar ou escapar da
palavra falada do sermão, nada nos libera da necessidade desse testemunho,
nem sequer o culto ou a liturgia [...] O pregador deve ter a certeza de que
Cristo entra na congregação mediante aquelas palavras que proclama das
Escrituras.”.

John Stott, em uma de suas obras, afirmou:

“O padrão da pregação no mundo moderno é deplorável. Existem poucos


grandes pregadores. Muitos ministros religiosos parecem não acreditar nela
como modo poderoso de proclamar o Evangelho e de transformar vidas. Esta é
a época do ‘sermãozinho’: e ‘sermãozinho’ produz ‘cristãozinho’. Boa parte da
incerteza atual a respeito do Evangelho e da missão da Igreja deve-se, por
certo, a uma geração de pregadores que perderam confiança na Palavra de
Deus e já não se dão ao trabalho de estudá-la em profundidade e de proclamá-
la sem medo nem favoritismo.”.

5
http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/Calvino-Sola-Scriptura_Daniel-Leite.pdf

© 2013 Instituto Paracleto 6 http://institutoparacleto.org


Forma e conteúdo

No final dos anos 60, uma importante mudança paradigmática no campo


da Homilética começou a ganhar força buscou resgatar para dentro da
pregação cristã teorias indutivas e narrativas, constituindo o que passou a se
chamar de Nova Homilética. O modelo homilético que Fred Craddock compilou,
conhecido como pregação indutiva, tem por objetivo principal convidar as
pessoas ouvintes a tomar parte no desenrolar da prédica e permitir que haja
espaço para que cheguem às suas próprias conclusões. No coração da
proposta de Craddock está a convicção de que, sendo comunicação oral, a
prédica pertence a todas as pessoas que a ouvem. Craddock chega a afirmar
que a Palavra de Deus não está localizada nas páginas [da Bíblia] nem nos
lábios [de quem prega], mas nos ouvidos [de quem ouve].
Em As One Without Authority, Craddock6 deu um puxão de orelhas bem
grande em seus colegas pregadores, homilistas e líderes eclesiásticos da
América do Norte. Para ele, sabe-se sobre o que pregar, mas se dá pouca ou
nenhuma atenção ao como pregar. Esse divórcio entre forma e conteúdo na
prédica era fatal, porque falhava em não reconhecer a teologia implícita no
método de comunicação9. Craddock propunha veementemente que forma e
conteúdo são inseparáveis na prédica, porque como se prega é, em grande
parte, o que se prega. Ele afirmava novamente que, enquanto a Cristandade
concentrou sua atenção no quê” da fé, ela esqueceu completamente o como, e
esse fato apontava para certo desrespeito para com as comunidades ouvintes,
entendidas como meras receptoras passivas de uma mensagem.

Homileticamente, dedução significa começar a prédica com a tese


central (conclusão, mensagem, verdade, doutrina) e seguir para pontos
menores ou teses secundárias que visam apoiar e provar a tese central. Os
pontos menores podem ser divididos em itens ainda menores que, finalmente,
são aplicados à situação vivencial das pessoas ouvintes.
O método homilético indutivo não busca provar uma tese, mas montar as
particularidades das experiências em uma ordem narrativa de tal forma que
termine em uma mensagem coerente. Pregação indutiva favorece e possibilita
prédicas com final aberto. Do ponto de vista da lógica, prédicas indutivas são
inconclusivas, isto é, permitem que a pessoa que ouve tire suas próprias
conclusões e/ou aplicações concretas da mensagem para sua vida. Pregação
deveria ser entendida como um evento comunitário, no qual tanto as pessoas
que pregam quanto as que ouvem participam ativamente.
Penso que aqui residiu a força do Pentecostalismo: na sua pregação
participativa. Devido a liturgia de seus cultos, com variedade de participações
entre as quais de corais, profetas, cantores, testemunhos, as igrejas
pentecostais e suas ramificações passaram a praticar essa homilética indutiva
que muitas vezes escapava do controle do pastor da igreja. Porém, os fiéis
percebiam um ambiente social-religioso que qualquer um poderia ter voz. Não
é surpreendente o crescimento vertiginoso do movimento pentecostal nas
últimas décadas associada à urbanização crescente na América Latina, África
e Ásia.
Os seguintes elementos são essenciais em qualquer prédica indutiva:

6
http://www.religion-online.org/showbook.asp?title=797

© 2013 Instituto Paracleto 7 http://institutoparacleto.org


1. Experiências concretas e particulares;
2. Tanto conteúdo quanto forma devem respeitar o direito dos/as
ouvintes de participar da prédica e, se assim desejarem, chegar a
uma conclusão com suas próprias forças;
3. Quem ouve deve ter a chance de completar a prédica, tirar as
consequências da mensagem para a sua vida.

Josué Campanhã, missionário da Sepal, escreveu um artigo chamado


Pastores, parem de pregar7, publicado na revista Cristianismo Hoje, e
disponível na internet:

“Todas as semanas perto de um milhão de sermões são pregados em cerca de


trezentas mil igrejas evangélicas no Brasil. Calculo que uma pessoa que
frequente uma igreja por 15 anos, apenas um culto por domingo, já ouviu cerca
de 780 sermões. Imagine o poder transformador de tanta pregação, por tanto
tempo, na vida de milhões de pessoas. Entretanto, por que um avivamento não
acontece? Por que os evangélicos não aniquilam a corrupção em lugar de
serem aniquilados por ela?
É impossível deixar de fazer uma comparação. Por que Jonas, Pedro, Paulo,
Spurgeon e Moody pregaram com mais dificuldade do que nós e causaram
efeitos "devastadores"? Por que não vemos quase nada parecido a isto hoje?
Talvez a resposta esteja num "pedido" aos pastores: Parem de pregar!
1. Parem de pregar sermões onde não há alegria e são pregados por
causa da obrigação com o emprego e porque estão sendo pagos pela
igreja;
2. Parem de pregar sem antes estudar a Bíblia para aplicar em suas
próprias vidas;
3. Parem de pregar sem antes dedicar dez a quinze horas de oração e
mergulho no texto bíblico sobre o qual falarão;
4. Parem de pregar sermões prontos do seu bispo ou apóstolo, sem
coração, paixão ou emoção;
5. Parem de pregar sermões copiados da internet, sem vida e sem
experiência pessoal;
6. Parem de pregar suas ideias pessoais, justificadas com alguns
versículos bíblicos;
7. Parem de pregar regras para as pessoas viverem, que vocês nunca
viveram.
E a lista poderia ir embora...
Preguem a Palavra, poderosa, penetrante, transformadora e verdadeira.

Deixo um desafio que recebi há cerca de 30 anos, quando estudei pregação


expositiva com um homem chamado Karl Lachler. Depois que ele nos explicou
o poder da pregação da Bíblia – primeiro para a minha vida e depois como uma
ferramenta que o Espírito Santo usa para alcançar outros –, a única coisa que
consegui fazer naquele dia foi: me quebrantar, chorar, orar, chegar a minha
casa e jogar fora todos os sermões que tinha, pedir perdão a Deus e começar
tudo de novo. Nunca mais um sermão foi igual.”

7
http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/Calvino-Sola-Scriptura_Daniel-Leite.pdf

© 2013 Instituto Paracleto 8 http://institutoparacleto.org


Uma pequena pesquisa realizada por um professor do Seminário Batista
de Brasília ressaltou a necessidade de exposição bíblica na pregação. A
questão que os alunos deveriam responder foi: qual era a opinião que os
membros das igrejas faziam das mensagens que seus pastores pregavam? As
opiniões foram as seguintes: 1) eles lêem, mas não explicam a Bíblia; 2) não
aplicam os ensinamentos bíblicos às vidas dos membros; 3) dão mais atenção
aos negócios da igreja do que ao crescimento espiritual dos membros.

Para Russell Shedd, autor do artigo “Pregue a Palavra”, o remédio mais


eficaz para estas omissões da parte de alguns dos pastores depende de três
passos:

1) exegese cuidadosa do texto;


2) busca e desenvolvimento textual do ensinamento central da passagem
bíblica;
3) Uma vez concluído este trabalho básico, organize uma aplicação o
ensinamento às vidas dos ouvintes.

Jack Deere conta que numa pequena cidade, onde não havia um bar,
alguém começou a construir uma taverna, não dando atenção a um pastor da
cidade que pregava contra a ideia. O pastor e alguns cristãos reuniram-se para
uma vigília com o objetivo de pedir a providência de Deus quanto ao caso.
Naquela mesma noite, um raio atingiu a taverna em construção, destruindo-a
completamente. O dono do prédio deu início a um processo judicial contra o
pastor e a igreja, alegando que os crentes eram os responsáveis pelo que
acontecera. O pastor e a igreja contrataram um advogado que negou que eles
tivessem alguma coisa a ver com o ocorrido. Quando chegou o dia do
julgamento, o juiz afirmou: "Uma coisa ficou muito clara neste caso, não
importa qual seja seu desfecho. O dono da taverna acredita no poder da Bíblia
e da oração, o pastor e os crentes, não.".

Sang Heung-Lee, autor do artigo Preaching for the Upbuilding of the


church in transition8, pontua que a pregação precisa escolher sua proposta
conforme o pregador vê sua audiência.
O estilo de comunicação tradicional é compreendido como um esquema
linear entre pregação e ouvintes. A relação entre a Palavra de Deus e os
ouvintes é totalmente intermediada pelo pregador. O pregador faz depósitos de
informação na mente do ouvinte.
Sang apresenta a teoria de Pieterse sobre a comunicação dialógica.
Para tanto, entende que Deus nunca agiu de modo unilateral. Deus sempre
usou o estilo dialógico, recebendo perguntas e discussões. O diálogo é uma
atitude fundamental do cristão. Pieterse entendia que as pessoas se
comunicam de modo mais livre sem um instrumento de dominação.
Um dos princípios da reforma é que todos os membros da Comunidade
possuem uma vocação de interpretação e proclamação. Dessa forma, o
pregador e a congregação devem interpretar a mensagem a partir do centro do
texto para as suas margens possíveis.

8
Preaching for the Upbuilding of the church in transition – Lee, S-H University of Pretoria

© 2013 Instituto Paracleto 9 http://institutoparacleto.org


Quando um pregador fala, ele ou ela está fornecendo uma expressão
verbal para uma intenção. A escrita é a fixação do ato da pregação. Portanto, é
necessário que o pregador entenda os dois mundos. O mundo do texto e o
mundo da congregação. Isso significa fazer uma exegese da congregação.

Vários teólogos e escritores entendem a função kerygma da igreja com


os seguintes componentes: kerygma, martyiria, didache. Parece que estas
funções se relacionam e são interdependentes.
Um dos debates acalorados é sobre a prevalência da pregação narrativa
em relação à pregação pontual. Esta última é preferida por pregadores
tradicionais, adeptos de uma sistematização da pregação por tópicos. Porém,
as pregações narrativas ganharam força entre os pregadores pentecostais ao
conduzir os ouvintes conforme o fluxo do texto bíblico.
Pesquisas mostram que os pregadores mais jovens preferem a
pregação narrativa devida sua preferência pela comunicação dialógica.

Estruturação da pesquisa

Aquele que domina a homilética tem o privilégio de preparar uma


mensagem fiel à Escritura com coerência, lógica, forma e conteúdo. Também
exporá essa mensagem com ousadia porque estará falando com propriedade
sobre o tema uma vez que trabalhou arduamente nele.
Outra grande vantagem da homilética é para o ouvinte. Ele consegue
entender o que está sendo transmitido com clareza devido à ordenação da
mensagem e, consequentemente, tem melhores condições de responder
positivamente ao apelo que lhe for feito (embora não se deva esquecer jamais
que o papel do convencimento é do Espírito Santo e não nosso).
Um dos recursos homiléticos mais úteis é a “palavra-chave”. Se houver
unidade num sermão, haverá uma “palavra-chave”, não necessariamente
expressa ou reconhecida, que caracteriza um dos principais pontos, e mantém
unida a estrutura. Uma “palavra-chave” é sempre um substantivo, um
substantivo verbal ou um adjetivo.

• Uma palavra-chave abre um argumento estruturado formado por um


discurso seguinte com finalidade de sustentá-lo.
• Em discursos de origem latina, as palavras-chave são apresentadas
após um discurso que afunila para os temas objetivos.
• Muitas vezes, a palavra-chave ocorre devido a repetição frequente.
• Os textos bíblicos podem indicar quais as palavras-chave que serão
mais utilizadas.
• Durante a aplicação do discurso, devem ocorrer mais palavras-chave do
que durante seu desenvolvimento.

© 2013 Instituto Paracleto 10 http://institutoparacleto.org


Resultados

O gráfico abaixo revela a incidência de palavras-chave durante as


pregações em uma igreja evangélica, durante o período de seis meses, na
cidade do Rio de Janeiro.

Utilizando a ferramenta online da IBM, no site ManyEyes, tabulamos as


principais palavras-chave coletadas durante as pregações proclamadas em
uma igreja evangélica no período de 6 meses. O resultado foi formatado em
formato de nuvem, plotando as palavras de modo proporcional à quantidade de
citações. Quanto maior o número de citações, maior será o tamanho da palavra
na nuvem:

© 2013 Instituto Paracleto 11 http://institutoparacleto.org


Maria Clara Bingemer comentou em reportagens que o Papa
Francisco, em sua homilia, proferida na Basílica de Aparecida (SP), declarou
sobre os jovens:

”Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos
aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um
povo”.

E os três dons imateriais e inspiradores que o Papa propõe aos jovens


encontram seus correspondentes nas três virtudes teologais: fé, esperança e
caridade.

1. Conservar a esperança. A uma juventude desesperançada, que se


confronta diariamente com uma sociedade sem ideais, sem trabalho, sem
horizontes, o Papa propõe à Igreja do Brasil, e sobretudo aos jovens, não abrir
mão da esperança. Não deixar que a esperança morra em seus corações e
que seus horizontes esbarrem nos limites mortais do imediatismo injusto e
consumista que só traz a morte e não a vida. Francisco reafirma que a
esperança tem fundamento e sentido e exemplifica com o texto do Apocalipse,
que mostra que, apesar de todas as ameaças e dragões da maldade, Deus não
deixa perecer seus filhos. E por isso os pobres e os humildes têm profunda
esperança nesse Deus que nunca falha.

2. Deixar-se surpreender por Deus. Esse ponto corresponde à virtude


da fé. Quem crê sabe que em qualquer esquina e momento da vida, Deus está
a sua espera para surpreendê-lo com um dom, um chamado, uma vocação. Só
quem tem os sentidos espirituais abertos e atentos pode reconhecer as
surpresas amorosas que estão à espreita, dando sentido à vida e vigor ao
cotidiano. Crer num Deus que sempre surpreende, que em meio a uma pesca
infrutífera dá o presente de sua Mãe, Nossa Senhora, que em meio à dureza
do cotidiano infiltra sua presença amorosa, é o chamado para os jovens. Crer.
Não achar que a realidade é apenas aquilo que parece ser, mas é sobretudo
aquilo que poderá ser se a fé ilumina essa mesma realidade. Comparando a
ação de Deus com o vinho novo das bodas de Cana que vem no final e é o
melhor, o Papa encorajou os jovens a crer neste melhor que só Deus pode dar.

3. Viver na alegria. Quem crê e espera é porque se sente amado.


Profundamente amado. E por isso tem que estar e ser alegre. O pessimismo, o
derrotismo, é proibido àquele que crê em Jesus Cristo. Esse foi o último recado
aos jovens: ser alegre, não deixar-se submergir na tristeza que o mundo
parece oferecer. Experimentar o amor do Senhor e dar testemunho da imensa
alegria que isso representa. Isso é o que liberta dos ídolos da morte: a riqueza,
o poder, o prazer.

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Na homilia, proferida no sábado, dia 27 de julho de 2013, o Papa
Francisco declarou:

“Amados Irmãos em Cristo,


Vendo esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes, seminaristas, religiosos e
religiosas vindos do mundo inteiro, penso nas palavras do Salmo da Missa de hoje:
«Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor» (Sl66). Sim, estamos aqui reunidos para
glorificar o Senhor; e o fazemos reafirmando a nossa vontade de sermos seus
instrumentos, para que não somente algumas nações mas todas glorifiquem o Senhor.
Com a mesma parresia – coragem, ousadia – de Paulo e Barnabé, anunciemos o
Evangelho aos nossos jovens para que encontrem Cristo, luz para o caminho, e se
tornem construtores de um mundo mais fraterno. Neste sentido, queria refletir com
vocês sobre três aspectos da nossa vocação: chamados por Deus; chamados para
anunciar o Evangelho; chamados a promover a cultura do encontro.
1. Chamados por Deus. É importante reavivar em nós esta realidade que,
frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades do dia-a-dia: «Não
fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi», diz-nos Jesus (Jo 15,16).
Significa retornar à fonte da nossa chamada. No início de nosso caminho vocacional,
há uma eleição divina. Fomos chamados por Deus, e chamados para permanecer com
Jesus (cf. Mc 3, 14), unidos a Ele de um modo tão profundo que nos permite dizer com
São Paulo: «Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Este viver em
Cristo configura realmente tudo aquilo que somos e fazemos. E esta “vida em Cristo” é
justamente o que garante a nossa eficácia apostólica, a fecundidade do nosso serviço:
«Eu vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça» (Jo
15,16). Não é a criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que
garantem os frutos, mas ser fiel a Jesus, que nos diz com insistência: «Permanecei em
mim, e eu permanecerei em vós» (Jo 15, 4). E nós sabemos bem o que isso significa:
Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através da nossa fidelidade à vida
de oração, do nosso encontro diário com Ele presente na Eucaristia e nas pessoas
mais necessitadas. O “permanecer” com Cristo não é se isolar, mas é um permanecer
para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas palavras da Bem-aventurada
Madre Teresa de Calcutá: «Devemos estar muito orgulhosas da nossa vocação, que
nos dá a oportunidade de servir Cristo nos pobres. É nas favelas, nos «cantegriles»
nas Villas miseria, que nós devemos ir procurar e servir a Cristo. Devemos ir até eles
como o sacerdote se aproxima do altar, cheio de alegria» (Mother Instructions, I, p.80).
Jesus, Bom Pastor, é o nosso verdadeiro tesouro; procuremos fixar sempre mais n’Ele
o nosso coração (cf. Lc 12, 34).
2. Chamados para anunciar o Evangelho. Queridos bispos e sacerdotes, muitos de
vocês, senão todos, vieram acompanhar seus jovens à Jornada Mundial. Eles também
ouviram as palavras do mandato de Jesus: «Ide e fazei discípulos entre todas as
nações» (cf. Mt 28,19). É nosso compromisso ajudá-los a fazer arder, no seu coração,
o desejo de serem discípulos missionários de Jesus. Certamente muitos, diante desse
convite, poderiam sentir-se um pouco atemorizados, imaginando que ser missionário

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significa deixar necessariamente o País, a família e os amigos. Recordo o meu sonho
da juventude: partir missionário para o longínquo Japão. Mas Deus me mostrou que o
meu território de missão estava muito mais perto: na minha pátria. Ajudemos os jovens
a perceberem que ser discípulo missionário é uma consequência de ser batizado, é
parte essencial do ser cristão, e que o primeiro lugar onde evangelizar é a própria casa,
o ambiente de estudo ou de trabalho, a família e os amigos.
Não poupemos forças na formação da juventude! São Paulo usa uma bela expressão,
que se tornou realidade na sua vida, dirigindo-se aos seus cristãos: «Meus filhos, por
vós sinto de novo as dores do parto até Cristo ser formado em vós» (Gal 4, 19).
Também nós façamos que isso se torne realidade no nosso ministério! Ajudemos os
nossos jovens a descobrir a coragem e a alegria da fé, a alegria de ser pessoalmente
amados por Deus, que deu o seu Filho Jesus para nossa salvação. Eduquemo-los para
a missão, para sair, para partir. Jesus fez assim com os seus discípulos: não os
manteve colados a si, como uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou! Não
podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta
gente esperando o Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher,
mas de sair pela porta fora para procurar e encontrar. Decididamente pensemos a
pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que
habitualmente não freqüentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesa
do Senhor.
3. Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos ambientes, infelizmente,
ganhou espaço a cultura da exclusão, a “cultura do descartável”. Não há lugar para o
idoso, nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à
margem da estrada. Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas sejam
regidas por dois “dogmas” modernos: eficiência e pragmatismo. Queridos Bispos,
sacerdotes, religiosos e também vocês, seminaristas, que se preparam para o
ministério, tenham a coragem de ir contra a corrente. Não renunciemos a este dom de
Deus: a única família dos seus filhos. O encontro e o acolhimento de todos, a
solidariedade e a fraternidade são os elementos que tornam a nossa civilização
verdadeiramente humana.
Temos de ser servidores da comunhão e da cultura do encontro. Permitam-me dizer:
deveríamos ser quase obsessivos neste aspecto! Não queremos ser presunçosos,
impondo as “nossas verdades”. O que nos guia é a certeza humilde e feliz de quem foi
encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de
anunciá-la (cf. Lc 24, 13-35).
Queridos irmãos e irmãs, fomos chamados por Deus, chamados para anunciar o
Evangelho e promover corajosamente a cultura do encontro. A Virgem Maria seja o
nosso modelo. Na sua vida, Ela deu «exemplo daquele afeto maternal de que devem
estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja, tem de
regenerar os homens» (Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. Lumen gentium, 65). Seja Ela
a Estrela que guia com segurança nossos passos ao encontro do Senhor. Amém.”

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Conclusões

1. A pregação evangélica sofre transformações ao longo da história dos


homens, pois as necessidades apresentam variações;

2. A pregação evangélica precisa compreender o contexto no qual a


comunidade-foco está inserida. Este processo de compreensão é um
exercício de hermenêutica.

3. A pregação depende da forma de abordagem da cultura que pode se


desenvolver de 3 formas:

• Como forma de translação;


• Como forma de mudança;
• Como forma de perdão.

4. As dimensões leitourgia e kerygma combinadas produzem elementos


essenciais para a conversão. Igrejas que sabem utilizá-las com
qualidade e quantidade produzem muitas conversões e manifestação do
poder de Deus.

5. As igrejas precisam distinguir estes dois componentes na proclamação


do evangelho: o testemunho (martyria) e a pregação (kerygma). Os
crentes precisam ser motivados a testemunhar onde se encontram. Essa
é uma lacuna crítica: o espaço entre a casa e a igreja.

6. A igreja nascente confiava assim num testemunho duplo, como um meio


de alcançar e imprimir sobre um mundo cínico e descrente o kerygma
(proclamação) e a koinonia (comunhão). A combinação desses dois
elementos que tornou seu testemunho tão poderoso e eficiente.

7. Um dos princípios da reforma é que todos os membros da Comunidade


possuem uma vocação de interpretação e proclamação. Dessa forma, o
pregador e a congregação devem interpretar a mensagem a partir do
centro do texto para as suas margens possíveis.

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